6.1.15

Capitulo 43

A fic só vai até o capitulo 50 e logo tem o epilogo, então se preparem para fortes emoções, e claro ainda terá hots <3 continuem comentando amores, obrigada minhas lindas <3
Mari ;)
 
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DEMI

Matt me levou em um restaurante perto da praia de Ipanema, embora nenhum de nós dois tivesse fome após o episódio com Joe. Eu ainda estava lívida, tremendo, mas fiquei calada o resto da viagem, a imagem dele furioso e com sangue pingando da boca não saindo da minha mente.

Como uma pessoa podia ter amado tanto outra e agora odiar tanto? Eu não o perdoava, não acreditava nele, não sentia pena. Talvez fosse mais vingativa e rancorosa do que pensei, pois queria que sentisse a mesma dor que eu, que soubesse o que era arrasar o coração de uma pessoa, pisar e machucar.

Eu te amo. Aquelas palavras sussurradas enquanto eu estava fora de mim e Joe me olhava como se realmente me amasse, estavam gravadas em minha mente. Como desejei ouvir aquilo! Antes de descobrir toda a traição, aquela declaração seria a maior felicidade da minha vida. Mas agora, eram palavras vazias, proferidas por um homem que não gostava de perder.

Joe não me amava. Ele estava com raiva por que não o aceitei mesmo se desculpando e por que achava que estava saindo com Matheus. Era seu orgulho de macho ferido. Se eu acreditasse, o que nunca ia acontecer, tão logo se sentisse seguro e dono da situação, ele repetiria a traição.

E eu não o perdoaria. Nunca mais confiaria nele. Mesmo que mudasse de verdade, e isso eu duvidava, o que fez continuaria marcado a sangue dentro de mim.

Nós nos acomodamos perto da janela e Matt indagou, observando-me:

- Como você está?

- Bem. E seu rosto? Não é melhor pedir gelo?

- Não, tudo certo. – Estava um pouco inchado, mas não sangrava como de Joe.

O garçom se aproximou com o menu. Pedi que Matt escolhesse para mim e, enquanto o fazia, fiquei quieta, olhando para a praia do outro lado da rua. A voz profunda de Matt me fez sair dos meus pensamentos:

- Ele ama mesmo você, Demi.

Eu o fitei na hora. Falei com ironia:

- Ama? Deus me livre ser amada dessa maneira!

- Sei que Joe fez um monte de burrada. Ele sempre foi arrogante e sempre disse que mulher nenhuma o pegaria. Mas com você foi diferente desde o início. – Seus olhos que ficavam ora mel-esverdeado, ora verdes bem claros, estavam fixos em mim. – Apresentou-a como namorada.

- Claro, Matt. Eu fiz jogo duro com ele. Teve que fingir para me levar no papo. – Retruquei, magoada.

- Mas não é só isso. O modo com que a olhava e tinha ciúmes...

- Sentimento de posse.

- Dá pra ver que está arrasado, Demi. Está sofrendo tanto quanto você.

- Duvido! – A irritação me engolfou. – Joe não sabe o que é se importar com outra pessoa. Ele está é furioso, pois tudo escapou ao seu controle. Eu engravidei e me afastei. Ele gostaria que eu estivesse submissa, chorando, comprada em um apartamento, esperando meu

filho nascer. E enquanto isso, continuaria nas suas orgias, indo lá de vez em quando matar a saudade comigo.

- Calma, não se altere assim.

- Mas não aguento! Uma pessoa não pode ser tão cínica e prepotente! Não pode usar e abusar assim das outras!

- Eu sei os defeitos dele, nos conhecemos há muitos anos. Mas sei suas qualidades também. Sempre foi um homem forte, trabalhou muito para ampliar os negócios da família, cuida da avó muito bem. O que eu acho é que ele gostou mesmo de você e fez essas burradas pois era o que estava acostumado a fazer.

- E eu tenho que aturar?

- Não é aturar. Talvez só tentar entender. Ele pode estar se dando conta que ama mesmo você. Nunca o vi tão desesperado, Demi. Nunca pensei que o ouviria dizer que ama uma mulher e estava sendo sincero.

Nós nos olhamos. Percebi que Matt queria ser honesto, achava realmente aquilo. Mas eu não.

- Para mim Joe está apostando todas as fichas para não sair perdendo. É questão de honra dele. Eu disse não e isso mexeu com seu orgulho.

- Demi ...

- Não quero mais falar nisso. Não acredito nele e não quero nem saber de nada. Se está sofrendo ou não, problema dele. Eu tenho que me preocupar comigo e com meu filho. – Suspirei e tomei a água que o garçom tinha trazido. – Só lamento que vocês tenham brigado, sendo amigos há tanto tempo. Não queria ter provocado isso. E peço desculpas por ter fingido que tínhamos alguma coisa. Na hora eu só quis atingi-lo, mostrar que não me importo com ele.

- Mas se importa. – Afirmou, sereno.

- Não. Não me importo nem um pouco. Ficaria feliz nunca mais sabendo de Joe nem o vendo.

O garçom veio com os pratos e o suco. Eu ainda estava nervosa para saborear a comida. Tinha sido um dia duro, com a visita da avó de Joe e sua explosão saindo do carro, nos perseguindo como um louco.

No entanto, me forcei a comer, pois agora não havia mais aquilo de pular refeições. Tinha que pensar primeiro no bebê.

Acabei conseguindo me acalmar e apreciar a comida, graças principalmente a Matt. Ele puxou assunto, me deixou à vontade, foi me fazendo relaxar em sua companhia charmosa e agradável. Era como um bálsamo, depois de tanto estresse.

Depois me levou ao estúdio em Copacabana e aguardou enquanto eu era preparada por uma cabeleireira e uma maquiadora. Mesmo que a campanha fosse só do rosto e dos cabelos, tive que colocar um esvoaçante vestido branco.

No início, fiquei sem graça diante da câmera do fotógrafo. Passei a vida inteira ouvindo que devia ser modelo, mas fugindo de usar minha aparência para alguma coisa, traumatizada com as coisas que minha mãe dizia. Mas agora, era um caso de necessidade. E não seria nada sexual, pelo contrário.

Aos poucos comecei a me soltar, incentivada pelo fotógrafo, um homem simpático e sorridente. Bateu diversas fotos séria, sorrindo, sentada, de pé, de perfil, até ficar satisfeito. Elogiou muito e conversamos um pouco, até que fui dispensada, dizendo que eu seria procurada ainda na semana seguinte.

Saí de lá mais animada, conversando com Matt. Era fim de tarde e resolvemos dar uma volta no calçadão de Copacabana. Falávamos de tudo. Era fácil conversar com ele. Era um

homem inteligente, que gostava de sorrir e tinha um olhar diferente, algo entre doce e profundo, meigo e intenso. Ele me lembrava um velho ditado “As águas calmas são as mais profundas”.

Fiquei curiosa sobre quem seria Matt de verdade. Por que um homem como ele frequentaria o Clube Catana? Teria desejos e prazeres diferentes, disfarçados por sua aparência calma? O que lá chamaria a atenção dele? Fiquei curiosa, mas era um assunto muito íntimo para ser perguntado.

Andamos na areia e ele perguntou se eu estava com sede. Enquanto se afastava para comprar uma água de coco, sentei na areia macia, tirei as sandálias e passei a mão entre os grãos. Sem querer, a imagem de Joe voltou à minha mente. Imaginei o estrago que ele não faria naquele clube. Devia ser bem conhecido e pegar todas as mulheres de lá. Fiquei com nojo, mas não pude impedir que algumas lembranças retornassem.

Ele beijaria as outras mulheres como fazia comigo, me segurando firme pela nuca, explorando a boca como se fosse a coisa mais deliciosa e irresistível do mundo? Seria tão intenso ao penetrar, tomando tudo, como se fosse dele, exigindo paixão e entrega?

Irritei-me ao pensar naquilo. Não queria saber. Tinha nojo dele, de imaginar quantas vezes devia ter me tocado depois de ter estado com outra, quantas orgias deve ter feito enquanto eu sonhava com ele como uma tola. Eu queria esquecer cada uma das vezes em que estive com ele. Sabia que seria difícil, mas com o tempo se esfumaçariam. E aí talvez eu pudesse refazer a minha vida.

Matt voltou e ficamos lado a lado, conversando, tomando água de coco e olhando o mar. E pensei comigo mesma por que não havia me apaixonado por um homem como ele.

JOE

Acordei no domingo com a campainha tocando. Fiquei meio perdido, até me dar conta que passava das dez horas da manhã. Não dormia até tarde, mas tinha praticamente passado a noite em claro.

Sentei na cama e, ao bocejar, soltei um palavrão quando o lábio inferior partido doeu. A campainha tocou de novo. Afastei as cobertas e levantei, nu. Catei uma bermuda, esfreguei os olhos e fui para a sala, todo descabelado e descalço, sabendo que só poderia ser uma pessoa bem íntima para o porteiro ter deixado subir direto.

Abri a porta e dei de cara com Matheus. O ódio veio violento e cerrei o punho, ansiando terminar o que não tínhamos concluído no dia anterior. Em vinte anos de amizade nunca tínhamos brigado de nos socar, mas agora era só o que eu tinha vontade de fazer.

- O que está fazendo aqui? – Indaguei entre dentes.

- Vim conversar e não brigar. Posso entrar?

Minha vontade foi de escorraçá-lo. Mas escancarei a porta. Depois que passou, a bati. Seguimos para a sala e Matheus sentou no sofá. Eu ia permanecer de pé, mas na tarde anterior, depois de chegar em casa vindo do clube, fiquei bebendo até de madrugada. Ainda estava tonto, com um gosto horrível na boca. Sentei em uma poltrona.

- O que é?

Matheus me observou com atenção.

- Você está horrível, cara.

- Veio aqui para isso? – Indaguei irritado.

- Você gosta de Demi de verdade.

- Não vou ficar aqui falando disso para um traíra como você. – Nossos olhares se

encontraram e o meu era de ódio.

- Traíra por quê? Nunca dei em cima dela. Nem quando estavam juntos.

- Não eu em cima dela? Faça-me o favor, Matheus. Ficou louco por Demi assim que a viu!

- E fiquei mesmo. Sabe que não sou cínico como você e não saio por aí usando todas as mulheres. É uma de cada vez e são tratadas bem, sem traição nem mentira.

- Sim, são tratadas muito bem. Com seu chicote e seus objetos de sadomasoquista filho da puta! – Resmunguei. – Demi sabe que o senhor perfeitinho gosta de submeter as mulheres e chicoteá-las?

A raiva me consumia, aponto de atrapalhar minha respiração. Só de imaginar Matheus tocando em Demi ou a levando no clube e usando-a em uma Cruz, submetendo-a, eu ficava doente.

- Ela está grávida de mim. Se eu souber que encostou a porra de um chicote nela, eu te mato!

- Eu nunca transei com Demi. Cale a boca e escute. – Irritou-se também.

O alívio veio na hora, mais forte do que imaginei. Por isso fiquei quieto. Conhecia Matheus e sabia que não era mentiroso.

- Eu sei que essa história não é minha. – Disse baixo, olhos fixos em mim. – Talvez eu devesse mesmo me manter longe. Mas está sendo um pouco difícil.

Eu não disse nada, esperando.

- Apesar de estar certo sobre meus desejos peculiares de dominação, isso é apenas um lado meu, que uso em locais onde me sinto bem. E não espanco as mulheres. Todas são parceiras que gostam das mesmas coisas que eu e concordam. Nenhuma delas é seduzida ou enganada.

- Como eu fiz com Demi. Entendi o recado. E aí?

- Estou com 32 anos e nunca senti por mulher nenhum o que senti quando vi Demi a primeira vez, sentada naquela boate, linda como uma deusa. Quando olhou para mim e sorriu, eu soube que era ela. Pode parecer piegas, até ridículo para você, mas foi amor à primeira vista.

Eu quis debochar. Matheus era como uma moeda, tinha dois lados bem distintos. De um lado era o perfeito cavalheiro, responsável, sério, romântico. Não tinha vergonha em dizer que queria se apaixonar e casar um dia. Coisa que sempre debochei dele. Mas por outro lado tinha uma personalidade forte, que as pessoas só conheciam com o tempo. E desejos de dominação, que extravasava no clube e com parceiras que gostavam de serem submissas.

No entanto, não consegui dizer nada. Por que eu mesmo fiquei encantado por Demi desde a primeira vez que a vi na minha porta. Na hora, achei que era só sexo. Mas agora, me dava conta que ela tinha me pegado ali. Não era apenas sua beleza excepcional e sim aquele algo a mais que a envolvia, a sensação de doçura e feminilidade, algo inexplicável, que a tornava única,

- Foi um choque quando você disse que era a sua namorada. – Matheus continuou, bem sério. – E o pior, Joe, foi saber que ela sairia machucada dessa história, pois é sempre assim que você faz, passa como um rolo compressor por cima de tudo. - Mesmo assim, você não devia ter se metido.

- E não me meti.

- Olhava para ela como se a quisesse inteira para si. Eu vi no casamento de Antônio.

Ficava sempre rondando.

- Sempre? Encontrei com vocês na praia por coincidência e pelo tempo julguei que nem

estivessem mais juntos. E sentar ao lado dela no casamento não foi culpa minha, como não foi encontrá-la no clube. Acho que foi tudo previsível, sabendo que frequentamos quase os mesmos lugares.

- Mas não disfarçou que a queria.

- Claro que disfarcei! Não posso impedir de desejá-la. É mais forte que eu e sabe que não desisto fácil das coisas. – Ele suspirou, um pouco irritado. – Demi não sai da minha cabeça. Ainda mais agora, vendo como está fragilizada e sofrendo. Você fez pior do que pensei, fez uma cagada completa, arrasou a menina de tudo quanto foi jeito.

- E você está doido para juntar os caquinhos! – Acusei furioso.

- Não, estou doido para fazê-la sorrir de novo. Para vê-la voltar a ser doce e esperançosa como antes de você magoá-la desse jeito. Ela perdeu tudo, cara. Casa, família, o amor que tinha pela irmã, a crença em você, e ainda de quebra a deixou grávida, tendo que enfrentar seus ciúmes e os preconceitos da sua avó. E eu, vendo tudo, devo me manter afastado, quando o que mais quero é estar perto dela? Por quê?

- Por que era meu amigo. Por que essa história é minha e quero consertar toda a burrada que fiz. Por que está tentando tomar a minha mulher!

Fiquei lívido, furioso. Levantei, passando a mão pelo cabelo.

- Eu quero Demi para mim. – Matheus também se levantou, mas ficou no mesmo lugar. Sustentou me olhar colérico. – Tenho certeza que a faria feliz. Muito mais feliz do que a sua a arrogância permite. Mas vi seu estado ontem, acreditei em seu arrependimento.

- E o que veio fazer aqui? Me afrontar?

- Não. Vim dizer que não vou forçar nenhuma barra. Não tocarei nela como um homem toca uma mulher por quem está apaixonado. Vou apenas oferecer minha amizade, que é o que Demi precisa nesse momento. Ao contrário das acusações que fez ontem, ela nunca me deu nenhuma entrada. Mas sabe que posso tentar, posso convencê-la aos poucos, mas não vou.

Mantive-me em silêncio, apenas observando-o.

- Só vim aqui para esclarecer as coisas. Estou me abstendo de tentar qualquer coisa com Demi. Como você disse, a história é sua e vou observar de longe. Mas se você vacilar ou se Demi não quiser mais nada com você mesmo, não vou ficar quieto para sempre. Vou entrar na briga.

- Veio aqui me dar um tempo para reconquistar a minha mulher? Quem é você para isso?

- Sou um homem apaixonado, Joe. Se você fosse outro cara, eu já estaria fazendo de tudo para que Demi o esquecesse. Mas é meu amigo. E não estou te dando um tempo. Estou dando a mim mesmo. Quando eu a tiver, vai ser sem culpa.

- Quando? – Ironizei, com raiva. – Faz um favor, Matheus. Cai fora daqui. O inferno está cheio de bonzinhos como você, com boas intenções.

- Sim, eu vou. Já disse o que eu queria. – Ele se dirigiu à porta e nunca o odiei tanto como naquele momento.

- Pode ser o amigo que quiser, tentar de todas as formas conquistar Demi. Mas ela me ama e eu a amo. E no final, é isso que vai pesar. – Avisei.

- Que seja. – Deu de ombros, abriu a porta e saiu.

Eu fui para o banheiro, nervoso, mais apavorado do que nunca. Era pior do que eu tinha imaginado. Não era só sexo. Para Matheus era tão importante quanto para mim e ele não sairia da briga, pairaria sobre nós como um sombra, esperando o momento certo de dar o bote. Desgraçado filho da puta!

Fiquei sem saber o que fazer. Era como uma bomba prestes a explodir em minhas mãos. Demi não queria me ver nem escutar o que eu tinha a dizer. Como poderia fazê-la acreditar

em mim, em meu arrependimento, como se tivesse uma maldita contagem de tempo para mim? Caso contrário Matheus atacaria e com sua presença amiga, poderia ter muito mais sucesso do que eu.

Resolvi tentar. Não havia mais nada a perder. E mesmo ouvindo não, recebendo socos ou sendo ofendido, ao menos eu a veria, ouviria a sua voz, e perderia um pouco daquele vazio cada vez maior dentro de mim. Qualquer migalha era melhor do que nada.

Estava chegando perto da sua casa, quando a vi sair de sua avenida conversando com um garoto de uns nove anos. Parei o carro no final da esquina, atrás de outro, e fiquei olhando-a de longe. Eles pararam na porta de entrada da vila e Demi sorria para ele, dizendo algo.

O menino ouvia, encantado, sorrindo como um bobo. Devia estar apaixonado, uma mulher linda daquelas lhe dando atenção.

E como era linda. Parecia ainda mais. Seus cabelos caíam soltos pelos ombros e costas, pegando a luz do dia. Usava sandálias rasteiras, jeans claro modelando suas curvas, uma simples camisetinha branca. Mas para que mais enfeite para tanta beleza? A simplicidade só parecia torná-la mais gritante.

Terminou de falar com o menino e passou a mão no cabelo dele com carinho. O garoto só faltou se derreter todo. Olhando-os, dei-me conta que seria uma mãe maravilhosa. Daquelas que beijam e acariciam, são carinhosas e preocupadas, amam sem vergonha nem limites. Imaginei-a com nosso bebê no colo, amamentando-o, sorrindo de seus primeiros passos, comentando a gracinha do dia. E eu não estaria com ela vendo tudo aquilo.

Fui engolfado pela dor, pelo medo de que o pesadelo se tornasse realidade. Não sabia mais o que fazer, o desespero a ponto de me envolver. E então me dei conta que realmente não havia como apressar as coisas, nem querer que saíssem conforme o meu desejo. Seria uma luta, provavelmente inglória. E isso, além de me desanimar ainda mais, também serviu para me acalmar.

Demi ajeitou a bolsa no ombro, se despediu do menino e se afastou. Foi até o ponto do ônibus na calçada da outra rua transversal e ficou lá, esperando. E eu só no carro, olhando-a de longe.

Quase não pisquei. Senti uma saudade latente de estar com ela, de abraçá-la e sentir seu cheiro, de ouvir a sua voz. Saudade do modo como me olhava e como gostava de acariciar a minha barba. Meu peito se apertou, eu nunca tinha me sentido tão sozinho e triste. E saber que tinha tido tudo e jogado fora, por arrogância e ignorância, era pior do que qualquer coisa.

Veio um ônibus azul e branco e, quando se afastou, Demi não estava mais no ponto. Liguei o carro e o segui, a uma distância segura.

Depois de uns quinze minutos, ela desceu no NORTE SHOPPING, que ficava ali perto. Enquanto atravessava a rua e seguia em frente, eu fui fazer o contorno e segui para o estacionamento, em uma rua lateral. Fui o mais rápido possível.

Depois que deixei o carro e enfiei o cartão do estacionamento no bolso, voltei para a entrada que ela tinha pego e entrei logo, olhando em volta. Eu a vi ao final de um longo corredor em frente, observando a vitrine de uma loja.

Respirei fundo e me mantive longe, mas com o olhar fito nela. Como era domingo, havia muita gente ali circulando entre nós. Quando Demi seguiu em frente, me pus a andar também, sempre mantendo uma distância segura.

Passei em frente à loja que estivera olhando. Era de coisas para casa, lençóis, toalhas, etc. Lembrei de sua casinha quase toda vazia e senti um aperto por dentro, uma raiva absurda de mim mesmo pelo que a estava fazendo passar.

De vez em quando Demi parava, olhava alguma coisa, sem entrar. Mas então sorriu e

entrou em uma loja. Eu me aproximei, cauteloso, com medo que saísse de repente e desse comigo. Parei a um canto e espiei dentro. Era uma loja de artigos de bebê e tinha tudo que se pudesse imaginar, desde berços até roupinhas.

Ela circulava por lá, olhando tudo com um sorriso, dizendo algo à vendedora que a acompanhava. Pegou uma roupinha branca e a cheirou, emocionada. Meu Deus, que vontade de ir lá, envolvê-la pela cintura, beijar seu cabelo, sorrir também como um bobo! Escolhermos juntos o enxoval do nosso filho.

Fiquei pálido, dolorido, senti lágrimas vindo aos olhos e me horrorizei com as emoções violentas e descontroladas que me assediaram. Tive medo de chorar ali e me dei conta que não me lembro de ter chorado um dia. Nunca, nem quando era criança. Nem quando minha mãe foi embora e eu era bem pequeno, nem quando meu pai se matou, pois sempre foi distante, mergulhado em sua própria dor para se preocupar comigo.

E agora eu sentia as lágrimas arderem. Por ter jogado fora a maior felicidade que poderia ter na minha vida. Por saber que só um milagre para Demi me deixar voltar. Por correr um sério risco de nunca mais amar como eu a amava. Só de imaginar minha vida longe dela, longe de tudo que tivemos, a dor vinha abissal, terrível.

Observei-a do lado de fora, pelo vidro, como um cachorro faminto diante de uma refeição. Nunca me senti tão sozinho, tão triste e perdido. Demi olhava para a roupinha como se a quisesse, mas a devolveu à vendedora e continuou a andar por ali. Mexeu em várias coisas, pegou bichinhos de pelúcia, olhou berços e tudo o mais. Então pegou uma roupinha verde água, dois pares de meia e um sapatinho minúsculo. Sorrindo e falando com a vendedora, pagou e já pegava a sacola com tudo.

Saí do meu estado de paralisia e dor. Entrei na loja ao lado e dei um tempo lá. Quando olhei, ela já seguia em frente. Não a segui. Fui para dentro da loja de bebês e me dirigi a vendedora que a tinha atendido.

- Bom dia.

- Bom dia. – Sorriu para mim, corando.

- A moça loira que acabou de sair. Vi que gostou daquela roupinha branca de bebê?

- Ah, sim. Faz parte de um enxoval com manta, toquinha, meia, luvas e sapatinho para sair do hospital. Ela disse que depois volta para comprar.

- Eu quero. Pode me mostrar?

- Claro.

Quando peguei a roupinha macia e branca como algodão, fiz como Demi. Levei-a ao nariz e cheirei. Fitei aquela coisa tão minúscula em minhas mãos grandes e fui engolfado pela emoção.

Eu, que nunca sequer me imaginei como pai, agora me derretia como um bobo. E sorri para a vendedora.

- Pode embrulhar tudo para mim?

- Sim, senhor.

Saí de lá e busquei Demi rapidamente, meus olhos varrendo todos os corredores. Fui encontrá-la no andar superior, indo até uma das mesas no salão de refeições com um copo grande de vitamina de morango. Sentou, deixando o pacote a seu lado.

Eu me aproximei, sabendo que atrapalharia seu dia, seu conforto e tranquilidade. E mesmo querendo muito estar perto dela, me senti mal por isso.

Arregalou os olhos ao me ver sentar à sua frente. Na mesma hora a raiva tingiu suas feições e já ia se levantar, mas eu disse baixo:

- Por favor, não vou demorar. Não precisa sair.

Algo em minha voz ou em meu olhar a fez vacilar. Acho que eu estava tão mal, tão arrasado, que ela sentiu. Falei logo:

- Não vim brigar nem perturbar você. Só vim pedir desculpas por ontem.

- Como me achou aqui? – Perguntou fria, sentada na ponta da cadeira, como se estivesse pronta a fugir na primeira oportunidade.

Fitei seus olhos prateados duros e raivosos, senti a tensão que a envolvia e vi a diferença de como estava antes e como estava agora. Eu fazia mal a ela. E consequentemente ao nosso bebê. E isso foi pior que toda a tristeza que senti até aquele momento.

- Fui até a sua casa, conversar. Então a vi pegar o ônibus e a segui.

- Como ontem. Vai ficar assim agora, me seguindo em todo lugar? O que preciso fazer para entender que não quero mais ver você?

- Nada. Eu já entendi. – Falei baixo. Não desviei o olhar. – Isso não vai mais tornar a acontecer. Vou deixar você em paz.

Encarava-me, muito séria, seu desgosto e seu desprezo sendo duros de aguentar. Sentia-me fraco, sensível, prestes a desabar. Mas continuei:

- Sei que não vai adiantar, mas me perdoe por tudo que fiz. Por ter feito você sofrer, por ter atrapalhado sua vida. Por cada coisa. Me perdoe pelas acusações de ontem. Eu, mais do que ninguém, deveria saber o quanto é honesta e responsável. Está sozinha e livre para fazer as escolhas que quiser. E prometo que não vou interferir mais.

Continuava quieta. Era difícil saber se alguma coisa do que eu disse penetrou sua capa de raiva e frieza.

- Eu só queria pedir uma coisa, Demi. Que me deixe participar da vida do meu filho.

- Ou o quê? Vai tentar tirá-lo de mim?

- Nunca. Sei que ele não poderia ter mãe melhor. Eu só queria ver ele se desenvolvendo, ser informado da sua gravidez, ir ao médico ao menos uma vez com você, ajudar no que puder.

- Não, Joe. O que você quer é continuar no controle. – Disse levemente trêmula, sem piscar. – Quer estar perto, se fingindo de bonzinho, mudando de tática. - Não é isso.

- É isso sim!

Suspirei, exasperado. E o pior era que nem podia acusá-la por pensar o pior de mim, eu lhe dera todos os motivos para isso.

- Demi, é meu filho também. Só quero acompanhar. Ele terá 30% do que ...

- Eu não quero nada! – Me interrompeu na hora.

- É um direito dele. Não tem por que ser orgulhosa agora, eu também sou pai e posso ajudar.

- Eu não quero. – Repetiu, intransigente.

Ficamos nos olhando. Percebi que estava nervosa, que seria difícil convencê-la.

- Então me deixe pelo menos acompanhar a gravidez.

- Não. Nenhuma lei pode me obrigar a isso. Quando o bebê nascer, você pode correr atrás dos seus direitos. Mas enquanto está dentro de mim, ele é meu. E quero você longe.

Foi um golpe duro. Tentei me convencer que com o tempo a raiva cederia e eu poderia tentar novamente. Mas o ódio dela parecia ser tão grande que não acabaria nunca. Senti um desânimo tão profundo, que até um cansaço estranho veio sobre meus ombros. Insistir seria em vão, só a irritaria ainda mais.

- Eu vou embora. Não vou mais seguir nem perturbar você. Repito e peço para me procurar se precisar de qualquer coisa. Não sabe como estou arrependido de tudo que fiz, mas vou

respeitar seu desejo. Cuide-se bem, Demi. E cuide do nosso filho. – Levantei e depositei a sacola com o kit do bebê sobre a mesa, à sua frente. – Aceite pelo menos esse presente para ele.

A dor era tanta que tive medo de fraquejar na sua frente. Era realmente uma despedida agora para mim. Eu a estava deixando ir.

- Adeus, Demi.

Não disse nada, olhando-me fixamente. E eu fui, sem olhar para trás.

18 comentários:

  1. Acho que meu coração acabou de quebrar em mil pedaços. Não desista dela, Joe! E não seja tão quarde rancor, Demi, você sabe que ele está falando a verdade, só mente pra si mesma dizendo que não!
    Alguém me faz um favor, pega o Matheus, coloca um uma caixa, vai pro correio e envia ele pra puta que pariu! Porque pelo amor de Deus, ele tem que parar de se meter na vida dos outros, ele pode até estar apaixonado pela Demi, mas ele sabe que a Demi ama o Joe e vice-versa. Tipo, arranja um hobby, cara, jogar cartas, origami, masturbação.... Contanto que deixe os dois em paz ta valendo.
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  2. Não é possível que ela não vai amolecer o coração agora..... poxa estou com peninha dele de verdade.... chorando aqui..... continua.......

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  3. Aaaaah posta maaaais!!ta perfeitoooo...

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  4. Meu coração se partiu agora! Tadinho do Joe, tudo bem eu sei que o Joe a magoou profundamente, mas ela ta pegando muito pesado com ele
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  5. Posta mais hj um capítulo gigantão, acabe com a minha agonia por favor.

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  6. Cara, que pena do Joe, não é possível que a Demi não perceba o quanto ele está arrependido. E não é possível que a Demi não deixe o Joe participar do desenvolvimento do filho deles, ela está sendo muito rancorosa.

    POSTA HOJE POR FAVOR!!!!

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  7. OMG PERFEITO!! ~ posta logo pfvr, vou ter um ataque do coração esperando OMG

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  8. Mariiiiiii sua linda. Quanto tempo que eu não venho no seu blog. Mas agora estou de volta e vou me atualizar nas fics. Vou começar com essa que tem bastante coisas pra ler. Saudades de você e sei que a fic é perfeita, como todas que você sempre posta
    Beijos

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  9. Coração doendo depois desse "adeus Demi" , não sei mais no que pensar pra essa reconciliação, parece um beco sem saída. Me diz por favor o que vai acontecer?

    Nanda

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  10. Ae meu Deus sei que o Joe foi um FDM mas coitado dele :( posta logoo

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  11. Espera que este não seja o fim deles, a Demi tem que dar uma hipótese ao Joe!!
    A história é incrível, criatividade e habilidade para escrever é o que não te falta :)
    Posta logo por favor :)

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  12. Foi mal não comentar os outros capítulos, fiquei sem internet
    To com tanta pena do Joe
    Continua

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  13. EU VOU MORRER SE VCS NÃO POSTAR LOGO, PORQUE PORRA CARVALHO, EU ESTOU ESPERANDO O DIA TODO
    POSTA LOGO

    ps- Desculpa a linguagem, mas estou estressada agora

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