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Três meses depois
Do outro lado da rua do Chandler Park, no centro
de Burbank, Joe estava sentado na BWM procurando algum sinal de uma
mulher grávida. Ele abriu a janela e uma brisa fresca do fim de maio
levou o aroma de grama recém-cortada.
Com a ajuda de um detetive particular, ele
finalmente encontrara informações sobre 3516A, também conhecida
como Demi Lovato. Ele não tinha uma fotografia da mulher, mas sabia
que Demi Lovato tinha 1,65 m de
altura, cabelos castanhos, olhos verdes e pesava 55 kg.
A CryoCorp dissera a Maggie que não tinha
registro da carta que Joe enviara pedindo para ser removido como
doador e, portanto, recusou-se a dar qualquer informação
relacionada à cliente deles, 3516A. Se não fosse pelo detetive que
contratara, Joe não estaria naquele momento sentado observando três
mulheres correndo atrás de crianças demais.
Depois de chegar ao apartamento de Demi Lovato
naquela manhã, ele só precisara de alguns minutos para descobrir
com um vizinho que ela estava
no Chandler Park ajudando uma amiga com uma festa de aniversário.
Maggie aconselhara Joe a se manter afastado da
mulher. Havia detalhes legais a resolver, dissera ela, mas Joe não
deu ouvidos. Ele ainda não sabia se 3516A, ou Demi Lovato, ficara
grávida ou não e não
conseguiria dormir enquanto não descobrisse a verdade.
Joe manteve o olhar na mulher mais próxima. Ela
soprava bolhas de sabão, causando risadas nas crianças. Elas
correram atrás da mulher, tentando pegar as bolhas. Ela era alta e
esguia e usava um macacão vermelho, com os cabelos ruivos longos
brilhando sob o sol. A mulher de vermelho não só era alta demais
para ser Demi, não tinha cabelos castanhos nem estava grávida.
A alguns metros da sopradora de bolhas, outra
mulher distraía as crianças brincando de estátua.
Joe ergueu os óculos escuros para ver melhor. Cabelos castanhos com vários cachos rebeldes e pernas longas. Alta
demais para ser Demi Lovato.
A terceira e última mulher era a dama de azul:
camiseta azul, tênis azuis e um chapéu azul que cobria o rosto e os
cabelos. Ela lia um livro para algumas crianças menores e era
impossível dizer qual era a cor dos cabelos e a altura dela. Mas uma
das crianças começou a chorar, forçando a dama
de azul a entrar em ação.
Ele espremeu os olhos por causa do sol. A dama de
azul tinha cabelos pretos — não, castanhos. Usava uma bermuda
branca. Ele estimou que ela tivesse cerca de 1,65 m de altura.
Bingo.
Ela era miúda e definitivamente não estava grávida.
A tensão desapareceu dos ombros e do pescoço
dele. Podia respirar novamente. A vida era bela.
A risada das crianças o deixou de bom humor. Ele
recostou a cabeça no banco, colocou novamente os óculos escuros e
fechou os olhos. A simples ideia de se tornar pai o deixava
claustrofóbico, não porque não quisesse um filho, mas porque não
estava pronto. Uma pessoa tinha que estar preparada para esse tipo de
coisa. Além do mais, ele preferia ter um filho do jeito tradicional
— depois que casasse com a mãe da criança. Ele riu sozinho ao
perceber que apelara para a espionagem.
Que diabos estava pensando? O que teria feito se
encontrasse uma Demi
Lovato grávida? Ha! Maggie tinha razão. Ele não deveria ter ido lá.
Algumas batidas de leve no vidro do passageiro
chamaram a atenção dele, que endireitou o corpo. Uma olhada pelo
espelho retrovisor relevou um carro de polícia parado atrás dele.
Um policial estava meio abaixado e
bateu no vidro do passageiro novamente.
Joe apertou o botão na porta do motorista e o
vidro desceu. — Pois não, policial?
— Saia do carro, por favor, senhor.
Confuso, Joe fez o que o policial pediu. Passou
pela frente do carro e subiu na calçada. Duas mulheres estavam
paradas atrás do policial, a sopradora de bolhas e outra mulher que
ele não notara antes. Ela tinha os cabelos castanhos presos em um
rabo de cavalo e estava de costas para ele. As duas mulheres estavam
próximas e sussurrando uma para outra, de
forma que ele não conseguiu ouvir o que diziam.
Joe retirou os óculos escuros, prendeu-os na
frente da camisa e
esperou que o policial terminasse de escrever no bloco.
Dessa vez, quando o policial olhou para ele, ficou boquiaberto e apontou o lápis. — Você é Joe Jonas, zagueiro do Los Angeles Condors.
— Isso mesmo. — Joe estendeu a mão. — Como posso ajudá-lo?
— Policial Matt Coyle — disse o policial ao
apertar a mão de Joe. — Eu agradeceria muito se me desse um
autógrafo. Meus filhos são grandes fãs.
— Sem problema.
— Policial, por favor! — interrompeu a ruiva.
Bastava entregar um tridente de diabo para a
ruiva, pensou Joe, e a imagem estaria completa.
O policial Coyle pigarreou. — Essas senhoras —
disse ele, gesticulando em direção às mulheres — notaram que
você está parado aqui há algum
tempo. Francamente, elas estão preocupadas com a segurança das crianças.
A sopradora de bolhas se virou para Joe, colocou
as mãos nos quadris e encarou-o, claramente não impressionada com o
status de celebridade dele. A outra mulher meramente lançou um olhar
preocupado por sobre o ombro, o que indicou a ele que era a culpada,
a que chamara a polícia.
Joe passou pelo policial e aproximou-se das
mulheres. — Peço
desculpas. Eu deveria ter me apresentado mais cedo.
A ruiva semicerrou os olhos. Se um olhar pudesse
matar, Joe teria caído morto bem ali, na calçada.
— Vim aqui à procura de Demi Lovato — disse Joe.
A mulher de cabelos castanhos se virou, com os
olhos arregalados. — Eu sou Demi — disse ela.
Ela tinha cerca de 1,54 m de altura. Cabelos
castanhos. Olhos verdes. — Puta merda.
Ela semicerrou os olhos. — Como?
— Puta merda — disse ele novamente, mais
devagar dessa vez quando fixou o olhar na barriga enorme.
A sopradora de bolhas pegou o braço da amiga,
como se quisesse tirá-la do caminho do perigo. — Policial —
chamou ela. — Pode nos dar uma mãozinha aqui?
— Sr. Jonas — disse o policial —, você
conhece alguma dessas mulheres?
A mente de Joe estava meio amortecida, mas ele
conseguiu dizer: — Não, não conheço.
— Você está deixando as moças nervosas e,
para ser sincero, estou
começando a me perguntar. O que quer com essa mulher?
Joe afastou os olhos da barriga dela e ergueu-os para o rosto de Demi.
— Ela está carregando o meu filho.
As mãos de Demi Lovato desceram para a barriga. — Como é?
— Você está carregando o meu filho — disse
ele novamente, apesar de não ter realmente certeza de que dissera
alguma coisa. A mente enevoada e a língua pesada não estavam
ajudando. Por meses, ele ficara imaginando se haveria uma mulher em
algum lugar que estivesse grávida dele. Em um dia, ele se sentia
empolgado com a ideia e, no dia seguinte, só conseguia sentir pavor.
As emoções dele estavam descontroladas. Naquele momento, não sabia
o que pensar nem o que sentir, mas isso não impediu que o coração
batesse com força dentro o peito.
O policial coçou o queixo. — Achei que tinha
dito que não conhecia a mulher.
— Isso mesmo, não conheço.
— Então, como ela pode estar carregando o seu filho?
— É uma longa história.
— Eu tenho bastante tempo — disse o policial,
guardando o bloco. — E vocês, senhoras?
A sopradora de bolhas cruzou os braços sobre o
peito e bateu o pé no chão. — Definitivamente.
Joe não conseguia tirar os olhos da mulher chamada Demi.
Será que ela estava mesmo carregando o filho dele?
A julgar pelo olhar aterrorizado no rosto dela,
era possível. A aparência dela era maravilhosa: pele impecável,
cada fio de cabelo no lugar, queixo inclinado para cima, inflexível,
obstinada. O olhar dele desceu para a mão dela. Nenhuma aliança.
Ela não era casada, o que ele considerou uma coisa
boa. Era uma pessoa a menos com quem lidar.
Joe mudou o peso do corpo da perna machucada para
a perna boa e começou do princípio. — Há cerca de seis anos, fui
doador para uma empresa chamada CryoCorp. Dezoito meses depois,
enviei a eles uma carta pedindo que me removessem como possível
doador. Há três meses, recebi uma carta deles dizendo que a
receptora 3516A, também conhecida como
Demi Lovato, tinha me selecionado como doador. E aqui estou.
O rosto de Demi Lovato ficou pálido e ela
cambaleou. A mulher começou a cair. Joe deu um salto e a pegou nos
braços antes que ela batesse no
chão. Ele segurou o corpo desfalecido dela, feliz ao ver que ainda respirava.
— Policial! — gritou a sopradora de bolhas,
claramente alarmada ao
vê-lo segurando a amiga dela. — Faça alguma coisa.
O policial Coyle andou até o carro dele.
Do outro lado da rua, a mulher de pernas longas e a dama de azul reuniram as crianças. Joe tinha público.
— Todos fiquem calmos — disse o policial. —
Há uma ambulância a caminho.
— Ei, Hollywood! — um dos garotos mais velhos
gritou para Joe. — Pode me dar um autógrafo?
A moça de chapéu rapidamente conduziu as
crianças em direção à mesa
de piquenique, onde os balões balançavam de um lado para o outro.
Joe sentiu uma dor aguda no joelho. O peso de Demi
Lovato não estava ajudando em nada. Ele se encaminhou para o carro.
A sopradora de bolhas o seguiu de perto, cutucando as costas dele com
uma unha afiada. — O que pensa que está fazendo?
— Se puder abrir a porta de trás — disse Joe
—, vou deitar a sua amiga no banco traseiro.
— Ah, não, não vai. Até onde sei, você pode
ser um assassino em série qualquer.
— Meu nome é Joe Jonas. Jogo no Los Angeles
Condors. O policial e o garoto do outro lado da rua podem confirmar
isso. Ou prefere segurá-la você mesma? — Ele se virou para ela,
que ergueu as mãos em protesto e correu para abrir a porta do carro.
Joe colocou o joelho machucado no chão do carro,
entre os bancos dianteiro e traseiro, e deitou-a no banco sem
movimentos bruscos. Ao tentar puxar o braço que estava sob a cabeça
de Demi Lovato, ela estendeu
os braços e colocou-os em volta do pescoço dele.
~~~
Demi soltou um suspiro satisfeito. Thomas viera
encontrá-la. Ele a segurava nos braços, fazendo com que ela se
sentisse flutuando no ar enquanto a carregava pela porta. Thomas se
inclinou e colocou-a sobre a cama. Com receio de que partisse cedo
demais, ela estendeu os braços e
colocou-os em volta do pescoço dele.
Em seguida, ela o beijou.
Thomas parecia hesitante no começo. Ele tinha a
boca mais firme e mais quente do que ela se lembrava, quase perigoso
quando finalmente cedeu e aproveitou o momento. O beijo foi incrível
e ela não queria que terminasse, mas ele se afastou. — Thomas —
disse ela. — Não vá embora. — Mas era tarde demais. Tudo
parecia terminar cedo demais em se tratando de Thomas. Tudo.
Os olhos de Demi tremularam e abriram-se. Ela prendeu a respiração ao ver um homem maravilhoso flutuando diante dela.
Definitivamente não era Thomas.
Ela precisou de um momento para se lembrar que era
o mesmo homem que declarara ser o pai do bebê que carregava. O homem
segurava a cabeça dela na palma da mão. O topo da barriga enorme
encostava nos músculos rígidos dele. — Você não é Thomas.
Um sorriso malicioso dançava nos lábios dele. —
Não posso dizer que seja.
— Diga-me que não acabei de beijar você. —
Mas ela sabia que o beijara. Os olhos dele... a resposta estava nos
olhos dele. E os lábios dela, o
gosto nada familiar dele ainda estava nos lábios dela.
— A ambulância está a caminho — disse ele.
Ela foi tomada pela ansiedade ao lembrar que
começara a cair antes de desmaiar. — O bebê está bem?
— Eu acho que sim. Eu vi quando desmaiou e
consegui segurá-la antes
que caísse na calçada e se machucasse ou machucasse o bebê.
Sandy colocou a cabeça para dentro pela porta
aberta. — O que está acontecendo? O que ele está fazendo com você?
— Está tudo bem — disse Demi à amiga. — Só estamos conversando.
O homem chamado Joe começou a se afastar, mas
Demi agarrou o braço dele. — Antes que eu desmaiasse, por que você
disse que eu carregava o seu filho?
— Porque é verdade.
Ela acenou para que Sandy se afastasse e a amiga
desapareceu, mas não sem antes soltar um suspiro exasperado.
— Detesto desapontá-lo — disse Demi —, mas
você não é o pai do meu filho.
— Como pode ter certeza?
— A CryoCorp faz com que os doadores preencham
uma quantidade imensa de formulários. — Ela saberia. Passara os
últimos oito meses memorizando cada palavra que o doador escrevera
sobre si mesmo. — O pai do meu filho tem olhos azuis. É alguns
centímetros mais alto que você e...
Ele fez uma careta.
— O quê? O que você fez?
— Eu meio que menti.
— Ninguém meio que mente. Ou você mentiu, ou não mentiu.
— Você tem razão. Eu menti — disse ele. —
Seu doador estudou
medicina e preferia polo aquático, não futebol. Ele é vegetariano, certo?
Ela assentiu, sem acreditar, e acrescentou: —
Ele também é muito sensível e trabalhava para o Greenpeace.
Ele coçou o nariz.
— Ele é médico — continuou ela, recusando-se
a acreditar naquele homem — e algumas vezes trabalha como palhaço
no hospital infantil porque... porque adora crianças.
Ela sentiu o bebê dar um chute. Ele também devia
ter sentido, pois manobrou o corpo para que não ficasse diretamente
sobre ela. Ele parecia desconfortável, como se estivesse sentindo
dor. Não que ela se importasse. Ele merecia estar desconfortável
por espioná-la e, em seguida, despejar
informações demais sobre ela, como fizera.
O homem olhou para a barriga dela. O bebê chutou
novamente, mais forte.
Os olhos dele se arregalaram. — Isso é incrível.
Ela sorriu. Não conseguiu evitar. Sempre que
sentia o bebê chutar, parecia um milagre. — Há alguns dias,
parece que ele está tentando chutar para abrir caminho e sair.
— Você disse "ele"? Nós teremos um menino?
O coração dela saltou com as palavras do homem.
— Por que está aqui? Por que mentiria?
— Eu sinto muito, de verdade. Quando fiz a
doação, eu precisava
desesperadamente de dinheiro. Eu não pensei direito.
— Mas a CryoCorp verifica as informações de todos os doadores.
— Eu tenho contatos.
Ela não conseguia acreditar no que ouvia. —
Isso é horrível — disse ela. — Você é horrível. Escreveu
tudo o que achou que uma mulher gostaria em um homem, no filho deles.
Um monte de mentiras. Até mesmo a cor dos seus olhos. — Ela fez
uma careta. — Eles não verificaram nem mesmo a cor dos seus olhos?
Ele deu de ombros. — Eu sei. Também fiquei um
pouco surpreso com isso.
— Havia alguma coisa que escreveu naquele
questionário que não era mentira?
Ele franziu a testa enquanto tentava se lembrar.
— Então, você está me dizendo que o pai do
meu filho é um jogador de futebol mentiroso, impiedoso, sem
compaixão, que odeia crianças, que
come carne e tem olhos castanhos?
— Ei, espere um pouco, o que há de errado com olhos castanhos?
Ela colocou a palma da mão na testa. Nem mesmo deveria conhecer o pai do filho. Nenhum homem chegaria sequer perto
do homem que ela imaginara como o pai do bebê, nem mesmo Thomas.
Claro, esse homem era muito além de lindo e ela estaria mentindo
para si mesma se não admitisse que ele beijava como ninguém. Mas um
homem que beijava muito bem e
era lindo não significava um bom candidato a doador.
— O pai do meu filho é um grande mentiroso —
disse ela como se ele não estivesse bem ali. — Ele é como todos
os outros homens aí fora, nada
de especial, apenas um egocêntrico, egoísta, horrível, mentiroso...
— Você já deixou isso bem claro —
interrompeu Joe. — Mas, como eu disse, pensei melhor sobre o que
fiz. Sei que eu estava errado e foi por isso que escrevi para a
CryoCorp pedindo que me retirassem da lista de
doadores. Até devolvi o dinheiro. Eu tenho consciência.
A sirene da ambulância soou à distância. Ela
fechou os olhos. — Vá embora. Deixe-me em paz.
— Não é tão fácil assim.
Ela abriu um olho. — O que quer dizer?
— Você está carregando o meu filho. Não vou a lugar algum. Não posso.
Um som baixo de desespero surgiu na garganta dela
quando ergueu as mãos para o peito dele e o empurrou, tentando fazer
com que a deixasse em paz. Uma dor atravessou a barriga e ela
enterrou as unhas no peito rígido dele. — Ah, meu Deus!
— O que foi?
Um líquido morno escorreu pelas pernas dela
enquanto as unhas se
enterravam na camisa e na pele dele. — Isso não pode estar acontecendo.
Ah, meu Deus! É muito cedo.
— Qual é o problema? — perguntou Sandy com voz estridente.
— O bebê — disse Demi. — Está nascendo. O bebê está nascendo!
Na pressa de se afastar, Joe Jonas, o homem que
ela se recusava a acreditar que fosse o pai do bebê, caiu
desajeitadamente entre ela e o banco
dianteiro e, em seguida, tropeçou de costas para fora do carro.
~~~
Treze horas depois, cansado de esperar na área de
recepção do hospital, Joe abriu a porta do quarto de Demi e olhou
para dentro. A amiga ruiva dela, Satã, aquela que deveria ter dado
notícias enquanto ele ficava sentado no saguão, pegara no sono em
uma cadeira no canto do quarto, enquanto a
outra amiga, a dama de azul, estava sentada no outro lado da cama.
Apesar da máscara de papel que ele recebera antes de entrar no quarto, o cheiro de antisséptico era forte. Ele achou que
Demi talvez estivesse dormindo, mas o monitor emitiu um bipe e ela
abriu os olhos. Cegamente, ela estendeu a mão, que a dama de azul
pegou e disse que tudo ficaria bem. Demi relaxou, mas somente até o
monitor emitir outro bipe. Dessa vez, ela arregalou os olhos. Ela e a
amiga começaram a respirar juntas, exalando
rapidamente três vezes, inalando, e recomeçando.
Demi parecia que tinha passado o dia inteiro em um
acampamento do exército sem um gole de água: o rosto estava pálido,
os lábios secos e rachados. O cabelo estava úmido e puxado para
trás. Sombras escuras rodeavam os olhos. Ela mal se parecia com a
mulher que ele conhecera mais cedo.
Por um segundo, Joe ficou pensando se deveria
procurar um médico ou uma enfermeira. Como Satã podia dormir
enquanto Demi sentia tanta dor? Depois de alguns momentos, as duas
mulheres pararam com
aquela coisa estranha de respirar juntas e começaram a rir.
As ações delas confirmaram as suspeitas dele: eram todas malucas.
— O que você está fazendo aqui?
Droga. Satã estava acordada. — Já faz cinco
horas desde que recebi alguma notícia — disse ele. — Achei
melhor vir aqui e ver como estão as coisas com meus próprios olhos.
— Não deveriam ter deixado você entrar. Vou lá dar uma bela bronca...
— Sandy — disse Demi com a voz grossa. — Está tudo bem.
Sandy se levantou e espreguiçou-se. — Como
quiser. Vou até o
restaurante tomar um café. Grite se precisar de mim.
Joe a ignorou, aliviado ao ver Satã encaminhando-se para a porta.
— Espere, vou também — disse a outra mulher.
— Estou faminta. — Ela se aproximou de Joe, segurou a mão dele e
deu um aperto firme. — Olá, meu nome é Chelsey.
Ele ficou contente ao ver que nem todas as amigas
de Demi queriam espetar agulhas nos olhos dele. — Joe Jonas —
disse ele. — É um prazer conhecê-la.
— É um prazer. Voltarei em cinco minutos —
disse ela. — Mas é bom que você saiba que, na última vez em que
o médico veio aqui, Demi estava com dilatação de cinco
centímetros. Ainda falta bastante e parece que está com contrações
a cada dez ou quinze minutos. — Ela apontou para um copo de isopor.
— Há pedras de gelo ali. Pode dar a ela quantas forem
necessárias. Ela também gosta de massagem nas costas.
— Isso não será necessário — disse Demi.
— Não dê ouvidos a ela — sussurrou Chelsey. — Ela não sabe o que é bom para ela. Nunca soube. Nunca saberá.
A porta se fechou atrás de Chelsey antes que Demi
pudesse protestar novamente.
— Lamento por isso — disse Demi. — Você não
precisa ficar. Pode ser que leve horas. Não há como saber.
— Quero ficar aqui. Mas me avise se quiser que eu saia do quarto.
— Está bem — disse ela, com o olhar indo para
a barriga e novamente para o rosto dele. — Isso é estranho, não
acha? Nós nos conhecemos há menos de um dia e você sabe mais sobre
meu útero do que qualquer outra coisa.
Ele riu. — Também sei que você tem amigas assustadoras.
Ela riu, corou e olhou em volta do quarto.
Subitamente, ele ficou imaginando o que o fizera
ir até o quarto dela. Chamar aquilo de momento estranho era muito
suave. Ele olhou para a porta, torcendo para que alguém entrasse,
salvando-os um do outro. — Seus pais virão mais tarde?
Ela balançou a cabeça. — Eles moram em Nova
Iorque. Pessoal ocupado demais.
— Hmmm.
— Eles não estão muito contentes com as
decisões que tomei — acrescentou ela.
— Entendo. E Thomas? Ele virá visitá-la em algum momento?
Ela parecia dolorosamente constrangida, fazendo
com que ele se perguntasse por que parecia tão determinado a deixar
as coisas mais desconfortáveis toda vez que abria a boca. Ele era
normalmente um homem de poucas palavras e agora sabia o motivo.
— Quem contou a você sobre Thomas? Vou matar
Chelsey quando ela voltar...
— Foi você — disse ele. — Você mencionou
Thomas. Você achou que
estava beijando Thomas quando eu a coloquei no banco de trás do carro.
Ela fez uma careta. — Eu disse o nome dele?
Ele assentiu.
— Já ouvi falar de pessoas que falam
dormindo... mas beijar dormindo? — Ela suspirou.
— Não se preocupe. Eu estaria mentindo se
fingisse que não gostei muito, você sabe, do beijo.
As luzes fluorescentes se refletiram nos olhos
dela e fizeram com que brilhassem.
Eles observaram um ao outro por um instante, medindo-se antes que um bipe irritante os levasse de volta à situação do momento.
Demi fechou os olhos com força e enterrou os dedos no colchão.
Movendo-se para o lado da cama onde Chelsey
estivera, Joe estendeu o braço sobre a grade lateral da cama e pegou
a mão dela. — Está tudo bem — disse ele, apesar de não se
sentir nada bem e de, claramente, ela não parecer nada bem. Não
fazia muito mais que cinco minutos desde
que as amigas dela saíram. O que estava acontecendo?
Com os olhos fechados e os dentes cerrados, as
veias no pescoço e na testa dela pareciam que iam explodir.
O coração dele bateu mais depressa enquanto
pensava em alguma coisa a dizer para confortá-la e distrair a mente
da dor. — Talvez devêssemos
fazer aquele negócio de respirar — disse ele.
Demi não respondeu, mas os dedos apertaram a mão
dele com mais força e, que maldição, ela tinha muita força.
O monitor não parava de emitir bipes em
sequência. Aquilo o preocupou.
Demi ergueu os joelhos até o peito, com os cobertores e tudo.
Ele se inclinou mais um pouco e massageou o ombro dela. — Isso ajuda?
Ela arregalou os olhos, fazendo com que ele se
sobressaltasse. Ele não teria se surpreendido nem um pouco se,
subitamente, ela girasse a cabeça totalmente para trás e começasse
a vomitar sopa de ervilha. Em vez disso, ela estendeu a mão e
agarrou a camisa dele, junto com um pouco da pele, e
gritou: — Tire o seu filho de dentro de mim!
Ele teria caído na gargalhada se não estivesse
sangrando e sentindo dor, e se ela não o estivesse encarando com o
olhar mais assustador que já vira na vida, o que era dizer muito,
considerando que a mãe fora a rainha das expressões assustadoras.
Em um piscar de olhos, Demi Lovato se transformara
de uma doce jovem em uma mulher possuída pelo demônio.
— Se você não fizer alguma coisa — disse ela —, eu vou gritar.
— Eu acho que, em vez disso, deveríamos respirar.
— Eu acho que você deveria... — O rosto dela
ficou escarlate e ela franziu o nariz como se estivesse chupando
balas azedas. Em seguida, ela fez exatamente o que dissera que faria.
Ela gritou, um som ensurdecedor
que fez com que o cérebro dele doesse.
Onde diabos estava todo mundo?
Antes que ele conseguisse chegar perto do botão
vermelho de
emergência, a porta se abriu e duas enfermeiras rodearam a cama.
— Quem é você? — perguntou uma delas enquanto verificava o monitor e a medicação intravenosa.
— O pai do bebê — respondeu ele.
A aparência de Demi era deplorável. A cabeça
estava jogada para trás, o pescoço estendido e as juntas dos dedos
estavam brancas por causa da
força com que apertava o braço dele, com as unhas enterradas na carne.
As enfermeiras se entreolharam e a que estava na
extremidade da cama deu de ombros, puxou os lençóis e fez um exame
rápido. — Chame o
médico — disse ela. — Esse bebê está vindo, pronto ou não.
Joe teria fugido bem depressa se Demi não tivesse
um aperto da morte no braço dele. Ele tinha quase certeza de que já
estava com o peito sangrando e, se ela continuasse assim, o braço
não ficaria em condições muito melhores.
A porta se abriu novamente e Sandy e Chelsey
entraram correndo atrás do médico.
— Eu disse a você que ele ainda estaria aqui — Sandy disse a Chelsey.
— É um crime o pai querer ver o filho chegar ao
mundo? — perguntou Chelsey.
Joe decidiu que gostava de Chelsey.
— Doar esperma para uma clínica por dinheiro —
acrescentou Sandy — não o torna um pai.
De Satã... não muito.
Chelsey parou ao lado de Joe e inclinou-se sobre a
grade. — Você está indo muito bem — disse ela a Demi. —
Continue respirando. Isso mesmo. Você consegue. — Chelsey começou
a fazer o exercício de respiração novamente e Demi a acompanhou. O
doutor e as duas enfermeiras estavam cuidando das coisas. Sandy pegou
a câmera de vídeo e mirou na direção deles.
Ele conseguiu ouvir Sandy falando para a câmera,
resmungando palavras como "imbecil" e "idiota" de vez em quando.
Chelsey estava perfeitamente calma e entregou a
ele um pano úmido, pedindo que limpasse a testa de Demi. Contente
por ter alguma coisa para fazer, ele usou a mão livre para tentar
acalmá-la. Sem ter a menor vontade de ver sangue, ele decidiu se
concentrar no rosto de Demi, que notou que tinha formato de coração.
Desconsiderando os círculos escuros sob os olhos, a pele era macia e
impecável. Apesar de, naquele momento, os lábios dela estarem secos
e rachados, eles eram cheios e tinham um formato bonito. Ela tinha
belos olhos, quando não estavam revirando-se para trás da cabeça,
maçãs do rosto altas e sobrancelhas elegantes. Havia uma beleza
nela que ele não notara antes.
As bochechas de Demi se inflaram quando ela e
Chelsey se prepararam para fazer força novamente e Joe se viu
fazendo força com elas. Os três expiraram rapidamente três vezes,
inalaram, expiraram três vezes, inalaram, fizeram força e repetiram
o mesmo processo por mais trinta
minutos até que, finalmente, o bebê resolveu vir ao mundo.
O choro do bebê não era nada parecido com o
choro de todos os outros bebês que ele já ouvira. O choro desse
bebê era suave em comparação aos
outros, quase calmante, como música para os ouvidos.
Joe olhou por sobre o ombro, sorriu para a câmera
e virou-se novamente para Demi.
— É um menino — disse o médico.
— Nós conseguimos — disse Demi com a voz fraca.
Ele achou que ela estava falando com Chelsey, mas
percebeu que a garota se juntara às enfermeiras perto da porta.
— Você conseguiu — disse ele, pegando o copo
com pedaços de gelo. Depois de dar alguns a ela, ele gentilmente
aplicou bálsamo nos lábios rachados. Em seguida, ele endireitou o
corpo e observou a enfermeira
entregar a Demi o filho dela... o filho deles.
To amando!!!!! Serio! Bjao quero q tu poste logoo
ResponderExcluirPOSTA MAAAAAAAAAAAAIS! <33
ResponderExcluirCOMASSIM? ... ALGUÉM POR OBSÉQUIO, PODERIA COMENTAR??.. EU QUERO MAAAAAISS.. :(((((
ResponderExcluirComeço incrível de uma história que sem dúvidas vai ser perfeita..
sei que dois ou três comentários não vão fazer vc continuar, mas vale a pena tentar..
posta mais!
xoxo
Posta mais
ResponderExcluirOwwwn que fofinho esse final <3
ResponderExcluirAinda agora começou e já estou a adorar essa história, posta mais :)
ResponderExcluirPrimeira vez que comento aqui..acho seu blog mt bom :)
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