16.12.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 14 - Último *ATUALIZADO*


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– DEMI, ESPERE. – Joe manteve seu foco nos lampejos azuis disparando e ondulando das câmeras da multidão de paparazzi em frente à mansão particular.

Demi havia saído da festa de lançamento sem olhar para ele. Mas ela precisava aguardar por ele para levá-la para casa, não? Joe sentiu um aperto no peito ao pensar que talvez ela estivesse cansada da confusa família Fraser e estivesse pronta para simplesmente cair fora. Chamar um táxi e terminar tudo com ele. Joe apressou o passo.

Algumas câmeras viraram para Demi enquanto ela passava, apressada, pela imprensa sensacionalista. Alguns flashes estouraram… atire primeiro e preencha as lacunas depois. Mal sabiam os fotógrafos que a foto dela deixando a festa provavelmente valeria mais quando a grande fofoca do evento vazasse.

Droga, mas o pai de Joe tinha estragado tudo para ele. Mais uma vez.

Com os dentes cerrados, virando para o lado, a fim de minimizar a possibilidade de haver fotos dos dois juntos. Não que ele se se importasse por causa de si. Não queria pôr o trabalho de Demi na Sphere em risco mais do que já posto. Joe estava tão furioso com Thomas que mal conseguia enxergar. Como o velho poderia tê-la envergonhado de propósito assim?

– Demi? – Ele a viu novamente perto do utilitário, que tinha sido estacionado pelos manobristas em uma longa fila de veículos caros. Felizmente Joe tinha uma chave reserva.

Ela estava com o celular na mão, os dedos correndo sobre o teclado enquanto o ignorava.

Não era um bom sinal. Será que Demi tinha noção de que ele só estava tentando protegê-la?

Joe apertou o passo, correndo pelo restante do caminho até a ligeira rampa até Demi. Pelo menos eles estariam protegidos da vista de todos os convidados. Os paparazzi não a tinham seguido e não o viram ali. Isso renderia a Joe um pouco mais de tempo.

– Ei. – Joe a alcançou assim que Demi guardou o celular de volta na bolsinha bordada com miçangas. – Sinto muito sobre o que aconteceu lá dentro.

Ela contraiu os lábios, não era bem uma carranca, mas definitivamente não era um sorriso.

– Pelo que aconteceu lá dentro? – Ela cruzou os braços, a postura rígida. – Você se refere a ter ignorado meu apelo para me deixar lidar com seu pai? Ou por anunciar ao mundo que eu danço na noite?

Confuso, ele balançou a cabeça, tentando ficar atento a qualquer um que viesse na direção deles. Ele estava cansado de ser o centro das atenções daquela noite.

– Fui para evitar que meu pai fizesse uma grande cena e envergonhasse você.

– Você não pode estar falando sério. – Ela tirou uma mecha de cabelo escuro dos olhos que o atraíram desde o primeiro dia. – Você percebe que fez o maior escândalo de todos, certo?

A culpa alfinetou quando ele foi atingido pela possibilidade de Demi estar certa. Joe sentiu a nuca se arrepiar de frustração ao pensar que ele poderia ser tão ruim quanto seu pai, a noção crescente de que ele havia estragado esmagando cada vértebra em suas costas. Ele queria sair dali, para longe da festa, para longe da longa fila de carros e de manobristas correndo para lá e para cá… para longe da própria vida.

– Em um esforço de protegê-la e desviar o interesse do meu pai em você, sim. – A cabeça de Joe latejava com a lembrança do pai sendo grosseiro com Demi. Droga, ele era esperto o bastante para não arrastar alguém tão vulnerável ao seu mundo. – Quando o ouvi falando com você daquele jeito… – Ele cerrou os dentes.

– Joe, eu estava dando conta dele. – Ela abraçou o próprio corpo para se proteger de uma rajada fresca de brisa. – Eu estava calma. Fui articulada. Ele estava acuado, e esta é a única razão pela qual me atacou. – Demi esfregava a testa logo acima da têmpora quando se virou para encostar no para-choque do utilitário. – Eu estava a ponto de fazê-lo enxergar que ele estava errado.

Difícil de imaginar seu pai admitindo isso a qualquer um, muito menos a uma mulher que tinha acabado de conhecer. – Errado sobre o quê? – perguntou Joe, curioso, agora que o pico das emoções tinha passado.

– Sobre ele achar que é um ótimo pai.

Joe se apoiou no para-choque, ao lado dela, perto, mas não muito. Ele detectou uma rigidez nova em Demi, uma fronteira definitiva entre eles.

– Meu pai não vai mudar. – Joe convivera com ele por tempo suficiente para saber disso. Deus, aquilo fora martelado no cérebro dele da maneira mais difícil, depois de tantos anos dando ao seu velho uma oportunidade atrás da outra de… Diabos. Ser um pai em vez de um ditador.

– E você sabe disso porque…? – Ela ficou brincando com as miçangas da bainha de seu vestido, os pedacinhos de vidrilho captando raios aleatórios do luar. – Já lhe ocorreu alguma vez que você pode ser tão cabeça-dura e teimoso quanto ele?

A acusação o atravessou de jeito, a possibilidade muito assustadora para ser absorvida pelo cérebro. Joe nunca quis ser comparado ao pai. O que significaria se ele tivesse herdado as características de Thomas que o irritavam na maior parte do tempo? Ele tentou afastar o pensamento.

– Demi, foi sua ideia vir para essa festa, e a trouxe para fazê-la feliz. – Ele chutou uma pedra. – Mas sempre soube que seria um risco se envolver, já que meu pai é um barril de pólvora e você…

– O quê? – quis saber ela.

– Vulnerável a críticas.

Ela bufou.

– Insegura, você quer dizer. Bem, adivinhe só? – Ela aprumou a postura. – Não sou mais insegura. Mudei de várias de maneiras desde que nos conhecemos, Joe. Estou surpresa que você não tenha notado.

– Isso não significa que você merece ser jogada aos leões em seu primeiro passeio comigo.

A distância, ele viu um par de faróis iluminando a rua.

– Assumi riscos com você, Joe, porque você significa… muito para mim. Tirei a velha máscara e estou pronta para mostrar a você e a todos os outros meu novo “eu”.

Ela pareceu firme ao dizer aquilo, mas a ideia de ver Demi intimidada por causa dele deixou Joe furioso consigo mesmo. Ela significava muito para ele também, ora bolas. Pena que ele não havia demonstrado tanto no momento mais importante.

O som de motor ficou mais alto e os faróis se aproximaram. Joe se arrastou para trás, um passo para permanecer nas sombras.

– Não sei no que estava pensando. – Joe balançou a cabeça, querendo que ela ficasse, mas sentindo que não a merecia. – Não queria que meu pai gritasse com você, mas, no final… – Deus, era uma droga admitir isso: – Fui pior do que ele.

Demi não discutiu a questão.

– Fui mantida à margem por toda minha vida, por pessoas que tinham vergonha de mim – disse ela. – E depois por todas as minhas inseguranças, graças a uma mãe que me via como um problema. – Ela deu um passo para mais perto da rua e acenou para o carro que se aproximava. – Não vou ficar satisfeita em permanecer negligenciada mais.

Um táxi parou ao lado dela.

Joe sentiu um bolo na garganta ao ser tomado por uma preocupação genuína.

Ela chamou um táxi? Ela ficou ali, observando a reação dele ou… apenas olhando para ele. Joe não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Pedir a ela que não fosse sozinha para casa?

– Não compreendo – admitiu ele. – Só não sei bem como… consertar isso.

Demi tocou o rosto dele, um gesto que Joe compreendeu muito bem. Ele reconheceu a despedida agridoce e a tristeza nos olhos dela.

– Não vou viver à sombra de novo, Joe. E até que você possa sair desta que está pairando em cima de você, não tenho certeza se é uma boa ideia continuarmos nos vendo. – Ela mordeu o lábio, mas a voz era firme. – Converse com seu pai, Joe. Veja se vocês dois podem se escutar dessa vez.

Joe não previra aquela situação. A Bela Mulher de Olhos Cinzentos estava terminando com ele na esquina de uma rua escura de Los Angeles porque ele era cego demais para olhar no espelho e se enxergar claramente. Demi aguardou pela resposta dele, e Joe ficou grato pelo taxista ter mantido a janela fechada. Diabo, ele não sabia mais o que fazer, então pegou sua carteira e tirou uma nota alta para o taxista. Ele bateu na janela e a entregou ao homem, juntamente a uma ordem rouca para dirigir com cuidado.

Com o arrependimento feito uma pedra em seu coração, Joe abriu a porta para Demi bem quando um monte de flashes pipocou atrás de si. Droga. Eles foram vistos.

Demi balançou a cabeça quando entrou no carro, pronta para seguir em frente.

– Sinto muito, Joe.

Os flashes continuaram, mas ele não se importou. Tudo o que importava para ele no mundo estava indo embora em um táxi amarelo anônimo, enquanto ele ficava parado lá como um bobo, completamente desorientado.

Mas Demi dissera o que ele precisava fazer, e ela era uma mulher inteligente. Uma mulher que ele tinha escolhido para ser sua consultora financeira. Talvez fosse hora de Joe começar a ouvi-la em outros aspectos também. Tinha chegado o momento de fazer as coisas corretamente com o pai.

UMA REUNIÃO na festa estava fora de questão. Os paparazzi tinham ficado sabendo do drama na cozinha e foram ávidos fotografar todas as partes envolvidas. Mas Joe tinha dado uma gorjeta a um manobrista, a fim de que tirasse o pai da casa por outro caminho, para que os dois pudessem se encontrar.

Agora, Joe aguardava em seu carro duas ruas abaixo e viu quando o manobrista se aproximou em um carrinho de golfe. Mesmo no escuro, Joe percebia que o pai estava no banco do passageiro. Ele ficou aliviado pelo outro ser dotado de bom senso suficiente para ser racional sobre isso. Parte dele temia que o sujeito fosse até os paparazzi e lhes fizesse revelações sobre o ocorrido.

Assim que o carrinho de golfe freou bruscamente, Thomas Fraser II desceu tão facilmente como se estivesse saindo de uma limusine, dando mais algumas notas para o manobrista, que já tinha feito uma pequena fortuna com aquela missão.

Joe destrancou a porta do passageiro para que o pai pudesse entrar. Ao se sentar, se voltou para o filho com um olhar sombrio.

– Importa-se de me contar por que você está esperando por mim em becos escuros em vez de correr atrás da sua namorada? – Ele bateu o punho no painel para dar ênfase.

Será que Joe um dia iria entender aquele homem?

– Isso não tem só a ver comigo, pai. – Ele precisava assumir sua parcela naquela confusão. Devia isso a Demi, fazer o que ela pediu. Escutar. Tirando o carro do ponto morto, tentou explicar. – Isso tem a ver com nós dois. Perdi Demi esta noite e isso é culpa minha. Mas a maneira como eu e você ficamos nos atacando… isso é culpa nossa. Minha e sua.

Ele não esperava que o pai fosse simplesmente ceder e admitir parte na história. Mas talvez pudessem encontrar algum tipo de paz. Demi pensava ser possível, certo? Joe flexionou os dedos no volante, sem saber como tinha perdido algo tão importante tão rápido. A cabeça latejava.

– Eu tento ajudá-lo – vociferou o pai, o tom grave ecoando ao redor do veículo. – Chamei-a para a festa porque dava para notar que você gostava dela. E você precisa de uma mulher em sua vida, Joe. Tudo o que faz é trabalhar.

A surpresa o distraiu do latejar na cabeça. Seu pai tinha notado o quanto ele trabalhava? Isso não seria o sujo falando do mal lavado? Droga, aquele era mais um fator que o fazia se parecer com o pai, apesar de Joe nunca ter gostado totalmente dessa conexão.

– Você só sabia que eu gostava dela porque tem me seguido e ficou me vigiando o tempo todo. – Joe não conseguiu evitar o comentário instintivo. Ainda estava irritado por Thomas ter colocado o ex-segurança para segui-lo.

– Um bom pai cuida dos filhos.

Isso o fez se perguntar no quanto o pai estava cuidando dos irmãos, na parte norte do estado. E mesmo imaginando que deveria avisá-los, tinha de admitir que parecia ser que seu pai estava chegando àquele ponto por uma questão de… amor.

Joe parou em um sinal vermelho e se virou para olhar para o homem que incitava problemas infindáveis em sua vida e na dos outros. Um homem que interferia constantemente e achava que era mais sábio. Um homem que tinha passado as mesmas características a Joe, as quais tinham feito Demi abandoná-lo.

Deus, ele precisava entender seu velho melhor. Porque eles eram muito parecidos. Joe não podia esperar que Demi lhe desse uma chance até ele mesmo dar uma chance ao pai.

Ele respirou fundo para simplesmente dizer aquilo, quando notou uma lágrima rolando pelo rosto de Thomas.

– Ah, que diabo. – Quaisquer outras palavras morreram em sua garganta. Como não fora capaz de perceber o quanto o pai se importava?

A epifania o prendeu no banco com ainda mais força do que saber que o pai estava genuinamente chateado. Triste. Talvez lamentando o que havia acontecido quase tanto quanto Joe.

Aturdido para diabo, Joe parou na frente a uma confeitaria alemã com mesas na porta, onde um grupo se reunia para comer rosquinhas quentes na madrugada.

Ele encostou o utilitário no estacionamento e desligou o motor.

– O que aconteceu entre você e Demi?

Thomas franziu a testa.

– Ela disse que eu o minava publicamente. – Ele estudou as próprias unhas e ajeitou um anel pesado na mão direita. – Que eu não lhe dei aceitação suficiente. – Dando de ombros, ele recorreu a Joe: – Que tipo de aceitação? Eu o alimentei, dei-lhe o que vestir e um começo no mundo. Aceitei minhas responsabilidades.

– Não acho que era isso que ela queria dizer. – Joe não conseguiu evitar um sorriso irônico ao pensar na imagem de Demi censurando severamente o famoso produtor pela paternidade negligente. Ela realmente tinha crescido muito desde que se conheceram, encontrando forças recônditas que ele jamais imaginara existir dentro dela.

Agora era o momento de assumir seu quinhão e crescer também:

– Pai? – repetiu ele. – O que exatamente Demi disse a você na festa?

Acariciando a barba, Thomas olhou para a vitrine da confeitaria.

– Disse que me tornaria um pária na minha própria família se não fizesse… – Ele balançou a cabeça. – Não sei o que ela ia dizer a seguir porque foi quando comecei a me exaltar. E em seguida você entrou.

A cabeça de Joe pulsava e seu peito estava vazio. Aquela dormência novamente, fazendo brotar a dor que o aguardava assim que os eventos de toda a noite fossem assimilados.

– Também não dei ouvidos a ela – admitiu reconhecendo mais uma característica que herdara do pai: – Demi me disse que tinha as coisas com você sob controle e a ignorei. Disse que sou como você, e não fui capaz de enxergar isso.

– Ela falou isso? – Thomas riu ironicamente. – Aposto que doeu.

Durante toda a vida, quando Joe ficava frustrado com o pai, seus amigos escolhiam ficar do lado de Thomas. Eles insistiam que o velho era bem-intencionado, e Joe os ignorava porque ninguém entendia o que era ser criado por um pai tão inflexível e exigente. No entanto, talvez eles estivessem certos. Sim, Thomas tinha um jeito bem retrógrado de demonstrar amor. Mas talvez Joe também. Ele com certeza não havia demonstrado isso a Demi do jeito que ela merecia.

– Sim. Ela disse isso.

– Você é igual a mim. – Thomas bateu no próprio peito, porém estava sorrindo. – Agora você vê isso.

Ele via muito bem. Joe e Thomas haviam magoado Demi esta noite.

Joe olhou para o sujeito que lhe causara um pesar sem fim e disse a si mesmo que ia mudar. Não queria mais saber da busca obstinada para conquistar seus objetivos. Não queria mais saber do estúdio de cinema para rivalizar com o do pai.

Joe e o pai iam se acertar. E em breve.

– Quero meu nome na porta da Fraser Films. – Ele ligou o motor, cheio de um novo propósito de repente. Tinha muito o que fazer se realmente quisesse sair da sombra do pai.

Se quisesse ser o homem que Demi merecia.

– Do quê você está falando? – resmungou Thomas de maneira indignada, mas Joe agora levou um tempo analisando aquele gesto fingido.

– Estou falando sobre unir forças para ser maior e melhor do que nunca, em vez de separar nossos recursos e destruir um ao outro. – Joe achava que tinha dado a última chance ao pai quando trabalhara para ele da última vez, mas talvez estivesse apenas esperando que essa tentativa falhasse. Fugindo quando discordavam, em vez de entrar em acordo. – Ou vou montar um estúdio por conta própria, e você sabe que serei bem-sucedido, já que herdei bastante da sua teimosia, ou podemos tentar chegar a uma forma de trabalhar em conjunto e não… brigar muito.

O velho Fraser não tinha muito a dizer. Mas talvez fosse melhor assim. Joe tinha plantado a semente. Agora iria dar algum tempo para que se enraizasse.

– Para onde nós vamos? – perguntou o pai, ajeitando a lapela do paletó do smoking.

– Nós vamos bolar um plano para recuperar minha garota, pai.

Thomas balançou a cabeça lentamente.

– Eu gostei dela.

– Isso é bom. Porque eu a amo.

– NÃO ACREDITO que você era a dançarina que substituiu Natalie no Backstage. – Star segurava a xícara de chá e falava em um sussurro enquanto eu me sentava com ela na mesa de reuniões da Sphere Asset Management na segunda-feira de manhã.

Eu tinha telefonado para meu chefe, Pendleton, no fim de semana, confessando tudo, assegurando que minha vida dupla não existia mais e que eu tinha quase certeza de que ninguém mais sabia. Eu escolhera contar a Star porque ela era uma boa amiga, tanto minha quanto de Natalie. Quanto ao meu chefe, ele foi do choque à descrença, divertindo-se vagamente no decorrer da conversa telefônica de uma hora. Em seguida, elogiou meu trabalho recente e disse que esperava que eu cogitasse assumir um papel maior na Sphere, contanto que meus dias de dançarina ficassem para trás. Então… em vez de ser demitida, ganhei um “parabéns, garota” e a promessa de uma promoção nova em folha se eu quisesse.

Mas eu não queria. Pelo menos não agora. A estava me acostumando à nova situação com o aumento das responsabilidades, e mesmo isso não parecia tão emocionante sem Joe na minha vida. Abandoná-lo não tinha destruído minha confiança recém-descoberta. Mas definitivamente tinha perdido o ânimo. A leveza e alegria em meu coração.

Meu peito doía, na verdade.

– Natalie deslocou o tornozelo na primeira vez e me incentivou a tomar o lugar dela. – Eu devia aquele empurrãozinho a ela, e não apenas por causa da confiança que a apresentação me dera, mas porque ela havia me colocado no caminho de Joe pela segunda vez.

Não importava o fato de Joe não ter lutado mais por nós dois, por mim, eu não trocaria um minuto do período incrível que passamos juntos. Eu me enxergava diferente graças a ele. Só queria que ele ainda estivesse ao meu lado. Não era tão divertido ser uma mulher confiante e completa sem Joe.

– Então foi você que abandonou Joe depois do baile. – Star sorriu e se aproximou, ambos os cotovelos sobre a mesa de reunião enquanto ignorávamos nosso trabalho um pouco mais. Devíamos estar arrumando a sala para minha primeira reunião com o novo cliente que Pendleton tinha me indicado na semana anterior. – Eu o achei terrivelmente possessivo com Natalie, e isso me deixou preocupada porque estava torcendo para ele gostar de você. Acho que não preciso me preocupar com isso mais.

A dor golpeando meu peito deve ter ficado explícita, porque Star fez uma careta.

– Por acaso interpretei tudo errado? – Star olhou para a porta e, em seguida, para o relógio. O escritório só abriria oficialmente dentro de dez minutos, e meu cliente só iria chegar uma hora depois disso. – Quando você não voltou ao trabalho após o almoço com Joe, pensei que…

Tive de sorrir ao me lembrar daquele almoço na chuva e da corrida até o utilitário dele. Ir para casa com Joe tinha sido… uma mudança de vida. Fiquei louca por ele, mesmo naquela época, porque tinha me enxergado através do disfarce de Natalie e ainda assim queria estar com meu verdadeiro eu. O ruído da cafeteira na mesa lateral me trouxe de volta à realidade. Meu sonho mágico tinha acabado. Eu era apenas Demi novamente.

Era difícil me alegrar por ser uma mulher melhor quando isso significava uma solidão tão pesada que parecia estar prestes a me sufocar.

– Nós, hã… – Pigarreei, minha voz se encheu de emoção. – Ele e eu éramos apenas uma coisa temporária.

– Ah, querida. – Star apertou meu pulso, reconfortante e tranquilizadora enquanto suas pulseiras sacolejavam contra a superfície da madeira. – Joe com certeza não me parece do tipo de cara que gosta de coisas “temporárias”. Seu nome não tem sido associada a ninguém nos tabloides nos últimos anos.

Não tinha certeza se deveria ficar lisonjeada ao pensar que ele tinha um gosto muito exigente, ou se deveria ficar ofendida por ser a única mulher a quem fora dada a opção de namorar por curto prazo. Abracei-me e meio que desejei não ter lhe dado um ultimato depois de uma noite tão emocional.

Na época, parecia a coisa certa a fazer. A única coisa a fazer. Ele precisava consertar o relacionamento com o pai. E acho que queria ser a única a lhe dar essa cutucada. Ele havia feito tanta coisa para me ajudar, afinal de contas. Talvez, lá no fundo, eu achasse que o estaria ajudando. Mas e agora, que eu estava sozinha e triste sem Joe?

Tive de me perguntar se eu tinha cometido o maior erro da minha vida.

A comoção do lado de fora da sala de reuniões chamou nossa atenção e nos levantamos para ver o que estava acontecendo.

– Se você quiser firmar um contrato comigo, vai abrir suas portas agora. – Uma voz masculina grave com uma pitada de sotaque flutuou através da porta, o tom arrogante e exigente.

Eu me endireitei. Conhecia aquela voz. Era a mesma que tinha discutido comigo na frente de 50 pessoas elegantemente vestidas. Star abriu a porta para ver o que estava acontecendo na recepção, e eu fui atrás.

Nossa estagiária, Claudia, estava ocupada tentando aplacar Thomas Fraser II. Ele estava na recepção vestindo um terno caro e cercado por uma comitiva de cinco pessoas, três homens e duas mulheres. Todos estavam vestidos profissionalmente e carregando pastas, iPads, ou ambos.

O pavor me deu um frio na barriga. Thomas estava ali para revelar meu segredo a todo o escritório? Pendleton não tinha me demitido, mas eu havia dito a ele que meu show de dança permaneceria secreto.

– P-p-posso ajudá-lo, Sr. Fraser? – Dei um passo a frente, a fim de intervir, já que nossa estagiária parecia sobrepujada e Star não se mexera para recebê-los.

– Só se você puder trazer a alta cúpula até aqui para lidar com minhas preocupações. – Ele bateu com a mão larga no balcão da recepção, a força fazendo uma cesta decorativa de limões sicilianos saltitar. – Tenho negócios para transferir, mas só se tudo for feito esta manhã.

Star entrou em ação.

– Vou ver o que posso fazer, senhor.

Meu chefe já estava no local, a notícia de que um cliente top de linha estava presente já havia viajado rapidamente pelo escritório. Pendleton disse a Star para segurar as ligações dele e reagendar a reunião que eu teria dentro de uma hora, já que ele precisava utilizar a sala de reuniões para receber o Sr. Fraser. Então convidou a comitiva para o espaço de reuniões.

Confusa, desconfiada e ainda preocupada com a possibilidade de eu ser de algum modo desmascarada pelo pai de Joe, abri espaço para o grupo passar.

E Thomas Fraser, o patriarca severo e carrancudo da família Fraser que havia esquentado tanto a cabeça de Joe, na verdade piscou para mim.

Eu poderia ter achado que estava sonhando, mas Star olhou para mim, as sobrancelhas arqueadas num questionamento. Claro, eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Quando recepção foi esvaziada e ficamos apenas Star e eu, com todos os superiores em reunião, Claudia encarregada de providenciar bebidas, a porta da frente se abriu novamente.

Joe entrou.

Lindamente amarrotado, parecendo ter dormido com o terno que usava, Joe parou no meio da recepção, as íris escuras vagando sobre mim. Era minha imaginação, ou ele estava com olheiras?

Se fosse um filme de Hollywood, a câmera teria dado um close no rosto dele do mesmo jeito que meus olhos faziam agora. Um brilho dourado reluziria ao redor dele de repente através de um truque de iluminação do fundo e o público suspiraria coletivamente. Assim como meu coração suspirou ao vê-lo.

Mas isso não é Hollywood.

Não percebi que disse as palavras em voz alta até Joe olhar em volta.

– E isso é um problema? Porque estamos a apenas alguns quarteirões a sudeste de Hollywood.

– Er. Não. – Considerando o calor que tomou meu rosto, percebi que toda minha nova confiança não iria me impedir de ficar envergonhada. Especialmente na frente daquele homem que ainda significava tanto para mim, mesmo que ele não estivesse disposto a romper com o passado e enfrentar o pai. – O pessoal do seu pai está na sala de reunião.

Apontei para a porta fechada, embora suspeitasse de que ele se lembrasse de onde a sala ficava. Star estava pairando perto do meu cotovelo, mas aproveitou aquele momento para desaparecer em direção aos escritórios, resmungando alguma coisa sobre a necessidade de ver alguém.

Deixando-nos a sós.

– Sei onde meu pai está. – Joe se aproximou e notei que ele definitivamente não parecia tão elegante como de costume. Um dos lados da gola da camisa estava escondido sob o paletó, enquanto o outro descansava na lapela. Seu cabelo estava em ângulos loucos, como se tivesse passado a mão nele muitas vezes. Mas estar despenteado não prejudicava em nada sua boa aparência.

Sentia tanta saudade dele que todo meu corpo doía.

– Você é bem-vindo para se juntar a ele – assegurei, minhas palavras duras. – Tem um minuto que entraram.

– Eu sei. – Joe passeou pela recepção, verificando as obras de arte nas paredes, sem pressa aparente. Aproximando-se de mim o tempo todo. – Meu pai estava muito orgulhoso de sua missão. Foi ideia dele criar essa distração.

Missão? Distração?

– Hein?! – Vi-o endireitar uma fotografia de nosso escritório em Londres e, em seguida, parar a poucos metros bem na minha frente.

– Disse ao meu pai que precisava ter você de volta. E ele planejou um esquema para esvaziar seu escritório, assim nós dois teríamos tempo para conversar.

Temi que meus ouvidos não estivessem funcionando direito. Ele tinha mesmo acabado de dizer que precisava ter-me de volta?

– Seu pai sabe como comandar uma multidão, isso é certo. – Tentei imaginar Joe e o pai tendo uma conversa na qual não estivessem discutindo. Na qual estavam do mesmo lado.

Será que Joe tinha conseguido algum tipo de trégua familiar, afinal? Eu formigava por dentro, me lembrando de que isso era tudo que realmente pedira a ele. Sair da sombra da rivalidade com o pai.

Será que ele fez mesmo isso? A centelha de esperança brilhou contra a solidão sombria contra a qual eu vinha lutando.

– Percebi que os homens da família Fraser são formidáveis quando querem alguma coisa. – Joe brincou com os limões na mesa de Star, a mão perto do meu ombro agora. – Teimosos e cabeça-dura, alguém me disse uma vez.

Imaginei aquela mão me tocando e não consegui tirar os olhos dela.

– Sou sincera, não importa quais sejam as consequências – insisti, necessitando me manter firme às minhas convicções, apesar de o meu desejo por ele transbordar dentro de mim como uma dor infinita. – Não vou me subestimar mais Joe. Você me ajudou a perceber que eu merecia mais do que o que estava recebendo da vida. E agora não posso me contentar com menos.

Especialmente de você.

– Admiro isso. – Ele estava de igual para igual comigo agora, o teste supremo da minha força de vontade. – Você me obrigou a pensar verdadeiramente sobre o que eu estava fazendo e sobre como estava sabotando meu futuro, optando por continuar em conflito com meu pai o tempo todo.Inalando, sentia o cheiro da loção pós-barba, e lembranças de nós dois entrelaçados inundaram meus sentidos.

– Você… quer consertar as coisas com seu pai? – Surpresa e esperança acenderam dentro de mim. Eu não esperava por isso depois da maneira feroz com que ele discutira com o pai. De como me dissera enfaticamente que eles colidiram durante toda a vida… E considerando que Joe estava ali a sós comigo agora, talvez ele quisesse consertar algo mais… Nós dois.

Meu estômago vibrava de nervosismo perante tal possibilidade.

– Não sei se seremos capazes de consertar completamente nosso relacionamento – admitiu ele. – Mas vamos tentar encontrar maneiras de unir forças a partir de uma perspectiva profissional e ver se podemos resolver alguns problemas dessa maneira.

– Sinceramente? – Ele havia feito o que pedi? Confrontado o pai depois de meses trabalhando contra ele? – Vocês dois estão… – Fiquei revezando o olhar entre a sala de reunião e Joe. – … fazendo isso juntos? Ele está realmente ajudando para que você possa conversar comigo a sós agora?

– Meu pai planejou essa entrada com o mesmo cuidado com que prepara uma cena de filme. – Joe sorriu. – Nunca pensei que fosse desfrutar tanto da companhia dele, mas quando estamos de acordo… ele não é tão ruim.

Eu estava finalmente começando a compreender. Joe não tinha apenas conversado com o pai sobre trabalhar juntos novamente no cinema. Ele tivera algum tipo conversa sincera que envolveu a mim. E, surpreendentemente, o velho Fraser deve ter apoiado a decisão de Joe para vir falar comigo hoje, ou ele não teria encenado a grande comoção desta manhã.

Uau.

– Acho que seu pai esconde um grande coração debaixo daquela manipulação e da arrogância.

– Estou começando a achar isso também. – Joe balançou a cabeça. – Estou decepcionado que tenha levado uma vida inteira para descobrir isso.

– Estou feliz por você. – Não queria presumir nada sobre as motivações de Joe neste encontro comigo. Mas, novamente, eu realmente, realmente tinha esperanças de que ele estivesse ali para me apresentar mais do que a trégua com o pai.

– Estou feliz por você. – Joe pegou minha mão e a ergueu, dobrando meus dedos entre sua palma num gesto que me aqueceu até os dedinhos dos pés. – Porque se não fosse por você, ainda estaria batendo a cabeça contra uma parede, sem entender por que meu pai continuava a me pressionar e a me testar o tempo todo.

O calor de sua mão enviou faixas de prazer pela minha corrente sanguínea, até o coração.

– Mais importante – continuou ele, pegando a outra mão também –, você se importou comigo o suficiente para me dar o empurrão do qual precisava ver as coisas sob uma nova luz.

Eu fiz isso? Com os olhos escuros e hipnóticos sondando os meus, não conseguia me lembrar de como tudo tinha se desdobrado. Meu quadril bateu na borda da mesa de Star e percebi que minhas pernas estavam bambas. Felizmente, Joe envolveu minha cintura com um braço, a outra mão ainda segurando a minha.

– Estava me sentindo terrivelmente segura de mim naquela noite – falei finalmente. – Você me ajudou a enfrentar o mundo e a me enxergar de um jeito novo. Creio que deveria retribuir o favor.

– Então agora que sabemos que você é forte e confiante, e que eu sou cabeça-dura e teimoso… – Sua boca se aproximava da minha, a voz baixou para ser ouvida apenas por mim. – O que vamos fazer agora?

– Hum. Não tenho certeza. – Fiquei observando os lábios dele, acompanhando o movimento, querendo senti-los pressionados aos meus. – Vamos fazer amor. Vamos nos apaixonar. Algo assim.

Meus batimentos cardíacos aceleraram. Dispararam. Bradaram.

– Mas não necessariamente nessa ordem – sussurrou ele, a respiração quente contra minha bochecha. – Já estou apaixonado por você, Demi.

Pisquei através da névoa sensual para encontrar os olhos dele e vi uma clareza e uma sinceridade que me fizeram me sentir leve como o ar e mais esperançosa para o futuro do que jamais estive. Comecei a tremer inteira.

– E-e-essa é… – Pus a mão em meus lábios, não porque estivesse vergonha da minha gagueira, mas porque Joe tinha o poder de me deixar feliz e confusa. – Essa é uma notícia excelente. Porque sou muito louca por você também, Joe Fraser.

Ele levou minha mão aos lábios e beijou os dedos daquele jeito afável que fazia meu coração palpitar. Adorei. Eu o amava. Mas ainda tinha um pouco da dançarina escondida dentro de mim, então o abracei e o beijei do jeito que eu merecia.

Bem no meio do escritório. Não me importando com quem visse.

Ele pareceu um pouco atordoado quando terminei. Sentia-me a mulher mais sortuda do mundo.

– Por quanto tempo você acha que seu pai vai manter todo mundo distraído? – perguntei, o coração batendo depressa.

– Meu pai é um sujeito muito imponente. Ele faz tudo ao extremo… – Joe olhou para o relógio de pulso. – Diria que temos até o horário do almoço, pelo menos.

Não eram nem mesmo 10h.

– Os vidros do seu carro são bem escuros? – perguntei, uma fantasia de longa data vindo à mente.

Ele arqueou uma sobrancelha. Não me senti nem um pouco constrangida. Estava repleta de confiança. Repleta de amor. E muito pronta para demonstrar isso.

– Sempre lamentei por não ter saído no utilitário com você naquela primeira noite, quando você me pediu para encontrá-lo atrás do Backstage – confidenciei. – Na verdade, fiquei fantasiando com o que poderia ter acontecido entre nós se eu tivesse encontrado você lá.

– Nunca deixe que digam que eu não realizo suas fantasias.

Joe já estava a meio caminho da porta, um braço forte me guiando consigo.

Apoiei a cabeça no ombro dele, contente, animada e loucamente apaixonada, tudo de uma vez só. Minha vida dupla podia ter chegado ao fim, mas a parte mais empolgante estava prestes a começar...


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Último da fic. Espero que vocês tenham comentado e gostado.
Em breve uma nova fic para vocês.
Eu não vou começar uma nova porque não teria como postar, mas fiquem no aguardo.
Muitos beijos para vocês e uma ótimas festas de final de ano.
PS: Gente mil desculpas, na correria pra postar acabou faltando um pedaço, mas já está tudo organizado.
xoxo

15.12.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 13


~

– AFASTE-SE DO espelho.

Natalie apontou para mim com uma de suas muletas, sua ordem não deixando espaço para discussão. Encontrei o olhar dela no espelho com moldura de madeira do meu hall de entrada, onde eu estava mexendo no meu cabelo pelos últimos cinco minutos. Ela olhou para mim ameaçadoramente antes de pôr uma taça de vinho branco no meu campo de visão. Ela havia servido a bebida para mim uma hora atrás, e eu não tinha bebido nenhuma gota, embora ela insistisse que eu precisava para relaxar.

Conhecendo um comando quando ouvia um, e respeitando que Natalie era bastante sábia, porque até hoje ela não havia me conduzido de maneira errada, finalmente bebi o vinho e me deixei cair em uma poltrona esquisita da década de 1970 que meu pai tinha enviado no meu último aniversário. Ele nunca participara muito da minha vida, mas vinha tentando fazer as pazes enviando vez ou outra presentes oriundos de seus empreendimentos.

– Estou nervosa – expliquei, me concentrando no relógio agora que o espelho estava fora de questão. Começamos minha produção no meu quarto, mas como o tempo estava correndo até a chegada de Joe, fiquei muito tensa para permanecer lá em cima, olhando pela janela a cada minuto, por isso descemos.

Joe iria chegar a qualquer momento para me levar ao baile do qual eu queria tanto participar. Só que desde que eu o convencera a me convidar, fiquei me perguntando por que tinha insistido naquela prova de fogo louca, uma vez que tinha acabado de começar a namorar. Uma vez que tinha acabado de começar a me sentir mais confiante.

– Não fique tão tensa – disse Natalie, apoiando o tornozelo na escada. – Você queria ir para esse baile. Você pode muito bem aproveitar a festa chique e alguns bons acepipes.

Natalie tinha vindo no final da tarde, depois de eu ter feito uma ligação de emergência pedindo conselhos sobre roupas. Ela chegou com três vestidos seus, me ajudou a escolher uma peça azul-marinho elegante com um corpete sem alças e saia curta rodada, daí supervisionou minha maquiagem. Em suma, Natalie fora incrível. Para retribuir, tentei lhe dar todo meu cachê do meu desempenho na noite anterior, mas ela recusara firmemente. Consegui enfiar metade da quantidade em sua bolsa quando ela não estava olhando.

Se tentasse devolver, teria de lidar com meu lado teimoso.

Bebi o vinho, fechando os olhos para permitir que o sauvignon blanc frio fizesse sua mágica para eu relaxar.

– Eu só queria entender por que tive que apressar as coisas para isso.

– Você não está apressando nada. Está namorando esse cara, então por que você não pode começar a frequentar eventos com ele? – Natalie sentou-se com cuidado em um degrau de carvalho polido. – Não é como se você estivesse indo morar com ele.

– Mas disse a ele que seria um momento “ou vai ou racha” para nosso relacionamento. Que precisávamos saber se me encaixo na vida dele ou não.

Natalie franziu a testa.

– Uau. Que belo jeito de criar pressão em cima de você mesma.

Passei a mão nas contas azuis intricadas bordadas um pouco acima do meu joelho.

– Não sei o que deu em mim. Em um minuto estávamos nos divertindo na hidromassagem… – nunca mais iria usar aquela banheira de novo sem me lembrar do que fizemos lá – … e no outro estava despejando coisas como “se eu não puder lidar com os olhos do público, não pertenço à sua vida”.

Juntamente à minha nova confiança, eu parecia ter desenvolvido um talento especial para a auto sabotagem. Um passo à frente, dois passos para trás.

– Você realmente gosta desse tal Tom, não é? – Ela mostrou a língua para mim, a fim de me lembrar de que não tinha me perdoado por esconder a identidade de Joe, para começo de conversa.

– Eu… – Ai, Deus. Sabia exatamente o que sentia por ele, mas não estava pronta para admitir isso. – Eu realmente gosto de Joe.

Minha voz soou engraçada, grave e rouca, e desconfiei que Natalie compreendera o que eu não estava dizendo. Eu amava Joe. Talvez fosse o fato de amá-lo que estivesse me deixando tão aventureira e ousada em todos os aspectos da minha vida.

Sábio ou não, o amor faz você querer correr riscos.

– Então simplesmente tente se divertir esta noite. – Natalie colocou a taça de vinho em uma mesa no corredor e mancou até mim com a ajuda de uma muleta. – Só porque você está pensando nisso como uma noite “ou vai ou racha”, não significa que ele esteja.

Ela me deu um abraço, enquanto eu tentava me recompor.

– Tudo bem – concordei, exatamente quando a campainha tocou.

O pânico brotou dentro de mim quando Natalie e eu trocamos um olhar.

Joe tinha chegado no horário certinho. Acho que eu não podia adiar mais meu encontro com o destino.

HOLLYWOOD COM certeza sabia dar festas.

Duas horas depois, eu estava circulando ao redor de uma piscina em Devoe House, uma casa em Los Angeles alugada para a festa de lançamento de um novo filme chamado Maybe, Baby, que parecia ser feito para adolescentes e falava sobre o excesso dos jovens ricos.

Ou talvez eu estivesse confundindo os limites da arte e da realidade. Porque enquanto observava ao redor da piscina com deque elegante de uma casa que aparentemente pertencera a Marilyn Monroe, eu via juventude, riqueza e beleza em todos os lugares para os quais olhava. Aquele mundo era a definição de privilégio e excesso, até os acepipes de lagosta que vi as pessoas mordiscarem e jogarem fora.

Será que o estômago delas era muito pequeno para mais do que duas mordidas? Ou será que jogar iguarias pela metade no lixo era uma espécie de símbolo de status?

– Como você está? – Joe apareceu com uma bebida para mim.

Havia pedido água com gás e com limão. Não podia me dar ao luxo de beber álcool, já que precisava ficar atenta. Até agora, tinha sorrido muito e falado pouco. Não era algo difícil de fazer quando os amigos de Joe estavam mais interessados nele do que em mim. Além disso, não acho que as estrelinhas raquíticas que só comiam metade de um minúsculo acepipe de lagosta e usavam as melhores joias Harry Winston realmente me vissem como concorrência por um dos solteiros mais cobiçados da cidade.

E, sim, eu estava me sentindo um pouco na defensiva. Graças a Deus, Natalie tinha me emprestado um vestido, ou teria chegado usando um dos meus ternos de escritório. Sabia que nem todas as festas de lançamento eram chiques assim, mas os produtores de Maybe, Baby queriam manter o tom decadente para o filme.

Joe acariciou meu braço levemente.

– Ei? Você ainda está aqui comigo?

– Hã? É claro. – Quase gaguejei, droga. Ele me perguntou alguma coisa, e você acha que eu conseguia lembrar o que era?

– Você está bem?

Ah, sim. Não era como se ele tivesse me pedido um alucinógeno. Eu realmente precisava fazer um esforço para controlar minhas emoções.

– Ótimo. As coisas estão muito bem – respondi com um tom entusiasmado demais. – Quer dizer, obrigada por me trazer aqui.

Joe deslizou um braço em volta de mim e nos levou para o parapeito com uma um vista deslumbrante do centro de Los Angeles piscando a distância. Ali, tínhamos um pouco mais de privacidade da multidão e um pouco de sossego, longe do DJ, que tinha montado sua mesa de mixagem em um pátio suspenso perto da casa.

Joe estava lindo de smoking. Seu belo visual clássico e músculos esbeltos pareciam à vontade com o black-tie. Abotoaduras de prata cintilavam à luz das tochas, e ele parecia tão confortável, como se estivesse vestindo um par de jeans.

– Obrigado por ter vindo comigo. – Joe levou minha mão aos lábios e beijou os nós dos meus dedinhos, do jeito que você veria Cary Grant fazer em um filme antigo.

Derreti por dentro, meu desfrute por aquele homem afastando minhas preocupações por ora.

– Mas eu quis vir – lembrei-lhe, me espremendo no parapeito quando um garçom passou roçando em mim com uma bandeja de bebidas. – Provavelmente pressionei demais para ser convidada. Não queria pressionar você para me apresentar ao seu universo profissional.

– Estou muito feliz por você estar comigo – respondeu ele simplesmente. – Se tivesse vindo sozinho, teria passeado e ido embora em 45 minutos. Ter você ao meu lado me faz querer ficar para apreciar a vista.

Seus olhos estavam em mim enquanto ele falava, e meu coração apertou no peito. Perguntava-me por quanto tempo mais seria capaz de manter um bloqueio em meus sentimentos de ternura por ele. Mesmo agora, queria deixar escapar que o amava, jogar meus braços em volta do pescoço dele e esperar o melhor.

– Então este é o seu mundo. – Ergui minha taça de cristal em direção à Sunset Strip a um quilômetro e meio abaixo de nós. – É lindo.

Na verdade, agora que conhecia as posses daquele homem também pelo lado avesso, percebia que ele estava rodeado pela beleza em todos os lugares por que passava, em vários continentes. Sua vida era de luxo e sofisticação. Eu tinha visto isso no papel, mas não sentira isso em meu coração até vir aqui hoje. Talvez as mulheres ornadas por diamantes nesta festa estivessem certas em não me considerar concorrência real para Joe. Mesmo estando lado a lado, nossas vidas nunca pareceram mais distantes.

Ele tilintou sua taça de água com gás contra a minha e se virou para mim, apoiando um cotovelo no parapeito. Ele pôs a mão em volta do meu quadril para me girar para encará-lo.

– Vou pegar sua fala de ontem à noite emprestada – disse ele, se inclinando para sussurrar ao meu ouvido: – Vejo as engrenagens girando em sua cabeça, Demi. O que você está pensando?

Antes que pudesse responder, um homem corpulento usando um terno mal-ajustado veio cambaleando, colocando sua bebida e derramando tudo no parapeito entre nós, o cheiro de álcool tão forte que me perguntei se ela poderia queimar o verniz da madeira.

– Desculpe incomodar você, Joe – começou ele, batendo no ombro de Joe e meneando vagamente a cabeça para mim num pedido de desculpas. – Realmente preciso falar com você. Tem um minuto?

Ao mesmo tempo que eu não poderia me encaixar neste mundo, havia lido o suficiente a respeito dele para reconhecer um dos cineastas mais respeitados da nossa época, Michael Diereda, um homem que não precisava usar traje de gala para se encaixar naquela multidão. Se Joe ia abrir seu estúdio um dia, devia fazer contatos com sujeitos como aquele.

– Claro – falei, mesmo quando Joe começou a dizer que agora não era um bom momento. – Eu estava prestes a pegar mais bebida – insisti, lançando a Joe um olhar cheio de significado.

Eu não estava brincando sobre meu compromisso com a empresa dele. O que havia acontecido pessoalmente entre nós não importava, eu iria torcer por Joe profissionalmente. Mesmo que a ideia de perdê-lo apertasse dolorosamente meu coração.

Trilhando meu caminho através de uma multidão que tinha começado a inflar assim que o DJ começara a tocar, entrei na casa através de um dos vários conjuntos de portas francesas abertas. O pessoal do bufê não deve ter precisado usar a cozinha opulenta na qual eu me encontrava, uma vez que estava imaculadamente limpa, um pequeno bar arrumado perto da longa ilha de granito.

– Demi Masterson? – Um vozeirão cortou o ruído da festa e me fez parar.

Virando-me, vi Thomas Fraser II com uma pequena comitiva. O pai de Joe usava um smoking e camisa de seda branca, mas sem gravata, e seu cabelo branco estava penteado para trás para a ocasião. Uma atriz deslumbrante de Hollywood com cabelo escuro bem negro e um vestido prateado minúsculo estava de braço dado com ele, de um jeito bem possessivo, enquanto vários outros homens e mulheres pareciam cercá-lo como satélites em torno de um planeta maior.

Constrangida, ajeitei meu cabelo. Na última vez que aquele homem tinha me visto, eu estava usando uma peruca loira e máscara. Como ele me reconheceu?

– Olá, Sr. Fraser. – Ofereci-lhe minha mão do jeito que eu faria em uma apresentação profissional, mas ele beijou as costas dos meus dedos em um gesto perfeitamente espelhado pelo filho.

Perguntava-me se Joe estava ciente do quão semelhantes seus maneirismos eram. Ele tinha a mesma vitalidade e carisma do pai. Talvez essas semelhanças fossem parte da razão pela qual batessem as cabeças com tanta frequência.

– Estou feliz que você tenha pedido a Joe para trazê-la aqui esta noite. – Ele sorriu e fez um gesto sutil para seus seguidores, a fim de dispersá-los. Eles se misturaram à multidão, deixando-nos a sós perto de uma fileira de janelas com vista para o pátio pontilhado com tochas e agora pelo excesso de fluxo de convidados.

– Como você me reconheceu, Sr. Fraser? – Fui direto ao ponto, querendo ter certeza de que compreendia suas motivações.

Será que ele me queria ali esta noite só para poder me chamar de mentirosa?

– Mantenho o controle sobre meu filho – disse ele, empinando o queixo com orgulho. – Ele tem estado inquieto e com raiva de mim. Fiquei preocupado com a possibilidade de ele tomar uma decisão profissional precipitada, da qual pudesse se arrepender, só porque estava chateado. Então tenho monitorado suas negociações mais recentes. E um dos meus ex-seguranças tem ficado de olho nele, discretamente.

– Você quer dizer… – Desvencilhei-me do braço dele, não confiava nele. – Você está dizendo que colocou alguém para seguir Joe?

– Não o tempo todo. – Thomas inflou o peito em legítima defesa. – Apenas o suficiente para descobrir que ele quer abrir o próprio estúdio de cinema para concorrer comigo e que está namorando uma analista financeira conservadora que solta o cabelo à noite e vira… dançarina.

Talvez devesse ter me sentir ameaçada. Ele tinha informações que eu estava tentando manter em sigilo. Ele tinha o poder de me fazer ser demitida. Mas tudo que conseguia pensar era em Joe e no quanto isso iria machucá-lo. Será que o pai não enxergava como suas atitudes alienavam o filho? De repente, vi Joe, sentado em uma mesa à beira da piscina com o famoso diretor. Como se ciente de que eu estava olhando para ele, virou-se para a casa de repente.

As luzes estavam concentradas na cozinha, que era ligeiramente suspensa em relação ao pátio lotado, então ele deve conseguido me ver tão bem quanto eu podia vê-lo. Mesmo a distância, captei a tensão em sua linguagem corporal quando se levantou do assento.

Ele deve ter notado o pai falando comigo e provavelmente estava vindo diretamente até nós.

– Sr. Fraser – Coloquei a mão no braço do sujeito para chamar a atenção dele. – Você parece amar seu filho.

– Ele é sangue do meu sangue – disse Thomas com uma ferocidade discreta. – Dei tudo a ele.

– Mas não a sua aceitação. – Por que eu deveria medir as palavras com alguém que estabeleceu novos recordes dentre os cabeça-dura? Graças a Deus meu pai e eu tínhamos desenvolvido algum tipo de relação pacífica ao longo dos anos. – E não sua fé na sagacidade profissional dele. Você o mina publicamente.

Se houvesse alguma chance de o velho Fraser manter em segredo a coisa da dança para meu empregador, eu certamente estava acabando com ela agora. Mas alguém precisava fazer Thomas Fraser enxergar que ele nem sempre era o mais sábio. Joe tinha me ajudado a encontrar minha confiança, minha voz. Pretendia usá-las agora para ajudá-lo, mesmo que isso significasse se impor ao seu pai austero.

– Você não sabe do que você está falando. – O sorriso dele sustentava uma gentileza aparente. Pena que o pulsar em sua têmpora me dizia que ele estava a segundos de explodir.

– Senhor, não quero ser desrespeitosa, mas me importo o suficiente com seu filho para não fazer rodeios. Quero que ele seja feliz. Se você ao menos pudesse…

– Não preciso de conselhos de uma estranha sobre meu filho – sussurrou ele, se afastando para não ser tocado por mim. Vários olhares curiosos se viraram em nossa direção.

– Não. – Balancei minha cabeça, bem calma na esperança de que aquilo o fizesse baixar a voz em um tom. – Não sou uma estranha, Sr. Fraser. Mas você vai se tornar um pária em sua própria família se não conseguir enxergar o jeito como…

– Isso é uma bobagem imensa, minha querida – disse Thomas com a condescendência fulminante que fazia dele uma força temida na cidade. Ele não precisava gritar. Sua raiva gelava o ar até as quase 50 pessoas em torno do bar ficarem num silêncio mortal.

Todas olhando.

Para mim.

Que ótimo.

Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos semicerrados.

– O que você sabe sobre o amor de um pai? Sua mãe nem sequer fala com você.

Não tinha certeza de como ele sabia isso a meu respeito – era um fato apenas parcialmente verdadeiro – mas aparentemente ele tinha fuçado um pouco. Como analista que fazia pesquisas, eu compreendia a necessidade de informação, então não lamentei a atitude dele. Foi um golpe baixo, sim. Mas o enxergava tal como era: o argumento fraco e divergente de um homem que não tinha como se sustentar em um debate lógico. Infelizmente, não tive a chance de dar o golpe derradeiro naquela batalha retórica porque Joe tinha chegado na cozinha a tempo de ouvir seu pai apelar comigo.

E Joe não parecia satisfeito. Ele veio se enfiando através do multidão curiosa e ainda dolorosamente silenciosa para ficar entre nós, cara a cara com Thomas.

– Chega, pai – soltou, com raiva. – Fique longe de Demi.

A tensão no cômodo era tão densa que era digna de cena de um de seus filmes. Eu poderia ter apreciado a ironia, se meu coração não estivesse sofrendo por Joe.

– Estou bem – assegurei-lhe, esperando que meu olhar significativo fosse capaz de comunicar a necessidade de discrição pública. – Estávamos saindo para conversar.

Fiquei revezando o olhar entre os dois, indo de um par de olhos escuros e melancólicos ao outro. Nenhum dos dois parecia inclinado a seguir meu empurrãozinho diplomático.

– Joe? – Apelei ao Fraser em quem confiava. A pessoa me dera coragem de saltar para a briga, para começar. – Confie em mim. Já resolvi isso.

E eu tinha resolvido mesmo. Que loucura era aquela? Thomas Fraser, a fera do ramo cinematográfico, havia jogado sua fúria em cima de mim e eu não tinha gaguejado nem uma vez sequer.

Na verdade, eu queria uma chance de terminar o que tinha começado com o pai de Joe. Uma oportunidade de romper aquela aparência tempestuosa com o amor profundo que eu suspeitava estar suprimida por baixo. Ele não percebia a firmeza em minha voz?

A mandíbula de Joe enrijeceu quando ele se inclinou mais perto do pai.

– Se você chegar perto dela novamente, ou ameaçar o emprego dela de qualquer forma por causa da dança…

Ele parou no meio da frase, talvez percebendo que estava prestes a me expor na frente de uma multidão extasiada. Talvez já tivesse feito isso. Eu apostava que seria a garota mais buscada no Google em Hollywood após a cena de hoje à noite.

Como ele pôde fazer isso comigo? Ele havia prometido guardar meu segredo. A traição me beliscava por dentro mesmo sabendo que o pai era capaz de despertar o pior lado de Joe. Mais ou menos como minha mãe costumava fazer comigo. Mas eu estava cansada de viver à sombra dos pais. Do dele. Dos meus. Eu estava cansada.

– Talvez devêssemos levar essa discussão para um lugar particular – insisti. Nenhum deles sequer olhou para mim. Eles estavam travados em uma espécie de luta por domínio entre pai e filho, e eu poderia muito bem ser invisível. E se eu tinha aprendido alguma coisa na semana anterior, era que nunca mais iria me permitir ser invisível. Com um pouco mais de veemência, disse: – Ou talvez eu devesse simplesmente ir embora.

Ainda assim, Joe não desviou o olhar do pai, a mandíbula contraída com tanta força que ele poderia quebrar uma obturação. Eu sabia que se pressionasse mais, ele iria se afastar, agarrar meu braço e me levar dali. Mas a coisa com o pai não acabaria.

Thomas iria comandar o estado de espírito de Joe pelo restante da noite.

Provavelmente por muito mais tempo. Por que Joe não era capaz de enxergar que estava deixando aquela rixa com o pai tomar conta da sua vida?

E não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer a respeito.

Dando meia-volta, coloquei minha bebida na mesa mais próxima e não me preocupei se estava fazendo uma saída educada ou não. Finalmente me sentia confortável sendo eu mesma, só para então perceber que eu estava mais sozinha do que nunca.


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Então gente, já passaram de ano?
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14.12.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 12


~

ASSIM… EU tinha sido dispensada.

Joe me deixou para trás sob a poluição da noite pesada, seu paletó de seda italiana como um pedido de desculpas por ele ter tirado o abrigo de seu braço de cima de mim, mesmo com o cheiro do tecido estando delicioso… tal como Joe. Ele disse que eu não precisava esperar, e a julgar pela forma como parou ao lado do Escalade, sem me apresentar, estava me excluindo das partes mais importantes de sua vida.

Duas semanas atrás, eu provavelmente teria saltitado feliz para o utilitário de Joe a fim de esperar por ele, grata por qualquer fração de seu mundo que ele quisesse compartilhar. Agora? Eu tinha um novo senso sobre meu próprio valor e não queria ficar à sombra de um sujeito de quem eu realmente gostava. Especialmente não quando a conversa entre eles começou a esquentar.

Joe gesticulava e sacudia a cabeça. As vozes se elevaram, mas não o suficiente para que eu distinguir o que estavam dizendo.

Através do para-brisa do Escalade, encontrei o olhar do Fraser mais velho, o rosto iluminado pelo azul-celeste das luzes do painel. Fiquei um pouco surpresa ao constatar que o conhecido produtor não tinha um motorista para transportá-lo pelo tráfego da cidade, mas daí Thomas Fraser II tinha a reputação de ser um homem trabalhador, um multimilionário que subiu na vida por conta própria. A imprensa adorava suas histórias no estilo do luxo ao lixo, do menino abandonado pela mãe viciada em drogas que alcançara fama e riqueza. Era puro Hollywood.

Ele deve ter me apontado para Joe, porque só aí este se virou e notou que eu ainda estava de pé ali no escuro. Era eu, ou ele parecia impaciente? Afastei este pensamento e me recusei a ficar constrangida. Eu era uma parte da vida de Joe ou não?

Mesmo que a resposta fosse não, queria saber a verdade. Eu não poderia me intitular uma mulher forte e independente, a menos que tivesse a coragem de saber em que ponto eu estava com o homem com quem estava passando algumas noites muito memoráveis. Eu consideraria isso parte da minha transformação pessoal. Mesmo que ele partisse meu coração.

Respirando fundo, me aproximei a passos largos.

– Oi. – Falei a palavra perfeitamente. Claramente. E com convicção. Mas eu meio que esperava não ter de dizer muito mais. Enfiei minha mão pela janela do Escalade, embora estivesse num ângulo estranho. – Sou C-Demi.

Estremeci na tentativa de esconder minha gagueira. As pessoas gaguejavam um pouco naturalmente quando estavam tensas. No entanto, o alívio desintegrou quando percebi que havia informado meu nome real a alguém que tinha me visto sair do Backstage em um traje de dança. E usando máscara.

Ai. Droga. O que eu tinha na cabeça ao dar àquele homem, um homem com quem Joe se desentendia constantemente, o poder de destruir minha vida? Pior, lhe forneci munição para ferir Joe através de sua relação comigo.

Joe passou um braço em volta da minha cintura enquanto eu me aprumava para apertar a mão de seu pai.

– É um prazer conhecê-la, Demi. Sou Thomas. – disse ele com a menor ênfase na segunda sílaba, uma pitada de espanhol em seu discurso. Eu tinha certeza de que um de seus pais era espanhol, mas não conseguia lembrar qual. O aperto de mão foi forte e seguro quando ele pegou minha mão, e se achava estranho o fato de eu estar usando máscara, não mencionou nada.

Ele sorriu para mim, balançando a cabeça ligeiramente. Eu o teria considerado bem encantador se não fosse a postura frágil de Joe ao meu lado. Dava para sentir a fúria silenciosa na tensão dos músculos do filho.

– Meu pai já estava de saída – explicou Joe, mantendo o olhar nivelado ao do pai. – Já terminamos aqui.

– Pense no que eu disse – falou Thomas, a mandíbula rígida. Sua expressão era o oposto do calor que ele havia demonstrado para comigo. A metamorfose aconteceu outra vez, fazendo o caminho reverso, quando o homem mais velho se voltou para mim novamente. – Talvez veja você amanhã à noite, Demi. Joe vai estar em um baile de gala. Tenho certeza de que você iria gostar.

Não tive tempo para responder. Ele acenou de modo garboso antes de se recostar no banco e arrancar com o carro. Felizmente, Joe notou as intenções de seu pai e me puxou longe o suficiente para não haver risco de o Escalade passar em cima dos meus dedos.

– Ele parece tão interessante quanto é retratado na imprensa – falei diplomaticamente, não muito certa sobre o que mais dizer com Joe em silêncio ao meu lado.

Meu palpite inicial era de que ele estava com raiva.

Irritado porque o pai havia me convidado para um evento no qual Joe não havia planejado me incluir? Ou ele estava simplesmente sentindo-se frustrado por ter um pai autoritário? Tentei não levar para o lado pessoal o fato de ter ficado sabendo sobre o baile pelos lábios do pai dele.

Mas mais uma vez, tive a impressão de que Joe estava tentando me manter afastada de sua vida pública.

– Ele é interessante – murmurou Joe, me guiando para o utilitário. – Vou conceder essa honra a ele.

Um manobrista veio correndo para abrir a porta do carro para mim. Coloquei um pé no apoio e me impulsionei para sentar no banco do carona, meu coração cheio de emoções misturadas. Ainda estava feliz por Joe ter ido ao Backstage esta noite. E tão grata por ele ter me ajudado a escapar daquele encontro estranho com minhas colegas da Sphere. No entanto, agora me perguntava se ele estava tentando me esconder de propósito das pessoas que importavam em sua vida. Seu pai era seu rival, e ainda assim Thomas Fraser sabia mais sobre o paradeiro de Joe do que eu.

Alguns minutos depois, seguíamos para oeste pela Santa Monica Boulevard, o tráfego ficando mais tranquilo conforme deixávamos o centro da cidade para trás. Tirei minha máscara e a peruca loira, cansada de tentar esconder quem eu era atrás de uma fachada que não se encaixava. Minha franja se soltou do grampo que a segurava.

– Posso levá-la para sua casa? – perguntou Joe, abaixando a janela para deixar o ar da noite úmida entrar.

– Seria bom. – Eu mal podia esperar para tirar o traje de dança e deixar minha vida dupla para trás. De agora em diante, não usaria minha Natalie Night interior para me amparar. Minha confiança precisava vir de dentro.

– Desculpe por não ter apresentado você ao meu pai imediatamente. – Ele encontrou a autoestrada e acelerou. Não precisei me virar para ver do que ele estava fugindo. Obviamente, Thomas havia lhe abastecido com alguns demônios poderosos.

– Está tudo bem.

– Não está. – Ele segurou minha mão. Apertou-a. – Mas eu tinha a sensação de que nossa conversa ia ser desagradável. Além disso, pensei que você ia preferir fazer uma fuga discreta. Sei que está preocupada com a possibilidade de as pessoas em seu escritório descobrirem sobre sua dança, e achei que quanto menos pessoas que você encontrar, melhor.

– Eu sei. – Assenti, reconhecendo a sabedoria daquela cautela. – Mas fui tão pega de surpresa que esqueci que ainda estava usando a máscara.

– Sério? – Joe olhou para mim, a sobrancelha direita arqueando, surpresa. O canto da boca se ergueu levemente.

Eu gostava de pensar que eu era capaz de me esgueirar através da armadura dele.

– Sério! – Dei um tapa na própria testa para dar enfatizar. – Uma lerdeza total da minha parte. Fiquei ali, me sentindo ofendida quando você disse que eu poderia ir para o carro, sem nem cogitar que você tinha um bom motivo para não me apresentar, mas aí já estava no meio da frase com seu pai, toda vestida de plumas.

Ele ficou em silêncio por um longo instante enquanto ultrapassávamos limusines e conversíveis, motos e vans de entrega.

– Nosso relacionamento é terrivelmente estranho para você? – soltei, agora tensa.

– Não. – Balançando a cabeça, ele pareceu abandonar quaisquer preocupações que tivesse. Soltou minha mão para acariciar meu braço. Mesmo através do tecido de seda do paletó, o toque dele me dava arrepios. – Só espero que isso não fique desconfortável para você. Meu pai tem bons contatos. Na verdade, ele só sabia onde eu estava hoje graças à sua vasta rede de amigos ansiosos para lhe fazer favores.

– Não entendi.

– Um dos seguranças no Backstage era segurança particular do meu pai. Aparentemente, o cara ligou para meu pai quando me viu entrar hoje à noite. – Joe pôs as duas mãos no volante quando o tráfego aumentou.

Perdi a sensação de seu toque. E agora não queria pensar em como o pai bem relacionado de Joe poderia deixar as coisas desagradáveis para mim. Eu estava muito incensada pela forma como ele tratara o filho.

– Por que ele simplesmente não telefonou, se queria falar com você?

– Por acaso ele teve um jantar nos arredores do clube, por isso não foi uma grande viagem para ele. Mas fez o esforço de aparecer no clube porque não tenho atendido os telefonemas dele – admitiu Joe. – Encontrei-me com ele na semana passada e senti como se tivesse chegado… a um impasse.

Franzi a testa.

– Você se importa se eu perguntar o que ele queria?

Joe demorou um tempo para responder, pegando a estrada interestadual 405.

– Ele quer que eu volte à Fraser Films para supervisionar a produção de seu novo filme.

– Depois do enorme desentendimento público que vocês tiveram? – Eu tinha lido o suficiente sobre o racha para entender algumas das ramificações, pelo menos do ponto de vista empresarial. Incluí algumas de minhas preocupações em meu relatório para Selena. E agora precisava levá-las em consideração pelo bem-estar financeiro de Joe.

– Difícil de acreditar, não é? – Joe sacudiu a cabeça, uma mecha de cabelo escuro caindo numa sobrancelha e lhe conferindo um ar de malvadeza que faria qualquer mulher suspirar. – Mas é assim que ele trabalha.

– É o filme sobre prisioneiros de guerra que você queria fazer desde o início?

– Claro que não. É o filme dele sobre prisioneiros de guerra, cujos direitos ele acabou de adquirir. E ele quer que eu o desenvolva com atores rentáveis e uma sensibilidade mais americana… – Joe balançou a cabeça. – Poderia ser um bom filme. Mas não é o meu filme. E estou pronto para começar a colocar minha marca no meu trabalho.

– Eu também – falei com uma veemência surpreendente. – Quer dizer, quero isso na minha vida profissional. Colocar minha marca no meu trabalho. – Fiquei envergonhada por ter me intrometido com meus próprios problemas enquanto ele estava falando sobre os dele pela primeira vez. – Desculpe por mudar de assunto desse jeito. Só me identifico totalmente com a necessidade de reivindicar algum reconhecimento.

– Obrigado. – Ele acelerou ao nos aproximamos de Mar Vista, e aquilo significava alguma coisa, porque ele não perdeu tempo ao deixar o centro da cidade. – Significa muito para mim que você entenda de onde venho. Houve pessoas na minha vida antes que realmente defendiam meu pai, sempre supondo que ele tinha a melhor das intenções e pensando que se eu cedesse poderia ter tido o mundo aos meus pés agora.

Fiquei em dúvida sobre como responder, porque desconfiava que o velho Thomas Fraser também tinha as melhores intenções para com o filho.

– Quando você diz “pessoas”, se refere a antigas namoradas?

Ele riu, um som quente que roçou minha pele como uma carícia.

– Elas também. Mas houve caras que eu achava serem amigos que realmente ficaram do lado do meu pai. Muitas pessoas são atraídas pela imagem dele.

– Estou do seu lado – assegurei a ele. – E não só porque você está me pagando. – Parei de repente, ouvindo as palavras na minha cabeça. – Isso soou meio esquisito.

– Eu entendi o que você quis dizer. – A voz de Joe suavizou, os ombros relaxando um pouco pela primeira vez desde que avistara o Escalade branco em frente ao Backstage. – Não devia ter colocado você nessa posição tão esquisita… Insistir em trabalhar com você quando já tínhamos uma relação pessoal.

– Tem sido um bom empurrãozinho para mim, no entanto. – Eu não ia ter problemas em separar o trabalho da vida pessoal. Pelo menos tinha esperanças de que não. – Se você não tivesse insistido em trabalhar comigo, ainda estaria presa na rotina. – Ao nos aproximarmos do meu bairro, indiquei minha rua. – Moro na Ocean View.

– Eu sei. – Ele desacelerou quando se aproximou da minha casa lugar. – Fiz uma pesquisa no Google a seu respeito quando estava tentando solucionar o mistério de Natalie/Demi.

– Sério? – Um arrepio percorreu meu corpo perante ideia de ele me procurar. Pensando em mim.

– Sim. E procurei ainda mais, uma vez que você começou a lidar com minhas finanças.

– Bem, isso é simplesmente esperteza profissional – assegurei a ele, embora estivesse um pouco tensa agora. – E o que exatamente você descobriu?

Ele ligou o pisca-alerta esquerdo.

– Sei que você mora aqui. – Ele apontou minha casa corretamente. – E sei que seu pai cedeu a casa para você no seu vigésimo primeiro aniversário.

– Bem. Tecnicamente, ele me vendeu por um preço módico. – Sem nenhum interesse. Eu nunca poderia ter comprado a casa de outra forma.

– É um lugar ótimo. – Joe desligou o motor antes de vir para meu lado para abrir a porta.

Olhei para a rua a fim de me certificar de que ninguém estava por perto. O casaco de Joe cobria a maior parte de mim, mas preferiria não ser vista entrando em casa com o traje de dança e o paletó de um homem.

– Meu pai é negociante de antiguidades e minha mãe, decoradora de interiores. Ela o ajudou com esta casa quando ainda estavam juntos. – Durante todos os três anos.

Mas tentei dizer a mim que a casa tinha a minha cara, uma das poucas boas colaborações deles.

Joguei-me nos braços de Joe, que estavam à minha espera, meu corpo se aninhando no dele enquanto ele me abaixava ao chão lentamente. Vagarosamente. Seus olhos percorreram meu corpo e o desejo que havia se acumulado no clube queimava outra vez.

Eu sentia tudo formigar só de pensar em estar com ele novamente.

– Posso não ser capaz de apreciar plenamente a estética da sua casa esta noite.

– Não? – Mordisquei o lábio inferior dele, e tinha um gosto tão bom que precisei fechar os olhos para saboreá-lo.

As mãos dele se enfiaram sob o paletó para alisar meus quadris. Quente. Possessivo.

– Então só vou mostrar uma das melhores características da casa e guardar o restante para outra hora.

– Você é a melhor característica. – Ele sussurrou as palavras calorosamente ao longo do meu pescoço, e mesmo que não tivesse me beijado ainda, o prazer fumegava em minhas veias.

– Venha – insisti, pegando sua mão para levá-lo à parte de trás da casa, a fim de evitar a luz da varanda e do pequeno poste no canto mais distante do meu jardim. – Vamos para um lugar mais privado.

Eu ainda estava com um pouco de medo da possibilidade de ser o deleite secreto de Joe? A mulher que ele não iria dividir com seus amigos e família? Definitivamente. Mas isso não iria me impedir de levar aquela atração louca e cálida o mais longe possível.

AQUELA MULHER o deixara de pernas para o ar.

Sexy para diabo num minuto. Docemente vulnerável no outro. E por baixo de tudo, inteligente e engraçada. Demi o atraía em todos os sentidos.

Joe a seguiu por um caminho pavimentado com lajes, até que avistou um brilho azul no quintal. Eles contornaram a casa, desviando de árvores de murtas de crepe, para encontrar um pátio com uma banheira de hidromassagem e uma piscina entre alas da construção em formato de L. Cercas de quase três metros bloqueavam os vizinhos, criando um oásis particular. A água da banheira de hidromassagem fluía sobre uma borda para a piscina, o som de água escorrendo calmante como qualquer fonte. As flores de lótus flutuavam na superfície da piscina, o brilho bruxuleante fazendo parecer que funcionavam com velas à pilha. Provavelmente tinham um temporizador ou sensor de presença.

– Muito bom. – Ele passou a mão por um poste de madeira lisa que servia de apoio à varanda no segundo andar, a qual abrangia todo a extensão da casa.

Palmeiras-anãs em vasos pontilhavam as pedras lisas ao redor da piscina, e uma tenda branca transparente escondia o que Joe imaginava ser um chuveiro ao ar livre.

– Não é exatamente luxuosa como a da família Fraser, mas é um lar. – Ela fez uma pausa perto de uma espreguiçadeira de bambu comprida, entrelaçando o braço ao dele, o perfume fresco de Demi provocando o nariz de Joe.

– O luxo não precisa ser exagerado. Isso é lindo. – O pai de Joe havia vivenciado tanta pobreza quando criança, que aparentemente nunca teria bens o suficiente para compensar isso. A casa de Demi, menor do que qualquer uma das residências de seus pais, provavelmente tinha sido construída na década de 1950 e era dotada do tipo de charme que a maioria das casas maiores nunca poderia alcançar.

Daí, novamente, talvez o apelo da casa tivesse mais a ver com Demi em si. Joe gostava de tudo que a envolvia. Demais.

– Quer entrar? – perguntou ela baixinho, um dedo adentrando a manga da camisa dele para roçar o pulso.

– Pergunta capciosa. – Ele a girou para encará-lo, necessitando se esquecer de todo o restante. Esquecer-se de tudo, exceto dela.

– Na casa? – Ela sorriu, flertando com ele enquanto seu dedo encontrava o botão do punho na manga e o deslizava pela casinha.

O polegar de Demi permanecia no pulso de Joe, um simples toque erótico só porque era Demi. Ela não precisava de roupas e plumagens para enlouquecê-lo. Ela poderia deixá-lo de joelhos com apenas um olhar.

– Depende. – Ele refletia sobre as opções. Pronto para estar com ela em qualquer lugar. Querendo que fosse a decisão certa para ela.

Demi enfiou a mão na outra manga e a desabotoou também.

– Estou esperando… – sussurrou Demi contra o pescoço dele, os lábios roçando com leve suavidade na garganta.

Droga. Ela era simplesmente… Droga.

Joe não conseguia elaborar nenhum pensamento, quanto menos palavras, então tirou o casaco dos ombros dela, atirando a seda para o lado. O traje de dança minúsculo brilhava à luz da lua, as lantejoulas criando pontinhos de fogo sobre a pele dela.

– Você vai ficar com muito frio? – perguntou ele, dando um passo para trás a fim de abrir um botão da própria camisa, e em seguida tirando a peça por cima cabeça.

Os olhos cinzentos rastreavam os movimentos dele, o olhar mergulhando lá embaixo antes de se erguer de volta ao rosto dele.

Demi mordeu o lábio enquanto balançava a cabeça respondendo que não.

– Perfeito. – Ele assentiu com satisfação e estendeu a mão para ela, abaixando as alças do corpete bordado.

A pele de Demi era perfumada e macia, e ela entrelaçou os braços ao redor do pescoço de Joe enquanto o restante do traje escorregava. O tecido ficou ao redor do peito, descansando na curva dos seios empinados, tesos.

A pele dela reluzia, pálida, uma mecha de cabelo escuro retorcida ao longo da clavícula, repousando no ligeiro decote. Joe pôs uma das mãos nas costas dela e puxou os fios escuros com a outra, acariciando aquela maciez sedosa entre o polegar e o indicador. Demi suspirou de prazer, a cabeça inclinada para trás. Joe sentia-se o desgraçado mais afortunado por poder vê-la daquela forma, desinibida e sensual, relaxada e com os dedos enganchando no cós da calça dele.

Joe a beijou delicadamente. Os lábios tinham gosto de gloss de canela, e ele se demorou lambendo-os, sugando o lábio inferior carnudo para saborear cada pedacinho. Demi cravou os dedos no couro cabeludo dele, se emaranhando no cabelo antes de baixar as mãos até o pescoço, até os ombros nus.

Os quadris de Demi encontraram os de Joe, e ela arqueou ao encontro dele, rebolando sedutoramente até ele puxá-la para si. Os seios dela se achataram ao encontro do peito dele, o peso suave dos montes volumosos se acomodando a ele enquanto Joe baixava a roupa dela até os quadris. Demi estava nua sob as lantejoulas, e os mamilos estavam rijos colados ao corpo dele.

O ar noturno estava quente ali, a brisa diminuta por causa da cerca alta. Ainda assim, Joe os incitou para mais perto da banheira de hidromassagem, desejando certificar-se de que Demi não ficaria com frio. Além disso, eles estavam em brasa, a pele dele tão quente que Joe provavelmente faria o restante da roupa dela derreter em um minuto.

Ela abriu a fivela do cinto enquanto ele a guiava de costas até a água fumegante. Tiraram os sapatos perto de uma mesa no pátio, e Joe jogou o cinto perto da porta de tela da casa. Enquanto ele desabotoava as calças e tirava um preservativo da carteira, Demi pegava um controle remoto em um banco de pedra e apertava os botões para diminuir as luzes exteriores. A luz do spa foi acesa, e a da piscina mudou para um tom intenso de vermelho sob a superfície, as flores de lótus flutuantes ainda piscando acima. Mas os olhos de Joe já estavam adaptados à penumbra, e ele conseguia enxergá-la muito bem.

Mais do que bem.

Demi não esperou por ele para levá-la para a água. Assim que largou o controle remoto, ela beijou o peito de Joe. Aí foi abaixando-se. Joe tentou levá-la para a banheira, mas ela balançou a cabeça e seguiu para mais abaixo das costelas dele, ficando de joelhos.

Joe queria esperar. Aquecê-la primeiro e lhe dar prazer exaustivamente, mas Demi enganchou os dedos na cueca boxer e a tirou, e aí ele se perdeu. Demi pôs a boca em torno dele, e Joe não pôde fazer nada senão aproveitar a sensação da língua macia, sedosa, deslizando em torno na ponta, pelo comprimento.

Ele sentiu um rastro de fogo pela espinha em reação, as mãos se emaranhando no cabelo dela. Para detê-la ou mantê-la ali, ele não tinha certeza. Ele inspirou de maneira arfante e olhou para a imagem que Demi criava, seu corpo encolhido ao mesmo tempo que as mãos deslizavam nos quadris e flancos dele. Deus do céu.

A visão dos cílios longos cerrados tocando o rosto dela, o rosto como uma imagem do perfeito contentamento ou talvez até mesmo do prazer, o deixou no limite. Ele soltou o cabelo dela e lhe agarrou os ombros, incentivando-a a se levantar em meio a protestos suaves.

Só de olhar para os lábios reluzentes de Demi, Joe ficava tão excitado que precisava se obrigar a pensar em algo, em qualquer outra coisa.

Com mãos trêmulas, tentou se concentrar em remover o restante do traje dela. Meio sem jeito, deslizou a mão por baixo da seda e das lantejoulas para libertar os quadris. Colocando um dedo na tira da calcinha fio-dental de cor clara, a removeu também, em um movimento lento.

Só quando Demi estava ali, espetacularmente nua, Joe a levou para a banheira de hidromassagem. Uma plataforma ampla formava o primeiro degrau raso, e ele a puxou para lá. O nível da água era perfeito para o que Joe tinha em mente, mas primeiro ele queria deixar Demi completamente úmida e muito, muito excitada.

– Venha – insistiu ele, guiando-a para baixo em águas mais profundas.

Ela estendeu a mão para a borda da banheira e apertou um botão embutido. Bolhas começaram a retumbar na superfície e, em seguida, se romperam, espirrando água morna e ao mesmo tempo escondendo os corpos de ambos com espuma branca.

O sorriso repentino de Demi fez Joe querer beijá-la. Prová-la. Retribuir o favor sensual que ela lhe oferecera. Talvez, assim que a provasse, já estaria recuperado do que Demi fizera para ele. Ele ainda estava no ponto de chegar ao ápice e ainda nem a havia penetrado.

– Gosta disso? – perguntou, trilhando os lábios sinuosos dela com o dedo.

– Adoro isso – respondeu ela, a voz firme. Sincera.

Ele a beijou com força, desejando selar o momento na memória para sempre. Marcá-la para ele.

Ele lambeu e provou, explorando todos os cantos e nuances da boca de Demi até ela se enroscar nele sob a água, as pernas dela travando os quadris dele. Joe a carregou naquela posição, as mãos firmando os quadris, de volta à plataforma da piscina no raso.

Demi não protestou quando ele abandonou sua boca para beijar até o vão suave na base do pescoço. Para desenhar um círculo com a língua em torno de cada seio e tomar os mamilos rijos na boca. Ela empinou em direção a ele, mas Joe prendeu os quadris dela com as mãos, mantendo-a em águas rasas.

Aí mordiscou e provou o corpo escorregadio de Demi, descendo, fazendo breves pausas para atiçar a pequena poça de água no umbigo. Parando ainda por mais tempo para lamber a coxa e depois pousar entre as pernas dela, exatamente onde ele queria estar. Joe mudou de posição para se ajoelhar no degrau abaixo da plataforma, a altura perfeita para colocar as coxas de Demi em seus ombros.

O cheiro dela o deixava louco, e ele a sorveu, lambendo até a fenda do sexo de Demi. Ela se abriu para ele, úmida e pronta, mas ele se demorou, pincelando as dobras volumosas do núcleo feminino até ela se contorcer e gemer. Na primeira vez que Demi chegou à beira do ápice, Joe recuou e aumentou a tensão mais uma vez, desejando levá-la mais alto do que ela jamais estivera.

Na segunda vez, ele não conseguiu se conter, e quando Demi curvou as costas na borda, ele continuou com mais intensidade, lhe dando tudo de que ela necessitava enquanto cavalgava em espasmos exuberantes.

Joe nunca tinha visto nada mais bonito do que Demi até então. Sua cabeça estava girando, as emoções cruas para diabo quando ele vestiu o preservativo e a penetrou com uma investida suave. Ele a ergueu, para que ela pudesse montar nele, o corpo tão flexível que ele poderia fazer qualquer coisa com ela. Joe queria fazer tudo.

Mas, por enquanto, ele apenas lhe ancorava a cintura com o braço e a penetrava mais fundo. Demi cravou as unhas nos ombros dele, os gemidos como uma música doce e erótica aos ouvidos dele, até que ela chegou ao clímax de novo, e ele também.

A libertação de Joe pareceu eterna, uma onda tépida após outra pulsando através dele e para dentro dela. Demi gritou o nome dele, desabando contra o peito forte, e o corpo dele ainda fervia com as consequências daquele orgasmo. Joe a abraçou, dando beijos em seu cabelo úmido enquanto recuperavam o fôlego.

Quando foi capaz de se mexer, Joe levou ambos para águas mais profundas. Ele ajudou Demi a sentar-se de lado em seu colo enquanto ele apoiava as costas contra a borda da banheira. O motor do spa desligou, deixando a água tranquila e fumegante ao redor.

Ela aninhou a bochecha no ombro dele, os olhos se fechando. Joe olhou para as estrelas, sentindo-se sortudo para diabo por abraçá-la. Pena que as emoções irregulares dentro dele diziam que não podia se dar ao luxo de arriscar muito mais tempo nos braços de Demi.

Algo havia mudado entre eles esta noite. Um novo entendimento. Um olhar mais profundo para dentro um do outro. Pelo menos ele achava que a compreendia melhor, e tinha certeza absoluta de que ela havia começado a decifrá-lo. E isso o fez parar e pensar.

Demi era uma das mulheres mais quentes e mais genuínas que já conhecera. Ela não merecia o drama da família Fraser, o escândalo iminente que era sua vida cotidiana. E seu pai já sabia quem ela era. Provavelmente já suspeitava de alguma coisa sobre o relacionamento deles.

Será que seu pai levaria o nome dela à imprensa? Revelaria os segredos dela ao seu local de trabalho conservador?

– Meus olhos estão fechados – disse Demi a ele de repente, sem olhar para cima. – Mas posso ouvir as engrenagens girando na sua cabeça.

A risada grave dele foi tão dolorosa quanto divertida. Como diabos ela sabia disso?

– Ainda estou me recuperando. – Joe se inclinou para apoiar o rosto no topo da cabeça de Demi.

– Mentiroso – acusou ela com delicadeza. – Sinto a tensão em você. – A mão dela deslizou para o quadril dele. – E não do tipo bom.

Por mais extenuado que estivesse, o corpo respondeu à insinuação dela. Joe trocaria tudo para esquecer as pressões de seu mundo profissional e se perder nela novamente.

– Não gostei do fato de meu pai ter nos visto juntos. Vai chamar a atenção do público para você.

– Você não pode continuar me escondendo. – Demi levantou o queixo e ergueu a mão para a bochecha dele.

– Eu não estou escondendo você. – Embora, mesmo ao dizer tais palavras, compreendesse por que ela achava aquilo. – Eu estou apenas… tentando proteger você.

– Tudo bem – concordou ela, mas pela velocidade com que concordou, Joe teve a impressão de que ela não acreditava nele. – E se eu disser que não preciso de proteção?

Ele se lembrou da fuga apressada de Demi da sala de reuniões quando a conheceu.

– Minha vida é uma casa de vidro. – Sempre há alguém espiando. Julgando.

– Se eu não conseguir cuidar de mim, então não pertenço à sua vida, para começo de conversa. – Ela traçou um círculo molhado com o polegar no rosto dele. – Certo?

– Não deveria ser assim…

– Mas é. Você é uma figura pública. Nunca vai ter uma vida pessoal totalmente privada.

Admitir isso o irritava, então ele não disse nada.

– Você sabe que estou certa. – Ela pôs a mão de volta na água e se afastou para olhá-lo diretamente nos olhos. – Então me dê um momento tipo “ou vai ou racha” para provar meu valor.

– O quê? – Ele tinha perdido parte da conversa? Joe balançou a cabeça, sem saber do que Demi estava falando. – Você não precisa prov…

– Leve-me para o baile de gala amanhã à noite.

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Hey gente, consegui finalmente entrar em um pc. Vou agendar uns capítulos para vocês.
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