15.12.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 13


~

– AFASTE-SE DO espelho.

Natalie apontou para mim com uma de suas muletas, sua ordem não deixando espaço para discussão. Encontrei o olhar dela no espelho com moldura de madeira do meu hall de entrada, onde eu estava mexendo no meu cabelo pelos últimos cinco minutos. Ela olhou para mim ameaçadoramente antes de pôr uma taça de vinho branco no meu campo de visão. Ela havia servido a bebida para mim uma hora atrás, e eu não tinha bebido nenhuma gota, embora ela insistisse que eu precisava para relaxar.

Conhecendo um comando quando ouvia um, e respeitando que Natalie era bastante sábia, porque até hoje ela não havia me conduzido de maneira errada, finalmente bebi o vinho e me deixei cair em uma poltrona esquisita da década de 1970 que meu pai tinha enviado no meu último aniversário. Ele nunca participara muito da minha vida, mas vinha tentando fazer as pazes enviando vez ou outra presentes oriundos de seus empreendimentos.

– Estou nervosa – expliquei, me concentrando no relógio agora que o espelho estava fora de questão. Começamos minha produção no meu quarto, mas como o tempo estava correndo até a chegada de Joe, fiquei muito tensa para permanecer lá em cima, olhando pela janela a cada minuto, por isso descemos.

Joe iria chegar a qualquer momento para me levar ao baile do qual eu queria tanto participar. Só que desde que eu o convencera a me convidar, fiquei me perguntando por que tinha insistido naquela prova de fogo louca, uma vez que tinha acabado de começar a namorar. Uma vez que tinha acabado de começar a me sentir mais confiante.

– Não fique tão tensa – disse Natalie, apoiando o tornozelo na escada. – Você queria ir para esse baile. Você pode muito bem aproveitar a festa chique e alguns bons acepipes.

Natalie tinha vindo no final da tarde, depois de eu ter feito uma ligação de emergência pedindo conselhos sobre roupas. Ela chegou com três vestidos seus, me ajudou a escolher uma peça azul-marinho elegante com um corpete sem alças e saia curta rodada, daí supervisionou minha maquiagem. Em suma, Natalie fora incrível. Para retribuir, tentei lhe dar todo meu cachê do meu desempenho na noite anterior, mas ela recusara firmemente. Consegui enfiar metade da quantidade em sua bolsa quando ela não estava olhando.

Se tentasse devolver, teria de lidar com meu lado teimoso.

Bebi o vinho, fechando os olhos para permitir que o sauvignon blanc frio fizesse sua mágica para eu relaxar.

– Eu só queria entender por que tive que apressar as coisas para isso.

– Você não está apressando nada. Está namorando esse cara, então por que você não pode começar a frequentar eventos com ele? – Natalie sentou-se com cuidado em um degrau de carvalho polido. – Não é como se você estivesse indo morar com ele.

– Mas disse a ele que seria um momento “ou vai ou racha” para nosso relacionamento. Que precisávamos saber se me encaixo na vida dele ou não.

Natalie franziu a testa.

– Uau. Que belo jeito de criar pressão em cima de você mesma.

Passei a mão nas contas azuis intricadas bordadas um pouco acima do meu joelho.

– Não sei o que deu em mim. Em um minuto estávamos nos divertindo na hidromassagem… – nunca mais iria usar aquela banheira de novo sem me lembrar do que fizemos lá – … e no outro estava despejando coisas como “se eu não puder lidar com os olhos do público, não pertenço à sua vida”.

Juntamente à minha nova confiança, eu parecia ter desenvolvido um talento especial para a auto sabotagem. Um passo à frente, dois passos para trás.

– Você realmente gosta desse tal Tom, não é? – Ela mostrou a língua para mim, a fim de me lembrar de que não tinha me perdoado por esconder a identidade de Joe, para começo de conversa.

– Eu… – Ai, Deus. Sabia exatamente o que sentia por ele, mas não estava pronta para admitir isso. – Eu realmente gosto de Joe.

Minha voz soou engraçada, grave e rouca, e desconfiei que Natalie compreendera o que eu não estava dizendo. Eu amava Joe. Talvez fosse o fato de amá-lo que estivesse me deixando tão aventureira e ousada em todos os aspectos da minha vida.

Sábio ou não, o amor faz você querer correr riscos.

– Então simplesmente tente se divertir esta noite. – Natalie colocou a taça de vinho em uma mesa no corredor e mancou até mim com a ajuda de uma muleta. – Só porque você está pensando nisso como uma noite “ou vai ou racha”, não significa que ele esteja.

Ela me deu um abraço, enquanto eu tentava me recompor.

– Tudo bem – concordei, exatamente quando a campainha tocou.

O pânico brotou dentro de mim quando Natalie e eu trocamos um olhar.

Joe tinha chegado no horário certinho. Acho que eu não podia adiar mais meu encontro com o destino.

HOLLYWOOD COM certeza sabia dar festas.

Duas horas depois, eu estava circulando ao redor de uma piscina em Devoe House, uma casa em Los Angeles alugada para a festa de lançamento de um novo filme chamado Maybe, Baby, que parecia ser feito para adolescentes e falava sobre o excesso dos jovens ricos.

Ou talvez eu estivesse confundindo os limites da arte e da realidade. Porque enquanto observava ao redor da piscina com deque elegante de uma casa que aparentemente pertencera a Marilyn Monroe, eu via juventude, riqueza e beleza em todos os lugares para os quais olhava. Aquele mundo era a definição de privilégio e excesso, até os acepipes de lagosta que vi as pessoas mordiscarem e jogarem fora.

Será que o estômago delas era muito pequeno para mais do que duas mordidas? Ou será que jogar iguarias pela metade no lixo era uma espécie de símbolo de status?

– Como você está? – Joe apareceu com uma bebida para mim.

Havia pedido água com gás e com limão. Não podia me dar ao luxo de beber álcool, já que precisava ficar atenta. Até agora, tinha sorrido muito e falado pouco. Não era algo difícil de fazer quando os amigos de Joe estavam mais interessados nele do que em mim. Além disso, não acho que as estrelinhas raquíticas que só comiam metade de um minúsculo acepipe de lagosta e usavam as melhores joias Harry Winston realmente me vissem como concorrência por um dos solteiros mais cobiçados da cidade.

E, sim, eu estava me sentindo um pouco na defensiva. Graças a Deus, Natalie tinha me emprestado um vestido, ou teria chegado usando um dos meus ternos de escritório. Sabia que nem todas as festas de lançamento eram chiques assim, mas os produtores de Maybe, Baby queriam manter o tom decadente para o filme.

Joe acariciou meu braço levemente.

– Ei? Você ainda está aqui comigo?

– Hã? É claro. – Quase gaguejei, droga. Ele me perguntou alguma coisa, e você acha que eu conseguia lembrar o que era?

– Você está bem?

Ah, sim. Não era como se ele tivesse me pedido um alucinógeno. Eu realmente precisava fazer um esforço para controlar minhas emoções.

– Ótimo. As coisas estão muito bem – respondi com um tom entusiasmado demais. – Quer dizer, obrigada por me trazer aqui.

Joe deslizou um braço em volta de mim e nos levou para o parapeito com uma um vista deslumbrante do centro de Los Angeles piscando a distância. Ali, tínhamos um pouco mais de privacidade da multidão e um pouco de sossego, longe do DJ, que tinha montado sua mesa de mixagem em um pátio suspenso perto da casa.

Joe estava lindo de smoking. Seu belo visual clássico e músculos esbeltos pareciam à vontade com o black-tie. Abotoaduras de prata cintilavam à luz das tochas, e ele parecia tão confortável, como se estivesse vestindo um par de jeans.

– Obrigado por ter vindo comigo. – Joe levou minha mão aos lábios e beijou os nós dos meus dedinhos, do jeito que você veria Cary Grant fazer em um filme antigo.

Derreti por dentro, meu desfrute por aquele homem afastando minhas preocupações por ora.

– Mas eu quis vir – lembrei-lhe, me espremendo no parapeito quando um garçom passou roçando em mim com uma bandeja de bebidas. – Provavelmente pressionei demais para ser convidada. Não queria pressionar você para me apresentar ao seu universo profissional.

– Estou muito feliz por você estar comigo – respondeu ele simplesmente. – Se tivesse vindo sozinho, teria passeado e ido embora em 45 minutos. Ter você ao meu lado me faz querer ficar para apreciar a vista.

Seus olhos estavam em mim enquanto ele falava, e meu coração apertou no peito. Perguntava-me por quanto tempo mais seria capaz de manter um bloqueio em meus sentimentos de ternura por ele. Mesmo agora, queria deixar escapar que o amava, jogar meus braços em volta do pescoço dele e esperar o melhor.

– Então este é o seu mundo. – Ergui minha taça de cristal em direção à Sunset Strip a um quilômetro e meio abaixo de nós. – É lindo.

Na verdade, agora que conhecia as posses daquele homem também pelo lado avesso, percebia que ele estava rodeado pela beleza em todos os lugares por que passava, em vários continentes. Sua vida era de luxo e sofisticação. Eu tinha visto isso no papel, mas não sentira isso em meu coração até vir aqui hoje. Talvez as mulheres ornadas por diamantes nesta festa estivessem certas em não me considerar concorrência real para Joe. Mesmo estando lado a lado, nossas vidas nunca pareceram mais distantes.

Ele tilintou sua taça de água com gás contra a minha e se virou para mim, apoiando um cotovelo no parapeito. Ele pôs a mão em volta do meu quadril para me girar para encará-lo.

– Vou pegar sua fala de ontem à noite emprestada – disse ele, se inclinando para sussurrar ao meu ouvido: – Vejo as engrenagens girando em sua cabeça, Demi. O que você está pensando?

Antes que pudesse responder, um homem corpulento usando um terno mal-ajustado veio cambaleando, colocando sua bebida e derramando tudo no parapeito entre nós, o cheiro de álcool tão forte que me perguntei se ela poderia queimar o verniz da madeira.

– Desculpe incomodar você, Joe – começou ele, batendo no ombro de Joe e meneando vagamente a cabeça para mim num pedido de desculpas. – Realmente preciso falar com você. Tem um minuto?

Ao mesmo tempo que eu não poderia me encaixar neste mundo, havia lido o suficiente a respeito dele para reconhecer um dos cineastas mais respeitados da nossa época, Michael Diereda, um homem que não precisava usar traje de gala para se encaixar naquela multidão. Se Joe ia abrir seu estúdio um dia, devia fazer contatos com sujeitos como aquele.

– Claro – falei, mesmo quando Joe começou a dizer que agora não era um bom momento. – Eu estava prestes a pegar mais bebida – insisti, lançando a Joe um olhar cheio de significado.

Eu não estava brincando sobre meu compromisso com a empresa dele. O que havia acontecido pessoalmente entre nós não importava, eu iria torcer por Joe profissionalmente. Mesmo que a ideia de perdê-lo apertasse dolorosamente meu coração.

Trilhando meu caminho através de uma multidão que tinha começado a inflar assim que o DJ começara a tocar, entrei na casa através de um dos vários conjuntos de portas francesas abertas. O pessoal do bufê não deve ter precisado usar a cozinha opulenta na qual eu me encontrava, uma vez que estava imaculadamente limpa, um pequeno bar arrumado perto da longa ilha de granito.

– Demi Masterson? – Um vozeirão cortou o ruído da festa e me fez parar.

Virando-me, vi Thomas Fraser II com uma pequena comitiva. O pai de Joe usava um smoking e camisa de seda branca, mas sem gravata, e seu cabelo branco estava penteado para trás para a ocasião. Uma atriz deslumbrante de Hollywood com cabelo escuro bem negro e um vestido prateado minúsculo estava de braço dado com ele, de um jeito bem possessivo, enquanto vários outros homens e mulheres pareciam cercá-lo como satélites em torno de um planeta maior.

Constrangida, ajeitei meu cabelo. Na última vez que aquele homem tinha me visto, eu estava usando uma peruca loira e máscara. Como ele me reconheceu?

– Olá, Sr. Fraser. – Ofereci-lhe minha mão do jeito que eu faria em uma apresentação profissional, mas ele beijou as costas dos meus dedos em um gesto perfeitamente espelhado pelo filho.

Perguntava-me se Joe estava ciente do quão semelhantes seus maneirismos eram. Ele tinha a mesma vitalidade e carisma do pai. Talvez essas semelhanças fossem parte da razão pela qual batessem as cabeças com tanta frequência.

– Estou feliz que você tenha pedido a Joe para trazê-la aqui esta noite. – Ele sorriu e fez um gesto sutil para seus seguidores, a fim de dispersá-los. Eles se misturaram à multidão, deixando-nos a sós perto de uma fileira de janelas com vista para o pátio pontilhado com tochas e agora pelo excesso de fluxo de convidados.

– Como você me reconheceu, Sr. Fraser? – Fui direto ao ponto, querendo ter certeza de que compreendia suas motivações.

Será que ele me queria ali esta noite só para poder me chamar de mentirosa?

– Mantenho o controle sobre meu filho – disse ele, empinando o queixo com orgulho. – Ele tem estado inquieto e com raiva de mim. Fiquei preocupado com a possibilidade de ele tomar uma decisão profissional precipitada, da qual pudesse se arrepender, só porque estava chateado. Então tenho monitorado suas negociações mais recentes. E um dos meus ex-seguranças tem ficado de olho nele, discretamente.

– Você quer dizer… – Desvencilhei-me do braço dele, não confiava nele. – Você está dizendo que colocou alguém para seguir Joe?

– Não o tempo todo. – Thomas inflou o peito em legítima defesa. – Apenas o suficiente para descobrir que ele quer abrir o próprio estúdio de cinema para concorrer comigo e que está namorando uma analista financeira conservadora que solta o cabelo à noite e vira… dançarina.

Talvez devesse ter me sentir ameaçada. Ele tinha informações que eu estava tentando manter em sigilo. Ele tinha o poder de me fazer ser demitida. Mas tudo que conseguia pensar era em Joe e no quanto isso iria machucá-lo. Será que o pai não enxergava como suas atitudes alienavam o filho? De repente, vi Joe, sentado em uma mesa à beira da piscina com o famoso diretor. Como se ciente de que eu estava olhando para ele, virou-se para a casa de repente.

As luzes estavam concentradas na cozinha, que era ligeiramente suspensa em relação ao pátio lotado, então ele deve conseguido me ver tão bem quanto eu podia vê-lo. Mesmo a distância, captei a tensão em sua linguagem corporal quando se levantou do assento.

Ele deve ter notado o pai falando comigo e provavelmente estava vindo diretamente até nós.

– Sr. Fraser – Coloquei a mão no braço do sujeito para chamar a atenção dele. – Você parece amar seu filho.

– Ele é sangue do meu sangue – disse Thomas com uma ferocidade discreta. – Dei tudo a ele.

– Mas não a sua aceitação. – Por que eu deveria medir as palavras com alguém que estabeleceu novos recordes dentre os cabeça-dura? Graças a Deus meu pai e eu tínhamos desenvolvido algum tipo de relação pacífica ao longo dos anos. – E não sua fé na sagacidade profissional dele. Você o mina publicamente.

Se houvesse alguma chance de o velho Fraser manter em segredo a coisa da dança para meu empregador, eu certamente estava acabando com ela agora. Mas alguém precisava fazer Thomas Fraser enxergar que ele nem sempre era o mais sábio. Joe tinha me ajudado a encontrar minha confiança, minha voz. Pretendia usá-las agora para ajudá-lo, mesmo que isso significasse se impor ao seu pai austero.

– Você não sabe do que você está falando. – O sorriso dele sustentava uma gentileza aparente. Pena que o pulsar em sua têmpora me dizia que ele estava a segundos de explodir.

– Senhor, não quero ser desrespeitosa, mas me importo o suficiente com seu filho para não fazer rodeios. Quero que ele seja feliz. Se você ao menos pudesse…

– Não preciso de conselhos de uma estranha sobre meu filho – sussurrou ele, se afastando para não ser tocado por mim. Vários olhares curiosos se viraram em nossa direção.

– Não. – Balancei minha cabeça, bem calma na esperança de que aquilo o fizesse baixar a voz em um tom. – Não sou uma estranha, Sr. Fraser. Mas você vai se tornar um pária em sua própria família se não conseguir enxergar o jeito como…

– Isso é uma bobagem imensa, minha querida – disse Thomas com a condescendência fulminante que fazia dele uma força temida na cidade. Ele não precisava gritar. Sua raiva gelava o ar até as quase 50 pessoas em torno do bar ficarem num silêncio mortal.

Todas olhando.

Para mim.

Que ótimo.

Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos semicerrados.

– O que você sabe sobre o amor de um pai? Sua mãe nem sequer fala com você.

Não tinha certeza de como ele sabia isso a meu respeito – era um fato apenas parcialmente verdadeiro – mas aparentemente ele tinha fuçado um pouco. Como analista que fazia pesquisas, eu compreendia a necessidade de informação, então não lamentei a atitude dele. Foi um golpe baixo, sim. Mas o enxergava tal como era: o argumento fraco e divergente de um homem que não tinha como se sustentar em um debate lógico. Infelizmente, não tive a chance de dar o golpe derradeiro naquela batalha retórica porque Joe tinha chegado na cozinha a tempo de ouvir seu pai apelar comigo.

E Joe não parecia satisfeito. Ele veio se enfiando através do multidão curiosa e ainda dolorosamente silenciosa para ficar entre nós, cara a cara com Thomas.

– Chega, pai – soltou, com raiva. – Fique longe de Demi.

A tensão no cômodo era tão densa que era digna de cena de um de seus filmes. Eu poderia ter apreciado a ironia, se meu coração não estivesse sofrendo por Joe.

– Estou bem – assegurei-lhe, esperando que meu olhar significativo fosse capaz de comunicar a necessidade de discrição pública. – Estávamos saindo para conversar.

Fiquei revezando o olhar entre os dois, indo de um par de olhos escuros e melancólicos ao outro. Nenhum dos dois parecia inclinado a seguir meu empurrãozinho diplomático.

– Joe? – Apelei ao Fraser em quem confiava. A pessoa me dera coragem de saltar para a briga, para começar. – Confie em mim. Já resolvi isso.

E eu tinha resolvido mesmo. Que loucura era aquela? Thomas Fraser, a fera do ramo cinematográfico, havia jogado sua fúria em cima de mim e eu não tinha gaguejado nem uma vez sequer.

Na verdade, eu queria uma chance de terminar o que tinha começado com o pai de Joe. Uma oportunidade de romper aquela aparência tempestuosa com o amor profundo que eu suspeitava estar suprimida por baixo. Ele não percebia a firmeza em minha voz?

A mandíbula de Joe enrijeceu quando ele se inclinou mais perto do pai.

– Se você chegar perto dela novamente, ou ameaçar o emprego dela de qualquer forma por causa da dança…

Ele parou no meio da frase, talvez percebendo que estava prestes a me expor na frente de uma multidão extasiada. Talvez já tivesse feito isso. Eu apostava que seria a garota mais buscada no Google em Hollywood após a cena de hoje à noite.

Como ele pôde fazer isso comigo? Ele havia prometido guardar meu segredo. A traição me beliscava por dentro mesmo sabendo que o pai era capaz de despertar o pior lado de Joe. Mais ou menos como minha mãe costumava fazer comigo. Mas eu estava cansada de viver à sombra dos pais. Do dele. Dos meus. Eu estava cansada.

– Talvez devêssemos levar essa discussão para um lugar particular – insisti. Nenhum deles sequer olhou para mim. Eles estavam travados em uma espécie de luta por domínio entre pai e filho, e eu poderia muito bem ser invisível. E se eu tinha aprendido alguma coisa na semana anterior, era que nunca mais iria me permitir ser invisível. Com um pouco mais de veemência, disse: – Ou talvez eu devesse simplesmente ir embora.

Ainda assim, Joe não desviou o olhar do pai, a mandíbula contraída com tanta força que ele poderia quebrar uma obturação. Eu sabia que se pressionasse mais, ele iria se afastar, agarrar meu braço e me levar dali. Mas a coisa com o pai não acabaria.

Thomas iria comandar o estado de espírito de Joe pelo restante da noite.

Provavelmente por muito mais tempo. Por que Joe não era capaz de enxergar que estava deixando aquela rixa com o pai tomar conta da sua vida?

E não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer a respeito.

Dando meia-volta, coloquei minha bebida na mesa mais próxima e não me preocupei se estava fazendo uma saída educada ou não. Finalmente me sentia confortável sendo eu mesma, só para então perceber que eu estava mais sozinha do que nunca.


------------------------
Então gente, já passaram de ano?
COMENTEM

2 comentários:

  1. Ui as coisas aqueceram e desta vez não por um bom motivo... O Joe tem que se entender com o pai dele, que pelos vistos é um grande casmurro!

    ResponderExcluir