16.12.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 14 - Último *ATUALIZADO*


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– DEMI, ESPERE. – Joe manteve seu foco nos lampejos azuis disparando e ondulando das câmeras da multidão de paparazzi em frente à mansão particular.

Demi havia saído da festa de lançamento sem olhar para ele. Mas ela precisava aguardar por ele para levá-la para casa, não? Joe sentiu um aperto no peito ao pensar que talvez ela estivesse cansada da confusa família Fraser e estivesse pronta para simplesmente cair fora. Chamar um táxi e terminar tudo com ele. Joe apressou o passo.

Algumas câmeras viraram para Demi enquanto ela passava, apressada, pela imprensa sensacionalista. Alguns flashes estouraram… atire primeiro e preencha as lacunas depois. Mal sabiam os fotógrafos que a foto dela deixando a festa provavelmente valeria mais quando a grande fofoca do evento vazasse.

Droga, mas o pai de Joe tinha estragado tudo para ele. Mais uma vez.

Com os dentes cerrados, virando para o lado, a fim de minimizar a possibilidade de haver fotos dos dois juntos. Não que ele se se importasse por causa de si. Não queria pôr o trabalho de Demi na Sphere em risco mais do que já posto. Joe estava tão furioso com Thomas que mal conseguia enxergar. Como o velho poderia tê-la envergonhado de propósito assim?

– Demi? – Ele a viu novamente perto do utilitário, que tinha sido estacionado pelos manobristas em uma longa fila de veículos caros. Felizmente Joe tinha uma chave reserva.

Ela estava com o celular na mão, os dedos correndo sobre o teclado enquanto o ignorava.

Não era um bom sinal. Será que Demi tinha noção de que ele só estava tentando protegê-la?

Joe apertou o passo, correndo pelo restante do caminho até a ligeira rampa até Demi. Pelo menos eles estariam protegidos da vista de todos os convidados. Os paparazzi não a tinham seguido e não o viram ali. Isso renderia a Joe um pouco mais de tempo.

– Ei. – Joe a alcançou assim que Demi guardou o celular de volta na bolsinha bordada com miçangas. – Sinto muito sobre o que aconteceu lá dentro.

Ela contraiu os lábios, não era bem uma carranca, mas definitivamente não era um sorriso.

– Pelo que aconteceu lá dentro? – Ela cruzou os braços, a postura rígida. – Você se refere a ter ignorado meu apelo para me deixar lidar com seu pai? Ou por anunciar ao mundo que eu danço na noite?

Confuso, ele balançou a cabeça, tentando ficar atento a qualquer um que viesse na direção deles. Ele estava cansado de ser o centro das atenções daquela noite.

– Fui para evitar que meu pai fizesse uma grande cena e envergonhasse você.

– Você não pode estar falando sério. – Ela tirou uma mecha de cabelo escuro dos olhos que o atraíram desde o primeiro dia. – Você percebe que fez o maior escândalo de todos, certo?

A culpa alfinetou quando ele foi atingido pela possibilidade de Demi estar certa. Joe sentiu a nuca se arrepiar de frustração ao pensar que ele poderia ser tão ruim quanto seu pai, a noção crescente de que ele havia estragado esmagando cada vértebra em suas costas. Ele queria sair dali, para longe da festa, para longe da longa fila de carros e de manobristas correndo para lá e para cá… para longe da própria vida.

– Em um esforço de protegê-la e desviar o interesse do meu pai em você, sim. – A cabeça de Joe latejava com a lembrança do pai sendo grosseiro com Demi. Droga, ele era esperto o bastante para não arrastar alguém tão vulnerável ao seu mundo. – Quando o ouvi falando com você daquele jeito… – Ele cerrou os dentes.

– Joe, eu estava dando conta dele. – Ela abraçou o próprio corpo para se proteger de uma rajada fresca de brisa. – Eu estava calma. Fui articulada. Ele estava acuado, e esta é a única razão pela qual me atacou. – Demi esfregava a testa logo acima da têmpora quando se virou para encostar no para-choque do utilitário. – Eu estava a ponto de fazê-lo enxergar que ele estava errado.

Difícil de imaginar seu pai admitindo isso a qualquer um, muito menos a uma mulher que tinha acabado de conhecer. – Errado sobre o quê? – perguntou Joe, curioso, agora que o pico das emoções tinha passado.

– Sobre ele achar que é um ótimo pai.

Joe se apoiou no para-choque, ao lado dela, perto, mas não muito. Ele detectou uma rigidez nova em Demi, uma fronteira definitiva entre eles.

– Meu pai não vai mudar. – Joe convivera com ele por tempo suficiente para saber disso. Deus, aquilo fora martelado no cérebro dele da maneira mais difícil, depois de tantos anos dando ao seu velho uma oportunidade atrás da outra de… Diabos. Ser um pai em vez de um ditador.

– E você sabe disso porque…? – Ela ficou brincando com as miçangas da bainha de seu vestido, os pedacinhos de vidrilho captando raios aleatórios do luar. – Já lhe ocorreu alguma vez que você pode ser tão cabeça-dura e teimoso quanto ele?

A acusação o atravessou de jeito, a possibilidade muito assustadora para ser absorvida pelo cérebro. Joe nunca quis ser comparado ao pai. O que significaria se ele tivesse herdado as características de Thomas que o irritavam na maior parte do tempo? Ele tentou afastar o pensamento.

– Demi, foi sua ideia vir para essa festa, e a trouxe para fazê-la feliz. – Ele chutou uma pedra. – Mas sempre soube que seria um risco se envolver, já que meu pai é um barril de pólvora e você…

– O quê? – quis saber ela.

– Vulnerável a críticas.

Ela bufou.

– Insegura, você quer dizer. Bem, adivinhe só? – Ela aprumou a postura. – Não sou mais insegura. Mudei de várias de maneiras desde que nos conhecemos, Joe. Estou surpresa que você não tenha notado.

– Isso não significa que você merece ser jogada aos leões em seu primeiro passeio comigo.

A distância, ele viu um par de faróis iluminando a rua.

– Assumi riscos com você, Joe, porque você significa… muito para mim. Tirei a velha máscara e estou pronta para mostrar a você e a todos os outros meu novo “eu”.

Ela pareceu firme ao dizer aquilo, mas a ideia de ver Demi intimidada por causa dele deixou Joe furioso consigo mesmo. Ela significava muito para ele também, ora bolas. Pena que ele não havia demonstrado tanto no momento mais importante.

O som de motor ficou mais alto e os faróis se aproximaram. Joe se arrastou para trás, um passo para permanecer nas sombras.

– Não sei no que estava pensando. – Joe balançou a cabeça, querendo que ela ficasse, mas sentindo que não a merecia. – Não queria que meu pai gritasse com você, mas, no final… – Deus, era uma droga admitir isso: – Fui pior do que ele.

Demi não discutiu a questão.

– Fui mantida à margem por toda minha vida, por pessoas que tinham vergonha de mim – disse ela. – E depois por todas as minhas inseguranças, graças a uma mãe que me via como um problema. – Ela deu um passo para mais perto da rua e acenou para o carro que se aproximava. – Não vou ficar satisfeita em permanecer negligenciada mais.

Um táxi parou ao lado dela.

Joe sentiu um bolo na garganta ao ser tomado por uma preocupação genuína.

Ela chamou um táxi? Ela ficou ali, observando a reação dele ou… apenas olhando para ele. Joe não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Pedir a ela que não fosse sozinha para casa?

– Não compreendo – admitiu ele. – Só não sei bem como… consertar isso.

Demi tocou o rosto dele, um gesto que Joe compreendeu muito bem. Ele reconheceu a despedida agridoce e a tristeza nos olhos dela.

– Não vou viver à sombra de novo, Joe. E até que você possa sair desta que está pairando em cima de você, não tenho certeza se é uma boa ideia continuarmos nos vendo. – Ela mordeu o lábio, mas a voz era firme. – Converse com seu pai, Joe. Veja se vocês dois podem se escutar dessa vez.

Joe não previra aquela situação. A Bela Mulher de Olhos Cinzentos estava terminando com ele na esquina de uma rua escura de Los Angeles porque ele era cego demais para olhar no espelho e se enxergar claramente. Demi aguardou pela resposta dele, e Joe ficou grato pelo taxista ter mantido a janela fechada. Diabo, ele não sabia mais o que fazer, então pegou sua carteira e tirou uma nota alta para o taxista. Ele bateu na janela e a entregou ao homem, juntamente a uma ordem rouca para dirigir com cuidado.

Com o arrependimento feito uma pedra em seu coração, Joe abriu a porta para Demi bem quando um monte de flashes pipocou atrás de si. Droga. Eles foram vistos.

Demi balançou a cabeça quando entrou no carro, pronta para seguir em frente.

– Sinto muito, Joe.

Os flashes continuaram, mas ele não se importou. Tudo o que importava para ele no mundo estava indo embora em um táxi amarelo anônimo, enquanto ele ficava parado lá como um bobo, completamente desorientado.

Mas Demi dissera o que ele precisava fazer, e ela era uma mulher inteligente. Uma mulher que ele tinha escolhido para ser sua consultora financeira. Talvez fosse hora de Joe começar a ouvi-la em outros aspectos também. Tinha chegado o momento de fazer as coisas corretamente com o pai.

UMA REUNIÃO na festa estava fora de questão. Os paparazzi tinham ficado sabendo do drama na cozinha e foram ávidos fotografar todas as partes envolvidas. Mas Joe tinha dado uma gorjeta a um manobrista, a fim de que tirasse o pai da casa por outro caminho, para que os dois pudessem se encontrar.

Agora, Joe aguardava em seu carro duas ruas abaixo e viu quando o manobrista se aproximou em um carrinho de golfe. Mesmo no escuro, Joe percebia que o pai estava no banco do passageiro. Ele ficou aliviado pelo outro ser dotado de bom senso suficiente para ser racional sobre isso. Parte dele temia que o sujeito fosse até os paparazzi e lhes fizesse revelações sobre o ocorrido.

Assim que o carrinho de golfe freou bruscamente, Thomas Fraser II desceu tão facilmente como se estivesse saindo de uma limusine, dando mais algumas notas para o manobrista, que já tinha feito uma pequena fortuna com aquela missão.

Joe destrancou a porta do passageiro para que o pai pudesse entrar. Ao se sentar, se voltou para o filho com um olhar sombrio.

– Importa-se de me contar por que você está esperando por mim em becos escuros em vez de correr atrás da sua namorada? – Ele bateu o punho no painel para dar ênfase.

Será que Joe um dia iria entender aquele homem?

– Isso não tem só a ver comigo, pai. – Ele precisava assumir sua parcela naquela confusão. Devia isso a Demi, fazer o que ela pediu. Escutar. Tirando o carro do ponto morto, tentou explicar. – Isso tem a ver com nós dois. Perdi Demi esta noite e isso é culpa minha. Mas a maneira como eu e você ficamos nos atacando… isso é culpa nossa. Minha e sua.

Ele não esperava que o pai fosse simplesmente ceder e admitir parte na história. Mas talvez pudessem encontrar algum tipo de paz. Demi pensava ser possível, certo? Joe flexionou os dedos no volante, sem saber como tinha perdido algo tão importante tão rápido. A cabeça latejava.

– Eu tento ajudá-lo – vociferou o pai, o tom grave ecoando ao redor do veículo. – Chamei-a para a festa porque dava para notar que você gostava dela. E você precisa de uma mulher em sua vida, Joe. Tudo o que faz é trabalhar.

A surpresa o distraiu do latejar na cabeça. Seu pai tinha notado o quanto ele trabalhava? Isso não seria o sujo falando do mal lavado? Droga, aquele era mais um fator que o fazia se parecer com o pai, apesar de Joe nunca ter gostado totalmente dessa conexão.

– Você só sabia que eu gostava dela porque tem me seguido e ficou me vigiando o tempo todo. – Joe não conseguiu evitar o comentário instintivo. Ainda estava irritado por Thomas ter colocado o ex-segurança para segui-lo.

– Um bom pai cuida dos filhos.

Isso o fez se perguntar no quanto o pai estava cuidando dos irmãos, na parte norte do estado. E mesmo imaginando que deveria avisá-los, tinha de admitir que parecia ser que seu pai estava chegando àquele ponto por uma questão de… amor.

Joe parou em um sinal vermelho e se virou para olhar para o homem que incitava problemas infindáveis em sua vida e na dos outros. Um homem que interferia constantemente e achava que era mais sábio. Um homem que tinha passado as mesmas características a Joe, as quais tinham feito Demi abandoná-lo.

Deus, ele precisava entender seu velho melhor. Porque eles eram muito parecidos. Joe não podia esperar que Demi lhe desse uma chance até ele mesmo dar uma chance ao pai.

Ele respirou fundo para simplesmente dizer aquilo, quando notou uma lágrima rolando pelo rosto de Thomas.

– Ah, que diabo. – Quaisquer outras palavras morreram em sua garganta. Como não fora capaz de perceber o quanto o pai se importava?

A epifania o prendeu no banco com ainda mais força do que saber que o pai estava genuinamente chateado. Triste. Talvez lamentando o que havia acontecido quase tanto quanto Joe.

Aturdido para diabo, Joe parou na frente a uma confeitaria alemã com mesas na porta, onde um grupo se reunia para comer rosquinhas quentes na madrugada.

Ele encostou o utilitário no estacionamento e desligou o motor.

– O que aconteceu entre você e Demi?

Thomas franziu a testa.

– Ela disse que eu o minava publicamente. – Ele estudou as próprias unhas e ajeitou um anel pesado na mão direita. – Que eu não lhe dei aceitação suficiente. – Dando de ombros, ele recorreu a Joe: – Que tipo de aceitação? Eu o alimentei, dei-lhe o que vestir e um começo no mundo. Aceitei minhas responsabilidades.

– Não acho que era isso que ela queria dizer. – Joe não conseguiu evitar um sorriso irônico ao pensar na imagem de Demi censurando severamente o famoso produtor pela paternidade negligente. Ela realmente tinha crescido muito desde que se conheceram, encontrando forças recônditas que ele jamais imaginara existir dentro dela.

Agora era o momento de assumir seu quinhão e crescer também:

– Pai? – repetiu ele. – O que exatamente Demi disse a você na festa?

Acariciando a barba, Thomas olhou para a vitrine da confeitaria.

– Disse que me tornaria um pária na minha própria família se não fizesse… – Ele balançou a cabeça. – Não sei o que ela ia dizer a seguir porque foi quando comecei a me exaltar. E em seguida você entrou.

A cabeça de Joe pulsava e seu peito estava vazio. Aquela dormência novamente, fazendo brotar a dor que o aguardava assim que os eventos de toda a noite fossem assimilados.

– Também não dei ouvidos a ela – admitiu reconhecendo mais uma característica que herdara do pai: – Demi me disse que tinha as coisas com você sob controle e a ignorei. Disse que sou como você, e não fui capaz de enxergar isso.

– Ela falou isso? – Thomas riu ironicamente. – Aposto que doeu.

Durante toda a vida, quando Joe ficava frustrado com o pai, seus amigos escolhiam ficar do lado de Thomas. Eles insistiam que o velho era bem-intencionado, e Joe os ignorava porque ninguém entendia o que era ser criado por um pai tão inflexível e exigente. No entanto, talvez eles estivessem certos. Sim, Thomas tinha um jeito bem retrógrado de demonstrar amor. Mas talvez Joe também. Ele com certeza não havia demonstrado isso a Demi do jeito que ela merecia.

– Sim. Ela disse isso.

– Você é igual a mim. – Thomas bateu no próprio peito, porém estava sorrindo. – Agora você vê isso.

Ele via muito bem. Joe e Thomas haviam magoado Demi esta noite.

Joe olhou para o sujeito que lhe causara um pesar sem fim e disse a si mesmo que ia mudar. Não queria mais saber da busca obstinada para conquistar seus objetivos. Não queria mais saber do estúdio de cinema para rivalizar com o do pai.

Joe e o pai iam se acertar. E em breve.

– Quero meu nome na porta da Fraser Films. – Ele ligou o motor, cheio de um novo propósito de repente. Tinha muito o que fazer se realmente quisesse sair da sombra do pai.

Se quisesse ser o homem que Demi merecia.

– Do quê você está falando? – resmungou Thomas de maneira indignada, mas Joe agora levou um tempo analisando aquele gesto fingido.

– Estou falando sobre unir forças para ser maior e melhor do que nunca, em vez de separar nossos recursos e destruir um ao outro. – Joe achava que tinha dado a última chance ao pai quando trabalhara para ele da última vez, mas talvez estivesse apenas esperando que essa tentativa falhasse. Fugindo quando discordavam, em vez de entrar em acordo. – Ou vou montar um estúdio por conta própria, e você sabe que serei bem-sucedido, já que herdei bastante da sua teimosia, ou podemos tentar chegar a uma forma de trabalhar em conjunto e não… brigar muito.

O velho Fraser não tinha muito a dizer. Mas talvez fosse melhor assim. Joe tinha plantado a semente. Agora iria dar algum tempo para que se enraizasse.

– Para onde nós vamos? – perguntou o pai, ajeitando a lapela do paletó do smoking.

– Nós vamos bolar um plano para recuperar minha garota, pai.

Thomas balançou a cabeça lentamente.

– Eu gostei dela.

– Isso é bom. Porque eu a amo.

– NÃO ACREDITO que você era a dançarina que substituiu Natalie no Backstage. – Star segurava a xícara de chá e falava em um sussurro enquanto eu me sentava com ela na mesa de reuniões da Sphere Asset Management na segunda-feira de manhã.

Eu tinha telefonado para meu chefe, Pendleton, no fim de semana, confessando tudo, assegurando que minha vida dupla não existia mais e que eu tinha quase certeza de que ninguém mais sabia. Eu escolhera contar a Star porque ela era uma boa amiga, tanto minha quanto de Natalie. Quanto ao meu chefe, ele foi do choque à descrença, divertindo-se vagamente no decorrer da conversa telefônica de uma hora. Em seguida, elogiou meu trabalho recente e disse que esperava que eu cogitasse assumir um papel maior na Sphere, contanto que meus dias de dançarina ficassem para trás. Então… em vez de ser demitida, ganhei um “parabéns, garota” e a promessa de uma promoção nova em folha se eu quisesse.

Mas eu não queria. Pelo menos não agora. A estava me acostumando à nova situação com o aumento das responsabilidades, e mesmo isso não parecia tão emocionante sem Joe na minha vida. Abandoná-lo não tinha destruído minha confiança recém-descoberta. Mas definitivamente tinha perdido o ânimo. A leveza e alegria em meu coração.

Meu peito doía, na verdade.

– Natalie deslocou o tornozelo na primeira vez e me incentivou a tomar o lugar dela. – Eu devia aquele empurrãozinho a ela, e não apenas por causa da confiança que a apresentação me dera, mas porque ela havia me colocado no caminho de Joe pela segunda vez.

Não importava o fato de Joe não ter lutado mais por nós dois, por mim, eu não trocaria um minuto do período incrível que passamos juntos. Eu me enxergava diferente graças a ele. Só queria que ele ainda estivesse ao meu lado. Não era tão divertido ser uma mulher confiante e completa sem Joe.

– Então foi você que abandonou Joe depois do baile. – Star sorriu e se aproximou, ambos os cotovelos sobre a mesa de reunião enquanto ignorávamos nosso trabalho um pouco mais. Devíamos estar arrumando a sala para minha primeira reunião com o novo cliente que Pendleton tinha me indicado na semana anterior. – Eu o achei terrivelmente possessivo com Natalie, e isso me deixou preocupada porque estava torcendo para ele gostar de você. Acho que não preciso me preocupar com isso mais.

A dor golpeando meu peito deve ter ficado explícita, porque Star fez uma careta.

– Por acaso interpretei tudo errado? – Star olhou para a porta e, em seguida, para o relógio. O escritório só abriria oficialmente dentro de dez minutos, e meu cliente só iria chegar uma hora depois disso. – Quando você não voltou ao trabalho após o almoço com Joe, pensei que…

Tive de sorrir ao me lembrar daquele almoço na chuva e da corrida até o utilitário dele. Ir para casa com Joe tinha sido… uma mudança de vida. Fiquei louca por ele, mesmo naquela época, porque tinha me enxergado através do disfarce de Natalie e ainda assim queria estar com meu verdadeiro eu. O ruído da cafeteira na mesa lateral me trouxe de volta à realidade. Meu sonho mágico tinha acabado. Eu era apenas Demi novamente.

Era difícil me alegrar por ser uma mulher melhor quando isso significava uma solidão tão pesada que parecia estar prestes a me sufocar.

– Nós, hã… – Pigarreei, minha voz se encheu de emoção. – Ele e eu éramos apenas uma coisa temporária.

– Ah, querida. – Star apertou meu pulso, reconfortante e tranquilizadora enquanto suas pulseiras sacolejavam contra a superfície da madeira. – Joe com certeza não me parece do tipo de cara que gosta de coisas “temporárias”. Seu nome não tem sido associada a ninguém nos tabloides nos últimos anos.

Não tinha certeza se deveria ficar lisonjeada ao pensar que ele tinha um gosto muito exigente, ou se deveria ficar ofendida por ser a única mulher a quem fora dada a opção de namorar por curto prazo. Abracei-me e meio que desejei não ter lhe dado um ultimato depois de uma noite tão emocional.

Na época, parecia a coisa certa a fazer. A única coisa a fazer. Ele precisava consertar o relacionamento com o pai. E acho que queria ser a única a lhe dar essa cutucada. Ele havia feito tanta coisa para me ajudar, afinal de contas. Talvez, lá no fundo, eu achasse que o estaria ajudando. Mas e agora, que eu estava sozinha e triste sem Joe?

Tive de me perguntar se eu tinha cometido o maior erro da minha vida.

A comoção do lado de fora da sala de reuniões chamou nossa atenção e nos levantamos para ver o que estava acontecendo.

– Se você quiser firmar um contrato comigo, vai abrir suas portas agora. – Uma voz masculina grave com uma pitada de sotaque flutuou através da porta, o tom arrogante e exigente.

Eu me endireitei. Conhecia aquela voz. Era a mesma que tinha discutido comigo na frente de 50 pessoas elegantemente vestidas. Star abriu a porta para ver o que estava acontecendo na recepção, e eu fui atrás.

Nossa estagiária, Claudia, estava ocupada tentando aplacar Thomas Fraser II. Ele estava na recepção vestindo um terno caro e cercado por uma comitiva de cinco pessoas, três homens e duas mulheres. Todos estavam vestidos profissionalmente e carregando pastas, iPads, ou ambos.

O pavor me deu um frio na barriga. Thomas estava ali para revelar meu segredo a todo o escritório? Pendleton não tinha me demitido, mas eu havia dito a ele que meu show de dança permaneceria secreto.

– P-p-posso ajudá-lo, Sr. Fraser? – Dei um passo a frente, a fim de intervir, já que nossa estagiária parecia sobrepujada e Star não se mexera para recebê-los.

– Só se você puder trazer a alta cúpula até aqui para lidar com minhas preocupações. – Ele bateu com a mão larga no balcão da recepção, a força fazendo uma cesta decorativa de limões sicilianos saltitar. – Tenho negócios para transferir, mas só se tudo for feito esta manhã.

Star entrou em ação.

– Vou ver o que posso fazer, senhor.

Meu chefe já estava no local, a notícia de que um cliente top de linha estava presente já havia viajado rapidamente pelo escritório. Pendleton disse a Star para segurar as ligações dele e reagendar a reunião que eu teria dentro de uma hora, já que ele precisava utilizar a sala de reuniões para receber o Sr. Fraser. Então convidou a comitiva para o espaço de reuniões.

Confusa, desconfiada e ainda preocupada com a possibilidade de eu ser de algum modo desmascarada pelo pai de Joe, abri espaço para o grupo passar.

E Thomas Fraser, o patriarca severo e carrancudo da família Fraser que havia esquentado tanto a cabeça de Joe, na verdade piscou para mim.

Eu poderia ter achado que estava sonhando, mas Star olhou para mim, as sobrancelhas arqueadas num questionamento. Claro, eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Quando recepção foi esvaziada e ficamos apenas Star e eu, com todos os superiores em reunião, Claudia encarregada de providenciar bebidas, a porta da frente se abriu novamente.

Joe entrou.

Lindamente amarrotado, parecendo ter dormido com o terno que usava, Joe parou no meio da recepção, as íris escuras vagando sobre mim. Era minha imaginação, ou ele estava com olheiras?

Se fosse um filme de Hollywood, a câmera teria dado um close no rosto dele do mesmo jeito que meus olhos faziam agora. Um brilho dourado reluziria ao redor dele de repente através de um truque de iluminação do fundo e o público suspiraria coletivamente. Assim como meu coração suspirou ao vê-lo.

Mas isso não é Hollywood.

Não percebi que disse as palavras em voz alta até Joe olhar em volta.

– E isso é um problema? Porque estamos a apenas alguns quarteirões a sudeste de Hollywood.

– Er. Não. – Considerando o calor que tomou meu rosto, percebi que toda minha nova confiança não iria me impedir de ficar envergonhada. Especialmente na frente daquele homem que ainda significava tanto para mim, mesmo que ele não estivesse disposto a romper com o passado e enfrentar o pai. – O pessoal do seu pai está na sala de reunião.

Apontei para a porta fechada, embora suspeitasse de que ele se lembrasse de onde a sala ficava. Star estava pairando perto do meu cotovelo, mas aproveitou aquele momento para desaparecer em direção aos escritórios, resmungando alguma coisa sobre a necessidade de ver alguém.

Deixando-nos a sós.

– Sei onde meu pai está. – Joe se aproximou e notei que ele definitivamente não parecia tão elegante como de costume. Um dos lados da gola da camisa estava escondido sob o paletó, enquanto o outro descansava na lapela. Seu cabelo estava em ângulos loucos, como se tivesse passado a mão nele muitas vezes. Mas estar despenteado não prejudicava em nada sua boa aparência.

Sentia tanta saudade dele que todo meu corpo doía.

– Você é bem-vindo para se juntar a ele – assegurei, minhas palavras duras. – Tem um minuto que entraram.

– Eu sei. – Joe passeou pela recepção, verificando as obras de arte nas paredes, sem pressa aparente. Aproximando-se de mim o tempo todo. – Meu pai estava muito orgulhoso de sua missão. Foi ideia dele criar essa distração.

Missão? Distração?

– Hein?! – Vi-o endireitar uma fotografia de nosso escritório em Londres e, em seguida, parar a poucos metros bem na minha frente.

– Disse ao meu pai que precisava ter você de volta. E ele planejou um esquema para esvaziar seu escritório, assim nós dois teríamos tempo para conversar.

Temi que meus ouvidos não estivessem funcionando direito. Ele tinha mesmo acabado de dizer que precisava ter-me de volta?

– Seu pai sabe como comandar uma multidão, isso é certo. – Tentei imaginar Joe e o pai tendo uma conversa na qual não estivessem discutindo. Na qual estavam do mesmo lado.

Será que Joe tinha conseguido algum tipo de trégua familiar, afinal? Eu formigava por dentro, me lembrando de que isso era tudo que realmente pedira a ele. Sair da sombra da rivalidade com o pai.

Será que ele fez mesmo isso? A centelha de esperança brilhou contra a solidão sombria contra a qual eu vinha lutando.

– Percebi que os homens da família Fraser são formidáveis quando querem alguma coisa. – Joe brincou com os limões na mesa de Star, a mão perto do meu ombro agora. – Teimosos e cabeça-dura, alguém me disse uma vez.

Imaginei aquela mão me tocando e não consegui tirar os olhos dela.

– Sou sincera, não importa quais sejam as consequências – insisti, necessitando me manter firme às minhas convicções, apesar de o meu desejo por ele transbordar dentro de mim como uma dor infinita. – Não vou me subestimar mais Joe. Você me ajudou a perceber que eu merecia mais do que o que estava recebendo da vida. E agora não posso me contentar com menos.

Especialmente de você.

– Admiro isso. – Ele estava de igual para igual comigo agora, o teste supremo da minha força de vontade. – Você me obrigou a pensar verdadeiramente sobre o que eu estava fazendo e sobre como estava sabotando meu futuro, optando por continuar em conflito com meu pai o tempo todo.Inalando, sentia o cheiro da loção pós-barba, e lembranças de nós dois entrelaçados inundaram meus sentidos.

– Você… quer consertar as coisas com seu pai? – Surpresa e esperança acenderam dentro de mim. Eu não esperava por isso depois da maneira feroz com que ele discutira com o pai. De como me dissera enfaticamente que eles colidiram durante toda a vida… E considerando que Joe estava ali a sós comigo agora, talvez ele quisesse consertar algo mais… Nós dois.

Meu estômago vibrava de nervosismo perante tal possibilidade.

– Não sei se seremos capazes de consertar completamente nosso relacionamento – admitiu ele. – Mas vamos tentar encontrar maneiras de unir forças a partir de uma perspectiva profissional e ver se podemos resolver alguns problemas dessa maneira.

– Sinceramente? – Ele havia feito o que pedi? Confrontado o pai depois de meses trabalhando contra ele? – Vocês dois estão… – Fiquei revezando o olhar entre a sala de reunião e Joe. – … fazendo isso juntos? Ele está realmente ajudando para que você possa conversar comigo a sós agora?

– Meu pai planejou essa entrada com o mesmo cuidado com que prepara uma cena de filme. – Joe sorriu. – Nunca pensei que fosse desfrutar tanto da companhia dele, mas quando estamos de acordo… ele não é tão ruim.

Eu estava finalmente começando a compreender. Joe não tinha apenas conversado com o pai sobre trabalhar juntos novamente no cinema. Ele tivera algum tipo conversa sincera que envolveu a mim. E, surpreendentemente, o velho Fraser deve ter apoiado a decisão de Joe para vir falar comigo hoje, ou ele não teria encenado a grande comoção desta manhã.

Uau.

– Acho que seu pai esconde um grande coração debaixo daquela manipulação e da arrogância.

– Estou começando a achar isso também. – Joe balançou a cabeça. – Estou decepcionado que tenha levado uma vida inteira para descobrir isso.

– Estou feliz por você. – Não queria presumir nada sobre as motivações de Joe neste encontro comigo. Mas, novamente, eu realmente, realmente tinha esperanças de que ele estivesse ali para me apresentar mais do que a trégua com o pai.

– Estou feliz por você. – Joe pegou minha mão e a ergueu, dobrando meus dedos entre sua palma num gesto que me aqueceu até os dedinhos dos pés. – Porque se não fosse por você, ainda estaria batendo a cabeça contra uma parede, sem entender por que meu pai continuava a me pressionar e a me testar o tempo todo.

O calor de sua mão enviou faixas de prazer pela minha corrente sanguínea, até o coração.

– Mais importante – continuou ele, pegando a outra mão também –, você se importou comigo o suficiente para me dar o empurrão do qual precisava ver as coisas sob uma nova luz.

Eu fiz isso? Com os olhos escuros e hipnóticos sondando os meus, não conseguia me lembrar de como tudo tinha se desdobrado. Meu quadril bateu na borda da mesa de Star e percebi que minhas pernas estavam bambas. Felizmente, Joe envolveu minha cintura com um braço, a outra mão ainda segurando a minha.

– Estava me sentindo terrivelmente segura de mim naquela noite – falei finalmente. – Você me ajudou a enfrentar o mundo e a me enxergar de um jeito novo. Creio que deveria retribuir o favor.

– Então agora que sabemos que você é forte e confiante, e que eu sou cabeça-dura e teimoso… – Sua boca se aproximava da minha, a voz baixou para ser ouvida apenas por mim. – O que vamos fazer agora?

– Hum. Não tenho certeza. – Fiquei observando os lábios dele, acompanhando o movimento, querendo senti-los pressionados aos meus. – Vamos fazer amor. Vamos nos apaixonar. Algo assim.

Meus batimentos cardíacos aceleraram. Dispararam. Bradaram.

– Mas não necessariamente nessa ordem – sussurrou ele, a respiração quente contra minha bochecha. – Já estou apaixonado por você, Demi.

Pisquei através da névoa sensual para encontrar os olhos dele e vi uma clareza e uma sinceridade que me fizeram me sentir leve como o ar e mais esperançosa para o futuro do que jamais estive. Comecei a tremer inteira.

– E-e-essa é… – Pus a mão em meus lábios, não porque estivesse vergonha da minha gagueira, mas porque Joe tinha o poder de me deixar feliz e confusa. – Essa é uma notícia excelente. Porque sou muito louca por você também, Joe Fraser.

Ele levou minha mão aos lábios e beijou os dedos daquele jeito afável que fazia meu coração palpitar. Adorei. Eu o amava. Mas ainda tinha um pouco da dançarina escondida dentro de mim, então o abracei e o beijei do jeito que eu merecia.

Bem no meio do escritório. Não me importando com quem visse.

Ele pareceu um pouco atordoado quando terminei. Sentia-me a mulher mais sortuda do mundo.

– Por quanto tempo você acha que seu pai vai manter todo mundo distraído? – perguntei, o coração batendo depressa.

– Meu pai é um sujeito muito imponente. Ele faz tudo ao extremo… – Joe olhou para o relógio de pulso. – Diria que temos até o horário do almoço, pelo menos.

Não eram nem mesmo 10h.

– Os vidros do seu carro são bem escuros? – perguntei, uma fantasia de longa data vindo à mente.

Ele arqueou uma sobrancelha. Não me senti nem um pouco constrangida. Estava repleta de confiança. Repleta de amor. E muito pronta para demonstrar isso.

– Sempre lamentei por não ter saído no utilitário com você naquela primeira noite, quando você me pediu para encontrá-lo atrás do Backstage – confidenciei. – Na verdade, fiquei fantasiando com o que poderia ter acontecido entre nós se eu tivesse encontrado você lá.

– Nunca deixe que digam que eu não realizo suas fantasias.

Joe já estava a meio caminho da porta, um braço forte me guiando consigo.

Apoiei a cabeça no ombro dele, contente, animada e loucamente apaixonada, tudo de uma vez só. Minha vida dupla podia ter chegado ao fim, mas a parte mais empolgante estava prestes a começar...


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Último da fic. Espero que vocês tenham comentado e gostado.
Em breve uma nova fic para vocês.
Eu não vou começar uma nova porque não teria como postar, mas fiquem no aguardo.
Muitos beijos para vocês e uma ótimas festas de final de ano.
PS: Gente mil desculpas, na correria pra postar acabou faltando um pedaço, mas já está tudo organizado.
xoxo

5 comentários:

  1. Não percebi lá muito bem o final desta fic... Afinal eles fizeram as pazes ou não????

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  2. Acho que esta incompleto... Eu já li o livro e n termina assim nao

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  3. acaba assim mesmo???
    nao tem que ter mais

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  4. Adoro que postassem um epílogo ou algo assim, quero vê-los juntos e felizes :)

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  5. Obrigada por completarem o capítulo :)
    Agora sim: ...e ficaram felizes e juntinhos para sempre hehe

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