29.12.16

Um Amor em Meus Braços - Capitulo 7


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Oito horas depois Demi finalmente ficou sozinha com Joe em seu quarto. O olhar solene no belo rosto dele fazia alarmes dispararem dentro dela.

— Você conhece seu pai melhor do que qualquer pessoa no mundo. Ele não estava fingindo no jantar de hoje, estava?

— Não. Na verdade, eu arriscaria dizer que ele precisou conter a alegria para não magoar Corinne.

— Então, o que há de errado, além do óbvio?

— Corinne.

Demi assentiu.

— Sei disso.

— Achei que eu soubesse também...

Uma estranha nuança na voz dele fez Demi ter calafrios.

— O que ela disse a você antes de eu ter descido para o carro depois de pegar minha bolsa hoje à tarde?

Ele subiu e desceu as mãos pelos braços dela.

— Corinne fez uma ameaça.

— Que tipo de ameaça?

— Não lhe dei a chance de me dizer.

— Mas você não pode deixar isso assim. Por que não me disse nada enquanto estávamos no vilarejo? Achei que estivéssemos juntos nessa.

Os olhos dele percorreram as feições preocupadas dela.

— Porque não quis deixá-la preocupada desnecessariamente.

— Eu já estou preocupada. O comportamento dela é irracional, Joe. Em um minuto, está histérica. No seguinte, é como a calmaria antes da tempestade.

— Ela tem problemas mentais. Tenho certeza de que meu pai também acha isso. Ele escolheu as palavras com muito cuidado hoje.

— Eu preciso saber o que você está pensando!

As mãos dele envolveram os braços dela.

— Ontem à noite perguntei se você confiava em mim, e você disse que sim.

— Confio.

— Então, deixe que eu lide com isso do meu jeito primeiro. Já tomei algumas precauções. Se for necessário, falarei com você a respeito, eu juro. Enquanto isso, vamos fazer tudo juntos. Não a deixarei sozinha.

Para ele dizer aquilo só poderia significar uma coisa.

— Você acha que ela pode ser fisicamente perigosa?

Linhas de expressão marcaram o rosto dele.

— A esta altura acho que Corinne é capaz de quase tudo.

Demi gemeu.

— Quando seu pai nos deu sua bênção, os sonhos dela foram destruídos. Há rancor nela, Joe.

— Sempre houve.

— No lago, você me disse que foi uma mulher quem lhe provocou essa cicatriz. Mulheres vivem cometendo crimes contra homens. Quando penso que Corinne já foi uma vez a seu quarto sem ser convidada... Não há nada que a impeça de fazer isso novamente para garantir que você não se case.

Ele beijou-lhe a testa.

— Não vai acontecer nada a ninguém, Demi. Até nosso casamento, dormirei com você neste quarto.

— Mas, Joe...

— Não se preocupe com o que os empregados vão dizer — ele a interrompeu. — É exatamente o que eu quero que aconteça. A fofoca chegará até os ouvidos de Corinne. Saber que eu e você estamos juntos a demoverá naturalmente da ideia.

— Eu estava pensando no seu pai.

O esboço de um sorriso surgiu nos lábios dele.

— Como precisei de apenas quatro dias para pedir sua mão em casamento, ele terá ideias erradas a meu respeito se eu passar as noites longe de você.

Ele a soltou e pegou o telefone ao lado da cama dela.

— Vou avisar aos empregados o que farei. E, em seguida, ligaremos para sua família e contaremos a novidade.

Os olhos dele percorreram o corpo dela.

— Você parece cansada. Por que não se prepara para dormir? O quarto foi feito para que meia dúzia de pessoas pudesse olhar de forma confortável para as pinturas. Você não vai nem perceber que estou com você.

O acelerado coração de Demi a acompanhou até o banheiro, onde ela se apoiou na pia até que conseguisse se controlar. O brilho do anel com diamante que ele lhe dera atraiu seu olhar. Tem a forma do lago, ele dissera.

O lago oculto em uma floresta mística fora onde tudo tivera início, onde ela conhecera a encarnação de Lancelot Du Lac. Só que ele era melhor ainda. O mito não era mito, afinal.

Ele enfeitiçara Demi. De que outra forma ela teria concordado em se casar com Joe assim?

Ele a estava esperando quando ela saiu do banheiro de camisola e robe. Naquele curto intervalo de tempo em que ela estivera ocupada ele vestira uma calça de moletom e uma camiseta. Não importava o que ele vestisse, ela estava ciente do incrível físico masculino enrijecido pelo serviço militar.

Os olhos sonolentos dele a seguiam, absorvendo tudo dela, observando seus pés descalços.

— Pronta para dar aquele telefonema? Depois, quero saber qual pintura você acha que é a minha favorita.

Demi se acomodou no lado da cama e ligou para a tia. Durante todo o tempo em que falavam Joe ficou esticado do outro lado da cama, com a cabeça de cabelos escuros apoiada pelas mãos. Ele era uma distração tão grande que Demi tinha dificuldade para se concentrar na conversa.

— Se você se sente tão atraída por ele nesse pouco tempo, por que não fica na França e o conhece melhor antes de se comprometer em outro casamento?

Era uma boa pergunta. Uma que Demi teria feito à tia se a situação fosse inversa.

— Joe esteve no serviço militar durante um longo tempo, tia Kathy. Ele quer se estabelecer.

— Isso é ótimo para ele, mas e você? Apesar de ser desimpedida, ainda sofre com o luto. Eu acho que você deveria respirar um pouco antes.

A tia não compreendia o problema de Demi, que já estivera sofrendo em seu casamento havia anos. E naquele momento, só de pensar em Joe, ela ficava sem fôlego, mal conseguia raciocinar. A percepção de que dormiriam na mesma cama a fez sentir mais desejo do que sentira em anos. Um sentimento de vergonha surgiu.

— Eu talvez devesse.

— Bem, parece que você já se decidiu. Rob e eu só queremos que você seja feliz. O convite inclui as garotas e seus maridos?

A mão dela segurou o fone com mais força.

— Você sabe que sim. Quero todos vocês aqui.

— Estamos com pouco dinheiro, como sempre. Tem certeza de que seu noivo está disposto a arcar com as despesas?

— Sim. Ele quer que vocês fiquem na casa dos pais dele enquanto estiverem aqui.

— Que homem generoso. Uma grande diferença de Richard.

Ela baixou a cabeça.

— Eu sei.

— Sinto muito. Eu não tinha o direito de dizer isso.

— Sim, tinha, porque é verdade. — De certa forma, foi um alívio saber que a tia não fechara os olhos para determinados problemas no casamento de Demi.

Joe era um homem diferente, de um outro mundo.

Demi não contara nada à tia, a não ser que conhecera um francês chamado Joe Malbois que acabara de deixar a força de elite da França.

Quando a família chegasse à Bretanha, eles veriam e entenderiam tudo por conta própria. Então, ela chamaria a tia para um canto e lhe contaria que estava grávida. Não parecia certo revelar pelo telefone.

— Joe e eu providenciaremos as passagens de avião. Vocês as receberão, junto com o convite, na semana que vem, por correio expresso.

— Demi?

— Sim?

— Você sabe que eu não tenho dito isso com muita frequência, mas amo você. Só quero o melhor para você.

Os olhos dela se avivaram.

— Eu sei. Também amo você. Ficar longe me fez perceber a sorte que tive por ter sido criada por vocês. Deve ter sido tão difícil no começo... — Quando ela pensou em Geoff e na maneira como ele abrigara a problemática enteada, teve uma sensação de humildade.

— Se foi difícil, foi porque eu tinha medo de jamais conseguir ser a mãe que minha irmã teria sido para você. Rob diz que sou muito desesperada, mas que me ama assim mesmo. Sua mãe era mais calma e relaxada. Você tem essa mesma qualidade, o que eu invejo.

— Então, estamos quites, porque tenho inveja de sua coragem ao aceitar a filha de outra mulher.

— Seu comportamento doce tornou fácil amar você.

De onde tudo aquilo tinha surgido? As lágrimas rolavam pelo rosto de Demi.

— Obrigada por dizer isso. Eu ligo na semana que vem para ter certeza de que vocês receberam tudo.

— Estou ficando empolgada. Nunca fui à Europa.

— É um mundo completamente diferente, tia Kathy.

Até logo. Ela desligou e usou o braço para secar as lágrimas. Em sua mente, já conseguia ver a surpresa deles quando lessem o convite com o brasão da família Du Lac impresso no alto...

Geoffroi Malbois, Le Duc Du Lac, solicita o prazer de sua companhia no casamento de seu filho, Lancelot Malbois Du Lac, com Demi Gresham Fallon, no dia 30 de junho. As 11h, na igreja da St. Vierge, em Lyseaux. Haverá, em seguida, uma festa no château da propriedade Du Lac, La Bretagne, França.

— O que sua tia disse para deixá-la tão emocionada?

Demi olhou para ele.

— Muitas coisas maravilhosas que se você não tivesse insistido para que eu ligasse para ela eu talvez jamais ouvisse.

Joe rolou de lado para encará-la, com todo o seu 1,90m de masculinidade esbelta e forte.

— Mesmo com todos os problemas que eu provoco, está dizendo que sou bom para você? — A voz dele estava rouca.

A hora de ser honesta chegara.

— Acho que sim.

— Então, me agrade e venha para a cama. Nosso bebê também precisa descansar.

Nosso bebê. Oh, Joe...

— Não apague a luz ainda. Farei isso depois que você tiver respondido à pergunta que lhe fiz da última vez em que estivemos aqui.

Ah, ele estava falando das pinturas.

Ela entrou debaixo das cobertas. Ele era muito maior que ela. Joe a observou.

— Já decidiu qual dos 12 meses mais me agrada?

— Sim. — Ela devia ter sabido desde o início, mas não lhe ocorrera até aquela noite, quando deixaram uma assustadora Corinne à mesa com Geoff.

— Por quanto tempo pretende me torturar? Caso ainda não tenha percebido, não sou um homem paciente.

— Estou ciente disso — ela murmurou. — Você também vence os perigos, o que me leva a pensar que junho é seu favorito.

Ele se apoiou em um dos cotovelos.

— Você me conhece bem. Em junho o amor dc Lancelot floresceu completamente. Ele reprimira seus sentimentos por Guinevere por tempo demais. Agora, estava ardendo por ela. Não havia barras que pudessem mantê-lo do lado de fora. Ele arriscaria a própria vida para provar-lhe a boca.

— Acho que parece com você.

Ele lhe lançou um sorriso tão sedutor que ela precisou desviar o olhar.

— Admita que junho também é o seu mês favorito. Quem mais além de Guinevere, rainha entre os homens, era corajosa o suficiente para ter um caso secreto de amor com Lancelot e lhe dar boas-vindas em sua cama, sabendo que o mal crescia em Camelot?

De alguma forma, a conversa se tornara um caso da arte imitando a vida. Era tudo pessoal demais. Os olhos dela se concentraram na pintura.

— O artista fez um trabalho excelente ao retratar as emoções dela. Acho que foi uma mulher quem o produziu.

— Não sei, não. Um homem consegue pintar com a mesma intensidade sentimental. Quando eu era jovem e ainda não compreendia a magia feminina, achei que fossem uma excentricidade vergonhosa. Levei vários anos até que deixasse meu melhor amigo vê-las.

— Àquela altura, vocês dois já haviam descoberto que o luxurioso mês de maio havia assumido um novo significado. Quando junho chegou, a paixão amadureceu.

Uma gargalhada profunda e farta saiu dele.

— Você é única, Demi. Fico me perguntando de que pintura nosso filho gostará mais.

A conversa estava fugindo do controle.

— Se tivermos uma filha romântica, ela nos dirá imediatamente. Se for um menino, provavelmente já estaríamos velhos e cansados antes que ele admitisse sua preferência.

— Mesmo então, ele nos diria que Camelot nunca existiu. — Joe lia a mente dela.

— Então, diremos a ele que foi apenas um belo sonho.

— Acho que estou começando a saber como Arthur se sentiu quando tudo desmoronou. Sequer trocamos os votos, e, mesmo assim, você já está falando sobre nós sentados em nossas cadeiras de balanço. Não consigo nos imaginar assim.

— É porque você cresceu na terra dos sonhos. A verdade é que Guinevere e Lancelot perderam a cabeça. Se não aprendemos com os erros deles, que Deus nos ajude.

Ele se aproximou, apoiando o queixo em seu braço bronzeado.

— Acha que o amor deles foi um erro?

Ela lutou para não ser afetada pela proximidade dele.

— Você não acha?

— E desprezar o maior amor que o mundo já conheceu? — ele falou lentamente.

A mão dela puxou as cobertas.

— Eles tiveram que pagar um preço grande demais.

— Mas enquanto tudo era bom eles conheceram um arrebatamento indescritível. Eu percebi que você estava lendo Chrétien de Troyes quando a encontrei na floresta.

Nada escapava aos olhos de Joe.

— A cena do quarto é uma das passagens mais famosas de toda a literatura — ele lembrou a ela. — Não havia um trecho sobre a diversão deles ser tão agradável e doce, enquanto se beijavam e acariciavam um ao outro, que, na verdade, tal maravilhosa felicidade os dominava como nenhuma outra de que já se ouvira falar ou se conhecera?

O rosto de Demi foi tomado pelo calor.

— Chrétien exagerou um pouco ao retratar os sentimentos de Lancelot. Como ele não era uma mulher, não entendia Guinevere. Ela era casada com Arthur, e sempre seria atormentada pela culpa.

Joe abriu um sorriso sedutor para ela.

Acho que é a viúva em você que diz isso. Olhe novamente para a pintura — ele disse. — Vê alguma culpa nos olhos dela, ou em seu corpo, que se inclina para ele?

"Está tão ansiosa por ele que seus olhos brilham. Pode senti-los arder um pelo outro. Durante todos os meses em que ele estivera na Corte, eles sonharam com aquele momento. Ao reprimirem sua paixão, tudo o que conseguiram foi fazê-la explodir.

"Você pode perceber que ela está alheia a qualquer outra presença junto deles. Implora para que ele a toque. Lancelot está louco de desejo.

"Ele tem sido devorado vivo pelas imagens dela, que não lhe dão descanso. Arde por ela em seu sono, mas, agora, está acordado, e foi ao encontro dela, e não há poder no mundo que impeça o doce prazer entre eles."

Pare, Joe.

— Já olhei o suficiente por hoje. Estou cansada. Acho que você também deve estar. — Ela se inclinou para desligar a luz de cabeceira. — Boa noite.

— Você se importa se eu conversar com você até que consigamos dormir?

— Contanto que não seja sobre contos de fadas. — Ela se virou de costas para ele e desejou que ele tivesse se acomodado em outro canto da cama, bem mais distante.

— A universidade fica a apenas cinco minutos da casa em Rennes. Se estiver interessada, pode assistir a algumas aulas de manhã enquanto espera a chegada do bebê. O período começa em agosto e terminará antes de você dar à luz no final de dezembro. Posso levá-la até lá no meu caminho para o trabalho e buscá-la na hora do almoço.

Ele previra tudo. Aquilo daria a ela algo de útil para fazer até que voltasse a morar nos Estados Unidos.

— Onde você trabalhará?

— Na companhia hidráulica de que lhe falei. Desde que voltei, tenho buscado informações. Eles precisam de um engenheiro com as minhas qualificações.

— Quando começará?

— Logo depois do casamento.

Ela ficou feliz por ele não ter mencionado uma lua de mel.

— Eu estou muito interessada.

— Tem alguma ideia do tipo de aulas a que quer assistir?

— Francês, e talvez uma pesquisa de literatura francesa antiga.

— Parece que está planejando seguir os passos de Richard — foi a monótona resposta.

— Não quero ser professora. Estava pensando que seria bom conhecer algo sobre o seu idioma e a sua cultura, já que os homens que pretendem se tomar pai e avô do meu bebê são franceses.

— Isso é verdade.

Demi não conseguia saber o que ele pensava daquelas escolhas.

— Algum dia me decidirei por uma carreira, e vou segui-la. No momento, não consigo pensar em nada além de ser mãe.

— Para dizer a verdade, fico feliz por papa querer se encarregar das festividades do casamento. Com a ajuda de Helen, eles não precisarão de mais ninguém. Isso nos dará tempo de aprontar a casa e planejar o quarto do bebê.

— Ela está vazia?

— Sun, a não ser pelos caseiros, Jean e sua esposa, Louise, que moram no primeiro andar. Eles cuidarão de tudo o que você quiser.

— Como é a casa da sua mãe?

— É um chalé com exterior de argamassa. Chamamos de bastide. Dois andares, quatro quartos. Um banheiro completo e dois lavabos. Há um terraço e um jardim. Dentro e fora, é perfeito para uma criança.

— Parece encantador.

— Quando meus avós estavam vivos, eu adorava ficar lá, onde podia correr de um lado para o outro e fazer bagunça.

— Quer dizer que você foi um menino normal?

— Acho que sim. Papa não gostava muito quando eu construía modelos de foguetes na mesa de jantar do salão. A cola de cimento caía nela e a destruía. Tiveram que mandar restaurá-la. Se eu fosse falar de todos os estragos que causei, levaria semanas.

— Parece que você valia por vários irmãos.

Ele riu.

— Queria ter tido um irmão ou irmã. Maman sofreu com três abortos espontâneos. Cada um por um motivo diferente.

— Ela teve sorte de ter você. Posso garantir isso.

— Amém. Conte sobre suas primas.

— Julie tem 29 anos. Sharon, 26.

— Les Trois Mousquetaires.

— Quem dera tivesse sido assim. Se eu tivesse sido adotada desde o nascimento, tudo poderia ter sido diferente.

— O que elas faziam? Ficavam lembrando que você não era irmã delas para acabar com sua alegria quando conseguia algo que elas não conseguiam?

— Como você sabia?

— Corinne fez sua cena "pobre de mim" na noite em que a conheci, tentando fazer eu me sentir culpado por ter nascido como um Du Lac.

Os problemas de Joe haviam sido tão piores que Demi não tinha como reclamar.

— Agora que as garotas estão casadas, as coisas têm sido melhores.

— Queria poder dizer o mesmo sobre Corinne.

Demi estremeceu.

— Não seria maravilhoso se ela simplesmente desistisse e fosse para a casa da mãe?

Um som estranho veio da garganta dele.

— Achei que você tivesse dito que não queria mais saber de contos de fadas.

— Sinto muito. O que acha que ela está fazendo agora?

— Não vamos nos preocupar com isso. Você está segura comigo.

Segura.

Se havia alguém no mundo que podia protegê-la, Demi sabia que era Joe. Aquilo a ajudou a relaxar, e logo em seguida ela acabou adormecendo.

*******

Quando acordou, mal conseguiu acreditar que estava no meio da manhã. Joe já saíra da cama. O fato de saber que ele estava a seu lado a noite toda devia ter sido o motivo de Demi ter dormido mais do que o de costume.

A ausência da náusea a fez tomar os comprimidos. Queria que aquela sensação de bem-estar continuasse.

Quando começou a atravessar o quarto, ouviu uma batida na porta.

— Demi? — A voz profunda de Joe percorreu todo o seu corpo. — Está acordada?

— Sim.

— Trouxe o café da manhã.

Ele não devia...

— Não preciso que você me sirva.

— E se eu gostar de fazer isso?

— Então, fico muito agradecida, mas preciso tomar um banho antes.

— Pode ir. Vou entrar com a bandeja e esperar você.

— Certo. Vou ser rápida.

A empolgação aumentava dentro dela; Joe lhe mostraria a casa da mãe naquele dia. Seria o lar de seu bebê. O lar dela com Joe.

Mais três semanas e ela não precisaria mais ver Corinne, a não ser em encontros casuais no château. Enquanto isso, ela e Joe estariam ocupados se preparando para serem pais.

Ela pegou uma blusa para vestir com a saia antes de correr para o banheiro, tomar banho e se vestir. Ele se cansaria de vê-la com a mesma roupa. Quando fossem a Rennes naquele dia, ela pediria que ele a levasse a uma loja onde pudesse comprar roupas largas.

Depois de escovar o cabelo, ela o deixou solto. Após se perfumar, estava pronta.

Ele havia posto a bandeja na cama. Cereal gelado e toronja.

— Isso está bonito.

— Você, também — ele murmurou, observando-a atentamente. Ele também estava, mas ela se conteve para não lhe dizer isso, e começou a comer.

Naquela manhã, ele vestia um terno azul-claro com uma camisa azul, mais escura. Sem gravata. Com aquela pele bronzeada e os olhos azuis, quentes o suficiente para cortar aço, ela não ficaria surpresa se as mulheres da cidade fizessem fila só para olhar para ele.

— Graças à sua presença ao meu lado a noite toda, dormi bem. Seu corpo ao lado do meu teve o mesmo efeito em mim.

Deve ser confortável para o bebê ficar todo aconchegado dentro de você.

Um gomo de toronja ficou preso na garganta dela antes de descer.

— O problema é que logo, logo acho que eu não vou poder dizer o mesmo. Mas não reclamo.

— Eu faço massagem em você. Talvez isso ajude.

Não. Tudo o que aquilo faria seria despertar sentimentos que seria melhor se fossem mantidos em repouso. Depois da conversa da noite anterior ela estava tomada por sentimentos e emoções que fugiam de seu controle.

— Você é daquelas mulheres que quer ter o bebê do jeito natural?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Sou covarde e pretendo me beneficiar da epidural mais moderna.

— Isso quer dizer que não farei aula de Lamaze?

— Você quer?

Ele a olhou por sobre a borda da xícara de café.

— Quero fazer tudo que me ajude a me sentir mais próximo do bebê.

— Pode ir a todas as minhas consultas com o médico. Vou fazer o ultrassom no mês que vem.

— Já estava planejando fazer isso. Não preciso nem dizer que vou levá-la ao hospital quando chegar a hora. Nunca vi um bebê nascer. Giles e a esposa dele tiveram uma garotinha no ano passado. Ele disse que foi a melhor experiência da vida dele. Fiquei com inveja.

O coração dela lhe dizia que aquilo não era fingimento de Joe. Tendo sido negada a ele a possibilidade de gerar uma criança a partir do próprio corpo, ele estava disposto a fazer o que fosse preciso para participar da gravidez de Demi, que entendia aquela necessidade.

Terminando o cereal, ela foi até a penteadeira onde deixava a bolsa. Pegando o batom, ela disse:

— Você viu Corinne enquanto estava lá embaixo?

— Não. Papa disse que ela tomou café com ele antes de sair para andar a cavalo.

— Ela cavalga muito?

— Pelo que ouço dizerem...

— Como seu pai está hoje?

— Eufórico. Eu o deixei ao telefone com Helene.

— Ele disse alguma coisa sobre Corinne?

— Não.

Os olhos ansiosos dela se concentraram nos dele.

— É como esperar pela detonação de uma bomba-relógio que não armamos.

Joe assentiu com uma expressão sombria.

— Papa quer ir até a casa conosco, mas o médico disse que ele tem que ficar de repouso por mais uns dois dias.

— Haverá tempo suficiente para isso quando ele melhorar.

— Foi o que eu disse a ele. Vamos?

Ele abriu a porta para ela e, depois, a seguiu com a bandeja. Já quase haviam chegado ao foyer quando ela ouviu o celular de Joe tocar. Demi o viu olhar o nome de quem ligava antes de atender.

Ela podia não entender francês, mas a violência na expressão dele dispensava tradução.

— O que aconteceu? — ela perguntou assim que ele desligou, Havia um círculo branco em volta de sua boca.

— Era o cavalariço. Corinne pegou Tonnerre sem permissão, Ele foi atrás dela em outro cavalo.

"Parece que ela tentou pular a fonte, mas não conseguiu. Sofreu uma queda feia e, parece, uma concussão, mas as patas dianteiras de Tonnerre se quebraram. Ele está agonizando."

Aquilo significava que seu maravilhoso cavalo precisaria ser sacrificado.

— Vá, Joe! — ela gritou. — Vou chamar uma ambulância.

Ele entregou a bandeja e o celular a ela.

— Disque 112. Diga que venham até a Fonte da Juventude na floresta. Vão entender.

O coração dela foi com ele enquanto Joe desaparecia pelo hall em direção à cozinha. Pobre Tonnerre! Ele carregara tanto Demi quanto Joe quando ela estivera doente. Joe morreria de tristeza ao ter que sacrificar o animal por misericórdia, mas não tinha escolha.

No momento seguinte, ela pôs a bandeja sobre o aparador mais próximo e ligou para o número de emergência. Depois que Demi deu os detalhes, disseram-lhe que estavam a caminho.

— Demi?

Ela olhou para cima e viu Geoff de pé no primeiro patamar da escadaria.

— Henri me disse que Corinne sofreu um acidente com um dos cavalos. Ela está bem?

— O cavalariço disse que acha que ela ficará bem. Joe foi vê-la. — Demi subiu rapidamente a escada e o acompanhou de volta à suíte. Eles se sentaram um de frente para o outro na área de estar.

— Fico aliviado por ele estar com ela.

— Ele cuidará de tudo. Foi bom que não tivéssemos saído para a cidade ainda.

— Ela é uma excelente amazona. Não consigo imaginar o que pode ter acontecido.

— Logo descobriremos. Peço a Brigitte para lhe trazer um pouco de chá enquanto esperamos?

Demi não ousaria lhe contar a verdade. Deixaria que o filho dele explicasse. Graças à discrição de Henri, Geoff não parecia muito preocupado.

— Não, não. Já que estamos sozinhos por enquanto, quero lhe dizer uma coisa.

— O que é?

Pela primeira vez desde que ela o conhecera, Geoff parecia hesitante.

— Quando tiver mais experiência como mãe, entenderá melhor o que vou dizer.

— Pode falar — ela o incentivou gentilmente,

— Nossos filhos são tudo para nós. Conhecemos suas alegrias e seus medos. Sabemos o que os faz felizes. Sabemos o que lhes causa dor.

"Escolher você como esposa fez Joe feliz, e isso me faz feliz. Mas Corinne está arrasada. Ela se apaixonou por ele assim que o conheceu. Desde então, nunca houve outra pessoa para ela."

— Ele me disse que suspeitava disso — ela admitiu.

— Isso é bom. Não deve haver segredos entre vocês. Corinne sempre se sentiu rejeitada. Tentei de tudo para ajudá-la a se sentir segura, mas nada pode compensar totalmente uma mãe ruim e um pai ausente.

— Tem razão.

Ele ergueu uma das mãos.

— Não é culpa de ninguém, e não estou tentando magoá-la. Deus sabe o quanto tem sido difícil para Joe, que jamais quis que isso acontecesse.

Ele a olhou inseguro. Demi sentiu que ele imploraria para que adiassem o casamento por tempo indeterminado.

Novamente, Corinne manipulara Geoff, mas, dessa vez, Joe não cairia em sua armadilha. Ao levar seu cavalo à morte, ela fizera algo que ele não perdoaria.

— Seria demais pedir que você e Joe se casassem em uma cerimônia reservada imediatamente?

Demi ficou tão surpresa que quase caiu da cadeira.

— Está dizendo para esquecermos todos os preparativos do casamento?

Triste, ele assentiu.

— Seria a maior ação de boa vontade que vocês poderiam fazer por Corinne. Ela contou a todas as pessoas que conhecemos que Joe se casaria com ela quando retornasse do serviço.

"Ouvir vocês planejando o casamento e a conversa sobre o bebê na noite passada foi demais para ela. Se vocês se casarem sem alarde, isso a poupará de uma humilhação maior. Conheço meu filho. Ele quer lhe dar o casamento dos seus sonhos, mas, acima de tudo, ele quer você.

"Sei que estou pedindo um grande sacrifício de vocês. Merecem festejar. E não há nada que me deixaria mais feliz do que fazer isso, mas..."

— Não precisa dizer mais nada, Geoff. Já tive um grande casamento quando mc casei com Richard. Não preciso de outro.

— Está falando sério? — a voz dele estava trêmula.

— De coração. Para que aprofundar essa mágoa? Quando encontrar Joe, mais tarde, vou convencê-lo de que é a única coisa a se fazer.

— Se há alguém que consiga convencê-lo disso, é você.

Só que Joe não precisaria ser convencido. Se estivesse apaixonado por Demi, seria diferente. Mas o que ele queria era um filho. Ficaria feliz por não terem que esperar mais três semanas para realizar uma cerimônia e tomar tudo legal.

Aquilo significaria que eles poderiam se mudar para a casa da mãe dele nos próximos dias. Depois daquele acidente, Demi não queria ficar perto de Corinne.

—Geoff? Por que não vou até a cozinha e trago chá para nós. Eu também gostaria de um pouco.

— Isso me parece ótimo.

— Enquanto não volto, por que não liga novamente para Helene e avisa que Joe e eu decidimos não nos casar agora? Explique que é por causa da chegada do bebê, que o médico quer que eu vá com calma. Algo assim. Tenho certeza de que encontrará as palavras para que ela não questione a mudança nos planos.

— Muito obrigado, ma chérie.

Demi desceu a escadaria até a cozinha e começou a preparar o chá. Enquanto acrescentava o mel, ouviu passos vindos da entrada dos fundos. De repente, Joe surgiu.

— Graças a Deus, você está aqui. Precisamos sacrificar Tonnerre.

— Eu sabia — ela sussurrou.

Sem se dar conta, ela foi para os braços dele. Joe a apertou contra si. Durante os minutos que se seguiram, ele a embalou. Ela sentiu o tremor no maravilhoso corpo dele.

— É só se lembrar de que ele foi para o paraíso dos cavalos, onde será feliz.

Um pesado suspirou escapou dele.

— Como você sabia que eu precisava ouvir isso? — Joe segurou a cabeça dela com as mãos e beijou-lhe o rosto diversas vezes.

— Porque meu tio teve que sacrificar o cachorro da família. Fizemos um funeral para ele.

Ele afundou o rosto no cabelo dela.

— O que papa sabe?

— Henri contou a ele que Corinne sofreu um acidente enquanto cavalgava, mas que ficaria bem. — Demi se afastou o suficiente para poder olhar para ele. — Ela vai ficar?

Os olhos dele, repletos de dor, escureceram,

— Acho que sim, mas ela bateu a cabeça com bastante força, A ambulância a levou ao vilarejo. De lá, ela será levada de helicóptero até o hospital em Rennes, por precaução. Pedi a Henri para entrar em contato com a mãe dela.

"Enquanto isso, uma das empregadas se ofereceu para ficar no hospital com Corinne, para que ela não fique sozinha."

— Muito bondoso da parte dela.

Joe beijou-lhe o rosto.

— Também achei.

Por um momento ele pareceu distante. Ela se afastou dos braços dele.

— Preparei chá para o seu pai. Só precisa de mel.

— Acho que também quero um pouco. Vou pegar. Enquanto ele ia até o armário, ela disse:

— Joe? Há algo que preciso lhe dizer.

Ele levou a jarra até ela.

— O que é?

Sem rodeios, ela repetiu a conversa que tivera com Geoff. Quando terminou, o silêncio reinou enquanto ele acrescentava alguns biscoitos de amêndoa à bandeja. Ela não conseguia imaginar o que ele estava pensando.

Eles se juntaram ao pai, que estava ao telefone. Ao ver os dois, ele acenou para que Joe se aproximasse.

— É Odette, Ela soube do acidente de Corinne, Foi grave?

Demi observou Joe colocar a bandeja na mesa.

— Henri já disse a ela que Corinne sofreu uma concussão. Ela foi levada ao hospital Holy Cross, em Rennes. Uma das empregadas está lá com ela. Diga a Odette para ligar para lá e falar com o médico do pronto-socorro.

Geoff transmitiu a mensagem. Em seguida, cobriu o fone.

— Ela quer falar com você.

Linhas de raiva marcaram a boca de Joe, Ele pegou o fone.

— Odette? Não sei nada além do que já lhe disseram. Você precisa falar é com sua filha.

"No momento, tenho que me preocupar com meu pai. Ele ainda está se recuperando da pneumonia. Espero que nos entendamos. Vou me certificar de que Henri a mantenha informada de que qualquer coisa que saibamos. Au revoir."

Demi deixou o corpo cair no sofá de dois lugares, ao lado de Geoff, e lhe entregou um pouco de chá. As pálpebras dele cobriam os olhos, fazendo com que parecesse ter mais do que seus 67 anos.

Ele pegou o chá e bebericou um pouco.

— Merci, ma chérie.

— Papa... Corinne fez Tonnerre dar um salto que custou a vida dele.

Uma lágrima solitária rolou pelo rosto de Geoff.

— Nessas circunstâncias, não sei como você encontrou forças para sequer falar com Odette.

Joe se agachou na frente do pai.

— Como Demi me lembrou, meu cavalo se foi para um lugar melhor. Ela também me disse sobre o que vocês conversaram antes de eu chegar.

"Se eu achasse que pudesse escapar dessa, teria pedido a ela que fugisse comigo e nos casássemos na noite passada."

Apesar de Demi saber que ele dissera aquilo para agradar o pai, sentiu uma pontada no coração.

— Como as necessidades de Corinne têm que ser nossa prioridade, vou ligar para o padre e pedir que ele nos case bem aqui, em seu quarto. Henri e Brigitte serão nossas testemunhas. Depois que o bebê nascer e Demi tiver se recuperado, faremos uma grande festa e convidaremos todos.

Seu pai chorou.

— Você é um filho maravilhoso.

— Não é um sacrifício para mim, papa. Corinne precisa de cuidados médicos sob diversos aspectos. Usei o telefone da cocheira e tomei a liberdade de ligar para o psiquiatra que tratou dela antes. Ele vai se encontrar com Odette e marcar algumas sessões com as duas.

"Vamos dar a elas alguns dias. Até lá, você estará se sentindo ainda melhor, e faremos uma visita en famille."

— En famille — Geoff repetiu, sorrindo para os dois. — Adoro o jeito como isso soa.

Joe lançou um olhar íntimo para Demi.

— Eu concordo.

Precisando abafar suas emoções, ela lhe entregou o chá, que Joe bebeu de uma só vez.

— Papa... Outra coisa. Quando Corinne telefonar e pedir para falar com você, o médico sugeriu que deixe Henri cuidar de tudo. Só até a situação melhorar.

Geoff assentiu.

— É um bom plano. Agora, se não se importar, gostaria de falar eu mesmo com père Loucent.

— Vá em frente. Demi e eu vamos a Lyseaux nesse instante. Não demoraremos.



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Último post de 2016! Continuem comentando.
xoxo
Obs: Gente o verdadeiro capitulo 6 da fic foi "extraviado". Não o encontrei para postar, mas creio que de para entender a continuação da história. Mil desculpas.

21.12.16

Um Amor em Meus Braços - Capitulo 5


~

— Que pousada antiga e adorável, Joe! O que o nome dela significa?

Ele observou o rosto oval de Demi à luz de velas. Tinha as características clássicas da verdadeira beleza. Ele duvidava de que ela usasse algo além de batom.

— Chama-se Castanheira de Ouro. Se você não tivesse ficado doente no outro dia, eu teria lhe mostrado a verdadeira.

Ela piscou.

— A verdadeira.

— Em 1990, houve um incêndio aqui no Vale sem Retorno. Ardeu durante cinco dias. Depois, milhares de doações chegaram do mundo inteiro para ajudar a salvar a herança mítica que existe aqui. Papa foi uma das pessoas que lideraram o movimento.

— Cinco dias...

— Foi devastador. Você talvez já tenha ouvido falar do escultor parisiense François Davin. Ele criou uma imensa castanheira de ouro, com folhas de puro ouro, para homenagear a cooperação internacional. A árvore simboliza a imortalidade dos sonhos dos homens de boa vontade.

— Acho que Richard mencionou algo sobre isso. Os galhos são feitos para se parecerem com chifres de veado.

— Isso mesmo. É para celebrar os animais selvagens que guiaram os cavaleiros pelas florestas encantadas, e para nos lembrar do poder do amor do homem pela Mãe Natureza.

— Que lindo! — ela disse, pensativa.

A personificação da beleza estava sentada à frente dele.

— Como estava seu crepe?

— Como você pode ver, comi quase tudo. Junto com a sidra, tudo estava delicioso.

— Nenhum acesso de náusea esta tarde?

Ela balançou a cabeça. As mechas castanho-douradas brilharam contra seus ombros. Com olhos escuros como sementes de papoula, Demi tinha uma combinação de tons encantadora.

— Passei parte da tarde com seu pai no jardim. Fiquei esperando ficar enjoada, mas não aconteceu. O remédio foi milagroso.

Uma boa notícia.

Desde que haviam saído de carro do château, Joe mantivera propositalmente a conversa leve, para deixá-la relaxada. Para tristeza dele, Demi parecia tão confortável durante o jantar que Joe tinha o mau pressentimento de que ela se decidira por recusar sua proposta algumas horas antes. Como resultado, ela estava aproveitando a noite sem qualquer nervosismo.

O apetite de Joe, por outro lado, o abandonara. Depois de ter pedido a ela que considerasse a proposta, ficava cada vez mais difícil aceitar a ideia de que ela pudesse recusar. Na verdade, parecia algo impensável.

Com ou sem bebê, ele percebeu que queria ficar com ela o tempo todo. A atração física que sentia por ela fora imediata. O fato de saber que ela estava grávida a tornara ainda mais atraente.

Naquela noite, ela estava radiante. Com o vestido preto simples e um colar de pérolas, seu corpo curvilíneo se movia com uma feminilidade que o deixava louco para tocá-la. Estava encantado com a risada suave dela. Demi era uma pessoa que apreciava os pequenos momentos.

Ela não queria nada dele. Como consequência, ele estava pronto a lhe dar seu sobrenome. Até então, nenhuma outra mulher significara tanto para ele a ponto de fazê-lo querer viver sempre ao lado dela, ainda mais, ser responsável por ela.

Sem conseguir aproveitar a noite desconhecendo a decisão dela, ele comunicou que iriam embora do restaurante. Ela não se opôs, o que provavelmente significava que estava cansada e queria ir para casa.

No caminho de volta ao château, eles passaram pela abadia Paimpont e foram até o pequeno lago no sopé das colinas que o pai dele queria que ela visse. Joe desligou o motor e olhou para ela.

— Uma noite, depois que seu bebê tiver nascido e você puder, eu a trarei aqui para nadar. Foi neste lugar que Merlin se apaixonou loucamente por Viviane. Costumavam fazer amor aqui. Quando a lua estava cheia, o luar refletia na água como o cálice de prata que Percival buscava.

Ela baixou o vidro da janela, deixando que o quente ar da noite de verão entrasse no carro.

— Este lugar poderia ter saído direto de uma fantasia. Desde que cheguei à Bretanha, sinto-me como se estivesse enfeitiçada.

Joe gostava de como aquilo soava.

— É porque você entrou no santuário da malvada fada Morgana, a meia-irmã de Arthur. Lembra-se daquelas pedras vermelhas pelas quais passamos antes, onde as águas são turbulentas? Ela atraía cavaleiros volúveis para cá e, em seguida, os aprisionava.

"Motivado por seu amor pela rainha, Lancelot desbravou perigos indescritíveis para libertar aquelas pobres almas da magia maligna de Morgana. Enquanto fazia isso, acabou descobrindo uma saída através deste lago encantado."

— Você faz parte desse encanto — Demi falou. — Como um mutante, você assume diferentes formas, dependendo do momento. Nunca sei quem vai aparecer em seguida.

"Será o filho amoroso e dedicado? O militar marcado pela batalha? O impecável anfitrião? O cavaleiro de armadura moderna que ainda salva donzelas em apuros? O soldado ferido que acredita que perdeu sua masculinidade? O menino-homem que sente falta de sua infância idílica? O futuro duc da família Du Lac? O noivo não oficial da enteada do pai?" Mon Dieu.

A não ser por estar completamente equivocada a respeito da história com Corinne, ela o entendera melhor do que qualquer psiquiatra.

— Se eu quisesse me casar com ela, jamais teria entrado para o serviço militar. Entendeu?

Ela olhava pela janela.

— Então, sempre foi tudo uma fantasia dela?

— Sempre.

— E do seu pai?

— Naturalmente, ele quer que eu me estabeleça e seja feliz. Mas, só para que você saiba, a escolha de uma noiva sempre foi decisão minha.

A mão de Joe que repousava no assento atrás de Demi apertou o estofado de couro. Qualquer esperança que ele ainda tivesse de que ela pudesse concordar com a proposta dele desaparecia rapidamente.

— O que acha de me ver como um homem simples que adoraria ser pai e que consegue ver um jeito de ajudar a si mesmo e a você ao mesmo tempo?

— Não há nada de simples em você.

Ele se inclinou na direção dela.

— Quem está falando é a assustada futura mãe? A viúva ainda de luto pelo marido a quem sempre amará? A menina-mulher que jamais encontrou seu lugar? A aluna do mundo, que quer um diploma? A filha triste que jamais conheceu os pais? A mulher que está sozinha pela primeira vez na vida e teme gostar disso?

Deve ter se passado um minuto antes de Demi virar a cabeça para olhar para ele.

— Touché.

— Gostaria de mergulhar comigo cm águas desconhecidas e ver o que acontece? Com meu dinheiro, você jamais precisará se preocupar com o trabalho. Seu filho sempre terá meu sobrenome e minha proteção. E, o melhor de tudo, você poderá ser mãe em tempo integral para seu bebê, e eu estarei a seu lado para apoiá-la.

Um suspiro preocupado escapou dos lábios dela.

— No que mais está pensando? — ele perguntou. — Agora é a hora de dizer tudo.

— Eu não disse nada.

— Sim, disse — ele sussurrou. — Deixe-me fazer uma pergunta. Você confia em mim?

Ela baixou a cabeça.

— Se não confiasse não teria saído para jantar com você e não estaríamos tendo esta conversa.

O aperto que ele sentia no peito se aliviou de uma só vez, permitindo que voltasse a respirar.

— Então, que essa seja sua resposta. Promessas são apenas promessas mesmo. Você e eu iremos a um lugar onde nenhum de nós foi antes.

"Seu apetite por aventura é tão grande quanto o meu, ou não teria vindo para a Bretanha uma segunda vez. Pelo bebê, vamos concordar em aproveitar ao máximo cada segundo disso."

Ele buscou algo no bolso do paletó.

— Dê-me sua mão.

Como ela não reagiu imediatamente, ele lhe tomou a mão. Ela estremeceu quando ele deslizou o anel de noivado facilmente pelo dedo dela.

— Eu o comprei esta tarde. No momento em que vi o formato de pera da pedra, ele me lembrou do lago onde nos conhecemos. O que acha?

Ela esticou os dedos na frente dos olhos.

— Acho que é o diamante mais lindo que já vi. Não faço ideia de como você acertou o tamanho.

— Depois de dizer ao vendedor sua altura e seu peso, acrescentei que você estava grávida. Ele fez o resto.

Apesar do tenso momento, a boca de Demi se curvou em um sedutor sorriso sem que ela percebesse.

— Depois que o bebê nascer, você poderá mudar o tamanho do anel, para não perdê-lo — ele acrescentou.

— A pedra é tão grande que seria impossível perder. — Uma nova energia flutuava em tomo deles como um fio desencapado. — Mas não posso aceitar.

Houve uma pausa na respiração dele.

— Então, seu perdão por meus pecados não se estende até o matrimônio, mesmo que seja pelo bem do bebê.

— Não, Joe. Não foi o que eu quis dizer.

Ele ficou tenso.

— Então, me explique.

— Este é o tipo de anel que um homem dá à mulher que ele ama. Eu preferiria algo mais modesto.

Um calafrio de alívio percorreu o corpo dele.

— Se é só isso o que a incomoda, faça-me um favor e use-o até que eu lhe compre outro.

Com medo de que ela retirasse o anel e quebrasse o encanto do momento, enviando-o de volta ao buraco negro onde estivera vivendo por tanto tempo, ele se apressou a ligar o motor. Foi quando viu algo se mover à beira do lago.

— Demi — ele murmurou. — Não faça barulho. Apenas vire sua cabeça lentamente em direção à água.

Ela fez o que ele comandava.

Uma das coisas de que ele mais gostava nela era sua aceitação do inesperado. Demi tinha uma calma interior, não importava o quanto estivesse chocada ou amedrontada. Poucas eram as pessoas que tinham essa qualidade invejável.

Ele se esforçou para desviar seus olhos dela por tempo suficiente para observar o veado que chegara para beber no lago. A mulher ao seu lado inspirou fundo, demonstrando o quanto estava encantada com a cena.

Eles observaram por alguns minutos. Então, Joe ouviu o piar de uma coruja. Aquilo assustou o veado, que ergueu a cabeça e correu para o interior da floresta.

— Nunca havia visto um veado com chifres tão grandes e, no entanto, tão gracioso. Majestoso...

— Esse já está por aí há um bom tempo.

— E pensar que tenho tentado conseguir fotos dos animais e, hoje, estou sem minha câmera.

— Voltaremos amanhã à mesma hora e esperaremos por ele.

— Ele era lindo. Ela também...

Se Joe ficasse ali por mais tempo com ela e fizesse o que tinha vontade de fazer, poderia assustá-la.

— Vamos para casa. Se meu pai ainda estiver acordado, contaremos a ele nossos planos. Caso contrário, teremos que fazer isso amanhã.

— Acho que seria melhor se esperássemos até ele ter uma boa noite de sono.

— Então, será o que faremos. — Agora que ela concordara em se casar com ele, Joe não discutiria um detalhe insignificante.

Enquanto voltavam ao château, ele se virou para ela.

— Quando eu estava em Rennes, na outra noite, esbarrei com Helene Dupuis, que costuma organizar as festas para papa. Ela quer dar uma festa pelo meu retorno. Vou dizer para ela não medir esforços, já que estamos noivos e quero que seja nossa festa de casamento.

"Gostaria de marcá-la para uma data próxima. Esperar até que sua gravidez esteja mais avançada pode não ser algo sábio. Não quero pôr sua saúde em risco. Duas ou três semanas serão tempo suficiente para que seus tios venham."

— Ah, não sei. Acho que eles não terão dinheiro para as passagens de avião.

— Eles não vão pagar nada. Será uma honra para mim. Quero que seus amigos venham também. Qualquer um com quem você tenha afinidade na universidade.

— Joe...

— Este será meu único casamento. Quero conhecer as pessoas que fazem parte da sua vida. Meu pai também vai querer. Sua família a educou muito bem. Se seus pais estivessem vivos, não teria dúvida de que viriam.

"Não se preocupe com os outros compromissos sociais. Como você está grávida, limitaremos o número de festas para apenas o dia do nosso casamento e o do batizado. Quando você e eu nos conhecermos melhor, você perceberá que não sou um animal social como meu pai."

— Já sei disso.

— E se imporia?

— Não. Richard e eu tínhamos que ir a muitos eventos, mas tenho que admitir que na maioria das vezes eu preferia ter feito algo só nós dois.

"Eu mesma sou caseira. Quando o bebê chegar, vamos ter muito o que fazer."

Eles chegaram ao château. Joe estacionou o carro e desligou o motor.

— Meu tio gostava de ficar em casa. Era um homem de família.

— Estou ansioso para fazer o mesmo. — Joe soltou o cinto de segurança. — Durante meu tempo de inatividade no serviço militar, alguns de meus colegas casados recebiam cartas e fotos de seus filhos por e-mail.

"Eu os invejava por terem uma família para quem retornar. Depois que fui hospitalizado, eu os invejei por poderem dar filhos a suas esposas. Naquelas circunstâncias, fazia sentido que eu ficasse no serviço e deixasse que aqueles pobres-diabos voltassem para casa, para as pessoas que precisavam deles."

Ela soltou o cinto também.

— Entendo isso. Na verdade, vivi tanto tempo sem esperança que ainda estou surpresa por estar grávida.

— Nosso bebê chegará dentro de seis meses. Talvez nós dois consigamos acreditar até lá.

Depois de ser marcado pelo passado, Joe estava impressionado por se colocar em uma posição na qual precisaria estar disposto a confiar novamente em uma mulher. Ao deixar o serviço, jamais quisera ou pretendera que isso acontecesse. Ainda estava chocado por ter voltado para casa e encontrado uma situação na qual uma mulher tinha o poder de torná-lo vulnerável novamente.

Mas não podia negar as emoções que cresciam dentro dele no que dizia respeito a Demi. A atração por ela era forte demais para ser ignorada ou negada, mesmo se ela ainda amasse Richard.

Quando desabara nos braços de Joe enquanto liberava sua tristeza reprimida, aquilo deveria ter apagado qualquer chama que ardesse dentro dele, física ou emocional.

Em vez disso, acontecera o oposto, e esse era o problema. A única coisa que ele temia era se intrometer na tristeza dela. Como lidar com aquela mulher que ainda sentia a perda do marido?

Isso era o principal dilema com que Joe duelava no momento. O único jeito de respeitar os sentimentos dela e evitar que as necessidades dele fugissem ao controle era se concentrar no bebê.

Com aquela decisão firmemente tomada ele lhe deu um beijo na face antes de se levantar do assento do motorista para ajudá-la a sair.

Quando Joe olhou para cima, viu que a luz do quarto do pai estava desligada.

— Papa já foi dormir — ele disse enquanto acompanhava Demi para o foyer e escada acima. — Contaremos a ele no almoço. Isso lhe dará tempo para descansar. O que acha?

Quando chegaram à porta do quarto dela, Demi ergueu os olhos trêmulos para ele.

— Também lhe dará tempo para o caso de mudar de ideia durante a noite.

Ele inspirou com força.

— De jeito nenhum.

*********
Quando a manhã chegou, Demi não sentiu náuseas, mas um frio na barriga. E se Geoff não gostasse? Ela veria aquilo imediatamente nos olhos dele.

Sem tempo a perder, ela se apressou a tomar outro comprimido e as vitaminas antes de se vestir para o dia. Demi não queria deixar ninguém esperando. Ninguém deveria ter que subir todos aqueles degraus para levar comida para ela.

Ela usou um batom coral e escovou o cabelo. Ele farfalhava contra os ombros de sua blusa cáqui. Como todas as suas calças estavam apertadas demais e desconfortáveis, ela usou a mesma saia que vestira alguns dias antes; ela acomodava sua barriga, que crescia.

Na próxima vez em que fosse à cidade, compraria roupas novas. Ainda precisava se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando e se juntara ao grupo das afortunadas mulheres que precisavam ir a uma loja para grávidas.

Enquanto descia as escadas, sentia seu mundo completamente diferente. Com o fato de que seria mãe, e Joe seria o pai do bebê, seus pensamentos se avivaram. Tinha uma nova razão para viver.

Joe estava a meio caminho até o andar dela. Usava calça cinza-escuro e uma camiseta esporte de tom vinho. Demi perdeu o fôlego ao ver aquela potente masculinidade. Se não tivesse gritado o nome dele a tempo, eles teriam colidido.

A mão dele tocou o ombro dela. Ela sentiu seu calor até as partes profundas do corpo. Os olhos dele percorreram-lhe o rosto, admirando-a.

— Parece outra pessoa hoje. A personificação da maternidade.

Tudo o que ele dizia parecia íntimo e pessoal.

— Deve ser isso e o remédio. Melhorei muito desde ontem.

Ela percebeu o sobe e desce do peito bem-definido dele.

— Fico feliz por saber. Disse a papa que almoçaríamos com ele. Está ansioso.

— Como ele está fisicamente?

— Voltando à velha forma rapidamente. — Os olhos de Joe a estudavam. — Aonde ia com tanta pressa?

— À biblioteca, pesquisa antes do almoço.

Ele retirou a mão do braço dela com aparente relutância.

— Enquanto faz isso, estarei no estúdio, resolvendo questões de negócios.

Com um acordo tácito, eles desceram até o primeiro andar juntos. Ela nunca havia ficado tão ciente da altura dele. Ele tinha um cheiro tão bom, e estava tão lindo... Se Lancelot exercesse o mesmo efeito sobre Guinevere, Demi conseguia entender por que o sonho de Arthur fracassara e Camelot deixara de existir.

Joe a acompanhou até a porta dupla da biblioteca. A proximidade dele deixava os sentimentos dela descontrolados.

— Mais tarde venho falar com você e lembrá-la de tomar outro comprimido — ele sussurrou.

Inspirando de forma trêmula, ela disse:

— Não há como eu esquecer.

— Não tenho tanta certeza disso. Com todos esses desenhos para olhar, você ficará fascinada. Passei um bom tempo de minha infância aí dentro, e sei muito bem disso.

— Não duvido.

Com medo de olhar para ele, Demi correu para dentro, precisando se afastar dele como proteção contra a crescente atração que sentia.

A biblioteca do château continha livros de valor inestimável, pertencentes à família Du Lac, assim como milhares de títulos que abordavam todos os aspectos da lenda arturiana. Alguns haviam sido escritos em bretão, um velho idioma da Bretanha que lembrava o cômico e o galês.

Demi achava sua história intrigante. Conseguia entender como Richard se sentira atraído pelas histórias da região. As diversas versões dos Cavaleiros da Távola Redonda poderiam manter uma pessoa entretida eternamente.

Duas horas depois, quando ela se acomodara para ler um interessante texto em inglês sobre a busca de Percival pelo Cálice Sagrado, ouviu vozes femininas do lado de fora da porta. Provavelmente, uma conversa entre as empregadas. Ela continuou a estudar o texto, sem saber que alguém havia entrado na biblioteca até que uma mulher falou com ela.

— Sra. Fallon?

— Sim? — Demi se levantou. Uma bela e alta loura, com um terninho caro em tom pêssego entrara no cômodo. Parecia ter a idade de Demi, talvez um pouco mais.

— Sou Corinne Du Lac.

Du Lac?

Aquilo significava que ela devia ter assumido o sobrenome de Geoff quando sua mãe se casara com ele.

— Como vai?

A mulher com quem Joe planejava se casar demonstrava um autocontrole incrível. E por que não? Geoff deveria tê-la acolhido como uma filha amada, afinal, era o jeito dele.

Ela se aproximou até que Demi pudesse ver seus olhos azul-claros.

— Brigitte me explicou por que está aqui. Sei que perdeu seu marido recentemente. Gostaria de lhe oferecer meus pêsames.

— Obrigada.

— Já conseguiu algo de que o livro dele estivesse precisando?

— Na maior parte, sim. Ainda espero conseguir uma fotografia de um veado ou de um javali selvagem.

— São criaturas ariscas. Jamais vi um javali na floresta. Pode levar algum tempo. Se quiser, posso pedir ao caseiro para ficar de guarda e tirar algumas fotos. Ficaria feliz de mandá-las para você.

Ela falava inglês perfeitamente, Demi estava admirada.

— Seria muito gentil da sua parte. Geoff tem sido maravilhoso por me deixar ficar aqui.

— Todos o adoram, mas ninguém mais do que eu. É o único pai que tive na vida. O meu me abandonou e à minha mãe.

— Sinto muito — Demi disse, se solidarizando. — Meus pais morreram antes de eu fazer 4 anos. Sei o vazio que fica no coração.

— Geoff preencheu o meu. Quando ele e minha mãe se divorciaram, ele não permitiu que isso mudasse nosso relacionamento.

Até então, o nome de Joe não fora mencionado. Uma omissão intencional?

— Jamais faria isso. É sincero demais.

— Nós nos amamos.

Demi não duvidava.

— Como ele está descansando, gostaria de ir até Lyseaux para almoçarmos? Acabei de voltar de uma longa viagem à Austrália e estou ansiosa para provar da culinária francesa novamente.

Era evidente que ela ainda não havia conversado com Joe.

— Eu adoraria, mas preciso terminar meu trabalho desta manhã aqui.

O cenho da outra mulher se franziu.

— Por quê? Pensei que o livro fosse um projeto do seu marido.

— Era, mas eu também era sua assistente e estou procurando algo especial sobre Lancelot para entregar ao editor junto com o manuscrito dele.

Ela cruzou os braços e apoiou o quadril na beira da mesa.

— Devem existir milhares de livros sobre ele.

— Existem. Tenho certeza de que meu marido leu todos eles. Estava absorto nas lendas sobre a Corte do rei Arthur. Mas, por ser um pesquisador, estava determinado a acrescentar seu próprio ponto de vista. O Château Du Lac capturou a imaginação dele e a minha.

Depois de um breve silêncio:

— Imagino que lhe disseram que não pode tirar fotos do quarto onde tem dormido.

— Jamais faria isso sem permissão.

— Geoff não quer que nada daquele quarto seja publicado.

— Não o culpo. Na minha opinião, aquelas pinturas são dos maiores tesouros artísticos da França. Se o público soubesse delas, ele não teria sossego.

— Que bom que compreende.

— Claro. Eu me sinto privilegiada por poder ficar aqui.

— Você não faz ideia da sorte que tem.

Oh-oh. O comentário da mulher tinha uma conotação possessiva.

— Quando voltará aos Estados Unidos?

A importante pergunta finalmente surgira.

— Não sei bem.

— Não precisa retornar ao seu emprego?

— Se estiver falando da Yale University, está enganada. Não trabalho lá. Depois das aulas, meu marido voltava para casa e eu o ajudava a fazer a pesquisa no computador.

— O que fará agora?

— Demi terá muito o que fazer daqui em diante.

A profunda voz masculina só poderia pertencer a uma pessoa. Ela não ouvira Joe entrar na biblioteca. Corinne deu meia-volta.

— Chéri — ela gritou, demonstrando uma saudade desinibida —, tinha ouvido falar que você estava de volta!

— Bonjour, Corinne. — Ele fechou a porta, mas não se aproximou de Corinne. — Fico feliz por vocês duas já terem se conhecido. Vai me poupar o trabalho de encontrá-la para poder apresentar uma à outra.

— A Sra. Fallon e eu acabamos de nos conhecer — Ela correu na direção dele e lhe segurou o braço. — Agora que está aqui, vamos para um lugar mais reservado. Faz muito tempo desde a última vez em que o vi. Temos tanto a pôr em dia...

— Podemos fazer isso depois. No momento, tenho algo importante para lhe dizer.

— Com certeza, não na frente da hóspede de seu pai — ela disse em um tom baixo, mas Demi a ouviu.

— Isso envolve Demi. Não pode ser adiado.

Com isso, Corinne virou a cabeça. Seus olhos encaravam Demi como se ela fosse algum tipo de alienígena.

— O que ela poderia ter a ver conosco?

— Como você se tornou enteada do meu pai há dez anos, e somos, por assim dizer, parentes, eu diria que tem muito a ver

Demi já começava a se familiarizar com os tipos de humor de Joe. Naquele momento, seu rosto assumia expressões ligeiramente esculpidas. Ela se lembrou daquela noite na floresta, quando ele a expulsara da propriedade. Aquilo fez Demi sentir um calafrio.

A outra mulher parecia menos segura de si.

— Joe... Não estou entendendo.

— Então, permita-me esclarecer.

Ele tirou a mão de Corinne de seu braço e foi até Demi.

— Eu disse que voltaria para lembrá-la de tomar seu comprimido — ele disse com uma voz suave.

— Eu ia tomar quando fôssemos almoçar.

Para surpresa dela, ele envolveu-lhe os ombros com o braço e a puxou para perto, contra seu físico rígido.

— Corinne? — ele falou para a mulher que estava de pé, como um pedaço de madeira petrificada. — Acho que é melhor saber da novidade agora.

— Que novidade?

— Estou apaixonado e encontrei a mulher com quem vou me casar.

Era bom que Joe estivesse segurando Demi, ou ela teria desabado ao chão.

— Se papa continuar melhorando, esperamos nos casar dentro de três semanas.

O rosto de Corinne ficou pálido.

— Casar...

Joe abraçou Demi com mais força. Baixando o olhar para ela, disse:

— Aconteceu tão rápido que também mal conseguimos acreditar, não é, mon amour? Jamais acreditei em coup de foudre. Até encontrar você. Foi amor à primeira vista.

Ele baixou a cabeça e beijou sua boca antes de se voltar para Corinne.

— Sei que ficará feliz por nós, mas preciso lhe pedir um favor. Papa ainda não sabe. Vamos contar a ele no almoço.

O rosto bem-barbeado de Joe roçou na face de Demi. Apesar do caos em que se encontravam as emoções dela, a sensação daquela pele lhe provocou uma sensação de calor pelo corpo.

— Gostaria que vocês duas se tornassem boas amigas. Enquanto isso, espero que me perdoe por ter interrompido, mas surgiu um imprevisto. Preciso falar com Demi a sós.

Ele segurou-lhe a mão e começou a andar em direção à porta. Corinne olhou angustiada para Joe antes de sair do cômodo na frente deles. Ela desapareceu pelo corredor, o paletó de seu terninho esvoaçando.

Joe seguiu para a escadaria. Segurou com mais força a mão de Demi, deixando-a ciente de que ele não pretendia soltá-la até que chegassem ao terceiro andar.


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