29.7.15

Dois Pequenos Milagres - Capitulo 3

— Andréa, aqui é...

— Joe! Você está bem?

Ele piscou, espantado com a preocupação dela.

— Estou bem. Olhe, preciso que você faça algo para mim.

— Claro. Mas... Joe, como estão as coisas?

Bizarras. Confusas.

— Não tenho certeza. Preciso de um tempo para desco­brir. Você pode deixar a minha agenda livre durante as próximas duas semanas?

— Já fiz isso, chefe. Transferi tudo o que pude e deixei a maior parte do seu tempo livre. Ainda estou esperando que Yashimoto dê um retorno.

Droga. Ele se esquecera de Yashimoto. Ele deveria es­tar indo de Tóquio para Nova York, para assinar o novo contrato.

— Talvez...

— Joe, eu cuido dele. Não é nenhum problema. Ele pode negociar com Stephen...

— Não. Stephen não sabe todos os detalhes. Faça com que os dois liguem para mim

— Joe...?

A voz de censura às suas costas o fez se virar, e ele viu Demi encostada ao batente da porta, segurando uma xícara de chá. Ela olhava para ele atentamente, e sua expressão era irredutível.

— Nada de telefonemas — disse ela, e Joe deu um grunhido baixo de frustração.

— Tudo bem, esqueça, negocie com ele você mesma e deixe Stephen cuidar de tudo. Eu preciso... Bem, existem...

— Regras? — disse Andréa suavemente, e ele suspirou.

— Duas semanas, nada de negócios, nada de distrações.

— Bem, aleluia! Acho que vou gostar da sua mulher. Não estrague tudo, Joe.

Deus, o que teria acontecido com ela? Ela deveria es­tar do lado dele!

— Farei o melhor que puder — resmungou ele. — Olhe, eu sei que é contra as regras, mas, se realmente houver um problema...

— Se realmente houver um problema, é claro que eu telefonarei para você. Dê-me o número da sua mulher.

— O quê?

— Você me ouviu. Telefonarei para ela.

— Você não precisa incomodá-la.

— Não, e nem devo, mas darei a ela o poder de veto.

Ele disse algo rude, mas se desculpou em seguida, e entregou o telefone a Demi.

— Ela quer o seu número para o caso de emergências.

— Certo — disse ela, tomando-lhe o telefone das mãos e se afastando com o aparelho, fechando a porta com o pé. Ele soltou outro palavrão, passou as mãos pelos cabelos e então ouviu um choro vindo do quarto dos bebês.

Suas filhas.

Aquilo era tudo o que importava, ele disse a si mesmo, e, atravessando a sala, ainda descalço, foi até lá e tirou a menina que estava acordada do berço, sorrindo para ela.

Ava? Ele não tinha certeza.

— Você é Ava? — A garotinha virou a cabeça e olhou para o outro berço.

— Libby? — Ela se virou, o rostinho radiante, e esten­deu a mãozinha para puxar-lhe a orelha. Oh, bem, pelo menos seu nariz poderia descansar. Ele a virou levemente, para que ela não pudesse alcançá-lo, e então franziu o na­riz. Humm. Ela estava com um probleminha que feliz­mente estava além da experiência dele, mas estava tudo bem... Demi não demoraria.

Ou demoraria?

— Joe?

— Estou aqui — disse ele, saindo do quarto dos bebês com Libby nos braços. — Você está feliz, agora?

— Humm. Ela parece ótima. Dei meu número e as outras informações de contato para ela, em todo caso.

— No caso de quê? De o escritório pegar fogo?

— Isso seria inútil. O que você poderia fazer, cuspir nele? Você acordou a Libby?

— Não, ela já estava acordada. Ela... bem... precisa de você.

Demi riu e apanhou o bebê, beijando-a e esfregando o nariz em seu pescoço.

— Oi, monstrinha. O papai não é mesmo um covarde? Bem, claro que parte do processo de ligação entre pais e filhos é aprender a trocar fraldas — disse ela, sem aviso prévio, e Demi poderia jurar ter visto o rosto de Joe empalidecer. — Está tudo bem, vou deixá-lo praticar com algo inofensivo — disse ela com um sorriso, e quase riu alto quando os ombros dele relaxaram de alívio.

Joe se encostou à soleira da porta e observou a uma distância segura enquanto ela cuidava de Libby; quando terminou, Demi colocou a garotinha de volta nos braços dele, e lavou as mãos. Em seguida, ela apanhou Ava do berço e a embalou enquanto procurava uma fralda limpa; Demi trocou a outra menina e colocou a fralda suja em um balde.

— São fraldas de pano? — perguntou ele, olhando um pouco mais de perto, agora que as coisas estavam sob controle.

Ela virou a cabeça e ergueu uma sobrancelha para ele.

— Não fique tão chocado.

— Eu... eu não estou chocado. Só estou surpreso. Você poderia usar fraldas descartáveis.

— Humm... São oito milhões de fraldas sendo jogadas fora por dia, e tudo indo para os aterros sanitários.

— Oito milhões? Santa Mãe de Deus!

— Só neste país. E elas não são biodegradáveis, ou seja, permanecem ali por centenas de anos.

— Como diabos você dá conta das duas de uma só vez, quando está sozinha?

— Você aprende. Cuida da que estiver precisando mais primeiro, e a outra espera um pouco. Normalmente, é Libby quem espera, porque Ava tem pavio mais curto.

— Então, ela já aprendeu a manipular você?

— Claro que sim. Puxou a você.

Ele ergueu a cabeça repentinamente, olhando para ela com uma expressão de dúvida.

— Não estou certo de que isso seja um elogio.

— E não é. Mas bebês são impressionantes. São peque­nos sobreviventes, e não levam muito tempo para apren­der as coisas. Certo, meninas, hora do café.

— Chega daquela gororoba nojenta — implorou ele.

— Não. Elas tomam um mingau instantâneo de cereais no café da manhã. É gostoso e faz muita sujeira. Vou dei­xar você limpar tudo.

Ele pareceu horrorizado, e ela quase deu outra risada.

Joe teve que aprender do jeito mais difícil, natural­mente, a não deixar a tigelinha perto o suficiente de Libby para que ela pudesse colocar a mãozinha lá den­tro. E, então, teve que aprender a segurar a mãozinha dela antes que ela esfregasse mingau no cabelo e no rosto dele enquanto ele se inclinava para limpá-la. Oh, céus, ele precisaria de um banho quando terminassem a refeição.

— Certo, monstrinha, vamos tentar de novo — disse ele. — Abra a boca.

Ele conseguiu fazer com que ela comesse a maior parte do mingau, antes de Libby decidir que já era o suficiente e cuspir nele com um sorriso alegre.

— Você é uma pequena dama — ele disse a ela, agarrando-lhe as mãozinhas sujas e limpando-lhe os dedinhos um a um, e ela riu e tentou descer da cadeira.

— E agora? — perguntou ele a Demi.

— Hora do banho.

— Banho? Parece complicado.

— E é. Vou deixar por sua conta.

— Dar banho nelas?

— Você consegue.

— Vou me vestir — disse ele, e ela riu.

— Eu não me incomodaria com isso. Você provavel­mente vai ficar ensopado.

Ele cerrou os dentes para não retrucar, carregou Libby para o andar de cima e parou ao lado da porta do banheiro.

— E agora?

— Coloque-a de bruços no chão para que ela possa engatinhar um pouco, e abra a torneira. Tome aqui, você pode cuidar de Ava, também. Vou buscar roupas para elas. Mas não tire as fraldas delas ainda; elas vão sentir frio.

Frio? Como seria possível elas sentirem frio? O ba­nheiro estava cheio de vapor. Mas elas eram muito pequenininhas. O que ele sabia sobre bebês? Quase escaldara Ava na noite anterior.

Tinha de abrir a torneira, ele pensou, e se lembrou de algo que sua mãe sempre lhe dizia: "abra a água fria primei­ro, para que nunca haja apenas água quente na banheira".

Mulher sábia.

— Ava? O que você está fazendo?

Ele arrancou a escova do vaso sanitário das mãos dela antes que a colocasse na boca, e virou o bebê para o outro lado. Então, gritou:

— Já enchi a banheira.

— Está quente?

— Não! — retrucou ele com uma ponta de sarcasmo, e ouviu-a rir.

— Tire as roupinhas delas, então. Estarei aí em um segundo.

Então, ele tirou as roupinhas de Ava, que estava indo na direção da escova novamente, e depois fez o mesmo com Libby, colocando-a de volta sobre o tapete. Em seguida, teve de resgatar Ava mais uma vez, porque a garotinha já se aproximava do vaso sanitário, e colocou-a cuidadosa­mente na água.

E ele a retirou da banheira imediatamente, quando ela deu um grito estridente.

— O que foi, agora? — Demi voou para o banheiro e arrancou o bebê dos braços de Joe. — Pensei que você tinha dito que a água não estava quente!

— E não está!

Ela se inclinou e tocou na água. Demi sacudiu a cabeça e riu fracamente, sentando-se na, beirada da banheira.

— Não. Você está certo. Pobrezinha. A água está gelada.

— Gelada?

Gelada. Ele suspirou.

— Eu não queria

— Escaldá-las? Ah, Joe, veja, use a parte interna do seu pulso. A temperatura deve estar nem muito quente, nem fria demais. É o melhor teste.

Inferno. Ele jamais sobreviveria àquelas duas semanas. Sem falar no resto de sua vida.

— Como pode ser tão difícil? — resmungou ele, baixi­nho, afastando Libby da escova do banheiro desta vez e colocando-a na banheira ao lado da irmã.

— Você vai chegar lá, Joe — disse ela, gentilmente.

— Certo, e agora? — perguntou ele, forçando-se a se concentrar na próxima aula de seu curso de pai. Finalmente, as meninas estavam limpas, secas e vestidas com peque­ninos macacões jeans e suéteres quentinhos, e Demi de­clarou que, assim que ele estivesse vestido, eles sairiam para passear, já que o dia estava lindo.

— Elas sabem andar? — perguntou ele, e ela revirou os olhos.

— Claro que não. Levaremos o carrinho.

Ele tomou um banho rápido para tirar o mingau dos cabelos. E dos olhos. E do nariz. Em seguida, vestiu-se e desceu para a cozinha.

— Certo, estamos todos prontos? Você não deveria es­tar usando jeans, Joe?

Ela olhou para ele com uma expressão pensativa.

— Não tenho calça jeans, não preciso dela.

— Oh, você precisa, sim, é claro que precisa. Como você vai engatinhar pelo chão com as meninas e o cachorro vestindo as calças de seus ternos italianos feitos à mão?

— Poderíamos ir comprar uma — sugeriu ele. — E, enquanto estamos na cidade, poderíamos ir à oficina da Mercedes e ver se podemos trocar o carro por algo mais apropriado para bebês.

— Não há nada de errado com o meu carro, Joe. E, de qualquer forma, ele não é meu, é do John!

— Não o seu carro — explicou ele, pacientemente. — O meu.

— Mas, Joe, você adora aquele carro — disse ela, sua­vemente.

— E daí? Preciso de um carro apropriado para crian­ças, Demi. Independentemente do que acontecer entre nós, vou precisar de um carro mais adequado.

— Você poderia deixá-lo aqui. E levar o meu, quando estiver com as meninas.

— Pensei que o carro fosse de Blake.

— Oh. Humm, sim, é sim. Não posso realmente em­prestá-lo a você.

Demi olhou para o carro dele e mordeu o lábio, em dúvi­da. Ela nunca dirigira nenhum dos carros esporte de Joe.

— Bem, você pode comprar outro carro, e deixá-lo aqui, para quando vier nos visitar.

Joe olhou para Demi, e desviou o olhar para esconder sua expressão, porque subitamente percebera que eles es­tavam falando como se ela fosse permanecer ali, e ele fos­se voltar para Londres sem elas. E ele não gostava nada daquilo.

*****
Eles compraram jeans e um par de sapatos casuais, além de alguns suéteres, em uma das lojas de departamentos da rua principal.

— Melhor? — perguntou ele, um tanto ranzinza, e ela sorriu.

— Muito melhor. Certo, vamos resolver o assunto do carro.

E resolveram. Foi fácil, porque a concessionária tinha um antigo modelo de demonstração disponível, que Joe poderia adquirir imediatamente, e foi o que ele fez.

*****

Em casa, Demi não resistiu; ela precisava perguntar:

— Como é Andréa? Ela parecia amável no telefone.

Ele sorriu ao ouvir aquilo, um tanto ironicamente.

— Não sei se a chamaria de "amável". Ela tem 53 anos, é magra e elegante, e assustadoramente eficiente. Ela me controla com mãos de ferro. Você provavelmente a adora­ria, mas não é a mesma coisa que ter você por perto, Demi. Você sabia exatamente o que eu queria, o tempo todo, e tudo estava lá, ao meu alcance. Eu raramente tinha que lhe dizer no que estava pensando, e às vezes nem sequer pre­cisava pensar. Sinto sua falta.

— Eu não vou voltar só porque a sua nova assistente não é tão boa quanto eu.

— Oh, ela é muito boa, mas, no fim do dia, quando terminamos o trabalho, ela não me olha como você fazia — disse ele, abaixando a voz. — Como se quisesse rasgar as minhas roupas. E eu não tiro as roupas dela no chuvei­ro e faço amor com ela contra os azulejos, enquanto a equipe de segurança tenta descobrir se alguém está sendo assassinado, com todos aqueles gritos.

Ela sentiu o rubor lhe tingir as faces ao ouvir aquilo, e sacudiu a cabeça.

— Joe, pare com isso. Foi só uma vez.

— E foi fantástico — disse ele, suavemente. E, esten­dendo a mão, tomou-lhe o rosto vermelho e ergueu-lhe o queixo, e suas bocas se encontraram em um beijo suave e terno que poderia levar tão facilmente a...

Ela deu um passo para trás, as pernas transformadas em geleia.

— Joe, não! Pare.

— Desculpe-me — murmurou ele, sem parecer nem um pouco arrependido. Ele se parecia com um gato que encon­trara um pote de creme, e ela sentiu vontade de gritar de frustração.

— E quanto àquele passeio que iríamos dar? — disse ele, o que mostrava muito bem o quanto Joe sabia sobre bebês e seus horários.

— As meninas precisam almoçar e tirar uma soneca, e eu também. Podemos dar uma caminhada mais tarde, se o tempo ainda estiver bom.

— E o que eu devo fazer, então? — perguntou ele. Demi percebeu que ele estava totalmente perdido, com tanto tempo livre nas mãos, e deu um sorrisinho malicioso.

— Você pode lavar as fraldas.

*****

Ele jamais teria mexido na bolsa dela.

Era uma daquelas regras não escritas, como falar pala­vrões na frente de senhoras, e deixar a tampa do vaso sanitário levantada, que sua mãe lhe ensinara quando ele era criança. Mas, com a casa silenciosa e todas dormindo, ele ficou ali parado, de braços cruzados, olhando para a bolsa. Era onde o celular dela estava. Era apenas um tele­fone. Apenas uma ligação. Ele poderia escapulir para o jardim, ou para o carro, e ela jamais saberia.

Ele podia ver a ponta do celular, em meio a todas as bu­gigangas que ela parecia carregar na bolsa. E aquilo era uma mudança. A bolsa de Demi sempre fora imaculadamen­te organizada antes, e agora parecia uma lixeira ambulante.

Que continha um celular.

Cuidadosamente, ele apanhou o celular com o polegar e o indicador, e tirou-o da bolsa como se o aparelho fosse mordê-lo. Ele precisava falar com Andréa, disse a si mesmo tentando justificar seu ato.

Joe examinou a agenda de telefones, e então, em um impulso, avançou até a letra "M", e lá estava ele: Joe, e número de seu celular. E o do apartamento. E o do trabalho. Ele verificou a lista de números de emergência e encontrou suas informações repetidas ali.

No telefone novo de Demi.

Por causa das meninas, ele lembrou a si mesmo, aba­fando a onda de esperança que sentia, e teve uma ideia. Se ele telefonasse para seu próprio número, o celular tocaria e ele conseguiria encontrá-lo...

Demi levantou a cabeça, olhou para o travesseiro e o afastou para o lado. O celular de Joe estava tocando; no modo silencioso, mas a vibração a alertara. E o número que aparecia no visor era o do seu próprio celular.

Que estava em sua bolsa.

— Você está trapaceando -— disse ela, atendendo a li­gação; ela ouviu um xingamento abafado e a linha emude­ceu. Reprimindo um sorriso, ela afastou as cobertas e le­vantou da cama, colocando o jeans e o suéter, correndo os dedos pelos cabelos e, descendo as escadas.

Ele estava parado ao lado da bolsa, com o celular dela na mão, com uma expressão ao mesmo tempo desafiadora e culpada, e ela sentiu uma súbita pena dele. Joe parecia tão deslocado.

Demi percebeu o quanto havia mudado, ao ponto de nem mais se reconhecer.

— Está tudo bem, Joe, eu não vou morder.

— Só vai me dar uma bronca.

— Não, não vou nem mesmo dar uma bronca em você. Vou lhe pedir, mais uma vez, para levar isto a sério. Para dar o melhor de si, e para ver se podemos fazer isto dar certo. Senão por nós, ao menos pelas meninas.

— Preciso fazer uma ligação, Demi. Há algo importan­te que me esqueci de dizer a Andréa.

— Alguém vai morrer?

— Claro que não.

— Então, não é realmente importante.

— Mas as coisas vão se atrasar por alguns dias, até que o pessoal perceba.

— Perceba?

— Há um documento que eu iria enviar por fax para Yashimoto.

— E o que é o pior que pode acontecer? Você pode perder alguns milhares de libras?

— Talvez mais.

— E isso importa? Quero dizer, não é como se você estivesse passando dificuldades, Joe. Você nunca precisaria trabalhar novamente, se não quisesse. Algumas libras, alguns dias entre uma vida inteira, não é muito a pedir, é?

— Pensei que tivéssemos tudo. Pensei que fôssemos felizes.

— E nós éramos. Mas as coisas saíram do controle, Joe. E eu não vou voltar para aquela vida. Então, se você não for capaz de fazer isto, não conseguir delegar tarefas e tirar um tempo de folga para passar com sua família, nós não temos um futuro. E, para ter um futuro, precisamos ser capazes de confiar um no outro.

Ele não se moveu por um momento, e suspirou suave­mente, atirou o celular dela dentro da bolsa e se endireitou.

— Então é melhor você me mostrar como a máquina de lavar funciona, não é?

— Seria um prazer — respondeu ela, quase tonta de alívio. E, levando-o para a lavanderia, apresentou-o ao novo conceito de lavar as roupas em casa.

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Desculpa a demora meninas. Fiquei meio presa num trabalho do colégio. Mas aqui estou eu. Estão gostando? 
xoxo

26.7.15

Dois Pequenos Milagres - Capitulo 2

Ele deixou o chalé para pegar uma camisa seca no carro, e ela olhou para ele através da janela, com a mão sobre a boca.

Ele iria ficar?

Oh, Deus. Ficar ali? Não, ele não podia ficar ali, não com ela! Ela não poderia deixá-lo ficar porque ela o co­nhecia, conhecia aquela expressão em seus olhos, sabia o quanto era vulnerável ao seu fascínio. Ele só precisava tocá-la para que ela cedesse.

Mas a verdade era que Demi estava chocada com a mu­dança de Joe.

Ele perdera peso; ela estava certa disso, sentira seus mús­culos tesos sob seus dedos enquanto passava o gel sobre a pele avermelhada dele. Alguns fios de cabelo grisalho nas têmporas haviam aparecido, e ele aparentava cada um de seus 38 anos. Joe envelhecera no último ano mais do que envelhecera em todos os anos em que estiveram juntos, e ela sentiu outra pontada de culpa, apesar de dizer a si mesma que não era sua responsabilidade se ele não se cuidava. Demi não esperava vê-lo tão, tão desolado.

— Há um pub ou algum lugar onde eu possa ficar? — perguntou ele, voltando para a cozinha e abaixando-se para abrir sua mala, tirando dela um suéter macio e vestindo-o, depois de tirar sua camisa molhada.

Ela abriu a boca para dizer que sim, mas algum gênio do mal assumiu o controle, porque tudo que conseguiu dizer foi:

— Não seja bobo, você pode ficar aqui, há quartos so­brando.

— Mesmo? Você não está preocupada em comprome­ter sua reputação na aldeia?

Ela riu.

— É um pouco tarde para se preocupar em me compro­meter, Joe. Você fez isso quando me engravidou. E, fran­camente, não ligo para o que os outros pensam;

Ele franziu a testa, e voltou sua atenção outra vez para a mala, fechando o zíper e deixando-a de pé em um canto.

— E quanto a Blake? — perguntou ele.

— Quanto a ele? Apenas cuido da casa dele. Estou au­torizada a receber visitas, está no meu contrato.

— Você tem um contrato?

— Bem, é claro que tenho um contrato! — disse ela. — O que você acha, você pensa que eu estaria vivendo na casa de um homem sem um propósito? Ele é amigo de Jane e Peter, e estava procurando alguém para cuidar da casa. Não se preocupe, está tudo sob controle.

— A senhora na agência do correio pareceu pensar di­ferente.

— A senhora na agência do correio precisa cuidar da própria vida — disse ela. — De qualquer forma, como eu já disse, ele é gay. Você está com fome?

Ele franziu a testa.

— Com fome?

— Joe, é hora de jantar — disse ela, sentindo-se mal ao pensar que ninguém cuidava dele, obrigava-o a traba­lhar menos e a comer nos horários certos. Ninguém estava cuidando dele, aquilo era claro. E mais claro ainda: ele não se cuidava sozinho. Joe parecia exausto, havia círcu­los negros ao redor de seus olhos, seus rosto estava encovado e aquele sorriso fácil e adorável se fora sem deixar vestígios.

Ela sentiu lágrimas surgirem em seus olhos e se virou.

— Temos frango na geladeira.

— Nós não podemos sair?

— Aonde iríamos com as gêmeas? Não posso apenas sair, Joe. Isso é uma operação militar e não tenho acesso instantâneo a uma babá.

— Servem comida no pub?

— Sim. E boa, por sinal. Você poderia ir até lá.

— Eles fazem comida para viagem?

— Duvido muito. Por que você não vai até lá? Fica do outro lado do rio. Você vai levar dois minutos a pé. Ou você poderia comer lá, se você estiver preocupado que eu vá envenená-lo.

Ele ignorou a tentativa de piada dela.

— Eles têm um cardápio?

— Têm. Eles são muito bons, a comida é excepcional. Você poderia escolher alguma coisa e tomar um drinque enquanto eles preparam. Deve levar uns 20 minutos.

E ela poderia tomar um banho e vestir algo que não cheirasse a vômito de bebê e pomada de assadura, pentear seus cabelos e colocar alguma maquiagem. Não, maquia­gem não; ela não queria parecer muito desesperada.

— É um pouco cedo. Eu poderia ir mais tarde.

— Acontece que mais tarde os bebês podem ter acordado, e, acredite em mim, é mais fácil comer quando elas estão dormindo. Além disso, o pub só fica aberto até as 9h da noite e, de qualquer forma, estou faminta; me esqueci de almoçar.

Ele continuou hesitando, mas então deu em breve ace­no de cabeça, encolheu os ombros, vestiu sua jaqueta e foi até a porta.

— Alguma sugestão?

— Ah, Joe, você sabe do que eu gosto.

No pub, Joe bebeu uma cerveja lentamente e exami­nou o cardápio. Ele sabia do que ela gostava. Bem, costu­mava pensar que sim. Café com leite desnatado e com um toque de essência de baunilha, chablis bem gelado, cho­colate amargo, filé de peixe com legumes ao vapor, san­duíche de bacon, croissants de amêndoas, pudim de leite com muito creme e acordar nas manhãs de domingo para fazer amor com ele até a hora do almoço. Ele sabia como arrancar até o último suspiro dela, como fazê-la suplicar e pedir por mais, por aquele último toque, por aquele último movimento que a levaria gemendo ao êxtase.

— Está pronto para pedir, senhor?

Ele apertou os olhos brevemente, e então olhou para a garçonete.

— Humm... Sim. Eu vou querer o filé, por favor, e o salmão. Para viagem, você pode fazer isso para mim? Eu sei que vocês não costumam fazer isso habitualmente, mas não temos uma babá e, bem, vocês já terão fechado quando conseguirmos sair para jantar. — Ele deu a ela seu melhor sorriso.

— Certamente podemos fazer isso, senhor — disse ela, um pouco sem fôlego, e ele odiou a si mesmo pela peque­na pontada de orgulho que sentira, porque ainda podia fa­zer as garotas ficarem encantadas com um simples sorriso.

— Oh, e eu poderia dar uma olhada na carta de vinhos? Gostaria de levar umas duas garrafas, se possível.

— Claro, senhor! Vou levar isso para a cozinha e trago a carta de vinhos.

Ela estava de volta em alguns minutos, e ele escolheu um tinto e um branco, pagou a conta e esperou. Engraçado. Ainda ontem, ele estaria muito ocupado para esperar pela comida. Mas, esta noite, depois de ter dado alguns telefone­mas e checado seus e-mails em seu Smartphone BlackBerry, ele estava satisfeito em sentar em um pub lotado e pensar sobre o que fora o dia mais importante da sua vida. Exceto...

Mas ele não queria pensar naquele outro dia, então en­terrou esse pensamento, bateu os dedos de leve e esperou...

*****

— O jantar estava ótimo. Obrigada, Joe. Foi realmente uma boa ideia.

— Estava tudo bom? Meu bife estava sensacional, mas fiquei inseguro sobre o que você gostaria, confesso.

Ela sentiu um sorriso chegando e não pôde impedir.

— Você não é o único. Frequentemente também não sei o que quero.

Os olhos dele voltaram a ficar sombrios enquanto ele a observava.

— Foi por isso que você não entrou em contato comigo? Por que você não conseguiu decidir se era a coisa certa a fazer?

— Provavelmente. Mas você apenas não me ouviria, então não consegui achar um bom motivo para tentar en­trar em contato com você. Mas você também não tentou falar comigo.

— Eu tentei! Seu número estava bloqueado e eu não fazia ideia do porquê.

— Meu telefone foi roubado. Mas foi o mesmo até junho.

— Eu estava esperando que você me ligasse. Pensei que se eu lhe desse espaço você me procuraria. E, quando você não ligou, uma parte de mim pensou: "dane-se". Não sabia onde você estava, o que estava fazendo. Isso estava me matando. Então, liguei e não consegui falar com você. E você não estava gastando nenhum dinheiro, não estava usando a nossa conta.

— John paga as minhas despesas com a casa e o carro.

— Muito generoso — rosnou ele.

— Ele é. É um bom homem.

Ele trincou os dentes ao pensar que outro homem a esti­vesse sustentando. Bem, pensou, era apenas um trabalho.

— Ele foi maravilhoso comigo — continuou ela. — Foi realmente compreensivo quando os bebês nasceram, e conseguiu um amigo para ficar aqui em meu lugar até que eu estivesse apta a voltar para casa.

— Casa?

— Sim, casa. Este lugar é uma casa para nós; por en­quanto, pelo menos.

Ela não contou a ele que John retornaria em breve e ela teria que encontrar outro lugar. Deixou que ele pensasse que estava tudo certo e que ela não tinha preocupações, ou ele usaria isso para tentar algum tipo de reconciliação. E ela não poderia aceitar tê-lo de volta à sua vida até que tivesse certeza de que estava pronta.

— E eu disse a mim mesmo que você entraria em con­tato se precisasse de mim. Eu me obriguei a lhe dar espa­ço, a dar um tempo para que você escolhesse o que queria. Você disse que precisava de tempo para pensar, mas eu não perguntei de quanto tempo. Caso precisasse de muito, então nós provavelmente não tivemos nenhuma importân­cia para você, e eu seria rejeitado se fraquejasse e lhe te­lefonasse. Mas, como você não entrou em contato, contra­tei um detetive.

— Um detetive?! Você mandou me espionar?

— Eu estava muito preocupado com você. E, de qual­quer forma, como diabos você pensa que eu a encontrei? Não foi por acidente, de jeito nenhum.

— Bem, não pelo seu próprio esforço, com certeza — disse ela, elevando a voz, ignorando outra pontada de culpa. — Você devia estar muito ocupado para fazer esse tipo de coisa por si mesmo. Estou surpresa por você estar aqui agora, na verdade. Você não deveria estar em algum lugar mais importante?

Ele deu a ela um olhar frio.

— Bem, Joe, quando você descobriu que eu estava aqui?

— Hoje. Esta tarde, às 14h30 ou algo assim.

— Hoje? — disse ela surpresa. — Então você veio di­reto para cá?

Ele encolheu os ombros.

— O que você pensou que eu faria? Esperaria você de­saparecer outra vez? É claro que eu vim direto para cá, eu queria respostas.

— Respostas?

— Sobre quem é o pai das meninas.

— Você sabe que elas são suas! Você não deveria estar nem um pouco surpreso. Eu espero que seu detetive parti­cular tenha tirado muitas fotos. E, de qualquer forma, por que você se importaria? Você me disse tantas vezes que não queria filhos. O que mudou, Joe? O que levou você a percorrer todo esse caminho em pleno inverno para me perguntar sobre o pai das meninas?

— Você venceu — disse ele, bruscamente. — Senti sua falta, Demi. Volte para mim.

— Não é assim tão simples.

— Oh, você vai começar com aquela história do meu estilo de vida outra vez, não vai? — disse, revirando os olhos e deixando escapar um suspiro de irritação,

— Bem, sim. Você obviamente não mudou, está com uma aparência horrível, Joe. Quantas horas você dormiu na noite passada?

— Quatro horas— admitiu ele de má vontade, pare­cendo um pouco desconfortável.

— Quatro horas de sono, ou quatro horas no apartamento?

— De sono — disse ele, mas parecia desconfortável novamente, e ela teve a intuição de que ele estava escon­dendo alguma coisa, e sentiu que sabia o que era.

— Joe, quantas horas você está trabalhando em mé­dia? Quinze, dezoito, vinte? — acrescentou ela, olhando cuidadosamente para ele, e percebeu um movimento rápi­do nos olhos dele quando acertou.

— Joe, seu idiota, você não pode fazer isso! Você pre­cisa de mais do que quatro horas de sono por dia! E onde você está dormindo? No apartamento ou no escritório?

— Por que você se importa? — perguntou ele, sua voz repentinamente amarga, então levantou a cabeça e a ful­minou com os olhos. — Que diabos importa para você se estou tentando acabar comigo mesmo?

— Tentando? — caçoou ela, mas em seguida desejou não ter feito isso, porque, com a voz rude, ele respondeu com uma honestidade que lhe partiu o coração.

— Tentando esquecer você. Tentando ficar acordado tempo o suficiente para cair no sono completamente exausto e não pensar sobre você, se está viva ou morta.

Ela respirou fundo.

— Joe, por que você pensou que eu estava morta?

— Porque eu não soube mais nada sobre você! — ralhou ele, jogando-se em uma cadeira e olhando ao redor da cozinha, as emoções contidas fazendo seu corpo estre­mecer. — O que eu ia pensar, Demi? Que você estava bem e tudo estava bem sei lá onde? Não seja tão ingênua. Você não estava movimentando nosso dinheiro, seu telefone não estava funcionando, você poderia estar jogada numa vala. Passei dias procurando por você, telefonando para qual­quer um de quem eu me lembrasse, fazendo o detive in­vestigar mais e mais, trabalhando até chegar ao fim do dia tão cansado que não tinha mais nenhuma energia ou emo­ção. — Ele parou e olhou em volta, girou sobre os calca­nhares e bateu a mão contra a parede, enquanto ela olhava para ele, espantada com a dor em suas palavras, dor que fora causada por ela. Não ter energia ou emoção para o quê? Ele também chorava sozinho, como ela fazia?

Não. Não Joe. Será que não?

Ela se levantou e foi até ele, seus passos silenciosos no chão de pedras, e colocou a mão em seu ombro.

— Joe, sinto muito — sussurrou ela.

— Por que, Demi? — perguntou ele, sua voz como pe­dra. — Por quê? O que eu fiz de tão ruim para que você me tratasse desse jeito? Como você pôde não me contar que eu ia ser pai?

— Eu quis, mas você sempre foi contra ter filhos.

— Porque você não podia ter e porquê...

— Porquê...?

Ele sacudiu a cabeça.

— Não importa. Isso é irrelevante agora, mas nós esta­mos falando na teoria, aqui, não na prática. Quando você descobriu que estava grávida, quando você soube?

Ela engoliu em seco.

— Quando você estava indo para Tóquio. Jane meio que adivinhou e me deu um teste de gravidez.

Os olhos dele ficaram arregalados.

— Todo esse tempo? Você soube desde o primeiro mi­nuto e escondeu isso de mim? Demi, como? Por quê?

— Eu não imaginei que você quisesse saber. Eu quis contar a você. Eu quis muito que você estivesse aqui co­migo, para participar disso.

— Eu poderia ter estado — disse ele asperamente, seus olhos atormentados. — Eu poderia ter estado com você cm cada momento se você tivesse me dado a chance.

— Mas só quando você não estivesse muito ocupado. Ele olhou em volta.

— Eu não estaria muito ocupado nesse caso.

— É claro que estaria.

— Não, não para algo assim. Você deveria ter me dado chance de escolher, Demi, e não ter tomado a decisão sem o meu conhecimento. Você não estava certa em fazer isso.

Ele estava certo, claro. Tão certo, e sua raiva e mágoa naquele último momento a atravessaram. Ela quis abra­çá-lo, colocar seus braços em torno dele, mas não tinha mais direito de fazer isso. Como confortá-lo por uma dor que ela mesma causara? E, de qualquer forma, não havia garantias de que ele não a rejeitaria, e ela não teria supor­tado uma dor daquelas. Então, ele buscou e encontrou os olhos dela, e ela soube que ele jamais a rejeitaria. Ela es­tava presa em seu olhar triste, incapaz de respirar por causa das emoções que fluíam através dela.

Ele estendeu a mão e tocou em sua face ternamente, e ela sentiu que os dedos dele estavam trêmulos.

— Eu preciso de você — disse ele em voz baixa. — Eu a odeio pelo que você me fez, mas, maldita seja, ainda preciso de você. Volte para mim. Por favor, volte para mim; vamos construir uma vida juntos. Nós podemos re­começar.

Ela deu um passo para trás, suas pernas parecendo geleia. Se fosse tão simples...

— Não posso. Não para aquela vida.

— Para qual vida, então, Demi? Ela encolheu os ombros.

— Eu não sei. Ainda não sei. Apenas não aquela. Não para aquelas viagens sem fim ao redor do mundo, aquela corrida por dinheiro, a excitação do mercado de ações, as aquisições arriscadas, o desespero para estar no topo da lista dos mais ricos. Não quero isso nunca mais, Joe, e mais importante: não posso fazer isso. Não quando tenho dois bebês que precisam de mim. Foi por isso que eu deixei você e nada mudou, não é? Você de­veria estar em algum outro lugar agora. E, apesar de estar aqui, aposto o que for que você estava dando tele­fonemas agora há pouco lá do pub, para checar se está tudo bem na empresa. E aposto que, mais tarde, depois que eu for para a cama, você ainda irá fazer mais telefo­nemas, cuidar de outros assuntos. Estou certa? — Ela deu um passo para trás e ele suspirou e concordou com a cabeça.

— Sim, droga, você está certa, claro que você está certa, mas eu tenho um negócio para tocar.

— E uma equipe. Uma boa equipe. Algumas pessoas excelentes, que são mais do que capazes de manter as coi­sas funcionando. Se você deixar, Joe. Dê uma chance para que eles possam provar, e tire um tempo para conhe­cer suas filhas.

— Tempo? — perguntou ele com cautela.

— Duas semanas. Duas semanas aqui, comigo, sem te­lefones, sem notícias, sem papéis, sem computador ou e-mails ou correspondência, apenas nós. Umas férias, você sabe, uma daquelas coisas que você nunca teve? Você, eu e os bebês, para ver se há algum jeito de sermos uma família.

Ele estava balançando a cabeça.

— Não posso tirar duas semanas, não assim. Não sem ter alguma espécie de contato com minha equipe, meus negócios.

— Joe, a única coisa que sei é que, se vamos tentar, tem que ser assim. Olhe, não tenho mais forças para dis­cutir sobre isso. Foi um dia terrível, estou exausta. Es­tou indo para a cama e sugiro que você faça o mesmo. Fique com o quarto ao lado do quarto dos bebês, já está tudo pronto. E pense sobre o que eu disse. Se você real­mente está falando sério sobre nós voltarmos a ficar juntos, quero essas duas semanas. Sem compromissos, sem trapacear, sem quebrar as regras. Apenas você, os bebês e eu. Telefone para sua assistente e resolva isso pela manhã.

— Ei, isso pareceu ser uma ordem!

— Apenas cumpra o regulamento. Ou você está com­prometido com isso ou não está.

— Apenas me dê um único motivo. Ela riu suavemente.

— Posso lhe dar dois. E, se você quer fazer parte da vida delas, fará isso. Porque eu não vou sujeitá-las a um pai ausente que não tem compromisso com sua família e não sabe a diferença entre casa e trabalho.

Joe olhou para ela por um longo momento e, então, cedeu.

— Tudo bem, vou ligar para Andréa de manhã e forma­lizar a coisa toda. Você terá suas duas semanas. Mas não se engane, estou fazendo isso pelas crianças, elas mere­cem mais do que um pai ausente. Mas vai levar muito tempo antes que eu possa perdoar você por me privar dos seus primeiros meses, e por manter algo tão imensamente importante escondido de mim. Não espere que eu seja sempre doce e compreensivo. Ainda estou com tanta raiva de você que nem consigo encontrar palavras para descre­ver o que sinto.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Eu sei. E sinto muito. Não machuquei você por mal­dade. Eu ainda amo você.

— Então volte para mim.

— Não. Não dessa forma. Isso não é o suficiente. Que­ro saber se podemos ser uma família. Se podemos recons­truir nossa vida, cuidar dos bebês juntos, criar nossas filhas em um lar feliz. Vamos ver, Joe. Vamos ver.

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Infelizmente com essa fic não da para fazer maratona, talvez a próxima que eu poste tenha maratona. Mas só vai depender de vocês. Comentem pro próximo.
xoxo

25.7.15

Dois Pequenos Milagres - Capitulo 1

— Eu a encontrei.

Joe congelou.

Essa era a notícia que ele esperava desde junho, mas, agora que ela finalmente chegara, ele quase tinha medo de formular a pergunta necessária.

— Onde?

— Em Suffolk. Ela está instalada em um chalé.

Instalada. Ele respirou fundo profundamente. Todos aqueles meses em que ele temera por ela...

— Ela está bem?

— Sim, está.

Joe teve que se obrigar a continuar tendo aquela conversa.

— Sozinha?

O homem fez uma pausa.

— Não. O chalé pertence a um homem chamado John Blake. Ele está trabalhando fora do país no momento, mas, eventualmente, ele volta.

Meu Deus. Ele se sentiu mal. Tanto que mal registrou o que o homem disse a seguir.

— Demi tem o quê?

— Bebês. Gêmeas. Duas meninas de aproximadamen­te oito meses.

— Oito... — balbuciou ele, sem conseguir raciocinar direito. — Bem, então ele tem filhos?

— Até onde pude apurar, não — afirmou, categórico, o investigador particular que Joe contratara. — Deduzi que as meninas são dela. Ela está lá desde meados de ja­neiro do ano passado e os bebês nasceram durante o ve­rão, em junho, segundo a senhora que trabalha na agência do correio. Ela foi de grande ajuda. Acho que houve certa especulação no vilarejo acerca do relacionamento entre Demi e o tal homem.

Joe podia apostar que sim. Que Deus o ajudasse ou ele mataria Demi. Ou o tal Blake. Talvez ambos.

— Claro que, examinando as datas, é possível imagi­nar que ela já estivesse grávida quando deixou você. Isso quer dizer que as meninas poderiam ser suas. Ou isso, ou ela já vinha tendo um relacionamento com Blake há al­gum tempo.

Joe encarou o imprudente investigador.

— Atenha-se ao seu trabalho, deixe que as contas eu mesmo faço.

Ele não queria nem pensar na possibilidade de Demi ter sido infiel a ele.

— Onde ela está? Quero o endereço.

— Todos os dados estão aqui — disse o homem, entre­gando a Joe um grande envelope pardo. — Fiz relatórios de todas as etapas.

— Vou examinar tudo. Muito obrigado.

— Se houver mais alguma coisa que precise, Sr. Gallagher, alguma informação adicional.

— Entrarei em contato.

— A senhora na agência do correio me disse que Blake está ausente por estes dias — disse o investigador antes de sair.

Joe encarou o envelope por alguns instantes antes de abri-lo.

As fotos tiradas pelo investigador foram a primeira coi­sa que viu.

Deus, Demi estava linda. Um pouco diferente, mas lin­da. Ele levou um momento para reconhecê-la, porque o cabelo dela crescera e ela o usava preso em um rabo de cavalo. Aquilo fazia com que ela parecesse mais jovem. Os tons alourados haviam desaparecido e ela voltara a ter os cabelos castanhos-dourados. Os cabelos que ele queria tanto afagar.

Ela ganhara algum peso, mas aquilo só a deixara mais bela. Ela parecia bem, feliz, e continuava muito bonita, porém, estranhamente, considerando quão desesperado ele estivera por notícias dela no último ano; um ano, três semanas e dois dias, para ser exato. Mas não foi a imagem de Demi que prendeu a atenção de Joe, passado o choque inicial. Foram os bebês. Em uma das fotos, elas estavam sentadas lado a lado em um cercadinho de supermercado.

Duas lindas meninas. Idênticas. Seriam dele? Com a mais absoluta das certezas. Bastara apenas um olhar para o ca­belo escuro e espetado das meninas para saber que elas eram dele. Era como olhar para uma foto sua quando me­nino. Demi estava bem. Bem e linda. E tinha duas filhas. Dele. Meninas que ele jamais conhecera, das quais não fora informado. Como ela ousara não contar a ele sobre as filhas?

O peso de papel estilhaçou o vidro da janela, e os caquinhos de vidro se espalharam pelo chão. Ele escondeu o rosto nas mãos e contou até dez.

— Joe?

— O investigador particular a encontrou. Em Suffolk. Preciso ir até lá.

— Claro, claro que sim — disse sua assistente. — Mas espere um minuto, acalme-se. Vou fazer uma xícara de chá para você e pedir que alguém faça sua mala.

— Tenho uma mala pronta em meu carro. Cancele mi­nha viagem para Nova York, Aliás, cancele tudo, pelos próximos dois dias. Desculpe-me, Andréa, mas não quero chá. A única coisa que quero é ver minha... mulher.

E os bebês. Seus bebês.

— Faz mais de um ano, Joe. Dez minutos não farão diferença. Você não pode dirigir no estado em que está. Precisa se acalmar, refletir, pensar no que quer dizer. Do jeito que você está, vai deixá-la apavorada. Sente-se. Muito bem. Você almoçou?

— Almoço? — Ele encarou sua assistente. Maternal, eficiente, mandona, organizada e, ele via agora, muito, muito bondosa. Ela pediu que mandassem comida para a sala dele e olhou as fotos sobre a mesa.

— Essa é Demi?

— Sim.

— E os bebês?

— Ah... Interessante, não? Ao que tudo indica, sou pai. E ela nem se deu ao trabalho de me avisar. Bem, ou isso, ou ela teve um caso com meu gêmeo idêntico que desco­nheço, porque as meninas são a minha cara.

A comida chegou e Andréa colocou a bandeja sobre a mesa dele. Depois disso, ela se virou e o abraçou.

Por um momento, Joe não soube o que fazer. Fazia tanto tempo que ele não recebia um abraço que o choque não o deixou reagir. Mas, em seguida, ele ergueu seus bra­ços e a abraçou de volta, e o calor do contato o envolveu e o confortou. Obrigando-se a não chorar, ele se afastou dela e voltou-se na direção da janela.

— Meu Deus, elas são mesmo a sua cara! Bem, beba seu chá, coma seu sanduíche. Pedirei que David traga seu carro.

O carro dele. Uma belezinha esportiva de dois lugares, baixo, sexy e com espaço nenhum para acomodar duas cadeirinhas de bebê. Tudo bem. Ele providenciaria um carro adequado.

*****

Com o vento gelado de fevereiro soprando, durante as duas horas seguintes Joe dirigiu na direção do lugarejo onde Demi vivia agora, vasculhando as teias de aranha em sua mente, tentando decidir que diabos diria a ela.

Ao cruzar uma ponte antiga, de pedra, ele prendeu a respiração ao ver Mia, emoldurada pela janela da sala de estar de um chalé harmonioso, com telhado de sapé. Ela estava com um bebê em seus braços.

— Shhh, Ava, que boa menina! Não chore, querida. Ah, olhe ali, alguém está vindo para cá! Vamos ver quem é? Pode ser a tia Jane!

Ela se aproximou da janelão para enxergar melhor quem estava dentro do carro e foi então que achou que fosse desmaiar.

Joe? Mas como?

Ela se sentou abruptamente no velho sofá, ignorando o bebê que choramingava em seu ombro e o outro bebê, que dormitava calmamente no cercadinho.

Tudo que ela conseguia fazer era ficar sentada ali, en­carando Joe através do vidro, enquanto ele descia do carro, batia a porta, andava lentamente na direção da casa e entrava em sua varanda. Ele tocou a campainha, tenso, as mãos nos bolsos da calça.

Ainda que ela chorasse durante o sono, de saudade dele, ainda que, cada vez que olhava as filhas, ela se lembrasse dele, ainda que sentisse uma enorme tristeza sabendo que elas não conheceriam o próprio pai, Demi sabia ter feito a coisa certa. Como contar a ele sobre os bebês, depois de tê-lo ouvido dizer tantas e tantas vezes que filhos eram a última coisa que queria?

Murphy, o cão, foi até a porta e latiu. Ava parou de choramingar e deu um gritinho, o que fez com que Joe olhasse pelo janelão enquanto esperava. Os olhos dele encontraram os de Demi. Ah, eles estavam tão próximos. Ela estava ali, do outro lado do vidro, com seu cão e seus bebês, e ele não sabia como agir.

Joe tentou sorrir, mas não conseguia se lembrar de como fazer isso. Ela parecia exausta, mas ele nunca vira ninguém mais bela.

Ela veio até a porta, que foi aberta com um rangido. E lá estava Demi, pálida, linda, parecendo tão cansada, mais linda do que jamais a vira, com um bebê no colo e um enorme labrador ao seu lado.

— Olá, Joe.

Olá, Joe? Era tudo que Demi tinha a dizer depois de um ano e dois bebês? Joe sentiu-se decepcionado, arra­sado. Todo aquele ano de solidão, desespero e terror pas­sou por ele em um segundo e ele quis reagir, brigar e ar­mar uma cena. Mas as palavras de Andréa o alcançaram e ele tratou de se acalmar. Ele podia fazer aquilo, pensou. Ele era capaz de lidar com a situação.

— Olá, Demi.

*****

Olá, Demi? Demi, e não Demi, ela notou. Bem, então seria assim. Era uma mudança. Ela se perguntava se algo mais mudara. Provavelmente, não o suficiente. Demi se recom­pôs, endireitou-se, tomando o controle da situação e de seu corpo, que tremia.

— É melhor você entrar. — O que mais ela poderia fazer? Ele aparecera ali na sua porta, sem aviso nenhum, e era melhor lidar logo com a situação. — Feche a porta para que o calor não se perca — disse ela a ele.

*****
Ele a seguiu até a cozinha, seus passos fazendo barulho, enquanto Murphy farejava em volta dele, batendo a cauda nas paredes e móveis.

— Isso é tudo que você tem a dizer? Um ano sem uma palavra sequer e o que você me diz? "Feche a porta?"

— Estou tentando manter os bebês aquecidos — disse ela, e os olhos dele imediatamente buscaram pelas crian­ças, enquanto seu rosto ostentava uma expressão indeci­frável. Consciente da importância daquele momento, ela disse:

— Esta é Ava. — E gesticulou com sua mão livre na direção na direção do bebê no cercadinho. — E aquela é Libby.

Ao ouvir seu nome, Libby ergueu a cabeça e sorriu.

— Ma-ma — disse ela, erguendo os bracinhos, abrindo e fechando as mãos, pedindo para ser pega no colo. Demi deu um passo na direção dela, mas então parou e olhou para Joe, com o coração disparado.

— Bem, vá até lá. Pegue sua filha no colo. Acho que é por isso que você está aqui, não é?

Joe estava muito abalado.

Sua filha...

Oh, meu bom Deus. Fazia séculos que ele não segurava um bebê no colo. Ele nem mesmo estava certo de ter se­gurado um bebê tão novinho. Ele estava apavorado, com medo de deixá-la cair.

Joe tirou o casaco, que pendurou nas costas de uma cadeira, depois foi até o cercadinho e ergueu a garotinha em seus braços.

— Ela é tão leve! Pensei que fosse mais pesada.

— Ela é apenas um bebê, Joe. E, de qualquer forma, gêmeos são menores. Mas elas são muito saudáveis. Diga "olá" para o papai, Libby.

Papai?

— Pa-pa!— disse ela e, esticando a mãozinha, agarrou o nariz de Joe e puxou-o com força.

— Ai!

— Libby, seja boazinha — disse Demi. Ela mostrou a ele como segurá-la e depois lhe entregou Ava. — Aqui estão. São as suas meninas.

Ele olhou para elas, perguntando-se como, em nome de Deus, ela conseguia diferenciar uma da outra, porque, para ele, eram idênticas. E elas tinham um cheiro delicioso; ele nunca sentira algo assim. Ava e Libby, ao mesmo tempo, ergueram suas cabecinhas para encarar o pai com seus enormes olhos azuis, sorrindo para ele. Ele se sentiu zonzo de amor.

— Joe, aqui, venha, é melhor você se sentar — disse Demi com a voz carregada de emoção. Ela puxou uma ca­deira e fez com que ele se acomodasse ali, antes que suas pernas, que tremiam, não pudessem mais sustentá-lo. Ele parecia atônito e as meninas também estavam claramente fascinadas por ele, passando as mãozinhas em seu rosto, puxando seu nariz e suas orelhas e sorrindo, enquanto Joe se deixava ficar sentado ali, apaixonado demais para esboçar qualquer reação.

Joe olhou para Demi e ela notou que, por trás do en­cantamento, havia uma raiva surda e latente, uma espécie de força avassaladora que ela nunca vira. Ódio.

Ele a odiava.

— Vou fazer um chá — disse Demi, procurando desesperadamente por algo que a ocupasse. Mas, naquele momento, Ava começou a chorar de novo e Libby também choramin­gou, para acompanhar a irmã. Então, ela deixou o cadeirão de lado e pegou Ava do colo de Joe. — Venha, querida — murmurou. A verdade era que seus seios já estavam cheios de leite, e doloridos e os bebês precisavam ser alimentados. E Joe, que conhecia seu corpo melhor do que ninguém, estava sentado ali, encarando-a com seus olhos negros.

— Tenho que alimentá-las — disse Demi, e Libby co­meçou a gritar.

— Vou ajudá-la.

— Não acho que você possa. Você não tem o equipa­mento.

— Ah... — disse ele, entregando Libby para ela. — Bem, nesse caso...

— Sente-se, Joe — disse ela, içando com um movi­mento de cabeça o banco acolchoado junto à janela da sala. Não havia por que adiar aquilo. E, de qualquer for­ma, ele não veria nada que já não tivesse visto antes. Ela se sentou ao lado dele, ajeitou as almofadas do banco para acomodar os bebês e abriu seu sutiã de amamentação. Joe não sabia para onde olhar.

— A água da chaleira deve estar fervendo. Eu adoraria um chá.

— Ah... Claro.

Ele foi até a cozinha e se atrapalhou um pouco, sem saber onde apoiar a chaleira quente. No balcão. Bem, po­dia ser. Mas aquele era um sistema ridículo. Por que ela não tinha uma chaleira elétrica como a do apartamento deles?

Apartamento deles?

Será? Depois de um ano?

— Onde estão as canecas?

— No armário acima da pia. E o leite está no refrigera­dor. Ponha um pouco de água fria no meu, por favor.

Ele colocou os saquinhos de chá nas canecas, espantou o cão para longe dele, achou o leite na geladeira e ser­viu-o, para depois tropeçar pela milésima vez no cão e, entrando na sala, tentar entregar uma caneca para Demi.

— Obrigada, pode pôr em cima da mesa. Já vou beber. Ele hesitou sobre o que fazer a seguir, constrangido. As crianças mamavam com sofreguidão. Os seios de Demi estavam maiores do que de hábito, cheios de veias azuis, e ele estava fascinado. Aquela cena parecia tão maravilhosa para ele. E ele se sentiu excluído, privado de algo muito importante.

Enganado.

Furioso.

— Joe?

Ele a encarou.

— Você poderia pegar Ava para mim, por favor? Ela precisa arrotar, você pode andar pela sala com ela? Ah, sim, cubra seu ombro com esse paninho. Se ela regurgitar, pode sujar sua camisa. — E então ele a pegou, sua precio­sa, preciosa menina. Sua filha. Ela estava sorrindo de novo, linda, dando risadinhas. Ele limpou sua boquinha e sorriu para ela.

— Ei, gracinha! — disse ele, num tom pouco habitual, cheio de carinho, enquanto ela ria e agarrava o nariz dele. — Ei, coisinha fofa, devagar — murmurou Joe. Ele pe­gou sua caneca de volta e já ia levá-la à boca, quando o bebê agarrou a caneca, virando seu conteúdo sobre ele. Sem pensar sobre o que fazia, ele a segurou o mais longe de si que pôde, enquanto o líquido quente se espalhava por seu peito, fazendo-o abafar um grito de dor. Ah, meu Deus, eles precisavam de água fria. Bem fria. Ele correu para a pia e colocou a mãozinha dela embaixo da água da torneira. Demi colocou Libby no carrinho e correu atrás deles.

— Dê o bebê para mim — disse ela. Ava não se ferira, mas poderia facilmente ter saído machucada. Demi se des­controlou.

— Que diabos você pensou estar fazendo? Jamais pe­gue algo fervendo quando tiver um bebê em seu colo!

— Perdão. Eu não pensei que... Ah, Deus, ela está bem? Ela precisa ir para o hospital?

— Não, ela não foi atingida. E não graças a você.

— Nunca me ocorreu que fosse tentar pegar a caneca de chá!

— Você deveria ter pensado nisso!

— Mas ela não se machucou!

— Somente pela Graça Divina! Não, não querida, não chore. Calma.

— Ah, perdão. Demi, desculpe-me, por favor.

— Olhe, segure Ava um pouquinho, vou pegar roupas secas para ela. Ela se molhou com a água da torneira. Joe, ela está bem. Ela só chorou de susto. E desculpe-me por ter gritado, só de pensar no que poderia...

— Oh, meu Deus.

— Fique tranquilo, Joe. Foi um acidente. Aqui. Pegue o bebê.

Joe não moveu um músculo, apenas ficou ali parado segurando o bebê, até que Demi voltasse com roupinhas pequeninas e lindas e pegasse o bebê de volta.

— Você pode dar uma olhada em Libby, por favor? Ele se recompôs.

— Você confia em mim?

— E por que não confiaria? Você é o pai delas.

— Sou?

— Ora, Joe, é claro, quem mais seria?

— Não sei, talvez pudéssemos fazer um teste de DNA. Ela ficou pálida.

— Por quê? Eu não mentiria a respeito disso. E não quero seu dinheiro.

— Eu não estava pensando sobre questões financei­ras, estava pensando sobre paternidade. E eu não teria pensado que você mentiria sobre uma coisa dessas, mas também jamais passaria pela minha cabeça que você me deixaria sem aviso algum, e que viria morar no chalé de outro homem com duas crianças, sem se dignar a me dar uma explicação. Por isso, ficou claro para mim que eu não conhecia você como pensava conhecer e, sim, eu quero um exame de DNA. — Ele podia sentir a raiva se avolumando dentro dele. — Porque, fora qualquer outra questão, um exame de DNA vai ser bem útil no tribunal.

— Tribunal? — Ela pareceu alarmada. — Por quê? Não vou proibi-lo de ver as meninas.

— Eu não sei nada sobre isso. Não tenho como saber. Você pode simplesmente se mudar de novo. Você pegou seu passaporte. Além disso, se a certa altura você decidir que quer pensão, quero ter certeza de que são as contas das minhas filhas que eu estou pagando.

Ela engasgou, seus olhos se encheram de lágrimas.

— Nem se incomode em chorar — disse ele.

— Havia me esquecido do bastardo que você é, Joe. Você não precisa de um teste para provar que essas meni­nas são suas. Estivemos juntos a cada minuto de cada dia no período em que elas foram concebidas! Quem mais poderia ser o pai delas?

— John Blake?

Ela o encarou com vontade de rir.

— John? Não, de forma alguma. John jamais faria isso, confie em mim. Ele tem quase 60 anos e eu não faço o tipo dele. Ele é gay.

O alívio quase o deixou sem fôlego. Ela não tivera um caso e aquelas meninas eram mesmo dele. Definitivamente.

E uma delas gritava por sua atenção. Ele ergueu Libby, quase que no piloto automático, e se aproximou de Demi, que estava vestindo Ava.

— Você está ensopado. Está machucado?

— Ah, eu vou sobreviver. Ela está mesmo bem?

— Sim, Joe, ela está bem! Foi apenas um acidente. Não pense mais nisso.

Mais tarde, depois que as meninas tomaram uma sopinha de legumes e foram postas na cama, ela o fez tirar a camisa e vestir algo seco, e ambos viram a pele vermelha e machucada do peito dele. Joe estremeceu. Se tivesse sido Ava...

— Seu idiota. Você me disse que estava bem — disse ela a ele, para depois aplicar com grande delicadeza uma pomada esverdeada e refrescante em seu machucado.

— O que é isso? — perguntou ele, abalado por sentir o toque dela depois de tanto tempo.

— Gel de Aloe vera.

Ele mal podia respirar, seu coração parecia estar na gar­ganta. Ele a queria.

Ainda estava furioso com ela, por deixá-lo sem aviso, por desaparecer da face da terra, mas nunca deixara de amá-la, nunca.

— Demi...

Ela se afastou dele, o encanto quebrado, mas parecia estar abalada também, o que deu a ele algum tipo de espe­rança louca.

— Você precisa de uma camisa limpa. Trouxe alguma?

— Sim, minha mala está no carro.

Ela olhou para ele de olhos arregalados.

— Ah, é? Você planeja ficar? Ele riu.

— Ah, sim. Sim, Demi, vou ficar. Agora que a encon­trei, não vou perdê-la de vista. E nem as meninas.

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Capitulo fofo no ar! Espero que gostem.
xoxo