3.7.15

Lar Da Paixão - Capitulo 7

Demi era cheia de energia.

Joe chegou em casa na noite seguinte para encontrar len­çóis limpos na cama, toalhas trocadas no banheiro, e nem vestígio das malas e pilhas de roupa do quarto de vestir.

Demi parecia ter se apossado do roupão atoalhado de Joe, mas ele não se incomodou. O problema era que ele ficou sem ter o que vestir para sair atrás de Demi. Joe pensou em vestir suas roupas sujas novamente, mas desistiu, então ele se en­rolou numa toalha e correu até o andar de baixo.

Demi estava na cozinha, descascando legumes, e se assus­tou ao vê-lo; em seguida fez uma expressão de dor, prague­jou baixinho levou o dedo à boca.

— Nossa, Joe, que susto você me deu!

— Deixe-me ver isto.

Ele pegou a mão dela, examinou o dedo e o sangue jorrou do corte profundo feito pela faca.

— Não creio que precise de pontos...

— Claro que não! Só preciso fazer um curativo, mas você não deve ter band-aid em casa.

— Tenho sim, só não sei onde encontrá-los. Tenho uma caixa no carro, mas não consigo achar minhas roupas.

Ela voltou a colocar o dedo na boca, depois o envolveu em papel toalha.

— Estão nos armários.

— Armários?

— Sabe, as várias portas de armário que tem no seu quar­to de vestir? O lugar onde estavam as malas? Está tudo guar­dado, exceto pela roupa que precisa ser passada a ferro. Você não se preocupa em lavar roupa, não é mesmo? Tinha pilhas de roupas sujas pela casa.

— Você tem razão. — Ele estava pensando no impacto que ela estava causando na sua vida, e teve vontade de lhe beijar o dedo para sarar. Não. Pelo amor de Deus, ainda mais quando usava apenas uma toalha! — Vou procurar minhas roupas, depois vou pegar um band-aid para você.

Ele subiu a escada correndo, segurando a toalha ao corpo e se criticando por causa do seu incontrolável desejo, inade­quado, por uma mulher grávida. Uma mulher ainda de luto. Linda, sensual...

Droga.

Ele abriu os armários e encontrou tudo organizado. As meias e as cuecas dobradas, as camisas penduradas separa­damente, mangas curtas e mangas compridas, e tudo agrupa­do por cor; incrível.

Parecia ter saído de uma revista. Ele encontrou seu jeans, sua camisa favorita, que estava desaparecida havia semanas, e as roupas de baixo, todas arrumadinhas, e correu até o car­ro para buscar um band-aid.

Quando ele voltou, Demi estava na cozinha com o dedo envolvido em lenço de papel e com o braço erguido, enquan­to continuava cortando legumes.

— Pode deixar, eu mesma faço isto — ela disse pegando o band-aid da mão dele.

Então, enquanto ela fazia o curativo, ele foi até a geladei­ra para pegar uma bebida.

— Tem chá pronto; ou posso fazer um café, se você não quiser bebida gelada.

Ele balançou a cabeça, rejeitando a sugestão.

— Estive com os construtores o dia todo. Não quero to­mar chá tão cedo de novo — ele disse com uma garrafa de vinho rose nas mãos. — Aceita um copo?

— Não devo beber estando grávida. Vou tomar suco.

— Claro. — Ele a serviu de suco e olhou para os legumes. — O que vamos ter para o jantar, hoje?

— Paella.

— Arroz de novo.

— Você não gosta de arroz? — ela perguntou.

— Adoro arroz, adoro massa, mas queria saber se você não gosta de batatas.

— Gosto, mas são pesadas demais para carregar. Ah, Emily disse que posso usar aquela bicicleta. Harry vai dar um jeito nela e trazê-la aqui mais tarde. E como Emily quer conversar com você sobre o jardim, eu os convidei para jantar.

— Certo.

Então ela agora estava convidando sua irmã para jantar?

— E, antes que eu me esqueça, Demi, obrigado por organi­zar minhas roupas. Nem pensei em procurar nos armários.

— Se já pegou tudo que queria, poderia me dar mais espa­ço para trabalhar?

Joe pegou seu copo de vinho e foi saindo da cozinha.

— Então, vou aproveitar para dar uns telefonemas — ele disse antes de sair.

Ora, não seja mesquinho, ele disse a si mesmo. Você só quer ficar do lado dela para sentir o cheiro dela como se fosse um cão. Controle isso.

Joe abriu a porta de correr da sala, sentou-se na cadeira e olhou para o jardim.

Essa mulher estava mexendo demais com ele. E, para continuar convivendo com ela, ele teria de se afastar. Nada de desculpas para segurá-la para não cair, nem abraçá-la, e muito menos tocar na sua pele macia demais...

Ele pousou o copo na mesa, virou a cadeira e deu de cara com a foto de Kate. Que droga. Ele pegou a foto e a segurou sobre o triturador de papel, depois a colocou em pé junto ao computador novamente, com seu sorriso debochado. Ele a deixaria ali, para lembrá-lo de nunca mais fazer papel de bobo por causa de uma mulher.

*****

A bicicleta estava em perfeito estado, e o jantar com Emily e Harry foi divertido. Porém, logo depois do jantar, Demi fez o café, deu um jeito na cozinha e se recolheu para o seu quarto. Havia coisas para fazer, como lavar e passar suas próprias roupas. E jantar com eles era uma coisa, passar a noite toda na companhia deles era outra, completamente di­ferente.

Por isso, foi ridículo ela se sentir solitária e rejeitada no seu pequeno aposento. Mais ridículo ainda porque, logo que se sentou, Pebbles veio e se enroscou no seu colo para dormir. A gatinha tinha passado dias maravilhosos no jar­dim ultimamente. Não tinha subido para o outro andar, se­gundo Demi, mas esteve no escritório, enchendo o lugar de pelos.

Ela limpou o local e foi obrigada a não mexer mais nas caixas. Especialmente aquela que tinha a foto de Kate. A foto estava no canto da mesa de trabalho de Joe, e ela a examinou.

Os olhos de Kate eram frios. Frios e calculistas, mesmo com aquele sorriso forçado. Demi não gostou dela desde a primeira vez, e achou engraçado que Emily não tivesse gos­tado também. Ela se perguntava o que teria acontecido entre eles. Talvez Joe lhe contasse um dia.

Quando alguém bateu, Demi deixou a gatinha de lado e foi abrir a porta.

— Desculpe incomodá-la — disse Joe. — Mas Emily quer lhe falar sobre a horta. Está toda animada com uma ideia que teve, um formato meio geométrico, e quer saber sua opinião.

— A minha opinião? — Demi começou a rir. — Não sei nada sobre legumes e verduras. Só quero plantá-las. Como nunca tive um jardim, achei que seria interessante.

— Bem, ela quer falar com você, de qualquer maneira. Por que você não vem se juntar a nós, já que não está ocupada?

— Como sabe que não estou?

— Porque está toda cheia de pelo de gato — ele disse e saiu rindo.

E ela foi atrás.

*****

Era impressionante.

Em apenas dois dias, Emily, com alguma ajuda, tinha transformado a pequena área atrás do apartamento de Demi em um lindo jardim interno, com trepadeiras para escon­der os muros do terreno, uma pequena horta com um can­teiro de ervas no centro, cercado de caminhos de cascalho. Ainda ia haver espaço para um banco, virado de frente para o mar e protegido do sol com a sombra de uma árvore próxima.

E de bicicleta nova, Demi foi até a loja de jardinagem, ao lado do supermercado, comprou sementes de vagem, abobrinha, alface e cebolinha para plantar em volta da horta. Trou­xe com todo cuidado na cesta da bicicleta para plantá-las no dia seguinte.

Quando se aproximou da casa ela reduziu a velocidade ao ver duas mulheres no portão olhando para a propriedade.

— Posso ajudá-las? — ela perguntou, descendo da bicicleta. As duas se viraram sorrindo, visivelmente constrangidas.

— Ah, não. Estávamos só olhando — disse a mais velha das duas mulheres. — Eu morei aqui com meu marido até ele morrer, depois a vendi. Era uma casa de manutenção cara e com o incêndio... Eu só estava curiosa de ver como tinha ficado, mas isso não é da minha conta. Preciso esquecê-la. Mas, depois de 75 anos, não é fácil esquecer.

O olhar da senhora era tão melancólico que Demi não re­sistiu, e num impulso perguntou:

— Gostaria de entrar para vê-la?

— Não pretendíamos incomodar ninguém, mas será que podemos? — a mulher mais jovem perguntou, enquanto sua mãe observava a propriedade com um olhar triste que como­veu Demi.

— Não está incomodando — ela disse abrindo o portão e deixando-as entrar.

— Você mora aqui? — perguntou a filha.

— Sim, eu trabalho aqui. Mas meu patrão não vai se im­portar — ela disse com os dedos cruzados nas costas.

*****

Joseph estava exausto.

Tinha trabalhado o dia todo, correndo de um lado para o outro, para cima e para baixo, verificando detalhes e deci­dindo várias coisas ao mesmo tempo quando os fornecedo­res traziam problemas atrás de problemas. E entre uma coi­sa e outra, ele esteve procurando pelo testamento, sem sucesso.

Ele só queria tomar um banho, vestir roupas limpas e re­laxar no jardim com um bom copo de vinho.

Só não esperava chegar em casa, na sua casa, e encontrar Demi sentada com duas estranhas tomando chá na sua sala de jantar! Ele parou na porta e ela lhe lançou um olhar suplicante, dizendo:

— Ah, Joseph, chegou bem na hora. Esta é a senhora Jessop. Foi o marido dela quem construiu a casa original, era ela que morava aqui, antigamente. E esta é sua filha, Sra. Gray.

Ele respirou fundo e foi cumprimentá-las, mas seu olhar para Demi era de crítica. Demi ficou firme e não desviou seu olhar até que ele desistiu de enfrentá-la, e sorriu para as duas senhoras.

— Sra. Jessop, que prazer conhecê-la. — E ao segurar sua mão frágil, de dedos retorcidos, e fitar seus olhos cansados, que já tinham visto muita coisa e que perderam tudo, sua raiva desapareceu.

— Espero que não se importe com a nossa presença — disse a Sra. Jessop, segurando sua mão. — Não queríamos forçá-lo a nada, mas Demi nos garantiu que não se importaria, e foi tão maravilhoso poder entrar aqui novamente... Pedi a minha filha Joan para me trazer aqui, para olhar da rua mes­mo; nunca imaginei que seria convidada a entrar.

Nem ele imaginou isso, mas ficou extremamente feliz por Demi ter recebido estas senhoras.

Então, ele puxou uma cadeira e sentou-se do seu lado, ainda segurando sua mão.

— Não me importo de maneira alguma. Estou feliz de poder conhecê-la e ter uma chance de conversar coma senhora. Não sabia que foi seu marido quem construiu a casa original, do contrário já a teria procurado.

— Ah, foi sim. Ele construiu esta casa logo depois de nos casarmos, em 1934.

— Em 1934?! Mas foi há mais de 75 anos!

— Por isso me sinto como se tivesse 96 — ela disse, sorrindo.

— Nossa! Tomara que eu fique tão bem quanto a senhora quando tiver sua idade.

— Não se sinta obrigado a elogiar.

— Mas sou obrigado a reconhecer como está bem.

— Gostei de você, meu jovem, e gostei da sua casa. Meu marido teria gostado de conhecê-la. Não tivemos dinheiro para construir algo assim tão grandioso, mas, se pudesse, ele teria adorado. E você ainda tem um belo gramado. Ninguém entendia o motivo de não plantarmos nada nele, mas com esta vista linda quem precisa de mais alguma coisa?

— Concordo plenamente. — Ele se virou para a outra se­nhora e se desculpou: — Perdoe-me, não lhe dei atenção, meu nome é Joseph — disse. — Então, você deve ter muitas lembranças de infância.

— Ah, sim. Brinquei muito na praia. Mas ela era maior no meu tempo. Estivemos lá e vimos que o trecho de areia está menor do que costumava ser.

— Mas foi muito bom poder revê-la. Havia anos que eu não chegava até o final do terreno. Desde que Tom morreu, m 1990, o mato cresceu muito, pois eu não pude pagar um jardineiro.

— Deve ter sido sofrido viver aqui tanto tempo sem ele — Demi disse baixinho.

— Foi sim. Foi muito tempo, e eu o decepcionai, não cui­dei como devia. Mas você fez um belo trabalho, Joseph, ele teria adorado ver.

— Obrigado. Isto foi o melhor elogio que ouvi sobre a casa até hoje.

— Apenas a verdade. Fez uma casa adorável. Você é mui­to agradável, Joseph Jonas. Um bom homem. Tomara que existam outros arquitetos iguais a você.

Joe percebeu que Demi estava com uma xícara de café nas mãos, provando que não havia se esquecido do que ele disse no outro dia sobre não aguentar mais ver chá, e ele pegou o café sem dizer nada, sorriu para ela e aceitou o pedaço de bolo para acompanhar.

Joseph colocou na boca um bom pedaço do bolo e em se­guida olhou para ela.

— É bolo de cenoura. Bastante saudável — ela disse com um sorriso, e em seguida se afastou.

Ele mastigou e engoliu o bolo e depois sorriu.

— Muito gostoso — admitiu ele. — Obrigado.

— Que bom que gostou. Fiz para Emily, quando trabalha­mos no jardim interno.

— Jardim interno?

— O pequeno jardim interno que tem perto do quarto de Demi — disse, risonha, a Sa. Jessory. — É onde Tom sempre teve sua horta. Demi vai começar a sua amanhã. E a cascata vai ficar linda.

— Certo.

Cascata? Ele já sabia dos planos para fazer uma horta, mas jardim interno? Com uma cascata? E ervilhas? Juntos?

Isso era para ele aprender a dar mais atenção a sua paisagista e a sua empregada. Ele deu mais uma mordida no macio e delicioso bolo de cenoura e deixou de sorrir.

— Tenho muitas fotos da construção da casa — Joan disse. — Eu as estava revendo com meus netos quando ela foi destruída pelo incêndio, por isso ficaram intactas. Muitas coisas foram salvas do incêndio.

— Menos a casa.

— Não faz mal — disse a Sra. Jessop. — Eu não podia mais ficar aqui sozinha, e ela precisava de reforma. Já tinha sido muito útil para nós e, para ser sincera, estou feliz que não exista mais. Ela era tão nossa que não me pareceria cer­to outra pessoa viver nela. A casa tinha muito de Tom nela.

Joe a entendia perfeitamente. Havia tanta coisa dele nes­ta casa que a ideia de vendê-la um dia era inaceitável. Será que foi por isso que construiu uma casa tão grande? Demi ti­nha lhe perguntado isso no outro dia e ele não disse a verda­de, talvez porque não soubesse a resposta. Seria porque ele achava que um dia traria uma esposa para esta casa que lhe daria filhos, filhos que dariam vida à residência?

Uma mulher como Demi?

Este pensamento o assustou.

— Você chega lá — disse a Sra. Jessop acariciando sua mão, como se pudesse ler seus pensamentos.

Os dois se olharam e sorriram.

— Quem sabe? Demi já lhe mostrou a casa toda?

— Ah, não. Isso seria demais. Ela nos mostrou seu aparta­mento aqui embaixo e depois o jardim. Não deixai que nos mostrasse o resto.

— Quer me dar esse prazer?

— Adoraria, mas não consigo mais subir escadas. Joseph olhou para a senhora e calculou que ela não pesas­se muito mais do que a gatinha de Demi.

— E se eu a carregar no colo? Ela riu.

— Nossa, faz muito tempo que não sou carregada no colo por um homem.

— Então, Sra. Jessop? Quer vir conhecer os meus aposentos? A Sra. Jessop teve de rir.

— Sabe de uma coisa, meu jovem? Acho que vou que­rer, sim.

*****

— Desculpe-me.

— Não peça desculpas, ela é encantadora. As duas são, e nem foi tão ruim assim, não é mesmo?

— Mas elas voltarão com as fotos — ela disse, aliviada.

— Pode durar para sempre.

— Dificilmente — ele salientou, e Demi concordou.

— Tem razão. Mas ela estava certa ao dizer que você é um bom homem, Joseph Jonas.

— E sujo. Vou subir para tomar um banho e depois vou querer comer e beber algo que não seja chá.

Ela simulou estar batendo continência e sorriu.

— É para já.

Demi voltou para a cozinha para limpar os vestígios deixa­dos do lanche que fez de improviso e, em seguida, colocou os filés de salmão com batatas para cozinhar, temperou a salada de rúcula e arrumou a mesa.

Pobre Joseph. Mas ele se saiu muito bem, exatamente como Demi imaginava assim que soube quem elas eram, e comportou-se com elegância. Ela mal podia acreditar que ele tivesse levado a Sra. Jessop no colo para conhecer o andar de cima, brincando com ela e fazendo charme.

Demi voltou para a cozinha para controlar o salmão, can­tando baixinho, e quando se virou viu Joseph ali parado com um olhar enigmático.

— Então, que história era aquela sobre uma cascata? — ele perguntou.

*****

Após o jantar, mesmo de roupas limpas, eles foram trabalhar na horta, pois ele disse que ela com sete meses de gravidez já tinha trabalhado muito naquele dia.

E ele foi obrigado a concordar que a horta ficaria ótima.

— E a cascata, onde ficará?

— Ali — ela disse, apontando para o muro atrás dele. — Bem, segundo Selena, a cozinha fica bem ali, então não haveria problemas com encanamento e instalações elétricas.

— Foi o que ela afirmou?

— Sim.

— E como é essa cascata que estou pagando para fazer? Demi piscou e deu de ombros.

— Não tenho ideia. Selena disse que era para você decidir.

— Ora, ora.

— Não a culpe. A ideia inicial foi minha. Água, corrente acalma.

— E me dá vontade de urinar. Ela riu.

— Isso também, mas é repousante. Achamos que faria um lindo cantinho de contemplação. Produtivo, repousante, um bom lugar para esfriar a cabeça quando os problemas se acumularem.

— Estou cheio de problemas agora, e isto aqui não está ajudando em nada — ele resmungou, mas não estava sendo muito sincero. Joe a ajudou a regar as pequenas mudas de plantas e depois se afastou um pouco para apreciá-las. — Certo. Quero mais um copo de vinho. Vou dar alguns telefo­nemas e depois me deitar. E você?

— Estou cansada — ela confessou.

Ele sabia, por isso a estava ajudando, para ela poder se deitar cedo e descansar.

Joe a deixou na porta do quarto dela e foi para seu escri­tório, e deu de cara com a foto de Kate. Ela jamais teria en­tendido o gesto dele de mostrara casa toda para a Sra. Jessop. E nem entenderia as ervilhas, as alfaces, e teria jogado a cas­cata pelo penhasco abaixo. Talvez a Sra. Jessop também.

Ele colocou a foto de Kate dentro do triturador de papéis e se sentiu aliviado.

*****

Demi estava mais do que cansada, estava exausta.

O dia tinha sido longo demais. Ela ajudou Emily no jar­dim, fez bolo, e ainda passou camisas e calças de Joseph. Depois foi até a cidade comprar as sementes, e a Sra. Jessop e a filha chegaram, e ainda trabalhou na horta no final do dia.

Quando estava pronta para cair na cama, ela deu pela falta de Pebbles, que a essa hora deveria estar se enroscan­do em suas pernas pedindo comida ou carinho. O pote com ração estava cheio, e a caixa de areia, limpa. Poderia ter ido lá fora fazer suas necessidades, mas Demi começou a se preocupar.

Preocupou-se, e muito.

Demi procurou a gatinha por toda parte, depois foi até o escritório de Joseph e bateu de leve na porta.

— Oi, algum problema?

— Não encontro Pebbles. Achei que poderia estar aí com você.

— Não, quando a viu pela última vez?

— Não lembro. Acho que bem mais cedo. Ela estava no jardim quando eu e Emily estávamos lá, depois não a vi mais.

— Deixou o portão lateral aberto quando os da frente es­tavam abertos também?

— Não. Os portões da frente estavam fechados.

— Pode ser que tenha ido para o jardim da frente e ficado presa lá, agora que o portão lateral está fechado. Vamos lá ver. Juntos eles vasculharam a casa, em seguida ele acendeu as luzes externas, e eles saíram para o jardim procurando por baixo de arbustos, atrás de caixas e qualquer outro lugar em que ela pudesse ter se escondido.

Até que Demi notou que Joe estava parado, fitando-a, e ela entendeu tudo.

— Onde ela está?

— Debaixo do velho lilás — ele disse, baixinho. — Ela sempre se deitava ali, para aproveitar o sol. Eu a via sempre do meu escritório. Também gostava de ficar ali à noite.

Demi se levantou devagar, arrasada com mais esta perda.

— Mostre-me — ela disse, emocionada, e ele a pegou pelo braço e a levou até o lilás, onde, lá embaixo toda enco­lhida, como se dormisse, estava sua gatinha. Demi se ajoe­lhou e acariciou a gatinha, mas ela estava fria e sem vida. — Ah, Joseph, não vou aguentar — disse, sentindo que não conseguiria controlar o choro.

Então Joseph se ajoelhou do lado dela, a abraçou carinho­samente, enquanto ela chorava.

Quando enfim Demi se acalmou e parou de soluçar, Joseph se sentou e a fitou, preocupado.

— Você está bem?

— Estou. Esse foi o único bichinho de estimação que tive, assim como Brian foi o único pai que conheci, e eu nunca chorei de verdade pela morte dele, e minha filhinha nunca vai conhecer o pai, é muita coisa para eu suportar...

Demi recomeçou a chorar, e Joe a acolheu nos braços en­quanto ela chorava por Jamie, por Brian e pela gatinha surda que a amava incondicionalmente.

— Sinto muito — ele disse depois de um tempo.

Demi procurou um lenço, mas não achou, então Joe lhe deu um, e ela se perguntou se ele já sabia que encontrariam a gatinha na jardim.

— Podemos enterrá-la aqui?

— Claro que sim. Vou lá dentro pegar a pá.

Joe logo voltou com uma caixa de sapato cheia de lenços de papel e uma pá, e, observado por Demi, ele colocou a gati­nha com todo o cuidado dentro da caixa, cobriu-a com len­ços de papel, tampou-a e em seguida começou a cavar.

Não demorou muito, então ela ficou de pé e olhou para o pedaço de terra sem grama sob o arbusto.

— Você está bem?

Ela estava bem. Apenas muito cansada e triste, mas ela já tinha se sentido pior, e provavelmente ainda voltaria a sentir isso outra vez.

— Estou bem.

Ele a puxou para seus braços e a segurou delicadamente, depois a fitou por um bom tempo antes de lhe tocar os lábios.

Os beijos eram apenas suaves toques, mas mexeram de­mais com o corpo de Demi.

— Vamos. Você está exausta, e cansada demais para lidar com isto. Vamos para casa, você vai tomar alguma coisa e em seguida irá para a cama.

Ele queria levá-la para a cama? Cansada e chorosa e com sete meses de gravidez? Ela soltou uma risadinha histérica, e ele riu baixinho.

— Não, não foi isso o que quis dizer.

Que pena.

— Sente-se aqui e não se mexa — ele falou, sentando-a na sala e ligando a chaleira.

Em seguida, Joe desapareceu de sua vista, mas ela perce­beu que ele continuava na cozinha, sumindo com tudo que era da gatinha, e ela teve vontade de chorar novamente.

Ah, isto era ridículo! A gatinha já estava velhinha e teve uma morte tão tranquila que era bobagem ficar chorando por ela, mas Demi chorou; e, ao voltar para a sala e vê-la assim, Joseph se abaixou e secou seu rosto.

— Venha comigo — ele disse, ajudando-a a se levantar e conduzindo-a para seu quarto. — Prepare-se para se deitar. Eu volto já com uma bebida quente para você.

Ela ficou ali, olhando para sua imagem refletida no espe­lho, a imagem de uma mulher sozinha no mundo, de olhos vermelhos e cansados, e fechou os olhos para escovar os dentes, pois não queria mais ver a si mesma. Depois trocou de roupa, vestiu uma linda camisola que Selena lhe empres­tara e voltou para o quarto onde Joseph a esperava, sentado na sua cama, pensativo.

— Você está bem?

— Pareço estar bem? — ela perguntou, e ele sacudiu a cabeça, negando.

Ela se acomodou na cama e puxou a coberta, para então olhar para ele.

— Fique comigo. Sei que pareço a mãe de Matusalém, mas não quero ficar sozinha esta noite.

— Ora, Demi, você não se parece com a mãe de Matusa­lém, e é muito novinha para ser mãe, e eu acho que você é linda, mas não precisa disso esta noite.

Nossa, como dói ser rejeitada.

— Está bem. Não precisa ser gentil. Vá se deitar, Joseph. Eu ficarei bem. E obrigada... você sabe, pela gatinha e tudo o mais.

— Não estou sendo gentil. Estou tentando ser correto com você, Demi. Não sou homem para você. E faz uma ideia de mim muito errada...

— Por acaso lhe pedi para ficar por toda a eternidade? Por um momento Demi achou que ele iria embora, mas ele se levantou, tirou a calça jeans e a camiseta. Estava descalço como sempre, e se deixou ficar de cueca; para proteger a si mesmo ou ela? Ela não se importava. Depois ele se deitou, apagou a luz e a pegou nos braços.

— Agora durma, depois conversamos. Dormir? Ele estava maluco?

Mas o calor do seu corpo e a batida ritmada do seu coração foram acalmando Demi, então seus braços fortes se fe­charam em volta dela e ela adormeceu, sentindo uma segu­rança que nunca sentiu...

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Mais alguns capítulo e a história acaba. Comenteeeeeeeeeeeem

4 comentários:

  1. Quase chorei pq a Pebbles morreu
    E finalmente rolou o beijo to ansiosa pra ler o resto. Posta mais bjus

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  2. AIIIII MEU DEUS JOE TEM
    QUE SE ABRIR PRA ELASAAAA JÁ QUERO OUTRO CAPÍTULO!

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  3. Tadinha da gatinha...... continua..., será que vão só dormir mesmo? Posta logo!!!

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  4. posta logo!!! to amando a fic :)

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