Demi ficou confusa quando olhou o painel de controle do elevador.
— Isso não pode estar certo. — Ela murmurou para si mesma e considerou a hipótese de retornar para falar com o porteiro. De acordo com os números dourados exibidos no painel, só existia um apartamento no 88° andar. E era o de número 8.801. Mas no andar inteiro do suntuoso Eureka Towers só existiria um único apartamento?
Considerando que o prédio tinha 92 andares e o 88° fosse o último destinado às residências, ela deduziu que se tratasse da cobertura. Seria possível uma cobertura ocupar o andar inteiro de um prédio daquele tamanho?
Apesar das dúvidas, ela decidiu apertar o botão que indicava o número 8.801 e se posicionou no fundo do cubículo enquanto se mirava nas paredes espelhadas do luxuoso elevador.
Ou Joe havia conquistado uma imensa fortuna no ramo das construções ou ele estaria ocupando o apartamento de algum amigo. E, nesse último caso, Joe teria conseguido se infiltrar em círculos sociais muito elevados, o que não seria o caso dela.
Demi se lembrava de ter lido alguma coisa por ocasião da inauguração do Eureka Towers, o mais alto conjunto residencial do mundo, e que a cobertura estivesse avaliada em cerca de sete milhões de dólares.
Assim que as portas do elevador se abriram, ela saiu para o hall e depositou a sua mala no chão. Segurou o fôlego diante do magnífico carpete na cor creme e bordado com símbolos dourados. As luminárias no estilo clássico ostentavam bases douradas e cúpulas de cristal.
Se apenas a entrada já era estonteante, ela imaginava como seria o apartamento.
Apertou a campainha da porta e aguardou enquanto alisava as saias com as palmas das mãos.
A porta foi aberta, e Joe surgiu com o mesmo sorriso que sempre a encantava.
— Oi, Demetria. Entre.
Demi se esforçou para conseguir mover as pernas. Os joelhos começaram a bambear no instante em que ela o viu trajando calça e camiseta pretas, que o deixavam ainda mais sexy. Quando ela passou por ele e sentiu o perfume cítrico da loção de barba que Joe acabara de usar, foi mais um golpe para suas pobres pernas.
— O apartamento é muito bonito, mas um tanto pequeno, não acha? — ela gracejou para aliviar a tensão.
Ele riu e apanhou a mala das mãos dela. Depois de fechar a porta, repousou a mão que estava livre sobre as costas dela e gentilmente a forçou a caminhar com ele até o centro da enorme sala de visitas.
— Eu gosto do meu espaço.
— O apartamento é seu? — ela perguntou admirada, enquanto observava as portas largas e envidraçadas que conduziam ao terraço. A vista da cidade se descortinava como se fosse um presépio a céu aberto.
— Sim. Eu o comprei por ocasião do lançamento da obra.
Demi apertou os lábios para impedir-se de dizer o que estava pensando naquele momento. Como Joe poderia sustentar um lugar como aquele?
— Você está curiosa, não está? — ele perguntou enquanto apontava para um lugar no sofá para que ela se acomodasse.
— Sobre o quê? — Ela indagou casualmente enquanto se sentava no elegante estofado.
— Sobre como eu consegui o dinheiro para comprar a cobertura.
— Confesso que estou um pouco intrigada — ela admitiu.
Joe acomodou-se ao lado dela e estendeu o braço ao longo do encosto do sofá.
— Está intrigada comigo ou com o fato de eu ter comprado esse apartamento?
Incomodada com a proximidade dele, ela deu um longo suspiro. O perfume da colônia de barba misturada ao odor másculo quase a enlouqueciam. Por um instante, ela sentiu vontade de se aninhar nos braços dele e beijar-lhe a curvatura do pescoço, no ponto exato onde ela sabia que Joe adorava.
Demi poderia mentir ou fingir que a presença dele não a afetasse, mas ela sabia que essa não era a verdade.
— Ambos — ela revelou com sinceridade.
Ele ergueu o queixo dela com a ponta de dois dedos e forçou-a a encará-lo.
— Cuidado com as palavras, Demetria. Seu novo colega de apartamento pode formar ilusões se você disser que está intrigada com ele.
Embaraçada com o olhar insinuante de Joe, ela liberou-se da mão dele com um gesto gentil. Ela precisava fazer isso para livrar-se da tentação de acabar cometendo a loucura de jogar-se nos braços dele.
— Conte-me como conseguiu este apartamento. Ou então me deixe adivinhar — ela sugeriu com um sorriso de diversão. — Você desistiu de ser um construtor para chefiar uma quadrilha de tráfico de drogas?
Ele meneou a cabeça.
— Você descobriu que é filho ilegítimo de Bill Gates? Joe repetiu o gesto negativo.
— Bem, então o que foi? Fale logo!
Curvando os cantos da boca, ele iniciou um sorriso lento e provocante, capaz de disparar o coração dela.
— Nós nunca discutimos sobre o meu trabalho, não é?
— Talvez isso acontecesse porque você gostava de bancar o construtor arrogante — ela respondeu sabendo que ele iria lembrar-se de como ela costumava chamá-lo.
Ele estreitou o olhar.
— Eu bancava o construtor, não é? Pois, apenas para esclarecer, eu lhe digo que esses anos serviram para que eu amadurecesse no meu trabalho.
— Está bem, você venceu. Agora me conte sobre o seu trabalho como construtor.
— Você já ouviu falar da B. A. Constructions? Ela balançou a cabeça.
— Não tenho certeza, mas o nome não me é estranho.
— Essa é a minha empresa. Você se lembra de quando foi feita a reforma no Melbourne Cricket Ground?
Ela acenou positivamente com a cabeça.
— Então. A minha empresa foi contratada para aquela reforma.
Naquele instante, Demi se deu conta de ter visto as manchetes nos jornais de que a B.A. Constructions havia vencido a concorrência para promover a mega reforma do ginásio de esportes da cidade. — Então B.A. significa as iniciais de Joe Andrews? Era você o extraordinário construtor de quem a mídia falava? — ela perguntou fascinada com a descoberta.
Ele deu de ombros.
— Bem, eu trabalhei duro e consegui contratos milionários.
— Fico feliz por você — ela revelou com honestidade e instintivamente apertou uma das mãos dele em sinal de apoio. — Isso explica a compra da cobertura.
— Obrigado. Eu fiz tudo isso por nós. Eu não queria procurá-la antes de construir um futuro sólido para lhe oferecer — ele revelou enquanto acariciava o dorso da mão dela com o polegar. — Eu sei que prometi não pressioná-la e tenho a intenção de cumprir a promessa. Mas eu gostaria que você me dissesse o que pensa sobre tudo isso. Sobre nós.
Demi ficou pensativa. Ela estava cansada de enfrentar aquela batalha interna entre tentar afastá-lo e se sentir cada vez mais atraída por ele, de ficar insistindo em afirmar para si mesma que a volta de Joe não a afetava. Ela revirou a mão que ele afagava com o polegar e entrelaçou seus dedos nos dele. Talvez devesse dar uma chance para que eles se conhecessem melhor e ver no que isso os levaria.
— Você quer saber o que eu penso? Eu acho que você está louco em acreditar que nós podemos recomeçar de onde paramos. — Uma ruga profunda surgiu entre as sobrancelhas dele, e Demi ergueu a ponta de um dedo para alisá-la com suavidade; — Mas, apesar de todo esse tempo, eu continuo achando-o atraente, divertido e intrigante.
Ele exibiu um sorriso satisfeito e devolveu: — E o mesmo que eu penso de você, com a diferença de que a considero mais sexy do que antes.
Para provar o que dizia, Joe inclinou a cabeça e beijou os lábios dela.
Demi sentiu o corpo inteiro esquentar ao provar o beijo dele. Ela esteve errada em pensar que havia se esquecido de como se sentia quando Joe a beijava. O tempo pareceu se dissolver naquele instante deixando fluir a potente atração que ainda existia entre eles.
Quando Joe interrompeu o beijo para estudar a reação dela, ele ficou surpreso por vê-la sorrindo.
— Por que você está rindo? Por acaso minha técnica está precisando de reajustes?
Ela ergueu uma das mãos e afagou-lhe um lado do rosto.
— Sua técnica está melhor do que nunca.
— Ainda bem. Obrigado por me esclarecer.
O sorriso confiante de Joe revelava que ele sabia muito bem o quanto era talentoso em se tratando de beijo. Provavelmente estivesse esperando elogios.
— Você fez a barba — Demi comentou enquanto corria os dedos através da pele macia e sentia falta da aspereza que normalmente estava presente e que ela tanto adorava.
— Sim. Apesar de representar uma causa perdida. Ela já estará crescida antes do amanhecer.
Ela recolheu a mão e roçou os lábios na mandíbula forte, aproveitando para inalar o perfume da pele máscula que evocava as lembranças de um tempo distante.
— Você ainda tem o poder de me enlouquecer — Demi murmurou com a voz enrouquecida.
— E o que você pretende fazer a respeito disso?
Ela endireitou os ombros e se afastou um pouco para poder estabelecer uma distância maior entre eles. Ficava difícil raciocinar sentindo o calor de corpo dele tão próximo.
— O que acha de irmos devagar? Eu não quero que você pense que o fato de eu ter aceitado ficar em seu apartamento signifique que eu concordei com uma reconciliação. Ainda não tenho certeza se é isso o que eu quero. Eu entendo os motivos que você alegou para ter-me abandonado, mas não significa que eu concorde com eles. Você fez o que achava certo na ocasião, mas acontece que muita coisa mudou durante esse tempo. Eu mudei... — ela hesitou e balançou a cabeça para afastar a recordação triste das cirurgias que lhe tiraram a possibilidade de ter filhos. — Por isso, se você concordar com a situação de sermos apenas amigos enquanto eu estiver aqui, então tudo bem. Eu só não posso lhe fazer promessas.
— Eu sempre admirei a sua sinceridade, Demetria.
— Isso significa que aceita a nossa condição de amigos?
— Sim. Mas o que acha começarmos apenas com um namoro?
— Amigos não namoram. Além disso, você já está abusando da sorte uma vez que tenho que lhe pagar um jantar.
Ele sorriu e, capturando uma das mãos dela, beijou-lhe a palma.
— O jantar significa uma recompensa por eu ter consertado o seu refrigerador, o que é muito diferente de um encontro romântico.
Ela engoliu a saliva só de pensar em ter um encontro romântico com Joe. Ele possuía um carisma que era impossível de resistir. Então por que Demi estava tão insegura?
Filhos.
Aquele era o problema que sempre vinha à tona quando ela pensava em aceitar a proposta de Joe. Será que ele continuaria interessado em recuperar o casamento deles se soubesse que ela não poderia lhe dar filhos?
A ideia de ser rejeitada outra vez lhe provocou um frio na barriga. Ela não suportaria passar por tudo aquilo de novo.
Só que Demi não era mais aquela menina tola e inocente. Quem sabe desta vez ela fosse capaz de conduzir o relacionamento de uma maneira madura e racional?
Com esse pensamento, ela ergueu-se do sofá e estendeu a mão para ele.
— Vamos, Joe. Está na hora de eu lhe pagar aquele jantar.
— Por que a pressa? — ele perguntou enquanto se levantava do sofá.
— Quanto mais cedo nós sairmos, mais tempo você terá para me convencer a namorá-lo.
Ele a suspendeu nos braços e rodopiou com ela pela sala. Ela sorriu divertida. Aquela fora a mesma reação que Joe tivera no passado quando ela concordara em se casar com ele.
Assim que ele a colocou de novo em seus próprios pés, Demi entristeceu o semblante. Joe tinha significado a vida para ela... Antes de desaparecer. E ela não poderia simplesmente esquecer o passado e se atirar nos braços dele, não importava o quanto ele a fizesse sorrir.
— O que acha de aproveitarmos o próximo fim de semana, no caso de eu convencê-la a namorar comigo?
— Eu preciso colocar em dia a contabilidade da lanchonete. Por isso, estarei ocupada nos próximos fins de semana. O primeiro que terei livre será em junho.
— Então você terá muito tempo para se acostumar com a ideia.
— No caso de você me convencer, é claro — ela o provocou. Depois enlaçou o pescoço largo e erguendo-se na ponta dos pés deu um beijo ligeiro nos lábios dele. — E você sabe que isso não será uma tarefa fácil.
Joe repousou a testa contra a dela e avisou:
— Eu acredito no meu poder de persuasão.
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Mais um capítulo pra vcs. Amanhã tem mais, bjinhooos
o beijo *-* aleluia
ResponderExcluirposta mais!!!
Adoro quando fica esse clima de provocação entre eles... estou adorando!!!!! Continua.....
ResponderExcluirEssa fanfic ta ficando boa.
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