O Sucesso Em Meus Braços - Capitulo 10

Joe decidiu dar uma volta nas margens do rio enquanto aguardava pelo retorno de Demi. Aproveitou para se sentar à sombra de uma árvore frondosa e ouvir o canto dos passarinhos.

O Rainbow Creek Hotel não era nada parecido com um hotel da Califórnia, mas o que faltava em matéria de luxo era compensado pelo fato de estar nos braços de Demi durante toda a noite. E a noite passada tinha sido incrível. Parecia que eles haviam voltado ao passado, para a noite de núpcias que passaram naquele mesmo quarto seis anos antes.

— Ei, você!

A voz suave de Demi o alertou, é ele girou a cabeça na direção de onde vinha o som. Assim que a avistou, Joe se ergueu e foi ao encontro dela.

— Ei, Demi! — Ele apanhou a mão dela e entrelaçan­do os dedos nos dela e propôs um passeio pelo eucaliptal, como costumava fazer nos tempos em que se conheceram. — Tenho que admitir que estou surpreso por você ter deci­dido alugar o mesmo quarto em que passamos nossa lua de mel e fazermos os mesmos passeios de quando nos conhe­cemos. Você é fantástica! — ele exclamou e beijou os lá­bios dela. Mas antes que pudesse aprofundar o beijo, ela se esquivou e baixou a cabeça. — O que houve?

Demi não tinha a intenção de continuar com as carícias antes que eles tivessem uma conversa séria a respei­to da situação que os esperava se prosseguissem com o casamento.

— Eu o convidei para vir comigo até Rainbow Creek porque preciso que você entenda uma coisa — ela decla­rou com a voz estremecida e começou a torcer a ponta do rabo de cavalo, como sempre fazia quando estava nervosa.

— Entender o que?

— Entender a razão pela qual nós não podemos prosse­guir com o nosso casamento. Acontece...

— Espere aí! Que loucura é essa? Por que está me di­zendo isso? — Joe reclamou estupefato. Em um mo­mento, eles estavam planejando se mudar para a casa em Barwon dentro de algumas semanas, e no instante seguin­te, ela estava pensando em terminar o relacionamento de­les? Como é que Demi esperava que ele compreendesse aquela instabilidade?

Ela baixou os olhos e ficou observando as águas do rio por um instante. Então começou a revelar o que se passa­va em sua mente.

— Eu não posso lhe dar o que você mais deseja. Eu vi a maneira como você se comporta quando está com seus sobrinhos e sei o quanto gostaria de ter seus próprios fi­lhos. Apesar de ter me garantido que apenas a minha companhia lhe bastaria, eu tenho certeza de que isso não será o suficiente. Depois daquela noite que eu fui até o hospital para me encontrar com você e saber como estava a Jemma, eu tive a certeza de que não conseguiria tolerar mais nenhum procedimento médico em minha vida. Eu já sofri o bastante e não quero mais alimentar falsas espe­ranças. Portanto, eu já me conformei com a idéia de não poder gerar filhos, mas não quero impor essa condição para você.

— Nós não precisamos seguir essa linha, Demetria. Nós po­deríamos adotar uma criança e...

— Não — ela negou com a voz firme. — Se eu não posso ter meus próprios filhos, talvez seja porque eu não tenha a missão de ser mãe. Mas esse não é o seu caso. Por isso, eu quero deixá-lo livre para realizar os seus sonhos com alguém que possa lhe dar os filhos que deseja. — Ela escolheu uma pedra grande que estava próxima para se sentar. Apoiou os cotovelos nos joelhos, e amparou o rosto entre as palmas das mãos. Joe per­maneceu em pé e o olhar fixo nos olhos dela. — Eu pretendo me afastar de Melbourne por algum tempo — ela revelou sem olhar para ele. — Estou providenciando os documentos para ir para a Europa. Há muito tempo eu desejava fazer isso e acho que agora será uma oca­sião oportuna.

Joe começou a passar a mão pelo cabelo enquanto os pensamentos o atormentavam. Demi estava fugindo dele da mesma maneira como ele fizera seis anos antes. Talvez ela estivesse atordoada pela maneira como as coi­sas aconteceram rápido demais, ou talvez Demi ainda não confiasse totalmente na sinceridade dele. Não impor­tava a razão, o fato era que ela estava saindo da sua vida.

Em uma última tentativa de consertar as coisas, Joe arriscou:

— Eu acho que você está usando essa desculpa de fi­lhos para poder se esquivar do nosso compromisso. Mas, se você está precisando de um tempo para pensar, então vá em frente.

— Eu não preciso de mais tempo, Joe. Eu já tomei a minha decisão — ela confessou com a voz tão fraca que mais parecia um sussurro.

— Não faça isso, Demetria — ele pediu e tocou em um jo­elho dela. O coração se apertou quando viu Demi mo­ver a perna para se livrar da mão dele.

— Eu preciso fazer isso. É a única solução para o nosso caso.

Apesar das palavras duras que ela lhe dizia, Joe po­dia notar o quanto Demi estava arrasada por ter que tomar aquela decisão drástica.

— Diga-me a verdade, Demetria. Por que está fazendo isso? — Joe precisava pressioná-la. Ele tinha que saber as respostas para as questões que lhe torturavam a mente. Não importava se iria ou não gostar do que ela lhe respon­desse. — Eu preciso saber a verdadeira razão.

Ela ergueu a cabeça bem devagar e finalmente susten­tou o olhar dele.

— Eu não posso ser a esposa que você espera que eu seja.

— Não pode ou não quer?

Ela meneou a cabeça e tentou esconder as lágrimas que começavam a brotar em seus olhos. Tarde demais. Joe já havia notado que ela começava a chorar.

— Eu estou indo embora para que você possa recome­çar sua vida com outra pessoa.

Joe não pretendia desistir tão fácil. Não quando em cada palavra que ela lhe dizia ele notava a angústia na expressão do rosto dela. Estava mais do que evidente que Demi não desejava fazer o que estava fazendo.

— Você é a minha esposa, Demetria. Eu não preciso procu­rar outra pessoa. — Ele estendeu a mão e pediu que ela se erguesse. Demi hesitou, mas ele a forçou gentilmente. Depois lhe enlaçou a cintura e aproximou o corpo dela do seu. Ela praticamente desabou sobre o peito dele e afun­dou o rosto no tecido macio de algodão da camiseta que ele usava. Então soluçou até não poder mais. Ele afagava as costas dela com carinho e esperou com paciência até que o pranto se acalmasse. Quando ela finalmente se aquietou, ele ergueu-lhe o queixo com a ponta de um dedo e forçou-a a encará-lo. — Eu não sou um tolo, por isso, sei que você não confia em mim o suficiente para acreditar que eu realmente só preciso de você para me sentir feliz. Ter filhos ou não, não será um problema para mim, desde que você esteja ao meu lado. Eu sei que está pretendendo se afastar da minha vida porque acredita que eu serei mais feliz se tiver a chance de ser pai. E você está errada. A única maneira de me fazer feliz será se você decidir ficar comigo para o resto da vida.

Ele ergueu o queixo como se a estivesse desafiando. Não importava o quanto ela argumentasse, Joe esta­va disposto a vencê-la em qualquer obstáculo que ela evidenciasse.

Não foi o que aconteceu. Ele ficou surpreso ao notar a expressão dela se suavizar.

— Você quer saber por que eu pedi para que você vies­se comigo até Rainbow Creek?

Joe não precisava que ela lhe dissesse a razão. Ele se lembrava de cada momento que eles passaram juntos na­quele lugar. Rainbow Creek era a cidade onde ele encon­trara o seu grande amor e onde lhe propusera casamento. E aquele hotel significava um lugar especial. O lugar onde eles fizeram amor pela primeira vez como marido e mu­lher. Um lugar mágico e apenas deles.

— Diga-me — ele falou enquanto alisava as costas dela e depois movia as mãos para explorar cada curva do corpo esbelto de Demi.

— Porque foi nesse lugar que tudo começou entre nós e onde eu acho que deva terminar.

— Demetria...

— Por favor, deixe-me terminar. — Ela colocou a pal­ma de uma das mãos sobre os lábios dele, mas a recolheu rapidamente no instante em que Joe a beijou. — Eu acreditei em você quando me contou que havia me abandonado para que eu pudesse realizar os meus sonhos. E também quando revelou que havia colocado o meu inte­resse acima do seu. Pois bem, eu estou lhe retornando o favor.

— Isso é loucura, Demetria! O meu sonho é você! Ela negou com um gesto de cabeça.

— Eu represento apenas uma parte do seu sonho, Joe. O seu verdadeiro sonho é conseguir formar uma grande família, da mesma maneira como fizeram as suas irmãs. E eu quero desesperadamente que você tenha isso. Uma casa grande preenchida com as vozes e risadas de crian­ças... Dos seus próprios filhos. É isso o que eu mais dese­jo para você. — Ela agarrou o tecido da camiseta que ele usava e aproximou o rosto dele até que ficasse a poucos milímetros do dela. Então confessou: — Eu te amo, Joe, e sempre o amarei. E é em nome desse amor que estou fazendo tudo isso. Eu preciso que você compreenda e me deixe partir.

Joe não teve tempo de responder. Ela abocanhou os lábios dele e o beijou com tanta paixão que ele jurou, em pensamento, que não a deixaria ir embora, não importava o que ela lhe dissesse. Demi interrompeu o beijo para provocar com os lábios a base do pescoço dele, como ela sempre costumava fazer.

— Quer saber de uma coisa, Demetria? — ele perguntou com a voz enrouquecida, ao sentir o calor dos lábios dela contra o ponto sensível que ela bem conhecia. — Você pode fazer sua viagem para a Europa se é isso o que dese­ja. E pode ficar lá pelo tempo que quiser, mas não se esqueça de que eu a estarei esperando. Eu vou lutar pelo nosso amor, não importa o tempo que demorar.

Ele sentiu o sorriso dela sobre a sua pele e desejou er­guê-la nos braços e rodopiar com ela para comemorar a vitória.

Em vez disso, Joe segurou os braços dela e a afastou o suficiente para poder olhar nos olhos dela e afirmar:

— Se quer viajar, então vá. Mas quando estiver de vol­ta, eu a estarei esperando.

Ela ergueu os braços e acoplou o rosto dele entre as mãos.

— Você precisa realizar o seu sonho, Joe.

— Eu já estou fazendo isso.

Joe não saberia dizer por quanto tempo eles ficaram olhando nos olhos um do outro enquanto o sol se punha nos céus de Rainbow Creek. Ele apenas desejava que quando Demi seguisse para a sua viagem, não levasse com ela os seus sonhos e esperanças de um futuro juntos.

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