2.7.14

Stripped - Capitulo 4

 
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Eu vou para o funeral. Claro que sim. Devin me leva. Ela segura minha mão, envolve seu minúsculo braço em volta da minha cintura, e me segura quando baixam o caixão no chão. Durante a celebração me sento com Devin, longe do meu pai. Ele não olha para mim. Nem uma vez. Ele parece tão forte, como se ele fosse um dos pilares da fé divina e perfeita. Eu o odeio.

Eu choro novamente. Pensei que eu ia perder todas as minhas lágrimas, mas elas nunca param de sair. Eu puxo minha câmera flip da minha bolsa e filmo a primeira pá de terra atingir o topo em madeira de carvalho do caixão de Mama. Pessoas engasgam com minha ousadia. Eu não me importo. É a última cena de seu filme, a gravação final da vida de Dianna Hart Lovato.

Quando tudo acabou, eu me agarro ao braço de Devin e tento respirar enquanto nós escolhemos o nosso caminho cuidadosamente através da grama e entre as lápides. Meus saltos fincam no chão molhado de uma chuva recente.

— Demi, espere! — Eu ouço a voz do meu pai.

Eu paro e viro. Concordo com a cabeça para Dev, assim ela continua até seu carro. Eu espero por papai correr até mim. Ele está lutando contra as lágrimas enquanto para a minha frente.

Ele limpa o rosto com a palma da mão. — Eu odeio a maneira como as coisas estão. Você é tudo que me resta.

Seus pais morreram quando eu tinha nove anos, e os pais de Mama morreram antes de eu nascer. Ele é tudo que eu tenho também. — Eu odeio a maneira como as coisas estão também, papai.

— Então você vai ficar? — Ele soa tão esperançoso.

Eu rio/choro. — Não, eu não vou ficar. Eu poderia ficar se você pudesse me aceitar como eu sou. Apoiar as minhas decisões, mesmo que você não concorde com elas.

— Você realmente vai se mudar para Los Angeles, eu querendo ou não? 

— Sim, papai. Estou indo para Los Angeles, não importa o quê. Você é o meu pai, e eu quero te amar. Eu quero ter um relacionamento com você. Mas se você não consegue entender que eu vou viver a minha vida do meu jeito, por que se preocupar? Você nunca me entendeu e nunca quis tentar. Você nunca aprovou qualquer coisa que eu faça, qualquer coisa que eu gosto. Você não entende por que eu danço. Você não entende por que eu quero fazer filmes. E o pior é que você não tenta entender. — Eu mudo minha bolsa no meu ombro e encontro seus olhos, suplicando-lhe uma última vez.

Ele só olha para mim. — Demi, não podemos nos comprometer um pouco? 

— Nos comprometer como? Quer que eu desista da escola de cinema para fazer você feliz? 

Ele revira os ombros em dá um meio encolher de ombros. — Bem... não desistir do que você quer, apenas me encontrar no meio.

— Não há meio-termo nisso, papai. Vou, de uma maneira ou de outra. Não termos uma relação quando eu for, é com você. Nosso relacionamento é com você.

Seus olhos endurecem, e mexe as mãos no bolso. — Tudo bem, então. Seja um prodígio.

Eu rio. — Deus, você é tão dramático. Eu não sou um filho prodígio, eu estou fazendo o que é certo para mim. Você simplesmente não pode aceitar isso. — Eu endireito as costas e endureço meu coração. — Adeus, papai.

— Adeus, Demi.

Nenhum de nós diz "Eu te amo". Não há abraços. Esperava que ele mudasse de ideia. Ele não faz. Eu me viro então, entro no carro de Devin, no banco passageiro.

Devin pergunta: — Você está...

— Estou bem. — aperto meu queixo para não chorar de novo.

— Bem, isso é uma besteira, mas se isso te ajuda. — Devin olha para mim, os olhos preocupados.

— Ele não... ele só não consegue perder o controle. Nunca vai conseguir. — esfrego os olhos com as palmas das minhas mãos, tentando afastar a ardência. — Ele não vai aceitar o que eu quero fazer, e eu não vou deixá-lo ditar minha vida.

As lágrimas vêm em seguida. Eu não posso segurar. Apenas algumas escorrem, e eu não me incomodo de limpar. Eu não me importo se minha maquiagem está borrando.

— E agora? — Devin pergunta.

Eu dou de ombros. — Agora? Eu vou para L.A.

— Sozinha? 

Concordo com a cabeça. — Eu acho que sim.

O resto da viagem para a casa de Devin é tranquila. Ela não sabe o que dizer, e nem eu.

***

Devin me leva até o portão de segurança no aeroporto. Tudo o que tenho se encaixa em uma mala e uma mochila, que foram verificadas por dentro. Eu voei apenas uma vez antes, há dois anos, para a minha doce viagem de dezesseis para Nova York com Mama. Ela me ajudou com o processo. Eu abraço Devin, digo-lhe adeus. Estou sozinha agora.

Viro-me e aceno uma última vez para Devin, e depois me concentro na segurança. Um homem mais velho com óculos de lentes grossas está sentado em uma mesa, a camisa do uniforme azul brilhante. Na minha mão eu tenho o cartão de embarque impresso pelo pai de Devin para mim.

— Carteira de motorista? — ele diz, sem olhar para mim.

Eu vasculho minha bolsa, encontro a minha licença, e a mostro para ele. Ele olha para mim, para a identidade, rabisca algo no meu cartão de embarque, e , em seguida, me manda seguir. Ao meu redor , as pessoas parecem saber o que estão fazendo. Eu não. Eu assisto a mulher antes de mim sair de seus saltos, puxar um laptop preto grosso de sua bagagem de mão e colocar isso em um recipiente branco. Em outro recipiente separado passa a bolsa, carteira, cartão de embarque, e sapatos. Eu sigo o exemplo dela, saindo de minhas sapatilhas de dança e as coloco em um recipiente com meus outros pertences. Eu espero a minha vez de entrar em uma coisa que se parece com algo de Star Trek, uma parede girando em uma caixa de vidro circular. Disseram-me para levantar os braços acima da minha cabeça, e a máquina girou em torno de mim .

E se eles quiserem me revistar? Eu não tenho nada a esconder, mas eu estou ansiosa mesmo assim. Eles me passam sem um segundo olhar, e eu recupero minhas coisas. Todo o processo parece... embaraçoso, estranhamente íntimo. Empresários de terno caminham vestindo meias, as mulheres com os pés descalços, fazendo malabarismo com seus pertences e tentam juntar suas coisas, e ao mesmo tempo, homens e as mulheres com uniformes da Segurança os assistem apaticamente, gritando instruções e olhando para todos.

Acho meu portão de embarque depois de passar por livrarias, lojas duty-free, restaurantes e grupos de viajantes com mochilas e fones de ouvido, rolando a bagagem de mão com os punhos estendidos. Todo mundo está com outra pessoa. Eu vejo um outro viajante solitário no meu portão, um homem na casa dos trinta, com um cavanhaque cuidadosamente aparado e uma maleta de aparência cara. Ele tem três telefones celulares em seu cinto e o casaco do terno caído sobre seu braço, e está lendo um New York Times precisamente dobrado. Ele olha para mim, mas logo me ignora. Ninguém mais parece me ver.

Eu nunca na minha vida me senti tão sozinha. Eu tenho o meu iPod e uma cópia Breath, Eyes, Memory que Devin me deu. Eu não sei por que ela pensou que eu precisava deste livro, mas é algo para passar o tempo. Para a hora que eu espero, deixo de lado minha vida e perco-me na luta de outras pessoas.

O voo é longo e chato. Eu termino o livro no meio do voo e então eu estou presa sem nada para fazer, mas escuto meu iPod em ―repeat‖. Eu folheio um catálogo SkyMall. O pouso é áspero e com solavancos, e estou no enorme e confuso aeroporto de LA. Ainda sinto como se fosse um sonho, como se eu pudesse acordar em minha cama, em casa, e mamãe estaria lá, viva, e ela me faria o almoço. Por fim, acho a sala para pegar bagagem e espero por minhas malas. Há um novo rasgo do lado da minha mochila.

Eu sigo as indicações para a saída, e quando as portas de vidro se abrem, sou recebida por uma onda de calor seco. De repente, tudo parece mais real. Eu tenho quatrocentos dólares em minha bolsa, metade disso é meu, que guardei da minha mesada. O resto é um presente dos pais de Devin. É tudo o que tenho. Quatrocentos dólares. Uma corrida de táxi do aeroporto LAX para USC custa $ 40, e eu fico com $ 360 dólares. Eu não comi desde que deixei a casa de Devin, então meu estômago ronca. Estou muito nervosa e com medo de comer. O motorista de táxi é um grande e corpulento homem negro, silencioso, com dreadlocks finos pendurados nos ombros. Ele não diz uma palavra. Quando chegamos a USC, ele simplesmente aponta para o medidor de tarifa e aguarda. Eu pago, me desfazendo do dinheiro com relutância.

A USC é enorme. Eu sigo as outras pessoas de aparência jovem da minha idade, alguns igualmente tão assustados. A maioria deles tem suas mães ou pais com eles, alguns tem ambos. Ninguém me percebe. Eu sigo a multidão para um escritório cheio de pessoas. Há uma orientação, uma visita ao campus. Os mapas são entregues junto com dia planejado. Meu quarto é uma coisinha pequena com um beliche de um lado, um pequeno armário, e uma pequena mesa de computador, que eu suponho que pertence a minha companheira de quarto. É tudo branco, e há uma janela fina em um canto com cortinas brancas sujas inclinadas para um lado, deixando entrar um brilho opaco de fora.

Minha companheira de quarto já está lá, sentada na cama de baixo, folheando uma edição da revista Vanity Fair. Ela é alguns centímetros mais baixa do que eu, vários tamanhos menores, e linda. Sua maquiagem está perfeita. Seu cabelo loiro platinado é elegante e polido e perfeitamente penteado em um toque francês. Suas roupas são caras, e perfeitas. Suas unhas são bem cuidadas, e uma bolsa
Dooney & Burke está na cama perto dela, um iPhone espreita para fora. Ela sorri para mim, olha em minha roupa, sem marca, saia na altura do joelho, uma modesta T-shirt com decote em V, e sapatilhas de dança muito desgastados. Seu sorriso ofusca um pouco. Ela está claramente impressionada.

— Então, você é uma atriz? — Ela pergunta. Ela soa como uma das garotinhas ricas da versão cinematográfica de The Valley.

— Não. Eu estou indo para a produção.

— Oh, tipo aquelas pessoas por trás das câmeras? — Ela exala desdém quando diz isso.

— Sim, eu acho.

— Você é do Sul. — ressalta.

— Sim. Eu sou de Macon.

— É no Alabama?

Eu fico olhando para ela, e eu me pergunto se ela está brincando. — Não, é na Georgia.

— Oh. Eu sou Lizzie Davis. — Ela não oferece um aperto de mão.

— Demi Lovato.

Ela sorri hipocritamente e volta a dedilhar seu violão. Seu telefone toca, e ela baixa o violão de lado, cruzando as pernas e tocando seu telefone. Isso acontece o tempo todo que eu estou desfazendo minha mala. Eu não tenho cartazes, nem nenhuma decoração, exceto a fotografia de Mama e eu em Nova Iorque. Eu não tenho um laptop ou um telefone. Eu vejo um laptop sobre a mesa de Lizzie, um grande MacBook prata.

Quando eu estou desarrumando, me sinto perdida. Lizzie ainda está mandando mensagens de texto ou o que quer que ela esteja fazendo. São quatro horas da tarde de quarta-feira, e as aulas não começam até sexta-feira, e depois temos o fim de semana antes do semestre começar realmente. Subo a escada, em seguida, deito de lado e olho para a parede, sentindo falta da minha mãe. Ela me diria para parar de ficar deprimida e encontrar algo para fazer. Explorar a cidade, dançar. Fazer um filme.

Em vez disso, eu deito na cama de cima e me pergunto se eu cometi um erro vindo aqui.


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Mais um capitulo da mini-fic, como eu disse antes, ela pode estar um pouco chata agora, mas quando o gostoso do Joseph aparecer vai esquentar e já esta perto dele aparecer sim... vcs querem maratona??? comentem <3

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