1.7.14

Stripped - Capitulo 3

 
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Sento-me com as mãos cruzadas sobre meu colo, os olhos baixos. Eu não posso olhar para ela. A máquina emite um bip constantemente, monitorando algo. Meus olhos ardem, mas eles estão secos. Eu chorei todas as minhas lágrimas ao longo dos últimos meses. Ela ia de mal a pior, e agora ela está um esqueleto envolta de pele em uma cama de hospital. O cabelo dela está desaparecido. Suas bochechas são fundas, e seus ossos afiados estão aparecendo. Seus dedos estão moles, frágeis e pequenos. Ela mal está respirando. Eu chorei e chorei, e agora eu nem sei se posso chorar mais.

Pedi a Deus para poupá-la. Eu fiquei acordada noite após noite, suplicando, de joelhos. E mesmo assim, Mama está morrendo.

Mama. Eu não a chamei ou pensava nela como "Mama" desde que eu tinha dez anos e Ally Henderson zombou de mim na frente de toda a classe. Ela tem sido "mãe" desde então. Mas agora... ela é: Mama novamente.

Destemido, papai permanece firme em sua fé de que Deus tem um plano. 

Deus tem um plano.

Essas quatro palavras poderosas que resolvem tudo por ele.

Eu não acho que Ele tenha um plano. Acho que às vezes as pessoas simplesmente morrem. Mamãe está morrendo. Ela só tem mais alguns dias.

Dois dias antes, eu estava fora do quarto do hospital, enquanto Dr. Pathak disse ao meu pai para se preparar para o pior.

Papai apenas repetiu seu mantra. — A vontade do Senhor não pode ser subvertida.

Dr. Pathak resmungou, irritado. — Eu respeito a sua fé, Sr. Lovato. Eu realmente respeito. Eu também sou um homem de fé profunda, embora eu saiba que você não concorda com o que eu acredito. Então entendo a sua fé. Às vezes, temos de estar preparados para o plano de Deus, mesmo não sendo como gostaríamos que fosse. Talvez Deus não opere um milagre. Talvez sim. Espero por você e por sua filha que Ele faça um grande milagre e cure sua esposa como eu tenho visto acontecendo. Eu também oro, à minha maneira, milagres aconteçam. Mas às vezes não acontecem. Isso é simplesmente um fato da vida.

Agora eu seguro a mão de minha mãe com a sua pele de papel de pergaminho na minha, e eu a vejo respirar. Cada respiração é um processo lento. Ela se esforça para sugar o ar durante longos segundos e, finalmente, ela solta tão lentamente quanto antes. Algo chacoalha no peito. Seu corpo está desistindo. Ela não, mas seu corpo sim. Mamãe lutou. Deus, ela lutou. Quimioterapia, radioterapia, cirurgia. Há cicatrizes e linhas de pontos em seu couro cabeludo, onde foi perfurado e cortado. Ela queria que o tumor saísse. Ela queria viver. Para o papai. Para mim.

Ela fez-me viver minha vida. Fez-me continuar indo para a escola, continuar estudando. Fez-me candidatar às faculdades. Ela até enviou um pedido para a USC, a University of Southern California. Uma das principais escolas de cinema do mundo. Ela me ajudou a conseguir bolsas de estudo. Ela manteve papai à par do meu caso e convenceu-o a deixar tudo ir. Ela não quer que a gente discuta, então não o fizemos. Papai nunca concordou, nunca aprovou. Mas quando recebi a carta de aceitação da USC e até mesmo quando fingi olhar para todas as outras faculdades, ele percebeu que era de verdade. Estava acontecendo. Talvez ele pensou que com Mama doente eu iria mudar de ideia. Talvez ele pensou que depois poderia apenas colocar meu pé no caminho e eu desistiria, independentemente do que eu queria. Eu não sei.

Mas agora... ela está perdendo a luta.

E tudo que eu sei é que eu estou indo para a USC. Mamãe entendeu minha paixão, antes que o câncer levasse sua alma. Eu usei a minha mesada para comprar uma câmera Flip e comecei a fazer meus próprios filmes, peças artísticas sobre mim, sobre a vida. Fiz amizade com um morador de rua que vive em Macon e fiz uma matéria sobre ele. O Sr. Rokowski me ajudou a editá-lo e colocar uma trilha sonora usando alguns programas profissionais.

Eu mostrei para papai. Ele disse que minhas intenções eram boas, mas se eu fosse para Los Angeles, minhas intenções não importariam. Eu seria sugada para o estilo de vida pecaminoso de Los Angeles. Deixei ele reclamar, e depois se afastar. Cinema é minha arte, tanto quanto a dança. Eu não preciso de sua aprovação.

Eu tenho filmado a luta de Mama contra o câncer. Ela me deixou filmar cada momento. Eu ignorei algumas aulas para ir filmar as sessões de quimioterapia dela. Ela disse que era o seu legado, que iria vencê-lo, e meu filme iria gravar sua vitória.

Minha Flip está no tripé no canto, filmando-a morrer agora. Gravando luta para respirar. Ela gravou suas últimas palavras, há dois dias: "Eu te amo, Demi". Estou gravando cada bip da máquina que está monitorando seu batimento cardíaco.

Eles disseram que ela vai morrer a qualquer momento. Eles não entendem por que ela ainda não desistiu. Eu sei, no entanto. Acho que ela ainda está lutando. Por nós.

Papai foi tomar café e comer alguma coisa. Eu olho para a porta fechada, mas há uma rachadura que deixar uma fina corrente de luz fluorescente do corredor e do guincho ocasional de tênis. Há o grito distorcido nos alto-falantes: — Dr. Harris, sala sete... Dr. Harris, sala sete, por favor...

Eu aperto delicadamente a mão de Mama. Ela aperta a minha mão de volta, com uma pressão mínima. Seus olhos vibram, mas não os abre. Ela está ouvindo.

— Mama? — Eu fungo e luto para respirar. — Está tudo bem, mamãe. Vou ficar bem. Vou sentir saudades todos os dias. Mas... você lutou tanto. Eu sei que você lutou. Sei o quanto você me ama e à papai. Vou cuidar dele, ok? Você... Você pode ir agora. Está tudo bem. Você não tem que lutar mais.

Isso é uma mentira: eu não vou cuidar de papai. Mas ela precisa da mentira, por isso eu digo a ela. Um soluço se liberta dos meus lábios. Eu descanso meu rosto em seu peito frágil, ouço o fraco thumpthump... thumpthump, de seu coração batendo.

   — Eu te amo, mamãe. Eu te amo. Papai te ama. — Eu ouço a batida fraca parecer mais fraca, mais lenta. Poucos segundos entre as batidas, depois quase um minuto. — Eu te amo. Adeus, mamãe. Vá estar com Deus.

Essas palavras são a pior mentira. Eu não acredito nelas. Eu não acredito em Deus.

Não mais.

Alguém está chorando alto, e eu percebo que sou eu. Eu engasgo. Eu tenho que ser forte para Mama.

O barulho fraco de seu coração, o peito sobe... desce. Uma lufada de pressão na minha mão, uma, duas, uma terceira vez, com força. Então, nada. Silêncio por debaixo da minha orelha. Quietude.

Eu desligo o monitor. Ele pisca sem sinal‘. Uma equipe de enfermeiros entra em rajadas, começando a corrida de reanimação.

— PAREM! — Eu grito no topo dos meus pulmões. Eu nem sequer levanto da minha cadeira. — Apenas... parem. Ela se foi. Por favor... deixe-a descansar. Ela se foi.

Papai está na porta, um copo de isopor branco com café na mão. Ele vê a comoção, vê a linha reta no monitor, vê as lágrimas em meu rosto, e ouve as minhas palavras. O copo escorrega de seus dedos e bate no chão. Escaldante café salpica para cima das pernas da calça jeans caras e sapatos de couro brilhantes.

— Dianna? — Sua voz rachas na última sílaba.

Estou brava com ele ainda. Mas ele é meu pai e esta é a sua esposa, e ele está perdido agora. — Ela se foi, papai. — eu digo.

— Não. — Ele balança a cabeça, empurra os enfermeiros em uniformes vermelhos. — Não. Ela não... Dianna? Amor? Não. Não. Não. — Ele distribui beijos em sua testa, também em seus lábios silenciosos.

Ela não beija volta, e ele desaba. Escorrega para o chão de linóleo, segurando as barras de metal da grade cama. Seus ombros demostram em um terremoto, mas ele permanece em silêncio enquanto chora.

Sua dor é terrível de testemunhar. Como se algo dentro dele tivesse quebrado. Despedaçado. Cortado em pedaços pela faca de um Deus indiferente.

— Por que Ele a deixou morrer, papai? — Eu não posso parar as palavras que escapam dos meus lábios.

São palavras cruéis, porque eu sei que ele não tem uma resposta. Eu sempre soube a realidade: seu Deus é uma farsa .

Ele está de joelhos ao lado da cama. Os enfermeiros estão em silêncio e respeitosamente assistem. Esta é a ala de oncologia, e já viram essa cena uma e outra vez.

— Deus... meu Deus, por que me abandonaste? Eli eli lama sabachthani? — Ele se afasta de mim, cobre o rosto com as mãos.

Sério? Ele está falando em aramaico agora? Ele está fazendo esse show piedoso para os enfermeiros? Ele está realmente sofrendo, eu percebo isso. Mas por que ele tem que agir no modo malditamente santo o tempo todo? Dirijo-me para longe dele. Eu me inclino para Mama e beijo sua bochecha.

— Adeus, mamãe. Eu te amo. — sussurro as palavras baixo o suficiente para que ninguém possa ouvir.

Eu saio do quarto. É o número 1176. Eu poderia fazer o caminho até os elevadores de olhos fechados agora: vire à direita da sala 1176, pelo longo corredor até o beco sem saída. Vire à esquerda. Outro corredor longo. Passe o posto de enfermagem, através das portas que se abrem em direções opostas, uma oposta a você e a outra em direção a você. Os elevadores estão no final desse corredor curto, com portas duplas cor prata. O botão acende-se de cor amarela pálida, as setas para cima e para baixo desfocadas por causa dos milhares de polegares pressionados contra eles. Não observo o elevador descer, ou quando saio do hospital, apenas tropeço para fora na luz solar. É um lindo dia. Há uma ausência de nuvens, apenas agora, céu azul infinito e um sol amarelo brilhante e ar fresco de outubro.

Como pode ser um belo dia quando minha mãe morreu? Devia ser um dia horrível, negro. Em vez disso, é o tipo de dia que eu deveria estar passeando no centro de Sebring no conversível de Devin, ouvindo Guster.

Eu me encontro com minhas mãos e joelhos na grama, cercada pelos carros estacionados. Eu estou chorando. Pensei que tinha chorado todas as minhas lágrimas, mas não. Nem perto disso.

Sinto a presença do papai na grama ao meu lado. Pela primeira vez em toda a minha vida, ele é algo real. Ele se senta na grama ao meu lado, sem se importar com a umidade de uma hora atrás. É de manhã cedo, logo após o amanhecer. Eu estive ao lado de sua cama por 48 horas, esperando. Eu não tinha me movido, nem uma vez. Não comi, não bebi, não fiz xixi.

Mama... Mama está morta. Eu ignoro o meu pai e choro. Eventualmente, ele me levanta da grama, me leva para o carro, e me põe no banco de trás de seu BMW, onde eu me deito. O cheiro de couro enche meu nariz, picante e úmido de minhas roupas. Ele dirige lentamente, e eu o ouço fungar e bufar. Eu ouço o barulho suave de sua mão passando sobre a barba de uma semana enquanto ele enxuga seu rosto, limpando as lágrimas, abrindo espaço para a próxima onda de tristeza salgada e quente.

Eu não posso respirar sobre os soluços, o peso bruto do luto. Mamãe está morta. Ela era a única pessoa que me entendia. Ela era a intercessora entre mim e papai. Quando ele não queria ouvir, era ela quem falava com ele para mim. Às vezes me pergunto se meu pai ainda gosta de mim. Quero dizer, ele é o meu pai, então eu sei que ele sente a emoção patriarcal de amor protetor, mas ele gosta de mim? Do jeito que eu sou? Será que ele me conhece? Ele já tentou me conhecer?

E agora a única pessoa que me entendia está morta. Se foi para sempre.

— Pare, por favor. — estou lutando para ficar sentada, arranhando no botão da janela, na porta trancada. — Eu vou vomitar. 

Ele abranda o suficiente para que eu possa saltar para fora do carro ainda em movimento e caio no capim na beira da estrada. Vômito derrama de mim como uma inundação quente, queimando minha garganta, convulsionando meu estômago. Meus olhos lacrimejam onda após onda jorradas através de mim, e meu nariz pinga. Papai não me ajuda, não segura meu cabelo. Ele só me olha do banco do motorista, o motor em marcha lenta. A canção de Michael W. Smith toca suavemente nos alto-falantes, flutuando para mim pela porta aberta. ―A Entrega‖. Eu odeio essa música. Eu sempre odiei essa música. Ele sabe que eu odeio essa música.

Eu me ajoelho no cascalho e na grama, arfando. Eu olho por cima do ombro dele. A dor em seus olhos são como facas. Mas é a dor solitária. Ele está em seu próprio mundo.

Assim como eu.

Eu cuspo bile, limpo o rosto na minha manga, e chuto a porta traseira. Eu deslizo para o banco do passageiro da frente, prendo meu cinto de segurança no local, e em seguida, com raiva desligo o rádio.

— Demi, eu estava ouvindo isso.

— Eu odeio essa música. Você sabe que eu odeio essa música.

Ele calmamente liga o CD player novamente e aperta o botão de pular a música. — É o meu carro. Vou ouvir o que quiser. — Ele não pulou a música, ao que parece. Ele a voltou. Ela está começando de novo. Mesmo em meio à dor, ele ainda tem que estar totalmente no controle.  

O carro ainda está parado, então eu solto meu cinto e abro a porta. — Tudo bem. Então eu vou a pé.

— São mais de 8km, Demi. Entra...

Algo explode dentro de mim. Viro-me para ele e grunhindo, é animalesco, gutural, rosno sem palavras. — Vá se foder. — eu digo.

Ele realmente suspira. — Demetria Devonne Lovato.

Eu o ignoro e começo a andar. Um carro passa com um alto assobio e uma rajada de vento frio tardio. Ele sai e grita seus comandos. Em seguida, ele tenta me arrastar para o carro. Seu braço gira em torno da minha cintura, e ele me arrasta para a porta do passageiro. Eu piso no peito do seu pé, me livrando de suas garras, e então antes que eu sabia o que pretendo fazer, eu soco sua mandíbula. Meu punho aperta e se conecta com sua bochecha. Ele tropeça para trás, mais surpreso do que ferido. Minha mão dói. Eu não me importo.

— Qual é o plano de Deus agora, papai? Por quê? Por que Ele deixou isso acontecer? Diga-me, pai! Fala! — Estou batendo meus punhos nele.

Ele pega as minhas mãos nas dele. — Pare, Demi. Pare. PARE! Não sei! Eu não... eu não sei. Basta entrar no carro e vamos falar sobre isso.

Eu baixo minhas mãos livres. —Eu não quero falar sobre isso. Apenas me deixe em paz. — Eu digo isso com calma. Muita calma. — Só... me deixe em paz.

E... ele deixa. Ele vai embora, deixando-me ao lado de uma estrada, a quilômetros de qualquer lugar. Naquele momento, eu o odeio. Eu não achei que ele me deixaria aqui. Outro soluço escapa de mim, e depois outro, e depois estou chorando novamente. Quilômetros passam debaixo dos meus pés lentamente, muito lentamente. Eventualmente eu ligo para Devin, minha melhor amiga, e ela vem me pegar.

Ela é minha melhor amiga, depois de mamãe.

Que está morta. A realidade me bate mais uma vez.

Eu deslizo no carro de Devin e caio para frente contra o painel. — Ela... Ela se foi, Devin. Ela morreu. Mama morreu.

— Sinto muito, querida. Sinto muito, Demi. — Ela liga o rádio e se afasta do meu ombro, voltando para a rodovia para onde vivemos, ficando cada vez mais longe do Centro Médico da Georgia.

Devin me deixa chorar por um longo tempo antes de falar. — Por que você estava andando na beira da estrada? — Devin tem o perfeito sotaque do sul. Ela o cultiva, eu acho. Estou sempre tentando soar menos como uma caipira da Georgia, mas o sotaque se insinua às vezes.

— Eu entrei em uma briga com meu pai. Ele... ele sempre tem que estar no comando. Sabe? Sobre tudo, o tempo todo. Eu não aguento mais. Eu não posso. Tudo é da conta dele. Mesmo quando estávamos brigando, ele tinha que controlar o que eu fazia, o que eu dizia e o que eu sentia. — Eu fungo. — Eu... eu acho que o odeio, Dev. Eu realmente acho. Sei que ele é meu pai e eu deveria amá-lo, mas ele é... ele é um idiota.

— Eu não sei o que te dizer, Demi. Por tudo que você me conta, ele é mesmo uma espécie de idiota. — Ela olha por cima do ombro enquanto muda de faixa, e me lança um sorriso simpático. — Você quer ficar comigo por um tempo? Mamãe e papai não vão se importar.

— Posso? 

— Vamos pegar as suas coisas. — Devin diz, tentando ser alegre.

Papai está em sua sala de estudo com a porta fechada. O que me diz muito, papai nunca, nunca fecha a porta, a menos que ele esteja realmente chateado, ou profundamente em uma oração.

Eu carrego um monte de roupas e os meus produtos de higiene pessoal em um saco, pego minha mochila que levo para as aulas de dança, meu estoque de dinheiro da gaveta da minha mesa. Eu olho em volta do meu quarto, e sinto como se fosse a última vez. Num impulso, eu pego o meu iPod da mesa, juntamente com o carregador do meu telefone. Eu volto para o meu armário e enfio todas as minhas roupas na mala, sutiãs, calcinhas, vestidos, saias, blusas, saltos, sandálias, tudo isso empurrado até que está tudo transbordando, e eu tenho que sentar-me sobre ela para obtê-la fechada. Eu tinha planejado embalar tudo mais cuidadosamente, mas por algum motivo, eu apenas sei. É isso. O fim.

Olho para os cartazes de vários bailarinos em minhas paredes, os playbills Broadway da viagem que fiz aos dezesseis com mamãe para Nova York... tudo parece juvenil. O quarto de uma criança. Uma garotinha. Há até uma prateleira em um canto cheia de bonecas da minha infância, todas vestidas e sentadas em uma fileira.

Um último olhar. Minha foto emoldurada de mamãe e eu na Times Square vai na minha bolsa. Ela parecia tão feliz lá, e assim eu também. Essa viagem é o que inspirou o meu amor pela dança.

Meu saco de dança está pendurado no meu ombro enquanto eu puxo a mala pelas escadas. As rodas fazem baques passo a passo até que eu esteja no patamar. A porta da frente está diante de mim e as portas francesas fechadas do estudo de papai à minha esquerda. Uma delas se abre e papai enche o espaço, com os olhos avermelhados, rosto desfigurado.

— Onde você está indo, Demi? — Sua voz é rouca.

— Devin. — Eu ergo a carta de aceitação para USC, o envelope onde explica onde é o meu dormitório, informações sobre minha colega de quarto, check-in. — E depois LA. Estou indo para a faculdade na próxima semana.

— Não, você não está. Nós somos uma família. Precisamos ficar juntos durante este momento difícil. — Ele tenta dar um passo mais perto de mim, e eu recuo. — Sua mãe acaba de morrer, Demi. Você não pode sair agora.

Eu dou uma risada incrédula. — Eu sei que ela morreu. Eu estava lá! Eu a vi morrer. Tenho que ir, tenho que sair daqui. Eu não posso ficar aqui. Não pertenço a este lugar.

— Demi. Você é minha filha. Eu te amo. Por favor... Não vá. — Seus olhos estão molhados. Vê-lo chorar dói, mas não muda o fato de que eu o odeio.

— Se você me ama tanto, por que me deixou na rodovia sozinha? — Eu sei que não é justo, mas não me importo.

— Você se recusou a entrar no carro! O que eu deveria fazer? Você me deu um soco! — Ele cai para o lado contra a porta fechada, descansando a cabeça na madeira. Uma lágrima desliza para baixo de sua bochecha. — Ela era minha esposa, Demi. Estive com ela desde que eu tinha dezessete anos. Perdi a minha esposa.

Eu jogo a cabeça para trás, tentando não chorar. — Eu sei, papai. Eu entendo.

— Então fique. Por favor, fique.

— Eu... não posso. Simplesmente não posso. — Eu seguro a alça da minha bolsa roxa com estampas Vera Bradley em minhas mãos e torço.

— Por que não? 

Eu balanço minha cabeça. — Eu simplesmente não posso. Você não me entende. Você não sabe nada sobre mim. Sei que ela era sua esposa, e eu sei que você está sofrendo tanto quanto eu. Mas... sem ela, eu não sei o que fazer. Era ela que fazia esta família funcionar. Sem ela... nós somos apenas duas pessoas que não se conhecem.

Ele parece tão confuso. — Mas... Demi... você é minha filha. Claro que eu te conheço.

— Então por que eu gosto de dançar? 

Ele parece intrigado com a pergunta. — Porque você é uma menina. Meninas gostam de dançar. É apenas uma fase.

Eu tenho que rir em voz alta. — Deus, papai. Você é um idiota. Porque eu sou uma garota. Sério? — Eu gemo em desgosto e coloco meu saco de dança de volta no meu ombro. — Isso é exatamente o que quero dizer. Você não conhece nada sobre mim. Eu sou exatamente como mamãe costumava ser antes de casar com você. Você sabe disso. E é isso que te incomoda sobre mim. Ela era uma dançarina, livre, então ela se casou com você e mudou por você e eu não vou fazer isso. Essa foi a escolha dela, e tudo bem. Ela é quem quis. Mas não é a minha escolha. Eu não quero ser a esposa de um pastor, pai. Eu não quero ir para a reunião de oração toda quarta-feira, dois cultos nas manhãs de domingo e pequenos grupos às segundas-feiras e estudo da Bíblia das mulheres às quintas-feiras. Essa não é a minha vida. Eu nem mesmo gosto de ir à igreja. Nunca gostei. — Eu respiro e então solto a verdadeira bomba: — Eu não acredito em Deus.

Os lábios de papai caem em horror. — Demi, você não sabe o que está dizendo. Você está chateada. É compreensível, mas você não pode dizer essas coisas.

Eu quero gritar em frustração. — Papai, sim, eu estou chateada, mas eu sei exatamente o que estou dizendo. Isso é uma coisa que eu queria dizer há anos. Só não disse antes porque não queria aborrecer a mamãe. Eu não quero brigar. Sou basicamente uma adulta agora, e eu... eu não tenho mais nada a perder.

— Demi, você tem dezoito anos. Você acha que você é adulta, mas não é. Você nunca trabalhou um dia em sua vida. Suas roupas, suas manicures, as aulas de dança, tudo, tudo pago pela generosidade da congregação... A igreja que eu construí sozinho. Comecei com seis pessoas na parte de trás de um restaurante em 1975. Você não duraria um dia por conta própria.

Coisa errada a dizer. 

— Vamos ver se não. — Eu pego minha mala e estendo o punho, puxo a mala sobre suas rodas, grunhindo como o peso que quase me tomba.

Papai se move em frente da porta. — Você não está indo embora, Demi.

— Saia do caminho, papai.

— Não. — Ele cruza os braços sobre o peito.

Ponho a mala na posição vertical e esfrego a testa com as costas de meu pulso. — Apenas me deixe ir.

— Não. — Ele parece inchar, tomando força para me desafiar. — Você não está indo para a Babilônia. Los Angeles é a casa de... de... prostitutas e homossexuais. Você não vai lá. Você não está indo embora.

— Papai, seja razoável. — Eu tento o método de persuasão. — Por favor. Você sabe que eu queria isso antes de Mama ficar doente.

— Você não vai e ponto final.

Eu grito em seguida, um uivo furioso. — Deus. Você é um filho da puta teimoso! — Eu quero chocá-lo com a minha vulgaridade, eu não gosto de palavrões, mas quero fazê-lo ficar com raiva. — Basta sair do meu caminho!

Eu o empurro e ele se move. Eu sou uma garota alta, forte por causa da dança. Ele tropeça para o lado e eu escancaro a porta com tanta força que ela bate na parede, quebra o gesso e derruba um retrato de mamãe e papai quando eles eram jovens, antes de mim.

Ele pega o quadro da porta da frente aberta, e o aperta contra ele. — Demi... por favor. Não me deixe.

Eu quero amá-lo. Eu quero que ele seja o pai que eu preciso, o tipo que me abraça e me segura. O tipo que me conforta. Minha mãe, sua esposa, está morta. Nós dois perdemos. Mas em vez de nos unir, isto nos quebra.

Devin está lá horrorizada, do lado de fora da porta. Ela pega a minha mala e corre para o carro, ergue a mala preta pesada e a põe no carro. Sigo atrás dela, parando quando estou na porta aberta, entro e olho de volta para o meu pai sobre o tecido azul do teto conversível. Ele fica na porta, parecendo perdido. Eu quase volto.

Quase.

— Adeus, papai. — É a última tentativa.

Ele dá um passo em minha direção, endurecendo seus olhos. — Demi, por favor. Não nos quebre assim. Não faça isso com a gente.

— Como você pode virar o jogo para mim desse jeito? Eu não estou indo embora para sempre. Estou indo para a faculdade, papai. Eu... Eu só estou fazendo o que é certo para mim. Por favor, tente entender.

— Se você deixar esta casa, você já fez a sua escolha. Se você sair, você vai deliberadamente escolher o pecado. 

— Não é pecado! É a minha vida. Por que você não pode ser razoável? 

Ele cerra os punhos, endireita as costas. — Eu estou sendo razoável. Volte e vamos discutir as suas opções.  

— Tenho que ir, pai. Eu tenho. — volto, fico na frente dele. — Eu te amo. Sei... eu sei que temos nossas diferenças, mas... Eu te amo. 

— Você vai ficar, então? — Ele pega a minha mão, a dureza em seu olhar suavizando ligeiramente. Puxo minha mão. 

— Não. Eu tenho que ir. 

— Então, você já fez a sua escolha. Adeus, Demi. — Ele se afasta de mim e fecha a porta sem olhar para trás. E assim, eu estou sozinha no mundo.
 
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Oiii!!! esta tensa essa mini-fic não é??? ela vai esquentar e melhorar no momento em que o gostosão do Joseph aparecer, e digo a vcs que os hots vem com tudo nessa mini-fic, deixa os hots das outras mini-fics no chão... #Adoro!!

Beijoos e não se esqueçam de comentar!! <3

3 comentários:

  1. OMG! Mari, que mini-fic perfeita é essa?
    Teve tiro porrada e bomba nisso ai, jovem KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    Eu amei, sério. Amei muuuito! Quando eu li a sinopse dessa fic, eu sabia que ia ser boa, porém não tanto assim :o
    Bjons no core (: estou mega ansiosa pelo próximo...

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  2. Chorei com a morte da mãe da Demi. Coitada. Eu amo as suas fics e fanfics vc é das melhores escritoras que eu já li na vida. Fic perfeita como todas até agr. Poste lg. Kiss :*
    Ps: Eu detesto pedir as outras pessoas divulgação porque é chato mas se vc podesse divulgar o meu blog e da minha bff, se n divulgar tudo bem eu percebo :
    http://smiletodaybecauseyouareonewarriorfics.blogspot.pt/?m=1n sei se vc lê mas se quiser ler as fics são jemi. Kiss :* e desculpe o pedido.

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  3. Coitada da Demi, age que ela vai sofrer se com a mãe viva já era difícil imagina agr ... Pelo menos ela enfrentou o pai dela, e agr vai seguir seu sonho *--*
    Continuaa
    Fabíola Barboza

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