17.7.14

Lento - Capitulo 2

 
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O PARAMÉDICO Joe Jonas tinha enfrentado a morte dúzias de vezes desde que começara a trabalhar com o quarto Batalhão do Corpo de Bombeiros de Chicago, cinco anos atrás. Ele atendera chamadas sobre casos de incêndio, tiros, brigas e abusos domésticos. Tumultos e situações onde havia reféns. Já lidara com enfartos, vítimas de afogamento e pessoas que morriam por alguns segundos e milagrosamente voltavam a viver.

Ele uma vez convencera um rapaz drogado a deixá-lo levar a namorada ferida... que dizia ter sido esfaqueada pelo viciado... da casa deles para tratamento de emergência. E então tinha ouvido uma bronca do tenente por não ter seguido o protocolo e esperado que a polícia de Chicago lidasse com aquilo. Certo... como se Joe fosse deixá-la morrer.

Nenhuma daquelas situações o intimidara.

Mas isso? Isso o assustava muito.

– Por que eu concordei em me envolver numa coisa dessas? – murmurou ele.

Uma razão. Porque devia muito ao tenente, e seu tenente devia muito ao chefão, e a esposa do chefe adorava aquela instituição beneficente em particular. Fim da história. Motivo pelo qual dois de seus companheiros do batalhão já tinham tido sua vez para ficar em evidência.

– Eu tenho me perguntado a mesma coisa – replicou a voz de um estranho.

Joe puxou o nó da gravata que o estava sufocando e olhou para o Solteiro Número 18, um número anterior ao seu. O outro homem parecia tão feliz de estar lá quanto Joe, o que era dizer muito.

Porque Joe preferia realizar reanimação cardiopulmonar numa octogenária desdentada com mau hálito a subir num palco e receber lances de um bando de mulheres ricas e excitadas, com muito tempo nas mãos e muito pouco auto respeito. Ou autocontrole.

– Eu irei me sentir melhor sobre isso – disse ele, tentando convencer mais a si mesmo do que os outros “solteiros” esperando por sua vez de serem vendidos. – É por uma boa causa, certo? E daí se irei sofrer alguns minutos de embaraço e um encontro ruim? Valerá a pena.

O Número 20 ofereceu um sorriso cansado, enquanto se encostava indolentemente contra uma coluna na área atrás do palco que havia sido montado para o evento desta noite. O homem parecia quase entediado, e Joe invejou a calma dele.

– O que, você não gosta de ter mulheres “pagando” por seus serviços? – A voz continha divertimento e um leve sotaque estrangeiro, possivelmente irlandês.

Talvez os homens europeus se sentissem mais à vontade naquele tipo de jogo, mas o membro muito americano da equipe de resgate definitivamente não se sentia.

– Você gosta?

Número 20 sorriu, enquanto checava as mangas de sua camisa, as abotoaduras finas de ouro brilhando abaixo do paletó elegante e obviamente caro. Joe apostaria que o terno do homem não era alugado.

– Isso pode ser... divertido. – O traje e o comportamento do homem diziam que ele possuía dinheiro suficiente para doar às suas próprias causas. Mas o cabelo preto preso num curto rabo de cavalo dizia que ele também gostava de viver perigosamente.

Assim como Joe. Mas ele tinha emoções o bastante, arriscando sua vida em cenários de emergência, muito obrigado. Não queria, particularmente, subir num palco para ser avaliado, beliscado, estudado ou catalogado por um bando de mulheres estranhas com coceira entre as pernas e notas de dólar suficientes para coçá-las.

O outro homem continuou:

– Além disso, como você falou, é por uma boa causa.

Certo. Boa causa. Crianças. Eu gosto de crianças. Não tenho filhos, não os quero por alguns anos ainda, mas crianças são engraçadinhas a longa distância. Contanto que elas não tenham melecas grudadas no nariz ou escorrendo pela boca, ou estejam tentando pegar o gato da família no topo de uma árvore.

Certo, então talvez ele não gostasse muito de crianças. Não o bastante para passar por esta humilhação.

Então pensou na sobrinha e nos sobrinhos gêmeos. Ele faria qualquer coisa para se certificar de que eles continuassem seguros, sendo as crianças saudáveis que eram.

Droga. Teria de passar por isso.

Puxando novamente o colarinho muito apertado da camisa de seu próprio terno alugado, Joe espiou através de uma abertura nas cortinas de tecido preto, olhando para a audiência. O salão de bailes elegante estava cheio de mesas redondas com toalhas brancas, ao redor das quais dúzias de mulheres em vestidos brilhantes de festa estavam sentadas. Risadas e fofocas aconteciam em abundância, enquanto elas tomavam o coquetel de frutas Cosmos ou champanhe gelado. Todas as mulheres observavam com avidez, gritando sugestões rudes, enquanto os lances para Solteiro 17 continuavam, quem estava atualmente no centro do palco.

Bem, todas as mulheres, exceto uma. Uma morena que estava de pé a aproximadamente três metros da cortina através da qual ele estava espiando. Ela atraiu seu olhar enquanto Joe estudava a multidão... então atraiu novamente. E desta vez, ele permitiu que seu olhar se demorasse na mulher.

Ela estava quase sombreada por um dos gigantes holofotes, o qual lançava luzes fortes e imperdoáveis sobre o espetáculo ocorrendo no palco. Mas o que Joe via dela era definitivamente o bastante para atrair seu interesse.

Primeiro, porque ela possuía algumas curvas. Não era uma figura alta e magra num pequeno vestido preto, como metade das mulheres lá. Em vez disso, ela era pequena, com o tipo de curvas arredondadas – quadris generosos e seios grandes revelados num vestido de seda azul com decote baixo – que não estava na moda, mas que fizera seu coração acelerar e seu pênis recentemente dormente ganhar vida dentro da calça.

Ela também não tinha cabelo loiro preso num penteado intrincado, como a outra metade da audiência. Não, o dela era escuro e grosso, com cachos longos que cascateavam livremente e passavam dos ombros. A visão era sedutora, como se ela tivesse acabado de sair da cama, e não de um salão de beleza na avenida Michigan.

Natural, ardente, nem um pouco contida. A mulher era sexy de um jeito que mulheres não se permitiam mais ser sexy.

A aparência dela, todavia, meramente despertou o fogo interior em Joe. O comportamento distante, que a fazia parecer intocável, excitou-o até quase consumi-lo.

A morena não estava rindo com as amigas ricas ou tomando coquetéis, enquanto virava a mão para se certificar que seus anéis de diamante brilhassem mais. Na verdade, se Joe pudesse dar um palpite, diria que ela parecia quase desaprovadora, até mesmo tensa. Ele não conseguia ver-lhe o rosto muito bem, mas tinha um vislumbre de um pequeno queixo rígido, erguido em visível determinação. E as costas estavam muito eretas.

Ela parecia estar mantendo aquela postura intencionalmente, como se não ousasse baixar a guarda, de modo que não fosse distraída por qualquer missão que estabelecera para si mesma.

Como se percebendo que estava sendo observada, a mulher olhou ao redor, virando a cabeça o bastante para um pouco da luz do palco iluminasse seu rosto. O bastante para realçar a pele cremosa, a curva da face, os lábios carnudos e o brilho escuro dos olhos.

Linda.

As mãos de Joe se fecharam em punhos em suas laterais. Embora ela não pudesse vê-lo de maneira alguma, e não estivesse espelhando sua reação, as pequenas mãos fizeram o mesmo.

Ela apertou as mãos numa concentração visível que parecia girar ao seu redor, criando uma barreira entre ela e todas as outras pessoas no salão.

Joe apertou as mãos em pura luxúria.

Ele não fazia sexo há um bom tempo... desde que rompera com uma mulher com quem estivera saindo no último inverno. E ninguém havia feito sua pulsação acelerar desde então. Não as mulheres que conhecia no posto de resgate. Não as mulheres que ajudava. Não as enfermeiras no hospital. Não a garota ardente que se mudara para o apartamento acima do seu, aquela que já ficara presa do lado de fora três vezes, de modo que tivesse uma desculpa para pedir a sua ajuda.

Esta estranha? Ela o excitava a três metros de distância.

Ela olhou ao redor do salão novamente, observando, o olhar passando, sem hesitação, ao longo das pregas na cortina atrás da qual ele estava.

Compre-me.

Ela não poderia ter ouvido a ordem mental, todavia, estreitou os olhos, focando novamente na cortina que o escondia.

Joe não pôde evitar repetir o apelo silencioso, tentando lembrar todas as coisas que uma das irmãs tinha dito sobre aquele livro tolo com o qual estava obcecada ultimamente. Sobre como o universo lhe daria o que você quisesse se você visualizasse aquilo com força o bastante.

Ah, era fácil produzir algumas visualizações intensas e ardentes, agora.

– Quer saber qual é o meu maior medo? – perguntou Número 18, um homem de cabelo loiro e aparência de surfista, que disse que trabalhava como agente da bolsa de valores. – E se a pessoa que me comprar pagar uns 50 dólares? Quero dizer, como isso seria humilhante, quando as mulheres mais ricas de Chicago estão todas babando lá fora, como um bando de vira-latas olhando para a vitrine de um açougue?

Sr. Europeu Educado riu suavemente diante da ideia de que aquela fosse até mesmo uma possibilidade para ele. Joe, por outro lado, imediatamente entendeu a preocupação do agente da bolsa de valores.

Deus. Ele pensara que receber ofertas seria uma humilhação. Mas não receber ofertas, em absoluto? – Tire-me daqui.

– Tarde demais – disse uma voz alegre, que pertencia à jovem mulher que estava dirigindo os eventos de palco daquela noite. Ela olhou para o rapaz loiro. – Sua vez. Eles estão lendo a introdução neste momento. – Então ela apontou a ponta do seu lápis para Joe. – E você é logo depois dele, 19.

Dezenove. Era assim que eles o chamavam desde o momento que Joe havia se registrado no balcão de eventos e sido levado para um camarim particular, com todos os outros homens cujos chefes, amigos, irmãos, mães e colegas de trabalho os tinham convencido a fazer aquilo. Joe olhou através da abertura nas cortinas novamente, sussurrando:

– Dezenove.

Poderia facilmente visualizar 19 coisas que diria para a morena quando eles se conhecessem. Dezenove maneiras de ocasionar aquele encontro. Os 19 minutos que levariam para sair correndo de trás da cortina, agarrar-lhe a mão e arrastá-la para sua casa. O número de vezes que queria fazer amor com ela, e o número de posições que queria realizar.

– Dezenove? Alô?

Joe voltou sua atenção para a diretora de cena, que o estava observando com uma expressão de expectativa, ainda que um pouco exasperada. Ele obviamente estivera visualizando coisas por diversos minutos.

– O homem antes de você já foi leiloado.

– Por quanto? – Joe não pôde evitar perguntar. – Três.

Ah, Deus, 3 dólares? Patético. Ele pegaria seu talão de cheques e pagaria cem vezes este valor para sair dali. Então iria diretamente se apresentar para a morena de azul.

– Três mil – acrescentou a mulher, obviamente lendo sua expressão.

– Meu Deus.

Ele mal conseguiria reunir uma vez este valor, e se tivesse cem vezes isso em sua conta bancária, certamente não estaria vivendo num apartamento de um dormitório, em cima de uma floricultura, no Hyde Park.

– Eles estão lendo a sua biografia agora, então precisa se mover rapidamente – disse a mulher, ameaçando puxá-lo pelo braço. Ela devia saber que ele queria fugir. Joe duvidava que fosse o primeiro a se sentir assim esta noite.

– Tudo bem, tudo bem – murmurou ele, nem mesmo ouvindo o apresentador, cuja voz monótona soava através do aparelho de som do hotel. Joe soltou a cortina preta, arrependimento fazendo seus dedos deslizarem contra o tecido por um momento mais longo do que o necessário. Então estava sendo empurrado para o palco, cegado por um holofote, ensurdecido pelo murmurinho de uma centena de mulheres embriagadas.

Devia ser assim que aqueles Chippendales se sentiam. O pensamento de fazer isso vestido em calças de couro conectadas por um cinto, usadas por caubóis, e nada mais, foi o bastante para fazer seu estômago se contorcer.

– Quem vai começar os lances?

– Quinhentos dólares – alguém gritou.

Certo. Aquele era um começo. Quinhentos... era uma doação significativa, que compraria muitos presentes de Natal para crianças carentes. Mas, ora, o valor parecia patético, considerando que o bonito agente da bolsa de valores tinha saído por seis vezes isso. – Seiscentos.

– Setecentos!

Os números começaram a subir numa velocidade estonteante, e Joe não conseguiu acompanhá-los por um tempo. Não até que uma voz feminina alta e determinada interrompeu os lances para gritar:

– Cinco mil dólares!

Todos ficaram em silêncio por um momento que pareceu infinito. Inclusive Joe. Ele não sabia por quanto o solteiro mais caro tinha sido vendido, mas pelo menos, o seu valor não seria o mais baixo.

– Nós temos um lance de 5 mil dólares por esta causa excelente – disse o leiloeiro. – E eu imagino que nosso bonito solteiro valerá cada centavo destes.

Ah, a alegria de ser alcovitado por um sujeito gordo com papo suado e um sorriso adulador.

O calor abrasador do holofote de repente deixou seu rosto. Joe observou enquanto o grande círculo dourado banhava a multidão, girando para iluminar a mulher que havia ignorado o protocolo do leilão, subindo o lance tão dramaticamente.

Joe prendeu a respiração, alguma coisa em seu cérebro lhe dizendo que tinha de ser ela. A morena. Aquela em quem ele não conseguia parar de pensar e que talvez tivesse ouvido seu pedido de socorro mental.

O holofote finalmente descansou no topo de uma cabeça muito loira.

Droga.

A mulher de meia-idade, tentando parecer dez anos mais jovem, estava sentada a uma das mesas exclusivas e reservadas na frente, com algumas outras mulheres de aparência igualmente envelhecida. Ela sorriu, satisfeita consigo mesma por ter silenciado todos no salão.

Mas o silêncio tranquilo não durou muito tempo. Por que, de súbito, como se todas tivessem uma só voz, as três companheiras de mesa da mulher deram seus lances.

– Cinco mil e cem.

– Cinco e duzentos.

– Cinco e quinhentos.

Isso continuou por, pelo menos, um minuto, até que a cabeça de Joe estivesse girando. As mulheres ricas loucas estavam dispostas a pagar aquela quantia para irem a um jantar e a um jogo de bola com ele? Insano.

É por uma boa causa. Verdade, mas Joe não podia negar que estava ficando cansado de ouvir esse refrão em sua cabeça.

Os lances já estavam em torno de 8 mil dólares, a loira e suas três amigas rindo enquanto aumentavam os números como uma bola de vôlei sendo arremessada sobre uma rede. Joe detestava vôlei desde que tinha sido um aluno da quarta série, exageradamente alto e desajeitado, que era sempre escolhido por último num esporte de time. E detestava especialmente ser a bola.

Embora as mulheres ofertando estivessem rindo, a diversão delas continha uma ponta de malícia, e seus sorrisos eram tensos. Elas podiam ter começado aquilo como uma brincadeira, mas agora seus espíritos competitivos estavam aflorando.

Joe não sabia por quanto tempo aquilo teria continuado, mas subitamente o salão inteiro congelou mais uma vez. Porque outra voz... do outro lado do salão de bailes... gritou, silenciando as três mulheres que estavam ofertando.

– Vinte e cinco mil dólares.

Joe visualizou o que queria, pediu para que o destino fosse gentil, então seguiu o holofote.

E por uma vez, percebeu ele, sua irmã louca estava certa. Ele pedira, e o universo tinha respondido. Porque a licitante vencedora era sua linda morena.
 
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Vocês querem maratona???? Acho que posso fazer uma enquanto escrevo um capitulo aqui da fic e se eu não cochilar pq eu estou morrendo de sono já kkkkkk
Beijooos <3

6 comentários:

  1. Matatona Maratona Maratona Maratona Maratona Maratona Maratona Maratona Matatona Maratona Maratona Maratona

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  2. OMG, a fic mal começou e eu já estou viciada, olho o blog a cada 5 em 5 min pra ve vc postou! bjos

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  3. Vc posta aqui e não posta no outro blog aff -_-

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  4. Ficou divo!! Preciso de maratona!!! Perfeito!
    Continua.
    Fabíola Barboza :*

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