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O CELULAR de Demi tocou. Por um segundo digno de parar o coração ela pensou que pudesse ser Joe. Tinha esperanças de que ele concluísse que a noite anterior fora especial, e que o que quer que houvesse entre eles também era. Não. O número de Wilmer brilhava no visor.
– Oi, Wilmer.
– Demi, Joe ainda está por aí?
– Não. Tente o celular dele.
Por que Wilmer simplesmente não telefonou para Joe, para começar? Ela não tinha tempo para ficar bancando a telefonista. Estava ocupada demais sendo infeliz.
– Não preciso falar com ele. Eu só estava me perguntando se Joe estava por aí. Preciso dar uma passadinha na sua casa. – A empolgação tingia a voz dele.
Demi, porém, não pretendia ter de encarar nenhum drama de Wilmer.
– Não acho que seja uma boa, Wilmer. É uma hora ruim. Não estou nem um pouco a fim.
– Tenho uma coisa que você precisa ver. – Ele soava trêmulo.
Demi se sentia letárgica e aborrecida demais para discutir. Wilmer, o egoísta, decerto queria mostrar a ela um anel de compromisso que havia concebido para Richard ou algo igualmente fútil.
– Tanto faz. Venha.
– Posso levar Richard?
Pelo menos ele pedira permissão.
– Vocês dois estão unidos pelo quadril agora?
Wilmer riu.
– Safadinha, safadinha, Demi… Péssima escolha de palavras.
– Esqueça o que eu disse. Venha quando quiser.
Demi se manteve ocupada limpando o apartamento e se arrumando até Wilmer chegar, com Richard a tiracolo. Ela podia estar rejeitada e abatida, mas não precisava parecer uma bruxa ou viver feito uma porca relaxada.
Wilmer e Richard chegaram trazendo frappuccinos gelados e meia dúzia de pãezinhos com cream cheese e um salmão defumado do Abrusco’s. Cafeína era bom. Comida era melhor ainda.
Demi pegou a comida oferecida e a apoiou no baú entre o sofá e a cadeira.
– O salmão do Abrusco’s foi ideia de Richard – disse Wilmer.
Obviamente ele queria que ela gostasse de Richard. Demi não tinha certeza se um dia iria gostar dele, mas almejava a civilidade.
– Obrigada.
– Tem um pão de passas com canela com seu nome aí. – Richard deu de ombros.
– Meu favorito. Obrigada de novo. – Demi caçou o pãozinho e o lambuzou com cream cheese gorduroso; a melhor cobertura. Ela mordeu. Mesmo sendo do dia anterior e estando frio, era delicioso.
– Não quer saber o que Richard e eu temos para mostrar? – perguntou Wilmer, pegando um pãozinho de cebola.
– Wilmer, é melhor que isso seja bom, porque não estou no melhor dos humores. – Com pãozinho ou sem.
– Deixe-me adivinhar. – Wilmer untou o pãozinho de cebola com salmão… agora Richard iria aguentar hálito de cebola com salmão. – Você falou para Joe como se sentia, ele racionalizou tudo por você e então foi embora.
– Como sabe? Você falou com ele?
Demi preferiria ter aquela conversa sem Richard, mas na verdade não tinha importância. E ele se mantinha calado. Nem perto de estar tão ofensivo essa manhã quanto estivera de madrugada. É claro, ela ainda não o havia cutucado também.
– Não precisei falar com ele. Somos amigos há muito tempo. – Wilmer gesticulou para Demi com uma faca de plástico. – Eu lhe disse que teria que lutar por ele.
Ela se sentiu vazia.
– Não posso obrigá-lo a me amar se ele não quiser.
– Se ele a amasse, você lutaria por Joe?
Ela fez uma careta. Sabia que Wilmer era quase sempre imprudente, mas nunca cruel.
– Se eu achasse que ele me amava, você sabe que eu lutaria.
Wilmer sorriu como o gato que acabara de engolir o canário.
– Descobri esta manhã que Joe escondia um enorme segredo de mim.
– Sim?
– Eu sabia que ele estava apaixonado por alguém, só não sabia quem. E Joe não é o tipo de cara que você consegue pressionar para obter detalhes. E… bem, talvez eu seja um pouco autocentrado, então não insisti muito.
Por acaso aquilo era um lampejo de autoconsciência da parte dele?
– Sabe, Wilmer, há esperanças de você não ser um completo narcisista.
Richard riu, mas Wilmer ignorou o comentário dela.
– Descobri esta manhã quem é a mulher misteriosa de Joe.
O coração dela se despedaçou. Saber que Joe amava outra pessoa era uma coisa. Mas realmente conhecer…
– Achei que você não tivesse falado com ele – disse ela.
– Não falei, querida. Mas uma imagem vale mais que mil palavras. Lembra-se de nossa festa de noivado na galeria?
– É claro que me lembro. Foi só há dois meses, e quem planejou fui eu.
Por que Wilmer precisava dar voltas para fazer qualquer coisa?
– Será que tudo com você precisa ser dramático? Não pode simplesmente ir direto ao ponto? Quem é ela?
– Tudo a seu tempo, Demi. Delicie-me por um momento. Richard tirou fotos naquela noite, na nossa festa de noivado. Estávamos revendo as fotos esta manhã.
Richard tirou uma fotografia de um envelope acolchoado que Demi não notara, e a entregou a Wilmer, que passou a Demi.
– O que você acha?
Joe, obviamente sem saber que estava sendo fotografado, olhava para alguém fora da câmera. O desejo brilhava no rosto dele. A ternura e a dor nos olhos foram como uma facada no coração dela. A expressão dele, em seu olhar, era tão particular, tão pessoal que Demi sentiu-se uma intrusa só de fitá-lo. Richard havia capturado a beleza e a tristeza do amor. Ela baixou a cabeça.
– Eu diria que esse é o rosto de um homem amando apaixonadamente. – Demi teve de enfrentar o bolo que se formou em sua garganta.
Ela sentiu enjoo. Se aquilo foi na festa de noivado dela, havia chances de conhecer a mulher que ele amava tanto.
Ou talvez não. A maioria dos convidados eram conhecidos profissionais de Wilmer. Tinha sido uma boa oportunidade para ele levar visibilidade à galeria.
Como Wilmer podia parecer tão satisfeito quando ela sentia vontade de vomitar?
– Concordo, querida. Essa foi tirada com zoom. Richard tirou esta outra aqui com lente comum. – Wilmer lhe entregou outra foto. – Dê uma olhada no amor da vida dele.
Demi se preparou para olhar para baixo. A fotografia flutuou até a mesa, caindo de seus dedos inertes.
Atordoada, ela ficou encarando a foto de si mesma sentada sozinha a uma mesa. Todos haviam se levantado para dançar, e ela precisara de alguns minutos sozinha. Joe estava a uma mesa de distância.
Aquele desejo, aquela paixão eram direcionados a ela.
– Mas esta sou eu – sussurrou.
– Sim. Como eu disse, uma imagem vale mais que mil palavras. Ele ama você. – Wilmer esboçou um sorriso triunfante.
O choque a anestesiou.
– Mas não faz sentido. Esta manhã eu disse a Joe como me sentia, eu declarei o meu amor, e ele simplesmente foi embora.
Wilmer assentiu.
– E iria mesmo.
– Mas por quê? Eu disse que o amava. Joe me fez pensar estar apaixonado por outra pessoa e essencialmente me disse para ser feliz na vida.
– Desde que o conheço, ele foi emocionalmente negligenciado. Denise e Paul não são maus, nem cruéis, e acho que eles finalmente descobriram o que fizeram e querem compensar. Os dois sempre tiveram um ao outro, e Joe foi largado sozinho. Agradeça aos avós dele. Se não tivesse sido por eles… Mas Joe está totalmente convencido de que é indigno de ser amado.
Demi havia tirado conclusões semelhantes a partir do mínimo que ele lhe contara sobre sua infância. Mas como Joe podia se achar indigno de ser amado?
– Ele já lhe disse isso, Wilmer?
– Nem precisa. Vou voltar aos clichês desta manhã, mas se uma imagem vale mais que mil palavras, ações falam mais ainda. Joe mantém todo mundo distante. Eu tenho pensado muito em Joe desde que estivemos no hospital, de madrugada. Não acho que ele sempre foi desse jeito, muito embora já fosse quando o conheci. Creio que, quando ele era criança, os pais o excluíam de tudo, e Joe acabou concluindo que doeria menos se fosse ele a pessoa a fechar as portas. E foi o que fez com os pais dele. Com Jillian, uma garota da Inglaterra. Com você. Até mesmo comigo, algumas vezes.
Meio que começava a fazer uma triste espécie de sentido.
– Jillian se casou com o primo de Joe.
Wilmer arqueou as sobrancelhas. – Você sabe sobre Jillian?
– Ele mencionou, ontem à noite.
– Estou surpreso.
– Então… Como Jillian terminou casada com o primo dele?
– Ela disse que, assim que o conheceu melhor, percebeu que Joe não fazia seu tipo – disse Wilmer.
E tão de repente como tinham se apagado, sem alarde, as luzes piscaram de volta.
– Bem, acho que isso acaba de lançar uma luz sobre tudo – brincou Wilmer.
Foi piegas, e Demi revirou os olhos, mas riu mesmo assim.
– As coisas estão ficando mais claras a cada minuto.
– Ai! Essa foi péssima. Acho que vou pedir licença e ir ao seu banheiro bem iluminado depois dessa. – Wilmer ficou de pé e saiu da sala.
Joe a amava. Não algum paradigma magricela sem rosto e sem nome, mas sim Demetria Devonne Lovato e seu traseiro grande. Ele a amava! Se Demi não entendesse a lógica distorcida de Joe, poderia ficar tentada a lhe arrancar a cabeça por fugir dela de manhã.
O apartamento dela já parecia dez graus mais frio, o que Demi sabia ser impossível. Talvez fosse porque seu coração parecia muito mais leve.
Richard pigarreou, e Demi deu um pulo. Esquecera-se dele.
– Eu lhe devo desculpas. Foi errado… Eu estava errado… – Ele suspirou. – Isso não está saindo direito. Não estou dizendo que ser gay é errado. Não consigo acreditar que amar alguém seja errado. Mas pelo jeito como aconteceu… enquanto você ainda era noiva… Desculpe-me por isso. Desculpe por qualquer dor que eu tenha lhe causado. Não espero que seja minha amiga, Demi, mas, pelo bem de Wilmer, não quero ser seu inimigo.
Demi estava ocupada perambulando pela sala para apagar as velas. Ela se aprumou após apagar a última e olhou para Richard. Não havia animosidade nos olhos azuis dele, apenas cautela.
– Não acredito que os fins justifiquem os meios, Richard, mas foi melhor Wilmer ter descoberto isso agora do que depois que estivéssemos casados. – Ela fez uma pausa e alisou o short. – Não tenho certeza se consigo ser sua amiga, mas não sou sua inimiga. – Encarou-o. – A menos que você magoe Wilmer… Aí será o fim de qualquer trégua.
Richard piscou, sem dúvida surpreso.
Ele sorriu e assentiu.
– É justo.
Wilmer retornou do banheiro e olhou de um para o outro.
– Sinto como se estivesse interrompendo algo.
– Só estou colocando Richard a par de todos os seus defeitos, mas quase não tive tempo suficiente para listá-los – disse Demi.
Wilmer fingiu espanto.
– Eu não estava ciente de que tinha algum.
Demi sorriu de maneira angelical.
– Eu poderia atualizá-lo rapidamente se você tivesse uma hora ou coisa assim.
– Você é um doce por oferecer isso, mas desconfio que tenha coisas melhores a fazer com seu tempo. – Wilmer pegou a foto de Joe e Demi, e a avaliou. – É o seguinte, Demi. Acho que ele está com medo de acreditar que alguém poderia realmente amá-lo. Isso não é só um erro. Joe sabe tudo sobre amar. Ele só não sabe como ser amado.
Ela cruzou os braços e sorriu.
– Bem, está prestes a aprender.
Wilmer lhe entregou a fotografia e sorriu também.
– Sentir isso por você deve deixá-lo morto de medo. E depois de você dizer que o amava… Posso jurar que Joe está apavorado. – Wilmer balançou a cabeça. – Se eu não soubesse que você é a melhor coisa que poderia acontecer a Joe, ficaria com pena do pobre sujeito… Quase.
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Posta+! A WEB já está no final? bjos
ResponderExcluirMorri com esse capítulo! Até que enfim o Wilmer fez alguma coisa de útil na vida dele kkkkk
ResponderExcluirContinua pfvr
Fabíola Barboza :*