11.7.14

Blackout - Capitulo 5 - MARATONA 3.10


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TALVEZ ELA tivesse ido um pouco longe demais ao apresentar seus vibradores pelo nome, mas já estava farta da reprovação e do sarcasmo silencioso de Joe.

De acordo com Wilmer, o comportamento de Joe tinha origem na primeira geração americana. O pai dele, um britânico, se realocara em Nova York, antes de Joe nascer, para fazer a curadoria de museus aqui e ali.

Demi não dava a mínima se o pai dele era o próximo da fila na linha de sucessão do trono britânico, estava farta da postura instável de Joe. E, para ser honesta, não se sentia nem um pouco satisfeita consigo por ele a ter excitado ao enésimo grau, aniquilando sua compostura.

Quando perto dele, Demi parecia não conseguir pensar em nada além de sexo. Com Joe. Quase fizera papel de boba quando ele colocara a mão em seus ombros. E então quando tocou seu seio… ela chegou perto de implorar a Joe que a possuísse ali, naquele momento, de forma rápida e intensa, contra a parede do corredor.

Joe despertava nela uma sensualidade que Demi jamais conhecera e, em alguns aspectos, sua intensidade a apavorava.

Em silêncio, Joe colocou as pilhas no aparelho de som. As mãos dele não estavam exatamente firmes quando se atrapalhou com a última. Talvez o confinamento o estivesse afetando também.

O rádio bradou para a vida:

– “…então, pelo visto, houve um bom e velho apagão causado pela alta demanda de aparelhos de ar-condicionado ligados para aliviar o calor extremo. Infelizmente o apagão atingiu a região metropolitana de Nova York, Nova Jersey e Connecticut, e as autoridades nos informam que não têm certeza de quando a energia será restabelecida. Parece que será uma noite quente, então não saia daí. Em homenagem ao apagão, vamos abrir nossas linhas telefônicas para pedidos e recadinhos relacionados ao calor e ao verão. E acho que teremos um monte de bebês daqui a nove meses. Ei, temos que achar um jeito de passar o tempo, não é? Vamos começar nosso bloco com uma antiga. “Love The One You’re With.” Demi girou o botão e desligou o rádio.

Presa em seu apartamento com Joe durante a noite toda? Demi conteve o pânico. Sinais de perigo explodiam em seu cérebro – ela, Joe, luz de velas –, e já parecia que a temperatura no apartamento havia subido alguns graus.

– Bem, podemos esquecer a comida tailandesa para viagem. Está com fome, Joe?

Claro, deixe que a garota gordinha fale em comida. Mas, droga, ela estava morrendo de fome. E aquilo tirava o sexo de sua mente. E Joe. E o sexo com Joe. Bem, provavelmente não, mas Demi continuava com fome.

Joe sorriu, e Demi foi desarmada pelo lampejo de seus dentes brancos sob a luz fraca.

– Estou faminto. Eu seria capaz de comer pregos.

– Não costumo armazenar muita comida. Há uma delicatéssen a um quarteirão e meio daqui. Será que estaria aberta?

– Deveria. Durante o apagão de 2003 as lojas de comida estavam dando fim aos estoques porque não se sabia por quanto tempo ficariam sem energia. Melhor vender tudo do que deixar estragar. Eu ainda tenho algum dinheiro aqui. Vamos arriscar. – Joe sorriu com um toque de ansiedade constrangida. – E eu não me importaria em queimar um rolo ou dois de filme.

Bem, ele era fotógrafo. É claro que iria gostar de tirar fotos. E era incrível como todo o comportamento dele mudava quando falava sobre fotografia.

– Certo. Comida e fotografia. Por mim está bom. – Ela deu de ombros.

Assim que Demi disse tais palavras, um relâmpago brilhou no céu e um trovão ribombou. A chuva veio em um ataque repentino. Nada, pelo jeito, era sutil ou aconteceria aos poucos naquela noite.

– Ou não. Tudo bem. É isso. Não vou planejar mais nada hoje, porque tudo o que eu planejo é arruinado. –  Demi deu uma risada nervosa.

Estavam presos ali. Ela pegou uma pequena vela para guiá-los de volta ao corredor.

– Não sou a rainha da culinária, mas não será preciso comer pregos.

Ela não fez comentários quando Joe apagou as outras velas no quarto antes de pegar o aparelho de som e segui-la. Havia velas suficientes no armário para uma semana, mas não valia a pena discutir.

Demi estava mais do que disposta a fazer as pazes, já que teriam de permanecer juntos ali.

A caminho da cozinha, ela apanhou sua taça de vinho.

– Seria péssimo desperdiçar uma boa bebida.

– Ah, algo com que concordamos.

Demi esperou Joe trocar o rádio por sua taça e pela garrafa de vinho. Considerando a metragem mínima do apartamento, eles não teriam problemas para ouvir o rádio da cozinha. Ele a seguiu até o outro cômodo, e em poucos segundos, várias velas iluminavam o ambiente.

– O que é isso? – perguntou Joe.

Demi seguiu o olhar dele até o topo da geladeira. Na penumbra, Peaches se assemelhava mais a um borrão de uma ave de rapina do que a um felino.

– Peaches, meu gato. Ele gosta de ficar em cima da geladeira. É ele quem se comporta mal e tem audição seletiva.

– Pobre companheiro. Você também teria um mau comportamento se fosse um cara chamado Peaches. – Joe emitiu um som de compaixão e surpreendeu Demi quando esticou a mão para acariciar o gato atrás da orelhas.

Peaches sibilou e fez menção de arranhá-lo na hora.

– Ele não é o sr. Amigável.

– Nem eu – disse Joe com um sorriso autodepreciativo enquanto se recostava no balcão e cruzava os braços.

– Bem, esqueça, não vou adotá-lo se você estiver abandonado – disse ela com um sorriso maroto, apesar do frio na barriga diante da ideia de ter Joe para si. – Você de certo seria tão mal-humorado e ingrato quanto ele.

– Anotado. – E esboçou mais um sorriso que duplicou o ritmo cardíaco de Demi. – Por que resolveu ficar com o pilantrinha?

– Porque foi amor à primeira vista… da minha parte. – Ela desviou o olhar dele. Aquilo quase soou como se ela tivesse declarado ter sentido amor à primeira vista por Joe. Uma concepção totalmente ridícula. – Peaches vai mudar de ideia, mais cedo ou mais tarde.

Joe ergueu uma sobrancelha sarcástica em direção a Peaches.

– Acredito que você seja uma eterna otimista.

– Pode me chamar de Pollyanna. – Ela abriu a porta da geladeira e espiou o buraco negro, considerando as opções limitadas de comida. – O micro-ondas ou o forno não vão funcionar. Tenho sobras de pizza. E dá para fazer uma salada de frutas. O que acha?

– Melhor que pregos.

Demi riu, gostando da provocação sutil e relaxando na companhia dele. Apanhou a comida e fechou a porta da geladeira.

– Você é sempre tão gentil e entusiasmado?

– Sim, exceto quando estou de mau humor.

Joe bebericou o vinho e, como se a camaradagem entre os dois fosse inaceitável, ela quase podia vê-lo recuando. Queria que ele ficasse.

– Foi um desencontro totalmente desastroso eu não ter sido o atrasado e Wilmer não estar aqui com você.

Wilmer. Certo. O noivo dela. Demi girou a aliança com o polegar. A culpa a inundou. Não reservara nem um pensamento, por minúsculo que fosse, a Wilmer desde que o celular de Joe tocara.

Demi deu de ombros.

– É uma emergência. Todos fazemos o melhor possível. Tenho certeza de que Wilmer preferiria não estar preso na galeria com o pintor. E, embora você possa não se sentir empolgado por estar aqui, é melhor que ficar preso no metrô.

Demi pegou a tábua de corte, uma faca e uma tigela.

– E por que você acha que eu não estaria empolgado por estar aqui? – perguntou ele.

Demi começou a fatiar o abacaxi fresco. Quase respondeu que não era tão burra quanto parecia, mas pensou duas vezes.

– Eu deveria acreditar que você se sente feliz por ter de permanecer preso neste apartamento comigo?

– Você acreditaria em mim se eu dissesse que não há outro lugar onde eu preferiria estar? – Algo na profundeza do olhar dele roubou o fôlego dela.

Demi riu para disfarçar sua falta de ar e tirou o miolo de uma maçã.

– Não. Deve haver uma lista de um quilômetro com os lugares onde você preferiria estar, mas é bonzinho demais para admitir.

– Muito. Sou um sujeito tão legal…

– Seja honesto. Não seria muito melhor estar com sua namorada? Ou, se a sessão de fotos tivesse demorado um pouco mais, você estaria com Chloe.

Certo, ela admitia: jogara a isca. Ela e Wilmer haviam saído em dupla de casais com Joe várias vezes. Em cada ocasião era uma mulher diferente. Mas, após a sessão de fotos com Demi, Joe sempre implorava para ser liberado em todas as ocasiões em que Wilmer o convidava.

Demi acrescentou maçãs em cubinhos à tigela e pegou uma banana. A vida amorosa de Joe a intrigava. Não que Demi tivesse algo a ver com ela. Mas se vinha tendo sonhos altamente sexuais com ele, podia pelo menos conhecer a vida amorosa de Joe.

– Não tenho namorada, e Chloe não faz meu tipo. – Joe deu de ombros.

Uma modelo magra e linda não fazia o tipo dele? Demi olhou para Joe, analisando as implicações. Talvez ele fosse…

– E não, não quero dizer que não faz meu tipo desse jeito. Não sou gay. Chloe é uma boa garota, mas não me causa nada.

Ufa! Ela não deveria ficar tão aliviada. Fatiou uma laranja. Que tipo de mulher fazia o tipo dele? Quem seria atraente para um sujeito autossuficiente como Joe? E por que ele não tinha namorada? De um modo sombrio, diabólico, ele era sexy a ponto de causar arrepios, de enlouquecer.

– Então que tipo de mulher causa alguma coisa em você?

– Nunca pensei no assunto, de fato.

– Claro que pensou. Todo mundo tem um tipo favorito.

– Eu realmente não tenho um tipo.

Ele precisava relaxar um pouco. Demi misturou as frutas.

– Lógico que tem. Aposto que se parar para pensar no assunto, há um determinado tipo de mulher que o atrai, que faz seu sangue ferver.

– Isso é algum tipo de jogo, Demi? Quer que eu responda que é uma mulher como você? – A voz dele saiu baixa, perigosa em sua intensidade silenciosa.

Não era exatamente o que ela queria?

Saber que em todas as vezes que se contorcera, gritara o nome dele no meio de um orgasmo, acordara úmida e extenuada, ele não era totalmente imune a ela?

Sim e não. O único jogo que ela estava fazendo era consigo, e parecia bem perigoso. Demi desviou o olhar daqueles olhos escuros, feliz por estar se ocupando em apanhar duas tigelinhas no armário.

– Não seja ridículo. Já deixou bem claro o que acha de mim. Só estou surpresa por você não estar mais saindo com Lenore. Vocês formavam um belo casal.

Lenore fora a acompanhante de Joe na noite em que Wilmer pedira Demi em casamento. A loira alta e esbelta fora um belo complemento ao visual urbano e moreno de Joe.

Ela dividiu duas porções, e eles se sentaram à mesinha de ferro forjado, no canto.

Joe deu de ombros.

– Lenore é legal. É por isso que parei de vê-la. Estou meio que numa situação de amor não correspondido, e não parecia justo sair com ela quando minha cabeça e meu coração estavam ocupados de outra forma. Delicioso, a propósito – disse ele, indicando a salada de frutas e a pizza. – Obrigado.

– Que bom que gostou.

As outras palavras dele a atingiram.

Um ciúme obscuro espiralou dentro dela diante da ideia de que uma mulher havia conquistado o coração distante de Joe. Essa mulher misteriosa devia ser um belo exemplar. Linda, sofisticada, magra, espirituosa, na certa com alguns doutorados no currículo. Demi já a odiava imprudente, inconsciente e instintivamente. Odiava a tal mulher por tê-lo conquistado e também por desprezá-lo.

Assim, claro que ela comentou:

– Sinto muito. Essa é uma posição difícil. Quer falar sobre isso? A respeito dela? Algumas vezes, quando conversamos com alguém, as coisas não soam tão desesperadoras como parecem. – Pelo visto não conseguia calar a boca, obcecada que estava em expiar sua luxúria. – Talvez eu pudesse ajudá-lo a descobrir um jeito de conquistá-la… Sabe como é, sob a perspectiva de outra mulher.

Demi mordeu a pizza, encontrando algo mais para fazer com a boca em vez de tagarelar. Joe a olhou por cima da borda da taça de vinho, a expressão indecifrável.

– Está oferecendo ajuda para minha triste vida amorosa?

Aquilo poderia se provar ser exatamente a cura de que ela precisava para superar aquela… aquela coisa por ele. Demi assentiu e engoliu.

– Claro. Por que não?

Joe pôs sua taça vazia sobre a mesa.

– Que generosidade. Ela, porém, está indisponível.

Ai…

– É casada?

– Não. Mas está em um relacionamento sério.

Aquilo a irritou. Será que Joe estava mesmo apaixonado ou era o fator de indisponibilidade? As pessoas, sobretudo homens, sempre desejavam o que não podiam ter. Era só colocar um rótulo de tabu em cima e eles tinha que possuir aquilo.

– Até ela dizer eu aceito, não estará indisponível. Precisa saber o quanto ela é importante para você, Joe. Se está disposto a abrir mão de outros relacionamentos, ela deve ser muito importante. Acorde, Joe, e sinta o cheiro do café. O que fará? Ficará sentado em um estado estranho de celibato…

– Eu nunca mencionei celibato. – Joe tentou lançar um olhar soberbo sobre ela.

Demi revirou os olhos.

– Ora, vamos… Se você não vai sair com uma mulher porque não quer ser injusto, então não está dormindo com ninguém. – Era alarmante o quanto aquilo a agradava. Então é claro que Demi se esforçou ainda mais para pressioná-lo: – Vai ficar orbitando pelo celibato por alguns anos ou até mesmo pelo resto da sua vida porque ela está em um relacionamento, mas não casada? O quanto você a deseja?

– Com cada fibra do meu ser.

A intensidade silenciosa dele fez Demi sentir um arrepio na espinha e uma pontada no coração. Qual era o problema dela? Quem ele deseja e o quanto deseja nada têm a ver comigo.

– Nesse caso, é hora de você ir atrás do peixe ou jogar a isca fora.
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3 comentários:

  1. Demétrio acorda querida é de você que ele tá falando. Eu já tinha me jogado em cima desse Deus Grego e faria um estrago kkkkkk
    Aí eu estou amando essa mini fic tô apaixonada <3
    Posta mais :)
    Fabíola Barboza :*

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  2. Demetria acorda querida é de você que ele tá falando. Eu já tinha me jogado em cima desse Deus Grego e faria um estrago kkkkkk
    Aí eu estou amando essa mini fic tô apaixonada <3
    Posta mais :)
    Fabíola Barboza :*

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  3. Meu DEUS essa fic esta perfeita d+ . Super empolgada para os próximos capítulos. Posta logo por favor!!!!!

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