18.7.14

Lento - Capitulo 8

 
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AQUELA TARDE foi tudo o que Demi tinha sonhado que seria. Seus 25 mil dólares lhe comprara assentos na arquibancada num jogo que o Cubs estava prestes a perder. Mas não importava. Ela se sentia tão excitada por estar no meio da multidão, vendo seu time de beisebol jogar ao vivo, da maneira que sempre imaginara que seria, que não poderia se importar.

Joe a tratava como a garota comum que ela proclamara ser. E... apesar da criação supostamente internacional dele, da qual ela não vira a menor evidência desde que eles se conheciam... ele estava fazendo o papel do bom sujeito comum, como se o tivesse inventado. Era difícil imaginar que ele fosse qualquer outra coisa, exceto um homem normal e trabalhador, de uma cidade pequena, em vez de um acompanhante contratado disputado por mulheres ricas.

Talvez Sel tivesse se enganado.

Não. Não havia engano algum. Ela dera o número certo a Demi, e sua madrasta e as amigas haviam ofertado como loucas no Solteiro Número 19. Além disso, pelo que Demi se lembrava de ter lido sobre a biografia dele no programa, Joe gostava de viajar o mundo à procura de mulheres lindas e aventuras sexys.

O que não combinava com o homem torcendo para o time da casa, ao seu lado. Então ele obviamente usava um personagem diferente, dependendo da situação. Demi não sabia, entretanto, qual era o homem verdadeiro.

– Quer amendoim? – perguntou ele, já sinalizando para um vendedor ambulante.

– Eu acho que isso estava na minha lista de requerimentos para hoje – admitiu ela.

Joe sorriu, pôs uma cerveja gelada na mão dela e olhava com raiva para qualquer um ao redor deles que se aproximava muito, com seus braços e cotovelos gesticulando loucamente.

Ele também fez comentários durante a partida, explicando todas as jogadas. Ela lhe permitiu. Aquilo parecia uma coisa tão inata dos homens... a necessidade de explicar esportes para as mulheres... que Demi não teve coragem de lhe contar que tinha sido a estrela do time de fast-pitch softball, uma espécie de beisebol, na faculdade. Ela até mesmo pensara em seguir carreira com aquilo e integrar-se ao time nacional.

Demi podia não estar tão em forma, porque trabalhava no banco há diversos anos, mas tinha sido uma boa atleta. Até mesmo considerara cirurgia para redução dos seios. Sutiãs esportivos não eram feitos para mulheres de seios grandes.

Demi havia desistido de suas esperanças olímpicas quando seu pai se divorciara da terceira esposa. Ela ficara tão preocupada com ele que decidira ir para casa, após sua formatura, em vez de perseguir aquele sonho.

O que significava que seus seios continuavam grandes o bastante para chamar a atenção de alguns homens ao seu redor. Ela vinha ouvindo os comentários de um idiota sentado na fileira de trás pela última meia hora, mas estava determinada a ignorá-los. Tinha muita prática nisso.

Joe, todavia, não tinha.

Depois que a voz embargada pelo álcool se tornou alta o bastante para que Jake a ouvisse sobre o barulho da multidão, ele se levantou, virou-se e balançou um dedo zangado diante do rosto do homem bêbado.

– Sua mãe nunca lhe ensinou a manter os olhos em si mesmo e sua boca grande fechada? – disse ele.

O fã de baixo calão, um sujeito suado e corpulento, com faces vermelhas e hálito de cerveja, também se levantou, balançando sobre os pés.

– Ei, cara, ela é gostosa.

– Ela também não é surda – murmurou Demi, virando-se para observar. E não deixou de se levantar para impedir que o imbecil olhasse mais de perto para seus seios. O decote de sua blusa não era baixo. E Demi não tinha do que se envergonhar.

– Você é gostosa – repetiu o homem enquanto lhe dava um olhar convidativo, de cima.

– Assim você disse.

Apesar da grosseria que ela ouviu do estranho, Demi se sentiu mais irritada do que ofendida. Não permitiria que um homem gordo e asqueroso, obcecado por seios, arruinasse sua tarde adorável.

Não era como se ela nunca tivesse tido aquela experiência antes. Uma mulher com a sua constituição física ou se acostumava com homens tratando-a como um par ambulante de seios ou passava a vida inteira num constante estado de irritação.

Ele deu um sorriso torto para Demi, ainda distraído da profundidade da raiva de Joe.

– Se a câmera descobrisse seus seios, aposto que focariam em você e a colocariam no telão.

– Ah, e eu vivo somente para um momento como este.

– Você não deve gostar muito de seus dentes, amigo – disse Joe. – Continue falando e irá se despedir de muitos deles.

Demi se tornara adepta a revidar ofensas de homens daquele tipo, mesmo se, com frequência, suas observações insultantes subissem diretamente às cabeças imbecis deles.

– Por favor, Joe, deixe isso para lá – acrescentou ela. – Tenho certeza de que no mundo do programa favorito deste cavalheiro, The Girls Next Door, ele se comporta de maneira totalmente gentil.

– Ei! Este é o meu programa favorito!

Claro. Um reality show tão vazio quanto à cabeça do imbecil.

Ela quase riu... até que percebeu que Joe não estava meramente zangado, e sim furioso. Ira brilhava nos olhos escuros, e o corpo poderoso parecia pronto para atacar. Ele parecia capaz de pura violência, tudo porque um bêbado estúpido tinha aberto a boca.

O bêbado estúpido estava provavelmente bêbado demais para perceber que se encontrava a poucos

centímetros do gigolô enfurecido. – Eles são de verdade, não são?

– Sente-se – disse Demi, finalmente começando a perder a paciência. Ela agarrou o braço de Joe, detendo-o quando ele se aproximou ainda mais do homem. – Você também. Antes que arruíne a nossa tarde.

– Demi...

Ela manteve a mão no braço dele, as unhas enterrando em sua pele, determinada a lidar com a situação sozinha. Sem violência. Todavia, Demi tinha de admitir, uma pequena parte sua gostava do jeito de Joe era protetor, mesmo se ela geralmente não precisasse de tais demonstrações descaradas de testosterona.

– Você. Sente-se. Eu falo sério – ordenou ela ao estranho embriagado, apontando para o assento dele.

O homem se sentou.

– Agora estou certa de que, de alguma maneira, em seu cérebro inundado de cerveja, você acha que eu estou lisonjeada por seus elogios feitos com palavras tão eloquentes. – Demi não precisou aumentar o tom de voz para ter certeza que estava sendo ouvida. Todo murmurinho ao redor deles tinha parado, e ela não achou que um único espectador naquela seção estivesse vendo o que acontecia no campo abaixo. O confronto ali era, aparentemente, muito mais interessante.

– Entretanto, embora eu possa ver que você é um homem que possui qualidades porcinas admiráveis, como pode ver, eu estou aqui na companhia de outro cavalheiro. E nenhum de nós aprecia sua atenção. Portanto, você pode, por favor, refrear-se de mais comentários e nos deixar voltar ao jogo?

O homem estava boquiaberto.

– O que ela falou?

Um homem de aparência embaraçada ao lado dele, o amigo que não se esforçara em oferecer ajuda ao bêbado, murmurou:

– Eu tenho quase certeza de que ela mandou você calar a boca.

– Sim – disse alguém ali perto. – Então, como um favor a todos, faça isso!

– Ah – exclamou o bêbado, finalmente olhando ao redor e percebendo o tumulto que criara. Se Demi tivesse gritado, ele provavelmente não teria recuado. Como era, todavia, uma resposta calma e cortês, isso o fez parecer um tolo completo. E ele não estava tão embriagado a ponto de não perceber isso.

– Desculpe – murmurou ele.

– Obrigada. – Demi sorriu e assentiu com um gesto de cabeça educado, então virou-se de frente para o campo, pondo um ponto final definitivo na interação. Não ia perder mais um único momento do lindo dia com um tolo embriagado.

Ela nem mesmo virou o rosto quando Joe voltou a se sentar ao seu lado.

– Eu posso cuidar de mim mesma, sabe? – murmurou ela, olhando para o campo.

– Sim, eu notei. – Joe se inclinou para mais perto, perto o bastante para que ela sentisse a respiração dele soprar em seu cabelo. Sem mencionar o jeito como os ombros se sacudiam com a risada. A raiva dele desaparecera tão rapidamente quanto vapor num espelho de banheiro. – Corrija-me se eu estiver errado... você acabou de chamá-lo de porco?

– Eu não sei o que você quer dizer.

– Hã-hã. É claro que não sabe.

Ainda rindo, Joe casualmente abaixou sua mão grande e sólida sobre a coxa dela e apertou-a. Não a zona mais erótica do corpo de Demi, mas ainda assim, cada célula de seu corpo ganhou vida. Seu sangue correu nas veias diante da sensação daquele toque forte e quente, e ela foi completamente incapaz de deter as imagens mentais que inundaram sua mente.

A pele de Demi formigou sob o tecido de sua calça, perante o pensamento de Joe subindo mais aquela mão, acariciando-a, enquanto a beijava de novo, como tinha feito no carro. De maneira lenta, doce... então mais profunda e mais feroz.

Queria que ele a beijasse de todos os jeitos que um homem podia beijar uma mulher. E em todos os lugares de seu corpo.

Deus, ela estava perturbada. Todavia, Joe não parecia nem um pouco afetado, ainda dando aquele sorriso fácil.

– Lembre-me de nunca ficar contra você. Eu sou um pouco mais esclarecido do que seu amigo lá. E realmente acredito que a sua língua poderia extrair sangue se a pessoa entendesse o que você estava dizendo.

Demi tentou forçar seu coração a diminuir o ritmo das batidas, lutando pela mesma indiferença que Joe parecia sentir sobre seu toque casualmente possessivo na perna dela.

Mas não teve sucesso. Sua pulsação continuou acelerada, sua respiração ofegante e irregular. Ela não conseguia tirar os olhos dos dedos fortes e bronzeados delineados contra sua roupa.

Então, graças a Deus, foi salva. Porque, com as bases carregadas, o próximo jogador lançou uma bola para fora do parque. O estádio inteiro gritou, levantando-se como se fosse um único ser enorme e sinuoso. Demi e Joe entre eles.

Quem quer que fosse aquele jogador, ela poderia beijá-lo, realmente poderia. Porque, de alguma forma, durante as celebrações eufóricas da vitória do time da casa, ela conseguiu ficar calma e colocar todas as suas perspectivas de volta no lugar.

Aquilo estava quase acabando, lembrou a si mesma. O encontro deles estava no fim, e então ela poderia esquecer tudo sobre o dia de hoje, tudo sobre Joe. Ver como ele ficara completamente inabalado por um simples toque que a deixara ofegante a relembrara com quem estava lidando. Este homem brincava com toques íntimos e era completamente inabalado por eles.

Demi, por sua vez, não era, e nunca seria. O que significava que precisava pôr um fim naquele encontro ridículo. E voltar à sua vida regularmente programada.
 
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3 comentários:

  1. Muito bom!!! Posta mais!!!! Posta logo por favor!!!

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  2. Amei muito esse capítulo. Principalmente a Demi xingando o cara kkkkkk
    Continua pfvr
    Fabíola Barboza :*

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