20.7.14

Lento - Capitulo 18 - Maratona 6.10


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DURANTE OS dias que se seguiram, Demi lembrou o que era ser mulher. Uma mulher sensual, sexual. Em vez de uma bancária monótona, uma filha obediente, uma irmã compreensiva.

Ela e Joe haviam passado o fim de semana inteiro juntos, permanecendo a bordo do barco na noite de sábado, em vez de voltar para a praia. Quaisquer que fossem as obrigações dele, Joe, pelo menos, tinha sábado e domingo livres. Eles navegaram e riram, conversaram e fizeram muito amor. Mas na segunda-feira, ele desapareceu novamente, dizendo que estaria ocupado pelos próximos dois dias... outro compromisso de 48 horas... e prometeu vê-la dentro de alguns dias.

Ela se forçara a não pensar sobre onde ele estava, com quem estava e o que estava fazendo. Joe lhe dera a sua palavra de que não teria contato sexual com nenhuma outra pessoa, mas isso não significava que ele não estivesse vendo outra mulher. Profissionalmente. Ou pessoalmente.

Deus, ela nem sequer lhe perguntara se ele estava envolvido em algum tipo de relacionamento. Focara-se apenas no... emprego dele.

Esqueça isso, Demi dizia a si mesma diversas vezes. De maneira alguma, ele teria concordado com os termos se estivesse seriamente envolvido com outra mulher. Além disso, não havia nada que ela pudesse fazer. Apenas teria de confiar em Joe.

Honestamente, confiava. O homem aceitara seu cheque, o que tanto a aliviara quanto partira um pouco seu coração. Todavia, tinha sido mais um alívio do que qualquer outra coisa, porque aquilo selara o acordo deles. Embora confiar em qualquer homem não fosse fácil para ela, principalmente depois de Oliver, Demi tinha confiança em seu julgamento profissional.

Ele cumpriria sua parte no acordo. Ela sabia disso.

E foi assim que conseguiu sobreviver às 48 horas sem enlouquecer, imaginando se ele estava no braço de alguma velha rica como Bitsy Wellington, explicando que não poderia oferecer mais serviços íntimos.

Felizmente, todas essas preocupações haviam desaparecido na quarta-feira à noite. Joe aparecera a sua porta, com um lançamento de DVD, um grande saco de pipocas, diversos tipos de chocolates, e a informara que eles fariam uma sessão de cinema.

Uma vez que ela abrira a porta usando nada além de uma camisola verde-esmeralda, todavia, ele decidira que o cinema podia esperar.

Eles tinham feito amor no tapete da sala de estar. Um ato de amor selvagem, com ambos rolando no tapete, absolutamente vorazes um pelo outro. Demi, como sempre, ficara surpresa tanto pela paciência de Joe quanto pelo vigor, incerta de onde ele obtinha tanta força. Por fim, eles acabaram diante das janelas com vista para as luzes brilhantes da cidade.

Ele a tomara por trás, os dois ajoelhados na frente de todo aquele vidro e de todas aquelas estrelas, uma enorme lua cor de laranja acima de suas cabeças.

Demi tivera vontade de uivar para a noite, como uma criatura selvagem e indomável. Quando viu suas impressões digitais espalhadas na janela no dia seguinte, decidiu que indomável havia sido uma boa descrição.

Houvera duas noites inteiras de risadas, conversas sussurradas e êxtase sexual, então mais duas noites de silêncio secreto. Até agora. Era domingo novamente, e ela estava dirigindo para encontrá-lo num restaurante local.

Joe tinha se oferecido ir à casa de Demi. Mas ambos sabiam, pela outra noite, que se ela permitisse isso, eles não comeriam nada até de manhã. E, francamente, ela estava morrendo de fome, e sua cozinha estava, como de costume, vazia.

Além disso, eles tinham a noite inteira. Por hora, Demi queria apenas apreciar a companhia dele, em público, como se eles fossem um casal normal. Vocês não são.

– Sim, sim – murmurou ela para a voz cética em sua cabeça, enquanto entrava no restaurante às 19h em ponto, seu olhar percorrendo o estabelecimento lotado, à procura de ombros largos familiares e cabelo curto e grosso.

– O quê?

Demi nem mesmo percebera que Joe estava de pé ali perto da entrada, até que ele parou do seu lado e tocou-lhe o braço.

– Oi.

– Olá. – Apesar da multidão, ele inclinou-se e lhe deu um beijo leve nos lábios. Quando terminou, em vez de afastar-se, roçou o nariz contra o seu, num gesto doce e carinhoso... um beijo de esquimó, fazendo-a lembrar-se de sua infância, quando os compartilhara com sua mãe. Derreteu um pouquinho no lugar.

– Vamos pegar uma mesa?

– Com certeza! Eu estou faminta.

– Isso significa que você não vai comer uma salada?

Demi cutucou-lhe as costelas com o cotovelo, enquanto eles se aproximavam do balcão da entrada para pedir uma mesa. Antes que chegassem lá, contudo, o celular de Joe tocou.

– Eu irei desligar – murmurou ele. – Não estou de prontidão esta noite...

Demi ergueu uma mão para impedi-lo de continuar falando. Não queria saber nada sobre o trabalho dele.

– Tudo bem.

– Ah – exclamou ele, lendo o número. – É melhor eu atender este.

Demi sorriu para a recepcionista, pediu uma mesa para dois, enquanto Joe ia para um canto, a fim de atender a ligação. Tentando não prestar atenção, ela não pôde evitar ouvir partes fragmentadas da conversa. Palavras como “querida” e “anjinho, vai ficar tudo bem, sabe que eu estou aqui para você”, fazendo seus ouvidos se aguçarem, como se ela fosse parceira de James Bond, espionando.

As palavras eram ruins o bastante. Mas foi o tom de voz suave e gentil que verdadeiramente a perturbou. Não gostava de pensar em Joe usando aquela voz com qualquer outra mulher. E não tinha dúvidas de que ele estava falando com outra mulher.

– Quer saber, por que não dá esta mesa para outro casal? – falou Demi para a anfitriã, sua coluna enrijecendo. Tinha perdido o apetite.

– Essa é uma boa ideia – disse Joe, fechando o telefone e dando-lhe um olhar agradecido, enquanto retornava para seu lado.

Hum. Demi perguntou-se quão grato ele ficaria se ela pegasse o celular da mão dele e o jogasse dentro do aquário de peixes tropicais do restaurante. – Nós temos de ir.

– Nós? – Arqueando a sobrancelha, ela acrescentou: – Tem certeza de que você não precisa ir sozinho? Sou perfeitamente capaz de voltar para casa... estou com meu próprio carro.

Ele meneou a cabeça, pegando-lhe o braço e conduzindo-a em direção ao lado de fora.

– Não, eu não deixarei você escapar. Eu estava ansioso por este encontro desde que saí de sua casa na sexta-feira de manhã. – Joe abriu a porta do restaurante, esperou que ela saísse e seguiu-a para a noite ao ar livre. – Isso não deve levar muito tempo. – Franzindo o cenho, acrescentou: – Eu espero.

– Ouça, Joe, eu sei que isso é apenas trabalho e tudo mais, porém, se você precisa lidar com uma de suas outras... clientes... eu preferiria não acompanhá-lo. Não sou o tipo de mulher que vai ficar esperando no carro enquanto você entra em algum lugar e explica para sra. Robinson que não pode estar aos serviços dela esta noite.

Ele congelou, a boca se abrindo numa expressão de perplexidade. Foi quando Demi percebeu que cometera um engano.

– Eu pensei... quero dizer...

– Você honestamente pensou que eu ia levar você comigo enquanto ia encontrar uma cliente.

– Você foi tão carinhoso ao telefone que eu presumi...

– Era a minha irmã mais nova, Jenny. Ela acabou de ter uma briga horrível com o namorado. Ele foi embora com o carro e deixou-a encalhada no Navy Pier. Ela estava chorando e me pedindo para ir buscá-la e levá-la de volta para seu dormitório.

Joe balançou a cabeça, desapontamento tão claro em sua fisionomia que ela podia quase sentir a emoção inundando-a.

– Eu sinto muito. Posso ser tão malvada. – Demi engoliu em seco e deu um passo em direção ao próprio carro. – Por que eu não vou para casa e você me liga mais tarde... se quiser?

Agarrando-lhe o braço, Joe a deteve, aproximando-se e segurando-lhe o queixo na mão. Deu-lhe um beijo rápido nos lábios.

– Cale-se. Apenas me leve para lá. Minha picape não é grande o bastante, e o seu carro, pelo menos, tem aquele pequeno banco traseiro. Nós cuidaremos de Jenny, depois iremos para a sua casa. – Estreitando os olhos, Joe a beijou novamente, então murmurou contra seus lábios: – E eu a farei pagar por sua falta de fé em mim.

Tão aliviada por não ter arruinado a noite deles completamente, ela deu um sorriso trêmulo. Eles entraram no carro, Demi atrás do volante, ligando o motor e saindo do estacionamento. Antes mesmo que eles tivessem chegado à rua, seu bom humor retornara.

– Como você vai me fazer pagar?

– Eu irei torturá-la – replicou ele, o tom de voz entediado, a atenção do lado de fora da janela.

– Torturar?

Ele finalmente a fitou, os olhos brilhando na luz do painel do carro.

– Eu sei que você fica louca quando eu vou devagar. Bem, esta noite, eu irei tão devagar que você pensará que eu estou recuando.

As coxas de Demi tremeram.

– Monstro.

– Sim. Este sou eu. – Ele pôs uma mão na coxa dela. – Dirija depressa, certo? Jenny parecia muito triste.

– Você disse que ela é a mais nova? Quantos anos ela tem?

– Vinte. Existe uma diferença de oito anos entre ela e eu. Minhas irmãs mais velhas e eu a chamamos de “o acidente”.

Humm... então Joe tinha 28 anos. A sua idade.

– Engraçado ela ter chamado você, em vez de uma de suas irmãs – murmurou Demi. Toda vez que Selena rompia um relacionamento, aparecia na casa de Demi com uma garrafa de tequila e com uma fortuna em cosméticos, que alegava precisar para superar aquilo.

– Ela está envergonhada. Minhas irmãs não suportam o namorado de Jenny e diriam: “eu lhe avisei”. E meus pais usariam isso contra ela, se e quando eles voltarem. O que, conhecendo Jenny, provavelmente será logo.

O pai de Demi era igualzinho. A única vez que eles tinham encontrado Oliver, depois que ele enganara Demi, seu pai o xingara de diversos nomes feios.

– Mas você gosta do rapaz?

– Ah, não. Ele é um patife preguiçoso, e eu não o suporto.

– Então por que ela ligou para você?

– Porque ela não sabe que eu não o suporto. Sei manter a boca fechada e cuidar de minha própria vida.

– Diferentemente de suas irmãs... das mulheres... é isso que você quer dizer? – perguntou ela, não realmente ofendida, mas apreciando colocá-lo numa situação difícil.

Não que Joe tivesse ficado lá por muito tempo.

– Suas palavras. Não minhas. Falando nisso... eu não preciso lhe pedir para manter os detalhes de nosso... acordo... em segredo, preciso? Minha família não sabe sobre...

– Já entendi. – Demi não estava chateada pela pergunta. É claro, ele precisava ter certeza.

Ademais, Joe não parecia acreditar muito que ela o exporia como um prostituto para a irmãzinha. – Eu sou apenas alguém com quem você saiu para jantar. – As palavras ofereceram uma boa abertura para saber um pouco mais sobre ele, e ela não perderia a oportunidade. – Eles não vão achar estranho... vê-lo comigo? Quero dizer, você não tem alguém com quem eles estão acostumados a vê-lo?

Joe viu através dela. Como sempre. Rindo suavemente e colocando o cabelo dela atrás de uma orelha, murmurou:

– Eu não me envolvo com alguém há muito tempo.

Demi não queria pensar por que era um alívio tão grande o fato de ele não ter uma namorada.

– E, Demi? Você é mais do que alguém com quem eu saí para jantar – sussurrou ele. – Muito mais.

Mantendo os olhos na estrada, Demi não pôde conter um pequeno sorriso, mesmo se somente interno.

Porque Joe significava tão mais para ela também.
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3 comentários:

  1. GENTE, REAL!!!!! To louca pra saber como a Demi vai descobrir que ele n é um gigolo, e tenho certeza que quem vai desconfiar é a Selena.... ou nao ne? Ela vai aparece com Joe na frente da madrasta? ADORO!!!!
    O que a irmã de Joe vai achar dela? Ansiosa! !!

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  2. Eu quero saber o que a Demi vai fazer quando descobrir que ele é um paramédico!! Amando essa mini fic!
    Continua :)
    Fabíola Barboza :*

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  3. Amando mais mais please estou ansiosa para saber a reação da Demi quando descobrir que ele não é um gigolô e sim um paramédico. Posta logo mais

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