19.7.14

Lento - Capitulo 14 - Maratona 2.10

 
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– VOCÊ PODE, por favor, me explicar isso? Teve a melhor noite de sua vida, com um homem maravilhoso, que poderia dar aulas para o deus do amor, e disse-lhe que nunca mais quer vê-lo? Isso faz algum sentido?

Demi deu uma olhada rápida ao redor do restaurante sofisticado, que ficava a alguns quarteirões do banco. Estava vazio, exceto por clientes que gostavam de um happy-hour adiantado na sexta-feira, e nenhum deles, felizmente, parecia ter ouvido a observação muito pessoal de Selena.

Ela continuou olhando para sua irmã, que estava, como sempre, impecavelmente vestida e arrumada, sem um único fio de cabelo loiro fora do lugar.

– Sim. Faz total sentido para mim. Para mim e para todas as pessoas no lugar.

Sel fez uma careta, nem um pouco arrependida.

– Eu acho que a cegonha trocou você com o bebê de uma freira na ocasião de seu nascimento. – A incongruência daquela declaração não pareceu ocorrer para sua irmã mais velha, que balançou a cabeça, pegou sua bolsa cara e retirou uma cigarreira chique de dentro. – Você é puritana demais para ser minha irmã.

– Com licença, senhora? – uma voz falou ao lado da mesa. O maître obsequioso aparecera rapidamente. – Lamento, mas não é permitido fumar aqui.

Sel gemeu de modo audível, guardou a cigarreira e resmungou para as costas rígidas do homem:

– Nazista. Eu não posso fumar perto de Bradley, não posso fumar em público... – Então ela bateu suas unhas longas e pintadas de vermelho contra a toalha de mesa branca, evidenciando sua irritação.

– Diga-me por que não.

– Por que você não pode fumar? Fora o fato de que faz muito mal à saúde e...

– Por que você não pode estar com ele – interrompeu Sel, não sendo nem um pouco enganada. E estava ainda mais irritada agora, porque não podia fumar.

Demi a olhou e respondeu o óbvio:

– Ele é um prostituto.

– E daí? Está me dizendo que a maioria das mulheres que conhecemos não se prostitui essencialmente, trocando sexo pelo tamanho certo de diamante no dedo?

– Inclusive você? – perguntou Demi, esperando que sua irmã não estivesse se casando pelo motivo errado. Novamente.

– Dinheiro não tem nada a ver com o motivo pelo qual eu vou me casar com Bradley. – O tom de voz de Selena era agudo. – Eu o amo. Além disso, você e eu sabemos que eu não preciso do dinheiro de Bradley, e ele não precisa do meu.

Essa era uma das razões pelas quais Demi tinha grandes esperanças para o próximo casamento de sua irmã. Não havia um motivo óbvio... além de compatibilidade e emoção verdadeira... para que o casal se unisse em matrimônio.

– Verdade.

– A questão é, pessoas trocam mercadorias o tempo inteiro. Dinheiro por propriedades. Ações por valores realizáveis. Sexo por casamento. Veja minha mãe... está em algum iate, viajando pelo Mediterrâneo com seu último marido. Sabia que ela não vem para casa para o casamento?

Tendo encontrado a mãe de Selena mais do que algumas vezes enquanto elas cresciam, Demi não poderia demonstrar surpresa. Compaixão, sim. Mas não surpresa.

– De qualquer forma – continuou Selena, voltando ao assunto em mãos, muito além de qualquer habilidade de ser ferida pela negligência da mãe. – Por que não um caso amoroso por alguns dólares?

Demi tentou colocar aquilo em perspectiva para sua irmã.

– Você já notou que eu nunca comprei um carro usado?

– Como se você precisasse – replicou Selena, não captando a mensagem implícita.

Permanecendo paciente, Demi murmurou:

– Eu não gosto de dar uma volta noturna com alguém que já percorreu diversos quilômetros com outras motoristas durante o dia.

– Ah, entendi. Isso é um pouco... desagradável – admitiu Selena. Fazendo uma careta, prosseguiu: – Imagine se Bitsy Wellington ou uma daquelas bruxas, com colágeno injetado, o perseguisse.

Graças a Deus, sua irmã não mencionara o nome da madrasta delas. Aquela imagem mental era o bastante para deixar Demi nauseada.

– Mas certamente, você não é tão ingênua, a ponto de pensar que os homens não dormem com outras mulheres. Torcendo o nariz em desgosto, Selena acrescentou: – Você devia ter aprendido pelo menos isso com aquele imbecil do Oliver.

– Eu aprendi. Mas não se trata apenas da sensibilidade física. Eu realmente gosto de Joe. Talvez eu goste mais do que deveria – admitiu Demi, zangada tanto consigo mesma, por ter vociferado as palavras, quanto com Sel, por tê-la obrigado a fazer isso.

– Ah. – A fisionomia de sua irmã suavizou-se. – Entendo.

Demi acreditava que ela entendia.

– Não é a sabedoria da repugnância. Seria muito dolorido emocionalmente estar com alguém um dia – murmurou Selena –, sabendo que ele pode ter estado com alguém na noite anterior.

Exatamente. Doloroso. Desconfortável. Demais para absorver.

Demi era uma mulher forte, mas não tão forte. Já desenvolvera sentimentos por Joe no breve período que eles tinham passado juntos. Sentimentos amigáveis, forçou a si mesma a lembrar. Apenas amigáveis.

Bem, e de desejo, teve de conceder.

Todavia, experimentando somente esses sentimentos amigáveis, ela já ficara apavorada ao pensar em Joe saindo de sua casa na quarta-feira pela manhã, a fim de ir passar 48 horas com outra mulher, que havia sido agendada previamente.

Quão pior seria se ela continuasse vendo-o, Demi não podia imaginar. Motivo pelo qual ainda tinha certeza de que tomara a decisão certa, mandando-o embora. Mesmo se, pelo menos fisicamente, estivesse arrependida desde aquele momento.

Sua mente fora cem por cento responsável pelo plano. Mas seu corpo ainda estava bastante infeliz com isso.

– Talvez ele desistisse dessa vida por você.

– Não seja ridícula. Por que ele faria isso? Ele me conhece a menos de dez dias.

Selena comprimiu os lábios, então ergueu uma das mãos para coçar o queixo. Demi reconheceu a expressão. Era aquela que a colocara nesta confusão, em primeiro lugar. – Não.

– Não o quê?

– Não para qualquer esquema que você esteja pensando.

– Você me fere.

– Você tem escamas de dragão no lugar da pele, Tab. Não pode ser ferida.

– Eu posso, se for apunhalada no coração. – Aquilo deveria ter parecido sincero, mas Demi conhecia sua irmã bem o bastante para ouvir a nota de divertimento na voz dela.

– Bem, eu também não tenho escamas ou armadura protetora ao redor do meu coração. Portanto, não arriscarei ser ferida. – Não agora. Nem nunca mais.

– Pense no assunto de maneira lógica... o que você estaria arriscando em se envolver com Joe fisicamente?

– Hum, humilhação, ciúme, doenças venéreas?

Sel estremeceu de leve.

– Você usou...

– É claro. E ele me assegurou que está saudável. Imagino que alguém com muitas parceiras faça check-ups regularmente.

– Por que você acha que eu tenho o número do meu ginecologista no meu celular? – Sel sorriu e continuou, sem esperar resposta: – Mas essas coisas não seriam problemas se ele não saísse com mais ninguém.

– Nós já conversamos sobre isso. Eu não vou pedir a um homem que conheço a menos de duas semanas para mudar sua vida inteira por mim.

Não somente porque seria pedir demais, mas também porque ela já sabia que ele diria não. Qualquer pessoa normal resistiria a uma grande mudança na vida tão no começo de um relacionamento. A menos que eles estivessem loucamente apaixonados.

Uma situação que não era a sua e de Joe Jonas.

Enlouquecidos de luxúria? Com certeza. Porém, nada mais. Sem chance.

– Então não peça que ele mude alguma coisa. – Selena pegou sua taça de vinho e sorriu. – Apenas contrate-o por tempo integral.

Demi tinha tomado um gole de seu próprio vinho, mas o comentário de Sel quase a fez cuspir.

– O quê? – Notando a atenção que sua pergunta gritada tinha chamado, ela inclinou-se sobre a mesa e abaixou seu tom de voz: – Você está louca?

– Está me dizendo que você não tem condições financeiras para isso? Ora, você tem o dinheiro.

Ligue para Joe, pergunte-lhe quanto ele cobraria para ser exclusivo, vamos dizer, por um mês.

Exclusivo.

– Então use este mês para ver o que acontece. Ou você esquece o homem por completo ou descobre que vocês dois podem realmente desenvolver alguma coisa significativa.

– Significativa o bastante para...

Sel terminou o pensamento:

– Para ver se ele estaria disposto a mudar de carreira permanentemente. – Sua irmã estendeu o braço sobre a mesa, cobriu a mão de Demi com a sua e apertou-a com o carinho que estava sempre abaixo da superfície, mas que era demonstrado tão raramente. – E ver se você pode finalmente se permitir acreditar em amor de novo.

– Amor – falou Demi, com um suspiro. Aquilo não era sequer parte daquela situação inteira. Ela dissera que gostava de Joe, não que estava se apaixonando por ele. Nunca mais iria se apaixonar por alguém.

Luxúria... bem, com luxúria ela podia lidar. E com o sentimento de gostar de alguém. Talvez até admitisse a possibilidade de se divertir com Joe Jonas. Quanto ao resto... ele abandonar a “carreira” por ela? Loucura. Totalmente fora de cogitação.

Mas, por alguma razão, enquanto dirigia para casa, e durante a longa noite que se seguiu, Demi não conseguiu tirar a sugestão de sua irmã da cabeça. E ainda estava considerando a possibilidade quando acordou no dia seguinte.
 
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2 comentários:

  1. Eu tenho a pequena, lê-se imensa, sensação que a Demi vai se ferrar. Se ela ligar para o Joe querendo o "alugar" ela vai acabar apanhando shausah
    Beijos!

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