15.7.14

Blackout - Capitulo 24

 
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– JOE E Demi correram nove quilômetros para chegar até aqui, De. E Joe está usando botas – disse Paul, com um toque de admiração e orgulho.

– Você correu para me ver? – perguntou Denise, uma pitada de admiração refletindo na voz e nos olhos.

Joe sabia que chafurdava na lama, mas resolveria isso quando a mãe não estivesse deitada em uma cama de hospital e ligada a monitores com um tubo de oxigênio em seu nariz. Denise pareceu tão satisfeita – assim como Paul – quando ambos interpretaram mal o relacionamento dele e de Demi. E então quando Demi olhou para ele como se estivesse estupefata…

– Bem, não foram bem nove quilômetros. Conseguimos uma carona no último trecho.

– De botas?

Joe nunca teria imaginado que era tão importante assim para eles. A emoção obstruiu sua garganta.

– Eu precisava ter certeza de que vocês estavam bem. – Aquilo saiu de forma brusca e entrecortada.

Denise não pareceu se importar.

– Isso é maravilhoso.

– Joe é um homem maravilhoso. Vocês deveriam passar mais tempo com ele. – Apesar da voz suave, os olhos de Demi desafiavam os pais dele.

A declaração dela ficou no ar, o único som no quarto, o do bipe da telemetria. Paul se aprumou um pouco, a boca contraída. Ninguém dizia a Paul Jonas ou Denise Miller o que fazer.

O queixo de Joe quase caiu quando o rosto do pai se suavizou e ele tomou a mão da esposa.

– Talvez você esteja certa, minha jovem. Desconfio que nosso filho seja bastante maravilhoso.

Aquilo era o mais perto que sua família já tinha chegado de um momento perfeito como em um cartão de Natal. E provavelmente o mais próximo que chegaria. Joe estava prestes a chorar.

Foi nesse instante que Wilmer entrou, quebrando o momento.

– Dra. M., o que faz aqui?

O que Wilmer fazia ali?

Ele passou por Joe e Demi e foi abraçar Denise. Nesse meio-tempo, Joe olhou para Demi e murmurou:

– Você fez isso?

Ela pareceu culpada, mas não arrependida.

– Eu não sabia o que você ia encarar. Achei que pudesse precisar dele – disse ela, baixinho, ao ouvido de Joe, inclinando-se sob o pretexto de espanar alguma coisa da blusa dele.

Wilmer se aprumou e abraçou Joe.

– Joe. Obrigado por cuidar da minha garota.

– Sua garota? Achávamos que… – Denise silenciou, franzindo a testa em confusão.

Wilmer ofereceu um sorriso charmoso.

– Claro. Demi e eu estamos noivos. Joe não lhes contou?

– Não. Esse detalhe em especial não foi mencionado. – O pai de Joe também franziu a testa.

– Mas Joe e Demi… – A mãe dele beirava as lágrimas.

– Wilmer é um brincalhão. – Demi golpeou Wilmer, virando-se num ângulo de forma que só Wilmer e Joe captaram o brilho de seriedade nos olhos dela. – Pare de provocar a dra. Miller. – E voltou a se dirigir a Denise: – Precisamos deixá-la descansar. Aliás, venham, rapazes, vamos pegar um café.

Demi parou pouco antes de estalar os dedos para eles.

A mãe de Joe sorriu em aprovação.

– Ah, uma mulher parecida comigo, uma que sabe como comandar. – Ela assentiu para Joe. – Você escolheu bem, filho. Gostei dela.

– Eu também gostei dela – afirmou Paul.

Bem, excelente, então eram três de três, porque Joe também gostava dela. Aquilo seria uma bela encrenca depois.

– Sou um cara de sorte.

– Eu sou a sortuda – disse Demi lançando um olhar adorável para ele.

– Mas… – Wilmer ficou olhando de um para o outro, sem dúvida confuso.

Demi o interrompeu:

– Um café seria o paraíso agora, não seria? Vamos encontrar a cafeteria. – Ela agarrou Wilmer pelo braço.

– Ai! Você me beliscou… – protestou ele.

– Ah, desculpe. – Demi se virou para Denise. – Tente descansar.

– Descansarei. Obrigada por vir com Joe. – A mãe olhou para o filho. – Você voltará aqui antes de ir embora, não é?

– Sim. Durma um pouco.

Demi guiou Wilmer para fora do quarto. Joe os seguiu. Demi no comando era uma visão formidável. Eles mal tinham chegado ao corredor quando Wilmer disse:

– O que foi aquilo…

– Abafe o caso, Wilmer – rebateu Demi. – Preciso desesperadamente de uma xícara de café para me sentir pelo menos semelhante a um ser humano. Aí conversaremos.

Ela saiu andando na frente como uma rainha. Wilmer merecia toda e qualquer coisa que Demi estivesse lhe atirando, e Joe se sentia muito feliz por não estar na pele dele.

Richard se aprumou de onde estava, recostado na parede perto do balcão da estação das enfermeiras, e se aproximou de Wilmer. O olhar entre os dois foi aquele inequívoco compartilhado pelos amantes.

– Vejo que você está realmente levantando a bandeira do arco-íris – disse Demi.

Richard a fitou e enlaçou o braço no de Wilmer.

Joe achou um tanto desconcertante ver seu melhor amigo de braços dados com seu amante gay. Mas, no esquema geral, não era mais desconcertante do que se flagrar na cama de Demi ou descobrir que os próprios pais achavam que ele pudesse ser gay. Em suma, fora uma noite muito curiosa. E ainda não acabara.

Eles tomaram o elevador seguinte. Às 3h30, eram os únicos ocupantes.

As portas se fecharam, e Wilmerrespirou fundo, fungando no ar como um cão de caça. Ficou muito pálido, olhando de soslaio primeiro para Demi e depois para Joe.

– Vocês dois dormiram juntos. – Não foi uma pergunta.

– Do que você está falando? – desafiou-o Demi.

– Vocês dois… estão cheirando a sexo. – Wilmer contornou Joe. – Não posso acreditar que transou com minha noiva.

Joe sabia que eles teriam aquela conversa um dia; só não previra que iria ser tão cedo. Olhou diretamente para Wilmer.

– Você não tem muita moral para ficar indignado.

Demi se pôs diante de Wilmer, o corpo berrando confronto.

– Vamos deixar algumas coisas bem claras. Eu não sou sua noiva. Com quem transei, quando transei e como transei não é mais da sua conta. Eu poderia transar com o time inteiro de futebol americano do NY Giants durante o intervalo do jogo e não seria da sua conta. Uma vez que você mergulhou sua varinha aqui… – Ela apontou na direção de Richard. – nunca mais a coloca aqui. Literal ou figurativamente.

– Querida, a varinha dele não está mais interessada em nada do que você tem – cortou-a Richard.

– O que é bom – arremessou ela de volta.

Joe conteve uma risada. Bem feito. Demi colocou tudo em seu devido lugar. Era mesmo uma mulher magnífica.

As portas se abriram para o primeiro andar, e Joe conduziu todos para fora do elevador.

– Acho que poderíamos beber uma xícara de chá… ou de café – disse ele, indicando a direita, seguindo as placas da cafeteria.

Demi resmungou para Wilmer:

– Você deveria aparecer para dar apoio a Joe, não para agir como um cretino.

– Bem, acho que se Joe não está gostando, você sempre pode dar um beijinho para fazer sarar – disse Joe com um sorriso de escárnio.

Joe fazia uma boa ideia de quanta força de vontade Demi empregara para ignorar o comentário de Wilmer. Sem dúvida, esfregar a noite dela e de Joe na cara de Wilmer era tentador, ainda mais considerando que Wilmer trouxera seu novo amante. Mas, pelo visto, ela fora sincera quando disse que não dormira com ele por vingança. Em vez disso, Demi ignorou o comentário insultuoso.

– Como chegou aqui tão depressa, Wilmer? De jeito nenhum daria para você sair da galeria nesse tempo.

– Meu apartamento fica a poucas quadras daqui – deixou escapar Richard.

Joe sentiu-se um perfeito idiota.

Sem dúvida ele era um renomado imbecil. Wilmer não ficara trancado na galeria. Ele o usara. Mentira para ele e o usara. A amizade dos dois teria resistido ao eventual distúrbio, mas Joe nunca teria acreditado que Wilmer mentiria para ele.

Joe parou diante da entrada da cafeteria, detendo Wilmer com a mão em seu braço.

– Obrigado, Richard. Eu adoraria que você me pagasse uma xícara de café – disse Demi, muito em tom de gozação, mas obviamente tentando afastar Richard para que Wilmer e Joe tivessem um instante de privacidade.

Wilmer olhou para o namorado.

– Por favor. Faça isso por mim.

– Bem, já que é por você… – Richard lançou um olhar de desgosto para Demi e a seguiu até a cafeteria, relutante.

– Você por acaso ficou trancado na galeria em algum momento? – perguntou Joe com uma fúria silenciosa.

– Sim. Ela entrou em modo de travamento.

– Durante quanto tempo? – A ira de Joe o estava deixando quase sem palavras.

Wilmer enfiou as mãos no bolsos e pareceu envergonhado.

– Por cerca de uma hora. O pessoal do sistema de segurança me ensinou a destravá-lo.

– Isso foi antes ou depois de você me pedir para contar suas novidades a Demi?

– Depois. Definitivamente depois. Juro para você, Joe.

Ele se sentiu um pouco melhor… Mas e se Wilmer estivesse mentindo? Durante 15 anos eles foram tão próximos como irmãos, e em menos de um dia Joe já não sabia mais se podia confiar em Wilmer.

Joe não conhecia mais aquele diante de si. O homem que ele amara como a um irmão não teria traído a noiva, não teria deixado a bagunça para Joe limpar.

– No entanto, quando saiu da galeria, você não achou que precisava ir à casa de Demi?

– Você já estava cuidando de tudo. Pensei que seria melhor deixar passar uma noite, para ela dormir e se acalmar. Eu só não sabia que ela estaria dormindo com você.

A raiva de Joe se dissipou tão depressa quanto o invadira, deixando a exaustão em seu encalço. Ele não havia usado Wilmer, mas o traíra de alguma forma. Joe percebeu que se assemelhara a algo como um tremendo hipócrita.

Duas mulheres utilizando uniforme hospitalar passavam, e ele esperou até que estivessem fora do alcance auditivo.

– Wilmer, você colocou nós dois naquela posição. Sabia que Demi tem medo do escuro?

– É claro que sim. Estamos juntos há seis meses.

– Então por que me disse para deixá-la sozinha? Aquilo me pareceu um tanto insensível.

Wilmer evitou o olhar de Joe.

– As coisas já estavam um pouco abaladas entre nós. Eu lhe disse que a gente não estava se acertando muito na cama…

Certo, e Demi dissera basicamente a mesma coisa.

– Ela diz que sou um reclamão egoísta.

– Sim, você é.

Wilmer o encarou.

– Talvez eu seja um pouco, mas ela é tão mandona…

– Ela é. – Joe achava que isso era parte do charme dela.

Era algo que naturalmente fazia parte do pacote. Demi também era inteligente, corajosa e muito valente. Ele pensou na história de descer aqueles sete lances de escadas sem nem mesmo uma vela. Fora assustador até para ele, que não tinha medo do escuro.

Mas Wilmer ainda não entendera o ponto.

– E o que isso tem a ver com você ter me pedido para abandoná-la no escuro?

– Não sei. Só sei que as coisas não estavam bem entre a gente, mas eu não queria pensar nela a sós com outro homem, mesmo que fosse você.

– Um caso de “se eu não tenho então ninguém pode ter”?

– Sou um canalha egoísta – disse Wilmer.

– Em resumo, sim.

– Não precisava concordar comigo tão depressa.

– Você só afirmou antes que eu pudesse fazê-lo,, Wilmer.

– Acho que enlouqueci um pouco esta noite.

– Está repensando suas decisões? – questionou Joe.

– Não em relação a Richard e Demi. Eu só me arrependo do jeito como lidei com isso tudo. Tomei algumas decisões muito ruins esta noite, e não tenho certeza de como consertar isso. Receio que tenha prejudicado nossa amizade. – Foi mais uma pergunta do que uma afirmação.

– Você não matou nenhuma velhinha a machadadas, matou?

– Não que eu me lembre.

– Creio que está tudo bem então. Esta noite… com Demi… Eu não pretendia que acontecesse. E se o magoei… bem, desculpe por isto.

Wilmer balançou a cabeça, como se para clarear os pensamentos. Olhou para Joe exibindo o remorso evidente.

– Joe, eu não mereço um amigo como você.

– Verdade.

– Dá para deixar que eu me autoflagele sem me interromper?

– Vou tentar.

– Eu estava sendo uma bruxa ciumenta. Sabia que, uma vez que Demi descobrisse sobre Richard, nosso relacionamento estaria acabado. Eu a conheço bem o suficiente para saber disso. Mas quando entrei e você estava abraçado com ela… bem, posso garantir que ela nunca olhou para mim do jeito como olha para você.

Joe balançou a cabeça. Era tarde, todo mundo estava cansado e nervoso.

– Aquilo foi pelo bem da minha mãe. Ela e meu pai saltaram para conclusões precipitadas, e pensei que, naquelas circunstâncias, seria melhor deixar mamãe pensar o que ela queria.

– Como você ficou sabendo que ela estava internada?

– Meu pai telefonou.

A surpresa no rosto de Wilmer dizia tudo. Joe achou graça.

– Eu sei.

– Você está bem?

– Sim. Mais ou menos. – Ele sacudiu a cabeça. – Demi lhes disse que eles precisavam passar mais tempo comigo.

– Sério? O que seu pai fez?

– Achei que fosse explodir, mas ele e mamãe falaram que ela estava certa, ou uma outra bobagem qualquer.

– Talvez eles estejam mudando, Joe. Já estava na hora.

– Bem, não faz sentido. Ainda sou a mesma pessoa que sempre fui.

– É aí que você se engana, onde sempre se enganou. Eu tenho dito isso há anos… Você acha que eles são o problema. Se você é a mesma pessoa ou não, isso é irrelevante, porque eles sempre foram o foco. Eram eles os problemáticos, não você. Demi lhes deu um ultimato. – Wilmer riu. – Lamento ter perdido essa parte. Demi é uma flor de aço.

– Ela é um pouco implacável. Disse que seu apelido de infância era buldogue.

– Não consigo acreditar. Eis outra coisa que você interpretou errado, Joe. Eu conheço Demi. Ela não sabe fingir. Expõe seus sentimentos e suas opiniões abertamente. O jeito como Demi o olhava não era pelo bem da sua mãe.

O próprio Wilmer dissera que seu julgamento fora distorcido esta noite.

– Você está errado.

– Joe, nós nos conhecemos há muito tempo, e você não sabe como estou aliviado por não ter estragado totalmente nossa amizade.

– Sinto um mas vindo aí, e tenho um pressentimento de que não vou gostar dele.

– Creio que não. Pelo amor de Deus, não consigo entender por que você tem tanto medo de ser feliz.

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4 comentários:

  1. OMG AMEI!!! Quando poder postar poste pfff! amo está mini-fic! Kiss :*

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  2. Amei esse capítulo. Demi arrasou no comando da situação!!!!! Posta mais por favor !!!!!

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  3. Amei esse capítulo!! Demi super mandona kkkkk
    Posta mais pfvr
    Fabíola Barboza :*

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