14.7.14

Blackout - Capitulo 20, 21 e 22

 
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– ELE PARECE feliz com o novo nome. O que você acha? – indagou Demi.

Joe, o gato, antes conhecido como Peaches, estava em cima da geladeira, olhos fechados, como sempre ignorando-os. Joe, o homem, achava Demi louca, totalmente irracional e completamente adorável.

– Eu diria que ele está fora de si.

Demi balançou a cabeça e o açoitou com um olhar.

– Eu o conheço melhor do que você, e estou dizendo que ele está feliz.

– O que você disser. Prometi ao rapazinho um nome machão, e estou bastante certo de que Joe não se enquadra nessa categoria – argumentou ele, sabendo que era inútil.

Demi riu, e Joe tirou uma foto mental. Queria se lembrar daquele momento para sempre. Eles estavam envolvidos em uma conversa fútil na cozinha, que estava um forno, sem luz, e Joe não conseguia se lembrar de já ter se sentindo mais feliz do que naquele momento.

– Como se Magnus fosse o chefão? Certo.

– Sabe, você pode desencadear um complexo em um cara com isso – disse ele.

– Melhor tomar cuidado ou você pode virar gay, como Wilmer – brincou Demi, mas sem dúvida continuava perturbada com a revelação de Wilmer.

– Não é uma possibilidade remota. Eu sei que você está brincando, mas a preferência sexual de Wilmer não é um reflexo da relação com você. – Joe sorriu e se permitiu olhar para ela com a familiaridade de um amante bem satisfeito. – Eu sei em primeira mão. – Demi ficou na ponta dos pés e deu um beijo na bochecha dele, a mão repousando de leve em seu ombro.

– Obrigada. Quer goste de admitir, quer não, você é mesmo um cara muito legal.

A ternura dela o abalou.

– Você não me chamou de idiota agora há pouco?

– Não são características mutuamente excludentes. Você pode ser isso também.

O jeito como Demi o olhava, como se ele fosse perfeito, deixou a boca de Joe seca e o coração palpitando. Ela estava errada. Podia achar que o conhecia, mas não conhecia. Ele era 99 por cento idiota em 99 por cento do tempo. Demi estava repercutindo os bons momentos e pintando-o como alguém que não era.

– Você vai ter que conversar com Wilmer, Demi.

– Tecnicamente, não tenho que fazer nada… mas acho que sim.

– Precisa encerrar essa história, ou vai terminar perseguindo-o porque estará viciada em antidepressivos – disse ele.

Era fácil ficar com ela. Fácil provocá-la.

– Você me conhece muito bem. – Demi jogou um pano de prato na cabeça dele.

Joe o pegou com uma das mãos.

– Você parece lidar bem com isso.

– Não sou propensa à histeria.

Joe arqueou uma sobrancelha, se recordando da cena que ela fizera quando ele retornada do peitoril da janela. Demi beirara a histeria. Com ele. Joe ainda se recuperava.

– Certo. Bem, se pensar que você está prestes a ver alguém que conhece e com quem se importa morrer, isso é um pouco diferente. Mas, via de regra, não costumo ficar histérica. – Demi o fitou da cabeça aos pés, o olhar se prolongando na parte da frente da calça. – E você definitivamente ajudou a aliviar minha dor por ser rejeitada.

– Fico feliz por servi-la. – E ele estaria pronto para mais serviço se ela não parasse de encarar sua virilha daquele jeito.

– Você pode pensar “Ah, até parece”, mas estou quase aliviada. Não por Wilmer ser gay e não por ele ter me feito perder meu tempo… isso é um pouco complicado de encarar… mas acho que nós dois sabíamos que algo não estava funcionando. E então, quando comecei a ter aqueles sonhos com você… bem, isso meio que faz uma garota pensar que não está exatamente pronta para se amarrar.

Joe ainda se sentia aturdido por ter sido objeto de fantasia de Demi, mesmo que ela estivesse inconsciente no momento.

– Sonhos são um indicativo muito duvidoso, Demi. Você teria cancelado tudo se Wilmer não tivesse se envolvido com outra pessoa?

Ela pensou na pergunta dele por alguns segundos, os lábios franzidos, antes de tirar o cabelo do rosto.

– Não sei. É provável. Espero que sim. Eu não o odeio, embora tenha chegado bem perto disso quando você me contou. Não me surpreendo com o fato de Wilmer ter me traído e então despejado a história em você para que me contasse.

– Ainda o ama? Sem dúvida o amou em algum momento. – A pergunta lhe causou um aperto no estômago.

– Não tenho certeza. – Ela mexeu no ponto do dedo onde a aliança ficava.

Joe tinha certeza de que Demi não se dava conta de seu gesto.

– Eu o amei. Na verdade, acho que quando já não estiver tão chateada vou continuar amando.

O estômago de Joe afundou na barriga.

– Mas não o amo do jeito que deveria amar para me casar com Wilmer. Nós nos divertimos juntos, mas não existe uma paixão verdadeira entre a gente… – O olhar dela enlaçou o dele, o prendeu com o fogo de suas profundezas – Nenhuma intensidade. Entende o que quero dizer?

Joe desviou o olhar antes de Demi notar a resposta ardendo em seus olhos.

– A menção do nome dele lhe causa um frio na barriga? Faz você ter vontade de ir ao inferno e voltar por ele? O som da voz dele lhe causa arrepios? Entendo muito bem o que você quer dizer.

– Wilmer e eu não temos isso.

Com certeza, Demi era adulta e podia tomar decisões sozinha. Mas em algum momento estivera bem segura a ponto de concordar em se casar com Wilmer. Joe sabia em primeira mão que Demi podia ser muito emotiva e ilógica, e não queria vê-la tomando uma decisão da qual se arrependeria mais tarde.

– A paixão não dura. Queima e se transforma em algo bem diferente – disse ele, bancando o advogado do diabo.

– Não sou ingênua. Não acho que as pessoas ainda tenham esse tipo de coisa depois de 20 anos. Ou, quem sabe, talvez tenham. Mas é imprescindível que se tenha isso no início do relacionamento. O amor não deve ser totalmente confortável, como um velho par de chinelos. Deve ser um par de sapatos de salto alto: sensual e excitante, a ponto de o desconforto valer a pena. E se foi isso o que Wilmer encontrou, dou meu apoio. – Ela deu de ombros e sorriu.

O sorriso de Demi era tão ela – natural, irresistível, ensolarado – que Joe não conseguia evitar sorrir de volta.

– Essa é nova. Nunca vi o amor ser comparado a um par de sapatos de salto alto.

– Eu não percebia que me sentia assim até… bem, acho que começou com aqueles sonhos, e agora com isso, com Wilmer tendo me obrigado a reavaliar tudo. E não posso evitar se você acha que estou sendo cafona quando digo que o sexo entre nós, entre mim e você, tem sido incrível.

Joe precisaria estar morto ou ser burro demais para não sentir a onda de orgulho masculino por ter sacudido o mundo dela a um grau que Wilmer obviamente não conseguira. Ele tinha certeza de que estava ostentando um sorriso idiota.

– Tem mesmo, não é?

– Já que estamos falando de Wilmer… Quero que você saiba que não tenho a intenção de mencionar para ele o que houve esta noite… você sabe… nós dois…

Aquilo tirou o sorriso do rosto dele.

– Porque você tem vergonha?

– Não. – Demi lançou um olhar para informá-lo de que ele era mais esperto que isso. – Porque ele é seu amigo, e eu não quero me meter na amizade de vocês. Mais que isso, Joe, porque não quero que pense que dormi com você para me vingar dele. Tudo aconteceu porque você me enlouqueceu nos meus sonhos, e então quando chegou aqui… foi ainda pior.

– Pior?

– Você sabe o que quero dizer. O som da sua voz, o toque das suas mãos em meus ombros, seu perfume.

Todas as características da paixão.

Ela o excitava sem nem mesmo tocá-lo. E só havia uma reação lógica a isso.

Joe a prensou contra o balcão e a beijou.
 
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DEMI CORREU as mãos pelo peito molhado de suor de Joe. Dar uns amassos definitivamente havia aumentado a temperatura dela, mas a cozinha estava como uma fornalha.

Algo que ela lera em uma revista certa vez e arquivara para referências futuras lhe ocorreu. Agora parecia o momento ideal para tentar.

– Que tal um picolé? Se ficarmos muito mais tempo sem eletricidade eles vão derreter de qualquer forma. Pelo menos nos refrescará.

Ele se afastou para o lado de modo que ela não estava mais prensada entre o balcão e o corpo duro, com algumas partes dele ficando mais rígidas.

– Claro. Não chupo um picolé há anos.

– Eu mantenho um estoque quando está muito calor. É meio que uma espécie de solução doce sem todas as calorias. – Demi abriu o congelador e pegou uma caixa. – Ótimo. Ainda estão congelados. Cereja, morango ou uva?

– Com certeza cereja.

Ela entregou um a ele.

– É meu favorito também. – Demi recolocou a caixa no congelador.

Demi dissera a ele que o picolé iria refrescá-lo, mas não sem que antes que ela pudesse aquecê-lo. Demi tirou a embalagem, bem devagar. Fazendo uma produção toda sensual, lambeu um lado, e então foi descendo pelo outro.

– Hum… – Olhando para ele, Demi enfiou o picolé todo na boca e sugou, baixando e subindo a cabeça em direção à guloseima congelada. E gemeu.

Joe ficou paralisado, segurando seu picolé.

– Não tenho certeza se consigo observar você chupando sem ter um infarto. – Ele se recostou no balcão, como se estivesse igualmente incerto sobre se suas pernas iriam sustentá-lo.

Demi sorriu e mordiscou a pontinha. Ela nem imaginava o quanto o estava excitando. Excitando a ambos. Ela deslizou a camisetinha pelos ombros e baixou a parte da frente, libertando os seios.

– Bem, então o que acha disto? – Demi trilhou o picolé pelos mamilos. O contato do gelo na pele era incrível, a sensação disparava dentro dela. – Uau! É garantido que refresca bem rápido.

Joe emitiu um som de engasgo.

– Demi…

Havia uma protuberância bem definida pressionando a parte da frente da calça dele.

– Quer levar nossos doces para o quarto? Acha que seria mais confortável lá? – Demi não tinha a intenção de fazer sexo com picolé, ou qualquer outro tipo de sexo, aliás, diante de seu gato. Ela pegou uma tigela.

– Vamos. – Simon lhe agarrou a mão e quase a arrastou pelo corredor até o dormitório.

– Hum… Gosto de homens com entusiasmo…

– Você e seu picolé sem dúvida levantaram meu entusiasmo – disse ele.

Rindo, ela pegou do chão a toalha que Joe tinha usado, esticou-a sobre a cama e sentou-se na beirada.

Joe fez menção de tocá-la, e ela recuou.

– Entusiasmo é uma coisa, mas impaciência é outra. Ainda não está na hora. Nós só começamos a saborear nossos picolés.

Ela trilhou o doce pelos mamilos – Deus, a sensação era incrível! –, e então pela barriga, por cima das coxas.

– Amor, por favor…

Demi sentia-se tão malvada… E adorava aquilo. Ela estava muito molhada, e não era de suor.

– Vou lhe dizer qual parte preciso resfriar… – Ela se deitou de costas, se apoiando em um cotovelo, e abriu as pernas. Pôs um pé no colchão, mantendo-se exposta, dando a Joe uma visão do quanto já estava úmida.

– Demi… – disse Joe, meio gemendo, meio aprovando.

A voz baixa dele, com seu leve sotaque, vibrou dentro dela, excitando-a ainda mais.

O beijo gelado na parte interna de sua coxa zuniu dentro dela. Devagar, Demi contornou sua parte mais íntima com o picolé, a sensação deliciosamente excitante.

Demi sentia-se muito perversa e ainda mais estimulada. Passava o picolé derretendo e o contornava ao redor.

– Ahhh… – Era duro, gelado, e ela estava muito quente.

Joe não tirou os olhos dela nem por um segundo enquanto abria e removia a calça. Ela passava o picolé por dentro e por fora, e lambia os lábios.

Joe foi até a beirada da cama.

– Chupe o meu.

Demi estava tão perto que poderia ter chegado ao clímax sem muito esforço quando ele usou aquele tom erótico, dominante. Joe passou o picolé provocativamente pelos lábios dela, e então o deslizou para dentro da boca. Ela enfiava e retirava o picolé de suas partes íntimas e ele seguia o mesmo ritmo com o picolé na boca de Demi. Ela não tinha certeza se já havia ficado tão excitada na vida. Sentia tanto calor por dentro que estava derretendo o picolé em tempo recorde, deliciosamente gelado de encontro àquele incêndio. E o olhar de Joe…

Ela retirou o picolé da boca e lambeu ao longo do comprimento.

– Você parece com calor… – Ela espiou a ereção dele – …e desconfortável. Tenho a coisa certa para refrescá-lo. Gelada por fora, quente por dentro.

Joe não precisou de um segundo convite. Vestiu um preservativo e, em uma única investida suave, estava dentro.

– Ai, meu Deus! – Demi não tinha certeza de qual dos dois dissera aquilo.

Talvez ambos. Talvez nenhum deles.

Será que já havia existido coisa mais gostosa que o membro quente dele de encontro à carne gelada dela? Quente e frio. Duro e macio.

Era bom demais… Demi estava tão excitada… que não iria aguentar mais tempo.

Sexo com picolé e com Joe: garantia de orgasmo em três minutos ou menos.

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JOE ACORDOU no susto. Levou um segundo para perceber que seu celular estava tocando no bolso da calça, jogada em algum lugar sobre o piso escuro. Ele lançou as pernas para fora da cama e se abaixou, tateando em busca do jeans.

Assim que o encontrou, perdeu a chamada. Olhou para o relógio. Quem estaria telefonando para ele àquela hora da madrugada?

Demi se apoiou em um dos braços.

– Hum… Quem ligou, Joe?

– Vou ver agora.

Ele ouviu o recado na caixa postal:

– “Joe, é seu pai. Ligue de volta… espere, você não pode me ligar aqui.” – E desligou.

O que era aquilo? Os pais dele nunca telefonavam.

– Era meu pai – disse Joe a Demi, que havia se sentado, bem acordada agora. – Primeiro pediu para eu retornar a ligação, e então disse que eu não podia ligar para onde ele estava. Mas vou tentar, de qualquer forma. – Foi tomado pela apreensão. O que quer que fosse, não podia ser bom.

Antes que apertasse o botão de discagem para o número no visor, o celular tornou a tocar. O mesmo número apareceu na tela.

Joe atendeu.

– Pai?

– Joe, graças a Deus você atendeu! Estou no hospital City North. Achamos que sua mãe teve um infarto.

As palavras do pai o atingiram como um golpe físico. Ele afundou na beira da cama.

– Onde ela está agora?

– Aqui, no City North.

– Não. – Simon conteve a impaciência. – Na UTI?

– Não. Eles estão no pronto-socorro fazendo um eletrocardiograma e verificação das enzimas. Ela precisa que você venha, Joe. – Houve uma longa pausa. – Eu preciso que você venha.

Joe não hesitou. Por bem ou por mal, eram os seus pais. Eram tudo que ele tinha.

– Eu irei. Pode levar um tempo, mas estou a caminho. Estarei com o celular. Ligue-me se algo mudar. – E desligou.

De forma isolada, distante, como se estivesse observando outra pessoa, Joe notou as próprias mãos tremendo.

– O que foi? Qual é o problema?

– Minha mãe enfartou. – Dizer aquilo em voz alta o deixou enjoado. Joe desabou na beirada da cama, sem saber se suas pernas iriam sustentá-lo.

– Ah, Joe… – Demi o abraçou por trás, os braços oferecendo conforto de um ser humano para outro. – Qual hospital?

– City North.

Ela o soltou e saiu da cama. Abriu a gaveta da cômoda e vestiu um short de corrida. Joe pegou seu jeans e a camisa. Sem nenhuma timidez, Demi tirou a camisetinha e vestiu um sutiâ de ginástica.

– O que está fazendo? – perguntou ele.

– O que parece? Estou me vestindo. O City North fica a noroeste daqui. Não tenho carro, e não sei se conseguiremos encontrar um táxi a essa hora da madrugada, mas nós podemos ir correndo… – Demi olhou para onde ele estava sentado, na beira da cama, amarrando as botas Doc Martens – …se achar que consegue com essas botas. Infelizmente nenhum dos meus tênis serviria em você.

– Nós?

Algumas escovadas e ela prendeu o cabelo num rabo de cavalo. Olhou para ele pelo reflexo da penteadeira.

– Eu irei com você.

– Isso não é necessário. – Ele ficou de pé, vestiu a camiseta e fechou o zíper da calça.

– Sim, é. – Demi vestiu um colete de corrida.

– E se eu não quiser que você venha?

– Está dizendo que não me quer lá?

O problema era que Joe estava apavorado por perceber o quanto queria que ela fosse. Apavorado por quão fácil era se apoiar nela após ter passado tanto tempo sozinho. E que diferença fazia se ele a queria lá ou não? Conhecia Demi.

Ela iria de qualquer maneira.

– Ai, droga… Venha se quiser.

– Você é tão gracioso, Joe. – Ela deu um beijinho breve na bochecha dele. – Mas eu o perdoo. Sei que está preocupado com sua mãe.

Ela se movimentou rápido pelo quarto, pegando um pequeno tubo da cabeceira aparentemente sem fundo da cama e prendendo-o no cós do short.

– Spray de pimenta. Uma garota nunca deveria sair sem ele. – Demi calçou os tênis e os amarrou.

Parou e olhou para Joe.

– Está pronto?

– Sim. Tem certeza de que sabe para onde estamos indo? – Ele queria já estar lá.

– Positivo. Tenho um ótimo senso de direção.

– Isso é bom. Eu não tenho nenhum. – Joe acendeu uma pequena vela votiva e apagou o castiçal triplo. Com a velinha na mão, guiou o caminho até a porta da frente.

Demi apagou as duas velas que ela deixara queimando na saleta. O apartamento parecia um forno. Eles ainda nem tinham começado a correr, e o suor já gotejava a pele de Joe.

Ela se juntou a ele na porta, pegando o celular.

– Apenas apague e deixe aí. Isso vai nos atrasar demais na escada.

Joe segurou Demi e lhe deu um beijo breve na boca. Ela morria de medo do escuro, mas não queria atrasá-lo para encontrar a mãe.

– Você é uma mulher e tanto, Demi Lovato. Vamos deixá-la acesa no primeiro lance da escada, assim poderemos contar quantos degraus são antes de cada intervalo. Desse modo, se ela se apagar, conseguiremos fazer a contagem no escuro.

– É um bom plano.

Eles seguiram pelo corredor, e Demi fechou a porta atrás dos dois.

– A escada é para este lado. Demi agarrou a mão livre de Joe e o guiou pelo corredor escuro.

Ele abriu a porta pesada sob a placa que indicava a saída de incêndio. A porta bateu detrás deles, deixando-os no silêncio frio e misterioso da escadaria.

Joe agarrou a mão de Demi com mais força ainda. Deus, ela devia estar odiando aquilo. E estava prestes a piorar.

– Pronta? – A voz dele ecoou de volta para eles.

– Vamos lá.

Joe contava em voz alta enquanto eles desciam pelo andar. Só faltavam seis. A vela piscara precariamente várias vezes na descida do último lance de escadas, e eles nem sequer estavam indo tão depressa. Levaria uma eternidade naquele ritmo.

Demi deteve Joe no sexto andar.

– Pode apagar, Joe.

– Tem certeza?

Ela respirou fundo.

– Você vai segurar minha mão?

– Prometo que não a soltar, não importa o que aconteça.

– Então vamos. – Ela se apoiou nele e apagou a velinha, mergulhando-os na escuridão completa.

De acordo com o código de incêndio, as luzes de emergência deveriam se acender acima das portas. Obviamente o prédio de Demi tinha problemas de conformidade às normas.

Seguiram de maneira insegura no início, e então estabeleceram um ritmo. Joe contava em voz alta, a voz ecoando, mas a ideia era oferecer uma dose de conforto aDemi ao ouvir a voz dele e segurar sua mão naquele breu.

Logo chegaram ao primeiro andar. Não levou muito tempo, mas sem dúvida pareceu uma eternidade para Demi, a julgar por sua palma úmida.

Um calor abafado os tomou de assalto no instante em que saíram do prédio. Alguns cochichos soavam dos prédios e nas saídas de incêndio, e em algum lugar no fim do quarteirão uma mulher gargalhou. Ao longe, carros buzinavam.

A atmosfera festiva de antes definitivamente se dissipara.

– Parece um conto de fadas, quando jogam algum feitiço, não é? – perguntou ela, se abaixando para se alongar.

Joe começou a fazer os próprios alongamentos pré-corrida. Ele sabia muito bem a que Demi se referia. A cidade que nunca dormia se achava diante deles em um sono inquieto.

– É como o proverbial gigante adormecido, não é?

– Isso mesmo. Escute, Joe, sei que você está ansioso para chegar lá, mas lembre-se que são nove quilômetros e meio. Vamos manter um ritmo. Acredito que ela ficará bem. Pelo menos está no hospital e em boas mãos.

– Vá na frente e eu a seguirei.

Demi se dirigiu para o leste pela escuridão em direção a Nova Jersey, e Joe foi atrás. Na esquina, onde havia uma floricultura num silêncio intenso, ela virou para o norte. Joe lembrou a si mesmo de acompanhar a passada dela.

Eles correram numa quietude amistosa por várias quadras, com apenas alguns carros passando e um pedestre aqui e ali.

Joe precisava daquilo, de correr, de exigir de si. Estava uma bagunça por dentro.

Ele não era próximo aos pais. Em muitos aspectos o relacionamento deles beirava a hostilidade. Mas Joe não queria que nada acontecesse à mãe. Ela não era exatamente uma educadora, mas ele também não tentara se aproximar de nenhum dos dois. Pelo menos não durante muito tempo. Joe ignorara todas as aberturas ocasionais de ambos nos últimos anos.

Correndo na escuridão, pelas ruas silenciosas, Joe dava voz às emoções que torturavam sua alma. Demi compreenderia.

– Eu não devia ter este ressentimento. Esta situação deveria eximi-lo. Eu devia deixar para lá, Demi, mas não consigo. Que droga, não consigo! Sempre foram os dois, comigo do lado de fora, olhando. Eles tinham um ao outro, e eu, apenas meu ressentimento, que foi minha companhia durante a infância e adolescência. Por todos esses anos eu o alimentei, o abracei, e não consigo abandoná-lo agora. Mas a parte realmente louca é que eu a amo tão desesperadamente…

Joe parou de falar, em conflito, quase chorando.

– É claro que ama. Ela é sua mãe. E você pode se ressentir de ambos, mas isso não significa falta de amor. É seu papel ficar enlouquecido por causa dos seus pais. Eles nos deixam doidos, mesmo. Nós vamos enlouquecer nossos filhos. Essa é uma das leis implícitas da natureza. No entanto, não significa que eles não o amam, Joe, nem que você não os ama.

As palavras dela acalmaram a alma confusa de Joe enquanto o calor opressivo da noite absorvia o ritmo de seus pés.

Joe ignorou a dor cortante de uma bolha no calcanhar esquerdo. Botas Doc Martens não eram o calçado ideal para correr. Era incrível como conversar com Demi o fazia se sentir melhor.

– Como consegue ser tão inteligente, Demi?

A resposta dela ficou perdida quando um holofote se fixou acima deles e uma voz berrou:

– Parem! Polícia!

Demi tropeçou, e Joe segurou o braço dela, firmando-a. Eles pararam na calçada, ofegantes, aguardando.

Cegos pela luz, só ouviram a batida da porta de um carro e passos se aproximando.

– Qual é o motivo da pressa? E você, não é meio estranho estar correndo no meio da noite vestido de preto? Estão fugindo de alguma coisa ou de alguém em especial?

Droga, como se ele precisasse de um policial grosseiro. Será que aquele homem não tinha coisa melhor para fazer?

– Você não tem nada me…

Demi pisou no pé de Joe e o interrompeu.

– Bom dia, policial. – O sotaque sulista veio com vontade, espesso e doce como melaço. – Estávamos a caminho do hospital City North. A mãe de Joe teve um infarto. Não tenho carro, e não há táxis na rua, por isso estamos correndo.

Demi sorriu para o policial, que permanecia uma silhueta sem rosto contra a luz cegante.

– Sei que parece esquisito, mas Joe não tinha roupas de corrida no meu apartamento, por isso está correndo todo de preto.

– De onde você é?

Jesus, que péssima hora… Fazia mais calor que no inferno, eles estavam no meio de um blackout, e aquele homem, aquele policial, resolvia flertar com ela.

– Nasci em Savannah.

– Ah, um pêssego da Georgia.

Demi riu, aquela risada calorosa, rouca, que rastejava pela pele de Joe e o virava do avesso.

– E você parece um nova-iorquino.

– Nascido e criado. Ei, que tal se eu der uma carona para vocês dois até o hospital?

Mais cedo, Demi acusara Joe de ser um machão, sendo que ele nunca o fora de fato. Mas agora ele estava com uma ânsia esmagadora de dizer àquele sujeito para pegar seu carro e enfiá-lo…

– Seria adorável. Realmente agradeceríamos se chegássemos ao hospital o mais depressa possível. Não é, Joe? – Ela pisou no pé dele outra vez.

– Ah, sim. Quanto antes, melhor.

– Receio que vocês dois terão de se sentar lá atrás. – O policial lançou um olhar de desculpas a Demi. – É o regulamento. Só quem tem distintivo pode se sentar na frente.

– Lá atrás está bom por mim. – Demi passou pela calçada acidentada e puxou Joe para o veículo.

O próprio policial abriu a porta traseira. Demi lhe ofereceu um sorriso que provavelmente lhe causou um frio na barriga. Teria causado o mesmo efeito em Joe se tivesse sido para ele.

– É tão gentil de sua parte… – disse ela entrando no banco detrás do carro, o short de corrida agarrando cada curva deliciosa do seu lindo traseiro.

E, sim, o cretino usando distintivo notou. Joe se arrastou para o banco, ficando ao lado dela. Um gradeado de aço os separava da parte da frente. Ele nunca estivera antes em um carro de polícia.

O rádio grasnou, e o policial retransmitiu sua localização e seu destino.

Demi segurava firme a mão de Joe enquanto levava uma conversa com Dan Berthold, o policial-chofer deles. Com as ruas desertas, o policial Berthold não pareceu se importar em violar a lei que ele jurara cumprir, e em minutos eles chegaram ao hospital, que parecia um farol em um mar de escuridão.

– Você se importaria de nos deixar no pronto-socorro? – perguntou Demi.

– Sem problema. – Berthold virou para a entrada do pronto-socorro, colocou a viatura no estacionamento e saiu para abrir a porta traseira.

Joe não deixou de notar o jeito como o policial espiou as pernas de Demi quando ela saiu, e reprimiu o desejo de nocautear o outro. Atacar um policial que acabara de levá-lo à sua mãe doente parecia uma péssima ideia… mesmo que o sujeito merecesse, por olhar para Demi daquele jeito.

Demi apertou a mão de Berthold.

– Muito obrigada. Sei por que os policiais de Nova York têm boa fama.

– Querem que eu aguarde? Eu poderia aguardar.

– É muito gentil, mas não sabemos quanto tempo iremos demorar. Muito obrigada.

– O prazer foi meu. – Berthold se voltou para Joe. – Espero que ela fique bem, cara. – E estendeu-lhe a mão.

Joe segurou a mão estendida e a apertou. Talvez o camarada não fosse tão mau, afinal. Ele não flertou com Demi abertamente, e eles chegaram bem mais rápido do que chegariam correndo.

– Obrigado pela carona.

– Sempre que precisarem. – Com uma olhadela final de apreciação para o bumbum de Demi no short de corrida, Berthold entrou no carro e se foi.

– Ele ficou doidinho por você.

Demi revirou os olhos para Joe.

– Ele nos trouxe, e levamos 15 minutos a menos do que levaríamos correndo. – Demi seguiu em direção às portas duplas. – Venha. Quando entrarmos, não se preocupe comigo. Ficarei esperando no saguão.

Joe parou na calçada diante das portas escancaradas do pronto-socorro.

– Não. Quero que você venha comigo.

– Não me importo de esperar no saguão. Não quero me intrometer.

Joe acariciou o maxilar dela com as costas de mão, necessitando tocá-la, admitindo algo que não era fácil para ele:

– Eu gostaria de verdade que você viesse comigo.

Demi virou o rosto para encontrar a mão dele.

– Então eu irei com você. – Demi segurou a mão de Joe. – Vamos encontrar sua mãe.

Eles adentraram em meio a um caos esmagador, luzes fluorescentes reluzentes, brilhantes demais depois de tanta penumbra, e a brisa gelada do ar-condicionado. Joe olhou ao redor, sem saber para onde ir. Demi o puxou.

– Qual é o nome da sua mãe?

– Denise. Denise Miller. Ela não adotou o nome do meu pai quando se casaram. Dra. Denise Miller.

Demi marchou até um balcão. Em minutos, seu sorriso e charme sulista suscitaram a localização da mãe de Joe.

Ela pôs a mão no braço dele.

– Vá subindo. Eu gostaria de ir ao banheiro me refrescar.

– Eu espero. – Agora que ele estava ali, não queria subir, temendo encontrar o que achava que estaria à sua espera.

– Não. Suba. Você precisa de alguns minutos a sós com eles. Vou encontrá-lo lá em dez minutos. – Ela deu um beijo no rosto dele e o empurrou em direção aos elevadores.

A blusa encharcada de suor de Joe gelava sob o jato de ar-condicionado.

– Prometo que já subirei. – Demi tocou o braço dele. – Vá, Joe, ela está esperando por você.

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Oii minhas lindas <33

primeiro, antes de tudo queria agradecer pelo carinho e apoio de todas as meninas que me desejaram melhoras no grupo do whats, vcs não sabem o quanto eu sou grata por ter cada uma de vcs em minha vida, vocês não são só umas leitoras para mim, vcs se tornaram minhas amigas, que eu amo e tenho um enorme carinho, vcs não tem noção da tamanha felicidade que vcs me proporcionam a cada dia, obrigada por tudo meninas, mesmo estando triste ontem, por conta de ter perdido em uma disciplina, vcs me deram alegria e mesmo quase não conseguindo nem levantar da cama ontem, pois além de estar com uma baita dor de cabeça eu estava bastante enjoada, eu ficava com uma enorme vontade de levantar e postar aqui, pq vcs merecem. Obrigada, eu amo muito, muito, muito mesmo vocês <3

DIVULGAÇÂO ESPECIAL:

Staying Strong

Sigam, comentem e acompanhem este blog maravilhoso da Amanda, pode ter certeza de que vocês não iram se arrepender, a historia é incrível, linda, bem apaixonante e viciante, é a melhor fic que eu já li e o blog da Amanda foi um dos que me deram inspiração para que eu criasse o meu... <3


4 comentários:

  1. Oi querida, que bom que melhorou. Essa fic está cada vez mais perfeita. Continue postando por favor!!!!!! Bjim.

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  2. Ei baby! Fico muito feliz, mais é muito mesmo pela divulgação. Obrigado Mari, sério, de coração! Eu fico muito feliz por saber que você se inspirou no meu blog, tipo, isso é fantástico para mim e também é ótimo saber que você gosta do que eu faço. Eu também me inspiro em você na hora de escrever. Sempre penso e fico muito ansiosa para ler os seus comentários. Obrigado mesmo Mari!
    Bem, a fic está maravilhosa. Eu quero saber como a Demi vai sacar que está apaixonada pelo Joe.
    Melhoras tá? Lembre-se do meu comentário no seu outro blog. Se for preciso tirar um tempo, tire, ok? Às vezes faz bem.
    Beijos no coração!

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  3. Esperei muito por um capítulo hoje e quando venho ler tem 3? Você com toda certeza é a melhoooor <3
    Amei todos os capítulos, ficaram perfeitos e eu já quero mais? Melhoras pra você! Que você fique bem o mais rápido possível :3
    Beijos , Fabíola Barboza :*

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  4. Ebaaaa, adorei o cap..... os pais do Joe não vai achar ruim a Demi la? To louca pro encontro da Demi, Wilmer e Joe.... posta quando der.... bjs

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