JOE
Eu nunca tinha ido a um lugar tão feio quanto
aquele.
Era a primeira vez que me atrevia na Baixada
Fluminense e parecia outro mundo, com casas pequenas e humildes,
gente comum e maltratada, ruas com calçadas desiguais e muitas
crianças na rua.
Enquanto tocava a campainha da casa de Juliane,
uma horrível construção antiga, pequena, com pintura rosa
descascada, eu olhava para a rua sem saída com desconfiança.
Preocupava-me com meu Porsche preto ali em frente.
Os vizinhos, sentados em seus portões naquele
início de noite, olhavam para o carro e para mim abismados, como se
eu fosse um ser de outro planeta que desci do céu com meu Porsche
ali. E era assim que eu me sentia.
Em uma casa ali ao lado, alguém tinha escrito com
letras tortas: “ Atenção, motoristas:
Crianças e bêbados na rua”.
Balancei a cabeça, indagando a mim mesmo o que
estava fazendo ali. Que loucura tinha sido aquela de inventar uma
visita só para estar com a irmã de Juliane? Devia estar realmente
louco.
Sim, ela tinha me impressionado. Quando isso
acontecia, eu gostava de resolver logo o problema. Mas ir até ali
tinha sido um impulso sem cabimento. Nem uma mulher lindíssima como
Demi valia aquele transtorno.
Quando uma senhora baixa e gordinha abriu o portão
para mim, percebi que era tarde para lamentações e a encarei.
Ela parecia um leitãozinho, com bochechas coradas
e redondas, olhos pequenos e espertos. O cabelo tingido de preto se
tornava discrepante com as rugas em seu rosto. Seu vestido estampado
parecia feito de cortina, em um tecido ordinário, e a engordava
ainda mais.
Sorrindo alegremente, estendeu-me a mão roliça e
branca, olhando-me de cima em baixo com admiração.
- Joe Adam? Que prazer conhecer você! Sou Tereza,
mão de Juliane.
- Ah, sim. Como vai a senhora? – Apertei sua
mão, um pouco seco.
- Bem, agora que você está aqui. Fico feliz que
seja tão bom e se preocupe com a minha filha.
Eu larguei sua mão, um sorriso lento se
estendendo em meus lábios. Sim, eu estava ali pela filha dela. Demi.
- Não quer entrar? – Seus olhos se arregalaram
para meu Porsche. – Ah, o seu ... carro estará em segurança. Não
se preocupe.
- Não estou preocupado. – Menti.
Eu a segui pelo caminho calçado até a varanda
pequena e antiga, com infiltração esverdeada em uma das paredes. As
janelas e portas eram medíocres e o chão de vermelhão. Olhei
rapidamente em volta, escondendo meu desagrado com um lugar tão feio
e malcuidado.
- Por favor, não repare em nada. Somos muito
pobres. Mas sinta-se à vontade. A casa é sua. – Ela sorriu e
abriu a porta.
“Minha não, graças a Deus!”, sorri educado.
A sala era horrível. Paredes grosseiras e
brancas, uma estante barata com televisão antiga, som e DVD, tudo de
má qualidade e ultrapassado. Senti nojo ao fitar o sofá de dois e
três lugares, cobertos por uma capa vagabunda azul com estrelas
estampadas em amarelo.
Para combinar com o horror de tudo aquilo, sentada
no sofá estava Juliane, mais parecendo um pugilista derrotado por
nocaute após uns cinco assaltos. Seu olho esquerdo e sua boca
estavam inchados e roxos. Hematomas se espalhavam por todo lugar. E
ela mantinha a boca fechada, para esconder a falta do dente.
Eu quase dei meia volta e parti.
- Sente-se, Joe, fique à vontade. Olha, querida,
ele veio mesmo. Que delicadeza, não? Sem alternativa, me aproximei
de Juliane e beijei o alto da sua cabeça. Falei baixo:
- Você está melhor do que eu pensava.
- Jura? – Ela murmurou, mal abrindo os lábios.
Seu olho bom marejou. Pôs a mão sobre a boca. – Eu me sinto
horrível.
- Sente, Joe. Somos pobres, mas tudo é limpo. –
Sorriu Tereza, sentando-se ao lado da filha.
Eu me sentei no outro sofá. Era duro e cheguei
mais para o canto, fugindo de uma mola solta. Sorri forçado para as
duas. Onde estaria a razão da minha presença ali? Só faltava Demi
ter saído.
- Como você está se sentindo? – Eu me forcei a
olhar para Juliane.
- Mal. Só você mesmo para vir aqui e levantar o
meu ânimo. – Já ia sorrir, mas lembrou da falta do dente e pôs
novamente a mão sobre a boca.
- Estamos muito felizes! – Emendou Tereza
sorrindo bobamente, seus olhos percorrendo com admiração meus
sapatos italianos, a calça jeans sob medida e a camisa rosa clara de
uma grife famosa.
Eu me indaguei como Juliane e principalmente Demi
haviam saído de um ser tão sem graça quanto Tereza. Além de gorda
e feia, parecia uma idiota.
Ouvi barulho vindo do corredor da sala e meus
instintos despertaram na hora, alertas. Naquele momento Demi entrou
na sala.
Ao olhá-la, todo meu arrependimento por estar ali
sumiu como fumaça. Corada, cheirando a sabonete e com os cabelos
muito loiros caindo molhados e longos pelas costas, ela era
extraordinariamente linda. Seu rosto sem maquiagem era perfeito e
seus olhos de um tom lindo de prata polida brilhavam, grandes, como
dois pedaços de espelhos. Os lábios carnudos e rosados estavam
ligeiramente entreabertos.
Totalmente simples de jeans e blusa larga, Demi
era mais bonita que a maioria das mulheres. Imaginei como ficaria
usando salto, maquiagem e vestido longo. E senti o desejo me varrer
por dentro, denso e quente, quando imaginei como ficaria nua.
Aproximou-se de mim com olhar direto e eu me
levantei, fazendo o possível para manter uma expressão neutra.
- Oi. É um prazer recebê-lo aqui. Seja
bem-vindo. – Ela estendeu-me a mão. Apesar de sorrir, havia um
certo nervosismo e constrangimento em seu olhar.
- Tudo bem, Demi? – Apertei sua mão, gostando
muito de sentir seu toque, os dedos longos e finos, a palma macia
contra a minha. Era pequena, delicada.
Senti um leve tremor percorrê-la e seus olhos se
arregalaram um pouco. Retirou a mão e fiquei satisfeito ao ver que,
apesar de disfarçar, eu mexia com ela. Não era indiferente a mim.
Mas aliás, que mulher era?
- Sim. Por favor, fique à vontade. Eu queria me
desculpar novamente por ...
- Esqueça. – Ignorei aquilo.
- Mas eu ...
- Entendi tudo que aconteceu. Não se preocupe
mais com isso. – Sorri devagar, meus olhos sem desviar um milímetro
sequer do dela.
- Certo. – Seu sorriso era um pouco ansioso. –
Aceita um café?
- Claro. Obrigado. – Tornei a me sentar.
- Temos biscoitinhos amanteigados. – Informou
Tereza. – Nada chique, mas o pão da padaria também é bom. O que
mais você fez, Demi?
- Não, obrigado. Aceito apenas o café puro.
Demi concordou e saiu da sala. Eu não sentia
nenhum interesse nas outras duas mulheres mas me voltei para elas e
indaguei a Juliane, polido:
- Como isso aconteceu?
Ela estremeceu ligeiramente e por um momento seu
rosto espelhou pavor.
- Conheci um homem e saí com ele. Era um sádico.
Um louco.
- Juliane não costuma ser assim. – Explicou
Tereza. – Mas ela estava triste porque vocês brigaram e, tola,
quis afogar as mágoas com outro. Uma lástima! Infelizmente conheceu
o homem errado.
- Precisa tomar cuidado, Juliane. Há muitos
loucos por aí.
Demi entrava na sala naquele momento e ouviu o que
eu disse. Pareceu concordar comigo.
- O café. – Ela se aproximou com uma pequena
bandeja e um xícara no pires. Havia ao lado colher e açucareiro de
inox.
- Obrigado.
Peguei a xícara branca e Demi deixou a bandeja
sobre a mesinha de centro. Sentou-se no braço do sofá ao lado de
Juliane, quase de frente para mim.
- Eu vivo dizendo para ela tomar cuidado. –
Disse Tereza, como uma mãe muito zelosa. – Mas sabe como são os
jovens hoje!
Fingi estar atento ao que ela dizia, quando toda
minha atenção se concentrava em Demi. Ela me perturbava, despertava
cada célula masculina do meu corpo e um sentimento de posse, de
estar logo com ela sob meu domínio. Minha mente trabalhava com
aquele objetivo.
- É a primeira vez que conheço um namorado de
Juliane. – Tereza não parava de falar.
- Eu e Juliane somos apenas amigos. – Esclareci,
bem sério.
Juliane fez cara feia. Tereza ficou um momento
muda. Demi mudou de assunto:
- Juliane disse que o senhor ...
- Você. – Eu a interrompi, fitando-a de maneira
penetrante.
- Claro. Você é empresário no ramo editorial.
Deve ser interessante.
- Muito. O conglomerado engloba jornais, revistas
e livros. – Analisei-a detidamente. – Você é modelo?
- Não, sou secretária em uma firma de advocacia.
Eu imaginei como o patrão dela devia ser
felizardo, tendo-a à disposição. As tardes dele no escritório
deviam ser muito interessantes, se Demi fosse parecida com a irmã.
Mas algo nela parecia bem diferente, séria, centrada. Podia ser só
uma impressão.
- Faço faculdade de História à noite. Vou ser
professora assim que me formar.
Ergui de leve uma sobrancelha.
Professora de História, com aquela aparência?
Todos os alunos seriam apaixonados por ela.
- Eu não sei por que Demi faz essa faculdade. –
Tereza franziu o cenho. – Ela ganha mais como secretária do que
ganhará como professora.
- Faço História por que eu gosto. Mesmo sabendo
que professores não são valorizados no Brasil.
- Vai entender ... – Juliane disse com ironia. –
Minha irmã é uma dessas pessoas superiores, que não ligam para
dinheiro e aparência física.
- Eu não sou superior. – Demi parecia conter a
custo a irritação e me lançou um olhar sério. – Desculpe. Nós
geralmente discordamos sobre diversos assuntos.
Eu não disse nada, percebendo a clara tensão no
ambiente. Obviamente Demi não pensava como as outras duas. Parecia
responsável demais para sua idade. OU queria dar uma de boazinha
para me impressionar ou não era tão fácil como a irmã. Nesse
caso, seria mais difícil chegar até ela. Não soube se aquilo me
incomodava ou me incentivava mais.
Juliane puxou assunto sobre banalidades e prestei
atenção educado, mas entediado. Minha mente trabalhava, tentando
formar uma impressão de Demi, ao mesmo tempo que meu corpo reagia
com desejo à presença dela. Comecei a me impacientar. Não
costumava gastar muitas energias em uma conquista.
Para piorar a situação, Tereza sempre dava um
jeito de falar em dinheiro. Desculpou-se de novo pela casa feia, pela
xícara simples, pela televisão pequena, comentando que não
possuíam nada melhor por falta de verba. Também jogou indiretas de
que o sonho de Juliane era sair em revistas e aparecer em comerciais.
Só faltou pedir claramente que a filha saísse em uma das capas das
minhas revistas.
Percebi o modo como Demi olhava irritada para a
mãe, cortando-a e mudando de assunto a todo momento. Eu pensava em
um jeito de sair dali e ficar a sós com Demi, pois
nem toda beleza dela estava sendo o bastante para
aturar aquela tortura com Tereza e Juliane.
A garota só lhe servira na cama algumas vezes e
não o agradava mais em nada. Ainda mais com a aparência atual.
- Mas é claro que ela não poderá trabalhar por
algum tempo, não é, querida? – Tereza continuava a falar e a
filha concordava. – Mas tão logo fique boa, Juliane fará uns
testes para comerciais. Sabe como o meio é concorrido, mas às
vezes, com um empurrãozinho de alguém do ramo, tudo se torna mais
fácil ...
- O senhor ... você aceita mais café? – Demi
tentou interromper a mãe.
- Não, obrigado. Preciso ir embora. – Eu já me
preparava para fugir dali, em meu limite.
- Ah, não vá tão cedo! – Tereza sorriu
docemente. – Que tal ver televisão? Nesse horário passam vídeos
tão engraçados! SE bem que a imagem dessa tevê está uma porcaria!
Já falei com a Demi que precisamos de uma televisão nova. É o meu
sonho uma daquelas grandonas, sabe, de 51 polegadas! Na sua casa deve
ter uma dessas, não é?
- Tem cada uma! Bem maior! – Emendou Juliane.
- Deus do céu! – Tereza riu. – Eu nunca mais
sairia da frente da tevê!
- Mãe ... – Demi disse entredentes.
Eu me levantei.
- Realmente preciso ir. Foi um prazer conhecer a
senhora. E quanto a você, Juliane, se precisar de alguma coisa, sabe
meu telefone. – Inclinei-me e beijei sua testa. - Fique, Joe! Por
favor! – Ela pediu, esperançosa.
- Não dá.
- Mas você volta, não é?
- Sim. Eu ligarei para você.
Virei para Demi, que tinha se levantado. Ela
disse:
- Acompanho você até o portão.
Eu concordei. Finalmente teria o que planejei ao
vir até aquela pulgueiro. Me despedi das outras e saí, seguindo
Demi. Passei o olhar pelos cabelos dela, de um loiro muito claro e
reluzente, sedosos até o meio das costas. Imaginei-os espalhados na
cama enquanto eu a fodia com força. Senti o desejo subir, lento e
denso, forte.
Meu olhar seguiu sua cintura fina, os quadrilha
arredondados, abunda empinada dentro do jeans. Tinha pernas longas,
que ficariam perfeitas em volta de mim.
Chegamos ao portão e fiquei aliviado ao ver meu
Porsche preto ainda ali, inteiro. Demi parou e se voltou para mim.
Sob a luz de um poste ali perto, seus olhos pareciam pratas
derretidas. Mordeu o lábio, visivelmente incomodada.
- Eu queria pedir desculpas.
- De novo? – Sorri de leve, parando a poucos
passos dela, baixando meus olhos até os seus. O topo de sua cabeça
chegava na altura do meu queixo.
- Agora é pelo que aconteceu lá dentro. Minha
mãe parece que vive em outro mundo.
Esqueça tudo o que ela disse.
- Não foi nada demais. – Minha vontade era de
encostá-la naquele portão feio e beijar sua boca. Senti o pau se
avolumar dentro da calça, a excitação me percorrendo devagar.
- Você é muito bem educado, sen ... Joe.
Era a primeira vez que me chamou pelo nome.
Continuei a fitá-la de maneira penetrante, minha mente cheia de
imagens pornográficas.
- De qualquer forma, obrigada por sua gentileza,
por se preocupar com Juliane e por ter vindo vê-la. Ela ficou muito
mais animada.
- Vim como amigo. – Eu esclareci, bem atento a
ela, com voz baixa. – Espero que ela não tenha confundido com algo
mais profundo.
- Não sei. Acho que ficou esperançosa. –
Mexeu-se um pouco, parecendo um pouco nervosa sob o meu olhar direto.
- Não era essa a minha intenção. Demi, você
aceitaria jantar comigo? Ela arregalou os olhos, surpresa.
- O quê?
Eu repeti, sem vacilar:
- Aceita jantar comigo?
- Bem, eu ... Você e Juliane ... – Ficou
corada.
- Somos amigos.
- Mas foram namorados.
- Não. Apenas nos encontramos algumas vezes.
Demi desviou o olhar para a rua, para meu carro e
de volta para mim. Seus olhos pareciam ainda maiores, brilhantes.
- Desculpe, mas não posso aceitar. Não me
envolvo com homens que já namoraram a minha irmã. Ainda mais
quando, obviamente, ela ainda tem esperanças de conquistar você.
Apesar de suas palavras, seu olhar não me
enganou. Era o de uma mulher tentando disfarçar a atração que
sentia, querendo a todo custo lutar contra. Indaguei baixo: - Quer
dizer que a sua resposta é não?
- Desculpe.
- De novo?
Demi acabou sorrindo, muito corada.
- É uma pena, Demi. Gostaria de conhecer você um
pouco melhor. – Falei sedutoramente, meus olhos penetrantes
praticamente obrigando-a a me olhar, percebendo sua respiração mais
agitada.
Parecia lamentar não poder dizer sim. Era
expressiva, mesmo quando queria esconder o que sentia. E eu já tinha
tido mulheres demais, sabia reconhecer quando uma me desejava.
- Foi bom conhecer você, Joe.
Frustrado, senti a irritação me consumir. Tive
vontade de insistir, mas algo me travou.
Talvez notar que ela tinha realmente alguns
valores. Que aquela não seria a melhor tática.
De qualquer modo, não estava acostumado a receber
não. Não soube bem como lidar com aquilo. Teria que pensar em algo.
Pois agora, mais do que nunca, eu estava decidido a tê-la.
- Foi bom conhecer você, Demi. – Falei baixo,
charmoso, sem demonstrar como realmente me sentia. – Espero poder
ver você novamente.
- É, talvez. – Seu sorriso era nervoso.
- Até breve.
- Até.
Acenei com a cabeça e saí, sabendo que me
observava enquanto entrava em meu
Porsche. Não olhei para trás. Ela ainda ouviria
muito falar de mim.
Aaaah posta maais !!! Perfect
ResponderExcluirplease posta mais . estou a gostar muito dos capitulos
ResponderExcluirO meu deus, preciso de mais!
ResponderExcluirPerfeitooooo
ResponderExcluirPosta logo