DEMI
No sábado eu estava um tanto nervosa, rondando
Juliane, sem coragem de falar que tinha começado a namorar Joe. Ele
viria ali à noite me buscar para sair e eu tinha que deixar logo
tudo claro, garantir que não teria problema nenhum. Por fim, num
momento em que mamãe tirava um cochilo no quarto, me aproximei dela
no sofá, onde fazia as unhas, sentando, fingindo olhar para a tevê
ligada.
Ela me encarou, voltou a fazer a unha, me olhou de
novo. Seu rosto tinha desinchado e clareado. Ainda estava sem dentes,
mas na segunda faria o implante. Por fim me fitou e indagou:
- O que você tem, Demi?
- Eu? Por quê?
- Tá querendo alguma coisa? Não é de ficar na
sala assistindo tevê. Consegui fitá-la e abri o jogo:
- Ontem Joe veio aqui.
- Veio?
Franziu o cenho.
- Sim. Foi com a gente pra pizzaria.
- É? – Parecia bem alerta agora, prestando
atenção. – E aí?
- Eu queria saber se o que rolou entre vocês, se
...
- Já te falei que não temos mais nada.
- Então, se eu ... – Não consegui terminar.
Juliane abriu um grande sorriso e deu de ombros.
- Não me importo, Demi. Joe é todo seu.
- Não é bem assim. – Sentia meu rosto arder. –
Eu preferia não me envolver com um ex namorado seu.
- Eu entendo. Joe é mesmo difícil de resistir.
Olhei-a rapidamente e complementou:
- Mas não se preocupe. Como eu disse, somos só
amigos agora. Fique tranquila, Demi.
Era estranho ver Juliane tão calma. Em geral
estaria fazendo escândalo, me acusando de ser invejosa, lutando com
unhas e dentes para não ficar por baixo. E no entanto, dizia que
logo ia trabalhar e devolver o dinheiro de Joe e agora abria mão
dele numa boa.
Fiquei olhando-a, tentando entender uma mudança
tão brusca. Teria sido a violência que sofreu? Isso serviu para
abrir seus olhos? Ou estaria só fingindo? Mas por que faria isso?
Confesso que estava um pouco desconfiada. Mas ao
mesmo tempo, desejava ardentemente que tivesse amadurecido depois de
tudo que passou. Eu daria tudo para vê-la tomando jeito. Era tão
nova ainda, poderia mudar, refazer sua vida, voltar a estudar.
Levantei e fui cuidar das minhas coisas, sem
perceber o sorrisinho malévolo e maquiavélico da irmã caçula, que
via em mim uma oportunidade de se dar bem na vida. Coisa que só fui
descobrir muito tempo depois.
Não sabia ao certo para onde Joe me levaria.
Assim tomei banho, escovei o cabelo, passei uma maquiagem suave,
valorizando mais os olhos, um batom apenas rosado. Resolvi
arriscar com algo bem básico e pus um vestido
branco de alcinha e comprimento até um pouco acima dos joelhos, com
um pequeno coletinho rendado por cima, também branco. Uma delicada
sandália de salto alto cor da pele e uma bolsinha completaram o
visual.
Quando fui para a sala, minha mãe, como sempre
grudada na tevê, me deu um olhar comprido de cima abaixo, mas logo
virou a cara. Ainda não me dirigia a palavra. Juliane veio da
cozinha trazendo dois copos de suco, olhando-me e indagando:
- Vai sair com ele?
- Sim, vem me buscar.
Dava para sentir a curiosidade vindo em ondas de
nossa mãe, que nos encarava com o canto dos olhos. Juliane entregou
um copo para ela e se sentou no outro sofá. Pensei em sair, mas a
campainha tocou. Meu coração disparou no peito.
Não sabia se estava fazendo a coisa certa, me
arriscando com Joe. Ainda me sentia insegura, com medo, mas não
conseguia parar de pensar nele. E como eu saberia sem ao menos
tentar?
Deixei minha bolsinha no canto do sofá, respirei
fundo e saí. Quando o vi parado perto do portão, alto e lindo em
uma jeans que caía nele perfeito, uma camisa branca de mangas
dobradas, seus cabelos abundantes penteados de um jeito meio
desarrumado e aquele olhar negro, todas as minhas dúvidas sumiram.
Algo se revolveu quente e vivo dentro de mim,
pulsando, fazendo meu coração disparar loucamente enquanto abria o
portão e me via à sua frente, abalada, mais feliz do que imaginei
só por ele estar ali.
- Oi. – Murmurei, enfeitiçada.
- Oi, Demi. – Seus olhos passaram por mim e
espelharam sua admiração, seu desejo.
Sua voz saiu ainda mais grossa que o normal: –
Você está linda.
- Obrigada. – Nunca me senti tão feminina, tão
bem comigo mesma.
Como a comprovar que realmente gostava do que via,
segurou meu pulso e me trouxe para mais perto de seu corpo. Não nos
colamos, mas quase. Seus lábios carnudos estavam a milímetros dos
meus, seu olhar me fazia ferver por dentro, ficando de pernas bambas.
Fui envolvida por seu perfume delicioso, másculo
e gostoso como ele. Seus dedos em minha pele eram firmes e espalhavam
um calor que subia por meu braço e se alastrava em meu corpo, como
uma droga viciante. Prendi a respiração, abalada e excitada demais.
“Meus Deus, como vou resistir a esse homem? A
tudo que me faz sentir, todos esses sentimentos vorazes e insanos
...”, indaguei a mim mesma, com medo da resposta e sem condições
de raciocinar com clareza naquele momento.
Ainda mais quando ergueu a mão livre e passou as
costas dela suavemente pelo meu rosto, dizendo baixinho:
- A cada vez que vejo você, acho que está mais
bonita. Como é possível isso?
Engoli em seco, mas tentei reagir, ser mais
natural. Meu sorriso se ampliou quando expliquei:
- Talvez seja por que hoje estou arrumada e
maquiada. Uma mulher assim se torna outra!
Ele não riu. Sério, passeou o olhar por meus
traços, ainda acariciando minha pele. Desejei ardentemente que me
beijasse, sem me importar com o fato de estarmos no portão e ter
gente na rua. Na verdade, nem me dei conta disso.
Mas Joe não me beijou. Fiquei um pouco
decepcionada, mas logo percebi que ele estava seguindo as regras que
eu mesma estipulei, de ir devagar.
- Quer entrar um pouco? Vou pegar minha bolsa.
- Vamos. – E entrelaçou seus dedos nos meus,
seguindo-me para dentro de casa sem
soltar minha mão.
Na verdade, eu queria realmente que estivéssemos
no mesmo ambiente que Juliane, para comprovar que não rolava mesmo
mais nada entre eles, nem que fosse só nos sentimentos da minha
irmã.
Quando entramos na sala, minha mãe tomou um
susto. Usando uma bermuda velha e uma camisa de malha amarrotada com
a cara de um vereador da última eleição, sem ter penteado o cabelo
desde a hora que acordou para ficar hibernando no sofá, ela deu um
pulo e arregalou os olhos. Que voaram para nossas mãos entrelaçadas,
enquanto seu queixo caía.
- Boa noite, Tereza. Juliane. – Joe as
cumprimentou, muito educado.
- Oi, Joe. – Juliane sorriu amplamente, mas logo
se lembrou da falta dos dentes e escondeu a boca com a mão.
- Mas o que ... – Tereza olhou para a caçula,
esperando outra reação. Depois de novo para nós. – Eu pensei que
... O que significa isso?
- Estou namorando sua filha, Tereza. Espero que
nos dê a sua benção.
Eu olhei para ele, achando que brincava. Mas
estava sério, encarando minha mãe. Não esperava algo assim, tão
tradicional vindo de Joe. Nem minha mãe, que olhou de novo para
Juliane e, vendo que ela não se importava, piscou, na mesma hora seu
rosto se iluminando.
- Meu Deus, por essa eu não esperava ... É claro
que tem a minha benção! – Toda fúria com que me olhava nos
últimos dias se evaporou. Fitou-me como se eu fosse sua filha
predileta. – Querida, por que não me disse nada?
- Esqueceu que a senhora estava sem falar comigo?
– Fiz questão de perguntar.
- Eu? – Riu, abanando a mão para baixo. – Ah,
isso! Besteira passageira! Estou muito feliz por vocês! Sentem-se.
Joe lançou um olhar esquisito para o sofá em que
ficara da última vez e negou polidamente:
- Nós precisamos sair. Mas agora estarei sempre
por aqui.
- E será sempre bem-vindo! – Parecia criança
quando ganha um pirulito, exultante, pouco ligando para sua aparência
desleixada. – Como um filho!
- Agradeço. – Ele sorriu devagar e virou-se
para mim. – Vamos?
- Claro.
- Divirtam-se! – Disse, muito simpática.
- Isso aí, divirtam-se. – Juliane sorriu sob a
mão.
Nós nos despedimos, peguei minha bola e saímos.
Joe, extremamente cavalheiro, abriu a porta do carro para mim e
esperou eu me acomodar para então dar a volta e sentar ao meu lado.
Enquanto ligava o carro e o motor rugia, lançou-me um daqueles seus
olhares de fazer tremer por dentro.
Saímos da rua em que eu morava e uma música
romântica começou a tocar. Reconheci como uma de Chris de Burgh,
chamada Love is my decision.
Fitei-o na hora e sorri:
- Fez isso de propósito?
- Isso o quê?
- Selecionar essa música? “O amor é a minha
decisão”.
- Por quê? – Olhou-me com ar inocente. – Tem
centenas de músicas aí. Acaba uma e toca outra automaticamente.
- Ah, tá. Pensei que fosse alguma para me amansar
ainda mais. – Provoquei.
- Por quê, precisa ser amansada? – Os cantos
dos seus lábios tinham se erguido suavemente, enquanto prestava
atenção na estrada, pegando a Via Light, uma estrada
comprida em Nova Iguaçu, acelerando o Porsche,
fazendo o motor rugir. - Talvez você pense que sim.
- Pode ser.
Não negou e sorri ainda mais, relaxando contra o
confortável banco de couro, mais feliz do que seria recomendado.
Mudei de assunto:
- Para onde vamos, Joe?
- Uma boate legal em Ipanema. Dançar, conversar,
comer alguma coisa. Tenho alguns amigos que estarão lá hoje.
Não falei, mas gostei de saber que queria me
apresentar a seus amigos. Estávamos começando bem. Ontem saiu com
os meus e hoje eu sairia com os dele.
Conversamos banalidades, falei sobre a faculdade,
relaxamos em meio ao clima gostoso que se estabeleceu dentro do
carro.
Em determinado momento, Joe perguntou:
- Seu pai é falecido, Demi?
- Sim, há 11 anos.
- Sinto muito. Deve ter sido difícil para sua mãe
criar duas filhas pequenas.
Lembrei que meu pai deixou uma pensão para ela,
pouca coisa, mas que recebia até hoje. E a casa. Mas sempre faltava
um monte de coisa, às vezes até comida. Minha mãe vivia dizendo
que passava mal, estava doente e não podia trabalhar. Na verdade era
hipocondríaca. E quando as coisas apertavam demais, recorria a um
dos parentes distantes ou aos vizinhos. Até eu ficar maior, começar
a trabalhar em uma mercearia perto de casa e começar a ajudar nas
despesa.
- Ela deu um jeito. – Fui sucinta.
- Você se parecia com seu pai? É engraçado como
nenhuma de vocês três se parecem.
- É, meu pai e a família dele quase toda tinha
cabelos e olhos claros. Acho que puxei a eles. E minha mãe diz que
Juliane é igualzinha à mãe dela, mais morena. – Lancei um olhar
em sua direção, aproveitando para saber mais sobre ele: - E seus
pais? Estão vivos?
- Não. Morreram quando eu era garoto. Fui criado
por minha avó. – Dirigia, compenetrado.
- Ah, perdeu os dois muito cedo. – Lamentei. - E
ela está viva?
- Sim. Tem 91 anos e continua lúcida e
inteligente como sempre foi.
- Por seu jeito de falar, parece que se dão muito
bem.
- Muito mesmo.
Fiquei feliz por ele. Podia ter perdido os pais
antes do tempo, mas ao menos tivera uma avó carinhosa. Era mais do
que o relacionamento conturbado que sempre tive com a minha mãe.
Continuamos nos conhecendo um pouco melhor, sem
forçar a barra, até chegarmos à boate. Era uma casa ampla e
iluminada por luzes de led azulada, que espalhava-se na calçada da
frente, onde pequenos coqueiros balançavam ao vento. Havia um
estacionamento ao lado, onde apenas carros importados e caríssimos
estavam e onde Joe deixou o dele em uma vaga.
Fiquei um pouco incerta em frequentar um lugar
assim, chique e exclusivo demais, quando não estava acostumada. Mas,
enquanto ele me ajudava sair do carro, lembrei que na noite anterior
Joe também ficara fora de seu ambiente, na pizzaria, mas tinha ido
assim mesmo. Por mim. Por isso escondi minha insegurança e entrei
com ele de mão dada. Paramos em uma cabine e ele pagou os ingressos,
recebendo dois cartões magnéticos com chip, que me explicou ao
entrar:
- É um cartão personalizado para cada um de nós.
- Como assim, personalizado?
- Lá dentro tem alguns serviços, como utilizar
os camarotes exclusivos com melhores vistas para o Dj e a pista,
direito a usar uma cabine para tirar fotos ou dançar em cilindros no
alto, comprar sapatilhas em uma máquina italiana que as libera se
quiser descansar os pés dos saltos, além de se anotar o que se
consome e umas coisinhas a mais.
Acenei com a cabeça, impressionada, pensando como
os ricos gastavam rios de dinheiro com coisas tão supérfluas. Mas
não disse nada.
Era como entrar em outro mundo, onde luxo,
riqueza, gente bonita e bem tratada se misturavam em um ambiente
intimista, que gritava: “exclusividade”. Calculei que fosse uma
boate da moda entre as pessoas da classe de Joe.
Havia uma enorme pista com mesas e cadeiras
espalhadas em volta. A música era eletrônica, em um ritmo vibrante
que parecia combinar com as luzes de led dançando e rodopiando em
ondas, a cabine do DJ em um local estratégico, mais alto, cercado
por dez camarotes. Já tinha lido sobre aquelas boates da moda em uma
revista e agora comprovava com meus olhos que existiam de verdade.
Vi que Joe se dirigia a um dos camarotes, ocupado
por dois casais, que riam, conversavam e tomavam champanhe. Todos
tinham por volta de vinte e tanto ou trinta anos.
Na mesma hora se animaram ao vê-lo.
Fui apresentada, beijada e convidada a me sentir à
vontade, enquanto eu me sentava no sofá em volta da mesa e ele se
acomodava ao meu lado, passando um braço em volta dos meus ombros.
Na mesma hora me entregou uma taça de champanhe, pegou uma para si e
já pedia outra ao garçom exclusivo do camarote.
Ali, naquele local um pouco mais alto, com vista
para todos que estavam lá embaixo, senti-me como se fôssemos da
realeza e isso me incomodou um pouco. Pensei como aquelas pessoas
poderiam saber que os outros se aproximavam delas por gostar de sua
companhia ou por interesse. E me indaguei se Joe teria aquelas
dúvidas também. Mas guardei tudo para mim.
Passamos a conversar e gostei dos casais. Pelo que
entendi, um dos rapazes, Antônio, era amigo de Joe há muitos anos e
se casaria com Ludmila, a bela moça ao seu lado. O outro casal era a
irmã de Ludmila, Lavínia, e seu noivo Jaime. Para completar a roda,
só estavam esperando mais um amigo com a namorada.
Percebi que enchia bastante e as pessoas se
acabavam na pista, animadas. Na mesa em que estávamos, a conversa e
as risadas rolavam soltas. O ar era sofisticado e descolado. Os
petiscos da mesa eu nunca tinha visto nem comido, mas eram elaborados
e deliciosos, reconhecendo apenas o caviar e o salmão.
- Está gostando? – Joe falou perto do meu
ouvido.
Eu não tinha do que reclamar, mas realmente não
era meu ambiente. O que eu estava gostando mais era de estar ali com
ele tão perto de mim, seu corpo tornando o meu bem consciente, com o
sangue correndo rápido nas veias.
- Sim, é bem legal. – Sorri e beberiquei o
champanhe delicioso.
- Quer dançar?
- Agora não.
Ficamos conversando um pouco e depois ouvi os
planos de Ludmila para seu casamento, enquanto Joe conversava com os
rapazes. Em determinado momento, sussurrou em meu ouvido que ia ao
banheiro e voltava logo. Concordei com um sorriso e o observei se
afastar, admirando-o novamente.
Naquele momento, outro casal se aproximava da mesa
e eu os olhei, encontrando os
profundos olhos verdes do homem sobre mim. Era
alto, elegante, ombros largos, visivelmente atlético e muito bonito.
Seus cabelos loiros eram arrepiados, a pele bronzeada, os traços
angulosos e masculinos.
Olhou-me de um jeito tão intenso e direto, que
por um momento pensei que me conhecia. Mas então me dei conta que
seus olhos expressavam um interesse genuíno e desviei o olhar um
pouco sem graça, notando que estava acompanhado de uma bela morena
escultural.
- Até que enfim chegou, Matheus! – Exclamou
Antônio. – Pensei que tivesse desistido.
Ele pareceu demorar um pouco a responder, ainda me
fitando. Mas por fim apresentou a acompanhante como Vivian e,
enquanto a moça cumprimentava os outros, voltou-se novamente para
mim, parado ao meu lado. Sua voz era grave e um pouco rouca:
- E você, quem é?
Eu o olhei, mas antes que respondesse, Joe surgiu
ao lado dele, fitando-o duramente e dizendo baixo:
- Minha namorada.
- Namorada? – O loiro fitou-o e seu rosto se
tornou ainda mais bonito com o sorriso amplo.
– Tá falando sério, Joe?
- Muito sério. Assim como a sua acompanhante deve
ser sua namorada.
- Não, apenas amiga. – Deu de ombros e me olhou
de novo, dizendo sem arrependimento: -Desculpe. Por um momento pensei
que fosse uma visão do paraíso e me perdi nesses olhos prateados.
Achei graça do seu tom meio brincalhão, meio
sério. Mas Joe não pareceu gostar nem um pouco. Sentou ao meu lado,
passou o braço em volta do meu ombro e quase rosnou:
- Não ligue para essas cantadas ridículas dele.
Parou no jardim da infância, inclusive a sua inteligência.
O outro riu, mas ainda me olhava.
- Não vai me apresentar, Joe?
- Para quê?
- Deixa de ser mal educado. – E ele mesmo se
apresentou: - Matheus Sá de Mello. E você?
- Demi. – Estava achando engraçado o ciúme de
Joe. Sem necessidade. O amigo dele era muito bonito e atraente, mas
para mim não importava. Eu só conseguia ver Joe pela frente.
- Demi ... – Repetiu, baixo.
- Cara, some daqui.
- Calma! – Riu da agressividade do amigo. Logo a
morena que o acompanhava se debruçava no ombro dele e nos fitava com
um sorriso. Matheus apresentou-a: - Minha amiga Vivian, meus amigos
Joe e Demi.
Nos cumprimentamos e eles se sentaram. A conversa
ficou mais animada ainda, pois Matheus tinha um jeito jovial e
divertido. Sentado quase à minha frente, de vez em quando sentia seu
olhar sobre mim, mas eu o ignorava. Já Joe não, olhando-o bem
sério, com raiva.
Sorri intimamente, pensando o quanto era
possessivo.
Em determinado momento, quando a música
tecnológica era um pouco mais lenta, ele se levantou e me tirou para
dançar. Fomos para a pista de dança em um dos cantos e, quando
colou seu corpo másculo no meu, esqueci o resto do mundo. Nos
movemos ao som da música, enquanto me segurava com firmeza e não
tirava os olhos dos meus.
- O que foi? – Perguntei baixinho.
- Só admirando você. Não posso culpar Matheus
por estar quase babando. É linda demais.
- Ele só está provocando você. – Murmurei,
com um sorriso.
- E conseguiu. Estava faltando pouco para pegar a
faca de passar patê e cortar os bagos dele fora.
- Joe! – Acabei rindo. Puxou-me mais para si e
se encostou em uma pequena muretinha ao lado da pista, encaixando-me
entre suas pernas abertas, suas duas mãos em minhas costas, sob o
meu cabelo, seus olhos descendo até meus lábios.
O desejo me engolfou, forte e denso. Aproximou-se
mais e fechou os olhos, os cílios negros e espessos fazendo sombra,
roçando suavemente sua barba cerrada e macia contra minha face,
beijando-a suavemente ao lado da boca.
Estremeci, esquecendo o mundo, um dos meus braços
em volta do seu pescoço, a outra mão subindo para acariciar sua
barba sobre o maxilar duro, rijo, bem marcado. O tesão fluía denso
entre nós, acendendo uma luxúria que eu nem sabia que possuía até
conhecer Joe. Agora, eu me sentia outra; viva, pulsante, um mulher em
sua essência, despertada pelos instintos mais básicos e sentimentos
mais profundos.
Virei um pouquinho o rosto e rocei meus lábios
nos dele, sem poder resistir, cheia de vontade de sentir seu gosto,
sua língua em minha boca. Mordi o lábio inferior carnudo e senti
suas mãos me apertando mais, colando meus seios em seu peito,
encaixando-me entre as coxas musculosas, sentindo com perfeição sua
ereção contra meu púbis.
Não podia acreditar que aquele volume fosse
realmente de verdade, mas era. Não tinha prática em comparar os
homens, mas Joe parecia ter um membro tão grande e grosso que
chegava a assustar. E também me excitava muito. Além do imaginado.
Mais uma vez pensei como poderia resistir àquele homem. Seria uma
tarefa ingrata.
Colei meus lábios nos dele e na mesma hora Joe os
abriu, insinuando a língua em minha boca, tornando-se exigente ao
explorar o interior, me mordiscar, deixar-me totalmente
desequilibrada em seus braços.
O beijo foi profundo, quente, intenso. Senti seus
lábios carnudos devorarem os meus e retribuí com a mesma fome
ardida, sugando sua língua, movendo a minha de encontro a dele.
Minhas pernas pareciam gelatina, meu coração disparava, todo meu
corpo participava entregue e acalorado, despertado.
Sua mão segurou minha cabeça e se enterrou em
meu cabelo. Puxou um punhado para baixo, forçando-me a erguer o
queixo, enquanto deslizava a boca sobre ele e minha garganta.
Arrepios de puro tesão me percorreram, senti os seios doloridos e a
calcinha toda molhada. Nunca pensei que um prazer pudesse ser tão
embriagante e enlouquecedor e era ainda mais, muito mais.
Mordiscou abaixo da minha orelha, o lóbulo perto
do brinco, até que sussurrou rouco:
- Vamos para minha casa. Passe a noite comigo,
Demi.
Era sedutor e, do jeito que eu estava, quase
aceitei. Quase. Pensei nos meus sonhos de amar e ser amada, de só me
envolver sexualmente quando tivesse certeza que isso acontecia. Não
queria ser descartável nem usada. Queria amor, respeito, amizade,
companheirismo. E por mais que eu estivesse doida por Joe e soubesse
que me desejava, ainda não sabia se teria aquelas coisas dele.
- Não ...
- Mas estamos loucos um pelo outro. – A ponta de
sua língua passou pelos labirintos da orelha, lambeu suavemente a
entrada do ouvido, fazendo-me arfar e agarrar sua camisa, minha
vagina latejando. Murmurou: - Não paro de me imaginar na cama com
você, nua embaixo de mim, enquanto saboreio sua pele toda, cada
recanto, cada buraquinho ...
Meu ventre se contorceu, a imagem se tornando
nítida e pornográfica em minha mente,
enquanto eu quase entrava em combustão
espontânea. Deus, era o primeiro dia de namoro e eu já estava
assim, quase me entregando! Como teria forças de resistir muito
tempo, com aquele homem me pegando daquele jeito, dizendo aquelas
coisas, seu corpo tentando o meu, seu cheiro me inebriando?
Consegui afastar a cabeça e segurei seus braços
em volta de mim, olhando-o até fitar seus olhos negros pesados e
duros. Quase capitulei ali, impressionada como o tesão o deixava
ainda mais viril e lindo, sua expressão de macho pronto, preparado
para tomar sua fêmea e ponto final. Algo me alertou que seria
impossível impedir Joe, havia tudo de decidido nele, de intenso e
poderoso, como se gritasse: “Você é minha e acabou!”.
Engoli em seco e por um momento perdi as palavras,
hipnotizada. Mas lutei e consegui murmurar:
- Você ... Você prometeu que seria só namoro.
Que não forçaria.
- Eu sei. – Sua expressão fechou mais, aqueles
olhos tão negros e ardentes me consumindo. – Mas estou doido por
você. E sei que também quer.
- Sim. Desejo você, Joe. Mas quero quando me
sentir preparada, quando confiar em você.
Pensei que rebateria aquilo e tentaria me
convencer. Mas em meio à música e àquela multidão de pessoas, que
mal notávamos, encostou sua testa na minha, respirou fundo e fechou
os olhos por um momento, dizendo baixinho:
- Já vi que vou ter que tomar muito banho frio.
Acabei sorrindo e gostei ainda mais dele por
respeitar minha opinião. E o abracei forte, algo rebulindo dentro de
mim, crescendo tanto que me assustei. Não era só tesão. Era muito
mais. E crescia vertiginosamente, em uma velocidade extraordinária.
Soube o que era, mas não nomeei. Ainda era cedo
demais para aquele sentimento. No entanto, a razão não o impediu de
chegar. E percebi que nada impediria.
A cada dia amo mais essa história
ResponderExcluir-Nathalia-
Eita que ta pegando fogoooo.... ela não vai resistir por muito tempo..... continuaaaa.....
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