DEMI
Eu sempre quis fazer faculdade de História. E ser
professora. Já no Ensino Médio era muito estudiosa. Mesmo estudando
em escola pública e ficando muitas vezes sem aula e sem professor,
eu adorava ler e estudava por minha conta. Por isso, quando terminei
os estudos aos dezessete anos, passai logo em duas universidades
públicas, a UFF e a Uerj. Escolhi a segunda, por que poderia ir e
voltar de trem e ficava mais perto do trabalho e de casa. A UFF era
em Niterói, bem longe para mim.
Agora, aos 21 anos de idade, só faltava mais um
ano para terminar minha faculdade e começar a trabalhar no que eu
realmente queria. Passei por várias dificuldades, às vezes era
obrigada a faltar as aulas por que não tinha como pagar a passagem
ou por sair mais tarde do trabalho, mas me mantivera firme e minhas
notas altas comprovavam minha dedicação e meu esforço.
Há quatro anos começara a trabalhar como
recepcionista em uma grande firma de advocacia, entre vários jovens,
atendendo telefone e servindo cafezinhos. A princípio ganhava pouco,
mas tinha vale transporte e ticket refeição. E o horário, de
segunda à sexta, de 8:00 às 17:00 hs, era propício para que
estudasse à noite.
A firma ficava na Av. Rio Branco, no centro do
Rio. Ao largar o trabalho, era só pegar um ônibus na Av. Presidente
Vargas e em menos de meia hora estaria na UERJ, onde estudava das
18:00 hs até às 22:00 hs. Depois pegava o trem e ia para Nova
Iguaçu, onde morava.
Aos poucos, minha dedicação ao trabalho foi
recompensada. Nunca faltava, não chegava atrasada e cumpria com
minhas obrigações sem reclamar ou me meter em fofoquinhas de
escritório. Em um ano, recebi uma pequena promoção e aumento. Fui
trabalhar como recepcionista no andar dos principais sócios da
firma, lidando com clientes, marcando consultas, junto com mais duas
moças. Tinha apenas 18 anos.
Foi quando eu comecei a chamar mais atenção do
que desejava. Mesmo usando o uniforme azul como as outras
recepcionistas, o cabelo sempre preso e um sorriso profissional,
vários advogados, estagiários e clientes passaram a me dar cantadas
e me convidar para sair.
Eu, educadamente, recusei a todos os convites e,
aos poucos, fui desencorajando os mais ousados. Apesar de alguns
serem bonitos, ricos ou interessantes, às vezes as três coisas
juntas, nenhum deles me interessou. Depois de passar anos ouvindo os
ridículos conselhos da minha mãe em usar meu corpo para atrair os
homens, eu havia desenvolvido uma grande repulsa por tal atitude.
Quanto mais ela falava, mais eu odiava a possibilidade de usar minha
aparência para crescer na vida. Minha preocupação era estudar e
trabalhar.
Mas um dos sócios, um homem de cerca de 40 anos,
bonito e elegante, casado, que segundo comentavam já saíra com
todas as moças bonitas da firma, tornou-se muito insistentes em me
levar para a cama. As minhas recusas só aumentavam sua insistência.
Passei a sentir até medo dele. Evitei-o ao máximo
e minhas colegas de trabalho começaram a jogar indiretas,
perturbando-me ainda mais. Achavam que era um joguinho meu, para
chamar atenção. Ainda mais quando Eduardo Couto, o tal advogado,
anunciou que eu seria sua nova secretária.
Corriam boatos de que suas secretárias eram
jovens e bonitas, além de serem suas amantes. Quando se cansava, ele
as trocava. Era generoso, dava-lhes presentes, levando-as aos
melhores lugares. Muitas garotas da firma sonhavam em ocupar aquele
cargo.
Quando eu soube da novidade, apavorei-me. Nem a
perspectiva de ter meu salário aumentado me alegrou. Sabia que, como
secretária particular dele, Eduardo Couto se tomaria muito mais
insistente. E infernizaria a minha vida. Sem outra opção, só me
restou pedir demissão.
O assunto gerou tanta fofoca, que a diretora de
Recursos Humanos me chamou para conversar. A firma admirava minha
pontualidade e dedicação e, há quase dois anos trabalhando ali,
sem faltas e problemas, eu demostrara aprender rápido as tarefas.
Sabia digitar rápido, escrevia bem, era eficiente e simpática. Eles
não queriam minha demissão.
Por fim, o sócio majoritário da firma, que todos
admiravam e respeitavam resolveu o assunto. Mais tarde eu soube que
ele conversou com Eduardo Couto e, depois disso, este nunca mais me
importunou. Passou a me ignorar, com desprezo evidente. E eu, sem
querer, caí nas boas graças de José Paulo Camargo, o sócio
majoritário.
Nos dois anos seguintes eu continuei a trabalhar
com afinco e aprender. Recebi promoções e, há 4 meses, fui
convidada a me tornar assistente da secretária de José Paulo
Camargo. Ela tinha 60 anos e logo se aposentaria. Se conseguisse
aprender todo o trabalho e me sair bem, poderia ocupar o lugar dela.
No início fiquei com medo que o velho advogado
estivesse com más intenções. Mas ao conhecer melhor o homem sério
e inteligente de 66 anos, casado há 40 anos com a mesma mulher,
respeitador e idôneo, que não gerava nenhuma fofoca na firma, eu
foi ficando mais tranquila.
Convivia muito com o patrão e Adelaide, a
secretária dele, que me ensinava tudo com paciência. E me elogiava,
por aprender rápido. Aos poucos percebi que, assim como os admirava,
eles também me admiravam.
Uma vez Adelaide comentou que era difícil
encontrar, nos dias atuais, alguém tão responsável quanto eu,
sendo ainda tão nova. E deu-me um conselho que nunca esqueci: “Nada
vale mais do que nossa paz interior; do que saber que o nosso sucesso
veio da honestidade e do trabalho, e não de meios fáceis e
maldosos”.
Assim, eu estava feliz e tranquila. Aos poucos,
estava alcançando meus objetivos. Minha única preocupação no
momento era minha irmã caçula. Juliane fizera 18 anos e, cada vez
mais, agia segundo os conselhos distorcidos da mãe. E não escutava
mais nada que eu dizia.
No sábado, ela só chegou em casa de manhã e
dormiu até a tarde. Depois ficou se
arrumando, fazendo unha e de cochichos com a nossa
mãe. Só se dirigia a mim com deboche e piadinhas, até me ver
irritada. À noite saiu novamente, emperiquitada, com Luana, sem
querer dar satisfações.
Eu li alguns textos, fiz um trabalho da faculdade,
arrumei a casa e lavei roupa. Deixei tudo preparado para a semana
seguinte, pois durante a semana não tinha tempo de fazer nada.
No sábado à noite foi ao aniversário de um ano
do filho de uma amiga e vizinha e diverti-me ao encontrar vários
colegas, com quem ri e relaxei.
No domingo fiquei preocupada, pois passava das
cinco da tarde e Juliane não voltara para casa, desde sábado. Tinha
jurado não perguntar nada à mãe, pois não seria de grande ajuda.
Mas não aguentei e fui procurá-la na sala.
Tereza era viciada em televisão. Domingo, então,
ela passava o dia todo deitada no sofá, segurando o controle remoto
e rindo das bobagens que via. Odiava trabalho doméstico e domingo se
recusava até a lavar uma louça. Durante a semana, dava uma
arrumadinha superficial em tudo, fazia o almoço de qualquer jeito e
o que sobrava ficava para o jantar.
Depois ficava grudada na televisão. Via desde a
novela da tarde, até a última.
Quando eu reclamava disso, ficava furiosa,
reclamava de dores e me chamava de filha ingrata. Chegara a afirmar,
algumas vezes, que eu era má e egoísta pois, em vez de criticá-la,
poderia comprar para ela uma televisão de led grande, agora que meu
salário aumentara.
“Você pode pagar em até 18 vezes”, ela
dissera, como se isso fosse fácil.
Com ar risonho rosto redondo, Tereza olhava
fixamente para a TV. Eu parei na entrada da sala e olhei-a. Às vezes
sentia raiva das atitudes da mãe e mágoa. Mas em outros momentos,
uma certa melancolia e tristeza me envolvia. Que vida era aquela,
enfurnada numa casa, apreciando vidas de personagens de novelas,
quase sem sair dali, sonhando com riqueza e conforto, despreocupada
com uma filha que só há pouco tempo fizera 18 anos e que estava na
rua há quase 24 horas?
-Mãe... – Mãe falei tranquilamente, embora
sentisse um aperto no peito. Cheguei perto do sofá que ela estava
deitada – Juliane não deu notícias?
-Espere um pouco, Demi ... Oh! – Ela riu de um
desses vídeos em que as pessoas caíam, desmaiavam em casamentos,
cometiam erros engraçados e sem querer – Olha só! Ela escorregou
e caiu como uma jaca podre!
Pacientemente, eu me sentei no braço do sofá e
aguardei. Quando deu o intervalo comercial, ainda rindo, Tereza
sentou-se e me fitou.
-O que você disse?
-Eu perguntei por Juliane.
Tereza suspirou.
-O que tem sua irmã?
-Ela deu notícias? Não a vejo desde ontem.
-Ela deve estar na casa do namorado.
-Deve estar? A senhora não sabe?
A mãe fez cara de pouco caso.
-Já disse que sua irmã sabe se cuidar. Ela deve
estar se divertindo. É só isso?
Eu não queria discutir com ela. Continuou calma.
-A senhora sabe quem é esse namorado dela?
-Sei. Ele vive saindo nos jornais e Juliane me
mostrou a foto– Ela animou-se, sorrindo – É rico e já namorou
muita atriz e modelo famosa. Acho que é dono de algumas dessas
revistas que circulam por aí. Só sei que é empresário. E veja
bem: agora namora a nossa Ju! Nem dá para acreditar!
-Sabe o nome dele?
-Claro! É Joe... Joe Adam – Seus olhos
brilhavam – E nem é velho! Trinta e poucos anos e lindo. A Ju
disse que está caidinho por ela. Talvez ela até apareça com ele
numa dessas reportagens que mostram festas e gente famosa. Já
pensou? Mando até fazer um quadro!
Eu fiquei quieta, ainda preocupada. Por fim,
indaguei :
-É só com ele que ela está saindo? Ou tem
outros?
-Por que você quer saber?
-Só estou perguntando.
-Que é? Está com ciúmes? Arrependida de não
seguir os meus conselhos, agora que sua irmã está se dando bem?
Tive vontade de rir de tamanho absurdo. Mas a
preocupação com a irmã persistia.
-Será que ela está se dando bem mesmo, mãe?
Será que esse homem gosta dela e está tratando-a bem?
-Claro que sim! Não vê como ela anda feliz? Ah,
vai começar o programa de novo. É só isso?
-É. É só isso.
Eu saí de casa e fui até o portão. A tarde
estava fresca e, na rua sem saída, alguns garotos jogavam bola
fazendo traves com chinelos, enquanto meninas se reuniam na esquina
para conversar e paquerar. Dona Maria, uma senhora de quase 80 anos,
que ainda pegava costuras por encomenda, sentava-se num banco em sua
calçada, conversando com mais duas vizinhas idosas. Todas me
cumprimentaram.
Eu sorri e acenei para elas. Ansiosa, olhei para a
entrada da rua, mas não havia nem sinal da irmã. Eu não conseguia
me livrar da sensação de que algo ruim poderia acontecer com
Juliane. E o pior é que não havia nada que pudesse fazer.
Selena, minha melhor amiga, que morava na velha
casa em frente, surgiu na varanda e, ao me ver encostada no portão,
saiu de casa, atravessou a rua e veio em minha direção. -Oi, Dem.
Apreciando a tarde?
-Pois é.
-Por que não deu em pulinho lá em casa pra eu
cuidar do seu cabelo? - Selena fitou meus cabelos de um louro
claríssimo, naturais, presos de qualquer jeito por uma presilha
azul. -Agora que é assistente da secretária do seu chefe, tem que
manter a aparência impecável.
-Amanhã eu prendo num coque.
Selena sentou-se no murinho baixo e balançou a
cabeça.
-Sabe que eu não te cobro nada e adoro arrumar
seu cabelo. Você sempre me ajudou nos estudos e em troca cortava seu
cabelo e fazia escova.
-Já terminamos o Ensino Médio há 4 anos, você
continua a cortar meu cabelo e nunca mais precisou de ajuda nos
estudos – Sorri – Além do mais, trabalha como cabeleireira de
segunda à sábado. Merece um descanso no domingo, não é?
-Você é uma boboca, Dem. Semana que vem você
não escapa do meu secador!
Nós rimos.
-E aí? Alguma novidade? – Indagou Selena,
balançando as pernas penduradas. Usava short, camiseta colada e seus
cabelos crespos estavam sempre escovados e bem cuidados.
-Não. Tudo na mesma.
-Você parece esquisita. Preocupada. O que foi?
- Nada, só vim espiar a rua.
-Sua mãe e irmã estão em casa?
-Mamãe está vendo TV. E Juliane saiu.
Selena me conhecia muito bem e sabia de meus
desentendimentos com a mãe e a irmã.
-Está preocupada com Juliane, não é? O que foi
dessa vez? Ela se meteu com homem casado de novo?
-Sei lá, Selena. Ela passa cada vez menos tempo
em casa. Minha mãe disse que o namorado dela é um empresário rico
e famoso e que está apaixonado por ela. Mas eu não sei - Olhei para
a amiga – É um tal de Joe Adam. Conhece?
Selena arregalou os olhos castanhos.
- Joe Adam? Claro! É aquele que vive namorando
essas atrizes famosas! Dizem que é rico e já lançou muita mulher
na mídia. Já vi várias fotos dele em jornais e revistas. Você
não?
-Nunca ouvi falar. Se o vi, já esqueci.
-Ele é lindo, Dem. Um moreno daqueles que parecem
um sonho, sabe? Puxa, dessa vez sua irmã se deu bem!
Fiz uma careta.
-Não é só porque ele é rico e bonito que
significa que é um homem bom!
-Sei disso. Mas que sua irmã chegou mais longe do
que se esperava, isso é um fato. Como ela o conheceu? – Selena
arregalou os olhos – Hei, Dem, será que ela vai ser a nova capa da MACHO?
-O quê?
-Joe Adam é dono da revista MACHO, aquela famosa,
de mulheres nuas ! Será que é isso?
Eu franzi o cenho, sem saber o que dizer. Naquele
momento, o Corsa cor-de-vinho de Luana entrou na rua e deixou Juliane
a poucos metros dali, pois os garotos jogando futebol não permitiam
que ela parasse perto do portão.
Juliane, num micro vestidinho preto, usando saltos
altíssimos, afastou os lisos cabelos castanhos do rosto e acenou
para a amiga, que se afastou com o carro e buzinou em despedida.
Juliane veio andando pela calçada sem
cumprimentar os vizinhos, com o nariz empinado e o andar de uma
manequim. Olhou com ironia para mim e Selena, ao parar perto.
-Olá! Não é um horário ruim para se ficar no
portão fazendo fofoca? – Ela sorriu ao ver que eu cerrava os
lábios e continuou : - Ou estava esperando por mim?
Eu não cairia nas implicâncias de Juliane.
-Estou aqui apreciando a tarde e conversando com
minha amiga – Disse friamente.
-Hum... Que divertido
-Você também parece ter se divertido bastante! –
Disse Selena, imitando a ironia de Juliane.
-Com certeza, bem mais do que vocês. – Seus
olhos brilhavam e ela sorria, mas algumas olheiras denunciavam um
certo cansaço, que ela logo explicou: - Passei a noite em claro numa
festa que, mesmo em seus sonhos mais ousados, Selena, você nem
poderia imaginar como é!
-Se você diz, eu acredito. Afinal, você só anda
com gente importante, não é? – Selena continuava a sorrir
ironicamente.
-Exatamente. Logo todos ouvirão falar de mim –
Seu olhar era o de alguém superior e arrogante.
-É mesmo? Onde?
-Na televisão, em revistas, em todo lugar. E só
assim me verão, pois tão logo isso aconteça, eu me mudo daqui.
-Puxa vida, Juliane! Estou impressionada! –
Selena arregalou os olhos exageradamente – E o que você fará na
televisão, nas revistas, em todo lugar? Qual o seu talento? Ou os
seus talentos?
Juliane olhou-a por um momento, em dúvida. Eu a
observava, calada. Por fim, ela retrucou:
-Para quem é jovem e bonita como eu, tudo é mais
fácil. Posso fazer qualquer coisa; representar, cantar, apresentar
um programa... ou quem sabe, simplesmente casar com um homem famoso e
rico – Ela olhou Selena de cima em baixo – Já algumas mulheres
sem atrativos... bem, resta agradecer aos céus quando conseguem um
bombeiro como noivo!
Selena, que era noiva de um bombeiro, ficou séria
na mesma hora. Rindo, Juliane entrou em casa. Eu olhei para minha
amiga.
-Desculpe, Selena. Ela não sabe de nada.
-Juliane está um nojo. Ela pensa que é um
arraso! – Suspirou – Aposto que sou mais feliz com meu Rodrigo do
que ela com esse Joe Adam! Pelo menos a gente se ama!
-Claro.
-Ah, deixa pra lá. Bom, ela já está em casa.
Que tal você se despreocupar agora? O domingo está terminando e
você nem se cuidou. Vamos lá em casa. Dou um jeito nesse cabelo
rapidinho!
-Não. Obrigada, mas...
-Vamos lá! Vai entrar e fazer o que aqui? Além
do mais, minha mãe fez um bolo de chocolate maravilhoso! Hein?
Eu acabei rindo.
- O que estamos esperando? Por que não falou do
bolo antes?
Selena pulou do muro, deu-me o braço e nós
atravessamos a rua rindo.
~
Aqui está... Não sei se essa noite posto outro pq acho q n vou passar o Natal em casa. Beijos, amo vcs!
Feliz Natal ♥
Bruna.
Essa irma da demi, meu deus q vontade de estapiar a cara dela
ResponderExcluirFeliz Natal!!!
- Nathalia -
Essa irmã da Demi é nojenta! Não sei como a Demi aguenta ela. Só quero ver o dia em que ela vai quebrar a cara, não, melhor ainda, o dia em que o Joseph vai rejeitar ela.
ResponderExcluirCara, eu to louca pra saber como vai ser a primeira vez que o Joe e a Demi irão se ver.
Posta logo por favor
Posta logooooo eu vou morrer aqui meu deus
ResponderExcluirP.S . Feliz natal
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