5.9.14

Enroscado - Capitulo 6 - Maratona 2.5

 
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O que você sabe sobre PES? Percepção extrassensorial, o conhecimento de um incidente antes que ele aconteça. Todos temos um pouco disso, os noventa por cento de nossos cérebros que não são utilizados.

É igual àquelas vezes em que você está dirigindo e pensa numa música que não escuta há anos, e aí ela começa a tocar no rádio. É igual àquelas manhãs, em que você imagina um velho amigo e, na hora do jantar, seu telefona toca e é o amigo em quem você tinha pensado.

Nunca acreditei muito nessas coisas. Mas quando a vendedora me deu o troco da camisetinha, uma bola de ansiedade se instalou profundamente em mim.

E não era uma perturbação normal. Era algo urgente. Uma inquietação desesperadora, como quando você lembra de que se esqueceu de pagar a conta do cartão de crédito.

Tinha que ir até o Joe. Tinha que falar com ele, contar para ele, e tinha que ser naquele momento. Andei rapidamente pela rua. Bom, o mais rápido possível quando se está usando saltos de sete centímetros.

A cada passo que me levava para mais perto do prédio, uma preocupação crescia de uma maneira incrível.

Quando consegui engolir a novidade, estava prestes a explodir. Mas, relembrando tudo, acho que aquilo significava outra coisa.

Uma premonição.

Quando cheguei à porta de nosso apartamento, meus joelhos estavam tremendo e minhas mãos suavam. Então, quando coloquei a mão na maçaneta… Se você tiver estômago fraco? É melhor não assistir a isso.

Não vai ser bonito.

Entro no apartamento. As luzes estão apagadas. Coloco as chaves na mesa e tiro o casaco. Acendo a luz, deixando a sala bem clara.

E é quando vejo.

Eles.

Joe está em pé no meio da sala, sua camisa está desabotoada, deixando à mostra o peito por onde passei meus dedos milhões de vezes. A pele macia, bronzeada, que amo tocar. Ele está segurando uma garrafa quase vazia de Jack Daniel’s com uma mão. A outra está escondida. Enterrada.

Numa juba de cabelos ondulados ruivos.

Ela é completamente o oposto de mim. Cachos ruivos grossos, peitos do tamanho de melancias, siliconados. Ela é alta, tão alta quanto o Joe, mesmo sem estar de saltos. Seus lábios são vermelhos e exuberantes, grossos o bastante para deixar Angelina Jolie com inveja.

E aqueles lábios carnudos estão se movendo nos lábios do Joe.

Pessoas que beijam bem, muito bem, não usam apenas os lábios. Usam o corpo todo, a língua, as mãos, o quadril.

Joe beija bem.

Mas nunca tive a oportunidade de observá-lo em ação. Nunca o vi beijar alguém. Porque era eu quem sempre estava recebendo. Sendo beijada.

Mas não é o que está acontecendo agora.

Fico parada lá, apenas chocada. Observando. E, apesar de ficar assim por apenas alguns segundos, parece uma eternidade.

No inferno.

Em seguida, Joe se afasta. Como se ele soubesse que eu estava lá durante todo aquele tempo, seus olhos encontram os meus imediatamente. Eles estão fortes. Cruéis.

Sua voz está tão fria, como o aço de um portão em uma tempestade de neve.

– Olha quem está em casa.

Muitas mulheres imaginam como reagiriam se pegassem seus namorados ou maridos as traindo. O que diriam. Como seriam fortes.

Iriam se honrar e ficariam indignadas.

Mas quando isso realmente acontece? Quando você não está apenas imaginando? Essas emoções estão, peculiarmente, ausentes.

Fico paralisada por dentro.

Morta.

E minha voz solta apenas um sussurro, gaguejando.

– O que… o que está fazendo?

Joe encolhe os ombros.

– Só me divertindo um pouco. Pensei, por que você tem que ser a única que pode se divertir um pouco?

Escuto as palavras, mas não as compreendo. Meus olhos se apertam e minha cabeça se inclina como um cachorro confuso.

Joe sai de perto da ruiva e toma um gole da garrafa. Ele se encolhe ao engolir.

– Parece confusa, Demi. Deixa eu te explicar. A primeira regra para mentir é sempre ter um álibi. Bom, agora, Matthew e Deloris estão em um avião, indo para Vegas. Matthew tem planejado esta viagem durante várias semanas, uma segunda lua de mel de surpresa. Portanto, eu sabia que você tava falando um monte de merda hoje à tarde. Eu só precisava saber se você realmente ia continuar com isso. Então, te segui. Adoro o GPS.

Ano passado, uma mulher chamada Kasey Dunkin desapareceu após sair com os amigos uma noite. Saiu em todos os jornais da cidade. A polícia conseguiu rastrear seu celular num depósito abandonado no Brooklyn, e, apesar de ela ter sido esfaqueada diversas vezes, ela conseguiu sobreviver. Joe e eu instalamos o mesmo programa nos nossos celulares logo no dia seguinte.

– Você me seguiu?

Ele me seguiu até o consultório da Bob. Ele sabe aonde fui. Isso significa… – Claro. Sei onde você estava. Sei de tudo. Eu te vi, porra.

Ele sabe… Joe sabe que estou grávida.

E, claramente, não está feliz.

Minha voz fica mais alta ao falar, ganhando força.

– Sabe? – aponto para a mulher que está nos observando como se fossemos sua novela particular. – E é assim que você reage?

Joe parece confuso.

– Será que você me conhece um pouquinho pelo menos? Como você pensou que eu reagiria, porra?

Já vi Joe irritado antes.

Desatencioso.

Frustrado.

Mas, desta vez, ele está diferente.

Isso está sendo… cruel.

Ele me pergunta:

– Não vai nem tentar negar aquilo? Falar que eu estava tendo ilusões? – por um momento, seu rosto se enruga e ele parece… angustiado, como uma vítima de tortura que está prestes a abrir o jogo. – Demi, não vai me dizer que estou errado?

Ele pisca e o olhar angustiado desaparece. Tenho quase certeza de que já imaginei isso.

Pensando pretensiosamente.

Cruzo os braços no peito.

– Não vou conversar com você na frente de uma plateia.

Joe trava os dentes, teimoso.

– Vai terminar isso?

Meus pés se movem para longe dele, involuntariamente.

E minha mão cai em cima do meu abdômen, protegendo-o.

– O quê?

Ele repete, agindo impaciente com a minha surpresa.

– Eu perguntei se você vai terminar essa porra.

Politicamente falando, Joe é a favor do direito de escolha. Apesar de sua educação católica, ele respeita e ama as mulheres da sua família o bastante para não deixar que alguns homens velhos, na Colina do Capitólio, ditem o que elas podem, ou não podem, fazer com seus corpos.

Mas, emocionalmente, moralmente, falando, sempre achei que ele era a favor da vida. Portanto, o fato de ele estar parado lá, falando para eu abortar uma criança, nossa criança, é apenas… incompreensível.

– Não tive… não tive tempo de pensar nisso.

Ele sorri repreensivamente.

– Bom, é melhor começar a pensar, porque até que a sua indiscriçãozinha suma do mapa, não quero dar nem um maldito olhar para você, ou até mesmo conversar qualquer coisa.

Suas palavras batem em mim como uma rajada de vento em um dia frio. Daquela que te deixa sem ar.

Joe não é Joey Martino.

Ele é pior.

Porque ele quer que eu escolha. Me deu um ultimato. Como fez com o Billy.

Que porra ele tá falando, minha indiscrição? Como se tivesse feito tudo sozinha?

Aí engulo a sua raiva. Sua vingança. Tudo começa a fazer sentido.

– Acha que eu planejei isso? Que fiz isso de propósito?

Ele sorri, e até mesmo um surdo conseguiria ouvir seu sarcasmo.

– Não, claro que não. Essas coisas apenas acontecem às vezes, né? Mesmo que não tenha algum significado.

Abro a boca para argumentar, explicar, mas a risadinha da stripper me corta. Olho para ela.

– Saia da minha casa antes que te bote para fora com o resto do lixo.

Em situações como essa? Mulheres podem acabar com a outra mais rápido do que um vendedor de árvores na véspera do Natal. Mas não é apenas porque somos mesquinhas. Ou malvadas.

É porque é mais fácil ir atrás de uma desconhecida do que admitir que o verdadeiro problema está no homem que deveria te amar. Que deveria ser compromissado. Fiel.

E não foi.

Ela diz:

– Desculpa, queridinha, mas não é você quem está me pagando por este espetáculo. Eu vou para onde o homem com o dinheiro me mandar.

Joe coloca um braço ao redor da cintura dela e sorri, com orgulho: – Ela não vai para lugar algum. Estamos apenas começando.

Encontro força para arquear a sobrancelha. E tento jogar também.

– Tá tendo que pagar agora, Joe? Que patético.

Ele sorri.

– Não se engane, amorzinho, também estive pagando durante os dois últimos anos. Você só foi um pouco mais cara do que as putas normais.

Devia saber disso. Discutir com Joe é como negociar com terroristas. Ele não tem limites, nada está fora de seu alcance. Não há profundezas que ele não chegaria para ganhar.

Então ele olha pensativo.

– Mas tenho que admitir que, apesar de como tudo terminou, você foi um dinheiro bem gasto. Principalmente naquela noite, na pia da cozinha – ele pisca –, valeu cada centavo.

Estou morrendo. Cada terrível palavra me corta como uma lâmina sobre a pele. Consegue ver o sangue? Pingando lentamente, após cada sílaba cruel. Prolongando, fazendo tudo se tornar mais doloroso do que seria necessário.

Você parece surpresa. Não deveria estar.

Joe Jonas não queima pontes. Ele joga dinamite nelas. Dizima a ponte, as montanhas que ela conecta e qualquer outro ser vivo que, infelizmente, esteja em um raio de cinquenta quilômetros.

Joe nunca faz algo pela metade. Por que me destruir seria diferente?

Viro para andar pelo corredor, antes de me desmoronar na frente dele como uma pirâmide do Egito.

Mas ele agarra meu braço.

– Para onde vai, Demi? Fique por aqui, talvez possa aprender um novo truque.

Sabe quando a personalidade de alguém pode torná-lo mais atraente? Igual àquele jovem no Ensino Médio que, apesar da falta de músculos e das muitas espinhas, conseguiu andar com os alunos mais populares? Porque ele contava as piadas mais engraçadas e tinha as melhores histórias.

Gostaria de poder te falar que aquilo aconteceu ao contrário. Gostaria de lhe contar que as palavras do Joe, magicamente, transformaram seu rosto no monstro que ele parecia.

Mas não posso.

Olhe para ele.

Imagino que era assim que Lúcifer se parecia, quando Deus o expulsou do céu. Cruel e machucado.

Mas, ainda assim, completamente lindo.

Solto meu braço. E minha voz está muito alta, quase histérica.

– Não me toque! Nunca mais toque em mim!

Ele sorri lentamente, com uma imagem nítida de serenidade. Ele seca as mãos na calça, como se tivesse tocado em algo sujo.

– Isso não será um problema para mim.

Estou me sentindo mal. Vou vomitar em cima dos Bruno Magli pretos dele.

E não tem nada a ver com a gravidez.

Vou até o fim do corredor, me forçando a andar. Porque me recuso a deixar o Joe me ver fugir dele.

Mal consigo chegar até o banheiro.

Fico de joelhos e me seguro no vaso sanitário por um tempo. Uma unha quebra e fico pálida. Meu estômago se contrai e vomito violentamente. Sangue lateja nos meus ouvidos e ácido queima na minha garganta.

Tusso e soluço, mas meus olhos estão secos. Não há lágrimas.

Ainda não. Essa parte vem depois.

Como ele pôde fazer isso? Ele me disse que não iria… e eu confiei nele. Quando ele disse que me amava. Quando prometeu nunca me machucar.

Eu acreditei nele.

Nunca conversamos sobre filhos. Mas também nunca conversamos sobre não ter filhos. Se eu soubesse que ele agiria assim, teria sido mais cuidadosa. Teria…

Meu Deus.

Escuta o que estou falando. Meu namorado está na sala com outra mulher em seu colo, e eu estou sentada aqui pensando sobre todas as coisas que eu poderia ter feito para evitar isso?

E eu ainda chamei o Joe de patético.

Quando não tenho mais nada no estômago, me arrasto até a pia e me olho no espelho. Bochechas cheias de marcas e olhos vermelhos me olham de volta de uma face que nem reconheço.

Molho o rosto com água fria, diversas vezes. Joe pode ter me machucado, me tornado uma massa de vergonha e autorrecriminação, mas só o deixarei me ver assim quando o inferno ficar frio.

Entro no quarto, tropeçando, pego uma mala de lona no armário e, sem olhar, coloco qualquer coisa que vejo primeiro. Preciso sair daqui. Para longe dele. Ficar longe de tudo que me lembre dele.

Sei o que você está pensando: “Sua carreira, tudo que você batalhou a vida toda, está jogando tudo fora”.

E você tem razão, estou. Mas nada disso importa mais. É como… como aquelas pessoas que se jogaram das torres no 11 de setembro. Elas sabiam que isso não as salvaria, mas o fogo estava muito quente e tinham que fazer algo, qualquer coisa, para se livrar da dor.

Fecho o zíper e coloco a mala no ombro. Em seguida, me apoio na porta e respiro. Uma. Duas. Três vezes. Eu consigo. Apenas preciso chegar até a porta. É apenas uma dúzia de passos.

Vou até o corredor.

Joe está sentado no sofá, pernas abertas, com os olhos observando a mulher se balançando na frente dele, com a garrafa de Jack ao seu lado. Me fixo em seu rosto. E, por um minuto, me lembro.

Sofro.

Vejo seu sorriso, naquela primeira vez no bar, tão charmoso, com um jeito de garoto. Sinto seus lábios, seu toque, a primeira vez que fizemos amor, aqui, neste apartamento. Todo o calor e o desejo. Revivo cada palavra carinhosa, cada momento amoroso desde aquela época.

E guardo tudo.

Em uma caixa de aço, banida para o canto mais longe da minha mente. Para ser aberta depois. Quando estiver pronta para me despedaçar.

Entro na sala e paro a apenas alguns passos do sofá. A ruiva continua dançando, mas não olho para ela. Meu olhar não sai do rosto de Joe.

Minha voz está áspera. Estridente. Porém, surpreendentemente determinada.

– Cansei. De você, de tudo isso. Não me procure daqui uma semana para se desculpar. Não me ligue para dizer que mudou seus pensamentos. Nós terminamos. E nunca mais quero te ver de novo.

Quantos pais já disseram para seus filhos adolescentes que estão de castigo para sempre? Quantos adolescentes já disseram para eles que nunca mais conversariam com eles outra vez?

Acabou. Para sempre. Nunca mais.

Palavras tão grandes. Tão resolutas.

Tão vazias.

Não queremos que elas, realmente, signifiquem aquilo. São apenas coisas que você diz quando está procurando por uma reação. Implorando por uma resposta. A verdade é que, se Joe viesse até mim amanhã ou no próximo mês, ou daqui seis meses, e me dissesse que havia cometido um erro? Que me queria de volta?

Eu o aceitaria imediatamente.

Então, entende agora o que estava dizendo antes? Não sou uma mulher forte.

Apenas sou boa em agir como uma.

A voz de Joe é brusca.

– Que bom – ele brinda comigo com a garrafa. – Tenha uma vida fodida de podre, Demi. E tranque a porta ao sair, não quero outras interrupções.

Queria te dizer que ele hesitou. Que seu rosto estava demonstrando um pouco de arrependimento ou seus olhos estavam com uma sombra de tristeza. Eu ficaria lá se houvesse.

Mas seu rosto estava vazio. Sem vida, como o boneco moreno do Ken.

Quero gritar. Quero sacudi-lo e bater nele e quebrar coisas. Quero, mas não irei. Porque se você tentar e acertar uma parede de tijolos, tudo o que ganhará será uma mão quebrada.

Por isso, pego a mala. Levanto meu queixo. E saio pela porta.


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Quem aqui quer bater muito no Joe até não sobrar nada daquela cara linda dele??? Eu quero! (estou revoltada kkkkk) tadinha da Demi, ela não merecia isso :(
Capitulo programado, continuem comentando, Beijooos <3

5 comentários:

  1. Pelo amor de deus posta logoo!!!! O Joe acha que abdemi saiu pra trair ele que imbeciiil odiota que vontade de socar a cara dele

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  2. FILHO DE UM QUENGA, BURRO, ESTÚPIDO, COMO QUERO MATAR ESSE HOMEM, PQP
    Aposto que o carro que ela e o marido da médica escutaram era ele, aff ¬¬

    -Nathalia-

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  3. Mari, posta logo, ta perfeito.. Enfim, deu uma revoltinha aqui, mas não fiquei com raiva do Joe, porque, pela visão dele, a Demi o estava traindo, e por ela ter mentido e tal, faz bastante sentido ele pensar assim, e a Demi também, tá meio obvio que ele não ta falando sobre um bebê.. Os dois estão sendo antas, afe.. Aueheu posta logo, beijos <3

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  4. Mas é uma topeira mesmo heim. Vai ter que mover céus e terra pra demi perdoa-lo. Tomara que ela sambe bastante em cima dele. Posta mais!!!! Desculpe não ter comentado os capítulos anteriores.

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  5. Meu Deus, o que um mal entendido faz....A Demi não devia ter mentido, mas ele agora também não explicou bem e ele entendeu todo errado e ela também...são duas antas mesmo, agora quero ver logo o que vai acontecer...

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