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Depois que
ajeitamos as coisas da Deloris no meu quarto, Billy ligou para seu
agente. Ele estava planejando fazer um show aqui, em um barzinho
chamado Sam’s Place, onde ele costumava tocar quando estava no
Ensino Médio. Queria honrar o lugar de onde ele veio, dar algum tipo
de retorno para os residentes daqui, como o Bruce Springsteen sempre
faz no Stone Pony.
E é no
Sam’s Place onde estamos agora.
Está lotado. Só dá para ficar em pé. Deloris e
eu estamos na frente, nossos braços estão se batendo conforme
dançamos e cantamos. Billy está no palco, tocando algumas músicas
até sua primeira pausa. Ele está fantástico. Com jeans escuro, uma
camisa branca translúcida de botões e está com a barba feita.
Ele tem uma boa presença de palco, sabe o momento
de agitar a plateia arranhando a guitarra ou quando deixá-la mais
calma, tocando uma música sentimental.
Nunca estive tão orgulhosa dele.
A música termina e alguém no fundo grita que
todos o amam. Billy olha para baixo e ri, um pouco envergonhado. Em
seguida, ele fala no microfone.
– Também amo vocês. A próxima música é
nova. Ainda não toquei em nenhum lugar, mas queria tocar para vocês
nesta noite. É dedicada para alguém que acreditou em mim, mesmo
quando não havia muita razão para isso. Quero que ela saiba que
sempre estarei ao seu lado, que ela sempre estará em meu coração e
nunca estará sozinha.
Seus olhos encontram os meus no meio da multidão.
E ele pisca. Aceno, mostrando que recebi a mensagem. Ele começa a
cantar.
Os anos parecem como ontem
Não consigo acreditar como o tempo voa
Não quero perder outra oportunidade
Sem que você saiba
O que sempre devia ter sabido
Te pego, se você tropeçar
Te levanto, se você cair
Te seguro, quando estiver machucada
Mas, amor, mais do que isso,
Estarei ao seu lado… então, você nunca estará
sozinha
Nunca se sinta sozinha
A batida pulsa na minha barriga. E escuto os
versos. Penso em como sou sortuda por ter todas estas coisas. Bênçãos
inestimáveis e preciosas. Tenho uma família que me ama. Amigos que
morreriam por mim. Literalmente.
Penso em quem eu sou. Sobrevivi à morte de meu
pai com minha alma intacta. Me formei na Universidade de Wharton como
a melhor aluna. Lembra quando comecei a trabalhar no escritório? E
Joe Jonas era o menino de ouro?
Coloquei-o no lugar dele, expulsei-o de um lado do
escritório para o outro.
Eu fiz aquilo.
Pois era teimosa. E esperta. E porque acreditei
ser capaz. Joe uma vez me disse que é possível mudar a cor das
paredes, só que o lugar continua o mesmo.
E ele estava certo.
Eu era tudo aquilo antes dele, e continuo sendo
todas aquelas coisas agora.
Sem ele.
A partir de agora, a cada dia que passar
Vou tentar dar o meu melhor
Vou tentar dar o meu melhor
Para te mostrar o que você significa pra mim
Pois se não tiver você ao meu lado
Nada disso importa
Não quero perder outra oportunidade
Sem que você saiba
O que sempre devia ter sabido
Alguma vez você já perdeu as chaves? Procurou em
todos os bolsos e tirou as almofadas do sofá. Aí, depois de
procurar por uns dez minutos, você se vira e lá estão elas. Na
mesa. Na sua cara o tempo todo.
É quase como se fosse muito fácil enxergar a
resposta logo de cara.
É como isso parece.
Porque, de repente, sei o que quero. Estou
confiante. Determinada. Sei do que sou capaz. Não será fácil, mas
as melhores realizações nunca são. Coisas como escalar o Everest
ou se tornar o presidente? São difíceis. Mas valem muito a pena.
Te pego, se você tropeçar
Te levanto, se você cair
Te seguro, quando você estiver machucada
Mas, amor, mais do que isso,
Estarei ao seu lado… então, você nunca estará
sozinha
Nunca se sinta sozinha
Me imagino daqui a alguns anos, voltando para casa
pelas ruas da cidade do serviço que amo, com uma mão segurando uma
pasta e a outra, a mãozinha fofa da minha menininha ou menininho.
Nos vejo na mesa da sala de jantar, fazendo a
lição de casa e conversando sobre o nosso dia. Vejo momentos de
contar histórias, horas de dormir, momentos de cócegas, abraços e
beijos de afeto.
Ser mãe solteira não foi algo que planejei, mas
agora? É o que eu quero ser.
Estarei lá a cada passo no caminho
Não perderei um momento
Não perderei um momento
Estarei lá a cada passo no caminho
Não perderei um momento
Sabe aquele ditado? Os projetos mais bem
elaborados, sejam de ratos ou de homens…? Acho que é melhor se
lembrar dele neste momento.
Porque logo que a decisão começa a criar raízes
na minha mente, sinto uma fraca dor latejante. Vocês, mulheres,
sabem do que estou falando. Aquela cãibra, que puxa no abdômen
inferior. E um molhado quente e espesso escorre pelas minhas pernas,
pingando da minha calcinha.
Meu coração começa a bater mais forte no meu
peito, então vou para o banheiro. Torcendo para eu estar errada.
Mas, quando chego ao lavabo, vejo que não estou.
Volto tropeçando do banheiro, no meio da
multidão. Minhas mãos estão tremendo de terror, de medo. Porque
isso está errado.
Errado, errado, errado.
Agarro o braço de Deloris e digo para ela. Mas a
música está muito alta e ela não me escuta. Puxo-a para o fundo do
bar, onde está mais silencioso, e faço força para falar.
– Dee, estou sangrando.
Forrest Gump não sabia de nada. A vida não é
uma caixa de chocolates.
Os médicos são.
O médico vivaz, porém inexperiente,
recém-formado na faculdade de Medicina, ou aquele sabichão veterano, que está
terminando o turno de vinte horas, você nunca sabe quem vai te
atender.
– Aborto espontâneo.
Meus olhos desviam do borrão cinza da tela de
ultrassom para os olhos azuis de ferro do médico do plantão de
emergência. Mas ele não está olhando para mim, está muito
ocupado, escrevendo na sua prancheta.
– O que… o que você disse?
– Aborto espontâneo, aborto. É comum no
primeiro trimestre.
Faço um esforço para processar as palavras que
ele disse, mas não consigo entendê-las.
– Está… está dizendo que estou perdendo o
meu bebê?
Finalmente, ele olha para cima.
– Sim. Se você já não o perdeu. Está no
começo da gestação, é difícil dizer.
Enquanto ele limpa o gel gelado e transparente do
meu abdômen, Deloris aperta minha mão. No caminho para o hospital,
ligamos para a minha mãe, mas ela ainda não chegou.
Recebo a notícia com dificuldades, mas me recuso
a desistir. Sou teimosa, lembra?
– Não tem algo que você possa fazer? Terapia
hormonal ou ficar de repouso? Posso ficar de repouso pelos próximos
nove meses, se isso ajudar.
Ele está com um tom de voz suprimido e
impaciente.
– Não tem nada que eu possa prescrever para
parar com isso. Confie em mim, você não iria gostar. Aborto
espontâneo é uma seleção natural, um jeito de o corpo reagir para
acabar com um feto que possui algum tipo de deformidade catastrófica
que o impediria de viver fora do útero. Você está melhor assim.
O quarto começa a rodar, enquanto as pancadas
continuam vindo.
– Você precisa fazer uma consulta de
acompanhamento com seu ginecologista. Quando o tecido do feto for
expelido, você deverá tirá-lo do vaso com uma peneira. Depois,
coloque-o em um recipiente à prova de vazamento, pode ser um pote de
geleia, pois daí seu médico poderá analisar os restos e garantir
que o útero esteja vazio. Se toda a matéria uterina não estiver…
Encosto a parte de trás da minha mão na boca
para controlar o nervosismo.
E Deloris corre para me resgatar.
– Já basta. Obrigada, doutor Frankestein, nós
resolveremos daqui em diante.
Ele se ofende.
– Preciso dar instruções precisas à paciente.
Se algum tecido ficar dentro do útero, isso poderá levar à sepse
ou até à morte. Talvez ela precise de uma D&C para prevenir uma
infecção.
Falo com um tom de voz fraco.
– O que é… o que é D&C?
A sigla não me é estranha. Tenho certeza de que,
em algum momento da vida, aprendi a definição, mas não consigo me
lembrar.
– Extração a vácuo.
Algumas imagens surgem na minha cabeça com suas
palavras, e sufoco.
Ele continua:
– Uma mangueira de sucção é colocada no colo
do útero.
– Meu Deus, pare de falar! – grita Dee Dee –
Será que não dá pra ver que ela tá chateada? Você tava na porra
do banheiro quando ensinaram boas maneiras na faculdade de Medicina?
– Como licença, senhorita, não sei quem você
acha que é, mas não vou escutar isso…
Dee Dee aponta para a saída cortinada, como o
estalo de um cumprimento de um soldado.
– Saia daqui. Ela vai marcar uma consulta com a
ginecologista. Não temos mais nada para tratar com você.
Uma brisa leve passa por mim, e não tenho certeza
se é o médico. Pois meus olhos se recusam a se focar, e minha mente
está cambaleando. Tentando compreender estas últimas mudanças de
eventos… e falhando miseravelmente.
Deloris coloca a mão em meu braço e minha cabeça
se vira para ela, surpresa.
Como se tivesse me esquecido de que estava lá.
– Demi? Se arruma agora, tá? Vou te levar pra
casa.
Aceno, sem sentir nada. Parece que nem estou aqui,
como se fosse uma experiência fora do corpo. Ou um pesadelo. Porque
isso não pode, de maneira alguma, estar acontecendo.
Depois de tudo… não é possível que é assim
que as coisas terminam.
Deloris me veste, como se fosse uma criança. Em
seguida, me ajuda a sair da maca. Juntas, seguimos até o carro.
De volta ao meu quarto, Deloris senta na ponta da
cama e minha mãe me prende nas cobertas. Seus olhos brilham de
lágrimas que não caem.
Mas não as minhas. As minhas estão tão secas
quanto o deserto do Saara.
Áridas.
Minha mãe coloca meu cabelo para trás e tira
alguns fiapos dos lençóis da cama.
– Quer comer algo, querida?
Sua voz soa um pouco desesperada, procurando por
alguma ação que faça com que isso fique melhor. Mexo a cabeça,
sem dizer uma palavra. Porque nem mesmo toda a sopa de galinha no
mundo me ajudará neste momento.
Não desta vez.
Ela beija minha testa e sai do quarto, fechando a
porta. Deloris e eu ficamos sentadas. Quietas.
Eu devia me sentir… aliviada. Pois, há apenas
um tempinho, pensava que era isso o que queria, né? Longe do meu
alcance.
Problema resolvido.
Mas a única coisa que sinto é… arrependimento.
Remorso. Enche meus pulmões e aperta em mim a cada respiração.
Porque lá no fundo, por baixo de todo medo e do choque e da
incerteza, eu queria este bebê. Eu amava este pedacinho perfeito meu
e do Joe. Amava muito.
Só não percebi isso a tempo.
Tarde demais. Valorize o que tem, antes que seja
tarde demais. Muitos clichês, e todos tão verdadeiros. Logo depois,
um pensamento me pega, tiro as cobertas e pulo da cama. Abro minhas
gavetas e fuço nelas, procurando por algo, frustrada.
Depois, fico de joelhos em frente ao armário e
arrasto a mala que trouxe de Nova York. E procuro dentro dela, como
uma viúva que perdeu a aliança de casamento.
– Dem?
Aí, encontro. A camisetinha que comprei naquela
noite. Aquela que eu ia dar para o Joe, para contar a ótima notícia.
Olho para ela e sinto as lágrimas escorrendo.
Passo meus dedos pelas letras: FUTURO ARREMESSADOR DO YANKEES. E vejo, de novo,
aquele menininho na minha mente. Meu lindo menininho.
Nosso.
Aquele com os olhos do pai e um sorriso
irresistível. Aquele que nunca existirá. Coloco a camiseta no rosto
e cheiro. Juro por Deus que ela tem cheiro de talco de bebê.
– Me desculpe. Me desculpe mesmo – meus ombros
mexem e uma moção cai de meus olhos. Respiro com dificuldade e
agarro a camiseta contra mim, do jeito que uma criança faz com seu
bicho de pelúcia favorito. – Por favor, não tive intenção de
fazer isso. Estava apenas assustada… eu não ia…
Não sei com quem estou falando: se é comigo, com
o bebê ou talvez com Deus. Apenas preciso dizer essas palavras, para
que elas saiam e sejam reais.
Para que o universo saiba que não era assim que
eu queria que as coisas terminassem.
Deloris esfrega minhas costas para que eu saiba
que ela está lá. É ela quem está atrás de mim, como sempre. Viro
para ela. Encosto a cabeça em seu peito, e começo a chorar muito.
– Meu Deus, Dee. Por favor…
– Eu sei, Demi. Eu sei.
– Eu sei, Demi. Eu sei.
Ela também está com voz de choro. Porque os
verdadeiros amigos são assim, eles dividem até a dor. Sua agonia é
a deles, mesmo que não seja do mesmo tamanho.
– Está bem… vai ficar tudo bem – ela tenta.
Mexo a cabeça.
– Não, não vai. Nunca vai ficar tudo bem de
novo.
Os braços de Deloris me envolvem forte, tentando
me manter abraçada o mais forte possível.
– Por quê? Não entendo. Por que isto
aconteceu? Joe e eu somos… e agora o bebê… tudo isso aconteceu
por nada. Nada.
Te falei que você ia perguntar sobre a razão,
lembra?
Deloris alisa meu cabelo. E sua voz está
tranquila.
– Não sei por que, Dem. Gostaria poder te
dizer… mas… não sei.
Ficamos daquele jeito por um tempo. Mais tarde,
com o tempo, as lágrimas param de cair. Volto para a cama e Deloris
senta ao meu lado. Olho para a camisetinha de novo e mexo a cabeça.
– Dói tanto. Não sabia que algo podia doer
tanto assim.
– Tem algo que você quer que eu faça, Demi?
Meus olhos desabafam em silêncio. Minha voz se
torna frágil.
– Quero o Joe. Quero ele aqui comigo.
Se o mundo fosse como deveria ser, ele estaria
aqui. E estaria se sentindo tão mal como estou. Tentaria esconder
isso, mas eu saberia. Ele subiria nesta cama comigo e me abraçaria e
eu me sentiria segura, e amada… e perdoada.
Ele me diria que este ainda não era o momento
certo. Mas caso eu quisesse um bebê, ele me daria uma dúzia. Joe
gosta de exagerar.
Depois, ele me beijaria. E seria gentil e doce. Aí
falaria alguma coisa besta como “Imagina como nos divertiríamos
fazendo eles”. E eu sorriria. E doeria um pouquinho menos.
Apenas por ele estar comigo.
Deloris acena e pega o telefone. Mas minha mão
cobre a dela, interrompendo-a. Ela olha para mim, compreendendo, como
se já soubesse o que estou pensando. E ela provavelmente sabe.
– Ele virá, Demi. Você sabe que ele virá.
Mexo a cabeça.
– Deloris, você não estava lá. Ele foi…
cruel. Nunca o vi tão nervoso. Era como… como se ele pensasse que
eu estava escolhendo o bebê em vez dele. Como se tivesse traído
ele.
Fecho os olhos para não me lembrar daquilo.
– Ele ficará feliz. Ficará feliz que o bebê
sumiu… e aí eu o odiarei.
Mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda não
estou pronta para odiar Joe Jonas.
Deloris suspira. Ela tira a mão de perto do
telefone.
– Acho que você está errada. Sou a primeira a
falar o quanto o Joe pode ser um idiota, mas… não consigo
imaginá-lo ficando feliz por algo que te machucou. Pelo menos, não
algo assim.
Não respondo para ela, pois a porta do quarto é
aberta. Billy entra. Ele parece cansado, seu rosto está carrancudo,
e sei que minha mãe contou para ele.
– Está bem?
Mexo a cabeça.
– Sim. Na medida do possível – ele senta no
pufe e esfrega os olhos – Isso é apenas… totalmente fora do normal. Quando coisas
fora do normal acontecem? Tudo o que se pode fazer é se sentir fora
do normal também.
É aí que percebo que ele trouxe uma sacola com
ele. Igual àquelas de mercado, branca, e está cheia.
Ele pega e tira algumas coisas. Tem alguns pacotes
de maconha, um maço de Marlboro Red e duas garrafas de tequila. Olho
para o líquido com cor de mel. E penso em música mexicana, pele
quente e sussurros à meia-noite com o Joe.
Eu te amo, Demi.
Desvio o olhar.
– Não posso beber tequila.
Como Mary Poppins, com sua sacola sem fundo, Billy
coloca a mão mais no fundo e tira uma garrafa de Grey Goose.
Aceno lentamente.
– Mas pode ser vodca.
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Oiii!! a temporada está acabando meninas, só faltam, acho que uns 6 capítulos, enfim, quando acabar eu irei começar a postar uma fic que é perfeita, vocês irão amar, na verdade eu tenho já pronta umas 5 fics e vcs não tem noção do quão ansiosa eu fico para postar para vocês!!! :D
Beijooos <3
Ah, assim que a autora publicar a terceira parte dessa historia eu irei postar para vocês, se vcs quiserem. :)
Tadinha..... posta mais por favor, estou muito ansiosa pra saber o que vai acontecer... como será o reencontro..... a reação dele quando souber do bebê,....... posta posta posta posta posta posta posta posta posta posta .....
ResponderExcluirmeuuuuuuuuu cara posta mais meu por favor sério!!! To aqui morrendo de curiosidade *---*
ResponderExcluirxoxo -Y
Ai tadinha da Demi, chorei aqui, quero mais, tah mto perfeito isso. O Joe ainda aparece nessa temporada?
ResponderExcluir-Nathalia-
Tem uma previsão pra quando eles vão publicar o próximo?
ExcluirOMG ! To vomitando arco iris aqui, sério, que cap perfeito, posta mais que eu estou ansiosa *o*
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