7.9.14

Enroscado - Capitulo 12

 
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Beijar o Billy é… legal. É familiar. Meigo.

Como achar sua antiga casa da Moranguinho no sótão dos pais. E você sorri quando a vê. Você passa sua mão pela sacada e se lembra de todos os dias que passou envolvida neste mundo inventado. É nostálgico. Uma parte da sua infância.

Mas é uma parte que deixou para trás. Porque, agora, você cresceu.

Portanto, não importa o quanto suas memórias sejam queridas, você não vai pegar a Laranjinha e a Ameixinha e começar a brincar.

O beijo termina e abaixo a cabeça. Olho para a camisa de Billy. Sabe aquele verso, acho que é de uma música: se você não pode ficar com a pessoa que ama, ame a pessoa com quem está?

Isso se encaixa muito bem nesta situação.

Exceto pelo fato de que já amo o Billy. O bastante para tirar vantagem de sua devoção, o bastante para usá-lo para curar meu coração partido e ego ferido. Ele merece mais do que isso. Billy Warren não é o prêmio de consolação de ninguém. E, com muito prazer, eu arrancaria os olhos de qualquer mulher que tentasse torná-lo um.

Uma vez, ele me disse que eu não era mais a garota por quem ele tinha se apaixonado. Apesar do quanto aquilo me machucou, do quanto aquilo fez eu me sentir incapaz na época, ele estava certo.

Não sou mais aquela garota.

Arrasto os olhos da camisa para o seu rosto.

– Billy…

Ele coloca o dedo nos meus lábios, esfregando-os suavemente. Fecha os olhos e dá um suspiro. Nenhum de nós se mexe por um instante, envolvidos, durante alguns segundos finais, no encanto do passado.

Em seguida, ele fala, quebrando o feitiço.

– Estar aqui com você? É demais. Tão bom quanto me lembro, acho que até melhor. Parece… parece que temos que dar uma volta no DeLorean – sua mão segura meu rosto com ternura. – Mas tudo bem, Demi. Foi apenas por um minuto. Vamos voltar agora para o futuro. Não precisa significar algo além disso. Não precisa mudar o que temos agora, pois também é muito legal.

Aceno, aliviada. Grata por Billy saber como me sinto, sem precisar dizer nada. E que ele sente o mesmo.

– Tudo bem.

Ele sorri.

– Devia te levar para casa antes que Carol solte os cachorros. Ou pior, Amélia.

Rio. De mãos dadas, saímos do campo de patinação e deixamos todas as memórias para trás.

Vinte minutos depois, Billy para no estacionamento dos fundos do restaurante da minha mãe. Ficamos sentados no caminhão em silêncio, lado a lado.

– Quer que eu te leve lá em cima?

– Não, não precisa. Eu consigo.

Ele acena devagar.

– Então, vai rolar algum tipo de… clima estranho entre nós agora? Só porque demos um beijo de língua por alguns minutos?

Como disse antes, Billy sempre teve jeito com as palavras.

– Não. Sem clima estranho. Não se preocupe.

Ele precisa de algo a mais para confirmar.

– Você continua sendo minha garota, Dem?

Ele não quer dizer isso no sentido de namorada. Ele quer dizer no sentido de amiga, a melhor amiga, que acabou sendo uma garota. Caso esteja se perguntando.

– Sempre serei sua garota, Billy.

– Que bom – ele vira a cabeça para o para-brisa e analisa. – Você realmente deveria pensar sobre a Califórnia. Acho que seria uma boa mudança para você. Um tempo.

De certo modo, ele está certo. A Califórnia seria uma página em branco para mim. Sem memórias. Sem decadências dolorosas. Sem conversas estranhas. Com o meu currículo, não vejo problema algum em conseguir um novo emprego.

Dito isso… tenho contatos em Nova York. Raízes. Não sei se quero cortar todas elas. Então, igual a qualquer outro aspecto da minha vida neste momento, não sei que porcaria quero fazer.

Pareço um disco riscado, né? Desculpa.

Coloco minha mão sobre a dele no câmbio.

– Vou pensar nisso.

Ele coloca a outra mão em cima da minha.

– Você vai conseguir se ajeitar, Demi, tenho certeza disso. E vai melhorar. Não vai doer desse jeito para sempre. Posso garantir, por experiência.

Sorrio com gratidão.

– Obrigada, Billy. Por tudo – saio do caminhão e ele vai embora.

Depois de avisar para minha mãe que cheguei, vou ao meu quarto. Bato a porta atrás de mim e me apoio nela. Exausta.

Que dia longo do caramba.

Minha mãe limpou o quarto. Não que estivesse uma bagunça antes, mas posso perceber. Os travesseiros estão um pouco mais afofados e meu celular está cuidadosamente colocado no criado-mudo.

Tiro meus sapatos, pego o celular e o ligo. Apesar do meu surto mais cedo, ele ainda funciona. Olho para os números. Estão iluminados. Olhando para mim. Me provocando.

Seria tão fácil. Apenas dez dígitos rápidos e poderia ouvir a voz dele. Já faz um tempo desde a última vez em que a ouvi. Minhas mãos tremem um pouco. Como um viciado, precisando de uma dose, apenas um gostinho.

Você acha que ele atenderia?

Você acha que ele estaria sozinho, caso atendesse?

É este o pensamento que acaba com a vontade. Não vou ligar de jeito nenhum.

Mas, não costumo escutar as minhas mensagens de voz. Normalmente, eu apenas verifico a lista de chamadas perdidas. Nem costumo apagá-las.

Rolo a tela, até a data que preciso.

Pressiono “tocar”.

“Oi, amor. O passeio de golfe passou da hora. Ia parar e comprar champanhe para mais tarde. Quer Dom ou Philipponnat? Sabe de uma coisa? Pensando bem, esquece o champanhe. Seu gosto é melhor do que os dois juntos. Chego em casa daqui a cinco minutos.”

Fecho os olhos e deixo suas palavras resvalarem em mim. Joe tem uma voz incrível. Calma e tranquila, porém, ao mesmo tempo, maliciosa de um modo sedutor. Ele poderia trabalhar no rádio.

Aperto outro botão.

Desta vez, o tom é de provocação: “Deemi, você está atrasada. Fala para a Deloris escolher a porra dos sapatos sozinha. Você tem um namorado que está sentado numa Jacuzzi grande e espumante, completamente solitário. Venha para casa, querida. Estou esperando por você”.

Como eu queria que, hoje, isso fosse verdade.

Tem mais, algumas são rápidas e objetivas, outras são completamente safadas. Escuto cada uma. Ele não diz “Eu te amo” em nenhuma delas, mas não precisa. Escuto isso em cada palavra. Cada vez que ele diz meu nome.

Não consigo parar de pensar em como tudo isso aconteceu. Como chegamos a este ponto? Será que temos como voltar?

Não choro. Não tenho mais lágrimas. Me enrolo no meio da cama. E a voz de Joe me nina até eu dormir.

Na tarde seguinte, Billy e eu estamos na sala dos fundos do restaurante, dividindo um prato de batatas fritas. Ele está trabalhando em uma música nova e pensa melhor em pé.

Está vendo ele ali? Andando de um lado para o outro, murmurando e zumbindo e, ocasionalmente, dedilhando o violão que está preso em seu peito?

Sento à mesa. Tentando pensar em como vou sair do desespero que está minha vida agora.

Quando Billy atravessa a porta que leva ao restaurante, algo prende sua atenção na janela redonda na parte de cima. E ele recua.

– Ah, merda.

Olho para cima.

– O quê? O que foi?

Em seguida, a porta se abre com violência. Bate na parede e fica parada, com medo de se mexer um milímetro. Porque lá, parada na entrada, com toda sua gloriosa fúria, está minha melhor amiga.

Deloris Warren.

Ah, merda mesmo.

Ela está usando botas vermelhas de couro que vão até o joelho, calça preta apertada, uma blusa preta enfeitada e uma jaqueta curta de pele falsa, preta e branca. Um monte de bolsas Louis Vuitton está pendurado em seus ombros, combinando com aquela grande que ela está carregando de carrinho.

E a raiva em seus olhos de cor âmbar faz com que eles brilhem como pedras de topázio recém-feitas.

– Será que alguém poderia me dizer por que tive de ficar sabendo pela minha mãe que estava rolando um reencontro dos Três Mosqueteiros em Greenville para a qual não fui convidada?

Ela pisoteia, avançando. Billy se mexe atrás da minha cadeira, me usando como escudo humano.

– Ou melhor ainda, será que alguém poderia me dizer porque minha melhor amiga saiu de Nova York como um morcego do inferno, deixando uma merda de tempestade que faz o furacão Sandy parecer a porra de um chuveiro, e eu não ter ideia do porquê?!

Ela dá outro passo para frente e joga as bolsas no chão. Depois, joga a cabeça para a direita, na direção da alegre adolescente loira, que está parada perto dos armários.

É a Kimberly. Ela é uma garçonete aqui. Trabalha depois da escola. Ela parece ser legal.

Neste momento, está assustada.

– Ei, Gidget, o que acha de fazer alguma coisa e me trazer uma coca-zero? Não economize no gelo.

Kimberly sai voando do lugar.

Garota de sorte.

Deloris aponta para mim e grita, como Jack Nicholson em Questão de Honra:

– E aí?! Você não pode me manter fora do jogo, Demi. Eu sou o jogo!

Minha voz sai sem força. Arrependida. Se alguma vez na vida você estiver no meio de um ataque de uma loba com raiva, deite-se e finja-se de morta. Será mais fácil desse jeito.

– Não queria estragar suas férias.

Deloris bufa.

– Se a Vaca da Rainha Alexandra não tivesse sido tão adorável… Ela nos ligou umas vinte vezes no hotel, enlouquecida, falando que tínhamos que voltar porque Joe precisava que alguém o observasse para ele não se matar.

Viro os olhos.

– Ela está exagerando.

– Também achei isso. Até ver o Príncipe das Trevas, com meus próprios olhos. Não estava nada bem.

Escuto as novidades como um pássaro recém-nascido, olhando para uma minhoca, esperando por mais coisas.

– Você viu o Joe? O que ele disse? Ele perguntou de mim?

– Quando o vi, ele não estava conseguindo falar algo muito coerente. A maior parte do tempo ele apenas murmurou como o idiota que é. Jack o estava segurando. Aparentemente, o idiota está aparecendo bastante nos bares ultimamente, e Jack tem o acompanhado, o que, na verdade, é um pouco assustador, levando em conta que Jack poderia ganhar o prêmio de Homem Cafajeste do ano.

Joe tem saído. Ido para bares. Com Jack O’Shay. Lembra-se da última vez em que Joe saiu com Jack, né? A garota do táxi?

Então, é assim que uma pessoa se sente ao ser apunhalada com um picador de gelo – bem no coração.

Billy fala com um tom sarcástico, desviando a raiva dela de mim.

– Oi, Deloris, é tão bom te ver também. Estou bem, obrigado por perguntar. O álbum? Está saindo muito bem, já está ganhando disco de platina triplo. A Califórnia? É fabulosa, não podia estar mais feliz. De novo… – ele coloca a mão na boca, imitando um microfone. – obrigado por perguntar.

Os olhos de Deloris miram diretamente para ele, encarando-o dos pés à cabeça. Eles não parecem muito felizes com o que veem.

– Conhece um barbeador? Você deveria comprar um. Se os homens mais primitivos conseguiram usar, acho que você poderia tentar. Ah, e o Pearl Jam ligou. Eles querem a camisa de flanela deles de volta.

Billy levanta as sobrancelhas.

– Está criticando meu estilo? Sério, Cruela? Quantos cachorrinhos tiveram que morrer para que você pudesse usar este casaco?

– Vá à merda.

– Passeando de novo, é? Achei que o Ministério do Turismo tivesse te impedido da última vez que tentou.

Deloris abre a boca para rebater, mas nada sai dela. Seus lábios com gloss se esticam lentamente em um sorriso.

– Que saudade de você, besta.

Billy pisca.

– Digo o mesmo, priminha.

Ele se senta na cadeira ao meu lado e Deloris se joga na outra.

– Tudo bem, Lucy. Explique essa porra.

Dou um longo suspiro.

– Estou grávida.

No início, Deloris não diz nada. Em seguida, ela faz o sinal da cruz.

– O anticristo desovou? Pelo amor de Deus, precisamos te benzer com água benta ou algo do gênero. Os Quatro Cavalheiros já chegaram?

Kimberly volta com um copo grande de refrigerante. Ela o coloca na frente de Deloris, depois corre para longe.

Deloris dá um longo gole.

– Tá, você engravidou inesperadamente, parabéns. Acontece nas melhores famílias. Qual o problema?

Olho para a mesa.

– Joe não quer o bebê.

Como você já sabe, minha melhor amiga não é muito fã de Joe. Quando se trata dele, ela sempre pensa o pior. Sempre. Então, espero que ela fique brava por mim. Espero ela desabafar, me dando uma bronca magnífica sobre homens canalhas e cachorros e doenças venéreas. Espero que ela se junte a mim em outra rodada do alfabeto de xingamentos.

Mas ela não faz nada disso.

Ao contrário, ela ri.

– Como assim? É claro que ele quer o bebê. Joe Jonas não quer uma minicópia dele correndo por todo canto? É como você falar que Matthew não quer uma chupada quando estamos travados no trânsito. É ridículo.

Não preciso nem falar que estou surpresa.

– Por que você acha isso?

Ela encolhe os ombros.

– Pela conversa que tivemos uma vez. Além disso, ele e Mackenzie são como Master Blaster do Mad Max. Me diga o que ele te disse exatamente. Às vezes, homens falam muita porcaria, aí você tem que passar pelas merdas para entender o que eles realmente querem dizer.

– Ah, ele foi bem claro. Suas palavras exatas foram “termine isso”. Lógico que a stripper com quem ele estava se beijando na hora também reforçou o que ele disse – digo amargamente.

Deloris aponta para mim, e agora parece nervosa.

– Nisso, eu acredito. Maldito imbecil – ela levanta as mãos – Mas tudo bem. Não se desespere. Vou cuidar de tudo. Temos um novo combustível no laboratório que está pronto para ser testado em animais. Ele não saberá o que o atingiu, posso passá-lo pelo ar.

Ela vira para Billy.

– Você está encarregado da mangueira do jardim e da fita adesiva – daí olha para mim. – Vou precisar das suas chaves e do seu código de segurança.

Mexo a cabeça.

– Deloris, você não pode matar o Joe intoxicado.

– Talvez isso não o mate. Se tivesse que apostar, diria que a chance de sobrevivência é de cinquenta por cento.

– Deloris…

– Tá, de trinta a setenta. Mas mesmo assim, isso nos dá uma desculpa plausível.

Minha mãe e George entram na sala, interrompendo o plano diabólico. Minha mãe abraça Dee Dee bem forte.

– Olá, querida! É tão bom te ver. Está com fome?

– Morrendo de fome – ela olha para George. – Oi, George, como está?

Acho que George Reinhart tem um pouquinho de medo da Deloris.

Talvez mais do que um pouquinho.

Ele arruma os óculos.

– Está… tudo bem… obrigado.

Minha mãe fala docemente.

– Olha os três aqui, todos juntos de novo, igual a antigamente.

Deloris sorri.

– Meio assustador, não acha?

Minha mãe pega na mão do George.

– Nós vamos preparar algo para vocês almoçarem, crianças.

Eles saem, e Deloris esfrega as mãos juntas, como a cientista louca que ela é.

– Agora, voltamos à câmara de gás…

Eu a corto.

– Deloris, não acho que vou participar disso.

Todos os traços de humor somem de seu rosto. Ela pensa por um momento. Olha pensativa, mas sem julgar. Ao falar, sua voz está séria. Mas gentil.

– Estarei 150 por cento do seu lado, Demi, você sabe disso. Mas, te conhecendo bem, vou te dizer uma coisa: se decidir fazer? Faça por você, porque é o que você quer. Se fizer isso porque acha que é o que Joe quer, ou como uma tentativa doida de arrumar as coisas com ele? Não o faça. Vai acabar se odiando, e culpando-o.

Não dá para enganar melhores amigos. Às vezes, é uma faca de dois gumes, pois isso significa que eles não vão deixar você se enganar.

– Não tomei nenhuma decisão. Ainda não.

O telefone de Deloris começa a tocar dentro da bolsa, e o som de “Sexy Bitch”, do Akon, se espalha pelo ar. Enquanto ela tenta achá-lo, ela pergunta pro Billy:

– Você pode levar minha bagagem lá para o quarto da Demi? Vou ficar por aqui esta noite.

– Tenho cara da porra de um ajudante?

Deloris não perde uma.

– Não, você parece um mendigo. Só que não tenho um para-brisa em que você possa cuspir. Então, seja um vagabundo bonzinho e leve minhas malas lá pra cima, aí talvez eu te dê um dólar.

Com um sorriso malicioso, Billy faz o que ela pede, mas reclamando: – Tudo estava tão mais legal quando ela não estava por aqui.

Deloris olha para o telefone.

– Droga, é o Matthew. Juro por Deus, esse cara não consegue nem cagar sem antes me ligar para falar a cor da merda dele – ela sai pela porta dos fundos para atender ao telefone na parte de fora.

Billy olha para mim.

– Ok, apesar de ser um cara, até eu achei isso nojento.

Não posso dizer que não concordo com ele.

Alguns minutos depois, Deloris volta correndo para a sala. Ainda falando ao telefone e soltando os cachorros.

– De todas as coisas idiotas, corajosas e estúpidas para dizer… quando eu acabar com você, elas vão ter restaurado sua virgindade, garotão!

Ela aperta o botão de desligar mais forte do que o necessário.

– Algum problema?

– Sim. O problema é que as pessoas são o que têm entre as pernas. Isso explica o porquê de o meu marido estar se comportando como um pinto enorme, gordo e incircuncidado!

Cubro os ouvidos.

– Deloris, muita informação! M-U-I-T-A – tem algumas coisas que você não quer saber sobre o marido da amiga. – O que aconteceu?

Ela bufa e senta perto de mim.

– Parece que depois que saí para o aeroporto nesta manhã, Matthew foi ver como Joe estava. O apartamento estava trancado igual a um cofre, mas Matthew tinha uma chave extra. Então, ele entrou e encontrou seu ex-namorado bundão desmaiado, bêbado, no chão do banheiro. Depois que ele resolveu dar uma de louco, botando fogo na merda da banheira.

– O quê?!

– Isso mesmo. Matthew disse que, se ele não tivesse chegado naquela hora, ele poderia ter botado fogo em todo o lugar.

Mexo a cabeça, sem acreditar.

– O que ele estava queimando?

Deloris encolhe os ombros.

– Matthew não disse.

É lógico, mas aposto que não eram as coisas do Joe que estavam em chamas.

Desgraçado.

Deloris continua.

– Aí o Matthew inventou uma desculpa patética para a embriaguez dele. No início, Joe não queria falar, mas Matthew insistiu. E, depois, ele botou tudo para fora igual óleo no Golfo.

Meu estômago se aperta.

– Ele… ele… contou para Matthew sobre o bebê?

Deloris acena.

– Matthew disse que Joe lhe contou tudo o que aconteceu entre vocês dois.

Ok. Isso é uma coisa boa. Se Joe está contando para sua família que estou grávida, talvez ele tenha mudado de ideia. Talvez ele precisasse apenas de um pouco de tempo para se acostumar com a ideia. Matthew é uma ótima pessoa com quem conversar nesta situação. Não tão bom quanto Steven ou Alexandra, mas ele tem uma boa cabeça. Pelo menos se compararmos com o Joe.

– O que Matthew disse?

Deloris range os dentes.

– Ele disse que não acreditava que você poderia ter feito algo desse tipo com o Joe.

– Como?

Coloca a música.

É de Além da imaginação.

No final das contas, sabia que o time de Nova York ficaria do lado de Joe, disse que eles iam. Mas pensei que… talvez… eles me defendessem. Ou pelo menos, ficariam bravos com os métodos dele.

Deloris coloca uma mão sobre a minha.

– Não deixe o que Matthew disse te abalar. Era óbvio que ele apoiaria o Joe, do mesmo jeito que eu te ajudaria a enterrar o corpo, mesmo que fosse o da minha amada mãe.

– Deloris, isso é doentio.

– Ah, sério? Não foi você quem entrou na casa e escutou sua mãe transando com o xerife Mitchell!

Fico boquiaberta.

Deloris continua falando enojada.

– E estavam fazendo um escândalo. Como o som alto de um cinema IMAX. Vou me lembrar disso pela minha vida toda.

Vamos parar aqui por um momento.

Você nunca conheceu o bom xerife, então deixa eu te explicar. Enquanto crescíamos, o xerife Ben Mitchell era o espinho em nossas colunas, a pedra no nosso caminho, o que atrapalhava nossa vida. Ele não tinha nada mais interessante para fazer do que ficar nos seguindo: acabava com nossas festas banhadas à cerveja, parava o carro de Billy no meio da rua para procurar por maconha nele.

Ele sempre achava que a gente estava planejando algo… e … bom… ele estava certo.

Mas isso não vem ao caso.

Apesar de o xerife Mitchell ter quase a mesma idade de nossos pais, para nós, ele sempre pareceu mais velho, como aquele vizinho reclamão com uma bengala que nunca te deixa jogar beisebol, porque, acidentalmente, a bola cai no quintal dele. Mitchell nunca se casou e não saía com ninguém pelo que sabíamos, então a gente achava que seu rosto cheio de rugas e sua atitude chata vinham de alguma inabilidade extrema de transar.

Amélia Warren é o oposto de Mitchell, em todos os sentidos. Ela tem um espírito livre. Faz parte do Clube de Cristais com Poder de Cura, com carteirinha de membro oficial. Uma hiponga moderna.

Uma mera ideia deles juntos, transando, é tão horripilante quanto peculiar.

Tremo.

– Está certa. Isso é doentio.

Billy desce as escadas pulando.

– O que é doentio?

Deloris joga a bomba.

– Amélia e o velho Mitchell transando, na mesa da cozinha.

Billy faz careta e reclama.

– Ah, cara… eu comi naquela mesa hoje de manhã.

Me viro para ele.

– Você sabia disso?

– Tinha minhas suspeitas. Mas esperava estar errado.

Deloris concorda.

– Todos nós, né? Não sei o que foi pior: ter que escutar minha mãe gemendo de êxtase ou escutá-lo implorar por mais e ter que visualizar a porra que ela estava fazendo para ele. Cubro a boca E rio.

Todos nós rimos. Começa com algo pequeno, e depois cresce – até um clímax de batidas na mesa, lágrimas nos olhos, barriga doendo. – Ai… meu… Deus!

Apesar de Deloris estar gargalhando, ela insiste:

– Não é engraçado! Acho que minhas partes femininas estão machucadas.

Toda vez que penso nisso, minha vagina dá um aperto como uma ostra lutando para continuar fechada.

Gargalhamos ainda mais alto. E é a primeira risada verdadeira que tive desde que tudo começou. Minhas bochechas e juntas doem, e me sinto ótima.

Sabe, às vezes tento e imagino como minha vida seria se a Dee Dee não estivesse nela. E depois paro.

Pois não consigo imaginá-la.
 
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logo logo, Joe irá aparecer, não se preocupem... Dee Dee mesmo sendo uma maluca ainda continua sendo uma ótima pessoa, e uma ótima amiga para Demi :)
Bom, para a sorte de Joe, não aconteceu mais nada com Billy e Demi a não ser o beijo, mas bem que ele merecia né?? hahahaha
Comentem, beijooos <3


2 comentários:

  1. Ah não sei nem o que dizer, tah perfeito, já quero outro *-*

    -Nathalia-

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  2. Não vejo a hora do Joe perceber a burrada que fez...... posta outro por favor!!!

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