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Já lambeu o
chão do banheiro masculino do estádio dos Yankees? Eu também não.
Mas agora sei qual é o gosto.
Isso mesmo,
estamos de ressaca. É um inferno. Esqueça os escravos. Se o
exército conseguisse desencadear este sentimento? Haveria paz
mundial.
Estou no consultório da ginecologista da minha
mãe. Billy e Deloris vieram também para dar apoio moral. Está nos
vendo ali? Sentados um ao lado do outro nas cadeiras, como três
alunos malcriados, esperando do lado de fora da sala do diretor.
Deloris está usando óculos de sol, apesar de estarmos na parte de
dentro, lendo um panfleto sobre o novo Viagra feminino. Billy está
dormindo, de boca aberta, com a cabeça caindo para frente e
encostado na parede atrás de nós. Minha mãe também está aqui,
dando uma olhada numa revista, sem ao menos ler uma palavra.
Estou apenas sentada, me esforçando para não
olhar aqueles quadros de bebês recém-nascidos, cobrindo as paredes.
Billy ronca bem alto e Deloris soca ele na costela
com o cotovelo. Ele acorda gaguejando:
– Blitz das bananas de macacos em bolhas!
Olhamos para ele, questionando.
Aí ele percebe onde está.
– Desculpa. Tive um pesadelo – ele encosta a
cabeça para trás na parede de novo e fecha os olhos. – Sinto como
se estivesse com gases – Deloris e eu acenamos juntas. Billy jura
com seriedade: – Nunca mais beberei novamente. Estou falando sério.
Sua prima zomba:
– Já ouvi isso antes.
– Estou falando sério desta vez. Não tomo mais
álcool. Daqui para frente, será apenas maconha.
Claro, isso faz muito sentido.
Já que estamos esperando, vamos parar um pouco
para refletir sobre um dos mais sagrados rituais de passagem de uma
mulher: o exame ginecológico. É extremamente bizarro.
Sabe, durante toda nossa adolescência, todo mundo
fala para nós, garotas, ficarmos puras. Manter nossas pernas fechadas,
nossos joelhos juntos. Aí completamos dezoito anos. Temos que ir
para um consultório e nos encontrar com um médico que, levando em
conta as estatísticas, deve estar na meia-idade. Depois temos que
nos despir – ficamos completamente nuas. E deixá-lo nos sentir.
Colocar um dedo em nós. Um completo estranho.
Ah, e tem a melhor parte: a conversa. Sim, ele
conversa com você durante o exame. Como vai a escola? Hoje está
chovendo pra caramba, né? Sua mãe tá bem? Tudo isso para tentar te
distrair do fato de que ele está totalmente dentro da sua vagina.
O quão estranho é?
E vocês, homens, aí fora, não fiquem fazendo
drama e choramingando sobre os horrores do exame de próstata. Nada
se compara a isso. Um dedinho na bunda pode ser até um pouco
agradável. Pelo menos vocês não têm que levantar as pernas em uma
geringonça que, originalmente, era para ser um aparelho de tortura
medieval. As mulheres, com certeza, ficaram com o pior desta vez.
Uma enfermeira de roupa azul chama meu nome. Minha
mãe e eu nos levantamos e entramos na primeira sala de exames à
esquerda.
Tiro as roupas e coloco o avental de plástico
rosa, abrindo a parte da frente, lógico.
É pra te ver melhor, Chapeuzinho Vermelho.
Sento na maca, o revestimento de papel rasgando
embaixo de mim. Minha mãe fica em pé ao meu lado, esfregando meu
braço para mostrar que está ali. E aí o médico entra.
Presta atenção. Barba branca. Bochechas
fofinhas. Óculos arredondados. Dê a ele um chapéu vermelho e ele
poderia dirigir o último carro alegórico da parada de Ação de
Graças.
Tenho que ir adiante com o Papai Noel? Está
brincando?
O Natal nunca mais será o mesmo.
– Oi, Demetria. Sou o doutor Witherspoon. Joan
Bordello, a médica da sua mãe, está de férias…
Claro que ela está.
– … e eu a estou substituindo – ele olha
para o documento que está em suas mãos. – Levando em conta a data
do seu último ciclo menstrual, você está de quase seis semanas no
seu primeiro trimestre?
Aceno.
– E você teve um pouco de sangramento e cólica?
– Isso mesmo.
– Pode me descrever o sangue? A cor? Havia algum
coágulo?
Falo rouca.
– Começou com um vermelho-amarronzado. Como o
primeiro dia da menstruação. No caminho para o hospital, teve um
jato… de sangue vermelho brilhante… e depois… ficou marrom de
novo. Eu não achei… não acho que tinha coágulo.
Ele acena e seus olhos demonstram ternura.
– Li o relatório do médico da emergência, mas
gostaria de dar uma olhada. Posso, Demetria?
Forço um sorriso.
– Tudo bem. Pode me chamar de Demi, todo mundo
me chama assim.
– Tudo bem, Demi. Quando estiver pronta, deslize
para a ponta da maca e coloque seus pés nos estribos, por favor.
Enquanto faço o que ele pede, ele puxa um
carrinho com um monitor e um teclado. Em seguida, pega um grande
instrumento branco de plástico, que parece… bem… como um
consolo.
Para elefantes.
Levanto a cabeça da maca.
– Hã… o que é isso?
– É um ultrassom intrauterino. Parece um pouco
assustador, eu sei…
Sem gracinhas, Noel.
Sem gracinhas, Noel.
– … mas não doerá nada.
Em seguida, ele tira um pacote de alumínio, o
rasga e enrola uma camisinha extragrande no consolo do elefante.
Não estou brincando. Não podia inventar isso nem
se quisesse.
– Tente apenas relaxar, Demi.
Claro. Sem problemas. Vou fingir que estou em um
spa. Tendo uma massagem nos ovários.
Ele insere o instrumento, com cuidado. E me
encolho. A sala fica em silêncio, enquanto ele mexe a vara pra
dentro e pra fora. Ele não estava mentindo, não dói. É apenas…
constrangedor.
– Ainda está sentindo cólica?
Olho para o teto ladrilhado bege, de propósito
para evitar a telinha.
– Não. Pelo menos não desde ontem à noite –
tenho certeza de que o álcool e a maconha desativaram todos os
nervos de dor no meu corpo.
Escuto umas batidinhas de botões no teclado, e a
vara é removida.
– Pode se sentar agora, Demi – eu me sento –
Está vendo aquela luz cintilante ali?
Olho fixamente para a tela, na direção em que
ele aponta.
– Sim.
– É a batida do coração do seu bebê.
Minha respiração se acelera nos pulmões. Fico
pasma.
– Você quer dizer… que ele ainda está…
vivo?
– Isso mesmo.
Aperto as mãos e sinto as lágrimas voltarem,
prontas para jorrarem como em uma represa enfraquecida.
– Quando irá… daqui quanto tempo antes… de
eu perdê-lo?
Ele coloca uma mão por cima das minhas.
– Com base no meu exame, nos seus níveis
hormonais e no que você me disse, não vejo razão alguma de você o
perder.
Levanto a cabeça rapidamente.
– Espera… o quê? Mas o médico ontem à noite
falou…
– Pode ser um pouco difícil detectar a batida
do coração de um feto tão novo com um ultrassom tradicional.
Quanto ao seu sangramento, é normal ter umas manchinhas no primeiro
trimestre. No entanto, seu colo do útero está fechado, o
funcionamento do seu sangue está normal e a taxa de batidas do
coração do feto também. Todos esses fatores indicam uma gravidez
rotineira, que poderá progredir até o final.
Minha mãe coloca os braços ao redor dos meus
ombros, aliviada e empolgada. Mas preciso saber mais.
– Então, você está dizendo… que vou ficar
com ele? Que terei esse filho?
Doutor Witherspoon sorri.
Com um som divertido.
– Sim, Demi. Acredito que você continuará com
este bebê. Ele deve vir no dia 20 de outubro. Parabéns.
Cubro a boca e lágrimas escorrem. Estou sorrindo
tanto que meu rosto dói. Abraço minha mãe.
– Mãe…
Ela ri.
– Eu sei, querida. Estou tão feliz por você.
Eu te amo tanto.
– Eu também te amo.
É assim que deveria ter sido da primeira vez. Sem
medo. Sem dúvidas. Apenas felicidade. Euforia.
É o momento mais maravilhoso da minha vida.
Boto as roupas mais rápido do que uma esposa pega
no ato de traição e vou correndo para a sala de espera. Deloris e
Billy olham para mim, surpresos.
– Ainda estou grávida! Não tive um aborto!
Eles levantam.
– Cacete!
– Sabia que o Doutor Idiota não tava com nada!
Sorrisos e abraços são compartilhados como
drogas no Woodstock. Minha melhor amiga pergunta:
– Então, acho que você se decidiu, não é?
Vai ficar com ele?
Minhas mãos descem até o meu abdômen, já
imaginando a barriguinha.
– Até ele completar dezoito anos e ir para a
faculdade. Mesmo quando estiver lá, talvez eu o obrigue a morar em
casa e fazer uma viagem todo dia.
Ela acena, dando o tão cobiçado selo de
aprovação de Deloris Warren.
Billy fica de joelhos na minha frente.
– Oi, aí dentro. Sou o tio Billy – em
seguida, ele olha para mim, preocupado. – Posso ser o tio Billy,
né? Você tem que me deixar ser o tio Billy. A outra única chance
que tenho é com Deloris, e quem sabe que coisa maluca da natureza
vai sair de lá.
Deloris dá um tapinha na cabeça dele.
Rio.
– Claro, você pode ser o tio Billy.
– Legal – ele se concentra na minha barriga. –
Ei, garotão. Não se preocupe com nada, vou te contar tudo o que
precisar saber. Repita comigo: Strat-o-caster.
Deloris mexe a cabeça.
– Ele não consegue te entender, Bundão. Tem o
tamanho de um girino.
– Depois da noite passada, é provavelmente um
girino bêbado. Mas tudo bem, né? Vai fazer com que ele seja mais
tolerante, que ele fique mais forte?
Deloris ri.
– E se for uma menina?
Billy encolhe os ombros.
– Acho que alguns homens gostam de mulheres
fortes. Você se surpreenderia.
Me afasto dos irmãos Tweedledum-Tweedledee e ando
pelo corredor até o doutor Witherspoon. Minhas palavras saem
debilitadas. Com culpa.
– Com licença? Desculpa te atrapalhar… mas…
ontem à noite… estava chateada e… bebi álcool e fumei cigarros
– falo mais baixo – e maconha. Bastante.
Uma chamada de um programa de TV passa pela minha
mente:
“Síndrome do Alcoolismo Fetal.”
“Superprematuros.”
“Com pouco peso no nascimento.”
Ele coloca a mão no meu ombro me tranquilizando.
– Você não é a primeira mulher a ter alguns…
comportamentos inadequados antes de descobrir que estava grávida,
Demi. Bebês no útero são mais fortes do que você pensa. Eles têm
a habilidade de superar exposições momentâneas a drogas e ao
álcool. Então, contanto que a partir de agora você se abstenha
destas substâncias, provavelmente não haverá nenhum efeito
duradouro.
Agarro seu pescoço, quase fazendo ele cair no
chão.
– Obrigada! Muito obrigada, Doutor Noel, é o
melhor presente de Natal que já recebi!
Volto correndo para Deloris e Billy.
– Ele disse que não tem problema! – Ficamos
pulando em círculos como três crianças no parquinho, brincando de
ciranda cirandinha.
Quase tudo está perfeito. Quase. Ainda tem algo
faltando.
Alguém.
A outra única pessoa no mundo que deveria estar
tão feliz quanto eu neste momento. Ele deveria estar aqui. Ele
deveria estar me pegando no colo, me rodando, me beijando até eu
desmaiar. Para depois me falar que é lógico que o bebê está bem, pois seu superesperma fodástico
é indestrutível.
Não consegue ver?
Mas ele não está aqui. Essa é a realidade.
Gostaria de te dizer que não dói, que não sinto saudades dele, que
não me importo mais. Mas essa seria uma mentira das grandes. Eu amo
o Joe. Não consigo me imaginar deixando de amá-lo. E, mais do que
tudo, quero dividir isto com ele.
Mas nem sempre temos tudo o que queremos, às
vezes temos apenas que agradecer pelo que temos. E sou grata. Feliz.
Pois terei este filho e cuidarei dele. Não preciso fazer isso
sozinha. Tenho minha mãe e George, Deloris e Billy, não faltarão
mãos para ajudar. Ele terá um amor que daria para dez bebês.
Há 48 horas, não sabia do que era capaz, qual
tipo de aço corria pelas minhas veias. Agora eu sei. E acho que essa
é a moral da história.
Você precisa cair, arranhar as palmas de suas
mãos e joelhos, antes de saber que é capaz de se levantar sozinho.
Por isso, não se preocupe comigo. Ficarei bem.
Com o tempo, ficarei ótima. Ficaremos ótimos.
Paramos no estacionamento dos fundos do
restaurante e minha mãe entra correndo pela porta dos fundos. Ela
deixou George comandando a embarcação, e está um pouco ansiosa
para ver se ele não afundou o barco por conta própria.
Enquanto eu, Deloris e Billy andamos, menos
apressados, Deloris me pergunta:
– Então, Stan, qual é seu plano?
Respiro fundo e forço os olhos vendo o céu.
Parece um novo dia. Uma página em branco. Um novo começo. Sei que
estou falando mais clichês.
Mas que também não deixam de ser verdadeiros.
– Vou ficar por aqui por mais um ou dois dias.
Para… recarregar as baterias. Depois, vou voltar para Nova York.
Joe e eu vamos conversar seriamente. Tenho algumas coisas para dizer,
e ele terá que escutá-las, querendo ou não.
Ela bate de leve no meu ombro.
– Essa é minha garota. Descontando sua raiva no
besta.
Sorrio. Billy abre a porta para nós, mas não
entro com Dee Dee. Ele pergunta:
– Não vai entrar, Dem?
Coloco o polegar no ombro.
– Vou dar uma volta. Para clarear a mente, sabe?
Pode avisar minha mãe?
Ele acena.
– Claro. Demore o quanto quiser. Estaremos por
aqui quando voltar.
A porta fecha, depois que ele entra.
E vou até meu carro.
Então aí está. Você já sabe de tudo agora.
Essa é a minha história. Que grande bagunça, não é?
Meu pai me trazia para este parquinho quando era
mais nova. Mesmo naquela época, quando tinha acabado de ser
construído, nunca lotava. Não sei por que a cidade escolheu este
lugar para construí-lo, não é um lugar muito bom para um
parquinho. As residências não melhoraram muito ao redor e não há
condomínios por perto. E não dá pra vê-lo da avenida principal,
está longe de tudo.
O tempo não foi muito generoso com o conjunto de
estruturas de metal dos balanços e do escorregador de aço. Eles
estão enferrujados, desbotados, descoloridos das vivas cores
primárias que um dia já tiveram. Mas, ainda continua lindo aqui,
numa perspectiva de arte moderna industrial. Está solitário.
Tranquilo.
Preciso aproveitá-lo o máximo possível. Pois,
ao pensar no que vem depois, o que virá? Não vou mentir, é
assustador. É como… se mudar para uma casa nova. Empolgante, mas
de deixar os cabelos em pé também. Porque você ainda não sabe
onde é o posto de gasolina mais próximo ou o telefone do corpo de
bombeiros local. Tem tanta coisa nova para aprender.
Li, em algum lugar, que bebês conseguem ouvir o
que está acontecendo fora do útero. Que eles nascem conhecendo o
som da voz da mãe deles. Eu gosto dessa ideia.
Olho para a minha barriga.
– Ei, girino. Me desculpe por tudo o que tem
acontecido ultimamente. Minha vida não costuma ser tão turbulenta.
Embora Joe provavelmente não concorde comigo neste aspecto. Ele
costuma achar que sou muito dramática.
Joe. Vai ser difícil. Talvez seja melhor começar
agora, a prática leva à perfeição.
Minha mão relaxa na barriga, ninando-o.
– É… seu pai. Seu pai é como… uma estrela
cadente. Quando está por perto, todas as outras luzes no céu apenas… somem.
Pois ele é muito vibrante, é impossível parar de olhá-lo. Pelo
menos eu nunca consegui.
Mordo o lábio. Fico observando quando um gavião
paira no alto.
Depois, continuo.
– Nós nos amávamos. Não importa o que
aconteceu ou o que acontecerá daqui pra frente, é importante que
você saiba que estávamos apaixonados. Seu pai fez eu me sentir como
se fosse a coisa mais importante da vida dele. A única. E sempre
serei grata por isso. Espero que você possa conhecê-lo um dia. Pois
ele é, na verdade, um bom… ótimo homem – rio suavemente. –
Quando não está tão ocupado sendo um canalha.
Ao terminar de falar para Deus e o mundo, tudo
fica quieto por alguns minutos. É tão diferente dos parques na
cidade, que têm buzinas disparando, crianças berrando e passos de
pessoas correndo. É sereno.
Então, quando um carro, de repente, passa, fico
assustada. Minha cabeça move-se depressa em direção ao som.
Parado lá, está a última pessoa que um dia
pensei em ver aqui, em Greenville, neste momento.
É o Joe.
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Bom, pra quem estava preocupado do Joe não aparecer mais na temporada, aí esta ele :)
e agora? a Demi vai perdoar ele?? Hum... talvez...
Pra quem perguntou, já tem previsão para o lançamento do terceiro livro da historia, é em outubro, bem no começo, eu não sei se assim que lançar lá, irão traduzir, então... :/
Quuue lindooo .. O Joe chegooou na parada gentee .. Uhuuul
ResponderExcluirele vai ter q trabalhar mt pra tê-la de volta. Mas é lindo ver ele ir atras dela <3
Mariiiii .. Menina. Depois daquele dia q falei com vc sobre os livros . Achei um site ( sim, ñ precisa instalar) que desbloqueia PDF. Eu já testei em uns livros meu e funciona \o/ .. Então se quiser eu te passo. :D
e vc tem vc ??? Se tiver .. Me add ?
facebook.com/julianaaa.machado
bjss
*vc tem face ??
ExcluirCorretor de merda kkkkk (sorry)
Posta+, vc já sabe q fic vai postar dps dessa?
ResponderExcluirAwwwn' que lindo!!! Joe apareceu... só quero ver o que vai acontecer agr
ResponderExcluir-Nathalia-
Posta logo please..... louca pra saber a reação dos dois.... vai ter casamento????
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