19.8.14

Seu Melhor Erro - Capitulo 2

 
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Joe pareceu tão perplexo quanto Demi ficara quando confirmara a gra­videz meses atrás. Ela esperou pacientemente pela reação verbal dele, e quando não ocorreu nenhuma, disse:

O nome dela é Carly.

Carly, tirado de Carl, o garotinho que seus pais haviam criado quando Demi era adolescente. Um garotinho especial que ninguém queria por cau­sa de seus incontáveis problemas de saúde. Mas Demi o amara com paixão, ajudara a tomar conta dele até o dia que ele foi para o hospital e não voltou. Ele fora a razão pela qual ela escolhera pediatria como sua especialidade, mas Joe sabia disso.

Joe olhou para a foto antes de voltar a encará-la.

Quanto tempo ela tem?

Três meses.

E só agora você está me contando?

Ela considerara não lhe contar em absoluto, mas mudara de idéia de­pois que sua mãe a lembrara de todas as crianças que tinham ido para elas sem histórico médico, sem saber quem eram os pais verdadeiros.

Telefonei para você uma semana depois que confirmei a gravidez. Uma mulher atendeu e eu desliguei. Planejei ligar novamente, no mês que Carly era esperada, mas antes que pudesse fazer isso entrei em trabalho de parto, quatro semanas mais cedo.

Ela está bem?

Está ótima. Perfeita. Um pouco abaixo do peso, mas está recuperan­do rapidamente.

Ele passou a mão pelos cabelos.

Não sei como isso aconteceu. Nós éramos sempre cuidadosos.

Nem sempre, Joe. Lembra-se daquela nossa viagem louca a Cabo no verão passado? A viagem onde Joe não tinha sido ele mesmo. Ela descobrira a razão para a atitude dele uma semana depois, quando ele a dispensara. Eu tomei margueritas demais na última noite que estivemos lá. Você tinha testosterona em excesso.

Mas eu saí...

Não tão rapidamente. Além do mais, ambos sabemos que coito in­terrompido não é forma eficaz de controle de nascimento. Todavia, naquela noite, ela não estivera pensando com clareza, e aquilo tivera pou­co a ver com álcool, porque não estava embriagada. A paixão avassaladora e descontrolada entre eles fora a única coisa que importara. Uma paixão que costumava anular seu bom senso com freqüência.

Quando ele ainda parecia em dúvida, Demi acrescentou: Tudo que você tem a fazer é olhar para ela, Joe. Ela é a sua ima­gem. Tanto que doía todas as vezes que Demi olhava para sua menininha. A menininha deles.

Onde ela está agora? perguntou ele enquanto continuava olhando para a foto.

Com a amiga que divide a casa comigo, Macy. Razão pela qual Demi precisava ir embora o mais cedo possível, antes que o bebê acordasse da soneca e Macy, que assumidamente tinha fobia de crianças, tivesse de lidar com Carly.

Joe olhou para a foto por mais alguns momentos e quando Demi não podia mais suportar o silêncio, murmurou:

Diga alguma coisa.

Ele nivelou o olhar com o dela.

Não sei o que dizer, Demi. É um tremendo choque.

Ela entendia isso muito bem. Também reconheceu que ele podia levar algum tempo para se acostumar com a revelação. Talvez Joe decidisse que não queria lidar com aquilo. Por isso, ela retirou um envelope da bolsa e entregou-lhe.

Pegue.

Depois de breve hesitação, ele pegou o envelope.

O que é isso?

É um documento que acaba com seus direitos paternais se você as­siná-lo. Você não é obrigado a envolver-se na vida dela, emocional ou fi­nanceiramente.

Um brilho de desprezo cruzou a face de Joe.

Depois de tudo que você me contou sobre crianças abandonadas que seus pais recolheram, está querendo criá-la sozinha?

Se tivesse escolha, Demi preferiria criar sua filha em um lar com dois pais. Mas aquela não era uma opção, pelo menos não com Joe.

Nós estamos indo bem. De modo geral. Eu também tenho um bom sistema de apoio em casa.

Você quer dizer com seu novo namorado?

Demi optou por não fazer qualquer comentário.

Meus pais insistem que eu vá morar com eles quando eu voltar ao Mississipi. Você não precisa se preocupar se terá alguém para cuidar de Carly, se decidir assinar os papéis.

Sem oferecer qualquer resposta, Joe abaixou a cabeça, o envelope e a foto ainda nas mãos. Ele parecia tão visivelmente abalado que Demi lutou contra a vontade de abraçá-lo.

Em vez disso, pegou a bolsa e se levantou.

Percebo que é uma revelação muito forte, coisa para você absorver de repente, portanto, vou lhe dar algum tempo para pensar. Se preferir es­capar dessa situação, entenderei perfeitamente. Tudo que tem a fazer é assinar os documentos, reconhecer a firma e me enviá-los pelo correio. Já coloquei o endereço no envelope. Nesse ínterim, estou com o mesmo nú­mero de celular, se você precisar entrar em contato.

Foi necessária toda força de vontade para que Demi saísse sem qualquer resposta de Joe. Ela não estava certa do que esperar... que ele assinasse os papéis, abrindo mão de seus direitos paternais, finalizando assim o rela­cionamento deles para sempre, ou que decidisse ser um pai para Carly, ocupando um lugar permanente na vida da criança... e na sua vida... pelos anos que viriam. Qualquer que fosse o resultado, ela teria de lidar com as conseqüências de suas ações. De seus erros.

Mas Demi não via seu bebê como um erro. Apaixonar-se pelo pai de Carly tinha sido um erro grave.

O problema era que uma parte sua ainda o amava, e provavelmente sempre o amaria.

***

Logo após o raiar da aurora na manhã seguinte Joe viajou para Bodies by Jonas, a academia de ginástica de seu irmão gêmeo, Nick. Seus motivos por trás da visita eram dois: exercitar-se para clarear a men­te e um conselho de alguém em quem podia confiar.

Apesar de mal ter dormido na noite anterior, adrenalina mandou Joe através das portas duplas rapidamente, direto ao escritório de Nick, onde ele encontrou o irmão sentado atrás da mesa.

Você tem alguns minutos para mim? perguntou Joe quando parou na soleira da porta, segurando a sacola de ginástica.

Nick levantou os olhos de uma pilha de papéis e deixou a caneta de lado.

Entre. Você está me salvando de aprovar faturas, e sabe o quanto detesto essa parte dos negócios.

Falando como um personal trainer durão, Joe pensou.

Mas salvar Nick da contabilidade não era nada comparado ao que Nick fizera por ele... salvando-o da morte certa, doando-lhe sua medula óssea. Um presente fundamental, no que dizia respeito a Joe. Desde aquela época, eles haviam posto de lado suas diferenças e se tornado tão íntimos quanto costumavam ser quando garotos, uma das poucas coisas positivas que resultara de sua doença.

Joe atravessou a sala e sentou-se na cadeira em frente da mesa.

Decidiu entrar devagar na conversa enquanto preparava o ponto crucial do assunto que o levara até lá.

Como vão indo os planos do casamento?

Nick sorriu.

Pelo menos agora temos um local, o que é bom, considerando que a cerimônia vai acontecer em menos de um mês.

Onde vocês decidiram realizar o casamento? perguntou Joe.

O sogro de Logan ofereceu seu jardim. Vai estar terrivelmente quen­te, mas Miley quer um casamento ao ar livre. E não vai ser tão ruim ao pôr do sol. Você ainda estará do meu lado com tais condições climáticas?

É claro que sim. Joe enfrentaria alegremente qualquer clima para cumprir seu dever como padrinho de Nick.

Nick inclinou a cabeça e observou o irmão.

Se você não fizer um corte de cabelos antes do casamento, as pessoas não serão capazes de nos distinguir. Não quero minha noiva bei­jando o homem errado.

Joe passou a mão pelos cabelos e riu.

Pensarei a respeito disso. Nesse ínterim, vou deixar os cabelos cres­cerem. Tenho satisfação de deixá-los um pouco mais compridos do que o normal, uma vez que perdi tantos durante a quimioterapia. A mesma quimioterapia que poderia ter alterado suas chances de ter um filho, o que o fez recordar-se da razão de ter ido ver seu irmão.

Preparando-se para a notícia bombástica, Joe deu um profundo suspiro.

Demi passou na minha casa ontem.

Nick reclinou-se na cadeira giratória e coçou o queixo.

Não acredito! O que ela queria?

Joe pegou a sacola de ginástica e retirou os papéis que Demi lhe dera no dia anterior, entregando a foto para Nick.

Ela me levou isto.

Nick pegou a fotografia e olhou-a por um longo momento antes de voltar sua atenção para Joe.

É o que eu penso que seja?

Se você está pensando que ela é minha filha, está certo. Minha filha. Nunca, em mil anos, ele acreditaria que diria aquilo. Nem esperava sentir o que sentira depois de receber a notícia.

É igualzinha nossas fotos de bebê. Nick balançou a cabeça. Homem, isso é um choque.

Sim. Que bela maneira de começar a semana. Que maneira de mudar sua vida em questão de minutos.

Nick colocou a foto na mesa e empurrou-a para Joe.

Não posso acreditar que Demi esperou esse tempo todo para lhe contar.

Considerando o que eu fiz para ela, não posso realmente culpá-la. E na verdade Demi tentou me contar. Ela desligou o telefone quando uma mulher atendeu, e estou quase certo de que a mulher era uma enfermeira de plantão lá em casa, que fazia as transfusões na ocasião. Mas eu entendo por que Demi interpretou de modo diferente.

Ela presumiu que tinha sido substituída disse Nick.

Joe não podia culpar Demi por aquilo, também.

Ela ia tentar me contar novamente logo antes de o bebê nascer, mas entrou em trabalho de parto prematuro.

Nick franziu o cenho.

O bebê está bem?

Exatamente a mesma coisa que Joe perguntara à mãe do bebê.

Ela é saudável, de acordo com Demi. E uma vez que Demi é pediatra, deve saber.

Nick fez uma careta

Em minha opinião, Joe, essa é uma boa notícia. Meu conselho é que você lhe conte a história inteira, e talvez tenha outra chance com Demi.

Se ao menos aquilo fosse uma possibilidade. Se ao menos ele tivesse feito as coisas de modo diferente, revelado sobre sua doença em vez de usar a desculpa típica de solteiro assumido. Se ao menos não tivesse feito um estrago irreparável ao relacionamento deles, tentando protegê-la, tal­vez não estivesse nessa situação desagradável agora. Então, novamente, não sabia se teria feito alguma coisa diferentemente, mesmo sabendo o que sabia agora. A última coisa que Demi precisaria durante a gravidez era lidar com os problemas dele.

Não vejo qualquer razão para lhe contar a história inteira.

Você pode dar bons conselhos, Joe, mas não pode segui-los.

Joe não podia lembrar-se de dar ao irmão qualquer conselho que valesse a pena.

Do que você está falando?

Quando você estava no hospital, disse-me que eu precisava baixar a guarda e confiar em Miley, ou estaria arriscando perdê-la. Eu fiz isso, e olhe como foi bom. Agora você tem a chance de fazer o mesmo e não vai sequer tentar.

Não há sentido em tentar. Isso não mudaria nada.

Por que você pensa assim?

Porque alguns problemas ainda prevaleciam. Problemas que impediam Joe de tentar reconquistar Demi.

Antes de tudo, Demi detesta mentiras, e mesmo que minhas inten­ções tenham sido boas, ela teria dificuldade em acreditar. Segundo, ela quer uma família grande, e poderei não ser capaz de lhe dar isso por causa da quimioterapia.

Por que não deixa que ela decida se isso importa?

Agora o motivo principal.

É tarde demais para nós, Nick. Ela já está envolvida com alguém de sua cidade natal. Estou certo que ele é a razão pela qual Demi decidiu ir clinicar no Mississipi, tão logo a residência termine. E também estou certo que esse é o motivo pelo qual ela me deu isso. Ele ergueu o envelope. Se eu assinar, renunciarei a meus direitos paternos.

Você não está considerando isso seriamente, está? Nick parecia incrédulo.

Joe havia considerado aquilo seriamente durante a noite inteira. To­davia, todas as vezes que pensava em ficar afastado da filha... uma criança que ainda nem conhecia, a única filha que talvez pudesse ter, sofria com desespero. Sofria tão profundamente como quando pensara em se afastar de Demi.

Por um lado, continuo dizendo a mim mesmo que de modo algum permitiria que outro homem criasse minha filha. Por outro, talvez isso fos­se a coisa altruística a fazer. Talvez eu não tenha nascido para ser pai.

Não tome nenhuma decisão precipitada até que dê um passo mais importante disse o gêmeo.

Joe desconfiou que o irmão estivesse prestes a pedir-lhe para fazer algo para o qual ele não estava preparado. Não até que soubesse que cami­nho iria tomar.

Se você vai dizer que preciso contar a mamãe e papai sobre o bebê, não estou pronto para fazer isso.

Não é o que eu ia dizer.

A impaciência de Joe estava próxima do ponto critico.

Então diga, Nick, assim posso ir fazer minha ginástica.

Esqueça a ginástica. Vá ver sua filhinha, Joe.

***

HÁ alguém aqui querendo vê-la, Demi. Ao som do comunicado de sua companheira de casa, Demi afastou o olhar de Carly, que estava dormindo sobre seus seios.

Eu não ouvi a campainha da porta.

Macy moveu-se pelo quarto e prendeu uma faixa em volta de seus ca­belos louros ondulados.

Isso porque ele não tocou a campainha. Eu estava saindo quando o encontrei de pé na soleira da porta, parecendo um cão perdido.

Demi desconfiou que conhecesse a identidade desse cão perdido.

Você conseguiu descobrir o nome dele?

Não me importei em perguntar, mas posso lhe dizer como ele é. Cabelos e olhos escuros, bonito de um jeito refinado. Pensando bem, ele se parece muito com ela. Macy apontou em direção da criança adormecida nos braços de Demi.

Oh, excelente.

Só mesmo Joe para aparecer sem ser anunciado murmurou Demi, embora não tivesse motivo para criticá-lo. No dia anterior, fizera a mesma coisa.

Os olhos de Macy arregalaram-se.

Joe, o pai do bebê?

O próprio.

Eu pensei que você não ia lhe contar.

Mudei de idéia. Ou perdi a cabeça, para bem dizer.

Quando Demi mudou a posição do bebê para seu ombro e ficou de pé, Carly executou,um pequeno protesto choroso.

Segure-a por um momento. Ela precisa arrotar.

Macy parecia como se Demi houvesse lhe pedido para fazer uma apendectomia na mesa da sala de jantar.

Não sei nada sobre arrotos de bebês.

Demi pegou uma fralda do lado da cadeira de balanço, colocou-a sobre o ombro de Macy e entregou-lhe Carly.

Apenas bata nas costas dela algumas vezes.

Quando o bebê soltou um arroto moderado, dizer que Macy parecia assustada seria uma declaração muito amena.

E se ela vomitar em cima de mim?

Para isso existe a fralda, mas ela não vai vomitar.

Demi, por outro lado, lutou contra a náusea só de pensar em encarar Joe.

Depois de abotoar a blusa, ela pegou Carly de volta nos braços, deu um beijo suave no rosto do bebê e deitou-a no berçinho de vime junto à sua cama.

Diga-lhe que irei vê-lo tão logo esteja apresentável.

Macy fez uma careta.

Quem se importa com sua aparência? Ele é simplesmente o doador do esperma, não seu par para o baile.

Ignorando a amiga, Demi moveu-se em frente ao espelho da penteadei­ra e passou uma escova nos cabelos.

Seja como for, ele ainda é o pai de Carly.

Ele é um canalha, Demi. Não merece ser pai.

Demi olhou para Macy no reflexo do espelho.

Você nem sequer o conheceu.

Mas sei o que ele fez com você, e isso o torna um imbecil em minha opinião.

Demi se virou e recostou-se na penteadeira.

Diga-lhe que irei num minuto, está bem? - Macy deu de ombros.

Ótimo. Você se importa se eu chutá-lo no meio das pernas no meu caminho de saída? Se eu fizer isso com bastante força, talvez possa impe­di-lo de procriar novamente.

Demi apontou a escova para a porta.

Eu preferiria que você desse meu recado sem qualquer violência, e então fosse trabalhar.

Você não tem a menor graça disse Macy quando fez meia-volta e saiu do quarto.

Voltando para o espelho, Demi deu um longo olhar para sua aparên­cia e fez uma careta. Seu rosto mostrava sinais de fadiga, logo abaixo dos olhos irritados. Equilibrar as necessidades do bebê com uma agenda movimentada tinha começado a deixar marcas. Ela aplicou um pouco de batom, depois se repreendeu por acreditar que precisava maquiar-se para ver Joe. Macy estava certa: aquilo não era um encontro. Pelo menos não um encontro amoroso. Um encontro com o destino podia estar iminente, dependendo das justificativas de Joe para aparecer sem ser anunciado.

Ela andou de volta até o berço para observar Carly, ainda cochilando, os punhos fechados no peito, um sorriso brincando nos cantos da boqui­nha. Evidentemente, sua filha estava tendo um doce sonho de bebê, in­consciente que o homem responsável pelo seu nascimento estava esperan­do na sala ao lado.

Demi imaginou se Joe pediria para ver a filha. Em caso positivo, talvez devesse vestir Carly com algo mais apropriado do que o macacãozinho amarelo surrado.

Outra idéia boba. Carly era uma criança, pelo amor de Deus, e não ti­nha de impressionar o pai. Se Joe não podia ver a bênção sob o traje de sua filha, então Macy estava certa... ele não merecia estar na vida de Carly.

Como se ele realmente quisesse envolver-se com seu bebê, algo que ela verdadeiramente duvidava.

Depois de dar um profundo suspiro, Demi entrou na minúscula sala de estar para ver Joe sentado no sofá de chintz floral, parecendo cansado, de algum modo. Mas também estava magnífico, num terno de seda azul-marinho com uma camisa branca, sem gravata. Ela detestava o que a vi­são dele lhe despertava: a lembrança de um tempo quando o teria cumpri­mentado com um beijo. Detestava o fato de que Joe ainda podia lhe provocar aquelas lembranças, aqueles sentimentos que estariam melhores enterrados.

Um telefonema antecipado seria bom disse ela no máximo da exasperação. Mas, como sempre, você é cheio de surpresas, Joe. Algumas surpresas, muito boas, e outras, não tão boas.

Ele levantou-se, encarando-a fixamente.

Tive um compromisso na cidade esta manhã. Uma vez que estava tão próximo, decidi parar aqui.

Aquilo explicava a roupa de executivo, mesmo se não desse a Demi todas as respostas que ela queria.

Como você nos encontrou?

Seu endereço estava no envelope que você me deu, lembra-se?

Na verdade, ela não se lembrara.

Você teve uma reunião de negócios?

Encontrei com meu contador. Ele puxou um envelope de dentro do bolso do paletó. Este é o esboço do fundo financeiro que estou criando para Carly. Os documentos verdadeiros ainda não foram emitidos porque quero que você examine primeiro e faça algumas mudanças. Você terá completo acesso aos fundos, e se precisar de mais, somente terá de me dizer.

Depois de uma breve hesitação, ela pegou o envelope da mão dele.

Como eu disse antes, não espero que você seja financeiramente res­ponsável por Carly se...

Sei o que você disse, mas ela é minha responsabilidade, e quero provê-la.

Demi imaginou se uma obrigação monetária era o único laço que ele planejava ter com o bebê. Entretanto, aceitaria alegremente qualquer coisa que proporcionasse uma vida melhor à sua filha, pelo menos até que pagasse todos os seus empréstimos de estudante, e tivesse sua clínica parti­cular estabelecida e funcionando.

Eu gostaria de vê-la.

Pelo menos aquilo respondia a uma das perguntas de Demi, e trazia al­gumas preocupações. Mas agora que envolvera Joe na situação, não ti­nha um bom motivo para não atender o pedido dele, especialmente quando ele parecia tão sincero.

Ela estava dormindo quando a deixei há alguns minutos, mas acho que você pode dar uma olhada.

Demi conduziu Joe até seu quarto, que era também o quarto do bebê. Quando se aproximou do berço de vime, descobriu que sua filha não esta­va dormindo em absoluto. Em vez disso, Carly olhava fixamente para o mobile multicolorido balançando acima de sua cabeça.

Demi deu um rápido olhar por sobre o ombro para ver Joe parado perto da porta, como se incerto do que fazer em seguida.

Ela está acordada, portanto, você pode se aproximar.

Ele ficou ao lado de Demi e olhou para Carly, que lhe deu um sorriso, como se, de algum modo, sentisse que ele era um convidado especial.

Ela começou a sorrir bastante no último mês disse Demi. Joe não respondeu, mas a admiração nos olhos escuros falava tudo.

Ela é bonita.

Demi não poderia discordar.

Ela é um bebê bom, uma vez que esteja bem-alimentada e seca. Mas às vezes tem crises de cólica, e é um pouco temperamental quando não obtém o que quer imediatamente.

Ele permaneceu quieto por algum tempo antes de perguntar:

Posso segurá-la?

Demi certamente não estava preparada para o pedido, mesmo que fosse lógico um pai querer segurar sua filha.

Ela gesticulou em direção à cadeira de balanço próxima ao berço.

Sente-se ali e eu a entrego.

Depois que Joe obedeceu, Demi ergueu o bebê do berço e colocou-o na curva do braço forte. Carly sorriu para ele novamente e Joe retribuiu o sorriso.

Olá, garotinha. Eu sou seu pai disse ele, num tom de voz suave, quase reverente.

Demi não podia contar o número de vezes que visualizara aquela cena, em circunstâncias muito diferentes. Com freqüência, pegava-se fantasian­do com uma família feliz de três pessoas. Um sonho que nunca se realiza­ria, mesmo agora. Mas não podia negar quão natural ele parecia segurando sua filha. Não pôde conter a onda de emoções, a ameaça de lágrimas quan­do Joe fechou os olhos e pressionou os lábios contra a testinha de Carly, enquanto a abraçava bem junto ao coração.

Aquele homem bonito, que nunca mencionara querer filhos, parecia como se também estivesse lutando contra suas próprias emoções por ver sua filha. Mas Demi tinha de lembrar-se que aquele era apenas um momento especial. Possivelmente, um momento de adeus.

Alguns minutos depois Joe se levantou vagarosamente e deitou o bebê de volta no bercinho. Quando encarou Demi de novo, tirou outro en­velope do bolso.

Eu passei a maior parte da noite pensando nestes papéis. Ele abriu o envelope e retirou o documento. E aqui está o que eu realmente penso sobre eles.

Depois de pôr o envelope na cadeira de balanço, ele virou-se, rasgou os papéis e atirou os pedaços na cesta de lixo próxima.

Carly é minha filha, Demi, e quero ser uma parte da vida dela. Eu preciso dela na minha vida.

Quando Demi foi capaz de falar, após passar o estado de choque, perguntou:

Você tem certeza absoluta?

Sim, e quero provar isso.

Demi passou os braços ao redor da barriga.

E como você propõe fazer isso?

Tomando conta dela enquanto você está trabalhando.

E Demi acabara de pensar que não podia ficar mais atônita do que já estava.

Isso não é necessário. Eu a matriculei numa boa creche.

E eu tenho uma agenda flexível... posso dedicar meu tempo a ela.

Aquela proposta era quase mais do que ela podia esperar.

Você entende o que isso envolve, Joe? Toda a alimentação e mu­dança de fraldas e crises de choro sem fim?

Entendo isso completamente, e lidarei com tudo. E agora que estou aqui, há algo mais que quero saber. Ele olhou em volta, focalizando a cama desarrumada no canto. Carly tem seu próprio quarto?

Este é apenas um apartamento de dois quartos, e divido a casa com Macy, motivo pelo qual Carly está aqui comigo.

Ele deu-lhe um sorriso dissimulado.

Oh, sim. Sua colega Macy, a que pareceu querer me castrar antes de ir embora.

Pelo menos Macy não tinha literalmente chutado Joe.

Ela é uma boa pessoa quando você passa a conhecê-la.

Ele lhe deu um olhar duvidoso antes de examinar o quarto novamente.

Não sei nada sobre bebês, mas Carly não vai crescer e não vai caber mais nesse berço. E parece-me que você não tem espaço para uma cama maior.

Aquilo a irritou.

Este apartamento é tudo que eu tenho condições de manter agora, Joe, e lhe prometo que ela terá uma cama quando chegar a hora, mesmo se eu tiver de dormir no chão.

Ele foi totalmente cínico.

É uma grande idéia, Demi, dormir no chão. Estou certo de que isso lhe proporcionará muito descanso antes que você tenha de tomar decisões médicas de vida ou morte.

Demi reconheceu que ele estava certo, e deu outra sugestão:

Então, dormirei no sofá.

O sorriso dele foi quase letal.

Aquele com almofadas achatadas? Isso será excelente para suas costas, pois se me recordo corretamente incomoda você a cama ser firme demais.

Exasperada, Demi limitou-se a exigir que ele fosse embora.

Novamente, vou me virar pelos próximos dois meses. Carly não sofrerá de modo algum.

Estou pensando que há uma solução melhor que impedirá qualquer sofrimento ou sacrifício da parte de vocês duas.

Demi estava quase com medo de perguntar.

Qual seria?

Um novo lugar para morar. Um lugar melhor.

Eu já lhe disse que não tenho condições...

Sem qualquer despesa.

Ela refletiu sobre naquilo por um momento, muito tentada com a oferta. Joe era um mágico financeiro com uma carteira de ações que concor­ria contra qualquer diretor-executivo de uma grande corporação. Muitas vezes ele lhe dera conselhos fiscais e modos de planejar o futuro depois que ela terminasse a residência no hospital. Ele tinha total condição de fi­nanciar um apartamento maior. Um lugar onde Carly pudesse ter seu pró­prio quarto, permitindo Demi dormir na sua própria cama.

Você está realmente falando sério sobre me pagar um aluguel num apartamento maior?

Não uma apartamento. Uma casa.

Talvez até mesmo num bairro com um parque, onde Demi pudesse levar o bebê nos seus dias de folga. A oferta parecia melhor a cada momento.

Uma casa seria ótimo, mas todas as casas perto do hospital são in­crivelmente caras.

Eu estava pensando em algo a 15 minutos de distância. Uma casa maravilhosa, num excelente bairro. Quatro quartos, quatro banheiros, co­zinha gourmet e um grande quintal com piscina.

Demi riu.

Isso é um pouco de exagero para duas pessoas, não acha?

Três pessoas.

Demi engoliu em seco.

Não estou certa se entendo o que você está propondo, Joe. Na realidade, ela sabia exatamente o que ele estava dizendo.

E ele confirmou sua suspeita quando sorriu e respondeu;

Estou falando da minha casa, Demi. Quero que você e Carly se mu­dem para lá, comigo.


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Oii!! vcs estão realmente gostando da fic??? ela é muito boa, e muito fofa *---* os hots dela não são muito detalhados, mas a historia dela é linda... Comentem!!!! Beijoos <3
 
Quem tbm sentiu vontade de chorar com a parte do Joe segurando pela primeira vez a filhinha?? :')

3 comentários:

  1. posta mais, posta mais,posta mais!

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  2. Leitora nova \õ/... Aplausos!..(Obrigada, mãe --'). Enfim, Mari, pelas contas do rosário, que fics são essas? Tá que esse site é só de mini-fics, mas eu leio o outro tmb, e são perfeitos. Desculpa só dá o ar da graça agora, é que a minha faculdade é corrida demais.. e às vezes só leio e não comento.. mas, sem mais delongas, parabéns pela escritora que és e pela criatividade, tem a Mand tmb né?! Parabéns pras duas. E ESSA HISTÓRIA PARECE SER PERFEITO, POSTA LOGO MAIS UM (ou eu vou reprovar uma disciplina, por falta de atenção O.o)
    kkkkkkkkk
    Beijos, Thays Alencar ou Thata Lovatic, tanto faz..;***

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