27.10.14

Um Pequeno Milagre - Epílogo


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Nunca, nem por uma vez sequer, ela vacilou, ou duvidou.

Nem mesmo um pouquinho.

Apesar das previsões negativas de sua mãe, apesar do que ela lera sobre as "famílias agregadas" em um livro sobre psi­cologia infantil, que Demi acabara atirando na parede, nem por uma vez sequer ela pensou que o bebê deles iria mudar os sentimentos de Joe por Willow.

Porque sem Willow, eles não existiriam.

— Não falta muito agora — Joe apertou os ombros dela, deitada na mesa de cirurgia, com toda a paixão de um médico por uma paciente, mas era aquilo que ele fazia, às vezes. Eles haviam, somados, passado por três gestações, e todas haviam sido bem diferentes.

Aquela havia sido uma gravidez exemplar (descontando o grande ganho de peso que ela tivera), e tinha ido excepcional­mente bem até o último momento, mas depois de oito horas de trabalho de parto, respirando e fazendo força, o bebê ainda não queria nascer!

Ela trabalhara meio-expediente até o sétimo mês, porque escolhera assim.

Demi havia contado a Joe sobre a dor nas costas, e os tornozelos inchados e doloridos, mas quando tivera uma enxaqueca fortíssima, preferira conversar com o obstetra, e não com ele.

E Joe havia massageado seu estômago, e beijado sua barri­ga, e feito todas as coisas certas, durante toda a gravidez. Os dois tinham feito tudo certo. Incentivado um ao outro ao longo do caminho, e assegurado um ao outro que tudo daria certo.

— Eu estou com medo... — Ela não estava nem sequer se­dada, os médicos haviam sido tão mesquinhos a respeito da anestesia que ela estava pensando em escrever uma carta de reclamação. Do que adiantava ser a esposa de um médico? Uma epidural podia anestesiar seu abdômen, mas não aneste­siaria o cérebro dela.

— E se as coisas mudarem agora?

Não importa quão bem você a arrume e o quão segura você a mantenha, sua bagagem sempre viaja com você, e de vez em quando, você tem que pagar pelo excesso, ou observar impo­tente enquanto o pessoal da alfândega abre o zíper e exige que você explique o que uma barra de chocolate estava fazendo escondida no seu sutiã.

Como se você pudesse explicar como ela fora parar lá.

E como se você tivesse pensado em contrabandeá-la para o outro lado do mundo.

Só que você tinha.

— Eu não quero que nada mude — ela chorou.

— A mudança pode ser uma coisa boa — ele disse, tentan­do confortá-la.

Eram só os três, Joe, ela e Willow. E ela temia por eles, e temia pelo bebê que estava chegando, temia a mudança. Mas aquilo estava acontecendo, não importava se ela gostasse ou não.

— Eu estou com medo, Joe — ela disse novamente.

— Eu sei.

Ela podia ver lágrimas nos olhos verdes dele.

— Lembre-se de Willow... ela era tão pequena e estava tão doente... e olhe para ela agora.

Ela sabia que os médicos estavam fazendo a incisão, por­que o obstetra havia dito a ela, mas só tinha olhos para Joe. E podia ouvir o barulho, enquanto eles aspiravam o líquido amniótico, e ficou petrificada de medo.

— Como poderei amá-lo tanto quanto amo Willow?

— Espere para ver — ele disse, gentilmente. Era mesmo um menino.

Um menino gorducho, que os médicos seguraram por sobre os lençóis, com um narizinho achatado e uma testinha franzi­da, que gritou e chorou e esperneou até que eles o colocaram no bercinho.

— Não admira que eu tenha precisado de uma cesariana. — Demi tinha que sorrir, tinha que chorar, tinha que olhar para o bebê com admiração. E, claro, Joe fazia o mesmo.

Ele se aproximou do filho e olhou para ele, imprimiu a mar­ca dos pezinhos dele em sua camiseta, e voltou para o lado de Demi.

— Você precisa ver o tamanho dele! — Joe disse, espantado.

— Você entende agora porque eu gemia toda vez que ele chutava?

Ela ganhou um beijo rápido, quando eles trouxeram o bebê, todo embrulhado, mas ela também estava imobilizada, e não podia abraçá-lo. E havia gente demais em volta, para que ela chorasse de verdade.

— Vá com ele... — Demi disse para o marido.

As coisas ficaram um tanto confusas, dali em diante. Os médicos foram um pouco mais generosos com analgésicos agora, a incisão foi fechada e ela foi levada para a sala de re­cuperação, e depois para o quarto. E Demi se lembrava va­gamente de sua mãe chegando, e da mãe de Joe chegando, e de muito barulho...

E mais tarde, bem mais tarde, ela acordou.

E lembrou de tudo.

Ela não estava com medo dos sentimentos de Joe, nem um pouco. Tudo bem, talvez só um pouquinho... Mas ele estava de costas para ela e seu filho, e tinha uma agitada garotinha de um ano presa à sua cintura, e estava mostrando a lua para ela, e aquilo a deixou em paz, para olhar para seu novo bebê.

Ela estava com medo dos próprios sentimentos.

Ele era tão pequeno.

Um bebê grandão, mas tão novinho, e enrugado, e perfeito, e ela estava com tanto medo de não fazer as coisas certas. E então ele abriu os olhos... simplesmente olhou diretamente nos olhos dela, e exigiu que ela o amasse.

Ela o amaria muito em breve, só que estava realmente cansada.

— Logan...

Ela estava dolorida demais para segurá-lo no colo, e Joe o fez por ela, equilibrando Willow, ainda presa à sua cintura, enquanto pegava o filho nos braços e o entregava a ela.

— Bebê! — Willow se esqueceu, por um momento, do quanto estava cansada, deliciada com o irmãozinho, finalmen­te acordado, e com suas próprias cordas vocais, já que recen­temente começara a cantar.— Bebê, bebê, bebê! — E ela su­biu na cama, e por cima do cateter, chegando perigosamente perto de uma incisão cesariana, e então sufocou o irmão com beijos e germes, seguidos de mais beijos babados.

Depois, Logan ganhou um beijo do papai.

E então, Demi ganhou um beijo de uma Willow repenti­namente carente e chorosa.

Havia amor quase demais ao redor, Demi pensou, à beira das lágrimas também.

— Eu vou levá-la para casa — Joe disse a Demi.

Ele havia percebido as lágrimas nos olhos dela, e compre­endeu. Ele sabia quando ela precisava dele, mesmo quando ela não admitia. E sabia quando ela precisava ficar sozinha.

As parteiras entraram na hora em que ele estava beijando Demi, mas estava tudo bem, porque haveria tempo para mui­tos beijos mais tarde, ela precisava de mulheres experientes perto dela, agora.

Aquela noite era o momento de Demi conhecer Logan.

Joe compreendia isso.

Aquela noite era o momento para Demi descobrir que ti­nha muito a oferecer.

— Aperte o botão... — Ele entrou no elevador, e guiou a mãozinha de Willow para o botão "T", mas ela conseguiu er­rar e eles foram para a cobertura do prédio!

— Você é tão imprevisível quanto a sua mãe! — ele bufou.

— Papai! — Ela havia dito a palavra muitas vezes antes, mas disse de novo, começou a cantar, e continuou durante todo o caminho até o estacionamento, enquanto ele a colocava na cadeirinha, e a levava para casa. — Papai, papai, papai!

Ele era dela, e ela era dele, e que ninguém nunca dissesse nada em contrário.

Ele preparou o leite para ela, colocou Willow no berço, deu-lhe um beijo de boa-noite e ligou o móbile.

Depois, ele telefonou, para tios e tias, primos e primas, ami­gos e amigas, e apagou o texto que queria mandar para Demi, para não perturbar o sono dela, ele diria a ela pessoalmente, pela manhã.

Então, ele foi checar como estava Willow, mudou de ideia, e mandou o texto para Demi.

Willow dormindo. Dê um beijo no Logan. Eu amo você.

E no meio de uma tentativa frustrada de amamentar um bebê zangado e faminto, com seios doloridos, uma parteira sorriu e estendeu o telefone para Demi. Ela leu o texto, mas não o respondeu. Ele já sabia que ela o amava, e ela fez o que Joe havia pedido. Ela se inclinou e encostou os lábios na testinha franzida, acalmando a irritação do bebê, e sentiu o coração der­reter quando Logan se aconchegou mais a ela, e, depois de uma pequenina pausa, Demi começou a confiar novamente. Sen­tiu o peso doce de um novo bebê em seus braços, e queria aqui­lo, podia fazer o certo, estava fazendo o certo agora...

Era realmente bastante simples.
O amor cresce, se você deixar.
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aqui ta o epílogo e agr oficialmente acabou :c vou sentir sdd e vcs? amei essa história ♥ comentem para a sinopse! Beijos, Bruna.

5 comentários:

  1. Ooooonwt que perfeito s2

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  2. Q fofo, vou sentir saudade.
    Essa fic foi mto fofa, amo historias com bebê

    -Nathalia-

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  3. Muito fofo esse final..., com gostinho de quero mais.... Curiosíssima para a próxima história.... postaa....

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  4. Lindooooooo!!!! Apaixonada por essa fic. Qual vai ser a próxima?

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