~
Joe não se
preocupava.
Ele ficava
apreensivo por seus pacientes de vez em quando, mas preocupação não era com
ele.
O pior dia
da vida dele acontecera havia muito tempo, e ele sabia que as coisas jamais
poderiam ficar tão ruins novamente, consequentemente, ele apenas seguia em
frente. Não se afligia, nem ficava se remoendo ou se preocupava.
Ele não se
preocupava fazia anos.
Mas agora
havia alguma coisa lhe incomodando, e, ainda que tentasse ignorar o fato, o
incômodo persistia.
Era apenas o
segundo dia dele no Hospital Bay View, e haviam aberto a porteira.
Uma pessoa
afogada havia sido trazida às pressas, assim como as vítimas de um
engavetamento na estrada à beira-mar. Estava fazendo mais de 40
graus, e as pessoas estavam desmaiando por toda a parte. Era mais um daqueles
dias em que todos se esforçavam para dar conta do trabalho, e trabalhavam até o
limite e além.
Inclusive
Demi.
Ele podia
ver os tornozelos dela inchando à medida que o plantão prosseguia, a
observava expirando pesadamente pela boca e suas faces vermelhas, enquanto ela
esvaziava mais um carrinho e o preparava para a interminável lista de
recipientes, podia ver o esforço nos movimentos dela, e, então, finalmente, a
expressão de puro alívio em seu rosto às 3:30 da tarde, quando o plantão
dela acabou. Enquanto a observava caminhar trêmula, gostando ou não, Joe
estava preocupado.
— O que
você vai fazer esta noite? — Belinda estava digitando
rapidamente em seu computador. No final da casa dos 30, e absolutamente
estonteante, ela era também inteligente. Com cabelos negros compridos, tinha
olhos castanhos amendoados, lábios vermelhos e grossos, e se vestia como se
tivesse acabado de sair de uma capa de revista.
Felizmente,
felizmente mesmo, Joe não se sentia nem um pouco atraído por ela, o que significava
que não havia problemas em dividir uma sala minúscula e que eles podiam conversar
com facilidade sobre as coisas, o que faziam naquele momento, enquanto Joe
encerrava seu expediente e arrumava sua maleta. Era apenas o segundo dia de
trabalho dele, e a papelada já estava se acumulando.
— Eu
vou dar uma parada no escritório do corretor de imóveis, e então vou até a delicatessen para
comprar uma salada de galinha em vez de um hambúrguer — Joe pensou
por um momento —, e depois eu vou me obrigar a ir correr esta noite. E
você?
— Eu
vou te mostrar... — Ela sorriu maliciosamente. — Venha cá.
Curioso, Joe
foi até a mesa dela e olhou para a tela do computador, deparando-se com a
imagem de um homem de aparência bem comum.
— Clínico
geral, perto dos 40, tem filhos, mas não quer envolvê-los ainda...
— Como? — Joe
não fazia ideia do que ela estava falando.
— Isso é bom — disse
Belinda. — O último cara com quem eu saí levou os filhos no
segundo encontro! Nós conversamos pelo telefone — Belinda explicou
para um divertido Joe —, e ele parece ótimo, nós vamos sair para
tomar um café esta noite.
— Você tem
um encontro com ele?
— Café. — Belinda
riu. — Você deveria tentar, faria o maior sucesso!
Joe sacudiu
a cabeça.
— Namoro
via internet não é para mim.
— Não
descarte a possibilidade antes de tentar.
— Tome
cuidado. — Joe franziu as sobrancelhas. — Você não
deveria levar alguém quando for encontrá-lo? Ele pode ser qualquer tipo de
pessoa!
— Ele é exatamente
quem diz ser. — Belinda deu uma piscadinha. — Eu verifiquei
a ficha dele.
— Bem,
boa sorte.
O corretor
de imóveis estava sendo gentil com Joe novamente, ele havia ficado um tanto
chateado no começo quando Joe não comprara o apartamento, mas obviamente havia
superado aquilo e era o melhor amigo de Joe de novo, agora que tinha um
genuíno cliente em potencial para a casa.
— Eu
posso dar uma olhada? — Joe perguntou.
— Não
até abrirmos para visitação no final de semana — disse o
corretor. — Depois disso, eu posso marcar uma visita particular para
você.
— Na
verdade, eu estou trabalhando neste final de semana — disse Joe —,
então não se preocupe.
— Mas
você vai vir dar uma olhada? — o corretor perguntou, ansioso.
— Como
eu disse... — Joe deu de ombros. — Eu estou trabalhando,
mas isso não é um problema, realmente. Na verdade, eu vou visitar
outra casa esta noite.
Aquilo
certamente fez com que o corretor pegasse o telefone. Uma visita particular
foi marcada em menos de uma hora, e Joe andou à vontade pela casa que
estava pensando seriamente em chamar de lar. Seria preciso muito trabalho, a
cozinha estava um desastre, e o banheiro do andar de baixo teria que ser
totalmente refeito, mas o quarto principal já havia sido reformado, com
janelas que iam do chão ao teto com uma vista espetacular da baía, e um
banheiro fantástico. Sim, a casa era grande demais para uma pessoa, mas ela
simplesmente parecia ser a escolha certa. Ele poderia reformá-la, pensou Joe,
fazer tudo bem devagar, reconstruir a cozinha, organizar o quintal... De pé no
quarto principal, olhando pela janela para a baía, Joe sentiu o primeiro sopro
de contentamento em anos, a primeira, primeiríssima sensação de como estar em
casa deve ser, finalmente. Apesar de sua indiferença com o corretor, apesar de
ter sacudido a cabeça ao descobrir o preço da casa e que o proprietário queria
um acordo rápido, ele estava apenas jogando o jogo necessário. Joe mal podia
esperar pelo leilão.
Uma onda de
calor atingiu Joe quando ele abriu a porta de seu apartamento. Ele abriu as
janelas, ligou um ventilador e colocou seu jantar na geladeira, então, tirou a
roupa e rezou para que o chuveiro estivesse frio naquela noite, o que felizmente
aconteceu.
Depois de
tomar banho, vestiu shorts e foi para a cozinha. De repente, sem aviso,
ouviu-se um ruído longo, como um rosnado, e tudo parou.
Aquilo
estava acontecendo em todo lugar em Melbourne: quedas de energia todas as
noites, por causa dos sortudos que tinham ar-condicionado e, egoisticamente,
ligavam os aparelhos no máximo. Joe tinha apenas um ventilador, que agora,
obviamente, não estava funcionando. Ele foi até o lado de fora para checar
os fusíveis, só para garantir que o problema não era só dele, e
olhando para a fileira de unidades da rua, viu Demi fazendo a mesma coisa.
Ela vestia
um par de shorts lilás desta vez, e uma blusa preta sem mangas. O cabelo dela
estava molhado, e ela parecia bastante irritada.
— De
novo! — Ela revirou os olhos, acenou de leve para ele, e voltou para
o que certamente se tornaria uma fornalha em breve, ao contrário do apartamento
dele, o de Demi tinha a vantagem questionável de receber todo o sol da tarde.
E foi então
que aquele incômodo o atingiu de novo: uma sensação estranha, há muito
tempo esquecida, que lhe deu um frio no estômago enquanto abria a geladeira às
escuras e retirava as embalagens plásticas que trouxera da delicatessen,
um estranho sentimento de preocupação por uma pessoa.
Joe não
queria vizinhos que aparecessem à sua porta sem aviso e, certamente,
jamais imaginara que seria um vizinho que fizesse uma coisa dessas, mas lá estava
ele, na soleira da porta dela. Ela atendeu segurando uma tigela de cereal e
estava claramente aborrecida com a invasão, mas tentava ser educada.
— A
eletricidade deve voltar em... algumas horas, isto anda acontecendo bastante
ultimamente — disse Demi, fechando a porta. Ela não estava realmente
irritada com ele, e não queria parecer rude, estava simplesmente tentando
ignorar o fato de que ele vestia apenas um par de shorts. O que era normal, obviamente,
no meio de uma onda de calor. Se ele tivesse chegado dois minutos mais tarde,
ela mesma teria que se vestir novamente antes de atender a porta!
A visão do
corpo dele exposto a fez corar mesmo assim, e ela não queria que ele
percebesse.
— Você já jantou? — ele
perguntou para a porta que se fechava, e ela fez uma pausa, olhando de forma
culpada para a tigela de cereal, que provavelmente não era a melhor opção de
jantar para uma mulher nos últimos meses de gravidez, e imediatamente se colocou
na defensiva.
— Não
dá para cozinhar sem eletricidade.
— Não
precisa, eu tenho bastante. — Ele mostrou os pratos, para tentá-la. — Vamos
comer na praia, é bem mais fresco lá.
E era. Havia
uma brisa deliciosa vinda do sul, e enquanto Demi caminhava na areia à beira-mar,
Joe podia praticamente ouvir o chiado quando os tornozelos vermelhos e inchados
dela tocavam a água.
— Eu
devia ter vindo para cá mais cedo. — Demi deu um suspiro de
alívio. — Eu sempre tenho vontade de vir, e fico tão feliz quando
chego aqui...
— Eu
também. — Joe sorriu, e era tão bom, depois de um dia tão agitado,
simplesmente caminhar e não ter que dizer muita coisa, apenas observar os
cachorros, os barcos, os casais... simplesmente ser. E depois sentar.
Galinha ao
molho de estragão e maionese, com salada grega, era certamente muito, melhor
que cereal, e acompanhada de uma salada de frutas frescas, era praticamente a
refeição mais saudável de toda a gravidez dela. O bebê deu um chute
satisfeito quando ela se recostou novamente.
— Estava
delicioso, obrigada!
— De
nada. — Joe engoliu em seco, sentindo-se desconfortável. — Olhe,
me desculpe se eu destratei você no trabalho.
— Você não
fez nada disso — Demi disse, franzindo a testa.
— Fiz,
sim — disse Joe —, ou melhor, eu não deixei claro que nós já nos
conhecíamos.
— Está tudo
bem.
— Eu só gosto
de manter as coisas separadas do trabalho...
— Está tudo
bem — disse Demi. — Esta noite nunca aconteceu. — Ela
se virou para o lado onde ele estava, e sorriu para ele. — Você está gostando
do seu novo emprego?
— É bom — Joe
assentiu com a cabeça.
— Você morava
em Sidney antes? — Demi resolveu verificar, porque tinha ouvido Meg
comentar a respeito.
— Morava. — Joe
não deu mais detalhes. — Quanto tempo faz que você trabalha lá?
Ela não
respondeu por um momento, porque estava ocupada em se acomodar novamente na
areia, fechando os olhos de puro prazer.
— Quase
três meses. — Ela entreabriu um dos olhos. — Eu não acho
que eles ficaram particularmente felizes quando eu apareci para meu primeiro
plantão.
Felizmente,
ele não era politicamente correto o bastante para fingir que não tinha idéia do
que ela estava falando. Em vez disso, ele simplesmente sorriu, e Demi fechou
aquele olho e finalmente, finalmente, finalmente relaxou.
— Meu
Deus, isto é bom. — Ela suspirou, depois de cinco minutos
de um confortável e delicioso silêncio.
E a vista
também é boa, pensou Joe, muito boa, sem dúvida. Os cílios dela
tocavam suas faces de leve, os joelhos dela estavam levantados, e sua barriga
parecia se mover como se tivesse vontade própria... como a de Jennifer, pensou
Joe, e então interrompeu aquele devaneio abruptamente.
— Então,
não existe um Sr. Mitchell? — ele perguntou.
— Não. — Os
olhos dela ainda estavam fechados.
— Você tem
algum contato com ele, o pai do bebê?
— Não.
— Ele
sabe? — Joe perguntou, embora não fosse da conta dele. — Quero
dizer, ele está ajudando você?
— Ele
achou que estava ajudando — disse Demi. — Ele me deu
dinheiro para fazer um aborto.
— Oh! — Joe
olhou fixamente para ela.
— Eu
estava na residência de obstetrícia quando descobri que estava grávida, e havia
bebês por toda a parte... não que isso tenha feito com que eu quisesse um, eu
fiquei apavorada, na verdade, mas...
— Você não
precisa me contar mais nada, se não quiser.
Mas ela
queria, deitada ali, com os olhos fechados, perdida e sozinha e realmente,
realmente confusa. Talvez, como todos diziam, falar ajudasse a clarear suas
ideias. Valia a pena tentar, de qualquer modo, porque a ioga certamente não
havia funcionado!
— Ele é casado. — Ela
abriu os olhos então, e fechou-os de novo, e mesmo naquele pequenino espaço de
tempo ela viu a expressão dele mudar. Foi aquele momento em que você é julgada,
opiniões são formadas, e a outra pessoa presume saber tudo sobre você. — Eu
não sabia disso, não que isso mude alguma coisa.
— Vocês
ficaram juntos por muito tempo? — Ele quis saber.
— Três
meses. — Demi fungou. — Ele foi o meu primeiro,
verdadeiro... Eu simplesmente acreditei nele. Quero dizer, eu sabia porque não
saíamos com tanta frequência, e porque não podíamos frequentar a casa um do
outro...
— Como?
— Não
importa — ela resmungou.
— Então,
para onde vocês iam?
— Passear
de carro, jantar, um hotel de vez em quando... — Ela olhou nos olhos
verdes e límpidos dele.— Ele é um pouco mais velho do que eu,
bem mais velho, na verdade — Demi disse, e então ficou quieta por
algum tempo.
Certo ou
errado, ele a estava julgando, estava tentando não julgar, mas não conseguia.
Por que as
pessoas não pensavam? Por que as pessoas eram tão descuidadas?
E agora
havia esse bebê...
Ele fechou
os olhos e pensou em Jennifer, nos planos que eles tinham feito, em quanto eles
haviam desejado um filho, e embora ele não dissesse uma palavra, ela podia
sentir a censura dele.
— Então,
você nunca cometeu um erro? — ela disse, na defensiva.
— Eu
cometi muitos — ele admitiu.
— Mas
nenhum caso, nada de que você se arrependa.
— Oh,
eu me arrependo de muita coisa — disse Joe.
— Você é solteiro,
divorciado... — Ela soava como o questionário no site de
relacionamentos de Belinda, e ele se encolheu por dentro.
— Viúvo — ele
disse, e então foi a vez dela de julgar, Joe sabia: ele já havia passado
por aquilo muitas vezes.
— Você sente
muitas saudades dela? — ela perguntou, gentilmente.
— Sinto — Joe
admitiu, e foi o suficiente. Ele deixou um pouco de areia escorrer por entre
seus dedos, concentrando-se nos pequeninos grãos em vez de em si mesmo, e então
olhou para o relógio.
— A
eletricidade já deve ter voltado, à esta hora.
— E se
tiver voltado? — Demi sorriu. — Eu estou gostando da
conversa... você estava me contando como sente falta dela.
Deus, ela
era insistente. Ele realmente deveria se levantar e ir embora, mas ela havia
confessado tanto sobre si mesma, e, pegando outro punhado de areia, ele deixou
que os grãos lhe escorressem pelo punho cerrado e admitiu um pouco da verdade.
— Eu
sinto saudades por Jennifer, também. — O silêncio de Demi era
paciente. — Ela amava viver. —Ele olhou para a água e quase
pode ver o rabo de cavalo louro dela balançando enquanto ela corria. — Ela
estaria certamente correndo ou nadando agora, achando um tempo para fazer
exercícios depois do trabalho.
— Ela
se mantinha em forma?
— Perfeita
forma. — Joe assentiu, mas havia um pensamento dolorido ali porque,
apesar de Jennifer fazer tudo certo, apesar de seu estilo de vida saudável, no
final nada havia adiantado.
— O que
ela fazia?
— Ela
também era médica, da Emergência.
— O que
aconteceu? — Demi perguntou, mas Joe sacudiu a cabeça, sem querer
comentar o assunto.
— Vamos. — Já era
realmente hora de ir, e não somente porque ele não queria falar sobre aquilo.
Ele estava fazendo um favor a ela. Uma mulher no estado de Demi não precisava
mesmo ouvir como Jen havia morrido. Então, ele segurou as mãos dela e ajudou-a
a se levantar, e eles caminharam lentamente de volta, conversando
distraidamente sobre isso e aquilo, até Demi encontrar uma brecha
novamente.
— Você saiu
com alguém de novo... quero dizer, desde...?
— Ela
morreu há três, quase quatro anos — Joe disse, respondendo à pergunta
não formulada.
— Oh.
— Eu
tive alguns encontros. — Ele deu de ombros. — Embora
provavelmente fosse muito cedo.
— Você ainda
as compara com ela? — Demi perguntou, indo diretamente ao ponto até onde
ninguém mais ousava ir, mas Joe simplesmente ignorou a pergunta e, feliz com a
distração, abriu os portões que davam para os apartamentos, mas Demi esperou
pacientemente.
— Ainda? — ela
perguntou.
— Como?
— Você compara
as outras mulheres com ela?
Ela era uma
coisinha insistente, como um pequeno pica-pau, bicando a madeira, bicando...
— Eu
costumava comparar — Joe admitiu. — Mas não agora, não é justo
para ninguém.
— Principalmente
porque ela parece ter sido a Supermulher — Demi resmungou, è a
resposta dela foi tão divertida que Joe sorriu. — Então — ela
pressionou —, você está pronto agora?
— Talvez,
mas não para nada sério.
— Oh,
eu tenho certeza de que vai haver muitas candidatas. — Demi sorriu.
Afinal, ela havia ouvido as risadinhas e fofocas no vestiário, Joe poderia
escolher quem quisesse!
— E
você? — Eles estavam sentados nos degraus do apartamento dela agora,
a conversa e a amizade muito recentes, muito frágeis para correr o risco de
quebrar se ela o convidasse para entrar. E, de qualquer forma, a energia ainda
não havia voltado, então eles se sentaram nos degraus e começaram a se conhecer
um pouco melhor.
— Eu
não estou exatamente em condições de namorar. — Demi revirou os
olhos. — Você pode me imaginar saindo para dançar?
— Acho
que não!
— E eu
ainda estou naquela fase "todos os homens são cachorros".
— Provavelmente, é uma
opção bastante inteligente nessa fase — Joe concordou. — Eu
mesmo tenho sido um pouco cachorro ultimamente.
— Conte-me
tudo! — Ela realmente o fez rir, de tão ansiosa que estava por uma
fofoca, e era tão fácil conversar com ela que, sem saber exatamente como, ele
começou a falar:
— Eu
estava saindo com alguém, ela era ótima, mas embora eu tenha sido franco
com ela desde o começo...
— Ela
não quis ouvir? — Demi completou por ele.
— Ela
ouviu no começo, disse que queria a mesma coisa que eu... e então, bem, o
relacionamento ficou mais sério. Ela começou a dar indiretas, dando a entender
que queria coisas diferentes. — Ele olhou para os olhos castanhos e
sorridentes dela. — Como morar juntos.
— E não
era assim para você? — ela perguntou, espertamente.
— Talvez
algum dia, mas ela também começou a falar sobre filhos. E de uma coisa eu tenho
certeza, eu não quero filhos.
— Nunca?
— Nunca — ele
respondeu, enfaticamente.
Ela entendeu
o recado, e na verdade se sentiu agradecida por ele. Oh, eles mal se conheciam,
mal haviam arranhado a superfície, mas havia certamente, se não uma atração
imediata, pelo menos uma aguda consciência do outro. O que era algo que ela
não havia sentido em muito tempo, algo que estava certa, depois do modo com
que Dean a havia tratado, que jamais sentiria novamente. Mas sentada ali,
olhando para os olhos verdes de Joe, ouvindo as palavras dele, Demi de repente
percebeu que ele sentia a mesma coisa. Que ele estava lendo cuidadosamente as
regras de qualquer relacionamento em potencial, se eles decidissem investir em um.
— Nós
não podíamos ser menos compatíveis, realmente — Demi disse, depois de
um momento de pausa. — Eu não estou procurando um relacionamento,
você não está procurando um relacionamento sério, e... — ela deu uns
tapinhas na barriga enorme — isto não é uma hérnia!
— Eu já tinha
percebido! — Joe sorriu. — Então, que tal sermos apenas
amigos?
Ela olhou
para os olhos verdes dele, e desta vez não corou. Oh, ela estava com uma
quedinha adolescente por ele, que mulher heterossexual não teria? Mas seu coração
estava machucado demais, seu ego muito abalado, e sua alma muito frágil para
sequer pensar em seguir em frente mais uma vez. Era simplesmente agradável ter
um adulto com quem conversar. O mundo dela havia mudado tanto, e somando o fato
de sua família não falar mais com ela com sua luta em se encaixar no novo
curso, era simplesmente bom, muito bom, ter Joe em sua vida, falar com uma
pessoa em vez de olhar mecanicamente para a televisão. Um amigo seria
maravilhoso. E ele ainda ficou mais um pouco. Demi entrou em casa e trouxe dois
copos de água, e então ficou brincando com margaridas enquanto eles
conversavam, desfolhando-as com os dedos, juntando-as, e quando ela não estava
olhando para ele, era mais fácil para Joe falar.
— Você sabe,
eu tinha tudo com Jen... — Ele passou os dedos pelos cabelos,
tentando resumir como se sentia, porque era tão fácil conversar com ela. Talvez
porque ela não tivesse conhecido Jen, talvez porque os olhos dela não se
enchessem de lágrimas, como os dos amigos e familiares dele, quando ele falava
sobre ela, ou porque ela não lhe lançasse olhares de reprovação velada com os
esforços fracassados dele de seguir com a vida. — Eu não quero tentar
recriar o que tive... não quero a mesma coisa com outra pessoa. Eu já passei
pela experiência, e já sei como é.
— Sorte
sua, então. — Joe piscou os olhos com a resposta. Realmente, ele
podia ser qualquer coisa, menos sortudo, mas pensando bem, sim, ela estava
certa, ele tinha tido sorte de ter Jen em sua vida por algum tempo. — Eu
daria tudo para poder dizer para este pequenino que o pai dele e eu estávamos
apaixonados.
— Vocês
estavam? — Joe perguntou.
— Eu
achava que sim. — Ela deu de ombros. — Mas olhando em
retrospecto, era só uma atração, eu acho... e me parece que você teve
a coisa real.
Ele não
respondeu, porque naquele momento o som da televisão dela quase estourou as
janelas do apartamento, e aplausos se ouviram da unidade ao lado, enquanto a
eletricidade voltava ao normal.
— Eu
preciso trabalhar um pouco... — Joe se levantou.
— Bem,
obrigada pelo jantar... — Demi sorriu. — E o bebê agradece,
também.
— De
nada.
— Eu me
ofereceria para retornar o favor, mas estou tendo problemas em fazer o jantar
para uma pessoa só no momento — ela disse, ironicamente.
— Eu
não esperava que você o fizesse.
Ele não
esperava nada dela. Demi sabia, assim como Joe.
Mas, na
noite seguinte, quando ele chegou à casa, depois do trabalho,
encontrou vasos de girassóis em sua porta, a maneira dela de agradecer, ele
imaginou.
— Eu
tenho boas notícias pra você — disse Joe, ao bater à porta dela.
— Eu
estou precisando. Entre — ela convidou,
— Tiraram
os tubos de Matthew esta noite — Joe explicou, seguindo-a até a
pequena cozinha. — Ele está indo muito bem, e eles esperam poder
transferi-lo da UTI pela manhã. Aquelas eram boas notícias!
— Poderia
ter sido uma história bem diferente. Belinda não para de me dar tapinhas nas
costas, e até o consultor de neurologia foi à Emergência para
dizer "Bom trabalho". Eu disse a eles que o crédito é todo
seu.— Ele observou o rosto dela ficar corado com o elogio. — Eu
sei que é difícil decidir entre esperar para ver ou chamar por ajuda.
— Pode
ser — Demi admitiu, tirando uma jarra enorme de chá gelado do
refrigerador e servindo copos altos para os dois. — Quero dizer, você não
quer parecer um idiota, ou reagir exageradamente a qualquer coisa...
— Exagere! — Joe
disse, simplesmente. — Pelo menos por enquanto, até você acumular
mais experiência e enquanto o seu "botão dos palpites" estiver
funcionando direito.'
— "Botão
dos palpites"? — Demi franziu as sobrancelhas ao ouvir o termo
estranho. — O que é isso?
— Quando
você tem um palpite sobre alguma coisa, quando você tem certeza...
mas não certeza absoluta.
Ela já tinha
percebido o que ele ia dizer antes mesmo de ele explicar, mas enquanto ele
explicava, ela sentia o tom cor-de-rosa de suas bochechas chegar mais perto do
vermelho, consciente de que ele não estava exatamente olhando nos olhos dela.
O "botão dos palpites" dela estava funcionando, mas por motivos
diferentes agora, e ela o desligou rapidamente.
Ela
definitivamente não ia desenvolver uma paixonite por outro colega de trabalho!
Olhe só onde
aquilo a havia levado.
E era bom
ter um amigo.
Eles se
sentaram na pequena sala de estar, assistindo à "pesagem"
no programa favorito dela, enquanto Demi resmungava que deveria ser uma
candidata. Joe estava mais do que um pouco desconfortável, e tentava não
demonstrar, ele podia ver a pilha de roupinhas de bebê dobradas
perfeitamente em cima da tábua de passar, e embora ainda faltassem semanas para
o parto, havia um cheirinho suave de bebê na casa, o que provavelmente
tinha a ver com a loção de bebê que Demi estava passando nas mãos, mas
ainda assim... Então, ele foi buscar a jarra de chá gelado e, quando
voltou, encheu o copo que ela estava segurando, e ele não seria um ser humano
se não tivesse percebido o decote dela, teria que ser cego para não notar. Joe
não era exatamente o tipo de homem que prefere seios, mas os dela eram tão
voluptuosos que ele sentiu, de repente, como se tivesse levado um chute na
virilha, com o desejo que não lhe era mais familiar.
Então, ele
se sentou. Ele percebeu que não conseguia mais sentir aquele cheirinho de bebê,
apenas o perturbador cheiro de Demi. A sala estava quente demais, e obviamente
ela repetia automaticamente o gesto de levantar os braços e segurar os cabelos
no alto da cabeça, enquanto continuava a falar, então os cabelos lhe caíam
sobre os ombros de novo, e ela levantava os braços mais uma vez.
— Eu
preciso ir...
— Já? — Demi
disse, mas então eles continuaram a conversar, sobre isto e aquilo, e de
repente já passava das dez horas da noite. Olhando para ele, parado perto da
porta e se preparando para realmente ir embora desta vez, Demi se flagrou pensando
que tinha tido a melhor noite dos últimos tempos.
Tinha sido
bom demais, até.
Porque entre
todas as coisas idiotas que ela poderia estar pensando, estava mesmo era
imaginando como seria receber um beijo de boa noite dele.
Pensando no
que faria se àquela boca maravilhosa chegasse um pouco mais perto.
— Obrigado
pelas flores, a propósito. — Joe quebrou a linha de pensamento dela. — Você não
precisava ter feito aquilo.
— Não
foi um problema.
— Não,
você realmente não precisava. — Joe sorriu. — Elas
estarão mortas em dois dias, eu vou esquecer de regá-las.
— Eu
não vou. — Demi sorriu de volta, — Apenas aproveite.
Foi um
alívio fechar a porta às costas dele!
~
Mais um para vcs! Td bem? Eu estou bem <3 Meninas, infelizmente n da p fazer maratona com essa fanfic pq ela é mt curtinha! Vou conversar com a Mari para pensarmos em uma maratona... Bom, comentem! Quanto mais comentários, mais rápido o próximo cap estará postado para vcs, haha' Beijos, Bruna.
Mais um para vcs! Td bem? Eu estou bem <3 Meninas, infelizmente n da p fazer maratona com essa fanfic pq ela é mt curtinha! Vou conversar com a Mari para pensarmos em uma maratona... Bom, comentem! Quanto mais comentários, mais rápido o próximo cap estará postado para vcs, haha' Beijos, Bruna.
Eu to apxxx 😍😍 lindaa!! Mabsks
ResponderExcluirTo amandoo, viciei nessa fic. Maaaais pf
ResponderExcluircontinua, MT perfeita <3
ResponderExcluirTa maravilhoso s2
ResponderExcluirVc sumiu ! Poste plllz
ResponderExcluir