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Ele
provavelmente deveria ter ido visitá-la.
Tentado
consertar as coisas.
Voltado ao
ponto "apenas amigos".
Mas era
tarde demais para isso, agora.
O outono
estava chegando. Todas as noites, o vento arrancava mais algumas pétalas dos
girassóis. Chegando à casa do trabalho, quase uma semana depois, e
cansado das lembranças constantes, Joe arrancou as flores do vaso e jogou-as no
lixo reservado para material orgânico. Centenas de sementes se espalharam pelo
jardim quando ele fez isso, e Joe rangeu os dentes. Que jeito ótimo de
esquecer! Se ele não apanhasse as sementes, ele precisaria de uma foice no ano
seguinte, só para chegar à porta da frente!
Ela estava
em toda parte.
Em sua
cabeça, em seus sonhos, e enquanto ele entrava em casa e subia as escadas para
trocar de roupa, seus olhos se dirigiram para a praia, para onde ele havia
visto Demi pela primeira vez, e não para a fotografia de Jen na mesinha de
cabeceira.
"O que
eu devo fazer?" Ele apanhou o porta-retratos de prata e olhou para os
olhos claros de sua esposa, e desejou ter apenas mais dois minutos com ela.
Dois minutos
dos conselhos lógicos e práticos dela, o que era uma coisa idiota de se
desejar, como se ele pudesse perguntar a Jen como agir com Demi!
Ele queria
que ela lhe mandasse um sinal, um pequeno sinal, mas nem sequer sabia o que
estava pedindo. E então ele olhou para a fotografia inteira, e não apenas para
o rosto de Jen. Joe correu o dedo sobre a barriga dela, onde o bebê deles
vivera, tocou-a através do vidro, tocou o que nunca, nunca pudera segurar nem
por uma única vez. Mas não havia tempo para lamentações. Ele tivera
visitas naquela noite, o que já havia sido difícil, e depois ele fora chamado ao
hospital para lidar com uma emergência às dez horas da noite. Ele pôde
ouvir a música muito alta que tocava na casa dos vizinhos de Demi quando passou
pela unidade dela, e, apesar de suas melhores intenções, aquilo foi difícil de
ignorar. Contudo, ele continuou a dirigir com determinação, esperando que a
festa acabasse logo, ou que ela tivesse levado Willow para a casa dos pais.
Certamente, uma festa na casa ao lado era a última coisa de que uma mãe
recente precisava, poucos dias depois de trazer o bebê para casa.
Mesmo assim,
não era problema dele agora.
— Eu
sinto muito! — Belinda olhou para ele em meio ao setor de
ressuscitação lotado, enquanto Joe abria caminho. — Eu acabei de lhe
enviar uma mensagem dizendo que não estamos mais precisando de você.
— Você tem
certeza? — Joe perguntou, porque o lugar estava movimentadíssimo.
— Nós
recebemos um aviso de dois traumas múltiplos — Belinda explicou — além
dessa montanha de pacientes, e eu pensei que podíamos chamar alguma ajuda
extra, embora você não esteja de prontidão.
— Onde
estão as vítimas de trauma?
— Uma
morreu a caminho, e á outra não está seriamente ferida. Eu vou
ligar para os pais, quem quer ter filhos adolescentes? Talvez eu devesse ter
esperado antes de chamar você.
— E
sempre melhor não esperar para ver. — Joe realmente não se importava
de ser chamado, aquilo era parte de seu trabalho. — Eu vou te
ajudar, agora que estou aqui.
— Não,
não vai — Belinda retrucou, examinando alguns raios-X no computador. — Vá dormir
um pouco, esta é apenas uma noite normal de sexta-feira.
— Eu
realmente não me importo — ele insistiu.
— Mas
eu me importo — Belinda disse. — Você vai me
substituir amanhã, lembra?
— Ah,
sim!
— E eu
realmente espero que você não precise me chamar. — Ela piscou
para ele.
— Vai a
algum lugar especial? — ele perguntou.
— Um
hotel fabuloso na cidade. — Belinda sorriu. — A milhares de
quilômetros de distância daqui.
— Você e
Paul estão bem, então?
— Com
certeza. Você sabe, Joe, que não devia descartar a possibilidade da
internet.
Joe
simplesmente grunhiu, ela jamais desistiria.
— Tudo
bem, então, vou voltar pra casa. Mas avise se você precisar de ajuda.
Ele, na
verdade, preferiria estar trabalhando, gostaria que Belinda lhe tivesse
entregado uma pilha de prontuários e pedido a ele que cuidasse dos pacientes,
porque ao virar para a sua rua, em vez de diminuir a velocidade, ele acelerou
um pouco e ligou o rádio do carro. De fato, o que quer que estivesse
acontecendo nos apartamentos não era problema dele. Havia festas quase todas as
noites, e ele não poderia estar sempre verificando se Demi estava bem...
Um grupo de
adolescentes estava saindo para a rua, e apesar do volume do rádio do carro
estar alto, ele podia ouvir o barulho da música. Embora ele tivesse passado
direto, sentindo arrependimento, mesmo remorso, ele fez um giro de 180 graus,
piscou os faróis para os idiotas bêbados, e estacionou. Abrindo o portão e
aproximando-se da casa dela, ele percebeu que as luzes estavam acesas. Ouvindo
os gritos de Willow, ele bateu na porta.
Quando não
houve resposta, Joe imaginou o quanto ela deveria estar assustada.
— Demi — ele
chamou, durante um pequeno intervalo na música. — Sou eu, Joe.
— O que
você quer? — Ele podia ver que ela estivera chorando, quando
ela abriu a porta.
— Eu
ouvi o barulho quando estava chegando do trabalho. Você não vai conseguir
acalmá-la no meio dessa bagunça. Você deveria ter me ligado...
— Você não
estaria em casa — Demi observou, mas apesar da resposta atravessada,
ele podia ver que ela ainda estava à beira das lágrimas. — É só uma
festa...
E era, uma
festa muito barulhenta, mas na casa vizinha havia um bebê recém-nascido e
uma mãe recente, que não precisavam realmente daquilo, naquela noite.
— Eu
não consigo alimentá-la, e as enfermeiras disseram que ela tem que mamar a cada
três horas, pelo menos — ela disse, desesperada.
— Vamos — ele
disse. — Vamos pegar as coisas dela, e vocês duas podem dormir na
minha casa.
Ela ia dizer
não, ia fechar a porta, mas estava acontecendo uma briga na casa ao lado, e por
mais que ela não quisesse precisar de ajuda, naquela noite ela precisava.
— Por
favor, Demi... — Mesmo dentro do apartamento dela, a música estava
altíssima! — Arrume as coisas e venha ficar comigo esta noite — ele
pediu novamente.
Ela teria
protestado, mas estava aliviada demais. Ela não tinha certeza se era a sua
própria tensão ou o barulho que estavam incomodando Willow, mas depois de seis
semanas de cuidados afetuosos na unidade de terapia intensiva, Demi estava
assustada o suficiente só de estar sozinha com ela, sem o barulho e o caos
da casa vizinha.
Ela estava
tentando prender Willow na cadeirinha para levá-la para o carro, mas Joe tinha
outras ideias.
— Coloque-a
no carrinho. Vai ser mais fácil andar... e ela pode dormir nele.
Ela jamais
teria saído de sua casa, com a multidão da festa espalhada na rua, mas com Joe
ela se sentia segura. Ele empurrou o carrinho e o carregou pelas escadas,
enquanto Demi trancava tudo. Os portões que davam para as unidades já estavam
abertos, e com o braço dele em volta dela, eles caminharam em silêncio, para
longe do barulho, descendo a rua, e somente quando o som da música havia
desaparecido na distância, eles conversaram.
— Você deveria
ter chamado a polícia.
— E
fazer com que meus vizinhos me odeiem? — Demi disse, tristemente,
enquanto eles caminhavam. A lua estava quase cheia, e havia bastante luz, a
música era apenas um som abafado ao longe, e ela podia ouvir o som acolhedor
da água, agora. — Foi só uma festa... — ela disse
novamente.
— Aquilo
não é lugar... — Ele não terminou a frase, mas Demi sabia o
que ele ia dizer.
— É só o
que eu tenho condições de pagar, Joe — ela disse, baixinho.
— Eu
sei disso.
— Havia
uma casinha na cidade, por um preço parecido, eu devia tê-la alugado, mas
queria ficar mais perto da praia. O apartamento pareceu bom, quando eu o
inspecionei. Eu não pensei em pedir para vê-lo às onze da noite de uma
sexta-feira... — Ela tomou o carrinho das mãos dele, e começou a caminhar
mais rapidamente agora. Willow, cansada demais, ainda estava chorando, e Demi
estava irritada, com ele e com ela própria. Ela estava tentando com todas as
forças aguentar, fazer a coisa certa para sua filha, mas a cada curva do
caminho ela encontrava um obstáculo, a cada curva a vida lhe atirava outra
prova. — Eu estou fazendo o melhor que posso — ela disse,
quando chegaram à casa dele. — Mas tenho certeza de que
você não acha que é o suficiente...
— Eu
nunca disse isso! — Joe interrompeu.
— Não,
mas é isso que você pensa! — ela retrucou. Ela estava
zangada com ele, e sabia que não tinha motivos para estar. Não era culpa dele,
ele estava sendo extremamente bom com ela, mas a ordem da vida dele, a casa
dele, tudo a respeito dele parecia apenas aumentar as falhas dela.
— Por que
você não a alimenta? — Joe sugeriu, suavemente. Ele carregou o
carrinho com o bebê pelas escadas, e passando pelo espetacular quarto
dele, eles chegaram a um quarto de hóspedes bastante confortável, onde ele
travou o carrinho. — Descanse na cama, a vista é linda.
Você pode relaxar, acalmar Willow...
— ...e
a mãe dela... — Ela estava um pouco envergonhada com sua explosão.
Afinal de contas, ele não tinha culpa de como a fazia se sentir.
— Eu
vou deixar você à vontade — disse Joe. — Vou procurar
alguns lençóis para forrar a cama.
— Obrigada — ela
disse, constrangida.
— Desça
quando estiver pronta.
— Eu
preciso... — Ele estava se virando para sair, e ela o fez parar,
vasculhando a bolsa de Willow. —Há algum lugar onde eu possa
esquentar a mamadeira dela?
— Claro — ele
disse.
— Na
verdade... — Ela pegou no colo o pacotinho que era a sua filha que
soluçava. — Você pode segurar Willow para mim?
— Eu
esquento a mamadeira — disse Joe, com uma voz irritantemente calma,
que apenas a fazia parecer mais agitada. — Eu sei onde as coisas
estão.
Ele pegou a
mamadeira, e ela trocou a fralda de Willow, enquanto os gritos da menina
quadruplicavam. Ela queria berrar também. Demi sabia que ele estava esperando
que ela simplesmente deitasse na cama e colocasse o seio de fora, para
amamentar o bebê...
Ela se
sentia um grande fracasso, e estava tão perto de chorar que mal conseguiu
agradecer a ele quando ele voltou alguns minutos mais tarde, com uma mamadeira
quente. Ele ficou por perto por alguns momentos, enquanto ela se sentava
desajeitadamente na beira da cama, e pegava a mamadeira das mãos dele. Então, a
boquinha de Willow grudou-se ao bico da mamadeira, como se ela estivesse
passando fome há uma semana, e o único som que se ouvia no quarto era o
dos goles e soluços de um bebê extremamente cansado, que finalmente era
alimentado por sua mãe esgotada,
Embora
Willow estivesse devorando a mamadeira, ela continuou a pular e se agitar
enquanto mamava. Demi tirou as sandálias e deitou-se na cama, apertando Willow
mais perto de seu peito, mas sempre que estava quase relaxada, o bebê de
repente se agitava como se o barulho, a tensão, o pânico de sua mãe fossem
começar de novo.
Aquilo não
era algo estranho para Demi.
A festa
havia sido apenas a gota d'água. Durante os poucos dias em que ela estivera em
casa, depois de chegar do hospital, praticamente todas as vezes em que ela se
sentara para alimentar a filha sossegada, sua mãe havia "aparecido",
oferecendo todos os tipos de sugestões: "Troque a fralda dela
primeiro", ou "Troque-a depois que ela mamar", ou "Segure a
mamadeira mais alto", ou "Ela precisa arrotar". Cada uma das
bem-intencionadas sugestões de Rita servia apenas para exacerbar mais ainda a
tensão.
Demi queria
desesperadamente voltar para o hospital, queria estar alimentando Willow perto
da equipe experiente que lhe oferecia um incentivo discreto, ou mesmo levar o
bebê para o hospital durante a noite e voltar para casa, como havia feito
no domingo anterior, ela sentira saudades da filha, mas sabia que ela estava
sendo bem cuidada... não, que Willow estava sendo melhor cuidada do que ela
jamais conseguiria sozinha.
— Está tudo
bem, Willow, está tudo bem, Willow — ela disse suavemente,
várias e várias vezes, até que finalmente os pequenos saltos e pulos
pararam, e as lágrimas diminuíram. Demi teve uma sensação estranha de triunfo,
enquanto o bebê relaxava contra seu peito, ela quase tinha medo de se
mexer, enquanto Willow parava de resistir e ficava passiva, quase entorpecida,
aparentemente adormecida, irias ainda mamando.
Ela estava
realmente dormindo, Demi percebeu ao tirar a mamadeira vazia da boquinha de
Willow e observar suas pequenas pálpebras tremerem.
Dormindo tão
profundamente, que se a festa no final da rua se transferisse para o lado de
fora da janela do quarto, Demi tinha certeza de que Willow não acordaria.
E ela havia
feito tudo sozinha.
Ela nunca
havia estado tão sozinha com o bebê, e se sentido tão mãe, ao mesmo tempo.
Demi olhou
para as feições perfeitas de sua filha, as pequenas sobrancelhas escuras que
pareciam ter sido desenhadas a lápis, o pequenino nariz arrebitado, a boquinha
de botão de rosa, e pensou que seu coração iria explodir, de tanto amor que
sentia pelo seu bebê.
Um amor
assustador, que não tinha limites, e mesmo assim, ela se sentia tão
inadequada...
Aquele
fiapinho de vida era tão completa e totalmente dependente dela, e não deveria
haver espaço para nada mais na mente de Demi.
Mas havia.
Ela não
queria se mover, não queria colocá-la no carrinho. Ela só queria ficar
ali, segura na cama dele, abraçando o bebê, olhando para a baía, com Joe perto
o suficiente para ouvi-la chamando. Simplesmente se agarrar àquela
primeira sensação de paz.
"Não
adormeça segurando o bebê."
Ela podia
ouvir a voz de sua mãe como se Rita estivesse no quarto com elas.
E ela estava
certa, Demi pensou, suspirando, e gentilmente colocando Willow no carrinho.
Quando ela
desceu para o salão, Joe, esparramado em um dos sofás, desviou os olhos do
programa de televisão que estava assistindo e serviu uma taça de vinho para
ela.
Foi a
segunda e pequenina sensação de paz para Demi. Pela primeira vez desde que
Willow recebera alta do hospital, ela se sentia em casa.
— Ela
adormeceu — Demi disse a ele.
— Muito
bom. Como você está? — ele perguntou.
— Melhor.
— Ela se sentou na beirada do sofá à frente dele. — Você sempre
parece estar me salvando. Não vai ser por muito tempo.
— Eu
sei — disse Joe, sugerindo depois que ela escolhesse um filme, e
enquanto examinava a coleção dele, ajoelhada no tapete, ela lhe contou as últimas
notícias.
— Eu
quero dizer, você não vai mais precisar me salvar, porque eu vou voltar a
morar com os meus pais.
A taça de
vinho que ele estava segurando parou antes de chegar-lhe à boca.
— Quando? — ele
perguntou, e então tomou um longo gole, segurando o vinho na boca até que
ela respondeu:
— No
próximo final de semana. — Grandes olhos castanho-dourados se viraram
para ele, e depois olharam para longe. — Papai e mamãe estão pintando o quarto
de hóspedes para ela, e nós vamos fazer a mudança na semana que vem. Não está dando
certo, morar aqui. Você sabe como é, e agora que eu e mamãe estamos
nos dando bem melhor... — ela se interrompeu.
— Como
você está se sentindo a respeito disso? — ele perguntou,
astutamente.
Demi olhou
para a caixa do DVD que estava segurando, sem realmente enxergar.
— Para
ser sincera, eu não tinha parado para pensar muito sobre isso.
Então, ela
pensou. Sentou-se nos calcanhares e pensou. Em voz alta.
— Não é o
que eu quero, na verdade — ela admitiu. — Eu pedi a eles há algumas
semanas, mas foi quando eu ainda estava grávida. Eu nunca quis viver lá com
o bebê, mas é melhor para Willow. Nós poderíamos nos virar sozinhas,
mas desse jeito... — Demi respirou fundo. — Ela já tem
quase dois meses, parece inacreditável. Eu poderia colocá-la na creche no mês
que vem e voltar a trabalhar.
— Sua
mãe vai cuidar dela para você? Demi assentiu.
— Só enquanto
eu trabalho, ela já me avisou que não é babá, e nós concordamos
que será só por um ano. — E então ela contou a ele as
outras notícias. — Eu conversei com Meg, e ela vai me ajudar com a
documentação para minha transferência de hospital.
— Vai
voltar para o antigo?
— Não... — Ela
sacudiu a cabeça instantaneamente. — Vou para o Melbourne Central...
— Meu
antigo território — Joe disse.
— É muito
mais perto de casa. De qualquer modo, eu vou estar atolada até o pescoço
para terminar o último ano da graduação na emergência, e então vou fazer tantos
plantões quanto for possível, para economizar...
Ela parecia
tão jovem às vezes. Ela era muito jovem, Joe lembrou a si mesmo. Mas não
era aquilo que ele queria dizer. Ela parecia tão livre e cheia de vida, às
vezes, mas mesmo assim havia um lado mais profundo nela, que o encantava, uma
resistência inata, que escondia sua aparente fragilidade.
E ela
claramente havia pensado bastante no que iria fazer.
— Você estava
me dizendo que está se dando melhor com seus pais agora?
— As
coisas estão bem melhores do que antes, — Ela havia escolhido o
filme, e colocou-o no aparelho.— Eu não consigo imaginar morar com eles de
novo, contudo. Eu mal podia esperar para sair de casa, da primeira vez! — Ela
revirou os olhos e continuou: — Eles são realmente rígidos. — Ela
sorriu para ele, e desta vez foi sentar-se no sofá ao lado dele. — Não vai
haver nada parecido com isto...
— O
quê?
— Sentar
no escuro com um homem, bebendo vinho!
— Você tem
24 anos — Joe sorriu. — E nós estamos assistindo a um
filme.
— Eu
não me importo com a sua idade, mocinha. — Ela balançou um dedo na
direção dele. —Enquanto você estiver sob o nosso teto, você obedece às
nossas regras.
— Você está falando
sério? — ele exclamou, meio horrorizado, meio divertido.
— Absolutamente.
Vai ser ainda pior desta vez, porque... — Ela fez um movimento com a
cabeça, apontando para cima.
— Ela
não pode ouvir você! — Joe riu.
— Eu
não me importo se ela pode ouvir ou não. Eu já disse a mamãe e papai que
não vai haver nenhuma conversa do tipo "a encrenca em que eu me
meti", ou "um acidente" perto dela, é a minha única
regra, quando eu me mudar para casa. Eu posso aguentar qualquer coisa por um
ano, se isso significa um começo melhor para ela, mas quero contar a história
para ela do meu jeito e no momento certo.
— Parece
bastante justo.
— Não é culpa
dela se eu não sabia que o pai dela era casado...
Ela parou de
falar então, grata pela escuridão da sala, porque seu rosto ficou vermelho de
repente, não de vergonha, mas porque ela estava quase chorando. Eles ficaram
sentados em silêncio por algum tempo, as palavras que nunca haviam sido ditas
por Joe pairando sobre eles...
— Como,
Demi? — ele finalmente perguntou. — Como você não
sabia?
— Eu
simplesmente não sabia.
— E
quanto a noites como esta?
— Como
o quê?
— Como
isto. — Joe fez um gesto, indicando a simplicidade de tudo. — Você nunca
imaginou porque vocês sempre se encontravam na sua casa?
— Ele
não ia à minha casa. — A voz dela estava estridente. — Nós
saíamos, estávamos namorando...
Ele não
entendeu, mas não se sentiu à vontade para pressionar, ele já havia
passado do limite, portanto Joe preferiu deixar o assunto de lado, e ficou
surpreso quando foi Demi quem quebrou o silêncio desconfortável entre eles.
— Eu
dividia o apartamento com outras duas estudantes. Eu sabia que o que nós
estávamos fazendo era errado... — Ela se interrompeu novamente, e
ficou olhando de um jeito vazio para a tela da televisão.
— Errado? — Joe
franziu a testa. — Eu pensei que você não sabia que ele era
casado!
— É mais
do que isso. Eu não posso falar sobre o pai de Willow com ninguém... iria
causar muitos problemas.
— Você pode
falar comigo — Joe disse, porque embora sentisse a indecisão dela,
também podia sentir o peso que ela carregava.
— Você não
vai dizer nada a ninguém?
— Nunca.
— Porque
as fofocas...
— Eu
não faço fofoca.
Ela olhou
para ele, para seu rosto reservado e distante, mas que de vez em quando era
suavizado pela ternura, e agora, ela era a sortuda que era o alvo daquela
emoção. Ela viu a honestidade e a integridade que existiam nele, também, e isso
fez com que ela ficasse ainda mais envergonhada, tanto que não conseguia olhar
nos olhos dele, enquanto lhe contava a verdade.
— O
nome dele é Dean. Ele era meu professor na universidade! — Como
Joe não respondeu nada, ela não teve certeza se ele entendera o problema. — É proibido
para um professor ter um relacionamento com uma aluna...
— Eu
sei.
— Mas
acontece — ela tentou racionalizar. — O tempo todo. Quero
dizer, é uma relação consensual entre dois adultos, e é uma
regra idiota, na verdade... — Ele podia ver as lágrimas escorrendo
dos olhos dela, e, como sempre fazia, ela os fechou, tentando impedi-las de
cair.
"Talvez
não seja uma regra tão idiota", Demi admitiu. "Ele deve escolher os
alvos, quero dizer, ele tinha uma história inteira pronta. Ele me contou que
dividia uma casa com outro professor, e era por isso que não podíamos nos
encontrar lá. E como eu morava com outros estudantes, sempre íamos para
lugares a quilômetros de distância. Obviamente, imaginei que isso era para
evitar que alguém da universidade descobrisse sobre nós. Ele me disse uma vez
que assim que eu passasse na qualificação, nós poderíamos sair em
público..."
— Você nunca
desconfiou? — Ele ainda não conseguia entender. Embora ele e Demi
participassem pouco da vida um do outro, aquela informação sobre o outro eles
já tinham.
— Eu
nunca tinha tido um namorado sério — ela revelou, dando de ombros. — Como
eu disse, mamãe e papai eram realmente rígidos, e quando eu saí de casa,
não perdi o controle, nem nada do tipo. Sinceramente, eu nem sabia se nós
estávamos tendo um relacionamento de verdade logo no começo, era só uma bebida,
ou um jantar... — ela estava praticamente tremendo agora, de tão
constrangida. — E nós fomos para um hotel algumas vezes... devia ter
sido óbvio para mim — Demi admitiu. — Quero dizer, ele
nunca atendia ao telefone, a ligação sempre caía na caixa postal.
— Oh? — Joe
franziu o rosto. — Isso deve significar alguma coisa?
— Ele
também nunca atendia ao telefone quando estava comigo.
— Certo... — disse
Joe, não quê ele estivesse realmente entendendo.
— Você é honesto
demais — Demi conseguiu dar um sorriso fraco. — E eu
também, eu acho, porque nunca imaginei que ele estivesse mentindo. Ele nunca
atendia ao telefone porque podia ser outra de suas amantes, ou mesmo sua
esposa.
— Como
você descobriu que ele era casado?
— Ele
estava fora um dia, e outro professor veio substituí-lo, explicando que estava
dando a aula aquele dia porque, aparentemente, a esposa de Dean estava doente.
— Oh,
Demi — Joe lamentou, suavemente.
Os
comerciais antes do filme haviam terminado, então, ela colocou os pés para
cima, na mesinha de centro, porque Joe estava fazendo o mesmo, tomou um gole do
vinho e ficou ali, sentada, tentando assistir ao filme e ao mesmo tempo recordando
a dor, a dor muito real, e o medo de algumas semanas depois, quando ela
descobrira que estava esperando um filho de Dean.
Ela havia
escolhido um filme engraçado, ou pelo menos ela havia achado engraçado quando
assistira pela primeira vez, só que não parecia tão divertido agora. Na
verdade, era uma comédia de erros romântica, que lhe dava vontade de chorar.
Joe estava no sofá ao seu lado, grande e sólido e tão confortador, mas havia
uma fotografia de Jen perto da televisão. Ela não podia ver a imagem, apenas o
contorno do porta-retratos, mas aquilo também lhe dava vontade de chorar. Era
como se o universo tivesse feito algo terrivelmente errado, como se tivesse
jogado todos eles para cima e eles tivessem aterrissado nos lugares errados,
nas salas erradas, e com as pessoas erradas. Só que ela gostava de estar
com ele. Ela precisava de um lencinho, Demi percebeu, ela havia fungado quatro
vezes nos últimos quinze segundos, e já estava ficando envergonhada,
mas tinha que se esticar por cima dele para pegá-los, então, não se mexeu.
— Aqui
está. — Ele apanhou um maço de lencinhos da caixa na mesa de centro,
e Demi conseguiu dar uma risada seca.
— Você chora
frequentemente enquanto assiste a filmes em casa?
— Não. — Joe
sorriu ao pensar na cena que ela havia imaginado. — A irmã de
Jen esteve aqui mais cedo.
Oh, Deus!
Ela não
comentou nada, mas se envergonhou da própria insensibilidade. Mergulhada nos
próprios problemas, era tão fácil se esquecer de tudo o que ele havia
enfrentado.
— Ela
só passou para dar um oi, mas não tinha visto a casa ainda.
— Deve
ter sido difícil para você — ela disse.
— E foi — Joe
admitiu. — Graças a Deus, eu fui chamado pelo hospital.
— Obrigada. — Ela
olhou para ele. — Falando sério, de verdade, obrigada por tudo.
— Fico
feliz em ajudar.
— E eu
sinto muito.
— Por
quê? — Joe perguntou, sentindo-se um pouco desconfortável com a
possível resposta dela.
— Porque
as coisas andam difíceis entre nós...
— As
coisas não estão difíceis — ele mentiu.
— Estão,
sim — Demi discordou —, porque eu quero ser sua amiga, Joe,
mas não sei como... — Ele podia ver as lágrimas correndo pelo rosto
dela, agora. — E, por favor, não se sinta culpado pelo que eu vou
dizer a você, mas esse é um dos motivos pelos quais eu estou voltando
para casa também, talvez as coisas fiquem mais fáceis, talvez nós encontremos
um jeito de ser amigos.
— Eu
acho que não. — Os dedos dele queriam tocar os cabelos dela
novamente, ele queria abraçá-la, beijá-la, mas seria algo cruel para os dois.
Mas então
ela olhou para ele, bem nos olhos dele, e disse aquelas palavras que às
vezes ele desejava também, como se enfiasse o pé numa porta que se
fechava, forçando-a a permanecer um pouco aberta.
— Eu
gostaria que tivesse sido você. Gostaria que Willow fosse sua.
Ela estava
sendo sincera, realmente honesta, e o nariz dela estava escorrendo porque ela
estava sendo tão franca.
Ela queria
que tivesse sido Joe, que tivesse sido ele a fazer amor com ela.
Queria,
queria, queria tanto mais do que o pouco que eles haviam tido.
— Jamais
teria sido eu — Joe disse, então. — Porque eu teria cuidado
tão, tão melhor de você do que ele.
Ele não
conseguia aceitar o fato de que ela estava se mudando, não suportava a ideia
de não vê-la novamente, não podia resistir a tocá-la um pouco mais.
— Venha
cá. — Ele a puxou pelo pulso, de forma que ela ficasse apoiada nele,
e foi como subir no barco dele naquele dia.
Como se ela
estivesse longe de tudo.
Era bom
ficar abraçada a ele enquanto ela chorava, ele era tão grande que ela tinha de
se apoiar nele, ou terminaria caindo! E foi bom quando ele passou o braço ao
seu redor e manteve-a segura ali.
Realmente,
realmente bom.
E foi bom
para Joe, também.
Dificilmente
Joe era indulgente, mas na semana seguinte, ela estava indo para um lugar onde
não queria realmente ir. E iria deixá-lo em um lugar onde ele não queria
realmente ficar.
Naquela
noite, eles estavam juntos.
E era bom.
Era bom
deitar no sofá com ela.
Era bom
ouvir os soluços dela diminuindo, e sentir o peito dela se movendo enquanto ela
ria com o filme.
Aquele tinha
sido um dia infernal. Mostrar a casa para Abby e seu marido, Mick, e ver Abby
chorar a cada cinco minutos, e ainda oferecer um passeio de barco.
O problema
era que Abby se parecia demais com Jen, e haveria três pessoas no barco, em vez
de quatro, ele tinha ficado muito feliz quando o hospital o chamara.
Tinha sido
um daqueles dias, e poderia ter sido uma daquelas noites.
Mas Demi
estava lá, e tudo estava bem. Ele estava hesitando, à beira da
indecisão, assustado, mas quase pronto, de verdade, para um novo começo.
Um começo
muito novo.
Certos
filmes não deveriam ser assistidos na companhia de uma suposta amiga, que na
verdade era muito mais do que isso.
Eles estavam
assistindo um beijo apaixonado na tela, que pareceu durar muito mais do que
Demi se lembrava da primeira vez que havia assistido ao filme.
Foi como
daquela vez quando, com catorze anos, ela estava assistindo a um documentário
sério com os pais, e de repente eles estavam vendo cenas de sexo explícito.
Uma situação
estranhamente desconfortável, mas por motivos completamente diferentes,
naquela noite.
A mão dele
estava levemente apoiada em seu estômago, mas ela estava perto demais da
beirada do sofá, e precisava de um pequeno movimento, um pequeno impulso dele
para trazê-la para mais perto, o que ele não fez, então, Demi se afastou um
pouco.
Só um
pouquinho.
Como o
cavalheiro que era, Joe se moveu um pouco para trás e a segurou, com a mão
ainda em seu estômago, para que ela não caísse, e ela teve vontade de pular,
porque ele a tocara. Ela não conseguia se lembrar de como respirar, porque
havia essa sensação, leve como uma pena, dos dedos dele lhe acariciando o
estômago, uma daquelas carícias quase imperceptíveis, e uma leve irregularidade
na respiração dele, enquanto eles continuavam a assistir o beijo na tela.
— Quando
você se mudar... — a voz dele estava hesitante, levemente rouca — que
tal se nós fôssemos devagar... — Ela mal podia respirar, quase não
ousava ter esperanças, tinha medo de se mover e de que ele parasse de falar. — Que
tal se nós saíssemos juntos...
— Eu
não vou ter uma babá... mamãe disse que só vai cuidar dela enquanto eu
trabalho — ela murmurou em resposta.
— Você pode
vir para cá, nós podemos jantar, começar do começo, conhecer um ao outro
direito...
— E
Willow? — O coração dela estava na boca.
— Se
nós formos devagar, talvez... — Ele podia ouvir o sangue martelando
em seus ouvidos, enquanto oferecia a ela muito mais do que tinha jurado que
jamais faria. — Talvez com o tempo...
Ele estava
lhe oferecendo esperança, oferecendo esperança a eles... de que o impossível
pudesse acontecer.
~
Aqui está, bbês ♥ Tudo bom? Eu vou bem... Faltam três capítulos para a fic acabar... Se tiver maratona (a Mari ainda n me respondeu em relação ao dia) amanhã, serão de três capítulos, pode ser? Se vcs quiserem esperar pela nova fic, fiquem à vontade... Me respondam, ok? E comentem! Vcs são perfeitos <3 Beijos, Bruna ♥
Aqui está, bbês ♥ Tudo bom? Eu vou bem... Faltam três capítulos para a fic acabar... Se tiver maratona (a Mari ainda n me respondeu em relação ao dia) amanhã, serão de três capítulos, pode ser? Se vcs quiserem esperar pela nova fic, fiquem à vontade... Me respondam, ok? E comentem! Vcs são perfeitos <3 Beijos, Bruna ♥
Atéeee que enfim ele percebeu que nao tem como fugir \°/\°/\°/
ResponderExcluirMeu Deus, a fic ja esta acabando? :'( vou chorar essa fic e otima .
ResponderExcluirPosta logo
Que curtinha essa fic
ResponderExcluirJoe dando una chance pra eles, q fofo
-Nathalia-
Até que enfim em Joe..... pena que está acabando.... já decidiram qual vai ser a nova fic? Dê algumas dicas por favor...
ResponderExcluirMaratona s2s2
ResponderExcluirJoe ta se rendendo, Demi ta se rendeu ne? Hahahhaa lindos
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