20.10.14

Um Pequeno Milagre - Capítulo 4


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Eles ignoravam um ao outro no trabalho, obviamente. Bem, eles não mencionavam as noites passadas em frente à televi­são, nem as caminhadas na praia e, às vezes, enquanto ela se sentava na sala de convivência e ouvia Deb tagarelar sobre o quanto ela estava certa de que Joe a convidaria para sair em breve (quando Joe já havia comentado com Demi que esta­va incomodado com os flertes constantes de Deb), ou quando a glamorosa Belinda começava a falar de forma amistosa demais sobre ele, embora Demi se mantivesse calma como um Buda desafiado, por dentro ela estava espumando de raiva e poderia, certamente, estrangular as duas para que ficassem caladas.

Ela gostava dele.

E quanto a isso, estava tudo bem. Afinal, metade do depar­tamento gostava dele daquele jeito também, e ela dificilmente poderia ser considerada como minoria, não, havia um proble­ma um pouco maior.

Às vezes, ah, às vezes, Demi tinha aquela impressão in­cômoda que só podia ser causada quando duas pessoas se envolvem.

As vezes, ah, às vezes, Demi tinha a sensação fugidia de que Joe gostava dela também.

Ela dizia a si mesma que estava imaginando coisas, exata­mente como Deb. Porque não havia chance nenhuma de Joe estar interessado nela.

Então, por que ele estava agindo de forma tão estranha?

Quando o coffee break terminou, ela voltou para a ala pediátrica, e tentou dizer ao seu coração idiota para parar de bater tão depressa só de olhar para ele, é claro que não adiantou. E seu coração acelerou de vez uma hora mais tarde, embora por razões totalmente diferentes, quando uma mãe meio histérica colocou um bebê molenga nos braços de Demi.

Ela tocou a campainha de emergência antes mesmo de despi-lo.

Ele era grande e gordo, e mal abriu os olhos enquanto Demi o despia com eficiência, e fazia algumas observações preliminares.

— Ele não para de vomitar... — A mãe estava tentando não chorar. — Eu o levei ao clínico ontem, ele disse que era um problema gástrico e me mandou dar líquidos para ele...

Nenhuma ajuda havia chegado, e Demi tocou a campai­nha de emergência outra vez. O pulso do bebê estava acelera­do, e a temperatura dele estava alta, portanto ela o colocou no balão de oxigênio e tocou a campainha de emergência de novo enquanto empurrava o carrinho com o material para soro intravenoso, finalmente decidindo colocar a cabeça para fora do cubículo.

— Alguém pode vir me ajudar? — ela estourou, e lançou um olhar frenético para Joe, que estava mostrando a um pa­ciente um raio-X de tornozelo. — Agora!

— Aperte o botão três vezes em caso de emergência! — Joe estourou também, quando viu o bebê.

Ela ainda estava aprendendo o básico, ainda ontem, ela ha­via sido advertida por reagir exageradamente, e apertar o bo­tão três vezes por qualquer coisa remotamente urgente, e agora estava sendo repreendida por fazer muito pouco. Alguns dias, aquele trabalho era simplesmente difícil demais!

— Depressão na fontanela. — Joe examinou o bebê imó­vel com eficiência, enquanto Demi o tirava da balança e pre­parava um soro intravenoso. Ela estava apavorada com a ideia de aplicar uma agulha de IV em um bebê tão doente, mas aqui­lo fazia parte do curso, e era algo que ela precisava aprender a fazer. Ela havia começado com homens grandes e musculosos, com veias que mais pareciam trilhos, e depois havia praticado em adultos doentes. Ela havia, até mesmo aplicado IVs em al­gumas crianças, e em poucos bebês, mas nenhum tão doente como aquele, e não com a mãe observando ansiosamente, e agora, Meg estava lá também!

— Baixo turgor da pele. — Joe continuou com sua avalia­ção, e sacudiu a cabeça ao ver o tremor leve das mãos dela, enquanto Demi segurava o bracinho flácido com uma das mãos e posicionava a agulha com a outra. — Deixe que eu faço. — Ele assumiu a tarefa sem maiores comentários, e ela ficou feliz por isso. O bebezinho era gordo, e as veias dele se­riam difíceis de achar em uma situação normal, mas com um quadro de desidratação as coisas ficaram ainda mais complica­das e mesmo Joe, com as mãos tão firmes, precisou de algu­mas tentativas para conseguir aplicar o IV, finalmente achando uma veia no pé da criança.

— Consegui. — Ele colheu algumas amostras de sangue, e segurou o tubo do IV firmemente para que Demi pudesse conectá-lo com a bolsa e então colocar as ataduras, imobilizan­do cuidadosamente o pezinho, enquanto a mãe observava de perto. Enquanto Joe liberava os fluidos do IV que ele queria que o bebê recebesse, ele olhou para Demi e fez uma obser­vação adicional: — Você poderia colocar a máscara, por favor? — Ela não tinha visto Joe pôr máscara, e ele não havia pedido a Meg que colocasse uma. Demi rangeu os dentes, mas fez o que ele havia mandado. Aquilo estava se tornando um padrão familiar, durante as duas semanas em que eles estavam traba­lhando juntos, Joe andava, na falta de uma palavra melhor, ir­ritante! Ela já estava sendo superprotegida pelos colegas, e já se sentia desconfortável o suficiente com aquilo, mas Joe pa­recia estar em uma missão para assegurar que ela cuidasse ape­nas dos pacientes mais seguros, mais calmos, com os quadros menos contagiosos, e quando ele não estava sugerindo que ela colocasse a máscara, pedia que lavasse as mãos!

Como se ela precisasse ser lembrada disso!

Ainda assim, como Joe estava agora conversando com a mãe, não era hora nem lugar para discussões, ela teria que deixar aquela conversa para mais tarde.

— Ele tem nove meses. — Joe estava checando as infor­mações com a mãe ansiosa, enquanto Demi suava por detrás da máscara. — Está correto?

— Somente nove meses — disse a mãe. — Eu sei que ele parece ser mais velho.

— Há quanto tempo ele está doente? — perguntou Joe.

— Ele começou a vomitar ontem, três vezes, talvez quatro.

— E hoje de manhã? — Ele disparava perguntas, enquanto continuava a examinar o bebê e pedia uma dose extra de flui­dos para ele. Demi já o havia colocado no balão de oxigê­nio, e os pediatras estavam a caminho, mas Joe estava exa­minando o abdômen do menino cuidadosamente, preocupado e pensando se eles não estavam precisando mesmo era dos cirurgiões. — De que cor era o vômito?

— Verde.

— Certo... — Ele verificou a fralda do bebê e, ainda não satisfeito com o exame do abdômen, pediu a Meg que avisasse a equipe cirúrgica. Depois de falar rapidamente com a mãe, ele telefonou para o setor de imagens para solicitar um ultrassom urgente.

— Eu acho que é um íleo — disse Joe, esperando ao tele­fone no posto das enfermeiras, enquanto Demi lavava cuida­dosamente as mãos na pequena pia, e mesmo assim, de forma incrivelmente irritante, ele empurrou a garrafa de álcool na direção dela, quando ela foi enxugar as mãos.

— E esse diagnóstico significa que eu posso entrar lá sem máscara, agora? — Demi perguntou, e então franziu a testa. — Ou será que isso virou uma doença transmitida pelo ar, de repente? — Ela observou a mandíbula dele tensionando.

— Você só precisa ter cuidado — Joe observou. — Nessa idade, ele pode ter sarampo, catapora, caxumba... Aqui. — Ele empurrou a garrafa de álcool na direção dela novamente, en­quanto ela se sentava no banquinho para fazer suas anotações, mas ela a ignorou.

— Você deveria usar isto — ele insistiu.

— Por quê? — Demi desafiou.

— Porque nós ainda não sabemos o que há de errado com o bebê, e porque você deveria...

— Joe. — Ela fez um clique corri a caneta, colocando-a na mesa. — Embora eu agradeça sua preocupação, eu realmente não preciso que você cuide de mim.

— Eu não estou cuidando de você... Eu só estou...

— Deixando-me paranoica! — disse Demi. — Joe, eu posso derrotar você nesse joguinho de paranoia sobre gravidez qualquer dia!

Ele duvidava, mas segurou a língua.

— Eu só estou me certificando de que você tome as precau­ções devidas — ele disse.

— Eu já falei com o meu obstetra, com a enfermeira espe­cializada em doenças infecciosas, com Meg, e estou tomando as precauções que todo mundo toma. Estou sendo o mais pru­dente e cuidadosa possível, mas lidar com pessoas doentes faz parte do trabalho de enfermeira — ela disse calmamente.

— Eu não vejo qual é o problema em tomar algumas pre­cauções a mais — ele resmungou.

— Eu não posso andar por aí em uma roupa de astronauta — disse Demi —, e nem as enfermeiras nas alas de pediatria ou oncologia, nem as operadoras de raio-X que não sabem se estão grávidas, mas podem estar... — Ela podia ver as linhas na testa dele diminuindo, enquanto a enfermeira-chefe falava de forma ríspida com a funcionária responsável pelos regis­tros. — E tudo o que podemos fazer é sermos sensatas, todo o tempo, não apenas quando estamos visivelmente grávidas, en­tão, obrigada pela sua preocupação, e não, eu não vou usar isto... — ela empurrou a garrafa de álcool de volta para ele —, porque acontece que eu sou alérgica.

— Tudo bem! — Joe estourou, mais irritado consigo mes­mo do que com ela. Se o médico dela estava contente em dei­xá-la trabalhar, e o hospital ainda a estava empregando, se Demi queria continuar trabalhando, bem, não era da conta dele. Então, por que ele estava tão preocupado com ela?

Aquilo o incomodou o dia inteiro e, mais tarde, durante a noite, quando, confuso, ele foi ao supermercado e, parado com a cestinha na mão, decidiu comprar filé orgânico porque era melhor para o bebê, o que, mais uma vez, não era algo com que ele devesse se importar. De qualquer modo, ele colocou o produto na cestinha e ainda incluiu uma caixa de suco de la­ranja enriquecido com ferro. Ele sabia que estava exagerando, e tinha todos os motivos para isso. Dentro de poucos dias, se­ria o aniversário da morte de Jen, e não era de se espantar que ele estivesse chateado. Mas resolveu fazer o que sempre fazia, e escolheu não pensar no assunto.

Uma rotina muito tênue havia se estabelecido, não todos os dias, nem dia sim, dia não, mas de vez em quando, Ele ia até o apartamento dela, perguntava se ela queria jantar, ou ouvia quando ela vinha regar os girassóis à sua porta e colocava a cabeça para fora para perguntar se ela queria ver um filme, ou algo assim.

Era uma boa companhia, só isso.

E ela estava muuuuuito contente.

Contente de não ter que se esforçar para ser inteligente de­mais, e simpática demais, como ela fazia quando estava no trabalho, era tão bom poder conversar e reclamar à vontade, ou sentar-se com os pés para cima, apoiados na mesinha de centro dele, e assistir a um filme.

E nunca, nem uma vez sequer, ele lhe passou um sermão, nem questionou a decisão dela de continuar trabalhando.

Até o final da trigésima terceira semana, até aquela noite quando, satisfeita depois de jantar filé orgânico e salada com suco de laranja enriquecido com ferro, ela se levantou do sofá e Joe olhou para o relógio.

— São só oito e meia.

— Eu estou querendo deitar cedo hoje.

— Você está de folga amanhã. — Joe franziu a testa, acompanhando-a com relutância até a porta. Durante as noites se­guintes, a última coisa que ele queria era a própria companhia. — Você tem certeza de que está bem?

— Eu tenho uma consulta com o médico amanhã. Eu quero...

— Certifique-se de descansar bastante, para poder enganá-lo — disse Joe, e então interrompeu-se, os músculos de sua mandíbula tensionando, porque o que ela fazia ou deixava de fazer não era nada da conta dele.

— Eu preciso trabalhar mais algumas semanas — disse Demi, e Joe não comentou nada. Ele simplesmente forçou um sorriso e abriu a porta, dizendo a si mesmo que ela não preci­sava de um sermão, só de um amigo, mas estava ficando cada vez mais difícil para ele segurar a língua.

Então, ela desabou a chorar.

Demi, que estava sempre sorrindo, sempre gargalhando, que sempre tinha uma resposta pronta em qualquer situação, rendeu-se.

— Eu não aguento mais!

Tudo o que ele sentiu foi alívio, alívio por ela haver final­mente percebido, porque ela não iria continuar com aquilo, e ele a tomou nos braços e deixou-a soluçar.

— Então pare, — ele disse gentilmente.

— Eu não tenho condições para isso — ela argumentou, mas apenas consigo mesma. — Mas eu não consigo nem pen­sar em voltar lá de novo...

— Eu sei.

— Estou tão cansada.

— Eu sei.

— E estou com medo dos germes, também.

— Vamos. — Ele a levou de volta para o sofá, foi buscar um pouco de água gelada no refrigerador, e conversou gentil­mente com ela, como se fosse uma paciente, explorando as opções dela. Ela estava com tudo em ordem, inclusive algu­mas economias, mas elas dariam apenas para cobrir o aluguel. Haveria um pouco mais de dinheiro depois que o bebê nasces­se, mas sem dúvida, as coisas estavam incrivelmente difíceis para ela, financeiramente.

— O carro vai quebrar logo. — Demi soluçou. — E eu nem comprei uma cadeirinha ainda. Eu ia fazer isso quando o pagamento do próximo mês saísse...

— Minha irmã já teve várias dessas cadeirinhas, a garagem está cheia delas. Ela teve gêmeos... então, esse problema está resolvido, certo?

Era somente a ponta de um iceberg gigantesco, mais um item numa lista que parecia interminável, mas foi um alívio resolver o problema, compartilhar, finalmente admitir o quan­to ela estava cansada de tudo: ela estava esgotada de verdade.

— Eu preciso trabalhar, mas realmente acho que se conti­nuar, vai afetar o bebê. — Ela ficou feliz por ele não tê-la in­terrompido, e confirmado seus medos. — Eu estou retendo líquido demais...

— Olhe. — Joe estava sendo infinitamente gentil. — Você fez um ótimo trabalho, chegando até aqui.

— Algumas mulheres trabalham até o fim da gravidez.

— E outras não — disse Joe. — Algumas não podem, e parece que você é uma delas.

— Eu vou conversar com o médico amanhã. — Ela assen­tiu. — E serei honesta.

— Muito bom — disse Joe, e então fez uma pausa, antes de ir exatamente aonde não queria, e se envolver ainda mais.

— Você já pensou em pedir ajuda ao pai do bebê?

— Nunca. — Demi sacudiu a cabeça. — E, por favor, não me passe um sermão, dizendo que a responsabilidade é dele também, e que eu tenho todo o direito...

— Sem sermão — Joe interrompeu. — E os seus pais?

— Eu escrevi para eles. — Ele percebeu como tudo aquilo deveria ter sido para ela: sabia, pelas conversas que eles ti­nham, que a reação dos pais dela havia sido furiosa, e que eles haviam cortado relações com ela. O fato de que ela havia es­crito para eles pedindo ajuda, depois de tudo o que eles tinham feito a ela, mostrava que estava pensando no bebê.

— Fez bem. Foi a melhor coisa que ele poderia ter dito.

— Eu enviei a carta ontem, então não tive resposta ainda. Perguntei se posso voltar a morar com eles, só por algumas semanas...

Ele sentiria falta dela, Joe percebeu, mas era a coisa certa para ela fazer naquele momento. Ela precisava da família, precisava de alguém para cuidar dela durante aquelas últimas, e difíceis, semanas, e, certamente, esse alguém não seria ele.

— Eu vou falar com ó médico amanhã. — A voz dela esta­va mais firme, agora. — E depois vou falar com Meg.

— Ótimo.

— E agora... — Mais uma vez, ele a ajudou a se erguer do sofá, quando ela fez menção de se levantar— eu realmente vou pra casa, dormir.

Ele sorriu para ela quando eles chegaram à porta.

— Você vai conseguir passar por isso — Joe disse —, vai mesmo.

— Eu sei.

Ela estava tão cansada, tão esgotada e perdida, tentando ser valente em meio à escuridão, que desta vez, quando ele a to­mou nos braços, não foi porque ela estava chorando, e não foi porque ela estava chateada. Ele não sabia realmente porque tinha feito aquilo, só sabiá que parecia certo abraçá-la.

E, para Demi, era maravilhoso ser abraçada por um instante.

Um instante delicioso, simplesmente parada e apoiada nele, sentindo as palavras dele contra seus cabelos, a confirmação dele de que ela havia feito as escolhas certas, que ela ficaria bem, que estava indo bem.

— Eu estou com medo.

Ela nunca, nem uma vez sequer, tinha admitido aquilo para alguém. Desafio tinha se tornado o sobrenome dela, porque se ela parasse por apenas um segundo, se questionasse se ter o bebê, continuar trabalhando e manter o nome do pai em segre­do eram decisões inteligentes, se admitisse, ainda que para si mesma, que estava lutando, então, certamente, toda a coragem que ela havia reunido desapareceria. Era mais fácil enfrentar, insistir que estava enfrentando, e continuar, do que parar e pensar.

Mesmo assim, nos braços dele ela parou por um momento, admitiu a verdade e esperou o baque.

Esperou que tudo explodisse ao seu redor, que tudo paras­se, que a desesperança a invadisse, e mesmo assim ela conti­nuou ali, nos braços dele, e tudo o que fez foi parar, uma pau­sa mínima que a fez encarar a verdade e, sentindo-se segura por um instante, recuperar-se.

— Com medo de quê? — ele perguntou a ela, depois de um longo tempo.

— O bebê merece coisa melhor.

Joe fechou os olhos, tomado pelo arrependimento. Um ar­rependimento envergonhado, porque ele havia, em uma oca­sião, pensado a mesma coisa.

Um casal bem-sucedido, concebendo uma criança planeja­da, amada, desejada... Aquele tinha sido o seu projeto, e ele havia despejado sua ira no universo, porque se ele e Jen, com tudo o que tinham a oferecer, com todos os planos e sonhos, não puderam realizá-lo, por que alguém mais poderia?

Somente agora, abraçando Demi, ele percebera que, ape­sar das circunstâncias, a mulher em seus braços preenchia qua­se todos os requisitos necessários para criar um filho, e que apesar dos obstáculos, ela compensaria pelo que faltasse.

— O bebê tem você. — Ele permaneceu ali, ainda abraçando-a, e pensou sobre aquilo, pensou em quanta sorte aquele bebê tinha por tê-la, planejado ou não. O bebê tinha Demi, e ele pensou em como ela o fazia rir tantas vezes, pensou no calor da afeição dela, e quanta sorte as pessoas que recebiam aquela afeição tinham, e seu projeto perfeito desvaneceu-se da mente dele.

— E será que eu sou suficiente? — ela perguntou, ansiosa.

— Claro que sim — ele respondeu, com certeza na voz. Ela era absolutamente suficiente.

Mais do que suficiente.

Muito mais do que suficiente, embora ele não estivesse pensando no bebê agora, porque ao abraçá-la, pela primeira vez com ela nos braços, ele esqueceu do que eles estavam con­versando, esqueceu que ela estava grávida. Ela era simples­mente Demi, divertida, amável e terrivelmente, terrivelmen­te atraente. O cheiro dela próxima a dele, o contato de sua cabeça contra seu peito tomaram conta de Joe, e ele perdeu-se nela. Tão naturalmente como respirar, ele disse a ela como se sentia com um beijo em vez de palavras, simplesmente levantando-lhe o queixo e beijando-a. Ele abaixou a cabeça para encontrar os lábios vermelhos dela, e confirmou o quanto ela era suficiente com a própria boca, e quando os lábios deles se encontraram, Joe teve uma sensação de tontura, como açúcar derretendo sobre sua língua, enquanto ele provava o gosto da tentação.

Ela ficou atônita, porque aquilo não era nada parecido com qualquer coisa que houvesse sentido antes, porque nos braços de Joe ela se sentia segura, e podia ser simplesmente ela mes­ma. Se isso era bom ou ruim, não importava, podia ser ela mesma com Joe. Ela havia admitido para ele que estava com medo, e o mundo continuara girando, mas agora, era um mun­do melhor do que antes. As mãos dele estavam mergulhadas nos cabelos dela, e suas bocas se moviam juntas, e ela se sen­tiu sensual, pela primeira vez na vida, ela se sentiu sensual, querida e segura. E Joe sentia a mesma coisa, ternura e desejo lhe correndo pelas veias, algo sem comparação, finalmente. Não havia um raciocínio lógico para o fato, era apenas um beijo, mas um beijo que parecia o paraíso, com o cheiro dela a envolvê-lo e sua língua, fria por causa dá água, tocando a dele. Era instinto, o abrigo seguro do instinto.

Ela retornou o beijo.

E beijou-o de um jeito que nunca havia experimentado antes.

Não era um beijo tecnicamente perfeito, do tipo que se ra­cionaliza, era um momento para experimentar, compartilhar, e era assim que devia ser. A privacidade de Joe, o lugar isolado que ele havia se tornado, de repente pertencia a ela, para ex­plorar à vontade, e a sensação era divina. Demi havia entra­do no santuário particular e protegido daquele homem reser­vado, e aquilo a enchia de alegria.

— Demi — ele sussurrou, com os lábios ainda colados aos dela, para que ela soubesse que estava ali, e que era ela a mulher que ele estava beijando naquela noite. Uma das mãos dele segurava-lhe a cabeça, puxando o rosto dela para mais perto, e a outra havia descido para seu quadril, seu quadril grande e gordo, ela pensou vagamente, mas ele o acariciava e a sensação era fabulosa. Até aquele momento, ela jamais sou­bera como era se sentir sensual, mas estava descobrindo ago­ra, naquele instante, quando isso deveria ser a última coisa a lhe passar pela cabeça. Afinal, ela era apenas uma mulher, e quando as mãos dele a puxaram para mais perto, uma mulher era tudo o que ela queria ser.

Quanto a Joe, ele jamais havia chegado tão perto de uma fuga, para um lugar onde apenas ele existisse.

Não era uma fuga egoísta.

Porque naquele lugar também existia Demi, e por alguns momentos de felicidade plena, Joe podia ser ele mesmo, o Joe real, aquele que estava perdido havia séculos. Então, ele a beijou, sentou o gosto dela, desejou-a, e sucumbiu à sensa­ção estonteante do presente. Ele estava excitado, e podia sentir o corpo adorável dela em suas mãos, ele estava naquele ponto em que a felicidade em si não é mais suficiente, e você quer ainda mais, e a apertou mais contra si, querendo sentir a sua­vidade dela, tirar-lhe as roupas, perder-se nela. Mas, em vez disso, ele sentiu o peso sólido do bebê, que havia se tornado um pensamento secundário para ele, contra seu corpo. Ele po­dia sentir a presença do bebê, e, naquela noite principalmente, foi como um soco no estômago, e foi Joe quem se afastou.

— Eu sinto muito. — Ele a soltou tão rapidamente que ela se sentiu como se estivesse caindo. — Isso não deveria ter aconte­cido. — Talvez não devesse, mas acontecera. Não era o beijo que a deixava envergonhada, ela pensaria nisso mais tarde. Na­quele momento, era a reação dele, ele estava agindo como se estivesse completamente pasmo com o que havia feito.

— Esqueça. — Ela tentou soar casual, mesmo com os bati­mentos cardíacos passando de cem por segundo, como se ti­vesse sido acordada repentinamente em meio a um sonho ma­ravilhoso. Só que agora ela estava encarando a dura realidade, e queria sair dali o mais rápido possível. — De verdade, não tem importância.

— Demi... — Que diabos, ele não queria aumentar os problemas dela, mas era exatamente o que tinha acabado de fazer, Joe sabia disso. Ele havia esquecido, durante aquele momento, que ela estava grávida. Enquanto ele a abraçava, ela era simplesmente Demi. — Como eu disse, eu não estou procurando...

— Eu entendi, Joe — ela interrompeu. — Eu também não estou. Foi só um beijo, só... — Ela deu de ombros, sem ter realmente o que fazer, porque havia sido muito mais do que só um beijo. Ela ainda podia sentir o gosto dele em sua boca, ainda sentia o abraço delicioso dele, e agora ele havia tirado tudo aquilo dela.— Foi mais uma dessas coisas que nunca deveriam acontecer. Não muda nada.
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Oi meninas! Tudo bom? Vcs devem estar querendo me bater pela demora, mas tenho um motivo... Vcs sabem q eu sempre peço 5 comentários e antes disso eu não vou postar... O número de visualizações é enorme e quando vemos três ou quatro comentários desanima um pouco... Peço q comentem, já sabem, 5 comentários e eu posto! Mari e eu combinamos que se vcs comentarem bastante, faremos uma pequena maratona... Está na mão de vcs ;) Ah sim, vcs estão gostando da história? Eu amei ela ♥ Suuuuuper fofa <3 Haha' Comentem! Beijos, Bruna.

8 comentários:

  1. Perfeitaaaa!!!!! Posta logo...... ansiosa...

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  2. Que coisa mais linda esses dois gente, estou apaixonada por eles. Posta mais 1 hj por favor Bru ;)
    Carla

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  3. MARATONA URGENTE!!!! POSTA LOGO.

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  4. Pode postar, eu deixo..
    Thata Lovatic!

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  5. eu quero chorar e bater no Joe, quero abraçar a Demi e segurar esse bebê quando nascer... estou tão ansiosa para o próximo cap quero ver quando ele dará conta que esta se apaixonando por ela e quero ver os dois(três) naquela casa!
    Sam, xoxo

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