23.10.14

Um Pequeno Milagre - Capítulo 9


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Ele já estava de pé às seis, em um raro dia de folga. Ele tinha caixas para abrir, e uma cozinha para pintar, mas, em vez dis­so, Joe caminhava pela rua com as chaves do carro de Demi na mão. Ele daria uma olhada no carro, iria correr na praia, e depois resolveria o problema das caixas. Joe abriu a garagem e, depois de ligar a ignição, o carro começou a funcionar, fa­zendo um barulho enorme. Então, não era a bateria.

As oito, ele telefonou para o mecânico.

— Você quer meu conselho? — O mecânico olhou para o que dificilmente poderia ser chamado de motor e franziu o cenho.

— Não. — Joe fez uma careta. — Só conserte o carro, coloque-o em condições de rodar, por favor.

— Os pneus estão carecas...

— Compre uns decentes, de segunda mão — Joe disse, porque em contraste com aquela pilha de ferro-velho, quatro pneus novinhos chamariam muita atenção.

Levou o dia inteiro, mas por volta das seis ele voltou ao hospital para devolver as chaves para ela.

— Como Willow está? — ele perguntou a ela.

— Um pouco melhor, obrigada. — Demi parecia comple­tamente esgotada. O cabelo dela precisava ser lavado, e havia grandes manchas negras sob seus olhos, como se ela tivesse passado delineador e esfregado os olhos em seguida, só que ela não usava maquiagem havia semanas. — O resultado da primeira cultura de sangue deve sair logo, mas ela está sem febre desde a hora do almoço.

— E quanto à gasometria? — ele inquiriu.

— Está melhor. — Ela sacudiu a cabeça, confusa. Demi não estava pensando como enfermeira, mas como mãe, ouvin­do os médicos e a equipe da terapia intensiva. — Ela vai ficar no oxigênio...

Ele queria mais informações, queria falar com o neonatologista, ver os raios-X do bebê e os resultados dos exames de sangue com os próprios olhos.

— Eles me deixaram segurá-la — ela disse a ele, trêmula.

— Isso é uma boa notícia.

— Minha mãe está com ela agora.

Tudo o que ele podia fazer era levá-la até a cantina e com­prar-lhe um chocolate quente e um pouco de cereal da máqui­na, e foi apenas quando ele lhe entregou as chaves do carro que Demi se lembrou do que ele estava fazendo ali. Ele não estava ali para saber notícias de Willow, na verdade.

— O que havia de errado com o carro? — Ela quis saber.

— Precisava de uma bateria nova. — E de uma ignição nova, e discos e pastilhas de freio, e amortecedores, e... mas ele preferiu não entrar em detalhes.

— Quanto custou? Tem um caixa eletrônico aqui no hospi­tal — ela disse.

— Não foi muito caro. Nós podemos resolver isso quando Willow melhorar — Joe disse tranquilamente. Com um bebê tão doente, Demi precisava de um carro que funcionasse imediatamente, o tempo todo, Joe disse a si mesmo. E ele estava investindo na própria sanidade também, pensou. Pelo menos ele não seria mais acordado às duas da manhã... Não que ele tivesse se importado, na verdade.

Com toda a honestidade, ele teria detestado descobrir, no dia seguinte e por outra pessoa, o que havia acontecido.

Ele mal havia dormido nas últimas 24 horas, mas, apesar disso, sua mente parecia muito clara, de repente.

Demi precisava de um amigo, um amigo verdadeiro, e talvez ele pudesse ser esse amigo por enquanto, talvez ele pu­desse ajudá-la, pelo menos até Willow ir para casa.

— Eu estive pensando — Joe disse. — Quando Willow melhorar, que tal tirarmos um dia de folga?

— Onde? — ela perguntou.

— Podemos ir velejar — Joe sugeriu, mas ela imediata­mente sacudiu a cabeça.

— E se acontecer alguma coisa? Levaria muito tempo para chegarmos aqui — ela protestou, ansiosa.

— Nós não vamos cruzar o Equador, vamos apenas dar um passeio na baía! Nós poderíamos ir almoçar.

— Eu não acho uma boa ideia, mas obrigada, de qualquer forma. — Ela sacudiu a cabeça.

— Não diga não — Joe disse.— Pense no assunto. Ela não pensou no assunto.

Havia muitas outras coisas no que pensar.

Enquanto Willow se recuperava do que acabara sendo um caso grave de pneumonia, e começava a ganhar peso regular­mente, o dia de receber alta ficava cada vez mais perto. O leite de Demi havia por fim secado completamente, e para seu desgosto, Willow estava agora tomando a mamadeira, mas pelo menos aquilo lhe proporcionava um pouco mais de liber­dade, e significava que ela podia voltar para casa de vez em quando, e até mesmo ir ao médico sozinha!

— Demi?

Joe passou por ela ao atravessar o corredor da entrada prin­cipal. Entre a multidão, as cafeterias e a loja de presentes, lá estava Demi, branca como papel e perdida em seu próprio mundo.

— Demi... — Ele bateu de leve no ombro dela, para cha­mar-lhe a atenção. — Está tudo bem?

Ela fez um esforço visível para se concentrar.

— Tudo bem — ela respondeu, finalmente.

— Willow?

— Ela está bem — disse Demi, sem dar os detalhes usuais das últimas semanas. Normalmente, ela descrevia cada pro­gresso, e Joe viu-a umedecer os lábios secos.

— E você?

— Eu estou um pouco enjoada — ela admitiu. — Eu ia comprar alguma coisa para beber, mas a fila está enorme.

— Vá se sentar. Eu vou buscar uma bebida para você. — O simples fato de ela não ter protestado disse a Joe que ela não estava mesmo se sentindo bem.

Claro que havia uma fila na cafeteria, mas ele podia ser bem arrogante de vez em quando e simplesmente a ignorou, indo diretamente para frente e apanhando duas garrafas de água e uma de suco... oh, e um bolinho.

— Aqui está. — Ele colocou as coisas na mesa, e Demi tomou um grande gole de água.

— Como você conseguiu ser atendido tão rápido? Eu já ti­nha desistido.

— Vantagens do emprego. — Joe piscou para ela. — Eu trouxe alguma coisa para você comer, caso esteja com fome.

Demi franziu o nariz.

— Quanto eu lhe devo? — Ela vasculhou a bolsa, procu­rando algum dinheiro, mas Joe sacudiu a cabeça.

— Não seja boba.

— Coloque na minha conta! — Demi disse, e se incli­nou para a frente, descansando a cabeça no braço por um instante, e deixando tudo passar, o barulho, o movimento do hospital, a luz das janelas, tudo, menos a voz preocupada de Joe.

— Será que eu devia tomar o seu pulso? — ele provocou, gentilmente, para esconder a preocupação real.

— Não.

— Você não está sendo uma companhia muito boa hoje. — Ele levantou a testa dela um pouco, viu seu rosto pálido, e deitou-lhe a cabeça de volta no antebraço.

— Eles me disseram para esperar meia hora... — Ele ouviu a voz abafada dela responder. — Eu deveria ter ouvido.

— Será que eu devia pedir uma maca na emergência? — ele perguntou, divertido.

— Por favor, não! — Ela sentou-se lentamente, e deu um sorriso fraco.

— Melhor agora?

— Melhor. — Ela expirou pesadamente. — Já é a segunda vez que você me salva de passar vergonha.

— Um parto não é motivo para ter vergonha — ele observou.

— No meio da rua, com uma multidão em volta?

— Tudo bem. — Ele sorriu. — Então, podia ter sido emba­raçoso... se eu não tivesse conseguido levar você para a rela­tiva privacidade do que agora é o meu jardim! E talvez tam­bém fosse embaraçoso desmaiar na frente da loja de presentes. Mas o que aconteceu, para você se sentir mal assim?

— Acabei de fazer o exame pós-natal.

— Oh. — Ele era médico, então, por que suas orelhas esta­vam ficando vermelhas? Ele poderia entrar na sala de convi­vência da emergência naquele exato minuto, em meio a um grupo de enfermeiras que não iriam interromper a conversa só porque ele estava presente.

— Ele sugeriu que eu colocasse um DIU, para o caso im­provável de eu querer retomar a minha atividade sexual nos próximos cinco anos!

Ela realmente o fazia rir, mesmo das coisas mais estranhas.

— Você vai querer, mais cedo ou mais tarde — ele disse.

— Eu duvido! — Ela deu outro gole grande na garrafa de água, e então beliscou o bolinho. — Me parece muito barulho por nada, para dizer a verdade... bem, "nada" não seria a pa­lavra exata — ela observou. — Uma briga em família, um bebê na unidade de terapia intensiva... — Ela interrompeu a lista de desgraças, ele não estaria interessado em nada daqui­lo, especialmente quando ela chegasse à parte em que o pai de Willow não queria conhecê-la. — De qualquer modo, ele também sugeriu que eu me deitasse por meia hora depois do exame.

— E é claro que você não ouviu — ele disse, um pouco severamente.

— Eu estava me sentindo bem — Demi respondeu.

— Bem, escute o médico da próxima vez — ele ordenou. A cor estava voltando para os lábios dela agora, e para seu rosto. Tinha sido agradável sentar e conversar, mas ela havia estado longe por um bom tempo, e queria voltar para dar a mamadeira para Willow.

— Eu preciso voltar para a unidade de terapia intensiva... — Ela ainda estava um pouco pálida.

— Talvez fosse melhor você esperar mais uns dez minutos — ele sugeriu.

E ela provavelmente teria esperado, mas o pager que ela usava disparou, alertando-a que Willow estava acordada e pronta para mamar.

— Eu preciso ir.

— Eu acompanho você — Joe ofereceu, ainda preocupado com a cor dela.

Eles andaram juntos pelos corredores para o elevador, e Joe a acompanhou até a entrada da unidade de terapia intensiva, e quando eles chegaram, Demi ficou nervosa de repente.

— Você quer entrar? — Era uma oferta aparentemente tão casual. — Você vai notar uma grande diferença nela...

— Eu adoraria — Joe disse, e ela pode ouvir o "mas" antes mesmo que ele dissesse a palavra, sabia que iria ouvi-la antes de ser pronunciada. — Mas eu realmente preciso voltar para a emergência. Outra hora, talvez?

— Claro. — Ela não o compreendia, simplesmente não conseguia compreendê-lo, Ele parecia gostar da companhia dela, estava sempre por perto quando ela precisava, e ainda assim, às vezes, tudo o que ele queria era se afastar dela! — Ei... — Ele se virou. —Você pensou sobre aquele passeio de barco comigo?

— Eu acho que não vai dar — Demi recusou. — Eles estão dizendo que Willow pode estar pronta para receber alta na próxima segunda-feira, e eu tenho muita coisa para organizar.

— Bem, eu estou de folga neste final de semana — disse Joe. — Então, a oferta está de pé... qualquer coisa, me avise.
***

Ela estava pronta.

Bem, tão pronta quanto era possível! Todas as roupinhas novas de bebê haviam sido lavadas com sabão neutro, havia fraldas e lenços umedecidos e mamadeiras e leite em pó, o bercinho que Joe havia montado, e que Demi havia forrado com pequenas mantas. Tudo o que faltava agora era Willow, e ela chegaria amanhã. As enfermeiras tinham praticamente empurrado Demi para fora, insistindo para que ela passasse um dia em casa, e sugerindo enfaticamente que ela não voltasse antes da manhã seguinte, que ela aproveitasse uma última noite de sono sem interrupção, enquanto podia.

Os pais dela, tendo-a ajudado a se instalar, haviam voltado para casa, e sem nada para fazer, Demi havia decidido descer a rua para comprar uma revista, com a intenção de sentar-se na praia para ler. Na verdade, aquela era a desculpa que ela havia para passar pela casa nova de Joe!

Era estranho, estar do lado de fora, ao ar livre, estranho, estar caminhando ao sol da tarde, em vez de ficar de vigília no berçário. Mas as enfermeiras não tinham lhe dado opção, e ela decidiu aproveitar.

Ela estava vestindo shorts jeans e uma blusa branca de amarrar no pescoço, roupas de antes da gravidez que na verda­de estavam um pouco grandes para ela agora. Ela calçava san­dálias de couro vermelho, e a sensação do sol a bater-lhe nas pernas era deliciosa, era delicioso andar pela rua, embora ela tivesse a impressão de que esquecera alguma coisa, e checava o telefone constantemente para ver se o hospital havia ligado e ela não havia ouvido, ou vasculhava a bolsa para verificar se trouxera as chaves. Para ela, já era completamente anormal estar ali sem Willow.

Mesmo assim, o mundo havia continuado a girar muito bem sem ela. As árvores estavam carregadas de flores, a baía estava azul e brilhava no horizonte, e lá estava Joe, com seu novo barco preso ao para choques de seu carro.

— Lindo — Demi comentou, andando em volta do barco e inspecionando o novo bebê dele. — Lindo mesmo.

— Eu acho que estou apaixonado. — Joe sorriu, passando a mão pelo novo brinquedo de forma afetuosa, e Demi só pôde rir. — Como está Willow?

— Muito bem. Ela parece uma verdadeira fraude: está sau­dável demais para permanecer no hospital.

— Tudo pronto para amanhã? — ele perguntou.

— Mais pronto do que nunca.

— Você vai ficar muito bem — ele disse, para incentivá-la.

— Então, você vai velejar? — Ela não iria pedir para ir com ele, Demi decidiu, mas se ele a convidasse novamente...

— Eu acabei de voltar — Joe disse. — Eu saí com um amigo, ainda não estou muito seguro para velejar sozinho.

— Oh, não! — Demi concordou, sorrindo, mas seu cora­ção se apertou um pouquinho, percebendo que havia, literal­mente, perdido a chance com ele. — A rampa não é o lugar certo para praticar.

— Bem, eu ainda sou um novato, mas é bom velejar de novo. Eu havia esquecido como é bom.

— Há outra rampa de partida perto do riacho — Demi disse — caso você queira sair com o barco sozinho. Provavel­mente, ela é a menos movimentada por aqui, e você não vai atrapalhar os outros.

— Você já fez isso antes, então? — ele perguntou, curioso.

— O tempo todo — Demi disse, com um sorrisinho pre­potente. — Bem, quando papai e eu ainda nos falávamos, eu costumava ir pescar com ele.

— Você? — Joe levantou as sobrancelhas. — Pescando?

— Não, sonhando — disse Demi. — Mas estou "pescan­do'' agora...

Levou um segundo para Joe entender o que ela queria di­zer, e quando entendeu, ele sorriu.

— Vamos, então.

Era a tarde perfeita para velejar com um barco novo, a baía estava calma, com pouquíssimo vento. Para um iniciante, ele fez um trabalho bem decente, dando ré com o carro para encai­xar o barco na rampa, e saindo para lidar com o barco enquan­to Demi assumia o volante, exatamente como ela fazia quan­do saía com o pai. Depois de estacionar o carro, ela caminhou até a água, e Joe segurou sua mão enquanto ela subia no bar­co. O motor novo começou a funcionar, e ela estava muito feliz por ter aceitado o convite, muito feliz, enquanto Joe ma­nobrava o barco, de sentir a brisa em seus cabelos e simples­mente respirar novamente, depois daquelas últimas semanas.

Joe observava, enquanto lentamente ela relaxava.

Ela havia perdido muito peso desde o nascimento de Willow, e vendo a silhueta esguia dela aparecer, ele percebeu o quanto ela estivera doente, e provavelmente desde o dia em que ele a conhecera. Muito tempo passado no hospital, tanto como pa­ciente quanto cuidando de Willow, havia deixado Demi com uma cor pálida, nada saudável. Mesmo assim, o ar do oceano estava trazendo de volta um pouco de vida ao rosto dela, e quando ela não checou o telefone durante dez minutos segui­dos, Joe soube que finalmente, mesmo que por pouco tempo, a Demi de antes estava de volta.

Eles pararam um pouco e Joe serviu a comida que eles haviam comprado durante uma parada rápida na delicatessen. A distância, Melbourne tinha um brilho dourado, iluminada pelo sol do final da tarde. Willow estava indo para casa ama­nhã, e tudo estava certo no mundo, mesmo que às vezes as coisas parecessem diferentes.

— Assustada a respeito de amanhã? — Joe perguntou.

— Assustada, mas pronta — Demi admitiu.

— Você vai ser uma ótima mãe — disse Joe.

— É melhor que eu seja... — Demi sorriu. — Ela estará em casa em poucas horas.

Ele desembrulhou galinha ao molho de estragão e maionese, que estava tão deliciosa quanto da primeira vez em que eles haviam compartilhado aquela refeição, acompanhada de água mineral com gás. Para Demi, era uma grande felicidade sim­plesmente fazer uma pausa, fugir um pouco antes que sua vida mudasse mais uma vez, no dia seguinte.

— Você tem como buscá-la, está tudo resolvido? — Joe verificou.

— Papai e mamãe estão chegando — Demi informou. — Apareça lá em casa à tarde, se você quiser, eu convidei al­guns amigos, e nós vamos fazer um churrasco.

— Você não deveria ir devagar nos primeiros dias? — Joe perguntou, em dúvida.

— Esse é o plano — Demi disse, com uma fagulha de sua antiga verve. — Eu vou me livrar de todos de uma só vez!

Eles poderiam ter ido para casa depois do jantar, mas não foram. Joe estava brincando de marinheiro, enquanto Demi ficava deitada no convés do pequeno barco, os pés apoiados nas bordas, e escutava o som calmante das ondas. Ela não se lembrava de relaxar assim desde o nascimento de Willow, des­de antes de Willow nascer, talvez, na verdade, ela jamais hou­vesse relaxado assim na vida.

Quando ela abriu os olhos para dizer isso a Joe, de repente não se sentiu mais relaxada. Porque ele a estava observando, simplesmente sentado quieto, olhando para ela. Quando os olhos de Demi se abriram, ele não desviou os seus, apenas continuou olhando, e ela olhou para ele de volta, para aqueles olhos verdes contraditórios, que ao mesmo tempo procuravam por ela e resistiam a ela. Eles olharam um para o outro em si­lêncio, revivendo aquele primeiro e único beijo em suas men­tes, e aquilo tudo só serviu para confundi-la, porque naquele segundo ela teve certeza de que, sem Willow, haveria amor entre eles.

Sem Willow.

Era uma hipótese impossível, que ela jamais desejaria ima­ginar. Ela viu algo brilhar nos olhos dele, e poderia ter sido o vento ou o ofuscar do sol, ou poderia ter sido uma lágrima, porque havia arrependimento gravado nas feições dele, e arre­pendimento misturado com raiva nas dela,

Porque sem Willow, eles seriam meros colegas, agora.

Sem Willow, ela jamais teria ido morar do outro lado da rua dele.

Não podia haver "sem Willow", e não poderia haver "Joe e Demi".

— O momento não poderia ser pior, não é? — Ela não es­tava brincando, e não estava dando um tiro no escuro a respei­to dos sentimentos dele, porque ali, na água, quando estavam apenas os dois juntos, sem passado, sem futuro, apenas aquele momento no tempo, não havia a menor possibilidade de um dos dois negar o que estava acontecendo.

— É verdade — Joe disse, e não teve que continuar, ele havia colocado as cartas na mesa desde o começo.

— Então, eu não estou louca, nem imaginando coisas?

— Você não está ficando louca... — Ele tocou no cabelo dela, apenas segurando um cacho nos dedos, e como ele gos­taria de contar tudo a ela, de explicar, mas de que jeito? O alerta de Heath ecoava em seus ouvidos. Aquele era o dia de folga dela, quando ela não deveria estar se preocupando com nada, e ele não queria estragar tudo com a dor dele, não podia obrigar aquela jovem mãe a carregar o peso dos seus medos por ela, por aquela criança.

— Eu simplesmente não posso. — Aquilo tinha que ser su­ficiente.

— Eu sei.

— Eu disse a você, desde o começo.

— Você me disse.

— Ainda podemos ser amigos? — Joe perguntou, e a res­posta dela foi a mesma que estava gritando em sua própria mente.

— Eu não sei.

Talvez aquele fosse o último beijo deles, mas foi o mais doce de toda a vida dela.

Ele abaixou a cabeça e encostou os lábios nos dela, e se homens de verdade não choram, então, o grupo excluía Joe, porque ela sentiu a umidade dos cílios dele em seu rosto quan­do ele a beijou. Foi o mais suave dos beijos, mas estava tão misturado com arrependimento e amor, que a lembrança fica­ria com ela para sempre.

Ela não precisou pedir a ele que a levasse para casa depois, ele simplesmente ligou o motor do barco. Enquanto Joe diri­gia, Demi colocou óculos escuros enormes e tentou não cho­rar. A viagem para casa não foi nem agradável nem desastrosa, e nem aconteceram outros beijos.

— Você quer entrar? — ela ofereceu, quando ele estacionou em frente à casa dela. Ela sabia exatamente o que estava ofere­cendo, sabia por que o ar estava tão pesado com desejo, que não poderia haver dúvidas na cabeça de nenhum dos dois.

— Demi... — As articulações da mão dele estavam bran­cas, por causa da força com que ele segurava o volante. — Vá para dentro.

— Só esta noite — ela pediu. Ela queria um beijo de verda­de, de despedida, ela queria mais, e estava tentando convencer a si mesma de que conseguiria lidar com a manhã seguinte. Rejeição era certamente a especialidade dela: e ela odiava isso, agora.
— Boa noite, Demi — ele respondeu.
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Aqui p vcs <3 Desculpem-me a demora, estava fazendo um trabalho escolar! Gostaram? Comentemmmm! Estou esperando a resposta da Mari em relação a maratona... Beijos, Bruna ♥

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