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NORMALMENTE LEVAVA 20 minutos para chegar à agência mais próxima de seu banco. Mas hoje, Demi estava lidando com uma noite de sexta-feira, véspera de feriado, trânsito engarrafado por causa da nevasca. Então ela não conseguiu chegar ao caixa eletrônico antes de fechar, às 19h.
Faixas brancas grossas começaram a aparecer no para-brisa de seu jipe enquanto ela aguardava na longa fileira de carros. Lá em Nova York a neve costumava ficar com 30 centímetros, mas ali São Pedro parecia adorar enviar ventos perversos e arrepiantes em meio às suas gotas gélidas. Os flocos de neve não era daqueles bonitinhos e delicados que beijavam seu rosto nu suavemente. Estes eram grandes, escorregadios e molhados, pousando com golpes.
Assim que fez o depósito, Demi seguiu diretamente para casa. Por sorte ela acreditara na previsão do tempo e fizera suas compras no dia anterior. Após fazer um estoque de chocolate, Coca diet e DVDs, ela estava ansiosa por um fim de semana dentro de casa, comendo besteiras, assistindo a filmes de catástrofes e fazendo compras via internet.
A volta para casa foi complicada, muito embora seu jipe tivesse tração nas quatro rodas. Sua maior preocupação era enxergar através do manto branco em turbilhão diante do para-brisas. Chicago normalmente era uma cidade clara, mesmo à noite; muito embora aquele tipo de nevasca não refletisse a luz do jeito que ocorria em alguns lugares com neve. Aquela neve ali sugava a luz, tornando difícil enxergar as luzes da cidade.
Levou quase duas horas. Quando chegou ao seu prédio, Demi não estava apenas com frio e cansada, como na verdade estava agitada por ter precisado ficar tão alerta enquanto dirigia.
Uma vez dentro de seu apartamento, ela tirou seu casaco e seguiu para o banheiro. Um banho quente soava como o jeito perfeito para se livrar do estresse. Ela prometeu a si que, uma vez no banho, não iria passar nem um minuto pensando em Joe. Ou naquele beijo.
Por que você foi retribuir o beijo?
Provavelmente porque estava curiosa, se perguntando se as lembranças tinham falhas. Será que o breve relacionamento entre eles foi mesmo tão intenso quanto ela dizia a si ter sido? Será que todos os outros homens com quem ela estivera de fato eram sem graça em comparação a Joe, ou eram suas fantasias desejosas que colocavam desse modo?
Aquele beijo tinha respondido a todas as dúvidas dela: ela não havia imaginado nada, nada.
– Pare de pensar nisso – ordenou a si quando entrou na banheira. A água quente a incomodou no início, mas depois ela acolheu a sensação, e acolheria qualquer coisa capaz de tirar sua mente do homem que estivera beijando há poucas horas.
Não funcionou. Joe ficou mais proeminente em seus pensamentos. Não apenas o Joe de hoje, mas aquele que ela conhecera antes. O sujeito de quem tinha sido tão incrivelmente íntima.
O calor, o perfume do banho de espuma, a penumbra do cômodo, iluminado apenas por velas… tudo a seduzia. A sensação da água em cada centímetro de seu corpo… entre as coxas, acariciando as pontas dos seios… tudo deixava seus nervos agitados.
Mas quando o assunto era excitá-la de verdade, seu cérebro fazia todo o trabalho pesado. Era fácil demais se lembrar da sensação mágica das mãos dele em seu corpo, do jeito doce e sensual como ele beijava, dos gemidos de prazer que ele fazia quando chegava ao êxtase.
A mão dela deslizou para baixo, raspando pela pele escorregadia, provocando a ponta enrugada de um seio. O contato enviou um calor escaldante lá para baixo, até seu sexo latejar. Ela fechou os olhos, jogou a cabeça para trás, era fácil imaginar que eram as mãos dele ali nela, os dedos dele acariciando o clitóris delicadamente até ela começar a suspirar.
Demi se rendeu ao desejo, e deixou a mente fluir livremente. Lembranças deram lugar à imaginação e seu corpo, carente de conexão física há muitos meses, desde que ela fora embora de Nova York, reagiu de maneira apropriada. Logo um orgasmo lento e cálido deslizou pelo corpo dela. Ela suspirou um pouco, estremecendo e saboreando-o. Porém a satisfação foi embora depressa demais.
Simplesmente não dava para comparar com a coisa real. Para Demi, fazer sexo nunca havia sido o objetivo; era a partilha da experiência que ela amava. E não podia negar, mesmo depois de todos esses anos, depois do silêncio e do pesar, que ela queria compartilhar toda aquela experiência com ele.
Ela finalizou seu banho rapidamente, repassando os acontecimentos do dia na mente enquanto lavava o cabelo. Enquanto relembrava de tudo, incluindo o jeito como ela tentara escapulir do prédio quando Joe virou as costas, algo começava a incomodar lá no fundinho de seu cérebro. No começo ela não conseguiu identificar o que era, apenas sentindo como se tivesse se esquecido de alguma coisa. Algo importante.
Só quando estava vestida e usando um suéter confortável, com o cabelo envolto em uma toalha, é que ela percebeu o que era.
– Ai, não! – berrou.
Demi correu até a sala de seu apartamento, notando sua bolsa em cima da mesa. Só a bolsa.
– Sua idiota!
Porque, embora esperasse e torcesse para ter simplesmente se esquecido de tirá-los do carro, ela temia seriamente ter deixado suas posses mais preciosas no escritório da Elite Construction: a bolsa com a câmera e todas as suas lentes especiais caríssimas.
Ela se empoleirou em uma cadeira, tentando relembrar todos os momentos. Lembrou-se de colocar os equipamentos no trono do Papai Noel antes de sair com Stella. Quando voltou, viu Joe. Desesperada para sair sem ser vista, correu para o elevador. Sem parar para pegar sua bolsa com a câmera e as lentes.
– Droga – soltou ela, tentando concluir se aquilo era só ruim ou se era catastrófico. Demi tinha trabalhos grandes agendados para a semana seguinte. A segunda-feira seria com uma família muito rica, que queria fazer uma foto de Natal em casa. Eram do tipo que realmente poderiam lhe dar uma boa ajuda para prosperar dentre os abonados de Chicago.
Infelizmente Demi se lembrou do que Stella dissera sobre os escritórios da Elite: após esta noite, eles ficariam fechados até janeiro.
Olhou para o relógio… quase 22h. Então pela janela. E neve ainda caía constantemente, mas aparentemente o vento havia abrandado um pouco. Ela de fato conseguia ver o estacionamento lá embaixo, conseguia distinguir os carros dirigindo lentamente na rua principal, que havia sido arada, embora o estacionamento em si não tivesse sido.
Se o escritório fosse no centro da cidade, ou tão longe quanto o banco, ela provavelmente não teria arriscado. Mas era perto, talvez uns três quilômetros. E o guarda poderia até estar trabalhando. Não havia garantias de que este seria o caso na segunda-feira, principalmente se a cidade inteira ficasse coberta pela neve até lá.
Claro, se isso acontecesse, seu próprio trabalho agendado poderia ser cancelado também. Mas se não fosse assim, se o meteorologista tivesse superestimado dessa vez, e tudo estivesse bem na segunda-feira, será que valia realmente arriscar não estar com o equipamento do qual ela precisava para o trabalho?
Convencida, Demi correu para seu quarto e vestiu uma calça jeans e um suéter grosso. Colocando as botas e seu casaco mais quente, ela seguiu para fora. A neve em seu carro estava espessa e molhada, e durante todos os minutos que passou limpando foi lembrada de que era louca por ir atrás de sua câmera no início de uma nevasca.
Felizmente, assim que ela saiu do estacionamento e entrou na estrada lamacenta, viu que as coisas estavam melhores do que quando ela havia chegado em casa, uma hora atrás. A neve estava mais densa, sim, mas ela não precisava mais se inclinar para a frente e encostar o nariz no para-brisa para enxergar. Aparentemente São Pedro estava lhe dando um refresco… uma janela curta livre do vento. Ela só esperava que essa janelinha não fosse fechada até que pudesse retornar para casa.
A mesma estrada que ela levara apenas alguns minutos para percorrer de manhã lhe tomara 15 minutos esta noite.
Mas quando ela chegou ao estacionamento da Elite Construction e viu o veículo da segurança estacionado lá, além das luzes quentes e acolhedoras no primeiro andar, ficou feliz por ter arriscado.
Estacionando, ela correu para a entrada e bateu à porta. O sujeito lá dentro levou um susto tão grande que quase caiu de seu banquinho. Ele se aproximou, berrando:
– Estamos fechados!
– Eu sei! – disse ela, então tirou o capuz para que ele pudesse ver seu rosto. Esperançosamente ele se
lembraria dele, se não por outro motivo, pelo menos pelo fato de ela estar dando amassos em um de seus colegas de trabalho há algumas horas. – Lembra-se de mim? Eu estive aqui mais cedo.
Ele assentiu e sorriu. Sacando o imenso chaveiro, destrancou a porta e a incitou a entrar.
– Deus, senhorita, o que está fazendo aí fora em uma noite como essa?
– Eu não estaria aqui se não estivesse desesperada. – Ela limpou os pés em um enorme capacho. – Preciso subir para o andar onde a festa foi realizada. Esqueci uma coisa e preciso pegar esta noite.
– Deve ser muito importante – disse ele, as sobrancelhas grisalhas se unindo. – Não é uma noite boa para nenhum homem ou bicho sair.
Ela riu, reconhecendo a frase de um programa de TV ao qual amava assistir quando criança.
– Você acha que pode me deixar subir para procurar por minhas coisas?
– Vou acompanhá-la até lá em cima. Preciso fazer minha ronda, de qualquer forma.
Ele a guiou até o conjunto de elevadores e digitou um número no teclado mais próximo. A luz acima se acendeu e a porta se abriu. Coisa bem moderna. É claro, ela havia notado mais cedo que o prédio novíssimo tinha toda a parafernália mais moderna.
Chegando ao sexto andar, Demi correu para a área onde a cabine de fotos havia sido armada. Já estava tudo desmontado. Não havia mais trono do Papai Noel, assim como sua bolsa e seu estojo.
– Ai, droga.
– Algumas coisas foram deixadas na sala de descanso – informou ele. – Se é coisa de valor, é possível que alguém tenha guardado no armário trancado para você.
– Pode ser. Stella me viu deixando a câmera e as lentes aqui.
– Vamos verificar no escritório dela primeiro então – disse ele, acompanhando-a pelo corredor, até a suíte executiva. – Ele entrou antes dela, mas antes que Demi tivesse ao menos a chance de segui-lo, ela o ouviu exclamar: – Ah, não, cuidado, senhor!
Seguindo o olhar dele, Demi olhou pela janela, para a rua abaixo, e viu um carro rodando descontroladamente na pista. Ele patinou para fora da rua, aquaplanando pelo estacionamento onde a caminhonete do segurança da Elite Construction estava estacionada. Demi estremeceu, duvidando que o motorista conseguisse recuperar o controle.
Ele não recuperou.
– Que desgraça – disse o guarda. Ele lhe lançou um olhar breve. – Importa-se de continuar procurando sozinha? Vou descer e me certificar de que o motorista está bem. Se suas coisas não estiverem aqui, verifique o refeitório no fim do corredor, quarta porta à esquerda.
– Claro – respondeu Demi, então observou o senhorzinho se apressando. Ela examinou a área do escritório rapidamente. Sem sorte. Não iria bisbilhotar as gavetas da escrivaninha de Stella ou o armário de arquivos, mesmo que não estivessem trancados. De qualquer modo, suas coisas não caberiam ali.
Passou vários minutos seguintes procurando pelo refeitório. Estava cheio de caixas com decoração e embalagens fechadas de alimentos. Demi procurou em todas as bolsas e caixas, para ter certeza de que ninguém havia enfiado suas coisas ali para ficarem seguras.
Ficando cada vez mais frustrada, e preocupada com a possibilidade de alguém ter pego a câmera e as lentes como um presente de Natal antecipado, ela abriu um armário e descobriu seu tesouro.
– Isso! – exclamou vendo a bolsa e estojo familiares.
Ficou tão aliviada que sentiu vontade de chorar, pegou tudo e correu para o elevador, apertando o botão para chamá-lo. Aguardou. E aguardou. E aguardou. Nada.
Aparentemente o guarda precisava digitar o código no teclado novamente para ela poder descer. Perguntando-se se ele ainda poderia estar lá fora durante todo esse tempo, foi até a janela da frente e olhou para o estacionamento.
O que viu a surpreendeu. Uma ambulância, as luzes piscando, estava estacionada ao lado dos dois veículos envolvidos na batida. Não tinha percebido que o acidente tinha sido tão grave, mas aparentemente o motorista estava machucado. Eles o estavam colocando sobre a maca e empurrando-o para a ambulância.
De repente a maca passou sob um poste, e ela pôde ver melhor a pessoa que estava deitada ali. Mesmo através da neve e da escuridão, dava para distinguir o cabelo grisalho, isso sem mencionar o uniforme.
Não era o motorista do outro carro. Era o segurança do prédio.
– Ai, Deus! – murmurou ela, imaginando o que tinha acontecido.
Será que ele saíra para ajudar a vítima do acidente… e escorregou e caiu? Ou talvez estivesse tentando desatolar o carro do banco de neve. Considerando sua idade, e sabendo que até mesmo o mais saudável dos sujeitos poderia ser afetado quando tentasse cavar uma quantidade muito grande de neve, ela rezava para que ele não tivesse tido um enfarto.
Então começou a imaginar outra coisa.
E se estivesse presa naquele prédio?
Seu coração começou a palpitar enquanto reproduzia tudo na mente. O jeito consciencioso como o homem trancara a porta cuidadosamente naquela tarde, embora as pessoas ainda estivessem saindo. E o jeito como ele obviamente mantivera o elevador desligado esta noite, apesar de saber que ela estava lá em cima.
Será que ele realmente…
– Não – murmurou ela, certa de que ele não a teria trancado ali enquanto seguia para ajudar o outro motorista.
Só havia um jeito de ter certeza. Lembrando-se de como Joe a alcançara no saguão hoje, encontrou a porta que dava para as escadas de emergência e seguiu por lá. Seis andares abaixo não era muito divertido, mas era melhor do que ficar sentada no escritório de alguém durante a noite toda.
Chegando à entrada, ela prendeu a respiração e empurrou a porta mais próxima. Nem se mexeu. Nem a porta ao lado, nem a seguinte. Ela realmente estava trancada ali.
– Todo prédio tem uma saída de emergência – lembrou a si. Ela só precisava encontrar. O quão difícil poderia ser?
Não seria nem um pouco complicado.
Pelo menos, ela achava que não… até as luzes se apagarem.
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Oii meus lindos!! bom, como eu acho que ainda vou demorar um pouquinho para poder postar no blog de "A Sexóloga" já adianto aqui o meu muito obrigado!!! vocês são uns amores mesmo, muito obrigada por sempre me apoiarem, por sempre me fazerem feliz e continuar acreditando em mim mesma, acreditando que eu posso sim fazer o que gosto, muito obrigada!!!
eu espero que vocês gostem e continuem gostando da mini-fic, ela, como eu havia falado antes, é muito linda e fofa, vocês vão amar *---*
Beijoos, eu amo vocês <3
Oii meus lindos!! bom, como eu acho que ainda vou demorar um pouquinho para poder postar no blog de "A Sexóloga" já adianto aqui o meu muito obrigado!!! vocês são uns amores mesmo, muito obrigada por sempre me apoiarem, por sempre me fazerem feliz e continuar acreditando em mim mesma, acreditando que eu posso sim fazer o que gosto, muito obrigada!!!
eu espero que vocês gostem e continuem gostando da mini-fic, ela, como eu havia falado antes, é muito linda e fofa, vocês vão amar *---*
Beijoos, eu amo vocês <3
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ResponderExcluirAmei, posta++
ResponderExcluirAmei muito esse capítulo perfeito demais ... E o que vai acontecer agora o Joe vai aparecer ??? Oh Deus preciso de uma pista
ResponderExcluirFabíola Barboza
Ai meu Deus, ta perfeita. Eu to amando e to apaixonada <33 posta mais logo mari, por favor!
ResponderExcluirMeu Deus, essa ai promete.... Posta mais!!!!!!! Vou continuar comentando tanto aqui quanto no outro blog, suas fics e adaptações são demais. Um beijo!
ResponderExcluirPosta logooo
ResponderExcluirOi Mari!!
ResponderExcluirEstou amando essa mini fic!!! Ela é muito fofa...estou ansiosa para saber o que vai acontecer.... fico aqui tentando adivinhar!!! Bju!!