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Antes
Nova York, 23 de dezembro de 2008
DEMI TEVE de dar algum crédito a Joe, aquele estranho muito bonito. Ele não se levantou e saiu da cafeteria quando ela admitiu que estivera fantasiando sobre separar o namorado de uma parte de sua anatomia. Ele não gritou, se encolheu ou colocou a mão de maneira reflexiva e protetora sobre o colo. Nenhuma das opções acima. Em vez disso, ele simplesmente a encarou por um segundo, então deixou que uma risada alta saísse de sua boca.
Ela sorriu também, principalmente porque ela não estava realmente fantasiando sobre mutilar Alex no instante em que aquele sujeito veio por trás dela. Na verdade, ela estava rindo de si por ter pensando no assunto mais cedo. De algum modo, seu humor havia mudado desde o momento em que adentrara a cafeteria até o instante em que aquele homem incrivelmente lindo se aproximara.
Incrivelmente. Lindo.
Ao redor, outras pessoas na cafeteria olhavam de soslaio.Demi não era cega aos olhares que se demoravam sobre ele. Deus sabia, qualquer mulher sexualmente ativa olharia. Ela não era ativa e mal conseguia tirar os olhos do sujeito!
Visto de longe, ele era super sensual. De perto, agora que ela podia notar as centelhas em seus olhos verdes estonteantes, o sorriso branco deslumbrante, a leve barba por fazer nas bochechas, bem, ele ia de quente e sensual para ardente e irresistível. Ela realmente sentira um tremor quando as mãos deles se tocaram, incapaz de pensar em qualquer coisa senão no jeito como seria sentir aquele dedos fortes e rudes em sua pele.
Lindo, sensual, forte. E com senso de humor.
Por que ela não podia ter conhecido aquele cara em um dia no qual não estivesse odiando todas as criaturas que tivessem um pênis?
Você não. Nem todos os caras.
Sinceramente? Ela não odiava nenhum deles. Ela não odiava Alex. Ela teria de se importar com ele para odiá-lo e, honestamente, pensando bem no assunto, ela sabia que não dava a mínima.
– Você está falando sério? – perguntou ele assim que a risada esmoreceu.
– Não sobre fazer de verdade.
– Mas está pensando mesmo nisso?
– É a minha vez de recorrer ao meu direito de ficar calada.
– Por quê?
– Provavelmente porque não é muito legal admitir que você está fantasiando sobre desmembrar alguém.
–Não, eu quis dizer por que você queria, hum… desmembrá-lo?
– Não queria, eu só estava me entregando a um pouco de vingança mental. Ele não era o mais fiel dos caras.
– Odeio traidores – disse ele, a voz solidária e revoltada.
– Diz isso por experiência própria?
– Bem, não exatamente – admitiu ele. Sim. Porque para qualquer mulher trair aquele sujeito, só se tivesse passado por uma lobotomia recentemente. – No entanto, eu meio que fui traído uma vez… por um cara.
Ela não mordeu a isca, sabendo que de jeito nenhum que Joe poderia ser gay. Não havia nenhum gene que não fosse hétero naquele corpo; dava para praticamente sentir o cheiro dos ferormônios masculinos que o cercavam feito uma névoa, atraindo todas as mulheres do lugar.
– Deixe-me adivinhar… Seu melhor amigo na primeira série resolveu que queria jogar queimada em vez de pega-pega e largou você sozinho no parquinho?
– Quase – disse ele, os olhos brilhando em aprovação por ela não ter se infiltrado onde a maioria o faria. – Foi durante o ensino médio. Eu queria que meu melhor amigo ficasse comigo na equipe de luta, ele queria participar do musical da escola. – Ele balançou a cabeça pesarosamente. – Eu simplesmente não conseguia entender o que se passava na cabeça dele. Só depois ele finalmente me contou a verdade, e então fiquei tão furioso que fiquei uma semana sem falar com ele.
De algum modo decepcionada com ele, ela enrijeceu um pouco.
– Você ficou bravo com ele porque ele era gay?
– Não, ele não era gay! Ele me contou que largou a luta e foi fazer teatro porque, deixe-me ver se me recordo exatamente… “Por que eu iria querer rolar na lona com um monte de caras suados quando poderia ser um dentre poucos caras cercado por algumas das garotas mais bonitas da escola?” Cara, algumas daquelas meninas do teatro eram bonitas… e ele nunca me contou, ficou com todas para si!
Ela riu alto, gostando tanto da história quanto do fato de ele tê-la contado. Obviamente ele estava tentando distraí-la, diverti-la. Era uma atitude legal da parte de um sujeito tão jovem e tão bonito.
– Então seu primeiro romance fraternal terminou com um rompimento horrível.
– Sim. Agora, voltemos ao seu caso…
– Não é um romance fraternal, obviamente. Mas também foi desagradável. Eu só queria que fosse algo tão simples quanto ele preferindo A noviça rebelde a imobilizações e deslocamentos.
Ele arregalou os olhos.
– Ei, você entende de luta!
– Irmão mais velho.
– Então ele vai chutar o traseiro desse traidor?
– Sam? Não. Ele não mora aqui, e mesmo que morasse, de jeito nenhum que eu lhe contaria sobre isso.
– Por quê?
– Porque ele é policial. E é extremamente super protetor. – Embora Demi normalmente não tocasse muito nesse assunto, por algum motivo, ela achou aquele sujeito muito agradável, então acrescentou: – Ele meio que se transformou em meu pai quando nossos pais morreram.
Joe se recostou na cadeira, apoiando os cotovelos na mesa. Os dedos roçaram na mão dela, em um gesto tão fugaz quanto doce. Um leve roçar tipo Sinto muito e Que chato e Ei, eu entendo.
Tudo implícito. Tudo compreendido.
Tudo apreciado por ela.
Demi pigarreou, sentindo um bolo começar a subir na garganta, do jeito que sempre acontecia quando esse assunto em particular vinha à tona.
– De qualquer forma, eu não preciso que Sam compre minhas brigas. Posso cuidar de mim.
– Não duvido – disse Joe.
– Não se preocupe. Eu realmente não faço o tipo violento. Esse sujeito não esmagou meu espírito, ele simplesmente cutucou meu ego.
Ele sustentou o olhar dela, como se avaliando a verdade em suas palavras. Demi encarou de volta, um sorrisinho nos lábios, aliviada por estar sendo exatamente fiel ao que disseram, esperando que Joe percebesse aquilo também.
– Fico contente – admitiu ele finalmente, enxergando a verdade no rosto dela.
– Eu também.
– Mesmo assim, se você mudar de ideia e resolver dar uma de maluca-da-serra-elétrica com esse namorado, lembre-me de não ir com você. Eu não gostaria de ser preso como cúmplice.
Demi riu quando ele voltou suas palavras ditas mais cedo contra ela, então esclareceu:
– Ex-namorado. – Balançando a cabeça, ela acrescentou: – Acredite, nada poderia me induzir a voltar para lá. – Então algo lhe ocorreu: – Ai, não! – Demi pôs a mão na testa quando se lembrou de uma coisa.
– O que foi?
– O presente de Natal que meu irmão mandou para mim. Chegou pelos Correios hoje… Ele enviou para a casa de Alex porque sabe que algumas vezes roubam a correspondência no prédio onde moro, e Alex tem um porteiro. – Ela sentiu os olhos úmidos, furiosa consigo por ter se esquecido do presente, mas também preocupada com o destino que Alex lhe daria. – Ele provavelmente já jogou no lixo.
– Alex? – disse ele em dúvida. – Deixe-me adivinhar… Um moleque riquinho e mimado?
Pode ter levado um tempo para ela enxergar, mas Demi tinha de admitir, aquilo descrevia muito bem seu ex.
– Como você sabe?
– Ter um porteiro em Nova York é uma grande pista. Assim como ter o nome Alex. Além disso, ele deve ter feito algum bem ruim para você fantasiar em cortar sua cobrinha, e ainda assim ele jogar o presente de Natal do seu irmão no lixo… significa que ele é um pirralho imaturo e petulante. – Ele abriu as mãos. – Ou um babaca rico mimado.
– Todas as alternativas acima.
– E você está com essa cara por quê…?
– Não estou com ele.
– Mas estava há…
Ela suspirou profundamente.
– Há umas duas horas.
Ele assobiou, se recostando na cadeira, esticando as longas pernas, cruzadas na altura dos tornozelos.
– Era sério? Quero dizer, havia exclusividade no namoro de vocês?
– Não de acordo com ele, aparentemente.
Ele enrijeceu um queixo um pouquinho.
– E de acordo com você?
– Bem, eu pensava que sim, mas talvez eu enxergasse as coisas de um modo diferente do dele. Estávamos juntos há três meses, mas nós nem mesmo tínhamos… você sabe. Então talvez ele tenha traído porque não havia ido a lugar algum comigo.
Joe tossiu sobre o punho fechado, aparentemente surpreso por ela admitir aquilo. Talvez tivesse perdido o interesse; alguns sujeitos perderiam diante da ideia de ter uma garota esperando por três meses antes de ir ao que interessa. Se fosse isso mesmo, era melhor descobrir agora se ele era desse tipo.
Por que deveria ser, ela não sabia. Afinal, ela poderia nunca mais falar com o sujeito de novo depois que saísse da cafeteria. De algum modo, aquela ideia fazia o coração dela se apertar um pouco mais do que ocorrera mais cedo quando pensara sobre nunca mais ver Alex.
– Bom para você – disse ele.
Tudo bem, então ele não era um daqueles caras, aparentemente. A percepção a aqueceu um pouquinho naquele dia frio.
– Deixe-o ser consumido pela angústia, imaginando o que desperdiçou.
Ela gostava da ideia.
– Espero que daqui a 20 anos ele ainda vai estar se perguntando se perdeu o melhor sexo da vida dele.
Os olhares de ambos se intrincaram quando as palavras acaloradas ficaram pairando entre eles. Estavam tendo uma conversa íntima demais para dois estranhos, e agora, ela suspeitava, ambos estavam pensando um pouquinho demais em determinadas partes daquela conversa.
Como sexo. Sexo ótimo. Ela pode até não ter feito, ótimo ou de qualquer outro tipo, mas isso não significava que era imune ao desejo. Ao olhar para o homem diante de si, sentindo o calor fluir por suas veias para então repousar com uma insistência silenciosa e latejante entre suas coxas, Demi sabia muito bem que era detentora de uma compreensão básica do querer.
Ou mais do que básica. Porque não era só seu sexo que estava reagindo ali. Cada centímetro de sua pele formigava quando ela o imaginava lhe tocando, pressionando a boca às partes mais interessantes de seu corpo. Lugares que reagiam ao olhar cálido nos olhos dele e ao modo como ele abria a boca para suspirar lentamente, de um modo nunca haviam reagido, nem mesmo ao abraço mais apaixonado de qualquer indivíduo.
O olhar dele baixou para a boca de Demi e a voz saiu densa quando ele finalmente respondeu:
– Eu quase sinto pena do desgraçado.
Ela não sentia. E definitivamente não sentia mais pena de si também. Não quando, após uma conversa de 20 minutos, aquele completo estranho a estava apresentando a sensações que seu ex não suscitara em meses de namoro.
Ela não sentia. E definitivamente não sentia mais pena de si também. Não quando, após uma conversa de 20 minutos, aquele completo estranho a estava apresentando a sensações que seu ex não suscitara em meses de namoro.
Eles permaneceram em silêncio por mais um instante. Então, como se ambos tivesse percebido estar caindo em algo que nenhum dos dois havia previsto, na velocidade da luz, nada menos que isso, eles se remexeram em suas cadeiras e quebraram o contato visual.
Demi forçou uma risadinha, tentando fingir que não estava completamente arrebatada pela ideia de beijar os músculos do pescoço dele.
– Não vou oferecer qualquer compaixão a ele até recuperar meu presente e ter certeza de que ele não o destruiu.
Joe semicerrou os olhos reluzentes.
– Você realmente acha que ele destruiria?
Ela pensou no assunto, lembrou-se das atitudes mais rancorosas de Alex. Isso sem mencionar sua indignação ridiculamente descabida demonstrada por ele hoje, como se fosse culpa de Demi tê-lo flagrado, não dele por ter traído.
– É possível.
Joe enrijeceu o maxilar, um músculo se contraindo em seu rosto.
– Por que você não me deixa cuidar disso?
– Por que você faria isso? Você nem mesmo me conhece.
– Conheço o suficiente para saber que você não deveria ter que implorar a alguém que a traiu que devolva algo que lhe pertence.
Ela ouviu o tom protetor na voz dele, e achou estranho. E muito legal. Joe havia acabado de conhecê-la, no entanto já havia sido mais cuidadoso e atencioso com seus sentimentos do que Alex tinha sido nos últimos três meses.
– Não é grande coisa – insistiu ela sem querer enfiar outra pessoa em seus problemas.
– É de um membro da sua família, Dem – respondeu ele, balançando a cabeça. – Então é claro que é grande coisa. Quero ter certeza de que você vai recuperá-lo.
Demi prendeu a respiração. O jeito suave como ele pronunciara seu apelido, Dem, pareceu tão gentil. E o modo como ele compreendeu de imediato a importância do presente de Sam para ela, sem que ela precisasse explicar… Quem é você?, ela não conseguia evitar se perguntar. Você realmente é esse cara legal?
– Você acha que ele realmente destruiria seu presente de Natal?
Ela não gostava de pensar que sim, mas era possível.
– Ele ficou bem furioso quando saí, principalmente porque eu não quis ficar para ouvir sua explicação.
– E poderia haver alguma explicação?
Ela zombou:
– Claro. – E bateu um dedinho na bochecha, como se estivesse pensando. – Hum, tudo bem, tenho uma ideia de como as coisas chegaram a um ponto… hum… oral.
Um meio-sorriso ergueu o cantinho da boca super sexy dele, como se compreendendo o motivo da inflexão dela.
– Então… a tal vizinha vadia estava tomando banho e se esqueceu de que não tinha xampu – explicou Demi. – Enrolada apenas na toalha, ela foi até a porta dele para pedir algum emprestado.
– Espere – interrompeu ele. – Aposto que sei o que aconteceu em seguida. Acontece que ele estava prestes a entrar no banho também, então também estava enrolado na toalha.
Ela riu, pensando em como já poderia estar achando aquilo engraçado quando o ocorrido a havia feito chorar mais cedo. Mais uma prova de que seu coração nunca havia estado envolvido naquele relacionamento com Alex, ela supunha.
– E então… hum. Já sei – falou ela. – Um monte de cachorros raivosos entrou no prédio de algum modo, pegou o elevador, entrou no apartamento e rasgou a toalha dos dois. E na luta que se seguiu, a vizinha vazia tropeçou e caiu de boca no pintinho murcho e esquisito dele.
Joe fez uma careta.
– Ai.
– Ai por ela ou por ele?
– Bem, principalmente por você – disse ele, aquele tom gentil de volta à voz. – Por ter testemunhado isso. – Aquele sorriso sexy lampejou. – Mas também ai por ele, por ter um pintinho murcho e esquisito.
– Considerando que foi a primeira e última vez que vi, só posso dizer que fico feliz por ter resolvido não dormir com ele.
– Eu também – admitiu ele, soando como se falasse sério. O que era estranho, considerando que ela nem mesmo o conhecia, e nenhum dos dois fazia ideia se um dia iriam compartilhar algo além daquela única conversa naquele instante em especial.
Ela esperava que sim. Foi rápido, e totalmente surpreendente, e a época foi bem inoportuna. Mas Demi já tinha a sensação de que aquele sujeito sexy e trabalhador era alguém muito especial. E mesmo com a timing completamente errado, ela poderia ser a única com arrependimentos eternos se ao menos não desse tempo àquilo para se desenvolver.
– Então… Você sempre sai por aí contando sobre sua vida sexual a estranhos? – perguntou ele.
Ela brincava com sua xícara de café, trilhando os dedos pela borda, sem o encarar.
– Você é o primeiro – admitiu ela. Esperando não revelar demais, deu de ombros e acrescentou? – É que você simplesmente não parece um estranho.
Não parecia. Ela como se ela já estivesse começando a conhecê-lo, ou pelo menos conhecer a essência dele. A atração física tinha sido instantânea. Mas havia muito mais. Mais cedo, quando Demi mencionara seus pais, houve aquele calor, aquele sorriso, os olhares gentis, aquele roçar sempre tão delicado dos dedos dele na mão dela. E então houve a reação dele ao fato de ela ter sido traída. A indignação por causa do presente de Natal perdido.
Todas aquelas coisas contavam uma história. Uma boa história.
Uma história que ela queria explorar um pouquinho mais. Ou muito mais.
– Tudo bem então, se não somos estranhos, acho que isso significa que somos amigos – disse ele a ela com um sorriso afetuoso. Então, sem explicações, ele afastou a cadeira para trás e ficou de pé. Demi não tinha certeza do que ele pretendia… ir embora, chamá-la para sair?… Até que ele estendeu a mão para ela.
– Então venha, amiga. Vamos pegar seu presente de Natal.
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