20.6.14

Emoção - Capitulo 5

 
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HUM. DINHEIRO ou dignidade? Ir com a assistente mandona ou correr loucamente? Decisões, decisões.

Numa situação normal, Demi teria seguido em direção à porta no segundo em que Joe virasse as costas. Tinha trabalho a fazer: editar, tratar, cortar as imagens… além de todos os afazeres normais do dono de um pequeno negócio, mas que normalmente eram esquecidos durante o entra e sai de clientes.

Como os clientes não apareceriam durante o Natal, no entanto, ela poderia colocar tudo em dia. E uma coisa que precisava colocar em dia eram os pedidos. Tinha equipamentos para comprar, e se pagasse por eles até o dia 31 de dezembro ela amorteceria bastante as tarifas de imposto do ano fiscal seguinte.

O que significava que ela realmente ficaria por causa do dinheiro. Eles havia oferecido muito, tanto pelo tempo disponível, quanto pelos pacotes de porta-retratos que a empresa havia pedido para todas as famílias. O dinheiro poderia ser suficiente até mesmo para adquiri um novo laptop e as lentes novas das quais ela precisava.

Joe ficou olhando para ela, sem suplicar, sem ordenar. Apenas pedindo a ela que aguardasse, que desse a eles a oportunidade de conversar. Recuperar os velhos tempos? Sério, o que eles teriam para dizer além de Ei, lembra-se de quando fizemos sexo louco selvagem em cima de uma pilha de neve falsa na oficina do Papai Noel?

Bons tempos.

Que nunca deveriam ser repetidos.

– Eu realmente preciso ir – disse ela.

A assistente, que tinha modos um tanto bruscos que diziam que ela não aceitava não como resposta, não aceitou o não como resposta.

– Não seja boba, não vai levar cinco minutos. Vai poupar nossos contadores do trabalho.

Ela espiou a mulher, cheia de dúvida, desconfiando que aquele lugar não mantinha seus recibos e cheques cancelados dentro de caixas de papelão vazias como ela fazia.

– Depois da festa, os escritórios ficarão fechados até o Ano Novo. Então eu realmente gostaria de resolver isso hoje, acertar os custos da festa no livro de contas, se você não se importa.

Hum. Aparentemente todo negócio precisava lidar com aqueles malditos pequenos percalços da Receita Federal, mesmo empresas grandes como aquela. A qual, a julgar pelo tamanho daquele prédio novo de seis andares, e pelo fato de a Elite Construction ocupar absolutamente todos os pisos, era muito grande de fato. Ela se perguntou mais uma vez o que Joe fazia ali.

Obviamente ele não era mais marceneiro… estava vestido como um executivo.

Não conseguiu evitar imaginar o que havia acontecido com o sonho dele de um dia comprar um terreno e construir uma casa nele, sendo responsável por instalar pessoalmente cada pedra, cada veneziana, cada tábua. Será que Joe desistira de seus sonhos? Ou eles meramente haviam mudado, tal como os dela?

Como se percebendo que a própria presença estava deixando Demi relutante, Joe disse:

– Preciso ir. Foi ótimo ver você de novo, Demi.

– Você também.

Ela forçou um sorriso duro, desejando poder voltar meia hora no tempo para pensar em algo diferente para ser dizer àquele homem. Algo leve e casual, algo que não revelasse o jeito como ela sentia-se por não ter notícias dele depois daquele feriado mágico. Algo diferente de “Bem, se você tivesse telefonado, saberia onde estive nos últimos seis anos.”

Vacilo, garota. Que vacilo. Ela quase conseguia ouvir a voz de Miley a repreendendo por ter feito aquele comentário arrogante, recalcado. Muito embora agora fosse haver ecos de um bebê e de uma criança novinha chorando ao fundo enquanto elas conversassem.

Demi, enquanto isso, tivera apenas uns poucos casos sexuais depois de Joe. Mas não chegara nem perto de se apaixonar. Não depois dos dois golpes que recebera aos 22 anos. Primeiro Alex, depois Joe.. sendo que o último fora verdadeiramente responsável por ensinar amor e perdas a ela. Seu pobre coração formara um exoesqueleto mais grosso do que o dos insetos. Desde então, ela transformara o lema “ame-os e deixe-os” em estilo de vida, apenas substituindo o “ame” por “faça sexo com”.

Até mesmo Miley ficou impressionada.

Demi observou Joe se afastar, notando que ele não olhou para trás. A partida dele devia ter facilitado a permanência ali para receber o pagamento. Em vez disso, só serviu para irritá-la. Era sempre Joe quem ia embora. Dia desses ela ia querer ser a pessoa a fazer a saída em grande estilo.

Porém saídas em grande estilo não compravam lentes nem laptops. O dinheiro comprava. Ela havia gastado muito ao fazer a mudança do estúdio de Nova York para Chicago. Sim, ela estava construindo uma reputação e os negócios iam bem. Esse cheque, no entanto, poderia trazer benefícios para sua receita líquida.

Se ela depositasse o cheque esta noite, então no fim de semana poderia comprar o laptop pela internet alegremente enquanto todo mundo estaria desembrulhando suéteres horrorosos e comendo um bolo de frutas duro. Demi tinha trabalhos agendados para toda a semana seguinte, alguns grandiosos, que poderiam render um bom dinheiro. Além disso, ela estava esperando notícias de uma revista infantil em Nova York, para a qual havia enviado alguns de seus trabalhos. Queria estar pronta caso telefonasse e dissessem que queriam mais.

– Tudo bem, se você pode me pagar agora, eu realmente agradeceria – disse ela à assistente, que estava aguardando pacientemente, olhando Demi observar Joe.

– Excelente. Venha comigo.

Demi largou a bolsa de câmeras e lentes e seguiu a mulher, que havia se apresentado como Stella quando telefonara uma semana antes para contratá-la. Elas abandonaram a festa, seguindo por um longo corredor em direção aos escritórios. Demi não pôde deixar de notar a opulência do local, o carpete grosso afundando sob seus pés, os belos quadros enfileirados nas paredes. Alguém havia passado um bom tempo decorando aquele lugar, e ela suspeitava que os clientes da empresa estivessem entre os mais ricos de Chicago.

No finalzinho da ala executiva havia uma suíte fechada, para onde Stella a levou. Havia um amplo balcão de recepção no meio da sala de espera, bloqueando o acesso a um conjunto de portas duplas imponentes. Stella passou por elas, rumo ao que parecia o escritório do chefão. Era imenso, uma sala de esquina com janelas do piso ao teto nas duas paredes. O prédio não era terrivelmente alto, mas a localização bem na parte costeira, bem nos limites da cidade, significava que nada bloqueava a linda vista. A mesa era tão grande quanto a cozinha do minúsculo apartamento de Demi, e em uma alcova parcialmente bloqueada ela via uma sala para relaxar, completa, com geladeira, TV e um sofá-cama… aberto.

– Uau, seu chefe é um escravagista? Você fica de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana?

A mulher olhou ao redor, então percebeu do que Demi estava falando.

– Isso é só para ele. Nosso chefe só é rígido consigo mesmo.

– Ele mora aqui ou coisa assim?

– Algumas vezes parece que sim – disse Stella. – Quando nos mudamos para este novo prédio, ele passava tantas horas aqui, que pedi o sofá e deixo tudo arrumado para ele quando desconfio que vá passar a noite.

– Isso é que é dedicação. – Da parte de Stella e do chefe.

– Vale a pena. A Elite está só prosperando enquanto o ramo de construção só decai em todo país.

– Deu para notar isso, pela festa – admitiu ela, sabendo que deve ter custado uma boa fortuna à empresa.

Poucas corporações se davam a esse trabalho atualmente, e ela desconfiava que a atmosfera feliz contribuía para o sucesso da empresa.

Stella se pôs detrás da mesa e pegou uma pilha de envelopes lacrados, folheando meia dúzia deles antes de dizer:

– Ah, aqui está!

Demi aceitou, enfiando o cheque muito bem-vindo em sua bolsa.

– Muito obrigada.

– Obrigada a você. As fotos foram o sucesso da festa. Na verdade estou feliz porque a outra empresa cancelou. Trabalhamos com eles no ano passado e não tiveram a mesma receptividade que você hoje. Você é maravilhosa com as crianças.

Demi sorriu, agradecendo o elogio.

Era engraçado… seis anos atrás, ela provavelmente teria ficado apavorada diante dessa ideia.

Sinceramente, ela não tinha muita certeza de quando a mudança aconteceu. Só sabia que, depois de dois anos em Paris, fotografar rostos gélidos de modelos perdeu toda a graça. O mesmo valia para prédios velhos e inanimados e para paisagens estagnadas.

Então Miley começou a ter filhos. Demi a visitava no verão e durante as férias, tornando-se uma madrinha dedicada e ficando encantada com aqueles bebês. Ela ficara maravilhada ao fazer retratos deles, encontrando no rosto das crianças uma energia e espontaneidade que raramente encontrava em outros lugares.

Então retornou para Nova York. Montou um estúdio e começou a explorar o mundo surpreendentemente criativo dos pequeninos. Uma coisa levou a outra e então a mais outra. E logo ela estava recebendo telefonemas de pais ricos de outros estados, e vendeu diversas fotos de crianças para catálogos e revistas.

Quem um dia iria imaginar isso?

Não ela, com certeza. Nem nunca iria imaginar que amaria o que estava fazendo agora. Mas amava mesmo.

A vida, aparentemente, tomava rumos estranhos, levava você a direções jamais imaginadas. A vida a levara da cidade dos ventos para a Big Apple, e então para outro continente. E agora ela estava de volta onde tinha começado, em Chicago.

E de volta à vida de Joe Jonas.

Não, nem mesmo pense nisso, lembrou-se. Ela não estava de volta à vida dele. Ela estava no mesmo prédio que ele, por só mais cinco minutinhos, no máximo. Então poderia voltar a esquecê-lo. Poderia se esquecer do quanto ele ainda lhe parecia bonitão. De como sua voz mexia com seus sentidos. De como seu toque a deixara louca.

De como certa vez ele parecera o sujeito que ela poderia amar para sempre.
 

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