6.9.15

Faça Meu Jogo - Capitulo 7


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Liquidação pós-Natal – 26 de dezembro

DANÇARINA OU stripper? Acompanhante? Prostituta?

Joe não tinha certeza de qual Demi iria interpretar hoje à noite. Ele só sabia que, qualquer que fosse a mulher escolhida por ela a encontrá-lo ali naquela região decadente, a uma quadra além da extremidade norte da Strip Sunset, ela certamente iria enlouquecê-lo. Assim como sempre fez.

– Vamos lá, já faz mais de uma hora – murmurou ele, olhando para o relógio enquanto se inclinava sob um poste de luz. Era melhor ela aparecer logo, ou uma das meninas de verdade que trabalhavam ali podiam achar que ele estava procurando companhia.

Ela estava adorável quando o empurrara para fora do quarto do hotel. Demi realmente achava que ele não tinha ideia, que ele não era capaz de descobrir que tipo de brincadeira ela gostaria de fazer em Las Vegas? Sério, o que poderia ser mais óbvio?

Ainda assim, talvez não estivesse tão claro para ela quanto era para ele o fato de Joe conhecê-la tão bem. Melhor que ele jamais imaginara quando se conheceram. Melhor que ela jamais quisera que ele conhecesse, com certeza.

Ele estava até começando a entender o porquê. Apesar de ela ter erguido cuidadosamente aquelas muralhas em torno de si no início, durante os últimos encontros, Demi começou a revelar fragmentos de si.

Ela falou um pouco sobre sua família, insinuando uma falta de conexão que o fez ficar triste por ela. Joe podia até ficar maluco com a própria família, mas tinha sido criado em uma casa transbordando amor.

Desconfiava que Demi nem mesmo tinha certeza de já ter recebido essa emoção de seus pais.

Ela também perguntara sobre a educação dele, e no tom levemente melancólico dela, Joe ouvira muito mais do que Demi estava disposta a exprimir. Ele sabia, de algum modo, que apesar de ela alegar veementemente não precisar de ninguém, uma parte dela realmente se perguntava como era viver tais conexões.

Demi não voltou a falar de sua vida amorosa. Mas, diabos, nem precisava. Ele sabia que ela havia tido algumas relações complicadas. Também sabia que tinham acabado mal, e que ela ainda se culpava a respeito.

Ela era humana, não era? Humana e tinha apenas 20 e tantos anos. Quem não faz coisas estúpidas nos seus 20 anos, coisas que causam arrependimento durante muito tempo depois? Demi simplesmente ainda não tinha percebido que ela não era muito diferente de qualquer outra pessoa. Incluindo ele mesmo.

– Olá, estranho, procurando companhia?

Prostituta.

A excitação tomou conta dele quando Joe se virou para olhar para a mulher que tinha falado a alguns metros de distância. Ela estava perto de um foco de iluminação criado por um poste, e não conseguia enxergá-la direito. Mas ele a conheceria em qualquer lugar. Aquela voz, aquele cheiro. O próprio ar parecia repleto de eletricidade estática, estalando com a excitação que sempre cercava Demi. Ele reagia a ela num nível visceral, desde o momento em que se conheceram.

– Talvez – admitiu ele. – Você está se oferecendo para me fazer companhia?

– Posso estar disposta a fazer isso. Se você me oferecer… incentivo suficiente.

Ela se aproximou, ficando sob a luz, e Joe precisou tomar fôlego, surpreso.

Ainda bem que ela ofereceu aquele momento de reconhecimento imediato, todos os outros sentidos dele confirmando a identidade dela. Porque, por um breve segundo, quando a viu, ele temeu estar enganado. À primeira vista, parecia uma mulher completamente diferente. Uma mulher incrivelmente sexy. A mulher que ele desejava com todas as células de seu corpo.

– Uau – murmurou ele.

A peruca era curta, loura, ondulada apenas na altura do queixo. O estilo destacava a maquiagem pesada. O rosto de Demi já era lindo, mas com a coloração, o rímel espesso acrescentou, os lábios vermelhos-rubi, ela ficava exótica e transbordava sex appeal.

As roupas, no entanto, faziam o sex appeal mais que transbordar elas o faziam jorrar.

O sobretudo preto longo estava pendurado nos ombros. Completamente desabotoado, ele se abria para revelar a roupa parcimoniosa embaixo. O pouco que havia.

A blusa branca não era apenas incrivelmente pequena, decotada e amarrada sob os seios, também era fininha, quase transparente. Mesmo em condições de pouca luz, Joe notou os mamilos franzidos, escuros, enrugados, e ficou com água na boca. Fazia muito tempo desde que ele a havia provado, tocado. Ele devia ter insistido para fazê-lo por pelo menos alguns minutos lá no hotel a fim de satisfazer a necessidade furiosa que estava sentindo desde que eles se despediram em Nova York.

A barriga dela estava completamente de fora. A saia, que sequer chegava ao umbigo, meramente fingia vestir seus quadris, e era tão apertada que Joe conseguia ver a linha onde as coxas se uniam, embaixo. E, ah, aquelas coxas vestidas com meia-arrastão lhe acenavam, tentando-o a provar os quadradinhos de pele macia revelada entre pedacinhos de tecido elástico preto.

As botas eram, sem dúvida, sua parte favorita da coisa toda. E ele já sabia que ia rasgar as meias dela para que Demi pudesse manter as botas e envolvê-las em torno dele enquanto a penetrasse.

– Então, o que me diz, gato?

– O que digo sobre o quê?

– Sobre um encontro?

– Um… encontro? Com você? – perguntou Joe, fingindo uma reticência que ele não sentia de modo algum.

– Não – disse ela, revirando os olhos. – Com esse poste aí do seu lado.

Ele ainda não se mexia.

– Vamos, admita. Você já não fantasiou passar uma noite com uma garota como eu?

Ele não conseguiu responder. Não sinceramente. Porque se respondesse dentro do jogo, como se ela fosse realmente uma garota de programa, ele teria de dizer não. Ele nunca sequer pensara em estar com uma prostituta.

Se respondesse sendo ele mesmo, o verdadeiro Joe Campbell falando com a verdadeira Demi Bauer, daí a resposta seria sem dúvida um sim. Ele queria sair com ela, ser a metade de um casal com ela, Demi, quase tanto quanto queria levá-la de volta para o hotel e fazê-la gritar de prazer.

– Prometo que vou deixar você fazer comigo coisas das quais sua adorável esposa ou namorada nunca sequer ouviram falar.

Interessante. Ele deu um meio sorriso.

– Acho que preciso ouvir mais sobre essas coisas antes de tomar uma decisão.

Ela se aproximou, seu rebolado furtivo e exagerado. Quando chegou bem pertinho dele, Demi levou a mão ao seu peito.

– Digamos apenas que você pode fazer o que quiser comigo. Absolutamente qualquer coisa. E eu vou permitir tudo.

Ele balançou a cabeça, fingindo confusão.

– Eu ainda não tenho certeza se entendo o que você quer dizer.

Ela ergueu o queixo e semicerrou os olhos quando ouviu o desafio na voz dele. Então, com um sorriso de pura maldade, inclinou-se na ponta dos pés, chegando perto o suficiente para que seus lindos lábios roçassem na bochecha dele. Com uma mordiscada no lóbulo da orelha, Demi disse uma coisa muito safadinha que queria que ele fizesse com ela.

Droga. O calor e a excitação incendiaram, e ele deslizou as mãos para dentro do sobretudo dela, abarcando-lhe a cintura. Sem dizer uma palavra, Joe a girou, colocando-a de costas para o poste, em seguida, abaixou-se e a beijou. Lambendo-lhe a boca, ele encontrou a língua dela e investiu preguiçosamente. Os corpos se fundiram e ele ouviu um gemidinho quando Demi sentiu o quanto ele já estava excitado por causa dela. Puxou-o para si, pressionando a virilha contra a ereção, envolvendo uma longa perna em volta do copo másculo para poder tê-lo mais intimamente entre suas coxas.

Eles estavam em uma via pública e eram só 22h. Felizmente, porém, o tempo frio tinha feito as pessoas se confinarem no cassino mais próximo em vez de ficar passeando pelo quarteirão. Até onde Joe sabia, eles não tinham plateia.

Que bom. Porque ele não conseguia parar. De jeito nenhum iria parar. Não quando os lábios de Demi eram tão doces e o corpo tão solícito. Não quando ela sussurrava desejos eróticos tão devassos ao ouvido dele, prometendo satisfazê-lo enquanto o fitava com olhos sonhadores.

Quando Joe finalmente terminou o beijo, ele levantou a cabeça e olhou para ela, notando o olhar atordoado de puro desejo no rosto de Demi. As pálpebras entreabertas encobriam os olhos verdes e o batom estava todo borrado. Ela parecia sensual e acesa, pronta para o sexo e pecado, e para um pouco mais de tudo que eles já tinham feito juntos. E algumas coisas que não tinham.

Ele precisava tê-la. Precisava.

– Vamos sair daqui – murmurou

Joe, já caminhando em direção ao meio-fio para chamar um táxi.

– Com certeza – sussurrou ela com a voz trêmula.

O tráfego estava tranquilo e não havia um táxi à vista. Era de se imaginar. Quando Joe viu um táxi cruzando na quadra seguinte, desceu da calçada para a rua, assobiando alto. Mas antes que pudesse conferir se o taxista tinha ouvido, virando repentinamente para pegá-los, ele foi surpreendido por um grito que cortou o ar noturno:

– Pare, ladrão!

Joe congelou, sacudindo a cabeça para olhar em direção à voz. O grito parecia vir do edifício mais próximo, onde havia uma placa identificando-o como uma loja de penhores.

Ele demorou um segundo para reagir. Se estivesse pensando de forma mais clara, ele teria pulado na calçada imediatamente, agarrado Demi e a empurrado com segurança para trás de si. Para a própria surpresa, no entanto, Joe não fez isso.

Então ela ficou bem no caminho da figura de casaco negro que veio em disparada, saindo do prédio.

– Dem – gritou ele, vendo a forma emergir da escuridão.

Antes que ela tivesse tempo de reagir, o sujeito correndo trombou nela. Ambos tropeçaram por um segundo, pernas e casacos se embolando.

– Seu filho da mãe. – Joe mergulhou em direção a eles, tirando o homem de cima dela, porém caindo ele mesmo no processo. – Você está morto – rosnou ele.

O ladrão, obviamente percebendo que havia apenas uma coisa capaz de impedir Joe de persegui-lo e espancá-lo até acabar com ele, se virou em direção a Demi e a empurrou. Com força.

O golpe a mandou para o meio da rua. As botas de salto alto a fizeram vacilar, tornando o equilíbrio algo impossível.

Pouco antes de ela cair do meio-fio, bem no caminho do táxi, que de fato dera meia-volta e cruzara o quarteirão rapidamente, Joe se jogou e a agarrou pela cintura, puxando-a de volta para a segurança.

– Meu Deus, você está bem?

Ela assentiu, embora todo seu corpo tremesse, principalmente quando o táxi guinchou numa freada brusca bem no ponto onde ela teria caído na rua.

– Aquele desgraçado nojento – mandou Joe, os pés quase em marcha para ir atrás do homem de preto. O ladrão tinha acabado de se enfiar no beco seguinte, atravessando um canteiro de obras abandonado carregado de detritos que separavam aquela rua da faixa norte.

– Não, Joe – insistiu ela, segurando o braço dele. – Eu estou bem, mesmo. E você não vai correr atrás de ladrão nenhum. Você pode se machucar.

– Ele era um nanico magrelo.

– Que poderia estar armado. Você vai ficar bem aqui.

Antes que ele pudesse responder, um homem careca corpulento com bochechas vermelhas foi até eles.

– Você o viu? Conseguiu dar uma boa olhada? O ladrão desgraçado roubou minha loja!

– Eu o vi – respondeu Demi, parecendo cansada.

O dono da loja olhou para ela, semicerrou os olhos e suspirou profundamente.

– Ah, que ótimo.

O desprezo do sujeito para com Demi, a quem ele obviamente tomou para uma verdadeira dama da noite, deixou Joe tentado a deixar o sujeito se virar sozinho. Mas sua raiva para com o bandido que tão insensivelmente atirara Demi na rua era maior. Então ele confessou:

– Eu o vi, também. Agora por que você não vai chamar a polícia para que possamos dar nosso depoimento? – Ele apertou o braço em volta dos ombros de Demi. – E rápido. Temos coisas para fazer esta noite.

DENTRE TODAS as maneiras que ela vislumbrara passar sua primeira noite em Las Vegas, ficar numa loja suja de penhores conversando com dois policiais da polícia de Las Vegas (LVPD) certamente não estava nem entre as mil primeiras. Principalmente porque os ditos policiais passaram os dez primeiros minutos do interrogatório tentando descobrir se precisavam prendê-la por prostituição e Joe por aliciamento.

Isso é que era fantasia convincente. Ela e Joe finalmente conseguiram esclarecer o que estavam fazendo, mostrando suas identificações, incluindo o brevê de Demi. A partir daí, o policial mais jovem ficou tentando esconder um sorriso e ficou lançando olhares furtivos a Demi sempre que ele achava que não seria punido por isso. O mais velho sequer tentara esconder seu divertimento. Demi poderia jurar que o ouviu murmurando algo sobre o quanto queria que sua esposa usasse botas de cano longo.

Isso não ajudou em nada.

– Tudo bem então, senhorita, senhor, acho que tenho tudo de que preciso – disse o policial mais velho, que tinha se apresentado como Parker. De pé na entrada bem iluminada da loja, eles haviam acabado de responder a todas as perguntas. – Você fez um bom trabalho ao se lembrar de detalhes sobre o sujeito.

Demi achava que não iria esquecer tão cedo o rosto pálido e cheio de cicatrizes de acne do homem que tão prontamente a empurrara em direção ao que poderia ter sido sua morte. Os olhos castanhos vidrados e o cabelo louro seboso também não iriam abandonar sua mente tão cedo.

– O dono da loja disse que o ladrão fugiu com algumas joias de diamante valiosas – acrescentou Parker. Ele fechou sua caderneta num estalo e a colocou no bolso do uniforme.

Joe olhou ao redor na lojinha medíocre que era um pouco empoeirada e inexpressiva.

– Sério? – perguntou ele, meio cético. – Não me parece exatamente uma loja top de linha.

– Você ficaria surpreso – explicou o policial mais jovem, a quem o mais velho continuava chamando de Rookie. Falando baixinho, ele olhou ao redor, procurando pelo proprietário, que havia esaparecido nos fundos para fazer mais um cheque em seu inventário. – Muitos desses lugares são de propriedade da máfia, empresas legítimas onde o dinheiro entra para sair lavadinho.

– Dá para fechar a matraca? – disse Parker. Com um olhar severo, ele explicou: – Nós realmente não temos o hábito de fazer comentários infundados sobre os membros de nossa comunidade empresarial local.

O sujeito mais jovem fechou a boca e não disse mais uma palavra.

– Se nossa parte estiver terminada, estamos livres para ir? – perguntou Joe.

– Com certeza. – Sorrindo, Parker cumprimentou Demi com as pontas dos dedos no quepe. – Espero que vocês dois possam desfrutar o restante de sua visita à nossa bela cidade. E posso sugerir que da próxima vez vocês, hum, limitem suas excursões ao saguão do próprio hotel…?

Embora ela tivesse ficado constrangida no início, agora Demi só conseguia rir. Parker parecia um cara legal, e, realmente, ali era rir ou chorar. Rir parecia ser uma opção muito melhor.

– Pode apostar – disse ela. Dando uma piscadela, acrescentou: – E se você comprar um par destas botas para sua esposa, não se esqueça de adquirir um tamanho maior do que ela normalmente usa. Elas machucam muito.

Ele jogou a cabeça para trás e deu uma gargalhada.

– Se eu chegar em casa com um par dessas coisas, ela vai usar para chutar meu traseiro.

Com um aceno educado, Joe guiou Demi para fora, lhe segurando o braço. Ela ainda estava rindo quando saíram, sabendo que ia ter de compartilhar toda essa história com Jazz. Sua amiga iria adorar.

Bem como tio Frank, se um dia ela fosse capaz de superar todo o fator constrangimento e contar a ele também. Mas era o tipo de situação que iria horrorizar seus pais e reforçar a convicção firme deles de que ela era uma libertina imprudente que não se importava com a própria reputação. Ou com a deles.

Absorta em seus pensamentos, ela não percebeu que uma pequena multidão havia se reunido diante da loja de penhores. Cerca de dez pessoas circulavam na calçada, provavelmente atraídas pelo flash das luzes do carro de polícia e pelo burburinho falando de um assalto no bairro.

– Ei, o que aconteceu? – perguntou alguém.

– Você vai ter de se informar com a polícia – disse Joe, segurando a cintura de Demi enquanto tentava passar com ela no meio do aglomerado de gente.

Só quando ela sentiu o calor dos dedos de Joe contra a pele nua é que percebeu que não tinha voltado a abotoar o casaco, aberto novamente dentro loja por causa do calor. Escancarado, ele revelava o traje em toda sua glória aos estranhos de olhos arregalados. Ela estendeu a mão para as bordas do mesmo, com a intenção de fechá-lo de imediato. Mas antes que pudesse fazê-lo, uma voz masculina chamou:

– Ei, doçura, vai trabalhar até que horas hoje à noite?

Outro acrescentou:

– Tem um cartão de visita?

Embora soubesse que devia estar absolutamente envergonhada, e talvez até um pouco tensa, mais gargalhadas irromperam dentro dela. O tamanho da multidão, a presença de alguns turistas e de mulheres vestidas normalmente, mais os dois policiais no interior do prédio, aliviaram sua pitada de medo.

E a vergonha? Diabos, ela já havia superado isso há muito tempo, não conseguia sequer lembrar-se de como era.

Ao lado dela, Joe murmurou alguma coisa. Preocupada, ela olhou e viu os lábios dele se contorcendo. Daí foi tomada de alívio. A raiva e preocupação dele finalmente tinham abrandado, e ele também estava começando a enxergar o humor da situação.

– Desculpem, rapazes, ela está aposentada – disse ele, puxando-a para mais perto.

– Desde quando?

Seguindo o exemplo, Demi se esgueirou para mais perto de Joe.

Coladinha nele, do tornozelo ao quadril, ela passou o braço em volta da cintura dele também. Apoiando a cabeça no ombro dele e sorrindo de maneira afetada, ela apontou para um pequeno prédio branco do outro lado da rua.

– Desde que me amarrei a este homem hoje à noite naquela capela ali. Caramba, o que uma garota precisa fazer para desfrutar de sua noite de núpcias, hein!?

Os dois clientes em potencial resmungaram, mas as outras pessoas começaram a rir e a parabenizá-los. Eles provavelmente iam voltar para casa e contar aos amigos e familiares que tinham tropeçado em uma versão da vida real de Uma linda mulher.

Joe, com um divertimento perverso valsando em seus olhos, aproveitou, fazendo gracinhas para a multidão. Sem aviso, ele puxou Demi, virando-a de modo que os rostos de ambos ficassem a centímetros de distância, em seguida ele lhe tomou a boca em um beijo profundo e íntimo.

Ela se esqueceu de tudo por um minuto inteiro. Do assalto, do bandido, dos policiais, dos espectadores. Quando Joe a beijava daquele jeito, todo quente e úmido, com investidas deliciosas da língua, todo o restante deixava de existir.

Quando finalmente finalizaram o beijo, foi ao som de aplausos.

– Manda ver, amiga! – gritou alguém.

Ela nem precisou forçar o tom de excitação esbaforida quando perguntou:

– Será que podemos sair daqui, maridinho?

– Claro, torrãozinho de açúcar – respondeu Joe, comprimindo os lábios, se esforçando muito para não rir.

Ele a surpreendera. De parceiro sensual, passando a herói que literalmente tinha salvado sua pele, depois à testemunha séria, a amante apaixonado, e então retornando ao homem mais brincalhão, autoconfiante e bem-humorado que ela já tinha conhecido, e tudo isso no espaço de uma hora.

Até esta noite Demi sabia que Joe Campbell era um ótimo sujeito. Mas enquanto ela permitia que ele a guiasse, segurando-a protetoramente, carinhosamente, como um novo marido com sua noiva, teve de reconhecer que ele era ainda mais que isso.

Ele era especial. Muito especial. O tipo de homem sobre o qual as mulheres liam nos romances e sonhavam realmente em conhecer.

Ele era, usando a palavra favorita dele, perfeito.

Perfeito para ela? Bem, isso ela não estava pronta para admitir, pelo menos não em longo prazo. Mas por ora, simplesmente não havia outro lugar onde ela gostaria de estar… e mais ninguém na terra com quem preferia estar.

Véspera de Ano-Novo – 31 de dezembro

Eles passaram a semana inteira das festividades de fim de ano em Las Vegas. E desta vez, depois daquela primeira noite, quando o joguinho deles quase sofreu problemas legais, eles permitiram que todas as outras identidades desaparecessem. Agora eram apenas Joe e Demi, passando todos os minutos do dia juntos.

Eles apostaram nos cassinos, assistiram a alguns espetáculos, caminharam na Sunset Strip e fizeram compras. Riram enquanto jantavam pizza e dividiram um balde de pipoca quando foram assistir a um filme, coisa que nenhum dos dois fazia há muito tempo.

E, por fim, eles ainda conversaram.

– Você tem certeza de que não se importa de ir embora antes da meia-noite? – perguntou Demi quando eles retornaram ao quarto em torno de 23h30 na véspera do Ano-Novo.

– Meus ouvidos ficaram zunindo durante a semana inteira por causa do barulho das máquinas caça-níqueis. Junte a isso algumas milhares de vozes berrando “Feliz Ano-Novo” e eu poderia ficar surda. – Antes de Joe se virar para trancar a porta, ele a tomou nos braços e lhe beijou a bochecha. – Em outras palavras, não, definitivamente eu não me importo de fazer uma comemoração tranquila só com você.

Embora ele nunca a tivesse visto bebendo muito, Demi tinha desfrutado de algumas de taças de champanhe na festa do hotel no andar de baixo. Apesar de não estar bêbada, Joe poderia descrevê-la como ligeiramente embriagada. Seus olhos brilhavam, e seu belo sorriso brilhava um pouco mais. Embora ninguém pudesse dizer que ela estava tonta, quando Demi tirou os sapatos e girou ao redor da sala com os braços estendidos, ela pareceu bem perto disso.

Ela também estava muito adorável, jovem e despreocupada. O vestidinho preto acinturado e de saia rodada girou lindamente ao redor das pernas nuas.

– Eu amo o Ano-Novo – confessou ela, uma vez que parou de rodopiar.

Joe nunca tinha entendido o apelo da data, pois crescera ouvindo seu pai dizer que era a noite dos amadores: a noite na qual pessoas racionais e normalmente inteligentes bebiam demais e então dirigiam bêbadas. No ramo profissional que possuíam, eles sabiam demais sobre isso. Os Campbell sempre ficavam em casa na véspera do Ano-Novo.

– Não me parece o tipo de data que apeteceria à sua família – disse ele com um tom cuidadoso, como sempre fazia quando o assunto sobre a vida familiar de Demi vinha à tona.

Demi riu alto.

– Você está brincando? Claro que não, eles não gostavam mesmo. – A voz dela baixou e ela franziu a testa. – Esta data é só um pretexto para as pessoas perderem o bom senso e fazerem coisas que sabem ser imorais e indecentes. Nenhuma filha minha vai participar de embriaguez pública ou de leviandades.

Provavelmente ela estava imitando o pai, porém, sendo muito sincero, Joe não conseguia imaginar aquela mulher crescendo na presença de alguém assim.

– Não era exatamente o Sr. Amor Carinho e Compreensão, hein?!

Ela bufou.

– Não acho que ele conheça o significado de qualquer uma dessas palavras. – Ela pensou no assunto, então esclareceu: – Bem, de senhor ele entende muito bem. Ele colocou minha mãe no lugar dela desde o minuto em que a pediu em casamento. Mas amor, carinho e compreensão simplesmente não fazem parte do vocabulário dele. Nem para com ela, nem para com qualquer um. – Ela bocejou descaradamente, como se estivesse discutindo algo corriqueiro em vez de absolutamente devastador. – Acho que a convivência com ele durante todos esses anos acabou com a personalidade dela. Porque minha mãe é tão carrancuda quanto ele.

Joe desviou o olhar para Demi não notar o lampejo de compaixão e até mesmo de raiva no rosto dele. Não havia nenhuma malícia nela. Aquela não era uma criança adulta culpando seus pobres e desavisados pais por alguns deslizes imaginários. Ela sequer soava ressentida. Ela simplesmente tinha aceitado a indiferença deles como um fato e seguido em frente.

Quanto da frieza deles Demi havia absorvido involuntariamente? O quão profundamente aquilo tinha afetado a vida dela em si, as escolhas, a expressão que ela mostrava para o mundo? Ao vê-la assim, ouvir as verdades que ela estava tentando esconder desde o começo, Joe compreendia muito mais… e ele gostava dela ainda mais por isso. Mesmo sabendo que ela provavelmente iria se ofender com qualquer compaixão que ele tentasse oferecer.

Ele se obrigou a afastar tais pensamentos, bem como o assunto desagradável sobre o que os pais de Demi tinham dado ou não na infância dela. Não querendo que ela sequer pensasse nisso, ele mudou de assunto:

– Então quando você se tornou uma adepta da festa de AnoNovo?

Ela se sentou na beirada da cama.

– Na faculdade. Meu namorado calouro me levou para minha primeira festa de Ano-Novo e fiquei completamente tomada pela empolgação e bom humor de todo mundo.

Joe escondeu o seu interesse pela parte “namorado”.

– Adorei todas as resoluções, a expectativa por uma lousa limpa, um novo começo. E de repente passei a enxergar isso como uma oportunidade para reavaliar, descobrir o que deu errado no ano anterior e planejar modos de consertar os erros no ano vindouro.

Interessante. Ele não fazia ideia do que ela havia avaliado e planejado neste réveillon em particular. Mas sabia que não devia perguntar. Ele tirou o paletó e o jogou de lado, em seguida, sentou-se em uma cadeira em frente à cama, olhando para Demi.

– O que você decidiu naquele primeiro ano?

– Dispensar meu namorado.

Pego de surpresa, ele teve de rir. Embora esse assunto tivesse sido tabu até agora, Demi também riu.

– Ele era um esquisitão – admitiu ela.

– Um esquisitão… ?

– Ele tinha mãos úmidas e era sorrateiro, sempre me tocando. Isso foi quando eu tinha só 19 anos e ainda era virgem.

Ela manteve a virgindade por mais tempo que a maioria das garotas que conhecia. Considerando seus antecedentes familiares, Joe não estava totalmente surpreso. Ele duvidava que tenha havido muitos namoros ou festas adolescentes na casa dela.

– Então tivemos o esquisitão – murmurou ele, levantando o dedo indicador para contar. – E depois?

Provavelmente porque havia tomado umas doses a mais, Demi não o dispensou imediatamente e mudou de assunto. Em vez disso, ela se jogou de costas na cama, a testa enrugada enquanto pensava.

– Namorei bastante quando estava no segundo ano. Tipo muito. – O jeito como ela mordeu o lábio disse a Joe o que isso significava. Ela perdera a virgindade durante um passeiozinho nesse lado selvagem.

– Então fiquei com um cara chamado Scott durante vários meses. Terminei com ele quando o flagrei copiando as respostas do meu trabalho de uma matéria que cursávamos juntos. Depois disso veio Tommy… ele dirigia um Porsche, e acho que eu gostava mais do carro que dele, fato que ele em algum momento descobriu.

– Totalmente compreensível – ressaltou ele.

Ela o ignorou.

– Rick foi bom, mas na primeira vez que dormimos juntos e percebi que ele era péssimo na cama, parei de atender seus telefonemas.

Mais uma vez, completamente compreensível, pelo menos para uma garota em idade universitária. Não que ele tivesse a intenção de interrompê-la novamente, não agora, quando Demi parecia realmente estar chegando ao âmago da questão.

Agora era ela quem erguia os dedos, enumerando. Resmungando baixinho, levantou outro, depois outro, e depois trocou de mão. E aí veio o dedo indicador. O do meio, depois o anelar… que ela rapidamente baixou.

– Espere, Josh não conta.

– Por que não? – perguntou Joe, divertindo-se com aquela Demi franca, aberta, falando sobre seu passado. Mesmo que ela só estivesse agindo como tal porque tinha bebido champanhe demais.

– Porque eu era só fachada. No segundo encontro, percebi que ele estava no armário, mas continuei a sair com ele só porque era um cara legal. Além disso, ele tinha uma queda pelo namorado da minha colega de quarto, o qual eu odiava, e eu achava engraçado mantê-lo por perto. – Sentando-se rapidamente, ela lançou um olhar aflito. – Ah, isso foi atitude de bruxa, não foi? Eu avisei.

– Sim, sim, você tem um coração duro, querida.

Até então, pelo que ele podia dizer, Demi tivera aproximadamente o mesmo número de namorados que suas irmãs mais velhas tiveram aos 20 e poucos anos. A diferença era que, pelo que Demi relatara, era sempre ela que terminava os relacionamentos.

Esse refrão se repetia na mente de Joe. Ela sempre terminava os relacionamentos.

Ele deveria ter tomado isso como um sinal de alerta, proceder com cautela. Mas ele não o fez… principalmente porque não estava de todo convencido de que Demi era tão anti amor e anti compromisso como afirmava. Ela nunca se envolvera com o homem certo. Se isso era puro acaso, ou por predefinição, já que sua criação a deixara amarga diante de toda a ideia de relações pessoais, ele não sabia.

– Pensando bem, eu não me sinto tão mal – disse ela de repente com um meneio firme de cabeça. – Não parti o coração dele ou qualquer coisa, então ele não tinha nada que entrar nesse grupo virtual. – Ela baixou a voz. – Não tinha mesmo.

– Que grupo?

Ela hesitou, então finalmente admitiu:

– O grupo “Chutado por Demi Bauer”. – Joe jogou a cabeça para trás e gargalhou… até que notou que ela não estava sorrindo. Em vez disso, seus olhos tinham um toque de umidade e seu lábio inferior tremia. A garota durona realmente parecia vulnerável. Magoada.

Condenando-se mentalmente, ele se levantou e se juntou a ela na cama, puxando-a em seus braços. Ela se aninhou no peito dele, fungando um pouquinho, e de repente ele teve a ânsia de caçar os idiotas que tinham formado o clubinho maldoso que a fizera chorar.

Falando em ridículo… Prender-se a algumas queixas universitários bobas e compartilhá-las com o mundo anos depois não importa quem você tenha magoado. Esse era um dos meios em que a internet definitivamente não servia para tornar nossa vida melhor.

Demi se permitiu relaxar de encontro a ele por um minuto ou dois, então começou a ficar tensa, se remexendo desconfortavelmente. Joe reconheceu os sinais e sabia o que ela estava pensando: muita emoção, muita conversa, muito pessoal, muito perigoso.

Ele a soltou, forçando um sorriso.

– É quase meia-noite.

Ela não retribuiu o sorriso, seu belo rosto ainda ostentando a mesma expressão triste, aflita. Demi olhou para ele por um longo momento, os olhos verdes revelando todos os pensamentos enquanto seu olhar vagava sobre o rosto de Joe, como se desejando memorizá-lo para um futuro não muito distante, quando ela não o veria mais.

– Ele não foi o último – admitiu ela.

– Você não precisa fazer isso…

Ela o ignorou.

– O último cara que namorei concluiu que, se eu não iria lhe oferecer toda minha atenção e devoção, ele iria arrancá-la de mim.

Joe não estava gostando de como aquilo soava, nem um pouco.

– Nós tivemos uma briga, eu rompi o namoro, então ele me telefonou no meio de uma noite dizendo que tinha acabado de engolir um frasco de comprimidos.

Ai, Deus. Querendo ela ou não, ele precisava abraçá-la, com força, lhe dar o apoio e carinho que ela nunca pedira. Ele lhe deu um beijo no cabelo, sussurrando:

– Não foi culpa sua…

Ela sacudiu a cabeça imediatamente.

– Não, ele não morreu nem nada.

Graças a Deus.

– Porque ele estava mentindo. A coisa toda tinha sido uma armação, só para brincar com minhas emoções.

– Qual é o nome dele? – rosnou Joe, pronto para matar um cara que ele tinha acabado agradecer por não ter morrido.

– Isso não importa. Está tudo acabado, tudo no passado. O ponto é… – Ela hesitou, então, com uma voz tão instável quanto sua tomada de fôlego trêmula, lenta, ela sussurrou: – Não me ame, Joe.

Ele sentiu o coração se despedaçar um pouquinho. Pela dor do passado dela, pelos desgostos e pela vida familiar fria que ela suportara. Eles se uniram para criar uma bela mulher, extremamente amável, que não se achava capaz de retribuir a emoção.

Ela estava errada. Mas não iria admitir isso, não agora, talvez não por muito tempo. Mas Joe sabia que Demi Bauer tinha sentimentos por ele, sentimentos profundos. Assim como ele sentia algo por ela.

Joe não era bobo, no entanto. Então ele optou por não falar nada, apenas balançou a cabeça lentamente como se concordando com o comando dela.

O mostrador do relógio de cabeceira brilhava em vermelho, captando os olhos dele quando os números mudaram de 23h59 para meia-noite. E de repente era um ano inteiramente novo. Um novo futuro se abria e os erros do passado pareciam destinados a ser superados, com apenas coisas boas chegando para eles.

– Feliz Ano-Novo, Dem – sussurrou Joe, inclinando-se para roçar os lábios nos dela. – Espero que este ano seja inesquecível para nós dois.

Os lábios macios de Demi se entreabriram e ela o beijou, docemente, com ternura. E naquele beijo ela disse todas as coisas que não diria em voz alta, que ela queria mais, porém tinha medo de pedir a ele.

Demi havia mudado muito nos últimos dois meses, desde que Joe a conhecera. A casca dura começava a rachar, ela gostando ou não. Um dia, mais cedo ou mais tarde, Demi ia perceber que era capaz de muito mais do que se dava o crédito. Ela era capaz de amar e de ser amada.

Joe só esperava que ela o deixasse ficar por ali até esse dia chegar.

~
E esse ladrão kkkkkkkkkkkkkk
xoxo

4 comentários:

  1. Que ladrão esquisito kkkkkkkk,joe todo revoltado,eu pensei que a noite ia terminar com demi no hospital vestida de prostituta kkkkkk imagina a cena com o médico olhando quando chegasse no hospital kkkkkk

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  2. Que momento mais fofo dos dois.... finalmente ela esta baixando a guarda.... ri bastante da parte da "prostituta" kkkkkkk..... eles são perfeitos juntos!!!! Continua....

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  3. Eles são perfeitos juntos. Posta logo.
    Nanda

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  4. mt fofos *.* ela de prostituta me fez pensar na própria Demi como uma kkkkkkk posta loogo!!!!

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