26.9.15

Escolha - Capitulo 7 MARATONA (1/5)


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DEMI ESTAVA em sua baia, embaralhando papéis de uma pilha para outra. Estava no escritório há duas horas e não tinha feito nada. Gastara a maior parte da manhã repensando a noite anterior, analisando até morrer cada coisa que Joe tinha feito ou dito. Espiando a foto que tinha tirado, o cartãozinho de troca.

Sob as luzes fluorescentes cruas da BBDA, os eventos com Joe pareciam mais um sonho do que algo que poderia ter acontecido com ela. No entanto, seu corpo estava dolorido, não era resultado do esforço na academia de ginástica. Ela tensionou tanto os braços para segurar a cabeceira da cama que seus músculos queimaram durante a ducha hoje de manhã, e não havia uma contusão em seu quadril. Além das lembranças, é claro.

Ela não tinha nada que pensar nele. Na noite. Nele. Sério, agora. Acabou. Pronto. Era uma recordação que deveria evocar prazer em vez de aquela sensação de perda. Como ela poderia ter perdido algo que ela nunca tinha tido? Nunca poderia ter?

Deus, a manhã toda foi um saco. Os pensamentos já estavam loucos o suficiente antes de ela notar que ele não tinha publicado nada no blog. Mas deveria tê-lo feito. A rotina dele era pontual como um cuco, como tempo atômico. Em vez disso, outras três pessoas haviam postado textos: um fashionista, um perseguidor de celebridades e um apaixonado por gastronomia.

Assim, além de ficar obcecada com o fato de o sexo ter sido mais do que parte do pacote padrão, em vez de um momento romanticamente maravilhoso entre ambos, agora ela estava muito convencida de que, de alguma forma, tinha amaldiçoado Joe. E estava com dor de cabeça.

Surpreendentemente, Rebecca ainda não tinha telefonado, o que era bom porque Demi não sabia ainda quanto sobre a noite queria contar à amiga, e ela queria ser cautelosa a respeito daquela conversa, sem se mostrar extenuada. Na verdade, ela estava pensando seriamente em escapar para um cochilo hoje no horário de almoço. Ela precisava dormir mais do que de comida. Seu celular apitou, e quando viu o nome brilhando na tela, quase engasgou. Clicou no ícone.

Como está se sentindo? JW

Demi olhou para as iniciais, completamente atordoada. Por que Joe estava mandando torpedos para ela? Em nome da boa educação? Será que ela levara algo do apartamento dele por engano? Apertou a tecla responder, mas aí se obrigou a pensar, sem digitar, ainda não.

Aquilo era bobagem. Ela balançou a cabeça enquanto movimentava os polegares.

Estou bem. Obrigada.

Chegou bem no trabalho? JW

No horário e tudo.

Que bom. Almoço? JW.

O quê? Almoço? Será que ele a estava convidando para almoçar? Não, não, aquilo não poderia estar certo. Não depois da manhã de hoje. Demi olhou para o painel cinza de seu cubículo por um instante, depois olhou mais uma vez para o torpedo. Não tinha interpretado errado. Simplesmente não fazia sentido.

Agora seu olhar se erguia acima da parede da baia, mas ela só conseguia enxergar o topo das cabeças que passavam. Não havia uma única pessoa na BBDA que Demi pudesse puxar de lado para pedir um conselho. Ninguém sabia sobre seu encontro com Joe. Ou qualquer coisa a respeito dela, exceto que tendia a ser bem reservada.

Demi digitou um “Volto já” rapidamente para informá-lo de estava longe do aparelho, então pegou o telefone fixo. Dane-se a coisa de não contar a Rebecca sobre o que aconteceu. Demi precisava de ajuda. Depressa. Ela discou, rezando para a amiga atender.

No segundo que ouviu o “alô”, Demi mandou:

– A noite passada foi a noite mais fabuloso na história do planeta, mas esta manhã foi completamente estranha e agora ele está…

– Demi…

– Ai, Deus, você está ocupada. Por favor, não esteja ocupada porque eu nem sequer… espere. Ele está me mandando um torpedo agora, e eu não sei o que fazer.

– O que ele escreveu?

– Ele quer que eu almoce com ele. Hoje.

Rebecca riu.

– Então vá!

– Nós dois surtamos hoje de manhã. Ele me ofereceu cem pratas.

– O quê?

– Para o táxi.

– Ah. Então repito: vá!

– Mas…

– Confie em mim. Eu o conheço. Muito bem. O almoço é importante.

– Importante? Importante não é nada bom. Agora acabou, certo? Ele não repete encontros, e eu tenho um plano, e esse plano não inclui gostar de ninguém. Importante não pode ser a próxima coisa da lista.

– Ouça – disse Rebecca, com um tom que certamente devia usar quando estava negociando com bilionários ou com amigas tendo ataques de pânico. – Vá para o almoço com Joe. Coma. Ouça o que ele tem a dizer. Você pode se surpreender. Então me ligue depois.

Demi tocou seus cabelos e seu rosto quando o estômago revirou de emoção, depois de pavor, depois de emoção de novo. Droga, ela praticamente não havia arrumado o cabelo, a maquiagem consistiu apenas em rímel. E só. Ela mal teve tempo para tomar banho e trocar de roupa, e então saiu aos tropeços para chegar no escritório. – É melhor você estar certa, Rebecca.

– Estou. Boa sorte.

Demi desligou, então posicionou os polegares.

Onde? Quando?

Bistro Truck? JW

Hum…

Mediterrâneo. JW

OK.

Mandando 1 mapa. Vc me diz qdo. JW

13h?

T vejo lá. JW

O celular de Demi avisou que o mapa tinha chegado, e o Bistro Truck ficava a apenas um quarteirão de seu escritório. Ela escreveu o nome em um site de busca para verificar o menu, a fim de se preparar e evitar qualquer coisa que fizesse sujeira. Escolheu wrap de massa folhada vegetariano e batatas fritas, presumindo que seria capaz de comer qualquer coisa. Mesmo que o encontro com ele se revelasse um erro terrível, batatas fritas iriam aliviar a ferida.

Depois de desligar o telefone, Demi olhou para a papelada que precisava finalizar antes do meio-dia, a visão borrando nas palavras. Joe queria vê-la novamente. Por quê? Por quê? E por que Rebecca estava tão segura de que ela deveria ir? Nova York era confusa.

JOE ESTAVA num banco de cimento na East 14th Street, procurando por Demi em meio à multidão do horário de almoço. Apesar de seu vestidinho preto da noite anterior, ele se lembrou do comentário de Rebecca sobre a afeição de Demi por cores, por isso ele se concentrou em qualquer roupa diferente de preto, o que eliminou cerca de 70 por cento das mulheres. O fato de o dia de hoje estar excepcionalmente quente ajudava, de modo que a maioria dos casacos estavam abertos.

Ele se virou, sem se importar com os olhares que ganhava. Aquela era a Union Square às 13h. Ele fazia o que costumava funcionar. E funcionou mesmo, porque lá estava ela. As roupas dela não chamaram a atenção dele, mas os cabelos, sim. Era o mesmo estilo curtinho, mas hoje ela usava um arco com um laço de fita fininho cor-de-rosa. Era ridículo, e aquilo o fez sorrir como um idiota.

Quando Demi se aproximou, Joe se obrigou a olhar para baixo, sem parar no rosto dela, ainda não. Sem casaco. Surpreendente, mas não, porque eles estavam a apenas um quarteirão do escritório e ela já havia provado que preferia congelar até a morte a estragar o conjunto do visual. Ela precisaria de mais um inverno em Nova York até acordar e sentir o gelo de verdade.

Hoje, ela usava uma blusa de mangas compridas abotoada com padrão em xadrez rosa e verde, que deveria ser feia para diabo, mas não era. E uma saia, curtinha, em um tom de verde completamente diferente. Nada daquilo deveria estar em uma única pessoa ao mesmo tempo. Até mesmo as sapatilhas de couro velho estavam erradas. E fantásticas.

Demi vacilou quando Joe lhe chamou a atenção. Ela sorriu, um daqueles sorrisos completamente interioranos que mostravam um monte de dentes. Mas quando ela recomeçou a andar, o sorriso também vacilou. Quando Joe se levantou num salto e a encontrou no meio da calçada, Demi pareceu preocupada. Ou com fome. Não. Preocupada.

– Você está bem? – perguntou ele.

– Sim – disse ela, balançando a cabeça. – Tudo bem, obrigada.

Ele não iria pressioná-la agora. Primeiro, eles precisavam acertar as coisas. – Com fome?

– Claro.

Joe agarrou a mão dela, e antes que dessem mais um passo para entar na fila do imenso caminhão branco, Joe beijou a bochecha de Demi. Ele ficou debatendo internamente sobre aquele gesto durante todo o trajeto até ali. Pareceu-lhe rude não reconhecer a noite deles juntos, mas não queria enfatizar esse aspecto de conhecimento de ambos, apesar de a lembrança de Demi em sua cama ter sido uma espécie de febre constante desde que ele abrira os olhos naquela manhã. Joe não ficou surpreso quando ela parou e o encarou como se ele fosse louco. Não importava. Não se arrependia pelo beijo. Ora bolas, como ele poderia ter resistido? Um olhar para ela com seu arquinho cor-de-rosa e aquela sainha curta…

Tudo bem, droga, direção errada. Ele inspirou profundamente o cheiro de fritura e dos ônibus da cidade, se orientando mais uma vez. Eles não conseguiriam fazer o pedido dentro dos próximos dez minutos, considerando o tamanho da fila, portanto, não haveria comida para preencher o tempo. Poderiam muito bem começar a comer. Ele continuava a segurar a mão dela enquanto se abaixava para perto o suficiente para conversar sem serem ouvidos.

– Eu tenho uma proposta para você.

Demi ergueu as sobrancelhas.

– Ontem à noite, na festa, você foi ótima.

– Obrigada – respondeu ela, com uma leve mudança na entonação no final para transformar sua resposta vagamente em uma pergunta.

– Passei a manhã inteira tentando escrever no blog. Passou-se tanto tempo que acabei postando textos de freelancers para que as pessoas não ficassem impacientes.

– Eu sei. Eu vi.

– Ah. Claro. – Eles andaram meio passo na fila. – Bem, o fato é: você não parou de pipocar no meu primeiro rascunho.

– Eu pipoquei? – questionou ela lentamente, a testa franzida em confusão.

Joe normalmente não confundia as pessoas. Ele as irritava, o tempo todo, mas a clareza não era um problema.

– Percebi que eu me sentia como se a noite passada tivesse sido minha primeira vez na Semana de Moda. Isso não aconteceu nem quando fui pela primeira vez. Enxergar através dos seus olhos foi… diferente. – Ele quase disse “emocionante”. Era verdade, mas informação demais também. – E foi sobre isso que escrevi. Hoje de manhã.

– Tá… bom – disse ela.

Ele não estava se fazendo conseguir entender.

– Atrasei a publicação do texto porque eu queria conversar com você sobre isso. Quero utilizar sua visão, na falta de uma palavra melhor, como gancho para uma coluna. Um inocente na Semana de Moda. Uma perspectiva nova.

– Eu não sou tão inocente assim – protestou ela, seu tom foi brusco e magoado, como se ele a tivesse insultado.

– Você é nova para a cidade. Ainda não demonstra cansaço. Como o Naked New York tem se notabilizado pelo cansaço, eu gosto da ideia de fazer uma coluna sob outro ângulo. Eu não vou zombar de você. Na verdade, não vou usar seu nome ou imagem se você não quiser. Serão minhas impressões a partir das suas impressões. Coisa que nunca fiz, então você pode concordar ou não.

– Você já escreveu o texto?

Ele meneou a cabeça.

– Três versões diferentes. Uma com você especificamente, uma com você obliquamente, e que foca apenas nas minhas impressões. Posso enviar os textos para o seu celular agora se você quiser lê-los.

– Quero ler – disse ela. – Os textos por acaso dizem que eu… nós… – Ela vacilou brevemente, então continuou: – Você sabe, ficamos… na sua casa?

– Não. Não, isso é… não. Isso não é sobre coisas pessoais. É sobre o evento. A festa.

– Ah – retrucou ela, e desta vez a coisa não ficou confusa. – Mande-os então.

Ele se entreteu nos cliques do aparelho quando de repente um grupo de cinco pessoas na frente deles se dissipou, fato que levou Joe e Demi ao primeiro lugar da fila.

– O que você vai querer? Vou pedir enquanto você lê.

– Batatas fritas. Tamanho grande.

– Nada mais?

Ela pensou por um instante, mas não conseguia se imaginar comendo um sanduíche inteiro. Não enquanto seu estômago estava revirando.

– Chá, dois pacotinhos de açúcar.

Ele sorriu. Não conseguiu evitar. Joe ainda não podia acreditar que realmente tinha servido chá em uma bandeja de prata.

Com pinças. Bizarro. Mas daí, tudo na noite anterior tinha sido bizarro.

Ouviu o som indicando que o celular dela estava salvando documentos, em seguida se voltou para o sujeito atrás do balcão. Joe fez o pedido, olhou para Demi, pagou, olhou de novo, então se dirigiram para a fila de espera onde os pratos eram entregues. Ele ignorou tudo, exceto a linguagem corporal dela, as expressões, a velocidade com que lia a tela. Ele não conseguiu decifrar absolutamente nada.

Virando-se, de forma que agora só conseguia vê-la usando a visão periférica, Joe lembrou a si de que qualquer reação da parte dela seria ótima. Mesmo que ela não concordasse, isso não significaria nada. Não no sentido pessoal. Aquilo era totalmente profissional. É isso. Talvez eles tivessem a oportunidade de ficarem juntos outra vez, mas este não era o ponto.

Mesmo que a fita rosa o tenha matado. Na verdade, a fita rosa era o ponto. Nenhuma das pessoas com quem ele saía teria colocado aquela roupa, não sem motivo. Era um visual anti-Manhattan. Aqueles que compareciam à Semana de Moda tinham mais medo de não serem descolados do que serem atropelados por um carro. O tipo de devoção imperturbável de Demi era completamente sincera, sem esperar nada em troca.

O ponto de vista dela soaria genuíno para a maioria de seus leitores, muitos bem mais parecidos com jovens que nunca teriam a chance de ir a uma festa de gala, que nunca ficariam ao lado de ícones da moda e do cinema, que nunca seriam capazes de pagar por um cachecol de qualquer estilista, e muito menos por um vestido de alta-costura. O segredo nesta abordagem era o equilíbrio. Haveria uma pitada de sarcasmo, porque Joe era um filho da mãe sarcástico, mas ele não faria chacota de Demi. Era uma linha tênue, um desafio bem-vindo.

Todo o conceito poderia dar errado, mas ele não achava que daria. Ele tinha bons instintos sobre seus leitores, e aquele lhe parecia bem correto.

Demi mordiscou o lábio com um dentinho pouco visível, branco e perfeito. A vontade de beijá-la o atingiu novamente, só que Joe não queria um beijo no rosto, mas na boca. Ai, Deus, qual era o problema dele? Aquilo era trabalho.

– Ei, você. Cara do blog. Vai sair da fila ou não?

A pergunta veio de um homem musculoso com um bigode fino. Joe se aproximou do caminhão, incintando Demi gentilmente com um leve toque no antebraço dela.

Ela olhou para ele enquanto fechava o celular. As bochechas ganharam um tom rosado que quase combinava com sua fita.

– Oh – disse ela.

Não era informação suficiente. Tirando o excesso de necessidade de parecer tranquilo o tempo todo, Joe não pressionou mais. Ele treinou uma expressão de desinteresse, que era a única postura aceitável durante um encontro estritamente profissional. Demi inclinou a cabeça um pouco para a direita. Sem piscar, apenas encarando-o com um olhar penetrante e: – Por quê?

– Por quê? – repetiu ele.

Ela assentiu.

– Seu blog funciona perfeitamente do jeito que é. Obviamente. Seus números são incríveis. Por que você quer mexer no formato?

– Alterar um pouco as coisas não vai mudar o formato. Se isso não funcionar, vou descobrir depressa e abandonar a ideia. Não é a primeira vez que tentei algo novo, e não será a última.

DEMI FICOU encarando Joe. Aquele almoço estava sendo ainda mais estranho do que ela esperara. E não por qualquer um dos motivos que ela previra. Definitivamente não tinha a ver com o sexo. Claro. Porque isso teria sido loucura.

– Qualquer que seja sua decisão – disse ele –, eu preciso saber logo.

– Claro. Certo. Eu entendo. – Como ela poderia ter se esquecido ao menos por um segundo? Desde que Rebecca mostrara o cartão de troca de Joe, Demi se perguntara o que um homem como ele iria querer com uma garota que nem ela. Foi quase um alívio quando ela finalmente concluiu que a noite tinha sido um favor de Rebecca a ela, e em troca, Joe fizera um favor para Rebecca. Por que outro motivo ele a teria levado para sair no Dia dos Namorados? Mesmo assim, não tinha sido um encontro. Joe fora bem claro sobre o fato de aquilo ser um compromisso de trabalho. Ela duvidava que ele um dia fosse capaz de desviar a atenção de seus negócios. Para começo de conversa, foi assim que ele se tornou Joe Winslow.

Então ele a usara. Não de forma maliciosa, de jeito nenhum. Na verdade, Joe encontrou um jeito de explorar o favor, que bom para ele. Ele agarrou a oportunidade, e por pura sorte aquilo poderia dar a ela um espaço no blog dele. Outras pessoas iriam querer saber quem ela era, como ela havia conseguido marcar um “encontro” com Joe. Nem em sonho Demi conseguiria uma oportunidade melhor. Mas precisava ser esperta. Particularmente inteligente, uma vez que a parte mulherzinha de seu cérebro parecia querer transformar aquilo em um romance. Nada contra romances, mas havia hora e lugar para eles.

Agora que ela havia saltado sobre a grande oportunidade, precisava ser mais clara do que nunca sobre seus interesses a longo prazo, e não se deslumbrar.

– Veja bem… – disse Joe.

– Se você precisa de ter uma resposta nesse minuto – disse ela –, terá de ser não.

Joe congelou e aquele ar de tédio que ele estava ostentando como um casaco confortável desapareceu. Ele parecia decepcionado, mas aquilo sem dúvida tinha mais a ver com seus planos sendo contrariados do com a impossibilidade de trabalhar com Demi.

– Não me leve a mal – disse ela. – Eu gostei.

Ocorreu-lhe que ela deveria ter pedido algo mais para o almoço. Precisava parecer o menos afetada por Joe possível.

– A abordagem é nova para o NNY. Uma boa abordagem de algo que já foi feito até o esgotamento, e você conseguiu me fazer soar como se eu não fosse totalmente estimada. Embora… – Ela clicou no trecho mais pessoal que ele tinha escrito e rolou a tela um pouco para baixo.

Eis o que Demi disse, mas não em palavras:

1. Todo mundo é alto e bonito e tem roupas melhores do que eu. Qualquer um que parecesse ser, de algum modo, normal, era um zé-ninguém. Exemplo: eu.

2. As pessoas podem ser muito mal-educadas, mas ao mesmo tempo, muito adoráveis. Estar com Joe tinha a ver com esta última parte. A primeira parte foi por conta da casa.

3. Todo mundo tem um smartphone. E as câmeras são intrusas, mesmo que seu objetivo seja aparecer nas fotos. E o que mais? Eu realmente não estou mais em Ohio.

– Eu realmente não estou mais em Ohio? – Demi suspirou. – Mesmo assim. Você fez um bom trabalho.

Pelo jeito como os lábios dele se entreabriram, ficou claro que ele não esperara aquela reação dela, especialmente pela forma como ela pronunciara bom. Agora, se ela conseguisse ao menos conservar aquilo. Demi se imaginava como o tipo de mulher capaz de ficar de igual para igual com os maiores nomes de Manhattan, e agora era sua chance.

Ela tinha estado no País das Maravilhas na noite anterior, e não iria pedir desculpas por sentir-se como Alice. Joe tinha capturado isto perfeitamente em seu blog. Mas estava de volta à terra firme agora. Conhecia o roteiro, negócios eram negócios, e se Joe iria usá-la, então ela queria algo em troca.

Sim, ele era Joe Winslow, e o coração de Demi estava acelerado desde que lera o primeiro texto, mas o contexto ali era muito mais grandioso, e seria uma idiota se deixasse a chance escapar por entre os dedos. Ser relacionada a Joe era um selo que ela não podia ignorar.

– O blog ficaria melhor se você usasse minhas fotos. Me usasse.

– Ficaria? – Um lampejo de sorriso veio e se foi. Ótimo. Ambos estavam jogando o mesmo jogo. Era importante para Demi se lembrar de que Joe possuía anos de experiência, ao passo que ela… possuía cara de pau. Teria de ser suficiente.

Joe entregou a ela um prato de batatas fritas e uma xícara de chá de papelão. Ele pagou a conta, o que era bastante apropriado. Afinal ele havia convocado a reunião.

Ao se dar conta disso, Demi sentiu uma pontada de tristeza, arrependimento genuíno e, caramba, ela precisava parar com isso. O sexo tinha sido sexo. Os dois estavam prestes a conversar sobre algo importante e ela não podia se dar ao luxo de ser sentimental, nem por um momento. O sexo tinha sido ótimo. Ponto final. A imaginação dela podia ser um lugar maravilhoso, mas era capaz de feri-la também.

Felizmente, eles conseguiram um banco para sentar. A batata frita estava tão boa que fez Demi gemer, o que por sua vez a fez corar, mas somente até ela vir a manchinha de maionese no queixo de Joe. Se ela fosse a garota legal que seus pais criaram para ser, ela o avisaria. Mas aquilo ela era uma reunião profissional, e vê-lo de forma tão humanizada ajudava.

– Qual é a sua preocupação? – perguntou Joe.

– Não sou tão inocente como você me pintou. Entendo que este é o chamariz, e tudo bem, mas eu gostaria de poder escrever lá. Meus chefes leem o NNY, nossos clientes, também. Pode ser só um blog, mas vai ter um impacto na minha carreira.

Ele deu mais uma mordida em seu hambúrguer, e em vez de Demi olhar para a boca de Joe, se lembrando de como foi senti-la contra a sua, concentrou-se na maionese que pontilhava o queixo.

– Quero que seja mais do que um blog – disse ele depois de engolir.

O olhar de Demi saltou para os olhos dele e por um segundo ela achou que talvez aquilo não fosse totalmente profissional, mas daí se lembrou.

Primeiro da maratona. Ela vai ser pequena, mas se tiver bastante comentário, prolongo ela.
A cada uma hora, um capítulo novo.
xoxo

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