3.9.15

Faça Meu Jogo - Capitulo 4 (2/2)


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Ela pensou no assunto. Mas como poderia? Como exatamente dizer ao seu amante… não, amante, não; parceiro sexual… que tinha a reputação de ser uma bruxa sem coração, que os homens forjavam tentativas de suicídio porque você não era capaz de amá-los, que simplesmente preferia não ser incomodada com a coisa toda do romance? Não era exatamente feminino admitir que não se queria um sujeito lhe trazendo chocolate e flores, e que você há muito tinha percebido que fazia muito mais o tipo “amiga colorida” do que namorada.

Ela não poderia dizer essas coisas. E, de repente, não queria. Não para ele.

Por que essa ideia especificamente a incomodava tanto, porém, Demi honestamente não sabia.

Quando ela não respondeu, Joe finalmente incitou:

– Algumas vezes é simplesmente mais fácil fingir do que ser quem você realmente é?

– Sim, algo assim.

Ele balançou a cabeça tão levemente, e havia uma reprovação ou decepção visível na rigidez da boca dele.

– Ei, você concordou com as condições.

– Eu concordei com um caso de uma noite. – Os olhos dele brilharam quando acrescentou: – Você mudou as condições com seu e-mail.

Ele estava certo.

– Então talvez seja hora de renegociar.

Cautelosa, ela perguntou:

– Como assim?

– Talvez devêssemos concordar com pelo menos uma conversa aberta, honesta, sem, hum, enfeites.

Imaginando que um sexo ótimo iria fazê-lo se esquecer dessa ideia, ela lambeu os lábios.

– Não vejo motivos para você reclamar. Pensei que estivesse muito satisfeito com o modo como as coisas aconteceram esta tarde.

– Pelo que me lembro, você também. Pelo menos três vezes.

Ela lambeu a ponta do palitinho de pão.

– Hum… seis.

Joe cruzou os braços e recostou-se na cadeira, olhando-a com firmeza.

– Eu não estou contando as vezes em que eu não estava envolvido.

– Ah, querido, definitivamente você estava envolvido.

Uma sobrancelha se arqueou acima de um olho azul.

– Oh?

– A-hã. E você esteve envolvido em todas as outras vezes em que brinquei com aquele brinquedinho nas últimas duas semanas.

Ele deixou os braços cruzados caírem sobre a mesa, inclinando-se, chegando mais perto de Demi. Perto o suficiente para ela notar a pulsação dele latejando na garganta.

– É mesmo?

– Sim.

Ele pegou sua água, levando o copo liso à boca. Enquanto bebericava, os músculos de seu pescoço tensionavam. E quando ele pôs o copo na mesa, seus lábios estavam úmidos, entreabertos.

– Isso aconteceu muitas vezes?

– Provavelmente mais que no ano passado.

A expressão masculina de autossatisfação apareceu no rosto incrivelmente bonito de Joe.

– Você pensou em…

– Tudo – ronronou ela. – Pensei muito no assunto.

– Idem.

Ela engoliu em seco, percebendo o que ele estava confessando.

– Imagino que você não tenha brinquedos…?

– Temo que não. Tive de fazer a rota à moda antiga.

Contorcendo-se um pouco na cadeira enquanto pensava nele em busca de alívio por estar pensando nela, Demi repetiu a pergunta.

– Isso aconteceu muitas vezes?

Ele baixou os olhos, olhando para o pescoço dela e para o volume suave no decote do suéter com gola em V.

– O que você acha?

Percebendo que ela havia mandado mais do que era capaz de aguentar, e que as imagens de Joe acariciando aquela ereção longa e grossa iriam invadir o restante de seu jantar, Demi pigarreou e mordeu um palitinho de pão com força.

Joe não facilitou, no entanto, voltando exatamente ao ponto para onde tinha sido guiado pouco antes daquele desvio para “Luxuriópolis”.

– E o que aconteceu, seu brinquedinho deixou de ser o suficiente e então você decidiu quebrar as próprias regras e voltar para pedir alguma coisa que estivesse fora do cardápio?

Ela abriu a boca para responder, mas antes que pudesse, uma voz alegre se intrometeu.

– Algo mais? Esperem, alguém já pegou o pedido de vocês? Meu Deus, eu disse a ela que já estava vindo!

Demi mordeu o lábio com diversão ao perceber que a jovem garçonete, cujo crachá dizia Brittani, tinha ouvido parte da conversa. Obviamente ela interpretara o conteúdo erroneamente. Graças a Deus.

A garota provavelmente tinha apenas uns 17 anos, e parecia extremamente irritada por alguém ter atendido uma mesa que lhe pertencia. Aparentemente ela temia perder a gorjeta.

Considerando-se que eles haviam sido deixados sentados ali por uns bons dez minutos, ela aparentemente era do tipo otimista.

– Está tudo bem – disse Joe –, nós estávamos falando sobre outra coisa.

Demi não conseguiu resistir a ser um pouco travessa.

– Ah, sim. Definitivamente sobre outra coisa. Apenas relembrando algo que pedimos de um cardápio em Milão na semana passada.

A mandíbula da garota se abriu o suficiente para exibir a goma de mascar que repousava em sua língua.

– Vocês foram para a Austrália? Sério mesmo? Viram coalas?

Demi conseguiu disfarçar tanto a risada quanto o suspiro diante das habilidades geográficas nada impressionantes de Brittani.

– Nenhum coala – interrompeu Joe com gentileza. – Só alguns dingos. Agora, se você não se importa, acho que estamos prontos para pedir.

E então eles fizeram o pedido, escolhendo a pizza de pepperoni que Demi vinha desejando desde que eles começaram a falar sobre comida no quarto do hotel. A garçonete alegre, cujo humor melhorou assim que ela percebeu que não havia ninguém tentando roubar sua mesa, assentiu e se afastou, nem mesmo perguntando se eles queriam algo além de água gelada para beber.

A água gelada tinha praticamente acabado.

Quando estavam a sós novamente, Joe disse:

– Para ter certeza de que entendi, vamos esclarecer. Uma conversa honesta é tão proibida em seu planeta quando jantares românticos, certo?

Caramba, o sujeito era obstinado.

– Depende da conversa.

– Podemos falar sobre esportes?

Ela torceu o nariz.

– Filmes?

– Claro. Embora eu não tenha visto nada no cinema há pelo menos dois anos.

Ele deu de ombros.

– Eu também. Prosseguindo. Política?

– Só se você for de direita, com leves tendências ao centrismo, como eu.

– Progresso. Temos uma coisa em comum.

Sorrindo maliciosamente, ela disse:

– Acho que temos mais de uma coisa em comum.

– Touché.

Ela ergueu o copo e bebeu as últimas gotas de água, então sugou um pedacinho de gelo.

– Acho que há outra coisa sobre a qual seguramente concordamos. A gorjeta de Brittani está diminuindo a cada minuto que passa.

– Acho que também concordamos que a geografia deveria ser um curso obrigatório em escolas de ensino médio.

Ela riu, gostando do senso de humor impassível dele. Gostando muito dele.

Demais.

Talvez…

Não. Ela não ia nem chegar perto disso, nem mesmo em sua cabeça. Não ia avaliar a possibilidade de aquela coisa entre eles poder ir além de diversão e sexo incrível.

Ela sempre preferia diversão e sexo incrível a dramas emocionais angustiantes e campos minados de sentimentos.

Apesar de seus melhores esforços, durante alguns minutos Demi na verdade se permitiu papear. Nada muito pesado, definitivamente nada sobre relacionamentos anteriores ou medos mais profundos. Mas Joe conseguiu fazê-la admitir que já tivera uma quedinha por todos os membros dos Backstreet Boys, e ele revelara seu desejo secreto de ser um baterista de uma banda de rock, mesmo nunca tendo segurado uma baqueta.

– Os Backstreet Boys nunca tiveram um baterista – apontou Demi.

– Que pena. E pensar que poderíamos ter começado toda esta diversão há 15 anos.

– Há 15 anos, nós dois seríamos menores de idade.

– Mas pense em todas as coisas interessantes que poderíamos ter aprendido juntos.

Francamente, ela estava aprendendo muitas coisas interessantes com aquele homem, ali e agora. Aos 14 anos, ainda a rebelde que tentava sobreviver no país das maravilhas das mocinhas comportadas, Demi nunca acharia que seu coração poderia encontrar alguém que a excitasse como Joe Campbell.

Bem, seu coração provavelmente acharia. Seus pais, no entanto, teriam ficado loucos.

O bate-papo leve pareceu satisfazer Joe, pelo menos por ora, e ele não tentou conduzi-la a nenhum assunto mais pessoal. Que sorte. Demi sinceramente não sabia se teria sido capaz de explicar sua aversão a tais coisas. Não sem, no meio do processo, lhe dar todas as informações que ele estava buscando. Suas mágoas, sua educação rígida, sua má reputação de ser um pouco livre e insensível além da conta… tudo explicava quem era hoje. Mas não eram assuntos que ela particularmente tinha vontade de abordar. Fantasias adolescentes eram o ponto mais íntimo aonde ela preferia ir.

– Pronto, aqui está. Divirtam-se!

Brittani tinha retornado com a pizza bem a tempo, antes de Joe poder entrar sorrateiramente por quaisquer portas daquele papo que Demi pudesse ter, inadvertidamente, deixado abertas. Ela estava tão ansiosa para que as coisas continuassem daquele jeito, que pegou uma fatia e a abocanhou de imediato.

Decisão ruim.

– Ai! – Ela se sobressaltou quando o queijo grudento lhe queimou o céu da boca.

Joe imediatamente pegou um pedaço de gelo de seu copo d’água e o esticou para ela. Largando a pizza, Demi abriu os lábios com gratidão, chupando o cubo que Joe colocara em sua boca. Sua língua roçou as pontas dos dedos dele quando ela envolveu o cubo, e de repente a dor não era mais tão ruim. Notando a maneira como os olhos dele brilharam ao sentir a língua dela em sua pele, Demi teve de reconhecer que não foi tão ruim assim mesmo.

– Cuidado. Não quero que nenhum ferimento encurte nosso caso de duas noites – brincou ele. Então, olhando para a própria pizza, acrescentou: – Eu acho que vou esperar um pouco até isto esfriar. Tenho planos para minha boca hoje à noite.

Ela estremeceu na cadeira ao pensar naquilo. Porque, oh, o sujeito sabia como usar a boca. E havia coisas tão maravilhosas que ele poderia fazer com ela, as quais não envolviam a conversa que ela desconfiava que ele fosse querer retomar assim que terminassem de comer.

Demi pensou no assunto. Ficar ali e lidar com mais conversa? Ou simplesmente seduzir Joe no quarto de hotel?

Escolha óbvia.

– Joe? – disse Demi, falando com cuidado, o gelo agora era apenas uma lasquinha na língua dela.

– Sim?

– Podemos, por favor, embrulhar a comida para viagem?

Ele a encarou, como se avaliando o pedido e a motivação dela para tê-lo feito. Ela não precisava fingir seu interesse em retornar para o lugar onde ficaram durante uma quantidade de horas: em uma cama de quarto de hotel. Mas precisava esconder o fato de sua motivação ser, pelo menos em parte, sair dali para não ter de conversar mais.

Algo similar à compreensão atravessou o rosto dele, embora ela pudesse jurar ter visto uma ponta de frustração ali também.

– Tem certeza?

– Acho que você precisa dar um beijinho nisto aqui para sarar – disse ela, pressionando-o um pouco mais. Ela passou a língua nos lábios para frisar seu argumento.

Ele balançou a cabeça, sorrindo pesarosamente.

– Eu acho que deveria ser grato por ter descoberto que você tem inclinações políticas moderadas e que não tem ido ao cinema. Isso é mais do que eu sabia há duas horas.

– E não se esqueça… não sou fã de esportes.

– Já estamos chegando a algum lugar.

– Agora vamos para outro lugar – insistiu ela, inclinando-se sobre a mesa.

Aquela conversa pingue-pongue a lembrou do quanto gostava da sagacidade de Joe, de sua personalidade calma. Fisicamente, sentira-se atraída desde o início. Agora, porém, ela sabia que havia muito mais coisas interessantes a respeito dele.

Mas só até o dia seguinte.

A menos que…

Só até amanhã!

– Por favor – sussurrou ela. – Nós só temos até de manhã, e eu realmente não quero desperdiçar isto sentada aqui esperando a pizza esfriar.

Aparentemente notando a sinceridade da parte dela, Joe não hesitou. Acenou para a garçonete e então murmurou:

– Mas quando estivermos voltando ao hotel me reservo o direito de perguntar se você leu algum livro bom recentemente.

– Livros. Está bem, eu posso lidar com isso.

E podia mesmo. Livros eram um bom assunto. Bem como filmes, política, esportes e qualquer outra coisa que realmente não requeresse de conversa íntima.

Ele só não poderia perguntar a ela sobre seus relacionamentos anteriores, sobre sua família ou seu estilo de vida livre. Ela não iria partilhar quaisquer detalhes sobre sua aversão a cidades do interior, lares, círculos familiares, valores salutares ou qualquer outra coisa que lembrasse o mundinho onde ela crescera.

E Demi definitivamente não queria falar sobre seu coração levemente endurecido. Ou sobre o fato de algumas pessoas sequer acharem que ela possuía um.

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Dei uma atrasadinha mas aqui estou eu cm mais um capítulo! Comentem
xoxo

3 comentários:

  1. Amei a maratona faz mais!!!
    to amando essa fic mt boa *.*

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  2. To amando cada vez mais essa história é muito boa

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  3. Não acredito que a Demi vai por tudo a perder por causa da insegurança dela.... por favor continua com a maratona.....

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