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7 de dezembro
AO VER o número no identificador de chamadas quando o celular tocou muito tarde da noite no meio da semana, Demi quase não atendeu. Não porque não quisesse falar com Joe, mas porque ela de fato queria… um pouco demais.
Eles não se falavam desde a despedida no aeroporto no domingo, ao final do feriado de Ação de Graças.
Sim, eles trocaram alguns e-mails, mas não houve nenhum tipo de pressão, ambos percebendo que as coisas tinham mudado desde o passeio na praia.
Demi ainda não havia concluído como se sentia sobre essa mudança. Sair de uma aventura durante feriados para um relacionamento de longa distância era um passo tão grande. Um passo enorme, pelo menos para ela. Sendo assim, o período para reflexão pareceu uma ideia muito boa. Mentalmente, ela estava com esperanças de que seu bom senso iria expulsar sua libido lentamente, e que de alguma forma ela encontraria forças para dizer a Joe que tinha mudado de ideia e que estava tudo acabado.
Não vê-lo novamente seria o melhor caminho. Eles ainda não tinham ido longe demais. Nesse ponto, ele não poderia resolver odiá-la e censurá-la por tê-lo seduzido. Não poderia acusá-la de ter tomado seu coração e o esmagado sob suas botas ao sair.
Logicamente, Demi sabia de tudo isso. Mas à medida que os dias se arrastavam, ela começava a perceber o quanto sentia saudade de Joe. Ela sentia saudade de tudo nele. Queria ouvir a risada na voz dele, e o jeito sexy como pronunciava seu nome. Ela sentia falta dos sussurros dele enquanto faziam amor, dizendo o quanto a desejava. Ela até se flagrou com saudade do jeito como ele ficava tentando estimulá-la a conversar sobre o passado, falar de família e de seu péssimo histórico romântico.
Ela sentia saudade do toque dele.
Terceiro toque. Quarto. Ela engoliu em seco, se espreguiçando na cama, os cobertores embolados em torno das pernas. Os músculos flexionados, o sangue acelerando um pouco pelas veias. Seus sentidos despertaram, o roçar dos lençóis na pele nua, a imagem do rosto de Joe, a lembrança das mãos e da boca dele.
Fazia algumas semanas que Demi não usava seu brinquedinho sexual, e se ela atendesse ao telefone, tinha a sensação de que iria precisar do vibrador. Ouvir a voz de Joe, desejando-o, mas sem poder tê-lo, iria fazer aquele desejo fraco e tenso pulsar profundamente pelo seu organismo e borbulhar como lava subindo em um vulcão.
Claro, se não atendesse ela continuaria cheia de desejo. Então podia muito bem se divertir.
– Alô?
– Sabia que hoje é o Dia Nacional do Algodão-Doce?
Demi riu, se perguntando como ele era capaz de diverti-la quando ela estava tão subitamente louca de tesão.
– Engraçado, pensei que você estivesse ligando porque hoje é o Dia Nacional de Homenagens a Pearl Harbor. – Ela meio que tinha pensado isso mesmo, aderindo ao tema do feriado.
– Isso é muito triste – disse ele. – Algodão-doce é muito mais alegre. É bem cor-de-rosa.
– Eu não sou do tipo de garota fã de cor-de-rosa.
Ele sequer fez uma pausa:
– Pode ser azul também.
– Um especialista em algodão-doce, hein?!
– Vamos apenas dizer que eu gostaria de ficar mais familiarizado com o assunto. Especialmente com o que eu estou imaginando agora.
Ela se acomodou no travesseiro, o telefone aninhado na curva do pescoço.
– O que está imaginando?
– Você. Vestindo apenas um monte de algodão-doce fofo.
Rindo baixinho, ela disse:
– Parece pegajoso.
– Parece delicioso.
– Você realmente acha que conseguiria comer tanto assim?
– Eu poderia comer algodão-doce em você por dias, Demi Bauer.
Certo, definitivamente vou precisar do vibrador esta noite. Suspirando de prazer absoluto ao som do desejo de Joe para com ela, Demi chutou as cobertas totalmente. Ela dobrou um joelho, abrindo as pernas, mal notando o ar frio da noite. O calor dos sussurros de Joe a aqueciam o suficiente.
– Onde você está? – perguntou ele, a voz grave, como se de repente tivesse percebido que ela não estava voltada a pensamentos leves e repletos de flerte, mas, sim, a coisas profundas e sensuais.
– Estou na minha cama enorme, completamente solitária.
– Hum. E o que você está vestindo?
– Nadica de nada.
– Espere… Aaah, agora você está vestindo alguma coisa. Estou vendo você. Toda coberta de algodão-doce azul fofinho, só esperando eu comer ele todinho de cima de você.
Demi lambeu os lábios, em seguida, deslizou a mão pela barriga, traçando a ponta dos dedos ao longo das curvas dos seios.
– Onde você está? – perguntou ela.
– Na cama. Claro, eu não tenho tanta privacidade quanto você. Não estou sozinho.
Ela ficou rígida, embora de forma realista, soubesse que Joe não estaria telefonando se houvesse uma mulher com ele. Principalmente porque ele sabia que, se houvesse, Demi voaria até Pittsburgh para socá-lo.
– Desça, Ralph.
Ouvindo um latido baixo no fundo, ela percebeu do que ele estava falando.
– Aaah. Seu cachorro.
– Fora daqui, amigo – disse ele. Demi ouviu o clique de uma porta quando o cão aparentemente foi expulso do quarto. Então Joe admitiu: – Ele não é tão fofinho quanto você.
Fofinha? Ela? Ha.
– Eu sou tão fofinha quanto um porco-espinho.
A risada baixinha de Joe informou a ela que ele não acreditava em seu protesto instintivo.
– É muito gostoso abraçar você, Dem. Não consigo decidir do que gosto mais quando você está dormindo… De abraçar você, ou de simplesmente ficar observando você.
– Fica me observando dormir? Por quê?
– Você é delicada quando está dormindo – explicou ele simplesmente.
Delicada. Joe não estava se referindo à pele, ou ao cabelo dela. Demi sabia o que ele queria dizer, que a havia enxergado de guarda baixa, emocionalmente vulnerável, sem barreiras. E ele parecia feliz com isso.
Demi sentiu um aperto no peito.
Em seguida, começou a balançar as pernas de maneira inquieta.
– Volte para o algodão doce – pediu ela, preferindo uma conversa sexy a uma conversa gentil, carinhosa. Era mais seguro. Menos arriscado.
– Deus, você é tão previsível.
Ofegante, ela retrucou:
– Não sou, não!
– Sim, querida, você é. Sua intenção era pegar seu brinquedinho sexual enquanto eu ficaria sussurrando até você ter um orgasmo, aí eu comecei a ficar todo sentimental com você.
Tudo bem. Então ela era previsível. A princípio, ela não respondeu, mordiscando o lábio, e então finalmente perguntou:
– Isso quer dizer que não vai rolar sexo por telefone?
– Você está brincando? É claro que sim, teremos sexo por telefone. – Joe baixou a voz, todo tom de humor desaparecendo quando ele confessou: – Estou deitado aqui com meu membro duro como pedra na mão, só de pensar em todos os lugares do seu corpo que quero preencher com ele.
– Ai, Deus – sussurrou ela, alguns daqueles lugares reagindo instintivamente. A boca de Demi ficou seca, a parte íntima, muito úmida. Ela foi descendo a mão lentamente até chegar à barriga nua, e então ao quadril.
– Fale mais.
Ele obedeceu, falando num sussurro rouco.
– Quero possuir você em todos os sentidos que um homem pode possuir uma mulher.
Demi fechou os olhos, a palavra possuir fazendo-a tremer. Ela não era de abrir mão do controle. Mas, ah, como tinha gostado da noite de sexta-feira em Daytona. De se render a ele, sabendo que ele não iria machucá-la e que só queria lhe dar prazer fora uma das experiências sexuais mais emocionantes da vida dela.
– Mas primeiro temos de nos livrar de todo o algodão-doce.
– Quer tomar um banho junto comigo? – brincou ela.
– Agora não. Primeiro quero deitar de costas e puxar você para cima de mim.
A pulsação dela latejava, a respiração ficou ofegante.
– Quero que você sente no meu peito, as pernas abertas para mim para que eu possa lamber todo o açúcar das suas coxas macias.
Demi contraiu as pernas reflexivamente. Daí levou as mãos aos cachos entre elas, deslizando um dedo sobre o clitóris, sibilando diante da rigidez e sensibilidade do ponto. Todas as palavras que Joe pronunciava eram uma carícia invisível, a cena que ele criara quase entorpecente em sua intensidade sensual.
– No início, vai ser macio e fofo. Tão doce. No entanto, quanto mais me aproximo de você, mais açúcar puro eu encontro. Porque você vai estar tão quente e úmida que ele já terá derretido.
– Oh, Joe. – Demi arqueou na cama, acariciando o clitóris com mais intensidade, deslizando o dedo entre os lábios do sexo. Quente e úmida definitivamente descreviam o que ela sentia.
– Você tem noção do quanto adoro passar a língua em você… dentro de você? – perguntou ele. – Do quanto acho seu gosto bom?
Ela pegou o vibrador na gaveta ao lado da cama. Agora, mais que nunca, desejava um membro de borracha bem grande, em vez de somente o vibrador fininho de plástico. Ela queria ser preenchida. Possuída.
– Dem?
– Estou aqui – sussurrou ela enquanto apertava o botão para ligar o aparelhinho e o colocava bem no ponto onde mais precisava dele. Em seguida, ela esclareceu: – Na verdade, não estou aqui… Estou quase lá. – Ao ouvir as respirações arfantes dele, Demi soube que não estava sozinha. – Diga-me o que vai acontecer agora. Depois de ter lambido cada pedacinho de doçura.
– Diga-me você – respondeu ele.
– Fácil. Vou deslizar para baixo do seu corpo. Devagar. Torturando você.
– Não é justo. Eu não torturei você.
– Não é justo. Eu não torturei você.
Ele a estava torturando agora. Dando-lhe fantasia quando ela queria realidade. Mas a fantasia teria de servir, pelo menos por ora.
– Mas eu não conseguiria me segurar – admitiu ela. – Eu ficaria tão desesperada para ter você dentro de mim que, no segundo que eu sentisse a ponta do seu membro, o faria entrar, o receberia numa investida profunda.
Ele gemeu. Ouvindo o som grave, primitivo de prazer, reconhecendo-o de todas as vezes que Joe a penetrara, Demi pressionou o vibrador um pouco mais. As ondas do clímax cresceram. Mais altas. Mais depressa.
Ela não conseguia mais falar, não conseguia ouvir, não conseguia nem pensar. Só conseguia sentir como o prazer explodia em um ímpeto quente, preenchendo seu corpo.
No entanto, durou pouco. Muito pouco. Nem perto do tipo de satisfação que ela conseguia nos braços de Joe Campbell.
Calada e cansada, ofegante na cama com o telefone ainda ao lado de seu ouvido, Demi teve de admitir, mesmo que apenas para si. Ela estava se viciando nele.
E sabia, sem dúvida, que faria qualquer coisa para estar com ele novamente. Pelo tempo que pudesse tê-lo.
Natal – 25 de dezembro
Em alguns anos, a festa de Hanuká coincidia com o Natal. Felizmente, no entanto, este ano não era um deles.
O que significava duas fugidinhas reais de feriado em dezembro.
Eles passaram a primeira em um quarto de hotel de Nova York. Joe encontrara Demi lá, sem saber o que ela guardava na manga para eles. O local era muito diferente do hotel da Flórida, onde tinham passado o fim de semana de Ação de Graças.
Não que ele tivesse reclamado.
Desejando apenas estar com ela novamente, Joe realmente não se importava para onde iam. Esse desejo tinha crescido exponencialmente após o sexo por telefone no Dia Nacional do Algodão-doce, e ele provavelmente teria concordado em encontrá-la no meio de uma zona de guerra se esta fosse a única maneira de tê-la.
Então, sim, qualquer lugar serviria, desde que tivesse uma cama e fosse longe do mundo real, onde ninguém os conhecia. Um lugar onde Demi pudesse relaxar e esquecer que não era do tipo que sossegava, que não queria um relacionamento, estava tudo bem para ele.
Especialmente porque, gostando ela ou não, com ela admitindo ou não, eles tinham um relacionamento.
Longe de ser um mergulho na praia, os arranha-céus de Manhattan eram puro luxo e indulgência. E Joe compreendeu o motivo de Demi ter escolhido aquele local quando ela finalmente se revelou… e revelou o jogo. Joe quase teve um infarto quando ela saiu do armário do quarto, toda de preto da cabeça aos pés. Estava fazendo o papel de um gatuno que tinha acabado de ser pego no flagra.
Joe realmente gostara do jeito como ela tomara posse de suas joias mais valiosas.
E ele gostou igualmente quando Demi não resistiu no momento em que ele a chamou para sair do hotel e jantar em um restaurante chique. E quando ela lhe dera um beijo estalado, quando ele lhe apresentara ingressos não para um espetáculo da Broadway, mas para aqueles concertos de rock pesado no Madison Square Garden.
Durante a viagem, ela ficara relaxada, sexy como sempre, contudo não tão arredia. Ela dera risadas com mais leveza, conversara mais. Foi como se ela tivesse pensado um pouco no assunto após a caminhada na praia e resolvido manter aquele relacionamento pelo tempo que durasse.
Os ovos de Páscoa de Joe já estavam reluzentes.
Tal ideia o fez sorrir. Principalmente porque ia vê-la novamente em breve.
– Ainda não consigo acreditar que você vai viajar para Las Vegas no Natal. Isso é tão cruel!
Ignorando o tom descontente de sua irmã adolescente, Molly, Joe afastou os pensamentos sobre a viagem do dia seguinte, tecnicamente, o dia depois do Natal, e voltou ao assunto em questão: o jogo de tabuleiro que estava armado na mesa da cozinha. Jogar após a ceia de Natal era uma tradição da família Campbell desde que ele era criança.
O fato de seu pai ter sido fanático por joguinhos fez do ritual algo que todos queriam manter vivo. Incluindo Joe, muito embora, em qualquer outro dia do ano, ele preferisse comer panetone mofado a jogar War.
Daí, mais uma vez, poderia ser pior. Antigamente, há muitos anos, havia aquelas maratonas de Pretty, Pretty Princess, quando suas irmãs eram bem novinhas e conseguiam o que queriam na maioria das vezes.
Hummm. Não que muita coisa tivesse mudado. Mesmo que ele não fosse o molenga que seu pai era no que dizia respeito às meninas Campbell, elas ainda conseguiam o que queriam na maior parte do tempo.
Como agora.
– Iuhu! Acabei de conquistar a Austrália! Continue pensando na garota com quem você está ficando em Las Vegas, maninho, e eu vou continuar a conquistar seus países.
Joe franziu a testa para sua irmã
Debra, nove anos mais nova e cursando a metade do segundo ano de faculdade. Ela sorriu, arqueando uma sobrancelha desafiadora, provocando-o a negar o que ela havia falado.
– O quê? – perguntou Molly, os olhos arregalados. – Você vai se encontrar com alguém? Quem? – A garota de 16 anos que ainda não tinha descoberto que o mundo não girava totalmente ao redor dela, fez beicinho quando acrescentou: – É por isso que você não vai nos levar, mesmo sabendo o quanto estou morrendo de vontade de ir a Las Vegas? Por que você quer ficar com uma garota? Mas que porcaria.
– Cuidado com o palavreado – disse ele, uma resposta automática. Engraçado, considerando que, quando ele tinha 16 anos, sua mãe jogou um frasco de detergente em todo o seu jantar certa noite como castigo por causa da boca suja. Mas Joe imaginava que seu pai teria feito o mesmo tipo de advertência que ele.
– Por que você quer ir, afinal? Tudo que você faria seria circular em lojas de roupas e ficar mandando torpedos para seus amigos, do mesmo jeito que faz aqui.
Aquela foi a frase mais longa que Joe ouvira da boca de seu irmão caçula Jack durante o dia todo. O garoto de 14 anos tinha abrandado um pouco o discurso rotineiro “odeio todo mundo porque sou um adolescente” hoje e, no caso dele, aquele comentário podia ser considerado uma tagarelice e tanto. Ele até prosseguiu e acrescentou:
– Quem é a garota, Joe?
Por mais satisfeito que Joe estivesse por seu irmão taciturno, que tinha apenas 12 anos quando seu pai morreu, estar realmente interessado em dialogar, aquela era uma conversa que ele não queria ter.
– Ignore-a. Ela está tentando distrair vocês para poder conquistar o sudeste da Ásia.
– Ela é bonita?
De parar o trânsito.
– Vamos jogar ou conversar? – Ele olhou para o relógio. – Porque são quase 20h e vou sair às 21h, tendo dominado o mundo inteiro ou não.
Jack não ficou constrangido. Nem suas irmãs. Como três cães farejadores atrás de um osso, eles insistiram no assunto. Joe tinha sorte por suas outras duas irmãs, Tess, uma divorciada durona que no momento odiava os homens, e Bonnie, a humanitária que queria salvar o mundo, estarem em outro cômodo assistindo aos filhos de Tess brincando com seus brinquedos novos.
– Foi por causa da sua nova namorada que você viajou no fim de semana de Ação de Graças? – perguntou Molly, o tom choroso na voz dela causando um espasmo de tensão no olho de Joe.
– Amiga – esclareceu ele.
Molly revirou os olhos.
– Ela mora longe?
– Chicago – disse Debra.
Joe ficou boquiaberto.
– Como diabos você sabe disso?
– Tia Jean me contou – disse ela com um sorriso largo de autossatisfação. Debra tinha superado qualquer ranhetice adolescente e agora só gostava de exercer seu papel de incendiária do circo na família.
Joe não questionou como tia Jean sabia. A senhora tinha espiões até para espionar seus espiões. Além disso, se ele quisesse mesmo saber, poderia perguntar diretamente. Provavelmente ela chegaria em breve: a casa deles era a última parada de sua via sacra pela Pensilvânia para visitar todos os sobrinhos e familiares distantes.
Contudo ele não queria saber. Na verdade, ele não queria vê-la de jeito nenhum, já sabendo que ela iria dar uma olhadela nele e cantarolar em triunfo. Obviamente, se tia Jean contara à irmã dele sobre suas viagens para encontrar Demi, ela com certeza sabia muito bem que ele tinha aceitado seu conselho, bem, sua ordem, de sair e viver um pouco.
Ninguém dizia “Eu avisei” com a mesma convicção de uma senhora que realmente tinha avisado. Com alguma sorte, ele iria embora antes de ela aparecer para dizer aquilo.
– Por que essa “amiga” não veio conhecer a gente? – perguntou Molly.
– Talvez porque você fosse assustá-la e fazê-la fugir para o estado vizinho.
– Ah, uma verdadeira dondoca metidinha, hein? – disse Molly fazendo um “tsc”. – Faltou coragem, maninho?
Jack resmungou:
– Espero que não. Se Joe mudar de lado e começar a dar ré no quibe, desisto desta família para sempre.
Com a mandíbula escancarada, Joe olhou para seu irmão mais novo.
– Se eu começar o quê?
– Você sabe, é quando você…
Joe ergueu a mão, palma exposta.
– Chega. Eu sei o que é. – Olhando para suas irmãs, que esboçavam desde um ecaaaa até uma expressão de nojo, Joe notou que elas também sabiam o que era.
Jesus, como seu pai dava conta disso? Adolescentes eram um pesadelo.
– Qual é o nome dela? – perguntou Molly.
– Não é da sua conta.
– Não é da sua conta, Campbell. Que interessante – disse Debra, os lindos olhos divertidos. Ela era a fofoqueira do grupo, exercendo aquele papel de filha do meio como se o tivesse inventado. – Você pode batizar seus filhos de Caia Fora e Vá se Danar.
– Caia fora – murmurou ele, fechando os olhos e esfregando-os com os dedos.
– Vá se danar – disse ela docemente.
– Vá se danar – disse ela docemente.
– Isso não é muito educado, mocinha.
Abrindo os olhos, Joe olhou para cima e flagrou sua tia Jean de pé à porta.
Avaliando a cena, ela parecia matriarcal, embora seus lábios estivessem contraídos de divertimento. Ele desconfiava que estivesse lá há algum tempo.
Suas irmãs se levantaram da mesa para cumprimentar a tia que, apesar de excêntrica, também era a favorita de todos. Joe desconfiava que aquilo em parte se devesse ao fato de ela sempre vir carregada de presentes.
– Ajudem-me a descarregar o carro, sim? Eu trouxe algumas guloseimas.
As meninas correram para a porta tão depressa que o tabuleiro do Risk quase saiu voando. O que seria bom, na opinião de Joe.
– Vai ajudá-las, camarada? – perguntou Joe a Jack que, esparramado em seu assento, não queria parecer ansioso ou animado com qualquer coisa. Ele tinha baixado as defesas um pouco hoje, perto dos familiares diretos. A chegada de tia Jean fizera aquele tom cauteloso retornar aos olhos dele.
Joe sentiu o coração apertar. Seu irmãozinho tinha sido um menino alegre e despreocupado. No entanto não mais. Ter 14 anos já era ruim o suficiente. E com o peso que Jack vinha carregando há dois anos, era muito pior.
O menino deu de ombros.
– Tanto faz.
Quando seu irmão caçula se levantou e saiu, Joe não conseguiu evitar oferecer um aceno encorajador e um ligeiro aperto em seu ombro ossudo. Seja uma criança. Mesmo que só por esta noite. Amanhã já será cedo demais para voltar a ficar bravo com o mundo.
Jack não sorriu. Mas ficou a impressão de que ele havia se aprumado um pouco mais e que seus passos estavam mais lépidos. Já era alguma coisa, de qualquer forma.
– Ele vai ficar bem – murmurou tia Jean, com os olhos mais suaves que o normal enquanto eles observavam Jack sair pela porta dos fundos.
Joe sinceramente esperava que sim.
– Agora vamos falar de você.
Ele sabia que ela ia falar aquilo.
– Eu soube que você já andou falando. Muito obrigado. Eu realmente adoro saber das coisas a meu respeito pela boca de minhas irmãs.
– E um Feliz Natal para você também.
A curiosidade superou o constrangimento.
– Então… como você sabia?
Ela simplesmente deu de ombros, mantendo aquela reputação misteriosa de quem sabia de tudo, via tudo. Daí, olhando para o relógio de diamantes, ela balançou a cabeça.
– Não é melhor você ir para casa? É uma longa viagem a Las Vegas. – Ela deu de ombros. – Lamento não ter muita coisa para você no carro, porque acho que já dei um presente bem grande este ano.
Bem, ele supunha que estimulá-lo a sair e ter uma aventura contava como presente. Porque, quisesse ele admitir ou não, os últimos meses tinham sido os melhores em muito, muito tempo.
Joe abriu um sorriso e atravessou a sala para beijar a bochecha delicada e cheia de pó compacto da tia.
– Obrigado, tia Jean.
– De nada. Agora vá. Divirta-se. Seja maluquinho. – Ela acenou, gesticulando em torno da cozinha. – Essa felicidade doméstica estará aqui esperando quando você voltar.
Se aquilo era uma promessa ou uma ameaça, Joe não sabia. Nem queria pensar realmente no assunto. Porque ele já tinha outras coisas em mente.
Tinha o restante de um feriado para comemorar. E uma mulher por quem ele estava louco para dividir a festa.
DEMI NÃO era muito fã de Natal. Seus pais achavam que não deveriam mimá-la ou à irmã, e a festividade nunca realmente envolvera presentes ou festas. Na verdade, a ocasião era composta por
uma grande quantidade de trabalho voluntário, pelas cantigas de sempre, jantares tranquilos e igreja. Em determinados anos, nem mesmo chegavam a adquirir uma árvore de natal, o pai frugal considerava o gasto excessivo.
Os natais que Demi passara com o tio Frank tinham sido completamente diferentes. Grandes festas, bebida, dança, viagens para algum lugar animado para passar a virada de Ano-Novo. Definitivamente nada de guirlandas feitas com pipoca ou castanhas assadas.
O mais próximo que ela já havia chegado de um feriado familiar normal fora durante os anos em Chicago, na casa dos pais de Jazz. Mas ela sempre se sentia um pouco invasiva. Nunca chegava bem a entender o dialeto da época, e nunca se sentia confortável ao ganhar meias e sutiãs da mãe de Jazz, que a tratava como se fosse sua filha.
O Natal, Demi tinha concluído há muito tempo, não combinava com ela.
Então quando Joe Campbell entrou no quarto de hotel com uma mala cheia de presentes, ela não soube o que pensar.
– Ai, Deus, você está brincando? Eu só comprei um presentinho para você.
Um presentinho sexy. Um presentinho sexy e engraçado.
Entretanto ela não achava que uma cueca boxer com uma cabeça de rena, completa, nariz vermelho piscando e tudo, equivalia os dez pacotes, ou mais, que ele sacara da mala e jogara na cama imensa.
– Eu sou tão ruim nisto – resmungou ela, sem entrar em detalhes. Ele sabia do que ela estava falando: essa coisa toda de namorada. Não, eles não estavam usando a palavra, mas era a única que lhe ocorria. E, para Demi, ser namorada era mais difícil que assobiar e chupar uma enorme e bela cana.
Metaforicamente falando. Bem, literalmente falando também, mas pensando bem, suas habilidades com a boca não iam ajudar em nada nesta ocasião em particular.
– Eu não me importo. Natal é para dar, não para receber.
– Você está me dando sentimento de culpa – choramingou ela, olhando para as caixas lindamente embrulhadas.
Engraçado, há alguns meses, seu primeiro instinto provavelmente teria sido ceder ao aperto no peito, dar meia-volta e ir embora. Ela sempre quis visitar Londres durante o inverno. Praga soava bem. Amsterdã.
Não. Você não vai fazer isto. Não desta vez. Não com ele.
Ela havia ido até ali naquele fim de semana sabendo muito bem o que significava. Após a conversa deles na Flórida, Demi sabia que as condições tinham mudado mais uma vez. A viagem a Nova York fora divertida, mas o Natal e uma semana em Las Vegas acrescentaram algo. E ao passo que ela havia conseguido convencer a si de que nada seria realmente diferente, que esse era apenas mais um refúgio sexy de férias, lá no fundo Demi sabia que Joe poderia tratar a relação como algo genuíno entre duas pessoas que estavam envolvidas.
E ela apareceu com uma maldita cueca de veludo com o desenho de rena.
Rude, mordaz e sem coração. Essa era ela.
– Nem pense nisso – alertou Joe, obviamente notando algo nos olhos dela.
Demi não precisava de advertência. Porque mesmo sem as palavras dele, já estava com os pés bem plantados no chão.
A pressão em seu peito diminuiu gradualmente até ela conseguir voltar a respirar normalmente. Então, em vez de franzir a testa e acusá-lo de levar as coisas muito a sério, dando presentes a ela como se eles fossem uma espécie de casal de verdade, ela não conseguiu evitar sorrir.
– Você está falando sério? São todos para mim?
– Bem – admitiu ele quando se jogou em cima da cama –, alguns são para mim também. – Ele meneou as sobrancelhas sugestivamente quando rolou para o lado, apoiando-se no cotovelo dobrado. – Acho que um desfile de moda está na pauta.
Ela mordeu o interior da bochecha para não rir.
– Tudo bem, mas só se prometer fazer um também com o que comprei para você.
– Combinado.
Ai, cara, ele iria se arrepender disso. Mas Demi mal podia esperar.
Bem, pensando bem, Demi percebeu que podia esperar. Havia um jeito de salvar a situação.
– Olha, vamos adiar os presentes até amanhã, está bem? Dê-me um pouco de tempo ao menos para inventar algo para empatarmos, uma bola de boliche ou uma garrafa de loção pós-barba para você abrir.
Ele bufou uma risada.
– Você acabou de descrever todas as manhãs de Natal do meu pai. Mas tenho más notícias: eu não jogo boliche.
– Tudo bem. De repente posso comprar outra coisa.
Ele se sentou, segurando a mão dela e puxando-a até ela ficar entre as pernas dele.
– Você realmente não precisa fazer isso.
– Eu sei. – Ela queria fazer. De repente, a ideia de dar um presente de Natal de verdade ao seu amante soava exatamente a coisa certa a se fazer.
E havia algo mais que Demi queria fazer. Algo que percebera em sua mente por dias, desde que estivera que eles estavam indo para Las Vegas, a cidade do pecado. Demi tinha uma fantasia em mente, da qual ela suspeitava que Joe iria gostar.
– Você percebe que hoje é feriado também…? É o dia das liquidações pós-Natal.
– Eu não sou muito fã de lojas cheias – disse ele piscando.
– Mas é uma ótima oportunidade. – Ela deslizou por entre as pernas fortes. – O que eu estou tentando dizer é que eu gostaria muito de brincar com você neste feriado.
Ele balançou a cabeça lentamente, as piscadelas se transformando em um brilho de interesse. De avidez.
– Eis o que quero que você faça. – Ela caçou um pedaço de papel no bolso da calça e o entregou a ele. – Vá para este endereço e espere por mim. Estarei lá em uma hora.
Ele olhou para ela.
– É um restaurante ou algo assim?
Ela balançou a cabeça.
– Não. Basta esperar do lado de fora.
Ainda intrigado, Joe se levantou. Mas não saiu imediatamente, parando para segurar o queixo de Demi e puxá-la para um beijo lento e suave de despedida.
Ela quase cedeu, desistindo da fantasia para fazer o bom e velho sexo.
Mas estava pensando nisso há um bom tempo. Depois de aparecer sem nenhum presente para ele, o mínimo que podia fazer era tentar oferecer o tipo de fantasia que ele nunca iria esquecer.
E quase todos os homens do mundo tinham fantasias quando o assunto era Las Vegas. Joe iria ter sua fantasia realizada.
Empurrando-o porta afora, ela disse:
– Vá. Uma hora.
Ele levantou a mão numa saudação de zombaria.
– Mal posso esperar.
No minuto em que Joe se foi, Demi correu até sua mala e começou a tirar roupas dali. Ela havia feito mais algumas compras on-line, procurando por mais fantasias. Não de aeromoça dessa vez, ela estava querendo algo completamente diferente.
Ela pretendia se transformar completamente. E 15 minutos depois, quando olhou para seu reflexo no espelho, sabia que tinha conseguido.
– Caramba – sussurrou ela, sorrindo enquanto se olhava de cima a baixo.
As botas eram ainda mais arrasadoras que aquelas usadas no Dia das Bruxas. Couro preto, com tachinhas, até o joelho. Elas eram ousadas e gritavam “sexo”.
Acima delas havia um bom pedaço das coxas coberto com meias-arrastão. E finalmente, os poucos centímetros de uma minissaia rosa-choque que mal lhe cobria o bumbum. Era feita de algo parecido com papel celofane, e enrugava quando ela andava.
A blusa branca minúscula cobria os ombros e os seios, e não muito mais que isso. E a peruca loura platinada completava sua transformação de Demi Bauer, piloto profissional, em Dem, prostituta.
Afinal, qual sujeito nunca tinha fantasiado ser pego por uma garota de programa sexy em Las Vegas?
– O que o cliente quiser, ele vai ter – sussurrou ela, sorrindo enquanto se dirigia à porta do quarto. Ela fez uma pausa só para pegar seu sobretudo longo nas costas de uma cadeira. Não só porque estava frio lá fora, mas também porque ela não queria que os funcionários do hotel vissem sua fantasia de jeito nenhum. O lugar era completamente cinco estrelas, e o visual Uma linda mulher provavelmente não seria bem-vindo no saguão.
– Certo, docinho, prepare-se porque aqui vou eu – disse ela baixinho enquanto descia no elevador. A cada minuto, a certeza dela a respeito de uma coisa só aumentava:
Joe Campbell não fazia ideia do tipo de noite que o aguardava.
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Vem hot no próximo.
xoxo
É tão bom ver a Demi a deixar cair as suas defesas em relação aos homens, o Joe está a dar-lhe a volta (num bom sentido claro) :)
ResponderExcluirVixi... o Joe vai ficar loucooo.... posta logooo!!!!
ResponderExcluirUiiiiii.... Joe vai pirar agora,vai ficar esfolado de novo kkkkkkk
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