7.9.15

Faça Meu Jogo - Capitulo 8


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Dia da Marmota – 2 de fevereiro

– QUERIDA, POR que você simplesmente não voa para Pittsburgh e vai vê-lo?

Demi desviou o olhar, ignorando mais um sermão de Ginny, a assistente administrativa, que olhou para ela do outro lado de sua mesa de cheia de papéis. Há alguns meses ela descobrira que Demi estava envolvida com alguém. E finalmente se aproximara para falar sobre Joe após as festas de fim de ano. Provavelmente porque Demi vinha andando por aí com uma carranca permanente desde que voltara para casa.

Quando ela voou de volta para Chicago no dia 2 de janeiro, ela se perguntou se era hora de acabar com o caso. A conversa íntima que tivera com Joe, e a maneira como fizeram amor de forma tão terna e doce depois a convenceram de que ela precisava pelo menos pedir um tempo, se não abandonar completamente o jogo.

Sujeitinho desgraçado que conseguira burlar suas defesas, rompendo suas muralhas exteriores. De alguma forma ele conseguira encontrar um caminho para o coração já irritadiço dela. Só isso explicava por que ela havia se aberto para ele do jeito que nunca tinha feito com ninguém.

Ela contou coisas tão sombrias e feias sobre si, que foi uma surpresa ele não ter saído correndo e gritando noite afora.

Não que ela ligasse tanto assim a ponto de se importar com Joe. O problema era que cuidar dele significava querer ficar com ele, manter aquela coisa que tinha desabrochado entre eles. E isso, Demi temia, não seria bom em longo prazo… para Joe.

Ter sentimentos por ele significava que ela não queria vê-lo magoado. E, principalmente, ela não queria ser a pessoa a machucá-lo.

Entretanto era inevitável, não era? Ou só uma conclusão precipitada? Quando as coisas ficavam difíceis, Demi ganhava os céus.

– Será que você pode colocar algum bom senso na cabecinha dela? – disse outra voz.

Jazz tinha entrado no escritório, vestindo seu macacão de mecânico. Uma mancha de graxa na bochecha e o suor na testa deixavam óbvio que ela estava trabalhando duro, mas não diminuíam nem um pouco sua beleza mundana.

– Juro por Deus, Dem, se você não telefonar para o cara, vou deixar uma chave-inglesa no seu motor de popa para seu avião cair e a gente não ter de aguentar mais essa sua tristeza.

Demi revirou os olhos, sentindo-se um tanto acuada.

– Eu o vi no dia no feriado de Martin Luther King, e eu falo com ele todos os dias.

O feriado tinha sido movimentado, e era em dia da semana. Demi não conseguira uma folguinha para uma escapadela fora da cidade. Mas conseguira providenciar uma escala de três horas no aeroporto da Filadélfia. Joe fora dirigindo até lá… e passou aquelas três horas fazendo coisas incríveis com ela na cabine de seu avião.

Ela afastou a sensação de calor e sentimentalismo inspirada por aquelas lembranças.

– Não é como se eu tivesse terminado com ele.

– A-hã. Mas você está planejando isso – disse o Jazz com conhecimento de causa. Gina concordou com a cabeça.

– Com certeza.

Demi olhou para ambas.

– Essa relação nunca nasceu para ser séria. Meu Deus, nós moramos em estados diferentes.

– E você é piloto profissional de aviões – retrucou Jazz. – Uma viagem aérea de Pittsburgh para Chicago provavelmente demora menos que ir de trem para o subúrbio todos os dias.

Aquele papo era loucura. Jazz quase fazia parecer que era possível Demi realmente se mudar para Pittsburgh e ir morar com Joe. Transformar uma aventura de férias em algo permanente.

Não seria legal? Ela, Demi Bauer, a destruidora de corações de Chicago morando a poucos quarteirões de distância da família típica e perfeitinha de Joe, cheia de irmãos que o adoravam e iriam odiá-la totalmente.

Acho que não.

Ela se levantou abruptamente, informando de forma silenciosa que a conversa tinha acabado. Jazz e Gina trocaram um olhar frustrado, mas não disseram mais nada, conhecendo Demi bem o suficiente para saber que ela já estava mentalmente a meio caminho da porta.

Olhando para o relógio, ela disse:

– Está tarde. Acho que já podemos encerrar o expediente, né? – Forçando uma risada, ela acrescentou: – Espero que o inverno não se prolongue este ano.

Não sei se poderia suportar mais algumas semanas de frio.

Jazz murmurou algo em voz baixa.

Aparentemente chamou Demi de rainha do gelo ou algo assim, mas Demi ignorou.

Ginny, um pouco menos áspera, se aproximou e colocou a mão no ombro de Demi, apertando levemente.

– Nós amamos você, querida. Nós só queremos que seja feliz.

Amor. Feliz. Duas palavras que não fizeram parte de seu vocabulário durante os primeiros 18 anos de sua vida. Uma delas não fazia até hoje.

Não é verdade. Não totalmente, de qualquer maneira. Ela amava. Amava Jazz, Ginny e seu tio Frank. Ela amava sua irmã, mesmo que de forma um tanto compassiva. E tecnicamente amava até seus pais, porque apesar de toda indiferença e frieza, eles ainda eram sua mãe e seu pai afinal.

O quão louco era imaginar que ela poderia ampliar esse círculo e de fato se permitir amar um homem? Um homem?

Talvez valesse pensar no assunto.

– Eu sei – respondeu ela finalmente, dando um breve abraço em Ginny. Normalmente pouco adepta a demonstrações de afeto, Demi sabia que o ato impulsivo provavelmente pegara a mulher de surpresa. Os olhos arregalados de Jazz diziam que ela sentira a mesma coisa.

– Vejo vocês amanhã.

Pegando as chaves e sua bolsa, Demi as deixou e caminhou pela ala silenciosa de escritórios do aeroporto onde a Clear-Blue Air se alojava. Como sempre, ela levou algum tempo para chegar ao carro, e ainda mais tempo para dirigir para a cidade e estacionar na garagem de seu prédio. Durante todo o trajeto, ficou tentando organizar seus pensamentos, se concentrar e compreender tudo que estava acontecendo e seus sentimentos em relação àquilo.

Sentimentos e todas essas coisas não eram sua praia. Ela simplesmente não sabia o que fazer com eles.

– Inferno – murmurou ela enquanto saía do carro, entrando na noite fria de Chicago. Estava muito escuro lá fora, e até mesmo dentro da garagem, o vento açoitava descontroladamente no lago ali perto. As rajadas faziam assobios misteriosos através das aberturas da estrutura, congelando Demi por um segundo antes de trancar o carro e seguir para o elevador.

Quando ela apertou o botão e aguardou, uma sensação inquietante se iniciou em sua nuca. Ela olhou para os lados, em seguida, virou-se para olhar para trás. Não havia ninguém por perto, nem um único movimento dos carros. Ela havia chegado em casa depois da maioria das pessoas, mas antes de a multidão frequentadora das boates começar a lotar o centro da cidade.

– Tudo bem, acalme-se – disse ela a si, sabendo que estava imaginando coisas. Ainda assim, ela não jogou seu chaveiro na bolsa, mantendo as chaves longas, afiadas e salientes entre os dedos. Só por precaução.

O elevador chegou e ela rapidamente o examinou para se certificar de que estava vazio, antes de entrar. Ficou perto do painel de controle, pronta para apertar o botão “abrir” caso alguém de aparência suspeita aparecesse do nada de repente e se juntasse a ela. Mas nada aconteceu, nem um som, nem uma viva alma.

Ela deu um suspiro de alívio, rindo da própria tolice, quando as portas começaram a se fechar.

Foi quando ela viu. Havia um homem a poucos metros de distância, não muito longe do carro dela. Totalmente visível sob uma luz acima, ele deve ter se deslocado deliberadamente para aquele local, porque não estava ali há alguns segundos.

Ela deu uma boa olhada no rosto dele antes de a porta bloquear a visão. E a olhadinha foi suficiente para capturar algumas impressões rápidas. Corpo pequeno, atarracado e vestido de preto. Cabelo louro longo e seboso. O brilho de olhos escuros.

E, de repente, Demi se lembrou dele.

– Não pode ser – murmurou ela, apertando as chaves entre os dedos.

Contudo ela sabia que era verdade. Tinha acabado de ver o ladrão, o cara que a havia empurrado em Las Vegas.

– Seu nojento desgraçado – acrescentou ela, desejando que a porta não tivesse se fechado antes de ela o identificar. Porque o seu primeiro impulso foi ir atrás dele e socá-lo até deixá-lo apagado por tê-la empurrado para a rua.

Então, é claro, a mesma ordem sábia que impedira Joe de fazer essa mesma coisa em Vegas lançou um pouco de sabedoria em seu cérebro. Ele poderia estar armado, e já tinha se provado perigoso.

Em poucos segundos, a porta reabriu no andar da garagem no nível da rua. Ele não tinha como ter chegado até ali ao mesmo tempo em que ela, a não ser que tivesse desenvolvido asas e voado. Ele estava longe das escadas e o outro elevador, no lado oposto da plataforma, estava vazio. Então ela já não se sentia tão tensa quando saiu. Mas simplesmente muito curiosa. E preocupada.

– O que você está fazendo aqui? – sussurrou ela.

Não tinha como ser só uma coincidência. O sujeito a havia seguido até Chicago por algum motivo. Mas em vez de confrontá-la, ele estava fazendo um joguinho sorrateiro de esconde-esconde, tentando assustá-la.

No entanto por quê?

Em frente à garagem, as pessoas passavam na rua, um bar das proximidades já ficando apinhado de fregueses. Ela guardou as chaves, no entanto continuou muito concentrada, sempre olhando ao redor enquanto caminhava os poucos metros até seu prédio. O porteiro ofereceu um aceno de cabeça agradável, e uma vez lá dentro, Demi soltou um pequeno suspiro de alívio.

Não que ela estivesse verdadeiramente apavorada. Assustada era uma forma muito melhor de colocar as coisas.

– Obrigada, Bud – disse ela ao porteiro enquanto se dirigia para o elevador. Antes de alcançá-lo, no entanto, ela ouviu um toque distinto. Seu telefone celular. Pegando-o na bolsa, ela respondeu, distraída:

– Alô?

– É Demi Bauer?

A voz era estranha e gutural, como se a pessoa estivesse tentando disfarçá-la.

– Sim, quem é?

– Quanto tempo. Você fica um pouco diferente sem a peruca.

Era ele. O sujeito de Las Vegas… o sujeito da garagem. Tensa, ela se enfiou em um canto para se distrair com as vozes das pessoas que estavam vindo logo atrás dela.

– O que você quer?

– Quero o que é meu. Naquela noite, quando trombei com você deixei meu pacote cair. O relatório da polícia diz que eles não recuperaram minhas coisas, o que significa que você está com elas.

– Poupe-me – disse ela com um suspiro.

Ele hesitou, como se surpreso por ela não estar tremendo de medo. O que só servira para convencê-la ainda mais de que não devia temê-lo. Se ele tivesse qualquer tipo de arma e a coragem para usá-la, ele a teria agarrado na plataforma do estacionamento e a forçado a levá-lo até sua dita pilhagem.

– Vou chamar a polícia.

Ela quase pôde ouvir o sorriso de escárnio dele.

– O que vai dizer a eles? Que o cara de quem você roubou a joia está atrás de você?

– Ah, eu roubei sua mercadoria, não é?

– Sim, você roubou. E eu a quero. Mais importante, as pessoas para quem trabalho a querem.

As pessoas para quem ele trabalhava?

Será que havia algum círculo de ladrões em Las Vegas liderado por um Fagin e um Artful Dodger modernos? Ridículo.

– Olha, você está louco. Não estou com joia nenhuma, e você simplesmente desperdiçou uma viagem para Chicago – disse ela, mais irritada que com medo. – Talvez você devesse voltar e verificar todos os bueiros ou algo assim. O pacote provavelmente caiu quando você tentou me matar.

– Rainha do drama.

– Psicopata babaca.

Ele hesitou, como se finalmente percebendo que não a estava assustando nem um pouco.

– Então está com seu namorado.

Demi enrijeceu, cautelosa de repente. Se ele a estava monitorando, poderia ter feito a mesma coisa com Joe.

– Não, não está com ele.

Seu tom deve ter traído sua tensão, pois a voz do Sr. Ladrão ficou um pouco mais confiante.

– Ah, está com ele, tudo bem. Acho que vou ter de fazer uma viagem para Pittsburgh agora.

Droga.

– Como descobriu quem somos?

– Você é famosa, dona, não sabia disso?

Ela não fazia ideia do que ele estava falando.

– Além disso, as pessoas para quem trabalho têm alguns amigos na Polícia de Las Vegas. Seus nomes e informações de contato estavam bem no relatório da polícia.

Aquilo não inspirava confiança exatamente no Departamento de Polícia de Las Vegas. De repente, Demi sentiu vontade de telefonar para Parker e dizer para ele parar de se preocupar com calçados para a esposa e começar a investigar policiais corruptos.

– Acho que vou rever você – murmurou ele com uma risada.

– Espere, não está com ele, eu juro…

Mas ela estava falando com o ar. O sujeito esquisito tinha desligado na cara dela.

Demi conferiu o identificador de chamadas rapidamente, nem um pouco surpresa pela última ligação recebida ter vindo de um número não identificado.

Emergência? Policial Parker? Para quem ela deveria telefonar primeiro?

Claro, a resposta era: nenhum dos dois. Sem hesitar, ela buscou na agenda, selecionando as informações de contato de Joe na telinha.

Ela começou pelo celular dele.

– Vamos lá – dizia enquanto tocava sem parar. Quando caiu na caixa postal, Demi não se deu o trabalho de deixar recado, apenas seguiu para o próximo dado da lista, a casa dele. Mais uma vez, o mesmo resultado.

– Droga, onde você está?

O elevador veio e foi embora algumas vezes, e retornou outra vez soando a campainha. Um casal que morava no mesmo andar que ela saltou. Ela sorriu de forma impessoal, grudando o telefone ao ouvido para evitar qualquer conversa de corredor.

A porta do elevador permaneceu aberta, e Demi olhou para ele. Estava no saguão do próprio prédio, alguns andares abaixo de seu apartamento. Mas de repente ela se viu incapaz de caminhar pela porta aberta e fazer o pequeno passeio até o andar de cima.

Passar a noite inteira tentando rastrear Joe para avisá-lo sobre o bandido louco de Las Vegas parecia uma ideia insustentável. E a afirmação de Jazz sobre a facilidade que era voar de Chicago a Pittsburgh ficava se repetindo na cabeça dela.

Demi pensou no assunto por cerca de dez segundos. Depois se virou e caminhou em direção à saída.

– Bud, pode chamar um táxi para mim? – perguntou ela, sabendo que não poderia voltar para o próprio carro. El Loco ainda podia estar à espreita e Demi não queria que ele soubesse que ela estava indo para o aeroporto, indo avisar Joe.

– Claro, Srta. Bauer – disse o porteiro.

Alguns minutos depois, quando entrou no táxi, Demi teve de sorrir. Porque, como de costume, em momentos de crise, ela estava decolando, ganhando os céus. Desta vez, porém, em vez de fugir, ela pretendia voar para a pessoa que estava enchendo sua cabeça de confusão e seu coração de turbulências.

O problema podia estar a caminho de Joe. Mas Demi pretendia chegar primeiro.

QUANDO ALGUÉM bateu à porta às 22h, Joe imediatamente ficou tenso. A reação foi instintiva. Mesmo agora, dois anos depois, o toque de um telefone despertando-o de um sono profundo ou um golpe inesperado à porta tão tarde da noite o trazia de volta ao momento em que todo seu mundo mudara.

Foi ele quem atendeu a porta quando o policial uniformizado chegou para informar sobre o acidente de seu pai.

Ele afastou os pensamentos sombrios. Sua família estava muito bem. Estava com eles até meia hora atrás, comendo bolo de aniversário alegremente na mansão de tia Jean, que estava comemorando seu aniversário de 70 e alguma coisa. Ninguém sabia ao certo quantos anos tia Jean tinha já que ela mentia há muitos anos sobre isso.

A única pessoa com quem Joe realmente se importava era Demi, e ninguém sequer sabia que eles tinham alguma relação. Então não era como se alguém estivesse indo avisar que havia acontecido alguma coisa com ela.

Além disso, ele não tinha dúvida de que ela estava bem. A essa hora, ela provavelmente devia estar em seu quarto, vestindo algo simples porém incrivelmente sexy, olhando para o telefone. Talvez ela estivesse passando por um debate mental entre a possibilidade de ligar e estimulá-lo a fazer um belo sexo por telefone ou tentando ser forte e resistir, demonstrando que realmente não precisava dele… pelo menos até ela simplesmente não conseguir evitar.

Deus, a mulher o deixava louco. No bom sentido, bem como no mau. E, ah, como ele a adorava por isso.

A campainha tocou e depois tocou de novo, como se o visitante estivesse ficando impaciente. Joe se obrigou a relaxar e seguiu para atender, lembrando a si para não se preocupar. Ainda assim, ele não conseguiu evitar a pulsação acelerada quando girou a maçaneta e abriu a porta.

Vendo que estava lá, sobressaltou-se de surpresa.

– O que houve?

Suas quatro irmãs, seu irmão, sua mãe, seus sobrinhos e sua tia-avó… todos abriam caminho casa adentro, balbuciando a mil por hora, falando ao mesmo tempo.

Joe congelou, tentando fazer seu cérebro processar o que estava acontecendo.

Um bando de loucos tinha acabado de transformar seu refúgio tranquilo em um hospício. Ralph, como o cão inteligente que era, deu o fora, correndo para a área de serviço, provavelmente para se aconchegar entre a secadora de roupas e a parede, seu esconderijo favorito quando fazia travessura.

– Meu Deus, Joe, como você pode ser tão irresponsável? Como vou criar meus filhos para fazer boas escolhas quando o tio deles faz algo tão incrivelmente descerebrado?

– Joe, você está bem? Lamento se achou que não podia dividir isso com a gente.

– Ai, eu falhei com você. O que seu pai diria? Como você pôde fazer uma coisa dessas? Onde foi que eu errei?

– Quando ia nos contar, seu danadinho? Mal posso esperar para você me apresentar a ela.

– Cara, espere só até eu contar para os meus amigos. Eles vão ficar malucos.

– Como você pôde! Nunca mais vou ter coragem de aparecer na escola de novo!

– Quando eu disse para ter uma aventura, meu caro, eu não sabia que você ia levar isso tão longe.

Todas as vozes cresceram, um coro de vozes, no entanto um comentário, o de sua irmã Debra, se destacou em meio à nuvem de confusão.

– Espere. Apresentar a ela quem? – Ele quis saber, olhando para a irmã que era a segunda mais nova dentre as quatro.

– Joe, você está me ouvindo? – perguntou sua mãe, abanando, como se para afastar uma chama. Ela estava corada e parecia um pouco tonta, embora pudesse ser efeito do conhaque que tia Jean lhe empurrara goela abaixo pouco antes de Joe ir embora.

– Vá sentar-se antes que você desmaie – alertou tia Jean, empurrando a mãe de Joe para o sofá de couro. – Molly, leve os pequenos para a cozinha e faça um lanche para eles. Não ficaram nada satisfeitos por não terem podido terminar de comer o bolo.

A irmã de 16 anos lançou um olhar furioso a todos, então agarrou os sobrinhos de Joe e todos marcharam em direção à cozinha.

– Jack, por que você não vai procurar Ralph? Tenho certeza de que ele está apavorado por causa de toda essa balbúrdia – disse tia Jean.

Jack franziu a testa sombriamente.

– Não sou criança.

– Não, você não é, e por isso é maduro o suficiente para reconhecer que um pobre animal está se escondendo e com medo em outro cômodo, portanto você deve ir ajudá-lo – disse tia Jean.

Jack sempre fora um coração mole com animais, e ele realmente adorava Ralph. Às vezes vinha só para brincar com o cão, jogando um pedaço de pau para ele, trazendo um brinquedo. Sendo assim, o pedido silencioso funcionou melhor que qualquer outra coisa.

Finalmente, quando estavam apenas as mulheres mais velhas da família, e Joe, o homem solitário… Deus, falando em tortura dolorosa: envenenamento por estrogênio… ele repetiu a pergunta:

– Quem é ela a quem você está se referindo? Que diabos está acontecendo aqui?

– Não se faça de inocente. A verdade veio à tona. E apareceu de um jeito bem espalhafatoso – disse Tess, a mais velha dentre os irmãos. Ela era a mãe das duas crianças agora provavelmente estavam choramingando por ter de se contentar com biscoitos secos porque tio Joe não tinha cookies ou coisas gostosas em sua despensa.

Vendo o laptop de Joe aberto na mesinha de centro, já que ele tinha vindo a verificar seus e-mails antes de dormir na esperança de encontrar algum de Demi, Tess o agarrou e começou a digitar com veemência.

– Falando em irresponsabilidade. E em estupidez! – rebateu ela, como sempre, expressando sua opinião sem dar a mínima para o jeito como qualquer outra pessoa sentia-se a respeito.

– Será que alguém pode me explicar, por favor?

Sua mãe fungou, então acenou para a tela do computador. Joe voltou a atenção à tela, perguntando-se por que, em nome de Deus, todo mundo estava tão empolgado com um vídeo na internet.

Então o vídeo começou.

– Ei, doçura, vai trabalhar até que horas hoje à noite? – disse uma voz masculina de fora do enquadramento da câmera.

A voz era desconhecida, mas as palavras fizeram soar um alarme, embora Joe não tivesse se recordado da situação de imediato. E nem dava para fazer isso, a imagem estava escura, granulada.

Em seguida, o foco se acertou, a imagem se iluminou e limpou. E outra voz disse:

– Tem um cartão de visita?

– Desculpem, rapazes, ela está aposentada.

Aquela voz ele reconheceu.

– Ah, que inferno – murmurou, incapaz de acreditar, mas sabendo ao que estava assistindo. Principalmente agora que a imagem estava nítida e clara e a tela preenchida por um casal facilmente identificável.

Ele. E “Dem”, a prostituta. Em toda a sua glória perversa.

Joe desviou o olhar, lutando para se lembrar de tudo que eles tinham dito e feito, perguntando se o cinegrafista astuto havia flagrado o beijo sexy. Ou pior: a frase sobre…

– … me amarrei a este homem hoje à noite naquela capela ali. Caramba, o que uma garota precisa fazer para desfrutar de sua noite de núpcias, hein!?

Ele se recostou na poltrona, deixando a cabeça cair no encosto e olhando para o teto.

Aquilo não podia estar acontecendo.

Simplesmente não podia.

– Você está casado? – choramingou a mãe dele. – Como pôde se casar e não nos contar?

– Pior ainda, como pôde se casar com uma pobre prostituta de vida dura? Você sabe alguma coisa a respeito dela? Onde ela está? Você a abandonou? – perguntou Bonnie, sua irmã de 24 anos que dividia o título de filha do meio com Debra, mas era extremamente compreensiva e nunca tinha visto uma árvore que não quis abraçar.

– Olha – disse ele, não muito certo do que ia dizer. – Não é o que vocês estão pensando.

– Então o que é? – perguntou Tess. – Você ficou doido temporariamente, ou drogado, e se casou com uma vadia barata de Las Vegas?

Aquilo o fez sentar-se ereto e rebater:

– Cuidado com a boca. – E lançou um olhar tão severo que Tess de fato se afastou um pouco. Ela fechou a boca, os lábios comprimindo firmemente.

Ao lado dela, observando como o gato notório que engoliu o canário, estava tia Jean. Boca bem fechada também, mas não porque ela estivesse tentando controlar sua raiva. Em vez disso, a velhinha astuta tentava desesperadamente não rir. Era uma surpresa ela não hiperventilar por falta de oxigênio enquanto prendia a respiração, tentando conter seu divertimento.

Ela estava amando cada minuto daquilo. Provavelmente levando todo o crédito por ter colocado Joe à beira do precipício.

– Eu estou simplesmente emocionado por vocês estarem tão felizes – disse ele, a voz exalando sarcasmo.

Ela sugou o lábio inferior e, finalmente, soltou uma lufada de ar.

Correndo em direção à cozinha, disse:

– Acho que vou ver Molly e as crianças.

Bem, aquela iria para o livro dos recordes, um momento memorável. A mulher mais corajosa que ele conhecia estava fugindo. Acrescente a isto toda aquela algazarra restante e esta poderia ser intitulada simplesmente a noite mais estranha da década.

– Então nos conte, querido irmão, qual é a história verdadeira? – perguntou Debra enquanto se recostava na poltrona e erguia os pés sobre a mesinha de centro. Ela parecia estar gostando daquilo, quase tanto quanto tia Jean, mas não correra para a cozinha num esforço para esconder sua satisfação.

– Quando vamos conhecer nossa nova cunhada?

Ele não respondeu. Em vez disso, olhou novamente para a tela do computador. O vídeo tinha terminado, mas Joe não estava focado nisso, de qualquer forma. Não, o que atraiu sua atenção foi o pequeno contador que indicava quantas pessoas tinham visto aquilo.

Milhares. Muitas das quais tinham dado cinco estrelas de voto e deixado comentários picantes.

Ele só conseguia balançar a cabeça em descrença.

– E então? – incitou sua mãe. – Você não tem nada a dizer em sua defesa?

Nem uma única explicação?

Hum. O que seria pior? Deixar sua família acreditar que ele havia se casado com uma prostituta durante uma noite selvagem de festas em Las Vegas? Ou admitir que durante meses estivera viajando por todo o país para fazer joguinhos sensuais com uma mulher por quem ele estava louco?

Joe não tinha certeza do que ia dizer. Verdade ou consequência? De qualquer maneira, ele sairia parecendo um idiota total.

Antes que pudesse resolver a situação, ele foi, literalmente, salvo pelo gongo. O dim-dom da campainha foi o efeito de som perfeito para a situação insana na qual ele se encontrava.

– Deus do céu, quem pode ser? – perguntou a mãe dele.

– Não faço ideia – respondeu Joe ao ouvir uma nota quase alegre na própria voz.

– Quem diabos simplesmente apareceria aqui sem avisar a esta hora da noite? – acrescentou ela.

– Nem imagino. Grosseiro, não é? – murmurou ele, certo de que ela iria perceber o sarcasmo.

Joe não sabia quem estava à sua porta neste momento. Só sabia que estava grato ao desgraçado que lhe dera um pretexto para se levantar e fugir da inquisição.

Talvez ele tivesse sorte e fosse um bombeiro dizendo que todo o bairro deveria ser evacuado por causa de um vazamento de gás. Talvez tivesse mais sorte ainda e simplesmente explodiria com ele. Qualquer coisa para escapar de ser obrigado a dividir uma história falsa constrangedora ou até a verdade, mais constrangedora ainda, com sua família intrometida e incrivelmente desagradável.

O que quer que Joe houvesse imaginado, no entanto, não chegava nem perto da realidade. Ele achava que tinha sido surpreendido ao encontrar sua família se intrometendo 20 minutos atrás? Diabos, isso não era nada comparado ao choque que ele sofreu quando abriu a porta.

De todas as vezes que ele tinha imaginado Demi Bauer chegando à sua casa, fazendo parte de seu mundo real, com certeza não fora em circunstâncias como essas. No entanto, lá estava ela, fitando-o com incerteza nos olhos e um pedido de desculpas nos lindos lábios.

– Joe, lamento simplesmente aparecer assim, mas preciso vê-lo e não é só para pular em cima de você, apesar de isso ser exatamente o que eu gostaria de… – As palavras de Demi sumiram quando ela olhou para dentro da casa, obviamente vendo um monte de mulheres com olhos arregalados e boquiabertas ouvindo cada palavra. A gagueira tensa se transformou em um silêncio momentâneo horrorizado.

Caramba. A noite estava ficando cada vez melhor.

– Ai, cara, por favor me diga que você está dando uma festinha e que não é toda sua família sentada ali – disse ela em um sussurro trêmulo.

– Temo não poder fazer isso. – Ele forçou um sorriso sem graça, deu um passo para trás e estendeu um braço para convidá-la a entrar. Bem-vinda ao hospício.

Para lhe dar crédito, Demi não fugiu. Há alguns meses, ela provavelmente o teria feito. Mas hoje à noite, ela deu um passo hesitante para dentro, e depois outro, o olhar curioso indo e vindo entre ele e as mulheres que assistiam de olhos arregalados a alguns metros de distância.

O silêncio se prolongou, ficando quase ensurdecedor e, finalmente, a noção sobre o enorme ridículo de toda a situação tomou conta de Joe. Aquilo tudo parecia saído de um filme de uma comédia romântica no qual o herói infeliz passava de uma situação humilhante para outra pior, parecendo sempre um idiota na frente da heroína espirituosa e inteligente.

Felizmente, essa heroína espirituosa e inteligente tinha algumas habilidades que poderiam ser realmente úteis agora. Para começar, ela não era do tipo que fazia juízo das pessoas. Em segundo lugar, era muito boa em se adaptar a novas situações, conforme fora evidenciado pela perspicácia dela durante os joguinhos eróticos. E, finalmente, ela era dona de um senso de humor daqueles. Assim, com um risinho preso no fundo da garganta, Joe apertou a mão de Demi e a conduziu até seus familiares.

Ele abriu a boca para fazer uma apresentação simples, confiando que Demi parecia bem diferente da mulher no vídeo a ponto de ficar irreconhecível.

Contudo eles já deviam saber. Tess levantou da poltrona com seus olhos de águia, sibilando:

– A mulher é ela… é ela!

Demi se encolheu, obviamente sem fazer ideia do que a outra mulher estava falando. Joe manteve um braço forte e reconfortante no ombro dela. E então, embora ele realmente não tivesse planejado dizer as palavras até estas saírem de sua boca, ele apresentou Demi às mulheres um tanto julgadoras, observando as expressões que iam desde pura curiosidade até pavor.

– Demi, esta é minha família. – Ele passou o braço ao redor do ombro dela e a puxou para si. – Família Campbell, esta é minha mulher.

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O que será que vai acontecer? 
xoxo

6 comentários:

  1. Puta merda,puta merda,puta merda, agora o negócio vai ficar tenso é engraçado até contar tudo vai ser hilário,amei o capítulo,beijos

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  2. Por que vc parou justo.agora... vou morrer aqui.... pelo amor de Deus posta logooo.... quero ver a reação dela depois da declaração dele.... kkkkkkk

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  3. Quero maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais

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  4. meu Deus .....meu Deus..... caramba pq vc parou logo ai ......quero mais.... posta maiiiis!!!!!!

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  5. Que merda hein kkkkk
    Essa é minha mulher ... Eita .. Goxto assim!

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  6. PELO AMOR DE DEUS POSTAAAAAAAAAAA.!!!!!

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