26.9.15

Escolha - Capitulo 8 MARATONA (2/5)

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– EU GOSTARIA de torná-la parte de uma série de posts – disse Joe, como se estivesse pedindo a Demi uma batata frita. – Alguns dos quais apresentariam a Semana de Moda, mas não todos. Hoje à noite há uma festa no Chelsea Piers. Eu gostaria que você fosse comigo.

Demi não engasgou, mas tossiu. Principalmente para esconder seu espanto e poder se controlar.

– O que você quer dizer com série?

– A quarta-feira está livre, mas na quinta-feira haverá mais uma festa da Semana de Moda. Na sexta-feira, há uma estreia de um filme. Você já ouviu falar sobre o filme Cortesã?

Se ela tinha ouvido falar sobre o Cortesã? Era um filme famosíssimo de um grande estúdio estrelado por atores top de linha, e ela queria assisti-lo desde que vira a primeira propaganda a respeito. Por dentro, ela saltitava a alguns metros do chão. Para Joe, ela balançou a cabeça e bebeu um gole de chá. – Sim, já ouvi.

– Já tenho um compromisso no sábado à noite, mas não sei muito bem qual é. Ou uma festa de um perfume ou um lançamento de livro. De qualquer forma, precisarei de você, provisoriamente, no sábado à noite. Talvez mais, talvez menos. Vai depender da quantidade de acessos, da atividade nos comentários. Está bom assim para você?

Era inútil para Demi fingir que ia pensar no assunto. Joe perceberia que ela estava blefando.

– Tempo não seria um problema. Eu daria um jeito de fazer isso funcionar, mesmo que Rebecca precise preparar meus pratos congelados.

– Essa coisa dos pratos congelados é o que Rebecca faz na Igreja de St. Mark, certo?

– Foi assim que a gente se conheceu.

– Ela vai adorar isso. – Agora, ele nem sequer tentava esconder o sorriso. Era o outro Joe, o primo encantador da amiga, o homem bobo que a tinha beijado.

Demi pigarreou antes de encontrar o olhar dele.

– O que você quer dizer?

– Ela vai pensar que essa coisa das séries foi ideia dela. Vai ficar insuportável.

– Ah. – Demi pegou mais uma batatinha enquanto lutava contra outra pontada. Aquilo era ainda mais tolo. Pensou por um segundo que Rebecca iria adorar o fato de ela e Joe continuarem se encontrando. Ridículo.

Mas, ora bolas, isso era melhor do que namorar. Sexo, para alguém como Joe, durava uma noite. Ele não conseguia nem mesmo fingir interesse na manhã seguinte. No longo prazo, ele estava oferecendo mais do que os sonhos insignificantes de Demi tinham delineado. Havia acabado de encurtar o plano de cinco anos dela pela metade.

– Ainda quero poder escrever lá.

– O blog é meu, Demi. As pessoas o leem para saber minha opinião.

– Não quero ficar parecendo uma boboca.

– É assim que você enxerga os textos de lá?

– Não.

– Podemos inventar alguma coisa, algo com o qual ambos concordemos. Se a série funcionar, será porque as pessoas gostam do jeito como relato meu mundo através dos seus olhos. É do meu interesse fazer de você alguém identificável e simpática.

– Tudo bem. Mas acho que haveria ainda mais identificação se eu escrevesse alguns textos.

Ele fez uma careta.

– Não sei. Meu nome é um chamariz. Desculpe.

– Com certeza. Mas isso não significa que não pode haver uma barra lateral. Você já fez isso.

Joe usou o guardanapo, limpando a maionese do queixo por acaso. Depois de uma longa pausa, ele assentiu.

– Tá, mas sem garantias. Vou ler o que você escreve, ver como funciona. E meu advogado vai elaborar alguma coisa para nos resguardar pelo restante da semana, mas eu gostaria de postar no blog o que escrevi hoje. O que você me diz?

Ela sabia que estava assumindo um risco, sem assinar na linha pontilhada, mas que diabos. Rebecca teria algo a dizer caso Joe puxasse o tapete dela, mas mais do que isso, os instintos de Demi lhe diziam para aceitar. Ela estendeu a mão.

O arrepio que percorreu o corpo dela quando eles apertaram as mãos foi estritamente em reação à oportunidade. Nada mais.

JOE CAMINHOU com Demi até o escritório dela, um gigante entre gigantes, que bloqueava a maior parte do céu. Estava ventando bastante na rua e ele colocou o braço em volta dos ombros de Demi, puxando-a para si. Ele gostava de mantê-la aquecida, gostava da maneira como o cabelo dela fazia cócegas em seu queixo.

– Joe? – Ela teve que levantar a voz enquanto caminhavam, então ele inclinou a cabeça um pouco.

– Sim?

– Presumindo que não teremos problema com a papelada e que terminaremos fazendo as… coisas. Nós seremos o quê um do outro nas festas?

– Hum, ah. Vai ser como ontem à noite. Juntos, mas não um casal. Se alguém perguntar, direi que somos amigos. Todos vão presumir que é algo mais, mas isso não é uma coisa ruim. As pessoas gostam de tentar decifrar as coisas, fazer conexões, mesmo sendo falsas. E fofoca paga as contas.

Ela não respondeu, mas desacelerou o passo.

– Demi?

Ela parou. Joe virou-se para encará-la, insatisfeito com o olhar confuso que ela exibia.

– Qual é o problema?

– Nada. Está tudo bem. Quero ter certeza de que nos entendemos. Se fizermos isso, será um acordo profissional.

– Isso. – O jeito que ela o encarava não fazia sentido. Estava lhe entregando um presente ali. Claro, ele ia ganhar dinheiro com aquele acordo, mas ela também ganharia. Ele devia ter perguntado o que ela queria. Pelo seu amor pela moda e seu trabalho na agência de publicidade, não era difícil descobrir sua área de interesse, mas foi negligente da parte dele não ser específico.

– Minha vida profissional e pessoal são separadas – disse ela.

Joe demorou um segundo além do necessário para entender. Não porque ela estava sendo irracional. Pelo contrário, estava sendo inteligente. No entanto, ele não estava acostumado a isso. As mulheres que Joe levava para casa não pensavam no sexo como algo extraprofissional. Nem ele, não desde que começara o blog, pelo amor de Deus. Demi não era desse mundo.

Esse era o ponto.

Na verdade, ele era romântico. Não apenas com o sexo, mas também com estilistas, Nova York, glamour, beleza, tudo isso.

Pena que esse romantismo não iria durar.

Estranhamente, Joe não se apressou em concordar com ela. Já havia presumido que eles voltariam a dormir juntos. Ele queria. Se a série de textos desse resultado positivo demorasse uma semana, talvez duas, seria um bom tempo sem sexo com Demi. Principalmente considerando que ela estaria com ele quase todas as noites. No carro, na casa dele.

– Joe?

– Verdade. Não, você está certa. Estritamente profissional. Bem pensado.

O sorriso de Demi não foi muito vitorioso. Na verdade, Joe ficou tentado a segui-la quando se afastou, só para vê-la melhor.

– Estou muito atrasada – disse ela, quase berrando contra o vento agora. – Envie-me o contrato e eu vou dar uma olhada nele. E os detalhes sobre esta noite. E obrigada – disse ela, mas a palavra foi levada ao vento quando Demi foi engolida por dezenas de pessoas entrando pela mesma portaria.

Ele a perdeu antes mesmo de ela entrar. Sabia que a BBDA ocupava quatro andares do arranha-céu, podia imaginar onde os redatores ficavam. Mas ele não iria atrás dela. Joe a veria hoje. Pegou o celular enquanto seguia para a esquina para chamar um táxi. Precisava atualizar o blog, ligar para seu advogado, fazer acordos com estilistas.

Depois de informar o endereço ao taxista, ele olhou para o prédio de Demi. Sem mais noites como a última. Bem, droga.

ENTRE OS fotógrafos que a cegavam e os envios constantes de mensagens nas redes sociais Demi mal teve tempo de aproveitar a festa. Teria sido irresistível, apesar de tudo. O evento era muito menor. Talvez 500 pessoas?

Organizado por uma dos estilistas mais procuradas pelas celebridades, estava sendo realizado no The Lighthouse no Chelsea Piers. O enorme salão tinha sido decorado com temática asiática esplendorosa, com lanternas flutuantes, jardins zen artisticamente posicionados entre mesas e dragões de papel tão grandes e belamente ornamentados que eram verdadeiras obras de arte. Até mesmo a vista do Rio Hudson dos janelões estava de tirar o fôlego, e isso antes de Demi conhecer uma infinidade alucinante de ídolos da moda e de celebridades de primeiro, segundo e terceiro escalão.

A boa e a má notícia era que Joe tinha sido ainda mais extraordinário, coisa que Demi não tinha pensado possível. Ele não saíra do lado dela, o que foi maravilhoso, mas o que a deixou ainda mais encantada foi o modo como ele a apresentou às pessoas do meio dele. E Deus, elas realmente eram do meio dele. Ele fazia soar como se Demi fosse o a melhor novidade do momento a entrar em cena desde Lady Gaga. Era totalmente exagerado, mas, e isto entrava diretamente na categoria das notícias ruins, era exclusivamente para divulgar a série de textos do blog. Ela não era importante; a imagem era importante, a mística, a coisa de ser hipster por associação juntamente com a “inocência” dela para torná-la uma mini celebridade.

O plano estava funcionando, porque, depois do jantar, que foi de matar de tão gostoso, e Deus, como ela queria poder levar uma marmitinha para casa, Demi fora abordada sem parar.

Não que ela não tivesse percebido antes que as celebridades nunca eram o que pareciam. Podiam até aparentar ser amigas de longa data, tal como em sua série de TV favorita ou em tantos filmes que ela conhecia. Mas quem elas eram de fato não tinha qualquer relação com a pessoa que Demi tinha criado em sua cabeça.

Ela sabia disso, e tudo bem. As pessoas sempre tiveram ícones. Isso as fazia se sentirem conectadas a algo. Redes sociais, sites de fofoca, incluindo o Naked New York, programas de TV e revistas sobre celebridades. Eram como os bebedouros das empresas, o centro das cidades invisíveis onde os vizinhos se reuniam.

Sendo uma das pessoas escolhidas, conhecendo todos que ela já havia conhecido, fossem famosos ou aspirantes à fama, já criava uma história sobre quem ela era, sobre o que Joe via nela, sobre o que iria acontecer, de um jeito tão bizarro que Demi nunca poderia ter previsto. Não houve preparo para aquele tipo de exposição, e a peculiaridade da situação estava mexendo com a noção de tempo dela. Num minuto, Demi estava se recuperando dos muitos olhares centrados em si, e no outro estava de pé ao lado de uma janela, olhando para a água, sem ter ideia de como havia chegado lá.

Joe tinha ajudado bastante. Sua mão no braço dela era uma força estabilizadora, sua presença, suas apresentações deixavam tudo mais fácil. Mas ele estava acostumado, e ela ainda estava sem ar.

Não ajudava o fato de, todas as vezes, o toque dele lhe causar um arrepio de excitação que a deixava sem fôlego novamente. Era ridículo. Demi já deveria ter superado isso. Saber que aquilo era um acordo profissional e nada mais não ajudava em nada. A desconexão entre seu cérebro e seu desejo a preocupava. Era como se ela tivesse recebido choques elétricos durante a noite inteira, com cada um deles sendo sucedido por uma pontada de arrependimento.

– Você está pronta? – perguntou Joe, a boca tão perto da orelha dela que dava para Demi sentir seu calor. Deve ter sido um grito, porque a música estava altíssima ao redor, mas pareceu mais uma carícia.

Ela assentiu e ele passou o braço em volta dos ombros dela enquanto saíam do interior cheio de vapor rumo ao ar livre gelado. Mais uma vez, havia limusines o suficiente para preencher um campo de futebol, mas também havia dezenas de manobristas correndo para encontrar os motoristas no que parecia ser um hospício subterrâneo.

– O que achou? – quis saber Joe. – Melhor? Pior?

– Você me diz – respondeu ela. – Era você quem estava me observando como um falcão.

Joe estudou a expressão dela, e Demi se deu conta novamente do quanto gostava do rosto dele. Foi realmente um absurdo como os olhos dele eram descomunais. Mas não eram grandes como nos mangás, ou mesmo perturbadoramente fora de proporção. No entanto, certamente eram a primeira coisa que as pessoas notavam nele.

Ele ergueu uma sobrancelha dramática.

– Você gostou mais desta festa, apesar de ter que trabalhar. Em parte, acho que foi porque você sabia o que esperar, e também porque você precisa conversar com alguns de seus estilistas favoritos.

Demi sorriu, embora a conclusão dele não tivesse sido muito precisa.

– Você está certíssimo. Isso é um problema?

– O que você quer dizer?

– Estou perdendo a inocência gradativamente. Na sexta-feira à noite, serei uma cínica calculista.

Joe riu, e lá estavam as ruguinhas no rosto dele, que tornaram impossível para Demi não tocar o casaco dele, não tocar nele. Por que as ruguinhas? Não era como se fossem sulcos profundos ou qualquer coisa perto disso. Ele estava na casa dos 30 e poucos anos, e as linhazinhas de expressão não o faziam parecer mais velho. Talvez fosse porque rugas de qualquer espécie, mesmo as linhas de expressão, fossem praticamente proibidas naquela cultura glamorosa obcecada pela juventude. Ela odiaria se Joe matasse suas ruguinhas com botox. Elas o faziam parecer genuíno, o faziam parecer atingível. Parecer era a palavra-chave.

– Acredite – disse ele. – Ao mesmo tempo que você está muito mais experiente e não deve ser subestimada, você não está nem perto de se saturar. Essa coisa de conhecer pessoas famosas não vai ser mais tão incrível dentro de uma ou duas semanas, mas a emoção ainda vai estar lá.

– Ótimo. – Demi queria que a emoção continuasse, pelo menos no que dizia respeito às celebridades. Só queria menos emoções quando se tratava de Joe. – Desculpe por estar fazendo você ir embora tão cedo. Imagino que gosta de ser o último a sair desse tipo de festa.

– De jeito nenhum. Eu só fico até ter material suficiente, então vou para casa. Preciso me levantar cedo para atualizar o blog a tempo.

– Então os fotógrafos enviam suas fotos antes de caírem na noite?

– Isso. Eu junto tudo na parte da manhã. Também pego os textos dos freelancers e as fofoquinhas. Junto o material, envio para minha assistente Naomi e ela edita até estar no ar por volta das 9h. Se você tiver alguma coisa sobre esta noite para eu linkar na barra lateral, vou precisar do material por volta das 9h.

Ela fez que sim com a cabeça, sem desejar que Joe notasse que sua menção a este aspecto do trabalho a apavorava. Seria um texto original dela. Não uma ilusão, não um chamariz. Afundaria ou nadaria com base no talento. Deus, ela precisava sentar-se.

– Você está bem?

– Tem uma coisa que eu queria perguntar. A estilista? O que estamos buscando aqui? – Demi olhou para o próprio vestido, costurado na época da faculdade. Era um verde lindo, um tom mais claro do que os olhos dela, sem mangas e com um bolerinho roxo e verde. Teria sido perfeito para uma noite na cidade com Rebecca e suas amigas, mas aqui ela era superada em quilômetros de distância. Imaginava que o ponto era esse: fazê-la aparentar ser a caipira que era.

– Ah. Você vai gostar desta parte. O máximo de glamour. De sapatos a vestidos. A coisa toda, com maquiagem, cabelo, corpos pintados, tudo.

– Não entendi – disse ela, sem saber se Joe estava brincando com ela ou não.

– As barras laterais? Devem ser sobre a experiência toda. Sobre a sensação de se tornar uma princesa, de ir ao baile. De ser arrancada da obscuridade e mirar nas estrelas.

Demi piscou para ele enquanto as pessoas se empurravam para chegar a seus carros. Viu um sorriso desabrochar no rosto dele. Desejou como nunca poder se jogar nos braços dele e apertá-lo por causa de mais uma surpresa incrível. – E você vai poder ficar com tudo que usar.

Ela o empurrou. Tarefa meio difícil.

– Não brinque comigo, Winslow. Se você está mentindo, vou acabar com você.

– Não estou mentindo. É tudo seu.

Os flashes ficaram pipocando durante a noite inteira, mas de repente eles estavam em cima de Demi, cegando-a. Mas só por uns instantes, porém, pois em seguida eles se foram, como uma nuvem de gafanhotos com câmeras. Eles tinham cumprido sua função, impedindo-a de pular nos braços de Joe.

Era a tortura mais diabólica. Dar a ela todos os seus sonhos com uma das mãos e lhe roubar o desejo com a outra. Enxague. Repita.

– Então estamos conversados que você vai se encontrar com Sveta na quinta-feira, certo? Que você vai estar de folga amanhã…?

– Sim – confirmou ela, se acalmando.

– Você devia dormir. Vai precisar.

– Amanhã é a noite de preparo dos pratos congelados. Rebecca vai estar lá.

– Se eu bem a conheço, ela vai manter você acordada até mais tarde do que eu. A mulher é uma escrava dos detalhes.

Antes de ir dormir, Demi iria rever as fotos que havia tirado. Aquelas nas quais ela precisava se concentrar, não em Joe.

Não no perfume dele, e não na vibração da voz dele, não no desejo de estar perto dele.

Assim que a série de textos estivesse finalizada, Demi já teria superado sua paixão tola. Ah, com certeza, já teria.

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Dei uma atrasadinha, mas aqui estou eu.
Continuem comentando.
xoxo

5 comentários:

  1. E assim o caso de uma noite vira um caso de varias noites, posta mais to amando

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  2. Quero só ver o que vai acontecer kkkkk

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  3. Algo me diz que eles não vão resistir muito tempo até se agarrarem outra vez ;)
    Adoro as suas maratonas, posta mais que eu vou ficar à espera!!

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  4. Aí senhor eu vou morrer,cada vez fica melhor, só acho que demi vai pisar um pouco no Joe

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