10.9.15

Faça Meu Jogo - Capitulo 10


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DEPOIS QUE eles saíram do escritório, Joe insistiu em levar Demi para jantar mais tarde. Já havia passado de 20h, ambos estavam exaustos e um bife era o mínimo que ele poderia oferecer a ela, considerando que Demi tinha acabado de ficar cara a cara com a pessoa que estava manipulando as cordas há meses, embora Demi não soubesse.

Eles foram para um dos lugares favoritos de Joe, não muito longe de casa. Era discreto, com boa comida e serviço excelente. Não havia encenação, nem mesmo um sopro de sugestão para ser outra coisa senão quem eles eram de verdade. Joe não mencionou isso, não querendo que Demi pensasse nem por um minuto que o decepcionara.

Pelo contrário, ele não poderia estar mais satisfeito por ela ter continuado a derrubar suas barreiras, a baixar a guarda e simplesmente ser ela mesma… a mulher por quem ele havia se apaixonado.

Joe sabia que ela não queria ouvir, e que ela o alertara em relação a isso, mas não havia como esconder a verdade, principalmente de si mesmo. Ele estava seriamente apaixonado pela mulher. Enlouquecido com o tipo de amor que ele tinha visto nos outros, como seus pais, mas não tivera tempo de pensar que poderia encontrar por si só.

No final da refeição, eles estavam rindo enquanto tentavam superar um ao outro com planos exagerados de vingança contra tia Jean. Ele também havia prometido a Demi dezenas de vezes que se e quando se encontrassem com os familiares dele novamente, iam ter de pedir desculpas para compensar as presunções e frieza para com ela.

Isso aconteceria mesmo se tivesse de pedir, chantagear e intimidar todos em sua família para assegurar isso.

Uma vez que acabaram de comer, eles caminharam até o carro. A noite já tinha avançado, e Demi estremeceu no ar gelado.

– Você está bem? – perguntou ele, colocando um braço no ombro dela e a puxando para mais perto.

Ela assentiu, segurando o casaco apertado em torno do corpo.

– Como pode ser mais frio aqui do que em Chicago?

– Não é.

– Com certeza parece ser.

– Eu vou aquecer você – ofereceu ele.

Ela olhou para ele de soslaio.

– Estou contando com isso.

Uma vez dentro do carro, Joe observou enquanto Demi afivelava o cinto de segurança, em seguida, colocou a chave na ignição. Mas ele não ligou o carro imediatamente. Em vez disso, olhou para sua companheira, se perguntando o que ela realmente estava pensando, imaginando se seu bom humor encobria qualquer vestígio de ressentimento persistente sobre a confissão de sua tia.

Por fim, ele apenas perguntou:

– Você tem certeza de que está bem?

– A-hã. Estou tão bem quanto alguém que está sendo perseguida por um mafioso louco de Las Vegas e que foi confundida com uma prostituta pode estar. – Sacudindo a cabeça tristemente, ela acrescentou: – Realmente não é justo que eu possa ser acusada de ser uma prostituta e não tenha a experiência sórdida para apresentar. E tenha sido chamada de ladra sem estar com as joias.

Qualquer eventual resto de tensão evaporou, e Joe teve de admirar a maneira como ela havia encarado bem todos os acontecimentos dos últimos dias. Do mesmo jeito que ela fazia com tudo.

Algumas mulheres teriam ido embora naquela primeira noite, depois de ter sido tratada tão duramente por seus familiares insistentes. Outras poderiam ter ficado ressentidas por serem movimentadas como um peão em um tabuleiro de xadrez por uma velhinha rica e intrometida que gostava de fazer as coisas do seu jeito.

Entretanto Demi simplesmente aceitou as adversidades, riu e nunca se queixou sobre o que não podia mudar. Joe achava aquilo incrivelmente atraente.

Joe também gostou do jeito como ela brincou com ele sobre isso enquanto se dirigiam de volta à casa dele, perguntando o que a sua doce e velha tia pensaria se soubesse das coisas selvagens que ele tinha feito com ela na noite anterior. Como se para lembrá-lo, Demi colocou a mão na coxa dele.

Então começou a deslizá-la, centímetro por centímetro.

De repente, porém, quando já estava lá no alto, sussurrando algo sobre como tornar a volta para casa ainda mais agradável, Joe pôs a mão sobre a dela e a apertou, balançando a cabeça em silêncio.

Ele não precisou dizer nada. Ela compreendeu imediatamente. Inspirando de forma constrangida, ela se afastou.

– Ah, Joe, desculpe.

– Está tudo bem – murmurou ele, sabendo que ela entendia por que ele era um motorista tão cuidadoso.

Havia alguns jogos que ele nunca jogaria, alguns riscos que nunca iria correr. Independentemente de qualquer coisa. Ele aprendera essa lição muito bem.

– Sou uma idiota. – Ela suspirou pesadamente. – Uma idiota insensível. – Ela dobrou uma perna, envolvendo os braços em torno dela e apoiando o queixo no joelho erguido, olhando pensativamente para o tráfego pelo para-brisa. Com uma pitada de melancolia na voz, ela acrescentou: – Ele deve ter sido um homem maravilhoso, já que você acabou se tornando um sujeito sensacional.

– Sim, ele era.

Joe ficou em silêncio, no início evitando se prolongar. Falar sobre seu pai provavelmente era tão difícil para ele quanto era para Demi falar da própria família. Não pelas mesmas razões, é claro. As feridas dela eram antigas e cicatrizadas, e ela não sentia mais a dor. As dele eram recentes e cruas, e ele simplesmente não tinha vontade de cutucá-las e iniciar o sangramento todo outra vez.

Entretanto ele podia dizer pelo silêncio contínuo que Demi se sentia um lixo por ter sugerido brincar enquanto ele estava atrás do volante. A última coisa que Joe queria era piorar a situação. Então ele começou a falar:

– O nome dele era Patrick, e ele morreu muito jovem.

Ela virou a cabeça para olhar para ele, os olhos arregalados e hesitantes.

– Você não precisa…

– Está tudo bem. Na verdade, é bom poder dizer o nome dele sem que alguém comece a irromper em lágrimas.

Demi não estava chorando, mas Joe podia dizer, mesmo sob a pouca iluminação do carro, que ela estava com os olhos úmidos.

– Ele ficou trabalhando até tarde como de costume. E estava dirigindo muito rápido, para chegar a um dos jogos de basquete de Jack. Ele havia perdido os últimos por causa do trabalho e eles tiveram uma briga imensa por causa disso no dia anterior. Ele prometeu que iria ao próximo. Só que… ele nunca chegou

– Ai, meu Deus, pobre Jack – sussurrou ela, captando a situação imediatamente. – É muito peso para uma criança suportar.

– Nem me diga. Ele foi o único com quem me preocupei de fato. Ele está zangado com o mundo, às vezes se comporta de forma mesquinha e rebelde, às vezes é só um garoto perdido se perguntando o que aconteceu.

Demi estendeu a mão, desta vez entrelaçando os dedos aos dele num toque que era só doçura e conforto. E porque ela não fez nenhuma pergunta, não se intrometeu de maneira alguma, apenas deixando-o dizer o que queria, Joe sentiu-se bem em continuar falando.

Ele contou a ela sobre a referida noite. Sobre as noites que se seguiram.

Sobre o quão duro tinha sido escolher um caixão e uma lápide, e manter a mãe de pé e cuidar para que as irmãs não chorassem, e manter o funcionamento da empresa e evitar que seu irmão não estragasse a própria vida por causa da culpa, e ainda manter a própria sanidade em meio ao próprio luto profundo e doloroso.

Era como se alguém tivesse puxado um tampão e todas as palavras que não foram ditas durante dois anos tivessem vazado. E só quando as derramou foi que Joe percebeu o quanto estava precisando dizê-las. Ao assumir o papel do forte, do estoico, do sujeito estável, ele também se tornara o único que não pudera liberar a raiva e a mágoa que estavam trancadas dentro dele.

No momento em que terminou, eles estavam sentados no carro, dentro da garagem, há vários minutos. Então ficaram em silêncio, nenhum deles sequer olhando um para o outro, ou fazendo menção de sair do carro. Mas, finalmente, uma vez que Joe respirou fundo e percebeu que o mundo não tinha acabado só porque ele admitira a alguém que às vezes se ressentia de sua vida e de sua família, e até mesmo seu pai, ele olhou para ela e enxergou o tipo de calor e bondade que Demi Bauer provavelmente nem mesmo sabia possuir.

– Está tudo bem – sussurrou ela. – Tudo que você está sentindo é completamente compreensível. – Ela levou a mão dele à boca, dando um beijo suave, gentil nas costas dos dedos. – Lamento por você e sua família terem tido de passar por isso, Joe. Então me desculpe.

– Obrigado – disse ele, esfregando os dedos na bochecha macia de Demi. Ele abriu a boca para continuar, para agradecê-la e dizer que não precisava sentir pena dele. E também notou um pedido de desculpas nascendo em seus lábios, sentindo-se mal por ter despejado tudo em cima dela assim. Mas antes que pudesse falar qualquer coisa, algo lhe chamou a atenção.

Uma sombra se esgueirava nos cantos de sua casa.

Ele enrijeceu, inclinando-se para olhar além de Demi, pela janela, mas não viu nada. Pensando no que tinha visto, Joe sabia que não tinha sido Ralph. Ele nunca deixava o cachorro do lado de fora quando saía. E a forma nem se parecia com qualquer outro tipo de animal.

Era do tamanho de um homem.

– Fique no carro e tranque as portas – pediu ele, tentando alcançar a maçaneta da porta.

– Hein?! – Demi virou a cabeça para ver o que ele estava olhando. E se deu conta quase que imediatamente. – É ele? Espere! Não se atreva…

Entretanto Joe já tinha saído para a noite fria, fechando a porta delicadamente detrás de si. Talvez o desgraçado do Lebowski não soubesse que tinha sido visto.

Joe fez uma pausa por um segundo para olhar para Demi, que assistia a tudo de dentro do carro com olhos arregalados. Fazendo um movimento de discagem com a mão, ele murmurou “Ligue para a polícia”, então rastejou pelo gramado do próprio jardim.

Embora Parker tivesse dito que o ladrão não era considerado perigoso, Joe não queria correr nenhum risco.

Quando passou pelo canteiro da frente, inclinou-se e agarrou um gnomo de cerâmica horroroso que uma de suas irmãs tinha lhe dado de presente no open house. A coisa era pesada, era sólida na palma da mão. E se batesse contra o crânio de alguém, Joe desconfiava de que ia doer muito.

O gnomo serviria.

A noite estava fria e sem luar, o vento chicoteando as poucas folhas mortas restantes ainda caídas no quintal. Joe se movimentava em silêncio, aproximando-se do canto da casa, olhando cuidadosamente ao redor antes de prosseguir.

Viu Lebowski imediatamente. O ladrão estava tentando usar um cartão de crédito para arrombar a fechadura da porta lateral que dava para a área de serviço. Murmurando xingamentos, o ladrão parecia desajeitado e não muito calmo, como se ele tivesse ficado assustado quando ouviu o carro encostando na garagem e agora estivesse à beira do pânico.

Joe desconfiava de que o sujeito estivesse ali há um tempinho. O fato de o gatuno não ter fugido quando ele e Demi retornaram dizia muito sobre o quão desesperado Lebowski estava para conseguir o que pensava estar em poder de Joe e Demi.

O cara podia ser espertalhão, mas não tinha as manhas de um criminoso. Ele nem mesmo percebeu Joe chegando por trás dele, dando um sobressalto em choque quando Joe pressionou a ponta aguda do chapéu do gnomo contra o cóccix do homem.

– Um movimento e você está morto.

– Ahhhh, que droga, cara – lamentou-se o sujeito. – Não, não atire, por favor, não atire. Eu não ia machucar ninguém. Eu só queria pegar o que é meu e sair daqui antes de você voltar!

– Sim, então por que você sentiu a necessidade de ameaçar minha namorada? – perguntou Joe, cravando o chapéu um pouco mais nas costas do desgraçado.

– Você está brincando comigo? Eu não a ameacei. Aquela vadia é louca, ela não tem medo de nada. Ela me assusta! – O homem arriscou uma espiada sobre o ombro, empalidecendo um pouco mais quando notou a fúria óbvia no rosto de Joe. – Desculpe.

– Eu certamente não sou louca – disse uma voz, irrompendo na noite fria tão nítida e enérgica como um chicote.

Joe ia matá-la.

– Eu pedi para ficar no carro. – Ele teve de forçar as palavras a saírem entre os dentes cerrados.

– E eu fiquei. Liguei para a polícia, eles vão chegar a qualquer momento. Quando vi que as coisas estavam sob controle, pensei em voltar e ver se você gostaria de usar isto. – Ela estendeu a mão, oferecendo o cinto longo do sobretudo.

Ideia inteligente. Joe tinha imobilizado Lebowski, contudo não pensara em como mantê-lo assim até a polícia chegar. Se o bandidinho descobrisse que estava sendo rendido por uma cabeça de cerâmica de um gnomo, ele poderia sair do clima para aguardar ali e esperar para ser preso.

– Tudo bem. Pode amarrá-lo.

Ela se aproximou com cuidado.

– Ponha as mãos atrás das costas.

– Eu juro, eu só queria minhas joias. Eu devo dinheiro para alguns colegas e, se eu não aparecer com elas, vão me matar.

– Bem, espero que eles não sejam capazes de rastrear você até uma cela – disse Demi, parecendo distintamente amarga e um pouco satisfeita diante daquela ideia. Não que o sujeito não merecesse isso.

Enquanto amarrava as mãos de Teddy Lebowski atrás das costas, puxando o tecido tão apertado que o sujeito fez uma careta, ela também disse mais uma coisa:

– E você pode me chamar de a maior vadia do universo. Mas eu não sou louca.

JOE NUNCA havia tocado Demi com mais ternura, com mais carinho do que fez naquela noite, depois que eles assistiram a Teddy Lebowski sendo levado pela polícia local. Eles seguiram para o andar cima com os braços ao redor da cintura um do outro, a cabeça de Demi apoiada no ombro dele num cansaço absoluto.

Contudo, uma vez que tiraram as roupas e se encontraram no meio da cama de Joe, o sono passou longe da mente de Demi. E da de Joe.

Ele passou horas acariciando-a, saboreando cada centímetro de sua pele, provocando-a com beijos suaves e lentos, com carícias deliberadas. Cada roçar de lábios incluíra um sussurro doce, cada abraço, um suspiro de prazer.

Mesmo quando ele despertou todos os sentidos dela, levando cada terminação nervosa ao seu pico, ele a fez sentir-se… querida.

Adorada.

Não houve absolutamente nenhum frenesi. Eles trocaram beijos longos e lentos que não estimulavam qualquer urgência, não os faziam querer ir mais rápido ou apressar o que quer que viesse em seguida. Eles ficaram encantados apenas com o quão bem se sentiam, o quão era íntimo, pessoal e certo.

Beijar era um ato extremamente íntimo, Demi percebia agora. Ela sempre considerara o beijo mais um prelúdio para outras coisas, mas nos braços de Joe, sob a atenção extasiada dele na qual todos os toques traziam ondas de sensação, ela adquirira uma avaliação totalmente nova para um simples beijo.

Ela nunca havia experimentado nada parecido. Nunca tinha sonhado que lágrimas de emoção iriam lhe encher os olhos quando um homem deslizasse lentamente para dentro de seu corpo. Ela nunca imaginara cada deslizar funcionando como uma declaração, e cada impulso suave, uma promessa.

Nem tinha imaginado que, quando estivesse quase no fim, quando estivesse rendida a clímax após clímax, e soubesse que ele também estava chegando lá, que ela realmente sentiria o coração dividido com o som das palavras que Joe sussurrara com delicadeza ao seu ouvido: Eu te amo.

Pronto, ele tinha falado o impensável. A coisa que ela avisara para ele não fazer. Ele havia se apaixonado por ela. E dissera isso a ela.

Parte dela se perguntava por que ainda não tinha ido embora, saindo no minuto em que ele adormecera. A velha Demi teria fugido para as montanhas ou para as planícies, ou para outro continente, onde ela não teria de lidar com os sentimentos de outra pessoa aos quais ela simplesmente não correspondia.

Ela não precisava pensar muito. A resposta era simples, na verdade. Ela correspondia àqueles sentimentos, sim.

E aquilo partia o coração dela ainda mais.

Deitada nos braços de Joe depois que ele havia caído no sono, Demi não conseguia parar de pensar naquele momento em que estava sentada no carro, quando vira Joe desaparecer ao virar na quina da casa. Ela já tinha ouvido a expressão “coração saindo pela boca” para descrever um medo muito grande. Mas nunca experimentara isso… até então.

Não importava o que Parker dissera, ou que ele estava certo ao presumir Lebowski como um punk covarde que não tinha coragem de cometer violência real. Não havia jeito de ter certeza disso. À medida que os segundos se passavam, quando seus ouvidos ainda estavam ressoando os sussurros pesarosos e angustiados sobre o pai de Joe, a quem ele amara e perdera, Demi só conseguia pensar no pior.

Perder Joe, se algo acontecesse a ele… ela não seria capaz de suportar. E embora não tivesse desenvolvido apreço pela família dele ainda, dado o comportamento dele na noite anterior e o fato de a mãe ter olhado para ela como se Demi fosse algo saído de um vaso sanitário, de repente ela sentia toneladas de compaixão por eles.

A dor de perder alguém que você amava profundamente devia ser inimaginável. E talvez fosse uma das razões para ela ter desejado experimentar tal emoção.

Tarde demais. Ela, a bruxa fria e destruidora de corações, tinha se apaixonado. Completa, total e irrevogavelmente apaixonada. O gelo havia derretido, seu coração começara a bater com propósito e energia renovada. E o homem por quem ela se apaixonara era incrivelmente sexy, inteligente, engraçado, leal… e sensacional.

No entanto, em vez de tal percepção enchê-la de alegria, Demi só conseguia ficar deitada ali no escuro se perguntando quanto tempo levaria até ela estragar tudo.

Qual seria a primeira coisa insensível que ela diria para começar a lancinar os sentimentos de Joe por ela? Que viagem ela faria, de qual aniversário ela se esqueceria, que necessidade ela iria ignorar, que promessa não iria cumprir? Quanto tempo até ela se sentir confinada, contida, simplesmente querendo ir embora?

Porque tais coisas eram inevitáveis.

Esse era seu modus operandi. Não, ela nunca tinha ido tão longe a ponto de se apaixonar, mas isso não importava, não é? Ela sempre decepcionava os homens, sempre os magoava, sempre os dispensava.

Ela era exatamente como tio Frank. Irresponsável, imprudente, adorável, porém indigna de confiança tal como tio Frank. Era o que todos diziam.

De repente, ela queria chorar. Porque o quão ruim era finalmente se apaixonar, realmente se apaixonar, e perceber que você gostava da pessoa demais para fazê-la sofrer?

Joe era muito bom, bom demais para ela. Demi não queria machucá-lo.

Não só isso, ele tinha um milhão de coisas em suas costas, obviamente estava em uma situação complicada por causa das exigências de todos ao seu redor. Sendo assim, como ela poderia acrescentar algo a isto, tornar-se mais uma coisa com a qual ele iria se preocupar, mais um peso em seus ombros?

Engraçado, quando ele percebesse que ela havia ido embora, provavelmente iria achar que tinha algo a ver com sua família, com suas responsabilidades, com seus laços que o prendiam com tanta força àquele lugar e àquelas pessoas. Todas as coisas que ele contara a ela durante a carona para casa essa noite.

Na verdade, nada daquilo realmente importava. Demi tinha dito a si que nunca ficaria no mesmo lugar, vivendo o mesmo tipo de vida que seus pais. Mas não era preciso ser um gênio para ver que ela não precisava fazer aquilo. Estava na casa de Joe há quase uma semana, e o mundo não tinha acabado. Ela continuava a dormir todas as noites e a acordar todos os dias. Continuava inspirando, expirando. Continuava trabalhando, continuava voando, continuava vivendo.

Eles poderiam fazer funcionar.

Se ela não estivesse tão certa de que não iria durar.

Foi essa certeza que a levou a sair da cama logo após o amanhecer. Por um momento, lhe ocorreu a ideia de simplesmente sair, ir para o aeroporto. Esse tinha sido seu procedimento operacional padrão no passado.

No entanto Joe não merecia esse tipo de tratamento. Além disso, ela não era mais aquela pessoa. A covardia e a imaturidade a levaram a tomar tais decisões no passado. Agora ela não estava com medo, e enxergava a situação por meio de olhos tranquilos de um adulto.

Não ia dar certo. Não em longo prazo.

Assim, ele ficaria melhor caso terminassem no curto prazo.

Sentado à mesa da cozinha, com Ralph a seus pés, o cachorro fofo de quem ela iria sentir saudades, Demi bebericava uma xícara de café e aguardava até o frio da manhã abandonar seus ossos.

Entretanto isso não aconteceu. Nem um pouco. Ela simplesmente ficou sentada ali, triste e sentindo frio, aguardando Joe descer.

Finalmente, ele o fez. Quando entrou na cozinha, Demi só conseguiu encará-lo. Ele usava calça de moletom, estava sem camisa, e ela olhou para os braços fortes que a envolveram durante a noite, para as mãos másculas que lhe deram tanto prazer. Para o peito largo onde ela havia se recostado para dormir.

Deus, como era difícil. O amor era difícil.

Ele percebeu antes de Demi dizer qualquer palavra que ela estava partindo.

– Você precisa de uma carona para o aeroporto? – perguntou ele, sem encará-la.

– Joe…

Ele dispensou a explicação.

– Eu sei. Fim de jogo. Capturaram o bandido. Não é nem mesmo feriado, por isso não há razão para você ficar.

Havia um milhão de razões para ela ficar, mas uma realmente boa para ela ir. Todos os homens do grupo Chutados por Demi Bauer podiam atestar isso. Ela simplesmente não era feita para relacionamentos sérios, carinhosos.

– Eu fiz o impensável – acrescentou ele, soando tão cansado e parecendo tão resignado, que o coração de Demi se contorceu no peito. – Eu me apaixonei por você quando lhe disse que não o faria.

Ele finalmente encontrou o olhar dela, observando-a com atenção. Parecia estar procurando alguma coisa, um sinal, uma hesitação, um indício de que ela estava feliz por ele a amar.

Foram necessários todos os gramas de força de vontade dela para não entregar aquele indício.

Finalmente, com um aceno curto que dizia que ele tinha captado a mensagem, Joe quebrou o contato visual.

– Então… você precisa de uma carona?

– Posso pegar um táxi – murmurou ela.

– Tudo bem. Adeus, Demi.

Ele não disse mais nada, apenas se virou e saiu da cozinha. Seus passos eram duros quando subiu as escadas, e lá de cima Demi ouviu a porta bater com força quando ele entrou no banheiro.

O chuveiro foi aberto. Seria, sem dúvida, um banho longo. Ele precisava que ela já não estivesse lá mais quando ele saísse do banheiro. Aquilo era fato consumado.

Ela subiu, rapidamente jogou as roupas novas nas sacolas de compras nas quais elas tinham vindo. Sem pensar, atravessou a sala, caminhando até a porta do banheiro. Ela ergueu o punho, meio tentada a bater. Mas a mão se abriu e espalmou a porta. Ela a pressionou contra a madeira, os dedos abertos, quase capazes de sentir o ar repleto de vapor do outro lado. Fechando os olhos, Demi encostou a testa contra a porta, imaginando-o no chuveiro, já magoado com ela, quando esta era a última coisa que ela queria fazer.

Melhor agora que depois.

Ela abriu os olhos. Baixou a mão. Pegou a sacola. Então Demi Bauer saiu do quarto de Joe Campbell e da vida dele pela última vez.

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Reta final!!!
xoxo

5 comentários:

  1. Puta merda demi tem que parar de ser cabeça dura e ficar de vez com o joe, posta mais ❤

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  2. Merda,merda,merda,eu to chorando aqui,esses dois tem que ficar juntos, a demi é muito cabeça dura

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  3. Que vontade de bater na Demi... ai que ódio!!!!! Continua.....

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  4. Cade o proximooooo? Muito ansiosa

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