23.9.15

Escolha - Capitulo 5


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A LIMUSINE chegou, e graças a Deus, Joe conhecia o motorista porque todas as limusines pareciam idênticas, exceto pelos radicais que gostavam de ostentar seus utilitários e seus Bentleys longos e deslumbrantes. Demi ficou contente por ver que o cavalheirismo não estava morto quando Joe se posicionou para bloqueá-la e lhe oferecer segurança enquanto ela sentava-se no banco de trás. Quando ele sentou-se logo depois dela, puxou-a para si, o braço em volta dos ombros. – Foi incrível – disse ela, esfregando as mãos na tentativa de se aquecer.

– Foi. Todo mundo compareceu esta noite.

– Eu ainda estou tentando absorver os acontecimentos, acreditar que não foi um sonho.

– Não. Vai ter um monte de fotos e vídeos no Naked New York esta noite. Vou garantir cópias para você, o que acha?

Demi olhou para ele, espantada.

– Sério? De tudo?

– Sim. Gravado num CD, assim você pode usar um editor de imagem em quem quiser. Só me faça um favor: não publique nada. Isso pode complicar as coisas.

– Não vou fazer isso, eu juro. Não a parte do editor de imagem… isso eu vou fazer. E vou economizar cada centavo até poder comprar uma impressora colorida, mas juro que não vou publicar. Não vou abusar do privilégio.

– Não estou preocupado.

Ela não conseguia parar de olhar para ele.

– Como pode não ficar? Você não me conhece. Eu poderia ser qualquer um. Uma concorrente. Eu poderia trabalhar para Perez Hilton ou para o Gawker, e o que isso causaria a você?

– Mas você não trabalha. Porque Rebecca gosta de você.

– Ela também quase não me conhece.

– Rebecca tem instintos excelentes sobre as pessoas. Vai ser bom para você ser amiga dela. Não diga a ela que eu falei isso, mas ela é muito, muito inteligente. A mais inteligente da família, e olha que temos alguns juízes federais em nosso clã, além de um bando de políticos.

– Falando nisso, ultimamente eu tenho visto todos esses cartazes pedindo votos para Andrew Winslow III. Nem pensei nisso, mas vocês são parentes?

A expressão de Joe azedou.

– Começou… ele é um primo. Um do qual não gosto muito, embora eu não goste da maioria deles. Rebecca é a exceção.

Interessante o desgosto dele pela família. Tão diferente da experiência de Demi. E triste também. Ela não sabia o que faria sem o apoio da família. Melhor voltar a falar da parente que ele gostava:

– Estou adorando a amizade até agora. Rebecca é absurdamente engraçada. E ela conhece a cidade do jeito que eu gostaria de conhecer um dia. Todos os lugarezinhos e segredos.

– Por que Nova York? – questionou ele.

– Tudo começou com o prédio da Chrysler – disse ela. – Amo art déco, embora não soubesse o que era art déco quando vi fotos do prédio pela primeira vez. Então descobri a moda, aí o teatro e tudo o mais que estava disponível aqui, algo incrível em todas as ruas. Eu me apaixonei por esta cidade, mesmo antes de pisar aqui. E sim, graças a Woody Allen, descobri uma partitura de George Gershwin. Acho que devo ter morado aqui em outra vida. Não que eu necessariamente acredite em reencarnação, mas, se for verdade, então eu vivi aqui. Este é meu lar.

– Este lugar tem uma pulsação que ou está em sincronia com seu ritmo, ou não. Percebo sua ausência sempre que viajo. Se você é um dos escolhidos, Manhattan se torna seu lar, e toda vez que você retorna, é como se você finalmente pudesse respirar de novo. Para mim, pelo menos, é assim.

Demi sorriu para ele, como se eles tivessem compartilhado um aperto de mão secreto. Ela presumia que o tivessem feito de fato. Então inclinou-se, a cabeça descansando suavemente no ombro de Joe.

– Obrigada, Joe. A noite de hoje entrou para a história.

Joe fechou os olhos ao mesmo tempo que a puxava para mais perto. Ele concordava com a opinião sobre aquela noite. Não tinha sido fácil deixar Demi enquanto ele trabalhava, e quando algo parecido havia lhe acontecido? Ele não conseguia se lembrar.

Não que Joe não tivesse gostado das mulheres com quem saíra… ele gostou, sim. Gostava de mulheres de todos os tipos, mas tinha algumas preferências fortes, não ia negar. Ele não saía com elas visando apenas a própria diversão, afinal de contas. Sua imagem era parte da marca Naked New York, bem como as mulheres com quem ele era visto. Algumas eram melhores do que outras. Havia as que conseguiam conversar, outras eram incapazes de formar duas frases coerentes, mas, como mulheres, elas eram um tipo.

Demi não chegava nem perto desse estilo.

Até agora ela o havia surpreendido em quase todos os aspectos, no entanto, conforme vasculhava através de todo o resplendor, ele tentava se lembrar da última vez que tinha existido alguma surpresa na mistura. Escândalos eram esperados nos dias de hoje, com roteiro ou não. Diabos, escândalos eram o ponto principal, fossem causados por celebridades ou por si mesmo. Festas eram apenas pretextos para ser visto ou ouvido ou fotografado. Tudo era farinha do mesmo saco, e ele era tanto o trigo quanto o moinho. Surpresas? Raramente.

Ele queria saber mais sobre a mulher que aquecia a lateral de seu corpo, que também era rara, pelo menos naquela circunstância. Joe sempre estivera interessado em pessoas. Por isso começara o blog para início de conversa. Bem, por isso e para acabar com os planos horrorosos de seus pais para ele. Ele queria saber mais detalhes sobre Demi. As minúcias da vida da qual ela havia aberto mão para estar aqui, quem esperava se tornar. Algo a ver com a moda, obviamente. Será que aquele vestido dela era um modelo novo? Tinha sido projetado para se destacar? Joe podia conviver com a alta-costura muito mais do que uma pessoa normal deveria, mas isso não significava que ele era um membro do ramo. Até onde sabia, o vestido de Demi era bonito. Ele destacava as formas dela, a aparência da pele, as curvas e a pele macia das coxas. Ele gostava. Mas era moda? Ele não fazia ideia.

Por outro lado, talvez ele não quisesse saber mais. Ele dificilmente a veria novamente, mesmo com ela sendo amiga de Rebecca. O calendário social de Joe girava em função da necessidade, não de seus desejos, e por mais que ele tivesse gostado de Demi… qual era o sobrenome dela? Ela não estava na pauta do dia. Não podia estar. O que quer que tivesse motivado Rebecca a armar este encontro, não era para se tornar sério. Joe soubera disso no momento em que ele pusera os olhos na garota de Ohio. Mas ele não estava arrependido pelo tempo passado com ela. Ela fizera a noite dele.

Demi ficara absolutamente faiscante pelo modo como o evento a deslumbrara. Ele tinha que lhe dar crédito; ela lidara com a situação lindamente diante de tantos desafios, mas, mesmo assim, não escondera sua empolgação. Era provável que ela não tivesse noção de como se comportara. Joe tinha a sensação de que ela ficaria incomodada se soubesse que havia se iluminado como um letreiro toda vez que via alguém famoso. A fã ideal, na verdade. Nenhum grito ou agitação ou “Ai, meus Deus”. Só aquela luz interior, a centelha nos olhos, o jeito tímido e encantador como mordia o lábio quando a emoção era demais.

Ele a sorveu, contente porque os perfumes da noite não a tinham dominado. Outra surpresa veio quando ele percebeu que passou todo o trajeto acariciando-a. Passando a mão no braço dela. Assim que o carro parou, Demi estava praticamente ronronando e, pelo seu olhar, exausta. Provavelmente por causa da queda da adrenalina. Ela sentou-se, olhou para o edifício, depois de volta para ele.

– Então, terminamos por aqui?

O sim estava na ponta da língua dele. Mas, em vez disso, ele falou: – Só se você quiser que termine.

Demi ergueu as sobrancelhas, bem como os cantos da boca, mas um segundo depois, hesitou e foi tomada pela preocupação. – Você não precisa. Quer dizer, isso foi…

– Você tem que trabalhar amanhã?

Ela balançou a cabeça com pesar.

Joe fez uma pausa de um segundo.

– Você quer subir mesmo assim?

DEMI SE perguntou se estava interpretando a situação corretamente. Ela respirou fundo quando se lembrou do beijo dele, do jeito como ele a tocou. Se estivessem em Ohio, ela saberia exatamente o que ele queria. Em Nova York? Ela teria que assumir o risco.

– Quero – respondeu, esperando ter soado muito mais confiante do que se sentia. Ela iria subir até o apartamento dele. Para o quarto dele! Talvez!

Joe a ajudou a sair da limusine e passou o braço ao redor de seus ombros enquanto ela agradecia ao motorista. Ambos cumprimentaram o porteiro meneando a cabeça, mas nada foi dito enquanto Demi e Joe cruzavam o saguão, o braço dele nas costas dela, seu toque cálido.

Ficaram em silêncio enquanto o elevador subia. Ela estava encaixada na lateral dele, cuidadosamente instalada. Era incrível ser abraçada por ele, ser aquecida por uma fricção suave. Ela o avaliou na cabine espelhada, mas só chegou até os olhos, que a encaravam também.

Eles desceram no décimo oitavo andar e as portas se abriram para um pequeno átrio à entrada da casa dele. Joe abriu a porta e ficou de lado para deixar Demi entrar primeiro.

Mesmo depois de ler a Architectural Digest durante anos, e assistido sobre a vida das pessoas ricas em reality shows, ela não estava preparada para a beleza e a elegância da sala quando adentrou.

– Isso é… – disse ela, dirigindo-se diretamente para as janelas que compunham a maior parte da parede oposta. A vista era espetacular, o Central Park em toda sua glória invernal, as reluzentes luzes da cidade.

Demi queria verificar o mobiliário, o lindo trabalho de design em art déco do piso em preto e branco, a magnífica lareira de mármore e a pura novidade de ver tanto espaço para circular. Mas ela não conseguia parar de olhar para a cidade. Dezoito andares acima, a vista deslumbrante cobria uma distância muito grande para se absorver, não quando havia tantas outras coisas nas quais se pensar. Porém, ela podia vir a ter outra chance, ou não. Que diabos, ela poderia ir a qualquer arranha-céu em Manhattan para conferir a vista, mas Joe era uma oportunidade única.

Joe falou atrás dela:

– Gostaria de beber alguma coisa?

Ela se virou para ele, não muito segura, mas sabia que estava com sede.

– Chá? Se você tiver.

A hesitação dele fez Demi considerar que seu pedido não correspondia a algo que ele costumava ter em sua despensa.

– Acho que sim – disse ele. – Dê-me um minuto. Fique à vontade.

Joe largou o casaco nas costas de uma poltrona antes de desaparecer na cozinha. O pequeno vislumbre que Demi teve através da porta vai e vem mostrou um monte de aço inoxidável e possivelmente a beiradinha de um armário de madeira teca. Estranho ele não ter dito que compartilhavam a mesma paixão quando ela mencionara seu amor pelo art déco. Ou talvez o apartamento dele fosse obra de um decorador?

A coisa estranha sobre a tangente mental dela sobre a decoração não era a coincidência de gostos, mas sua reação a Joe. Ela estava fascinada por ele, além do óbvio. O que demandava a pergunta: será que teria concordado em subir se ele fosse qualquer outra pessoa? Ela estava sinceramente atraída por ele, tal quanto seus hormônios a teriam feito acreditar, ou foi a ideia de Joe Winslow que a deixava louca para se despir para ele e fazer com ele todas as coisas safadinhas nas quais ela conseguia pensar?

Ela abriu a bolsa e pegou furtivamente o cartão de troca de Joe. Depois de uma rápida conferida para certificar-se de que ele não iria flagrá-la no ato, virou o cartão para ler o verso:

* Restaurante favorito: Grand Central Oyster Bar.

* Casamento, encontro ou de uma noite apenas: uma noite apenas é o seu máximo, mas vai ser uma noite fabulosa!

* Paixão secreta: no fundo ele é antiquado. Eu sei, surpreendente, hein?

* Cuidado com: o idiota é obcecado por trabalho. Ele precisa de uma folga.

* Conselho final: divirta-se! Basta ser você mesma!

Demi sorriu diante das respostas personalizadas de Rebecca. Aquele era um cartão que não iria retornar para a pilha, com certeza. Não, aquele era um presente de Rebecca para Demi, e Demi não iria permitir que sua insegurança se tornasse um obstáculo para o restante da noite mágica.

Ela virou o cartão de novo para ver a foto. Objetivamente, ele era um homem bonito. A beleza de Joe estava bem documentada em revistas, na televisão e na internet. Mas ela estava completamente atraída por ele de uma forma que não tinha a ver exclusivamente com a aparência.

Sabia o que sentia. Houve momentos na faculdade e ali em Nova York nos quais tinha gostado da aparência de um homem e simplesmente corrido atrás. E tinham sido bons momentos do ponto de vista hedonista, mas não era algo que Demi fazia com frequência. Mas ela precisava avaliar por que ela estava ficando ali, presumindo que não era apenas para beber o chá. Seu coração acelerado era coisa de uma fã ensandecida ou reflexo de um desejo comum, rotineiro… será que isso importava mesmo?

A resposta foi tão instantânea quanto física. Ela o desejava de uma forma incomum e nada rotineira. Desejaria-o mesmo que Joe não fosse o rei de Manhattan. Ele tinha sido uma surpresa. Agradável. Cativante. E compartilhava boatos privilegiados com ela propositalmente para que Demi pudesse sentir-se menos como uma impostora tentando entrar no palácio. Ele a procurou, e riu de suas piadas, e a aqueceu. E aquele beijo foi…

Bem, ela precisava ficar alerta esta noite, só isso. Se terminasse na cama, o que não era uma coisa certeira já que parecia haver um mundo totalmente diferente de sinais e insinuações dos quais ela não estava ciente naquele ar rarefeito dele, mas se os sinais fossem reais, teria de ser cuidadosa.

O jeito como Joe a fazia se sentir, isso podia ser perigoso. Essa era a diferença. Os outros caras, ambos, tinham sido divertidos nessa coisa empolgante e arriscada, quando você já tomou todas as precauções e então não está exatamente com medo, mas ele era novo, e se fosse terrível na cama, ou se seu órgão fosse minúsculo, ou se quisesse usar a calcinha dela?

Joe podia ter todos esses problemas, mas isso não era perigoso. O verdadeiro medo de Demi era que ela pudesse gostar dele. O tipo de gostar que não significava nada além de problemas. Gostar de um cara não era parte de seu plano de cinco anos. Na verdade, ele era a antítese do plano de cinco anos, a única coisa capaz de transformar até mesmo aquele golpe inacreditável de sorte em um desastre de proporções épicas.

Depois de enfiar o cartão de volta na carteira fininha, Demi apoiou o quadril no braço de um lindo sofá de couro branco. Ela continuou a esperar, se perguntando por que Joe estava demorando tanto. Quando o olhar dela atravessou a paisagem da cidade, lembrou-se de Susan. Ambas tinham sido colegas da faculdade quando Demi era caloura, e elas se deram bem desde o primeiro dia. Susan resolveu estudar Política. Já havia estudado Direito e tinha escolhido três faculdades para se inscrever; na verdade, fora Susan quem mostrara a Demi a sabedoria e o poder do plano de cinco anos. Susan tinha sido brilhante. Memória formidável juntamente a uma mente sagaz e uma presença poderosa. Era fácil pensar nela como uma senadora em potencial ou até mesmo presidente.

E então apareceu Nick.

Susan foi se apaixonando lentamente. Gradativamente. Mas daí ela se apaixonara tão intensamente, que saiu totalmente do rumo em relação aos seus planos. Fora para a faculdade de Direito, sim, mas para a Universidade da Califórnia, só por causa de Nick. Susan tinha sido aprovada em Yale e em Harvard, mas ela estava apaixonada. Demi fora dama de honra em seu casamento, e as duas mantiveram contato pela internet, e agora Susan tinha um bebê, e era dona de casa, e tudo bem. Claro que era bom. Mas não era o sonho.

Se só tivesse ocorrido com Susan, Demi não teria dado tanta atenção. No entanto, não foi. Quase todos os amigos da época da escola e dos primeiros anos da faculdade, ou melhor, todas as amigas, de algum modo, arruinaram seus sonhos por causa do amor. A experiência de Demi podia até ser uma anomalia estatística, mas era muito assustadora.

Demi não tinha nada contra relacionamentos, mas isso ficaria para mais tarde. Ela nem sequer vislumbrava o casamento antes dos 30, e possivelmente até além disso. Nada de ter filhos enquanto estivesse em seus 20 anos. Ela nem mesmo tinha certeza se queria ter filhos. Não era algo com o qual precisava se preocupar no momento, graças a Deus, mas gostar de Joe? Isso era uma possibilidade distinta.

Claro, ele gostar dela também era altamente improvável. No mesmo nível de ganhar na loteria. O que era pior em alguns aspectos, porque apesar de ter sido uma noite, e de Demi ter uma leve quedinha por ele, havia todas as razões para acreditar que poderia haver faíscas no quarto. Seria tão típico de Demi se flagrar encantada por Joe, só para depois desabar em um ataque de saudades e paralisia apaixonada pelo tempo necessário para superar aquilo. Isso também não seria bom para o plano.

Aquela decisão sobre fazer sexo estava sendo mais complicada do que ela imaginara. Graças a Deus ela não havia se rendido a mais doses de champanhe.

Demi não estava usando relógio, mas Joe realmente tinha saído há muito tempo. Ela se ergueu do sofá e foi em direção à cozinha, esperançosa de que não houvesse nenhum problema. Dois passos depois e a porta se abriu, e Joe entrou carregando uma bandeja de prata. Em cima dela havia bule, um bule de chá de verdade, feito de porcelana fina, decorado com flores e videiras. Havia xícaras combinando, duas, e pires, também dois. Uma tigelinha de creme, uma tigela com pacotes de açúcar, pinças de chá, rodelas de limão, um coador, e ela precisou se aproximar para ver que as latas continham diferentes variedades de chá. Ela olhou para Joe, e ele retribuiu o olhar. Foi um… momento.

Parte dela queria rir, mas uma maior queria saber… o que diabos?

– Aparentemente, eu tenho um serviço de chá completo – disse ele, em voz baixa e perversamente inexpressiva. – Eu nunca soube disso. Não cozinho muito, e tenho gente para limpar minha cozinha. Mas pensei, por que não? Pode ser que ninguém nunca mais peça chá de novo.

– Estou vendo… ah, esse aqui não é chá. São biscoitos?

– Biscoitinhos ingleses – disse ele. – Frescos, de acordo com o pacote. – Ele colocou a bandeja na mesinha de centro depois que ela correu para tirar algumas revistas dali. – Meu palpite é que a minha faxineira é aficionada por chá. Ela vem três vezes por semana, e eu não presto atenção aos seus hábitos de lanche. Faz sentido, no entanto. Ela enche a geladeira. O jogo de chá se parece com algo que minha mãe teria, e espera que eu tenha também.

– E cá estava eu pensando em uma caneca e um saquinho de chá barato. Mas isso serve.

– Serve, não é?

Demi assentiu.

– Tantos tipos diferentes – disse ela, investigando atentamente. Havia camomila, chá verde, chá preto e um outro do qual ela nunca tinha ouvido falar. Ela apontou para ele.

– Devo preparar?

– Vá em frente.

Demi estava muito feliz por estar acostumada a chá a granel enquanto colocava as folhas em água quente, deixando-as em infusão a seguir. Ela usou a pinça para colocar dois torrões de açúcar em sua xícara, serviu um pouco de leite e esperou nervosamente, quando percebeu o quão perto eles estavam juntos no sofá.

Aquilo era diferente de ter o braço dele ao redor dela na festa ou mesmo ficar sentada grudadinha nele na limusine. Agora havia um quarto envolvido, a poucos passos de distância.

Ela poderia optar por uma dentre estas duas abordagens no minuto seguinte: falar da decoração e ficar se perguntando o que iria acontecer até ele fazer algo óbvio, ou assumir uma postura de mulher adulta e perguntar se eles iam dividir algo mais do que chá.

– Então – disse ela – você gosta de art déco.

Joe olhou para ela, seu próprio torrão de açúcar na pinça, pairando acima da xícara.

– Sim. Gosto.

Mal conseguiu escutá-lo por causa dos xingamentos ressoando na própria cabeça, o que francamente não era muito agradável. Ela não era uma covarde e odiava pensar que o era, mas a única maneira de provar que possuía cojones era fazendo jus a eles.

– O apartamento é todo no estilo art déco? – perguntou, tentando ser sensualmente recatada em vez de assustadoramente dura. – Seu quarto, por exemplo?

Demi fez uma careta. Não conseguiu evitar. Uma garota de 15 anos teria se saído melhor.

O açúcar caiu na xícara com um baque suave e Joe sorriu.

– Você gostaria de vê-lo? Depois do chá, talvez…

Demi assentiu, então se ocupou em coar as folhas e servir-se. Ela concluiu que já tinha dito o suficiente, mas Joe não se apressou para preencher o silêncio. Deve tê-la visto olhando pela janela; ela não sabia ao certo porque não se atreveu a olhar para cima. Já era o suficiente desejar ter firmeza nas mãos e calma e compostura nos pensamentos. Algo tinha acontecido nos últimos segundos; talvez fosse o jeito como a voz dele baixara, e como o murmúrio rouco deslizou na pele de Demi como uma promessa vibrante e tépida… ela não fazia ideia do que era.

Não, ele definitivamente estava concentrado nela, concluiu Demi quando o peso do olhar dele pareceu agitar o ar ao redor. Ela podia de fato senti-lo observando-a, aguardando, sem perder nada. Demi colocou a chaleira na mesa, pegou a xícara e bebeu um gole, sentindo mais o calor do que o sabor quando o silêncio se prolongou entre eles. O elemento de surrealidade, como as pinças de prata e o fato de ser duas da madrugada, deixava o tempo mais trêmulo e lento. Bebericou mais uma vez, a xícara delicada incitando-a a levantar o dedinho.

Ela finalmente olhou por cima da xícara e viu que Joe estava, de fato, encarando-a. Também levou a xícara aos lábios, bebeu em silêncio, a mão grande e os dedos longos, os olhos fixos em cima dela o tempo todo, nunca vacilando.

Demi estava totalmente ciente de que ele poderia ter fitado seus seios empinados por causa do sutiã especial ou as coxas descobertas. Se o tivesse feito, Joe teria notado os tremores intermitentes, a pele que, Demi tinha certeza, não estava rosada apenas nas bochechas, mas também nas pontas das orelhas.

Aquele olhar era insuportavelmente sexy, com olhos escuros tão grandes, sem piscar. Como se ele pudesse enxergar mais do que ela queria.

Conforme cada segundo passava, o calor se intensificava, até que Demi não aguentou mais. Ela piscou.

– O chá está gostoso – disse ela surpresa, com a voz firme.

Ele lambeu o lábio inferior com a pontinha da língua; só uma leve pincelada, apenas o suficiente para a luz captar a umidade ali.

– Embora eu não faça ideia do ingrediente principal deste aqui. Tem gosto de… chá.

Ele baixou sua xícara.

– Tenho uma janela no meu quarto – disse ele, a voz ainda suave e grave atravessando-a como um trovão distante. – Quero tirar seu vestido lentamente. Deixar deslizar pelo seu corpo. Durante horas fiquei me perguntando o que há embaixo dele. Meu palpite é: preto, talvez rendas, talvez seda, mas definitivamente preto. Você vai ficar incrível perto da janela com as luzes da cidade como pano de fundo.

Demi quase deixou sua xícara cair, desajeitada e inábil quando uma onda de calor úmido fluiu por ela. E estivera tão composta. Completamente calma, racional e avaliando as coisas. E então ele tinha que vir e dizer aquilo.

Ela estava oficialmente em outro plano de existência, porque não havia ninguém no mundo que conhecia capaz de dizer aquelas palavras naquele tom, com aquele olhar. Se já não soubesse, ela teria pensado que havia alguém sentado atrás dela, algum modelo ou atriz, ou praticamente qualquer pessoa que não fosse Demi Kingston.

– Demi? – O sorriso de Joe era lento e controlado enquanto ela hesitava.

Deus, por que ela estava hesitando? Mais alguns segundos e talvez conseguisse fazer suas pernas obedecerem.

Joe se levantou e estendeu a mão para ela. Com o coração dançando flamenco, a cabeça girando em uma nuvem de luxúria e esquisitice, ela se levantou, sem derramar chá, sem tropeçar ou emitir quaisquer sons infelizes.

Em vez de puxá-la para mais perto, Joe entrou em seu espaço pessoal, e então a invadiu. O corpo dele a tocava do peito à coxa, e ele era quente e grande, e cheirava como se tivesse acabado de caminhar em uma floresta. Olhar para cima não era novidade para Demi, mas encontrando o olhar dele tão perto, sentir sua respiração adocicada pelo chá acariciando seus lábios era atordoante. Quando ele se abaixou, os olhos dela se fecharam no último segundo possível, e depois, e depois…

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Então pessoal, querem maratona?
xoxo

5 comentários:

  1. Pq vc parou justo agoraaa...... quero maratonaaaa...... continua logo pfvrr!!!

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  2. QUEREMOS SIM. PARAR AI É SACANAGEM AHSHSHDH AMEI

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  3. Siiiimm. Maratona Maratona...... Posta Logo!!!!!!

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  4. Eu To louca para saber o que vai acontecer,por favor maratonaaaaaa

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  5. Como assim queremos maratona?? Mas eh claro q sim!! Kkkkkkkk moça, poste logo, sim? Bjos

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