30.9.15

Escolha - Capitulo 12


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JOE SORRIU outra vez.

– Então você também é uma ovelha negra?

Demi engoliu a boca cheia de macarrão e bebeu um gole de refrigerante antes de responder.

– Oh, sim. Era para eu me casar com Eliot. Meu namorado do colégio. Era uma coisa. Grandiosa. Muito estresse e angústia. E comida desempenhava um papel enorme. Em particular, frango frito.

À menção daquilo, ambos ficaram comendo um pouco em silêncio, fato que dera a Demi tempo para comentar o que Joe tinha lhe contado a respeito de suas brigas com a família. Como era possível eles não se orgulharem das realizações de Joe? Talvez estivessem orgulhosos, mas a família fosse horrível no quesito comunicação. Rebecca havia mencionado um problema entre ela e seus pais, e os pais de Joe tinham a mesma genética. Mas e daí, Joe era determinado. E colocou a implementação de seus objetivos acima de tudo. Assim como Demi.

– Sabe o que não consigo entender? – perguntou ela.

– O quê?

– Como é que você ficou tão legal.

– Eu? Legal?

– Muito. Eu esperava que você fosse presunçoso. Você é ótimo.

Joe olhou para ela por um longo momento.

– Obrigado. Fico feliz que você pense assim.

– Hum – disse ela. – Interessante.

– O quê?

– Não houve absolutamente nenhum entendimento daquela resposta. Sendo mais clara, eu quis dizer legal num sentido Ohio. Não foi uma observação sarcástica.

– Bem, então. Agradeço ainda mais. O legal pode funcionar de vários jeitos aqui.

– Percebi. Como você se descreveria?

– Ah, essa é uma pergunta assustadora.

– Não estou com medo.

– Não estou me referindo a você.

Demi sorriu.

– Vamos lá. Eu já estou em desvantagem.

– Isso que me preocupa. Gosto que você me ache legal.

– Mas…

– Eu sou… focado. Extremamente focado.

Ela comeu um pouco, repetindo a palavra para ver como soava.

– E você é só isso?

A careta que ele fez foi extravagante até para si.

– Sim, tenho certeza de que é isso.

– Você é engraçado. Isso não é uma opinião. É um fato. Você me faz rir muito.

– Ei, não é justo falar sobre minha aparência.

– Está vendo? Engraçadinho. Muito engraçadinho.

Ele largou a caixa de comida e pegou a cerveja, mas não bebeu.

– O que mais?

Ela quase continuou a provocá-lo, mas seu olhar a deteve.

– Você é atencioso. Percebe as pessoas ao seu redor e você não tira proveito delas. Eu não sou terrivelmente experiente, mas tenho a sensação de que nem todo mundo dá de comer a maquiadores ou cabeleireiros. Ou até mesmo nota a equipe de segurança do edifício.

– Isso é educação.

Demi balançou a cabeça.

– Não. Vai além disso. A maioria das pessoas em sua posição não daria a mínima para qualquer um ao seu redor. Seria fácil ser horrível. Esperado até. Mas você não precisa ser rude e malvado para ser uma presença poderosa, porque você já é uma presença poderosa. As pessoas entendem isso. Você não precisa esfregar isso na cara delas.

– Eu gosto disso. Não sei se concordo, mas é algo no qual a se pensar. Claro, eu não quero ignorar completamente toda essa coisa do rude e malvado. Isso é um apelo e tanto.

Ela meneou a cabeça brevemente.

– Sim. É.

Ele bebeu um pouco mais, em seguida pegou a caixinha com arroz, mas quando o fez, se esticou até ambos estarem suficientemente pertos para se tocar. A caixa ficou na mão de Joe enquanto ele se inclinava até Demi.

Ela prendeu a respiração. Alarmes de advertência tocavam ao longe, abrandados, porém, não silenciosos.

– Eu deveria ligar para um táxi – disse ela. – Ir para casa. Aproveite a noite de folga.

Joe pôs a caixa de arroz na mesa, mas sua perna, seu quadril, a lateral de seu corpo estavam pressionando o corpo de Demi. Ele cheirava a especiarias e cerveja, e ela fechou os olhos quando inalou. – Eu não gosto de cerveja. Para beber. Mas realmente gosto do sabor quando…

Ele aguardou, menos de dez centímetros entre eles, talvez nem mesmo cinco.

– Quando…?

– Quando eu faço isso – sussurrou ela pouco antes de os lábios de ambos se tocarem.

JOE QUERIA tomá-la em seus braços e beijá-la até ela admitir sua derrota, mas ele se conteve, todos os músculos estavam prontos para reagir à menor pressão. Os lábios de Demi eram suaves contra o dele, roçando, provocando. A respiração vinha em arfares suaves, perfumada com gengibre tailandês e calor, e não importava o quão ardentemente ele pensasse agora, agora, agora, Joe queria que a iniciativa fosse dela, deixar que ela tomasse a decisão. Que diabos havia de errado com ele?

Toda a noite estava sendo um acontecimento bizarro atrás do outro. Ele não perdia estreias. Não ficava parado por três malditas horas só para não perturbar o sono de alguém. Ele não era legal. Legal não era nem mesmo uma parte da equação, então o que estava acontecendo? O que estava fazendo?

Um toque, dedos, pequenos, frios, delicados na nuca de Joe, e ele ficou muito consciente de seu membro. Mas não era a primeira vez desde que eles tinham deitado juntos no sofá. Em mais um lance para tornar esta noite a mais estranha de todas, ele se flagrou experimentando diferentes estágios de excitação. Naquele primeiro momento, quando Demi se apoiou nele, toda sonolenta e resmungona, Joe ficou levemente rijo. Mas não ficou duro como uma rocha. O que era bom. Joe só havia se tocado naquela vez entre eles, e isso era uma adaptação. Muito embora toda aquela situação fosse o mais próximo de um sonho erótico que ele já tivera sem estar dormindo.

Demi puxou o cabelo dele, trazendo-o para mais perto, aprofundando o beijo. Lambidinhas no lábio inferior, então no superior, como se Joe fosse sorvete, uma maçã do amor. O membro dele inflou, pressionando contra a braguilha. Devia ter tirado o smoking, mas já era tarde demais para se preocupar com isso agora. Não quando Demi investiu a língua e ele a saboreava pela primeira vez desde a festa no Chelsea Piers.

Instantaneamente, ele percebeu que era um erro. Um erro impulsionado pelos hormônios que iria voltar e lhe dar uma dentada. Joe era mais esperto do que isso. Ele se afastou? Claro que não.

Inclinou a cabeça para que se encaixassem melhor, e então começou sua exploração. Não foi delicado ou hesitante. Na verdade, era só o que ele podia fazer para não demonstrar o quão cruel poderia ser.

Ele abriu a boca e reivindicou Demi, sugando a língua dela, investindo com a dele, e o som que ela emitiu, santo Deus… agora ele estava tendo uma ereção das sérias. Com determinação e o fim do jogo à vista, Joe se afastou.

– Quarto? – perguntou. Era o esperado.

Ela piscou para ele. Joe percebeu que ele tinha abandonado sua cerveja e envolvido os braços de Demi, com a seda do quimono tépida sob seus dedos. Demi estava praticamente nua sob o robe, Joe sabia disso. Dava para ver os mamilos duros contra a seda. Talvez ele tivesse levado uma pancada na cabeça ou coisa assim, porque aquele não era seu estilo. Aquilo parecia imprudente, e ele não agia assim desde a adolescência.

O aceno de cabeça de Demi permitiu a ele respirar novamente. Ele a beijou mais uma vez. Começou grato e terminou desesperado, deslizando a língua contra a dela.

Eles então se levantaram das cadeiras, Joe pegando Demi no colo, as bocas trabalhando juntas para recordar, reaprender, descobrir.

Estavam a meio caminho do cômodo antes de pararem para tomar fôlego.

Uma das mãos de Demi estava nos cabelos de Joe, a outra sob o paletó do smoking, no cóccix, como se estivessem dançando alguma valsa maluca.

– Péssima ideia – disse ela antes de beijá-lo no queixo.

– Terrível. Nós decidimos fazer isso. – Ele capturou a boca de Demi novamente, espantado pela forma como ela o deixava guiá-la, de ré, em meio ao espaço. Pelo modo como, mesmo com a diferença de altura, as partes importantes se encaixavam, como os seios contra o peito e os lábios ao alcance dele, Joe só precisava mover um único músculo para ela reagir exatamente como precisava. Era uma dança, mas não era louca, era só deles.

– Cinco anos – disse ela, meio arfando, meio gemendo.

– O que tem cinco anos? – Estavam chegando ao corredor, então viraram sutilmente para a esquerda.

– Meu plano. – Demi desceu a mão até o traseiro de Joe enquanto eles manobravam na curva do corredor, e ele a colocou contra a parede. O “humpf” de Demi fez Joe reposicioná-la, ao mesmo tempo que se aprumava, com o equilíbrio gracioso entre eles indo pelo ralo.

– Você está bem?

– Cadê a porcaria do quarto?

– Está chegando – disse ele. Acelerar para chegar logo seria um movimento inteligente. Em vez disso, Joe a beijou. A atração era demais, sabendo que ele não deveria, eles não deveriam.

A mão que estava nos cabelos dele agora estava no peito, esfregando em círculos vagos.

– Qual é o plano? – quis saber ele, a voz tão rouca como a de um fumante que encarava um maço por dia. – Conquistar o mundo? Fazer eu ficar de joelhos? Você não precisa de cinco anos para nenhum dos dois.

Ela riu, pisou no pé dele com o pé descalço. Não doeu.

– Serei um cruzamento entre Tim Gunn e Tina Brown – disse ela, tropeçando no quimono. Se eles não se matassem antes de chegar ao quarto, seria um milagre.

– Bom para você. Você vai ser ótima.

– Não eu se não for capaz de dizer não a você.

Então ele encarou Demi, as pupilas dela dilatadas e repletas de um calor capaz de incendiar a casa.

– Você pode dizer não.

Ela inspirou, então houve silêncio. Apenas havia o batimento cardíaco alto de Joe em seus ouvidos.

– Por favor, não me obrigue – sussurrou ela.

Um ruído sombrio saiu de sua garganta quando ele se abaixou e a ergueu. Era ridículo, algo que ele nunca tinha feito, nunca faria, mas ele já estava cansado de andar, cansado de tudo, exceto de despi-la, de se enterrar dentro pelo máximo de tempo que aguentasse, tão profundamente quanto possível.

– Joe – disse ela, passando o braço em volta do pescoço dele. – Nós somos loucos.

– Eu sei. – A porta estava ali, bem ali, e estava aberta. Ele entrou com ela num segundo, caminhou até a cama em dois, porém teve que beijá-la mais uma vez antes de libertá-la.

Demi se afastou do beijo primeiro, mas mal se mexeu. Seu hálito roçava o rosto de Joe, a respiração ofegante, um tremor sutil como um sussurro.

Ele a baixou lentamente, a cabeça no travesseiro, o ombro do quimono escorregando o suficiente para exibir o vinco onde o braço dela pressionava. Aquilo fez o membro dele dar um tranco, e Joe a desejava tanto que não sabia o que fazer.

– É a minha vez – disse Demi.

– O quê? – Ele desviou o olhar daquele pedaço de pele outrora comum. – Sua vez?

O sorriso normalmente muito doce e seus grandes olhos inocentes ficaram maliciosos quando ela olhou para ele. – Tire a roupa para mim. Devagar.

Ele teve que sorrir. Demi pronunciara as palavras como um chefão do crime, como uma megera. E então ela meneou os ombros, aquele ombro parcialmente à mostra, até o quimono… dava para ver a beirada do mamilo enrijecido. Só a beiradinha.

DEMI MORDEU o lábio com força quando Joe tirou o paletó. Ele seguiu as palavras de Demi à risca, portanto seus movimentos eram sem pressa, mas sua técnica? Santo Deus, ele não tinha ideia de como fazer um striptease sensual. Ele ficou atento para certificar-se de que não iria tropeçar e tentou retirar os dois braços das mangas de uma vez só, o que o fez soltar um palavrão e recomeçar. Demi não queria rir, porque, ai, Deus, ele estava se esforçando tanto. Todo o seu corpo morria de saudade do jeito adorável de Joe, do jeito como o magnata da internet, totalmente controlado e normalmente gentil, parecia exatamente como um virgem de 17 anos tentando impressionar a rainha do baile. Ambos relaxaram quando o paletó caiu no chão. Ela não ia se enrolar de novo com a camisa e as calças.

– Venha cá – disse ela, dando um tapinha na cama. – Você precisaria de um chapéu para essa parte da coreografia. Além disso, você está longe demais.

– Veja só quem está sendo legal agora – brincou ele quando sentou-se ao lado dela.

Os dedos de Demi já estavam abrindo os botões dele. Eram fantásticos, era um Armani afinal de contas, mas eram pequenos e redondos, difíceis de se abrir com dedos trêmulos. Lá pelo terceiro botão, Demi já estava tentando rasgar a maldita camisa aberta, mas ela nunca poderia violar a moda de qualidade assim. Seria como atirar no Bambi.

Joe acabou ajudando, e toda vez que os dedos dele a tocavam, ela arfava. Impossível evitar. Agora que ele não estava se esforçando, a camisa desabotoada deslizou pelos ombros como numa coreografia e, caramba, ele estava seminu, e Demi também.

– Isso vai ser ruim – disse ela, as unhas perfeitamente pintadas arranhando o peito lindamente esculpido. De alguma forma, os músculos, o corpo inteiro dele, eram feitos de acordo com as especificações de Demi. Definição e músculos suficientes para se revelar uma grata surpresa, um traseiro lindo de morrer, e tudo isso pertencente ao mesmo Joe que a havia deixado dormir, que se certificara de que ela havia se alimentado, que lhe dera uma chance de realizar seus sonhos. – É tudo que quero – continuou ela –, e isso nunca acaba bem. – Ela terminou a frase com os lábios no peito dele.

Ele passou os dedos pelos cabelos dela, inalando alto no quarto silencioso. Demi o beijou de novo, acariciando a pele quente diante de si, a mão livre seguindo sorrateiramente para as calças dele, só para perceber que ela nunca o tinha visto nu assim. Joe não poderia ter escolhido um smoking mais perfeito para a noite. Maravilhoso e pecaminosamente elegante, e mesmo assim, tudo que mantinha a estrutura, botões, fechos, era tão complicado quanto uma roupa masculina poderia ser. Ela imaginava se ele de algum modo havia encontrado cuecas boxer que precisassem de uma senha para sair.

Os dedos de Joe envolveram o queixo de Demi, e ele ergueu o rosto dela, afastando-a de seu peito.

– Nós podemos parar – garantiu ele. – Vou ter que ir ali dentro por alguns minutos, mas podemos parar agora.

Demi assentiu, sabendo que era a coisa certa a se fazer, mas, quando ele suspirou em decepção, ela lhe agarrou a mão para impedi-lo de ir.

– Há muitas coisas – disse ela.

– Eu não…

– Fico pensando em todas as coisas que não fizemos naquela vez. Em como não teríamos outra chance, e eu nunca saberia… – Ela sentiu o rubor e ficou maravilhada com a própria timidez ridícula do meio-oeste…

– Como o quê? – Ele quis saber, se inclinando, com a mão livre rumo à calça complicada.

Demi capturou o dedo indicador de Joe entre os lábios. Então lambeu a ponta com a língua antes de sugar todo o dedo para dentro da boca. Ela o provava, estremecia a língua contra a pele, fazendo-o compreender.

O gemido dele a fez contrair as pernas juntas. Ela libertou o dedo dele, mas só para que ele pudesse terminar de se despir. Dizer que Joe estava ansioso era um eufemismo, e ele deve ter usado aquele smoking muitas vezes para ser tão versado nele, mas Demi nem piscou quando a calça caiu no chão, seguida pela elegante cueca preta abençoadamente sem quaisquer complicações. E então ele tirou as meias, e lá estava. Ah, tão duro. O membro deixando uma trilha molhada na barriga enquanto o peito dele subia e descia em arfares roucos, rápidos.

– Você pensou nisso? – questionou ele.

Demi fez que sim com a cabeça. Correu a mão para as dobras do quimono, desacelerando enquanto acariciava o mamilo exposto.

– Eu realmente gostaria que você se deitasse. Logo.

O sorriso dele era tão erótico quanto sua ereção, e os dois juntos faziam Demi se contorcer. Ele compeliu, mas não sem roubar um beijo, que durou um longo, longo tempo. Por fim, ele estava esparramado ao lado dela na cama, e ela poderia fazer o que quisesse. Saborear, lamber, mordiscar, provocar.

Ela pode ter dito isso antes, mas desta vez falava sério. Chega de sexo depois disso, porque, enquanto tirava a calcinha para montar nos quadris de Joe, Demi percebia que não era exatamente o sorriso, a ereção, as refeições ou as roupas que ela queria. Na verdade, ela queria tudo. Era ele. Joe. Era inútil fingir, não mais. Aquilo não era uma paixonite.

JOE IA explodir em chamas. Não sobraria nada além de cinzas, e valeria a pena. Demi nua montada nele era exatamente a última visão que ele desejava. O sorriso era um bônus, ela se curvando para beijá-lo era mais do que um homem mortal poderia suportar.

O beijo não foi nem metade tão doce quanto o sorriso. Na verdade, foi meio desajeitado, muita língua, dentes e saliva, e os quadris dele a erguendo para cima, tão sensual. Demi pôs as mãos no peito dele para se firmar, mas antes tiveram que se separar para tomar mais fôlego, e os dedos dela encontraram os mamilos dele. Ele adorava brincadeiras com os mamilos, no entanto, a mulher por cima lhe rendeu duas contrações sincronizadas que o obrigaram a jogar a cabeça para trás, os olhos se arregalaram e em seguida se fecharam, e ele não ia nem tentar explicar o barulho que fez.

– Isso é divertido – disse Demi com a voz mais perversa do que nunca.

– Você está me matando.

– Não seja chorão. Você aguenta.

– Eu não estou acostumado a esse tipo de insolência – provocou ele, lançando seu olhar mais arrogante.

Ela levantou a sobrancelha esquerda enquanto sentava-se. Ele só percebeu que Demi havia mexido a mão quando ela segurou seu órgão.

Ele rugiu de novo, investindo os quadris, dentro dela, tudo, querendo mais. Agora. Por favor.

Então ela bombeou. Uma vez.

Joe já sabia que ela pesava quase nada. Ele poderia simplesmente levantá-la, fazê-la sentar novamente em uma posição mais agradável. Porque nos próximos dez segundos estar dentro dela era a coisa mais importante que aconteceria a ele, em toda sua vida, sem exceções.

Quando ela soltou, ele quis chorar, e o teria feito se não fosse um homem tão viril.

Em seguida, montou de volta, se erguendo sobre o membro dele, até estar acomodada nas coxas dele e, diabos, que vista, a intimidade dela nua e obscenamente exposta exatamente onde ele não conseguia tocar.

Um dedinho tocou a base do falo e Demi foi subindo, e as costas de Joe arqueavam ao mesmo tempo. A parte louca da coisa era que, durante o tempo todo, ele estava olhando para ela, bem nos olhos, e ela estava rindo. Não era uma gargalhada, ou de forma maldosa, ou provocativa, apenas… satisfeita. Como uma criança com o melhor brinquedo de todos os tempos.

Jesus.

Demi deu um sorriso imenso pouco antes de se inclinar e envolver a ponta do falo.

O grito de Joe veio lá do âmago, e foi só o que ele pôde fazer para não chegar ao clímax ali mesmo. “Hora do jogo”, pensou ele. E então desistiu completamente de raciocinar.

DEMI NÃO tinha ideia de quanto tempo ficou no limite, mas provavelmente foi por horas. Era uma tortura, o modo como Joe a levava até aquele ponto no qual prendia a respiração, no qual ela estremecia e gemia e implorava, só para colocá-la em uma confusão trêmula, e em seguida aumentar a velocidade outra vez até não conseguir pensar direito, até ela puxar o lençol e soltá-lo das bordas do colchão, até implorar, rouca.

Joe chegou ao clímax duas vezes.

Demi perdeu a conta.

~
OMG hot
xoxo

28.9.15

Escolha - Capitulo 11 MARATONA (5/5)


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A NOITE de sexta-feira chegou juntamente a um smoking para a estreia do filme Cortesã, e a única razão para torná-la suportável era saber que Demi estava na sala de imprensa sendo preparada. Joe iria ver como ela estava se saindo depois que estivesse arrumado, embora dessa vez ele se certificasse de que ela comeria alguma coisa antes de Sveta levá-la embora.

Enquanto ajeitava a gravata, Joe pensava na noite que os aguardava, satisfeito porque Demi caminharia num tapete vermelho legítimo. Um sonho se tornando realidade, literalmente, ela dissera a ele.

Quanto menos ela dormia, Joe descobrira, mais revelava sobre si. Sobre como ela praticava seu discurso ao receber o Oscar quando era menina, em frente ao espelho do banheiro, segurando uma garrafa de xampu ou uma escova de cabelo. E muito propositadamente não agradecia a quem lhe era irritante no momento, então algumas vezes era um de seus irmãos, um professor, um amigo ou um de seus pais.

Aquilo o fez rir quando eles relaxaram no banco traseiro de uma limusine, e também o fazia sorrir agora. Joe conseguia imaginar aquilo facilmente. Ele se perguntava se ela sempre tivera o cabelo curto. Provavelmente, já que tão baixinha. Você não iria querer esconder nenhuma parte do seu rosto, não com o cabelo, nem com muita maquiagem. Sveta acabara sendo a estilista perfeita para Demi. As pessoas prestavam muita atenção nela.

Seus blogs estavam ganhando muitos acessos. As visitas únicas eram muito maiores se comparadas às obtidas com a maioria de seus novos colaboradores, o que fazia sentido porque era uma abordagem inédita. Joe nunca pedira a um de seus companheiros para escrever diretamente.

Grande parte do buchicho era sobre eles dois, naturalmente. Estavam juntos? Não estavam? Houve gente publicando que Demi tinha ido embora em um carro separado no final de uma das noites de festa, e a fachada do prédio de Joe havia ganhado mais alguns paparazzi esperançosos de flagrá-la saindo constrangida de lá pela manhã. A especulação sem confirmação era exatamente o que Joe estivera esperando.

Demi apareceu em quase todos os sites e feeds de fofoca, bem como nos tabloides.

Ele vestiu o paletó, feliz por ele ter escolhido algo tão tradicional. Lindamente cortado, nada radical. Ele queria que Demi brilhasse sozinha esta noite. Ele não tinha ideia do que Sveta tinha escolhido para ela, e se perguntava como a estilista iria superar o visual da noite anterior. Demi o surpreendera totalmente ao fazer sua entrada.

Pensando bem, toda vez que Joe a via, ela o surpreendia. Provavelmente tinha a ver com o fato de ele tê-la tão perto e tão intocável. Opa, eis um pouco de demonstração de interesse por parte de seu membro, isso não é bom para o corte do smoking. Não é bom de muitos jeitos. Ela estava fora dos limites. As estatísticas não mentiam, e este novo negócio tinha aumentado os cliques do NNY de maneira notável. Aquilo poderia matá-lo, mas ele se manteria fiel ao combinado. Infelizmente, isso significava ser patético. Muito patético.

Joe olhou para o relógio, verificou se tudo de que precisava estava nos bolsos e, em seguida, entrou na sala de estar. Olhou para a porta aberta no átrio e se perguntou por que não tinha levado Demi ao seu escritório. Não era tão longe do elevador. Então, novamente, eles não vinham tendo muito tempo para nada, senão para o trabalho.

Joe ouviu Sveta no corredor, e virou-se em expectativa pela chegada de Demi. Droga. Ela fez aquilo de novo. Foi como um tapa na parte de trás de sua cabeça.

Demi era uma visão do paraíso. Tanto esforço para não ficar excitado esta noite. Ele teria de colocar seu membro em uma camisa de força para conseguir se controlar e, sim, não precisava estar pensando naquilo quando Demi veio em direção a ele com um sorriso que o fez se esquecer de como respirar.

O vestido branco e roxo tomara-que-caia tinha um design estruturado que parecia origami. Joe olhou para o rosto dela, depois para o trecho de pele nua que ia do longo pescoço até o busto. A cintura dela parecia minúscula, as pernas esbeltas, porém curvilíneas, e com aquele sorriso e olhos esfumados, ninguém seria capaz de desviar o olhar.

Joias teriam sido redundantes.

– Bem – disse Demi, dando de ombros muito sutilmente.

– Você está linda. Vai ser a mulher mais bonita no tapete vermelho.

Demi corou, revirando os olhos. Joe a deixou pensar que estava de papo furado.

Ele segurou as mãos dela e a beijou nas bochechas. Muito europeu. Todo profissional. Nem perto do que ele queria. Joe a beijara na boca na primeira noite, quando mal a conhecia, e agora ele ansiava por lhe tomar a boca de novo, para prová-la, e não apenas os lábios.

– Temos uma meia hora antes de irmos. Quer uma bebida?

– Só água – disse ela. – Por mais empolgada que esteja, estou tão incrivelmente cansada que temo que um simples gole de bebida vá me fazer desmaiar.

– E isso não pode acontecer. – Ele assentiu em direção ao sofá. – Sente-se. Vou trazer água, e então cuidar do restante da nossa equipe.

– Diga-lhes novamente que são maravilhosos, sim? Eu já disse, mas acho que eles pensam que sou obrigada a dizer isso. Mas não sou. Eles são verdadeiros magos.

Como ele poderia não gostar dela? Ela era a anti celebridade, a cura para o cinismo de Nova York, com arrepios autênticos e uma empolgação descarada. Mas até mesmo ele era capaz de enxergar que ela não tinha exagerado sobre seu cansaço. Não que outra pessoa fosse notar, mas ele a estivera observando durante dias, com muita frequência e muito profundamente. Havia mais maquiagem abaixo dos olhos dela esta noite. Joe se perguntava se deveria cancelar a ida à inauguração de uma boate na noite seguinte. Demi precisaria trabalhar por algumas horas amanhã de manhã, mas depois ela planejou dormir pelo restante da tarde. Ele duvidava que seria suficiente.

Joe buscou a água enquanto ela se acomodava no sofá, uma verdadeira proeza com aquele vestido. E então ele transmitiu os elogios dela à equipe, e Joe também elogiou seu pessoal, depois os acompanhou até a porta. A limusine estaria chegando a qualquer momento.

Dava para ver o cabelo escuro de Demi acima da borda do sofá, e Joe precisava lembrá-la de trazer outro par de sapatos para quando voltassem para a limusine. Como é que as mulheres conseguiam andar com aqueles saltos absurdos…

Demi ficou descansando no sofá de couro com uma perna enroscada debaixo de si. O copo, agora vazio, se inclinava na mão dela em um ângulo de 30 graus. Ela estava dormindo.

Depois de tirar o copo das mãos dela cuidadosamente, congelando por um segundo quando ela ronronou baixinho, Joe tocou suavemente seu ombro nu.

– Demi? Demi, temos que sair agora.

Ela resmungou alguma coisa e acomodou o rosto na almofada novamente.

Odiava ter de perturbá-la. Joe roçou as costas de seus dedos na bochecha dela.

– Demi – dizia ele enquanto sentava-se ao lado dela. Queria acordá-la, não assustá-la. – Eu sei que você está cansada, mas é a estreia do filme. As estrelas de cinema! Glamour! Luzes, câmeras, ação!

Ela se inclinou em direção a ele. Joe se reposicionou rapidamente, de modo que Demi se apoiasse no ombro dele, mas não no ossinho duro. Ela caiu de encontro a ele, a perna que estava dobrada debaixo dela agora num ângulo estranho. Ao mesmo tempo que estava desajeitada e não muito elegante, não parecia desconfortável.

Foi muito fácil mudar de posição para passar o braço ao redor das costas dela, abraçá-la bem pertinho, inalar o perfume dela. O apoio se transformou em aconchego e ele suspirou quando pensou em seu movimento seguinte. Então, com a mão livre, pegou o celular. Precisava telefonar para Naomi, já que não era adepto de enviar torpedos usando apenas uma das mãos.

– Você está no carro?

Ah, a voz. Carro virava “carr”, e ele não conseguia parar de sorrir.

– Não – sussurrou ele.

– O quê?

O fato de ela conferir um tom de rusga a palavra tão simples lhe rendia partes iguais de diversão e de calafrios.

– Nós não vamos. Danny pode ir no meu lugar. Mas entre em contato com ele depressa, no entanto, porque ele não vai estar arrumado para a ocasião.

– Por que você não vai? Por que você está sussurrando? Joe, o que você fez? Tem a ver com a garota, não é?

– Shhh – censurou ele, embora a voz de Naomi no celular não fosse capaz de acordar Demi. – Ela está passando mal. Vai ficar tudo bem.

– Como é que vai ficar tudo bem? Você tem prazos. Sabe quantos comentários recebeu no blog hoje? Mais 2 mil e 500. E você me arranja um atestado por doença? Que diabos, Joe?

– Vai dar tudo certo. Como sempre.

– Sim, mas veja bem com quem você está falando, querido, e ‘como sempre’ é o escambau.

– Naomi. Ligue para Danny. Mandarei os textos e as fotos para você na parte da manhã.

Joe desligou antes que ela lhe desse mais aborrecimentos e colocou o celular em cima da mesinha de centro. Demi não tinha mexido um centímetro. Ela provavelmente ficaria furiosa com ele por mandar alguém em seu lugar, e Joe não tinha ideia do que fazer em relação às páginas do blog no dia seguinte, porém, de jeito nenhum ele iria acordá-la. Agora não.

Demi precisava descansar. Haveria outras estreias. Ele usaria a história a seu favor. Na verdade… ele tinha o ângulo perfeito.

Tome isso, Naomi.

Joe criaria uma história no dia seguinte, mas para hoje à noite, Demi era só dele.

DEMI OUVIU o latido de um cachorro e, ao mesmo tempo que era um cachorro de verdade latindo, também era um cão que podia ser afastado de uma vez por todas. Um cachorro na televisão. Mas ela não abriu os olhos, ainda não. Estava gostando daquele lugar, o intervalo onde não havia nada desagradável e onde nenhum alarme iria intrometer. O perfume sutil e amadeirado de Joe a fez suspirar e sorrir. Ele sabia como usar perfume, não era como alguns dos caras do trabalho que tomavam banho de colônia. Havia sempre um indício do cheiro de homem em Joe, e essa era a melhor parte.

Ela se remexeu um pouco, a cabeça num ângulo estranho e não era o travesseiro dela mesmo, e oh. Estava escuro, muito escuro. A janela de Joe estava bem ali, do outro lado da mesinha de centro e atrás da televisão imensa. Já era tarde. Errado. Tudo errado.

– Você acordou.

Ela não conseguia enxergar muito bem já que alguns de seus cílios postiços estavam grudados na bochecha, mas olhou em direção à voz de Joe.

– O que está acontecendo? – Por mais agradável que fosse sentir o peito dele, ela o empurrou, até que seus pés estavam no chão e ela estava sentada como uma pessoa de verdade. – Que horas são?

– Um pouco mais de 21h.

– Nove da noite? Ai, Deus, a estreia foi cancelada? Será que aconteceu alguma coisa ruim? Está todo mundo bem?

Joe riu enquanto esfregava o próprio ombro, aquele no qual ela estivera aninhada.

– Está tudo bem.

– Nós devíamos estar no teatro às 18h.

– Você estava cansada.

– Eu estava… – Demi arrancou os cílios, que ficaram parecendo duas aranhas na palma da mão dela. Quando ela olhou para Joe, ele ainda estava esfregando o braço, sacudindo-o. Provavelmente ela dormira em cima dele o tempo todo. Durante horas. Ele havia afrouxado a gravata e o botão superior da camisa também. O apartamento estava mais escuro porque Joe não havia acendido mais luzes. Ela perdera o evento no tapete vermelho. E ele permitira isso.

– Eu não entendo.

– Aposto que você está morrendo de fome – disse ele enquanto se levantava. – Só sei que eu estou. Que tal comida tailandesa? Talvez um pouco de sopa Tom Yum?

– Espere. – Demi levantou a mão para detê-lo, mas foi a mão que segurava os cílios. – Espere. Explique, por favor. Por que estamos aqui? Por que eu estava dormindo?

– Eu já expliquei a você. – Ele se virou para sair.

– Não, você não explicou. – Ela se levantou. A cabeça podia estar confusa e provavelmente estava um bagaço, mas ia obter uma resposta de qualquer jeito. – Por que você não me acordou?

Joe continuou seu trajeto até a cozinha, o paletó do smoking balançando, solto, e ela o imaginou tirando-o lentamente, vendo aquelas calças perfeitamente cortadas caindo.

Os saltos estalavam no chão e faziam Demi se encolher a cada passo. Caramba, aqueles sapatos eram instrumentos de tortura. Falando nisso, o vestido, o vestido maravilhosamente escultural, agora parecia uma folha mal dobrada. Sveta ia matá-la. – Joe!

Ele fez uma pausa. Virou-se. Sorriu para ela.

– Haverá outras estreias. Prometo. Vou compensar você por isto.

– Você não perde compromissos. Nunca. Eu tenho lido seu blog todos os dias desde sempre, e você sempre está lá. Mesmo quando não está, você tem um bom pretexto. Como desastres naturais. E não um braço preso debaixo de uma pessoa dormindo. Então… que diabos?

Joe suspirou. Deus, ele realmente ficava lindo naquele smoking.

– Tire os sapatos. Dói só de olhar para eles. – Ele continuou andando até a cozinha, e Demi continuou a segui-lo, com a dor em seus pés fazendo-a piscar.

– Na verdade – disse ele, sem se dar ao trabalho de virar –, apenas vista algo confortável. Vamos comer. Você vai ter uma boa noite de descanso e eu também. Vamos voltar à loucura amanhã.

Eles chegaram à cozinha propriamente dita e ele acendeu as luzes. Os olhos de Demi levaram um instante para se adaptar, vendo então que ele estava segurando um punhado de cardápios de entrega. Tudo parecia torto.

– Comida tailandesa? – indagou ele. – Chinesa? Pizza? Pães e bolos? Há um restaurante indiano fantástico aqui perto que faz um frango tikka masala sensacional.

Demi inalou, notando que realmente precisava escovar os dentes, e que ainda estava completamente perplexa com tudo que tinha acontecido desde que acordara.

– Tanto faz – disse ela, dando de ombros. – Contanto que não tenha coentro, eu vou gostar. Já volto.

Ela tirou os sapatos antes de chegar à sala de imprensa. O vestido ficou no hall de entrada. Quando ela chegou às prateleiras de roupas, já havia decidido usar um dos robes, porque, caramba, ela queria estar confortável, mesmo que precisasse se vestir para ir para casa mais tarde. Contudo, não escolheu um robe minúsculo, porque não queria que Joe pensasse que ela queria aquilo. Eles não faziam aquilo. Ela já havia decidido.

Além disso, havia robe preto longo particularmente bonito com uma garça azul desenhada nas costas cujo tato era como o paraíso sobre a pele nua, e que cobria mais partes do que o vestido fora capaz. Ela nem sequer se importa com o fato de ele arrastar no chão. E daí que ela não era uma amazona? Ela era compacta. Eficiente. Ficava muito mais confortável em assentos de avião.

O banheiro era próximo, e ela entrou num debate interior sobre manter a maquiagem que tinha exigido tanto tempo e trabalho para ser aplicada, mas no final decidiu que não. Demorou mais tempo do que deveria, mas valeu a pena para sentir-se limpa e voltar a ser ela mesma.

Demi olhou mais uma vez para o espelho e parou. Não fazia sentido Joe não tê-la sacudido até acordá-la e eles estarem ali em vez de no Radio City Music Hall. O evento no tapete vermelho já havia terminado há tempos, e essa era a parte importante… e não assistir ao filme. Mas haveria uma festa depois, à qual eles poderiam ter ido.

Era altamente improvável que o pretexto dele de que ela estava “cansada” fosse o verdadeiro motivo de não terem ido. Não, devia haver algo maior em jogo, mas ela estava muito confusa para pensar nisso agora.

O que ela deveria fazer era vestir-se, ir para casa e dormir, para que, quando chegasse no escritório amanhã, recuperasse o atraso em seu verdadeiro emprego e assim colocar um ou dois neurônios para funcionar.

Por outro lado, uma garota precisava comer. E era extraordinário poder comer com Joe sem uma centena de pessoas ao redor. Sem precedentes. Eles estavam na correria há dias, mas parecia meses, se encontrando sempre rapidamente e sob a luz ofuscante dos flashes. Os únicos momentos verdadeiramente pessoais tinham sido na cama dele, no Dia dos Namorados, ocasião na qual ela não tinha permissão para pensar, e na noite anterior, na limusine. Ela havia passado o dia pensando naquela conversa deles. Não só no quão diferente seus mundos eram, mas também no modo como ele se abrira para ela. Foi como se Demi o tivesse visto nu outra vez.

Dane-se, ela queria. Comer com ele. Conversar com ele. A sós.

A pulsação dela acelerou e a onda de excitação que lhe percorreu o corpo só por pensar no que viria a seguir a fez sair correndo do banheiro para poder jantar. Era só o coração dela em risco, afinal. E Demi não admitira para ele, dentre todas as pessoas, que queria ter seu coração partido por homens insensíveis usando belos ternos?

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Desculpem a demora. Fiquei presa nuns trabalhos do colégio.
Último da maratona.
xoxo

27.9.15

Escolha - Capitulo 10 MARATONA (4/5)


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A ESTILISTA, Sveta Brevda, era alta, maníaca e magrela como um cachorro galgo, e ela brandia suas opiniões com punho de ferro. A primeira parada, na Dior!, ensinou Demi a se despir rapidamente, deixar a postura ereta e manter a boca fechada.

Ela perdeu o constrangimento de ficar nua lá pela sétima loja. Não importava quem estivesse no provador. Vendedores.

Amigos de vendedores, homens, mulheres.

Provavelmente até o cara da entrega de pizza estava parado na saída, balançando a cabeça enquanto a observava deslizar em um vestido colado ao corpo e usando absolutamente nada por baixo, como se ele estivesse escolhendo cortinas. Mas as roupas eram…

Demi não tinha adjetivos para classificar. Isso deixava claro o quanto as roupas eram fantásticas. E os acessórios? Meu Deus, ela tinha morrido e ido para o céu. Mesmo que os sapatos torturassem seus pés, que não conseguisse respirar nos dois vestidos que eram um número menor do que o seu, ou estivesse sendo virada, inclinou-se, estimulada a desfilar como um pônei de exposição, pois a tortura valia totalmente a pena, porque ela poderia ficar com tudo.

Mesmo considerando a parte em que a assistente grisalha da Prada enfiou a mão no corpete e levantou os seios nus de Demi, agora eis aí um belo relato para o blog.

Tudo isso feito com a velocidade de uma montagem de cenário: táxis eram chamados segundos antes de elas saírem, as seleções de roupas eram feitas de forma sobrenatural e perfeita, e ela finalmente entendeu o valor de um bom estilista.

A única coisa que faltava era Joe. Demi continuava a querer lhe contar as coisas, para ver a reação dele, sentir a mão dele em seu cóccix, mas ele estava trabalhando, e ela também. Só que aquele trabalho a fazia sentir-se como uma rainha de baile e como uma verdadeira modelo, mesmo com todas as roupas necessitando de bainha. Mas, principalmente, como alguém que havia cometido um erro que seria corrigido momentaneamente.

Joe não era do tipo que cometia erros desta magnitude. No entanto, teria sido melhor se eles tivessem conversado. Demi mandou um torpedo para ele enquanto estava em um táxi, o único momento em que conseguiu parar para fazê-lo, mas Joe estava em reunião, de modo que a resposta teria de esperar.

JOE PRECISAVA trabalhar para manter sua expressão suave, falar como se a visita de seus pais não tivesse sido algo indesejado e uma enorme coincidência, considerando a conversa que ele tivera com Rebecca na noite anterior. Joe sempre gostara tanto de Rebecca. Ela era uma aliada, alguém para lhe dar cobertura, sua amiga. A traição realmente foi um golpe duro. Droga.

– Nós não estamos aqui para tomar muito do seu tempo, Joe – disse o pai dele, com o olhar examinando a sala de estar. Ele e seus pais estavam ocupados catalogando todas as mudanças, as novas luminárias, a chapa que substituíra os tijolos ao redor da lareira. Eles só tinham ido à casa de Joe algumas vezes ao longo dos anos. Ele sempre preferia recebê-los em território neutro, embora tivesse ido às reuniões familiares, normalmente uma vez por ano, onde quer que estivessem sendo realizadas. Joe não havia ignorado seus pais completamente.

– Você sem dúvida deve ter notado que Andrew está começando sua campanha e levando isto bem a sério – disse o pai com a voz modulada e suave. Essa tinha sido uma das primeiras lições dos Winslow. Fale suavemente. Faça-os escutar. – Estamos muito satisfeitos com os endossos que ele tem recebido, mas o comitê está fazendo o orçamento da publicidade, e naturalmente o nome do seu grupo de blogs surgiu.

Então aquilo não tinha sido coisa de Rebecca. Joe não conseguia distinguir o tom de seu pai. Mais uma lição aprendida quando ele era garoto. Nunca entregar nada, nem na expressão, nem no tom, nem na postura.

Os Winslow eram a imagem da elegância por excelência. Os pais de Joe não usavam nada pomposo, porém tudo era meticulosamente escolhido para evocar o status deles. Os relógios mais caros, sapatos artesanais italianos, alfaiataria das melhores mãos de vários países.

Os pais dele impunham respeito, e faziam todo mundo de fora da família sentir-se pequeno e insignificante. Educados ao extremo, eles irradiavam poder e privilégio.

Cristo, o que eles tentaram fazer com ele. Joe tinha certeza de que não iriam mencionar que esta na verdade deveria ser a campanha dele caso ele não tivesse sido tão rebelde.

– Gostaríamos muito de utilizar a relação familiar nos dois blogs mais adequados para este tema, o Dollars e o NYPolitic.

– Não – disse Joe. – Não vou promover a pauta da família em meus blogs. É impróprio, considerando que acho Andrew uma escolha monumentalmente ruim para o senado.

O celular de Joe vibrou novamente, e ele o tirou do bolso e encontrou mais uma mensagem de Demi. Não podia lê-la agora.

– Nós não estamos pedindo mudanças editoriais ou seu apoio pessoal – disse a mãe dele. – Só queremos espaço em destaque para propaganda. Isso significaria uma receita expressiva para você.

Joe olhou para sua mãe, sabendo que estava irritada por ele não ter lhes oferecido bebidas. Seria apenas sinal de educação, a coisa certa a se fazer, mesmo para hóspedes indesejados. Na casa dela, nada disso teria acontecido. Ele sorriu quando olhou ao redor. Aquele era o lar dele.

DEMI E seu pelotão pararam novamente na Madison Avenue, desta vez para ver os sapatos. Ou talvez uma bolsa, ela não tinha certeza. E aquele sotaque bielo russo de Sveta não ajudava, era quase ininteligível. Demi passava a maior parte do tempo fazendo sim com a cabeça e tentando acompanhar e não se deixar humilhar nos templos da moda: Versace, Chanel, Anna Sui. Eram aqueles tipos de lojas que só tinham alguns itens expostos artisticamente num esnobismo minimalista. Onde recepcionistas deslumbrantes serviam um champanhe excelente e conheciam todos os detalhes do design e da fabricação das roupas em exposição. A música era sempre… interessante. Nada que você ouviria dentre as dez mais do rádio, porque isso poderia ser conseguido nos shoppings de New Jersey.

As etiquetas de preço eram de fazer hiperventilar. E mesmo que as seleções para Demi não fossem o top dos tops de linha, elas ainda eram extravagantemente bizarras. Na verdade, Demi estava em outro mundo, na vida de outra pessoa. O mundo de Joe. Como ela posou para mais uma fotografia usando um par de saltos que, provavelmente, a deixariam aleijada depois de cinco passos, ela lembrou a si que era uma mera visitante. Uma turista. Nada mais.

O PAI de Joe se levantou e nem mesmo foi capaz de controlar a forma como a pressão arterial subiu, avermelhando seu rosto.

– Andrew é da família, Joseph. Ele é um Winslow. Temos permitido que você defina o seu próprio curso, se divirta, mas você está interferindo em nosso legado. Não vou aceitar isso.

Joe se aproximou da porta, foi até o armário onde pendurara os casacos dos pais.

– Hum. É bom saber que algumas coisas não mudam. Vocês continuam presos à crença absurda de que têm alguma influência sobre mim ou minha vida. É bom manter nossas tradições.

– Joe – disse a mãe, tão ofendida quanto o pai de Joe, porém menos corada. – Já chega. Nós somos seus pais.

Ele se aproximou e estendeu o casaco à mãe.

– Obrigado pela visita. Espero que tenham tido boas férias em St. Barts.

Ela olhou para o marido, que pegou os dois casacos das mãos de Joe. Não chegou a rasgá-los no tranco. Mas foi por pouco.

– Nós nos lembraremos disso, Joseph – alertou o pai.

– Espero que sim. – Joe os conduziu até a porta. Quando foi fechada atrás deles, ele ainda estava tremendo de raiva. Precisava esfriar, relaxar a respeito daquela visita, a respeito das mensagens. Queria que Demi estivesse ali.

Ele nunca havia mencionado seus pais a Demi, nem perguntara sobre os dela. Eles não eram amigos. Sim, Joe ficava à vontade com ela. Tudo bem, isso não acontecia mais com a mesma frequência. Mas não. Ele não ia falar com Demi sobre seus problemas paternos. Jesus.

Pegou o telefone celular e clicou no primeiro dos torpedos dela. Quando chegou ao seu escritório, Joe estava sorrindo.

FINALMENTE, ELES tinham roupas mais do que suficientes para Demi enfrentar pelo menos uma semana de festas. A mais extravagante era o vestido Marchesa para a estreia do filme Cortesã. O vestido de noite, preso com alfinetes por um bando de costureiras para caber no corpo dela, estava tão fora de sua alçada que chegava a doer.

Eram quase oito da noite quando o táxi chegou na casa de Joe. Sveta não precisa se anunciar. O pessoal da recepção assentiu respeitosamente quando os porteiros a ajudaram a trazer sacolas e mais sacolas, caixas e mais caixas. Demi se apoiou na parede espelhada do elevador, em seguida inspirou profundamente algumas vezes antes de elas entrarem na casa de Joe. O olhar dela foi imediatamente atraído para o corredor que levava ao quarto dele, e a realidade do novo acordo entre eles a deixou aflita. Em seguida, Joe entrou no átrio, e tudo o mais ficou vago aos sentidos dela.

Ele sorriu abertamente quando os olhares de ambos se encontraram. Demi estremeceu quando ele se aproximou, sabendo que ele iria tocá-la, e que ela estava autorizada a retribuir o toque, mesmo diante de Sveta e dos porteiros. Que bênção confusa. Ela podia tocá-lo, mas não tê-lo para si.

Demi não se arrependia de sua decisão de manter o relacionamento fora do quarto. Era a decisão acertada, o jeito maduro de prosseguir. E também era uma porcaria.

– Isso é coisa demais – disse ela, enquanto encarava os olhos escuros de Joe. Ele acariciou os braços dela, e as palmas pairaram pela pele até os pulsos, depois subindo novamente. Ele a beijou, na boca, sim, mas no momento em que houve um indício de calor, ele recuou. Demi se perguntou para quem estava sendo a exibição daquele beijo. Sveta? O restante da equipe? Tinha que ser.

– Não é – disse ele. – Faz parte do show.

– Joe, eu vi as etiquetas de preço.

Ele sorriu.

– Quase tudo foi de graça.

– Nada é grátis. Eu sei que há uma permuta, mas nem mesmo sou famosa.

– Você vai ser.

– Em uma semana? Duvido.

Ele a conduziu mais para dentro de seu apartamento enquanto Sveta levava os porteiros por um corredor, os saltos estalavam tão rapidamente que Demi se perguntava se seria rude sugerir a ela passar a beber café descafeinado.

– Você não vai estar na capa da People – disse Joe –, mas vai ser conhecida na cidade, onde importa.

Ele fez uma pausa, com a palma da mão quente na pele de Demi. Quando voltou a falar, a voz soou meio apertada, tal qual os dedos dele.

– Você está com um Winslow agora, e os Winslow são o centro do poder nesta cidade, você não sabia?

Demi parou. Não tinha certeza do que estava acontecendo, mas sentia-se desconfortável. O que tinha acontecido durante aquela reunião? Joe dispensou as dúvidas e inseguranças dela, disse-lhe que estava tudo bem, mas obviamente aquele não era o caso.

– Todas as peças de roupa vão ter um monte de milhagem nos blogs – explicou ele, soltando Demi. A voz tinha mudado de volta para algo menos estridente, algo mais Joe. – Além de suas barras laterais, tenho alguns colaboradores de moda que vão linkar você nas próximas semanas. Garanto que vai haver um monte de versões das peças na Macy’s em abril.

Demi forçou um sorriso, mesmo sabendo que ele estava chateado, que aquele último discurso era um modo de ele conseguir se reorientar. No entanto, Demi não tinha o direito de pedir a ele para se abrir com ela, para lhe dizer qualquer coisa coisa sobre sua vida privada.

– Já trabalhei num primeiro rascunho do material que será montado por uma equipe de designers de primeiro escalão.

– Mal posso esperar para ver.

O estalo dos saltos de Sveta anunciava sua entrada na sala de estar.

– Venha se vestir agora.

Demi verificou com Joe.

– É uma sala de imprensa. Usada para esse tipo de coisa.

– Você arruma todas as suas mulheres?

Ele abriu a boca, mas Demi correu para acompanhar Sveta, não querendo ouvir a resposta.

A sala em si se entregava, no entanto. Havia espelhos, estações de cabelo e maquiagem, racks de roupas. Muitas prateleiras continham roupas masculinas, mas havia peças femininas também, todas deslumbrantes. Em concordância chocante às boas maneiras, havia um biombo num canto. E também havia gente. Cinco pessoas: um delas era um fotógrafo que Demi vira na festa da Mercedes. Seu assistente estava acertando a iluminação. Ao lado, havia painéis gigantes em rolos para mudanças de cenário, peças de tecido, prontos para serem posicionados para qualquer tipo de fotografia.

Havia até mesmo uma máquina de costura num canto, a qual Demi desejava examinar. Provavelmente era a Ferrari das máquinas de costura e ela ficou com tanta inveja de chorar por uma semana.

– Troque de roupa – disse Sveta, segurando o vestido roxo com decote em V adquirido da coleção Victoria Beckham.

Demi obedeceu, até parece que teria a ousadia de fazer qualquer outra coisa. Em segundos ela tirou sua roupa de trabalho velha e entrou no vestido magnífico, até porque a única roupa de baixo era uma calcinha fio dental barata. Bege, de propósito.

No momento em que Demi saiu de trás do biombo, foi coberta por um avental, sentou-se em uma cadeira e foi atacada por um monte de mãos tocando seu cabelo, seu rosto, suas unhas. As luzes deixavam tudo mais intenso, mais quente, mais assustador, e quando alguém disse “Está aberta”, ela abriu a boca, e daí alguém puxou seu cabelo para que ela ficasse na posição certa.

Sua intimidade nunca tinha sido tão invadida. O cheiro de muitos hálitos e colônias passou de enjoativo para desagradavelmente pegajoso, e se aquilo não acabasse logo, ela ia ter que tomar providências, impedi-los de alguma forma.

– Ei.

A voz de Joe cortou o ambiente e em dois ou três segundos tudo que a tocava, escovas, dedos, lixa de unha, curvex, se afastou. Demi suspirou de alívio, e notou que estava segurando os braços da cadeira de maquiagem tão firmemente que os nós dos dedos estavam brancos.

Ela observava Joe no reflexo do espelho, sentia a mão dele em seu ombro. – Eu nem sequer perguntei – disse ele. – Você já comeu alguma coisa hoje?

– Eu almocei.

– Mas isso foi o quê, oito, nove horas atrás?

– Por aí.

Os olhos de Joe semicerraram-se no espelho e ele se virou para Sveta.

– Quanto tempo até ela ficar pronta?

– Cinco minutos. Unhas da mão esquerda. Rímel. Batom.

– Não passe o batom ainda. Termine o restante. Imagino que você também não tenha comido. Não, não olhe para mim desse jeito, você precisa comer alguma coisa. Tem comida na cozinha. O suficiente para todo mundo.

Antes de se voltar para Demi, Joe lhe apertou o ombro e sorriu.

– Não vai ter nada pegajoso ou que escorra, mas sugiro manter o avental. Só para garantir. Podemos conversar sobre a festa de hoje à noite enquanto comemos.

Ela assentiu com a cabeça. Calmamente. Tocada pela consideração dele. Ela não havia percebido que seu pânico era a fome. Principalmente fome.

Incapaz de se virar, Demi ainda conseguia enxergá-lo do espelho quando Joe foi até a prateleira de ternos, pegou um e saiu. Da porta, ele se virou e piscou para ela.

Antes que ela pudesse ao menos sorrir, sua mão foi agarrada e a câmera começou a clicar sem parar.

A MELHOR parte depois do evento foi Demi, mas mesmo ela não fora distração suficiente para impedir Joe de pensar em seus pais. Tinha ligado para Rebecca, mas ela não retornara, e os seus pensamentos ficaram revolvendo naquela tarde. Como eles ousavam achar que ele seria tão sem moral e passaria dos limites promovendo a campanha dos Winslow em seus blogs? Deus do céu, aquilo o irritou.

Ele olhou para cima quando o garçom do Pyramid Clube chegou com vodca. Ele tinha deixado sua atenção dispersa de novo, embora nesse momento não houvesse muito mais a ser visto. Demi estava de pé contra a parede de tijolos pretos, linda com seu vestido roxo e saltos impossíveis, cercada por jornalistas experientes e aspirantes à fama.

Joe tinha avisado que isso iria acontecer. O texto do blog desta manhã assegurara a Demi o posto de celebridade de segundo escalão, o que significava “famosa por associação”. No entanto, ele tinha a sensação de que não ia levar muito tempo para ela fazer sucesso por conta própria.

A maioria das celebridades de verdade estavam amontoadas do lado de fora, no fumódromo, congelando seus traseiros enquanto falavam mal de todos lá dentro, e Joe deveria se juntar a elas, ele seria capaz de tolerar a fumaça durante alguns minutos. Mas Demi era muito mais atraente.

Ela ergueu o copo de suco de abacaxi, mas foi seu sorriso radiante que informou a Joe que ele tinha feito a escolha certa.

– Está se divertindo? – perguntou ele depois de se esquivar de bebidas e bêbados para chegar até ela.

– Estou meio atordoada – disse ela. Ou melhor, berrou. O nível de ruído nesse tipo de evento ia acabar deixando Joe surdo antes de chegar aos 40 anos.

– É tarde. Não vamos demorar a ir embora.

– Quando você quiser.

Na verdade, não estava tão tarde. Tinha acabado de passar da meia-noite. Mas Demi tinha trabalho a fazer na parte da manhã, precisava escrever o texto a ser linkado na barra lateral. E Joe queria algum tempo a sós com ela, no qual não precisassem ficar falando sobre quem deveria ser procurado, quem deveria ser evitado. Ele estendeu a mão.

Os flashes pipocavam enquanto eles seguiam para a saída. Não foi uma surpresa terem sido interrompidos várias vezes, entretanto a limusine não demorou muito a chegar.

Uma vez lá dentro, Joe entrou e esperou que Demi sentasse ao lado dele. Em vez disso, ela se encolheu contra a outra porta.

– Você está bem?

– Tudo bem.

– Você parece… fria.

– Não – disse ela, puxando a saia, evitando o olhar dele. – Estou bem. Talvez você pudesse ligar para a portaria do seu prédio e perguntar a eles a chegada estimada de um táxi por lá…?

– Nós vamos levar você para casa.

– Minhas roupas estão na sua casa.

– Você está usando suas roupas.

Ela olhou para ele.

– Verdade. Eu tinha me esquecido.

Joe se aproximou dela, preocupado.

– O que está acontecendo, Demi?

Ela cruzou as mãos no colo, com força.

– Eu ia te perguntar a mesma coisa.

– O quê?

– Você esteve nervoso durante a noite toda. Está certo que não te vi em muitos eventos, mas nas vezes em que vi você pareceu ser a pessoa mais relaxada do lugar. Hoje não. Na verdade, senti que tinha alguma coisa errada com você.

Joe se afastou dela, nem um pouco confortável por saber que havia mais uma pessoa capaz de decifrá-lo. Não eram muitas que conseguiam isso. Naomi. Rebecca. Seu colega de quarto da faculdade. Joe gostava que fosse assim. Foi necessário muito tempo para cultivar a imagem ideal para seu trabalho, e Demi, de Algum Lugar em Ohio, já havia perfurado seu exterior cuidadosamente elaborado de mais formas do que Joe gostava de pensar. Ele cogitou mudar de assunto durante o restante do trajeto, deixando claro para Demi que ela havia ultrapassado um limite. Em vez disso, ele encontrou o olhar dela.

– Meus pais vieram aqui hoje.

Ela certamente pareceu assustada diante da confissão dele. Mas não foi a única. Mal conhecia aquela mulher. E no entanto… – Eles queriam que eu fosse para a política – contou ele. – Desde que eu estava no colégio.

– Sério?

– Os Winslow têm grande influência política ao longo das gerações. Era hora de preparar um novo senador para Nova York. Minha família é formada por planejadores de longo prazo.

– Obviamente você não estava entusiasmado com a perspectiva…?

– Não. Não estava. Mas para eles isso não importava. Desde cedo fui ensinado que tinha a obrigação de trabalhar num cargo público. Que a nossa vida privilegiada significava que devíamos nos dedicar a uma causa maior, que o que desejávamos era imaterial. Isso soa muito bem na teoria, nobre e filantrópica. Mas tinha mais a ver com manter a família na camada superior da sociedade do que com filantropia. Meu destino deveria incluir a faculdade de Direito, um perfil no periódico Harvard Law Review, uma empresa de prestígio, um escritório municipal, um cadeira no Congresso, e então o Senado. Levando o estandarte da herança Winslow.

– Uau, não consigo enxergar você como advogado. Político então, nem pensar.

Ele deu um sorriso irônico.

– E você me conhece há o que, uma semana? O que isso lhe diz sobre minha família? – Joe olhou pela janela por um segundo. Esse negócio de confissão era tão esquisito quanto usar as roupas de outra pessoa. – Não é que eu não acredito em cargos públicos, eu acredito. Eu levo isso a sério. – Ele encarou Demi novamente. – Só que eu não queria era viver uma mentira.

– Então você resolveu se tornar um magnata da internet?

– Mais ou menos – disse ele, consciente de que seu meio-sorriso automático dizia mais do que a maioria de suas conversas com as mulheres com quem dormira. – Eu não imaginei que os blogs fossem se tornar tão grandiosos. Não estou reclamando. Eu estava no lugar certo e na hora certa. Eu queria ser independente.

– Funcionou. Você é. E muito bem-sucedido.

– Sim. Funcionou. E vai continuar a funcionar. – Ele estudou as próprias mãos. Joe era o único que deveria desconcertar suas companhias. Era muito bom nisso, mas Demi não estava nem perto disso, então fosse o que fosse, aquilo não era um jogo de poder. Não, ele havia aberto mais uma porta para ela. Demi era diferente, a exceção da regra. Deixava-o tenso.

Permitir que seus pais mexessem com ele era francamente constrangedor. Na maior parte do tempo, eles não conseguiam isso. Joe tinha acabado de ser pego de surpresa, só isso. Mas admitir isso a Demi? Jesus.

– Então a visita deles foi desagradável?

Joe estendeu a mão e segurou a de Demi. Ela estava fria, caramba.

– Foi breve – respondeu ele. – Deixei minha opinião bem clara. Eu já disse o quanto você está bonita hoje à noite?

Ela olhou para ele, para as mãos entrelaçadas de ambos, e então de volta para ele.

– Sim, várias vezes. Obrigada.

– Estou deixando você desconfortável?

Demi suspirou quando puxou sua mão livre. – Não é que eu não queira…

Joe assentiu, se recostou no banco. Incrivelmente cansado de repente. Talvez ele estivesse ficando doente.

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Último.
Comentem.
xoxo

26.9.15

Escolha - Capitulo 9 MARATONA (3/5)


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– PROVE ISSO e me diga se você acha que precisa de mais sal. – Rebecca se afastou de modo que Lilly pudesse experimentar a sopa.

Ela obedeceu e fingiu uma tosse.

– Engraçadinha. – Depois de acotovelá-la na cintura de leve, Rebecca viu seu primo em pé à porta da cozinha do porão da Igreja de St. Mark. Ele não estava olhando para ela, ou, ela imaginou, procurando por ela. O olhar dele estava em Demi.

Ainda havia muitas risadas misturadas ao vapor que pairava acima do fogão industrial. Rebecca estava fazendo uma panela gigantesca de sopa de ervilha, Lilly estava cozinhando chilli, e mesmo com aquele monte de panelas e o forno bem quente, o porão continuava frio. Aquilo não duraria muito tempo, no entanto, não se acontecesse o que Demi achava que iria acontecer.

Era difícil desviar o olhar de Joe. Ele estava com a guarda tão baixa como ela jamais tinha visto. Como um adulto, pelo menos. Havia uma consciência aguda nos olhos dele, uma concentração que falava de uma fome que nada tinha a ver com a sopa de ervilha.

Uma de suas mãos estava apoiada no batente da porta, a outra segurava papéis. Ele estava elegante em seu casaco sob medida: azul-marinho, no comprimento das panturrilhas, perfeitamente moldado. Tal qual o próprio Joe.

O sujeito sabia o que ficava bem nele, sabia que aquele tipo de visual o fazia se safar, e o que faria as pessoas ao redor erguerem as sobrancelhas. Nada era despropositado. Nem on-line, nem pessoalmente, nem em uma caminhada até a mercearia da esquina. Vê-lo desejando Demi tão descaradamente era como vê-lo nu. Não que ela tivesse qualquer experiência pessoal com isso, mas estivera com Joe em situações familiares, momentos particulares de pesar, de apuros, de fracasso, de sucesso, e isso era novidade.

Rebecca sorriu para o próprio brilhantismo. Ela era incrível. Sabia que ele ia gostar de Demi. E que Demi iria gostar dele, mas mesmo Rebecca, no auge de sua convicção, não tinha adivinhado que eles iriam tão longe tão depressa.

Ela teria feito um “toca aqui” consigo mesma se pudesse, por ser tão esperta. Ninguém na família acreditou que Joe fosse se apaixonar. Ele sempre estivera com muitas mulheres, nunca com apenas uma mulher. Não Joe. Seu carrossel não tinha parado de girar desde a puberdade, e ficava entediado rapidamente. Nada poderia ter sido mais perfeitamente adequado ao seu primo nesta era de gratificação instantânea. Joe nasceu para isso, respirava isso, trabalhava com isso. Tudo muito rápido, e o restante era para os fracos e sem brilho.

Demi não era maçante, para dizer o mínimo.

Rebecca se virou para a amiga. Tinham tentado se falar por telefone durante o dia todo, e Lilly apareceu logo depois que elas chegaram à cozinha, então tudo que Rebecca sabia era que Demi tinha ido com Joe a uma festa super chique na noite anterior, um belo segundo encontro, e havia escrito um relato em primeira mão sobre a tal festa no blog esta manhã.

Se isso não fosse um testemunho da genialidade de Rebecca, então ela não sabia mais o que poderia ser.

As coisas ficaram realmente interessantes quando Demi se virou e avistou o homem de pé à porta.

Se ao menos a porta ficasse mais perto da área de preparação da comida. Era difícil saber para onde olhar. Demi agora era uma demonstração da mulher moderna sob completa luxúria. Ela aprumou as costas, prendeu a respiração, exibindo o peito à luz mais positiva possível. O suéter barato de cashmere que usava abarcava os seios perfeitamente, e Rebecca sabia que Joe estava tendo um pequeno ataque cardíaco diante deles.

Em seguida, as bochechas de Demi foram tomadas por um rubor. Meu Deus, nem Renoir poderia ter pintado algo tão habilmente. Ela arregalou os olhos, entreabriu os lábios e seus feromônios certamente começaram a gotejar.

Os únicos sons eram o borbulhar lento vindo do fogão, o silvo do aquecedor. Mesmo Lilly, que tinha vindo hoje à noite para beber alguns drinques e ter a companhia das meninas depois de cozinhar, captou que alguma coisa estava acontecendo.

Rebecca se voltou para Joe novamente, e ele deixou a mão cair, dando um único passo para dentro da cozinha. Ele parecia estar lutando para não sorrir. A curva começou a se formar nos cantos dos lábios, que logo ficaram sérios de novo, mas, um segundo depois, o sorriso reiniciaria.

De volta a Demi, e era como a partida de tênis mais lenta de todos os tempos, a bola invisível bem dentro dos limites da quadra, os arremessos para frente e para trás lânguidos e elétricos ao mesmo tempo. A sopa de Rebecca iria queimar em um minuto caso ela não mexesse a panela. – Joe – disse ela. – E aí?

Rebecca quase riu pelo modo como ele se sobressaltou com a voz dela. E quando ela olhou para Demi, o rubor se espalhou pelo rosto e pelo pescoço, e ela começou a piscar sem parar.

– Vim para mostrar a Demi o blog dela. – Ele ergueu os papéis, como se a prova fosse necessária.

– Vai ser meio difícil ela enxergar de lá do outro lado da cozinha.

O sorriso de Joe finalmente se libertou, assim como suas pernas. Ele entrou, cruzando o cômodo até Demi.

– Aquele é o Joe Winslow – sussurrou Lilly, e Rebecca não a ouvira se aproximando. Felizmente ninguém viu o sobressalto de Rebecca porque os olhares estavam no centro do palco. Até mesmo o de Lilly.

– Sim, é ele.

– Por que Joe Winslow está na nossa cozinha? Com Demi?

– Porque ela está saindo com ele.

– O quê?

O questionamento veio em voz alta. Muito alta. Alto o suficiente para suspender toda a ação. Lilly sorriu e acenou de forma constrangida.

– Lilly Denton. Oi.

– Joe Winslow – cumprimentou Joe. – Oi.

O momento passou. Rebecca arrastou Lilly para o fogão, e Joe voltou a circundar Demi.

– Ela está saindo com ele? – perguntou Lilly, sua voz era um sussurro outra vez. – Desde quando?

– Há pouco tempo.

– Como você sabe disso?

– Obviamente você não lê o blog dele.

– Eu leio, mas estive muito ocupada nos últimos dias. – Lilly lançou mais uma olhadinha furtiva. – Isso vai me ensinar a colocar o trabalho em primeiro lugar.

– Tudo bem, não é por causa do blog dele, eu sei porque Joe é meu primo, e seu chilli está queimando.

Ambas pegaram colheres de tamanho industrial e começaram a mexer as panelas como as bruxas em Macbeth. – Sério, que diabos? – disse Lilly.

– Eu armei o encontro deles.

Lilly, que era um mistério para Rebecca, uma amizade em construção, mas cautelosa, tão cautelosa, abriu a boca, daí deve ter repensado. No entanto, ela se aproximou um passo de Rebecca.

– Explique. Em detalhes, por favor. E lembre-se, estou segurando uma colher imensa e juro por Deus que vou usá-la se você continuar sendo enigmática.

– Eu não costumo armar encontros – respondeu Rebecca. – Especialmente para Joe porque tem um monte de malucas correndo atrás dele, mas ele e Demi… eles combinam.

– Antes da troca de cartões? Durante? Porque se Joe Winslow era um cartão de troca, então quero meu dinheiro de volta.

– Você não pagou por nada.

– Rebecca.

– Certo. Ele não era um cartão. Tecnicamente.

– Saí com dois caras dos cartõezinhos. O primeiro foi um cara maravilhoso, desde que você estivesse disposta a tolerar o amor fervoroso dele pela mãe. O segundo disse que queria um relacionamento, mas suas atitudes foram completamente de um sujeito que queria um casinho de uma noite só.

– Eu sei. Meus encontros também não foram avassaladores, embora eu tenha ficado sabendo que Paulie conheceu alguém fantástico, e que o encontro de uma noite apenas de Tess se transformou em três.

– O que ainda não explica Joe Winslow – disse Lilly, franzindo a testa.

– É complicado, e vamos nos aprofundar mais no assunto quando sairmos para beber, mas se ficar falando com você, não vou escutar o que eles dizem, então vamos continuar mexendo as panelas e calar a boca.

JOE ENGOLIU em seco, se perguntando pela 50ª vez o que estava fazendo na cozinha do porão de uma igreja se movimentando de forma desastrada como um adolescente em seu primeiro encontro. Demi estava lendo as páginas do blog que ele tinha impresso, e ela teve a gentileza de não mencionar que ele não precisava vir vê-la ou imprimir as páginas, já que o blog estaria no ar na manhã seguinte bem cedo.

Já havia pedido a ela para escrever um texto biográfico curtinho e no dia seguinte já iria ao ar. Demi já tinha dado um gostinho de seu trabalho, seu primeiro link na barra lateral sobre a festa no Chelsea Piers, e a coisa poderia ter acabado ali mesmo. Mas os acessos ao blog aumentaram, e Demi recebera mais de 700 comentários em sua coluna. Muito alentador.

Então Joe prosseguiu. Na manhã seguinte, haveria mais fotos de Demi, algumas da época da faculdade, uma de Nova York usando roupas casuais. Joe tinha esperanças de que aquilo desse início a um diálogo.

O olhar dele se dirigiu a Rebecca, que foi flagrada dando um meio-sorriso, e ele tocou no braço de Demi, interrompendo sua leitura.

– Já volto.

Demi assentiu e Joe foi até Rebecca. Ele sorriu para Lilly, então se virou para a prima.

– Tem um minuto? Lá fora?

Rebecca semicerrou os olhos, mas largou a colher e o acompanhou até a porta. Uma vez do lado de fora, ela estremeceu com o frio, mas não voltou para pegar o casaco.

– Você pode me agradecer agora – disse ela. – E mais tarde. Aceito presentes também. Quanto mais caro, melhor.

– Nós não estamos namorando.

– Eu leio o NNY, bobão – disse ela.

– Você lê o que escrevo no NNY. E evidentemente você não tem falado com sua amiga desde ontem antes do almoço.

– Verdade. Vamos sair assim que guardarmos a comida no freezer.

Quando Joe enfiou as mãos nos bolsos, Rebecca fez uma careta. O desgraçado deveria ter lhe oferecido seu casaco. – Por que armou um encontro com ela? – questionou Joe.

– Por que você me trouxe aqui para morrer congelada?

Ele revirou os olhos dramaticamente e tirou o casaco com um suspiro que teria deixado uma diva da Broadway orgulhosa. Ela se enrolou no casaco pesado de lã, o forro tão luxuoso quanto a alfaiataria.

– Porque ela faz o seu tipo.

– Não, não faz. Ela não faz meu tipo nem vagamente. Você ao menos me conhece?

– Sim. Conheço. E esses esqueletos com quem você sai todas as noites são uma piada. Imagino que você possa contar em uma das mãos só as mulheres das quais gosta de fato.

– Não faz diferença se gosto delas.

– Por acaso você é um dos poucos parentes que consigo tolerar – disse ela –, mas Joe, é hora de você seguir a vida. Você está com o quê, 32 anos?

– Trinta e um.

– Já passou dos 30. Você passou sua vida mandando seus pais e nossa família para o quinto dos infernos. Já deu. Você precisa começar a viver para você, e parar de dar poder a eles.

Ele a encarou com seus olhos imensos, boquiaberto, como se o frio não fosse capaz de penetrar seu choque.

– Do que diabos você está falando, Rebecca?

– Do Naked New York. Seu blog. Não dos outros, não dos blogs legítimos. Do seu. Daquele que aborda todos os aspectos da sua vida. Se é que se pode chamar de vida.

– Estou ganhando milhões.

– Você já tinha milhões. Olha, tenho que voltar para a cozinha. Faça o que quiser, mas pense nisso, tá? Como seria se suas noites fossem repletas de coisas que você realmente gostaria de fazer? Se você saísse com as pessoas de quem realmente gostasse?

– Você é maluca. A fundação Winslow tem deixado você muito frustrada.

– Sim, bem, talvez. Ah, e lembre-se. Não estrague as coisas com a Demi, Joe. Ela pode querer fazer parte do alto escalão da moda, mas é uma pessoa muito decente. Ela não está acostumada a pessoas como nós. Pise com cuidado.

– Já falei. Nós não estamos namorando.

– Do jeito que vocês dois se olham? Dou três dias. Quatro, no máximo.

– Está muito frio aqui e eu não estou te ouvindo mais. – Ele passou por ela e Rebecca o seguiu, se perguntando como um homem tão inteligente poderia ser tão idiota.

DEMI DESVIOU o olhar da página do blog quando Joe apareceu. Ele parecia com frio, e ela notou por que Rebecca o seguiu. Ele dera seu casaco à prima. Outra coisa legal, mas não no mesmo patamar do que ela estava lendo. – Você mexeu pouco no texto – disse Demi quando ele estava na frente dela.

– Não precisei. Você escreveu um belo texto.

– Uau. – Ela folheou as páginas, parou em sua foto em Nova York. – Por que você não disse nada sobre meu cabelo?

– O quê?

– É completamente… errado.

– Você está linda – disse ele. – Foi difícil escolher qual foto usar. Todas eram ótimas.

Está bem, aquilo foi legal, legal demais.

A desconfiança de Demi deve ter ficado óbvia porque Joe lhe tocou no braço, fazendo-a encará-lo.

– Eu estou dizendo a verdade.

Ela ficou calada durante um tempinho. Não que tivesse muito a dizer, mas pareceu meio inconsistente em sua cabeça, impróprio para o que eram agora. Havia dúvidas, também, sobre o porquê de ele ter aparecido ali, o que aquilo significava, e por que diabos ela continuava a imaginar estar vendo desejo no olhar dele quando o desejo não era algo possível?

– Minha comida está no forno – disse ela.

– Claro – falou ele, olhando para ela, esperando por…?

– Depois de embalarmos tudo e guardarmos no freezer, nós vamos sair para beber.

– Nós?

– Rebecca, Lilly e eu. Quer?

– Quanta gente. Talvez pudéssemos reduzir um pouco?

Era tentador; é claro que Demi queria ficar a sós com ele, mas o fato de ele mesmo ter sugerido isso confundiu ainda mais a cabeça dela.

– A gente não tem se visto muito, por causa das festas, compromissos e tudo o mais. Entendo se você preferir não se juntar a nós.

– Não. Eu gostaria de ir, sim.

Bem, droga. Por que ele iria querer sair para beber com elas? Rebecca! Essa podia ser o motivo.

– Ótimo. Você pode nos ajudar a guardar a comida. Assim vai mais rápido.

– Formidável – disse ele, e Demi sorriu diante do tom impostado dele. – Agora que você sabe que eu preparo um chá maravilhoso, você vai me querer na cozinha para sempre.

A risada de Demi falhou, e um rubor atingiu o rosto de Joe. Ela acelerou, tanto que precisou olhar por cima do ombro para dizer:

– Não vou matar você. Prometo.

Ele parou completamente.

– Vou acreditar na sua palavra – disse ele, assumindo um tom bem-humorado, mas falhando. Demi se obrigou a se concentrar no preparo da comida, e não na confusão em sua cabeça.

O BAR não era muito vistoso. A maioria usava roupas de trabalho como Demi e suas amigas. Ela estava disposta a apostar que todos estavam se perguntando o que diabos Joe Winslow estava fazendo em um bar abaixo de chique em uma noite de quarta-feira.

E se Demi interpretara Joe corretamente, ele não parecia se importar. Chamou o táxi, insistiu em pagar pela viagem curta e, em seguida, as guiou bar adentro como se aquela fosse a próxima parada no passeio pela Semana de Moda.

As mulheres no lugar o devoravam com uma fome indisfarçável, o tipo de olhar que fariam até uma estátua corar, e Demi só conseguia pensar: era eu quem estava com ele na outra noite. Nua. Ela precisava parar com isso agora.

Eles pegaram uma baia nos fundos, e Joe sentou ao lado dela, grudadinho nela do joelho ao ombro. Teria sido mais fácil se ele não tivesse tirado o casaco, mas não, agora era só ele em sua camisa branca apertada, calças pretas retas e o corpo delicioso, contraindo os músculos nas coxas e bíceps…

– Demi?

– Hum?

– Bebida?

– Ah. Sim. Tequila Sunrise, por favor. Bastante Grenadine.

– Entendi. – Joe se levantou e ela imediatamente sentiu-se mais relaxada. Caramba, será que o sujeito não conhecia o conceito de espaço pessoal?

Lilly se inclinou sobre a mesa no momento em que Joe se afastou. A música não era ensurdecedora, mas mesmo assim ela precisou gritar.

– Ai, meu Deus, Demi, por que você não me contou que estava namorando Joe Winslow?

– Não estou. Não de fato.

Lilly lançou um olhar penetrante a Rebecca antes de se voltar para Demi.

– Não entendi.

– A coisa toda é um truque do blog para angariar leitores. Não é grande coisa.

– Tá bom – disse Lilly lentamente. – Diga isso a alguém que não tenha visto o jeito como ele olha para você.

– Sério, Lilly? Pare com isso. Será que um cara como ele sinceramente iria querer namorar uma garota como eu?

– Sim!

– Por que não?

Demi piscou para suas amigas. Claro que diriam isso. Qual era a alternativa? “Sim, você está certa, ele poderia conseguir algo muito melhor”?

– De qualquer forma – disse Demi, ignorando a ambas. – Está sendo ótimo. Eu tenho que ir a festas da Semana de Moda, e ele está publicando alguns textos meus, o que vai chamar a atenção dos meus chefes. É um passo enorme na escada para o sucesso. Todo mundo sai ganhando, principalmente eu.

Rebecca pigarreou, e Demi, relutantemente, encontrou o olhar da outra. Ela não parecia satisfeita.

– Por que Joe está aqui esta noite? – Ela quis saber.

– Coisas do blog.

– Como os textos são mandados via internet, não teria sido mais fácil para ele, sei lá, enviar esse material para você por e-mail?

Demi abriu a boca, mas não tinha resposta.

EXCETO POR todo aquele discurso estilo psicologia para leigos de Rebecca em frente à igreja, Joe teve uma noite ótima. Ele poderia ter passado sem a parte de guardar comida na cozinha, se bem que não, isso também tinha sido muito legal. Rebecca estava certa sobre uma coisa: ele quase nunca fazia coisas normais. Nada de compras na mercearia, nada de compras em geral, não quando era fácil ter tudo entregue em casa ou organizado por sua faxineira.

Joe ia a exibições ou estreias, e não ao cinema. Ele recebia antecipadamente cópias de livros e filmes, convites para festas de Nova York a Milão, Paris, Londres, Dubai, Los Angeles. Ele não ficava fazendo vias sacras em bares, e esta noite era a primeira vez em muito tempo que bebia com pessoas reais em um bar normal em vez de estar com celebridades atrás de uma corda de veludo.

Ele gostou de tudo, desde a música na juke-box até as gargalhadas da multidão na happy hour depois do trabalho. Joe fora lembrado dos velhos tempos, quando ele estava apenas começando seu primeiro blog. A única parte chata da noite foi seu final. Colocando Demi em um táxi. Sozinha. E, em seguida, chamando um táxi para si.

Joe se consolou com o fato de que o dia seguinte seria repleto de ocupações para sua mais nova colaboradora no blog. Depois de oito horas no emprego, ela ficaria na correria com a estilista, daí haveria a festa de uma exposição de arte, a qual não começaria antes das dez. Demi teria sorte se conseguisse garantir umas quatro horas de sono, e como ele era um desgraçado egoísta, manteve-a acordada até tarde esta noite.

Não queria que a noite acabasse. Mas acabar mesmo assim, tal como todas as coisas, e em uma semana, mais ou menos, seu período com Demi seria mera lembrança. Se tudo desse certo, ele a usaria na nova coluna, e eles se esbarrariam em festas e lançamentos. Mas Joe superaria. Era isso que fazia. Era melhor assim.

Pensou novamente nas palavras de Rebecca. O fato de seus familiares sentirem-se atingidos pelo que ele fazia para viver era problema deles, não de Joe. Ele avisara a eles durante todos os anos do colegial que não ia seguir o protocolo. A ideia de ele entrar para a política era ridícula. Eles já deveriam saber disso, sem precisar dele para lhes esfregar isso na cara. Mas só viam o que queriam ver.

A resposta dele poderia parecer radical para qualquer um fora da família. Ser preso em um escândalo público em seu último ano na faculdade foi, ele admitia, um passo dramático. Mas Rebecca, dentre todas as pessoas, deveria ter compreendido. Ele fizera o necessário. Seu sucesso fora uma questão de habilidade, planejamento, e sim, sorte. Por que ele iria querer continuar a prosperar? Teria sido bom estar com Demi. Não dava para negar a atração. Mas ela não se encaixava. A não ser como um chamariz temporário, uma barra lateral, uma emenda no blog.

E na cama dele. Meu bom Cristo, ela se encaixava muito bem lá.

Joe olhou pela janela quando o táxi parou diante de seu prédio. A vida era feita de escolhas. Algumas mais difíceis do que outras. Diabo, ela era só uma garota. Ele tinha aprendido há muito tempo a não romantizar o sexo.

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xoxo

Escolha - Capitulo 8 MARATONA (2/5)

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– EU GOSTARIA de torná-la parte de uma série de posts – disse Joe, como se estivesse pedindo a Demi uma batata frita. – Alguns dos quais apresentariam a Semana de Moda, mas não todos. Hoje à noite há uma festa no Chelsea Piers. Eu gostaria que você fosse comigo.

Demi não engasgou, mas tossiu. Principalmente para esconder seu espanto e poder se controlar.

– O que você quer dizer com série?

– A quarta-feira está livre, mas na quinta-feira haverá mais uma festa da Semana de Moda. Na sexta-feira, há uma estreia de um filme. Você já ouviu falar sobre o filme Cortesã?

Se ela tinha ouvido falar sobre o Cortesã? Era um filme famosíssimo de um grande estúdio estrelado por atores top de linha, e ela queria assisti-lo desde que vira a primeira propaganda a respeito. Por dentro, ela saltitava a alguns metros do chão. Para Joe, ela balançou a cabeça e bebeu um gole de chá. – Sim, já ouvi.

– Já tenho um compromisso no sábado à noite, mas não sei muito bem qual é. Ou uma festa de um perfume ou um lançamento de livro. De qualquer forma, precisarei de você, provisoriamente, no sábado à noite. Talvez mais, talvez menos. Vai depender da quantidade de acessos, da atividade nos comentários. Está bom assim para você?

Era inútil para Demi fingir que ia pensar no assunto. Joe perceberia que ela estava blefando.

– Tempo não seria um problema. Eu daria um jeito de fazer isso funcionar, mesmo que Rebecca precise preparar meus pratos congelados.

– Essa coisa dos pratos congelados é o que Rebecca faz na Igreja de St. Mark, certo?

– Foi assim que a gente se conheceu.

– Ela vai adorar isso. – Agora, ele nem sequer tentava esconder o sorriso. Era o outro Joe, o primo encantador da amiga, o homem bobo que a tinha beijado.

Demi pigarreou antes de encontrar o olhar dele.

– O que você quer dizer?

– Ela vai pensar que essa coisa das séries foi ideia dela. Vai ficar insuportável.

– Ah. – Demi pegou mais uma batatinha enquanto lutava contra outra pontada. Aquilo era ainda mais tolo. Pensou por um segundo que Rebecca iria adorar o fato de ela e Joe continuarem se encontrando. Ridículo.

Mas, ora bolas, isso era melhor do que namorar. Sexo, para alguém como Joe, durava uma noite. Ele não conseguia nem mesmo fingir interesse na manhã seguinte. No longo prazo, ele estava oferecendo mais do que os sonhos insignificantes de Demi tinham delineado. Havia acabado de encurtar o plano de cinco anos dela pela metade.

– Ainda quero poder escrever lá.

– O blog é meu, Demi. As pessoas o leem para saber minha opinião.

– Não quero ficar parecendo uma boboca.

– É assim que você enxerga os textos de lá?

– Não.

– Podemos inventar alguma coisa, algo com o qual ambos concordemos. Se a série funcionar, será porque as pessoas gostam do jeito como relato meu mundo através dos seus olhos. É do meu interesse fazer de você alguém identificável e simpática.

– Tudo bem. Mas acho que haveria ainda mais identificação se eu escrevesse alguns textos.

Ele fez uma careta.

– Não sei. Meu nome é um chamariz. Desculpe.

– Com certeza. Mas isso não significa que não pode haver uma barra lateral. Você já fez isso.

Joe usou o guardanapo, limpando a maionese do queixo por acaso. Depois de uma longa pausa, ele assentiu.

– Tá, mas sem garantias. Vou ler o que você escreve, ver como funciona. E meu advogado vai elaborar alguma coisa para nos resguardar pelo restante da semana, mas eu gostaria de postar no blog o que escrevi hoje. O que você me diz?

Ela sabia que estava assumindo um risco, sem assinar na linha pontilhada, mas que diabos. Rebecca teria algo a dizer caso Joe puxasse o tapete dela, mas mais do que isso, os instintos de Demi lhe diziam para aceitar. Ela estendeu a mão.

O arrepio que percorreu o corpo dela quando eles apertaram as mãos foi estritamente em reação à oportunidade. Nada mais.

JOE CAMINHOU com Demi até o escritório dela, um gigante entre gigantes, que bloqueava a maior parte do céu. Estava ventando bastante na rua e ele colocou o braço em volta dos ombros de Demi, puxando-a para si. Ele gostava de mantê-la aquecida, gostava da maneira como o cabelo dela fazia cócegas em seu queixo.

– Joe? – Ela teve que levantar a voz enquanto caminhavam, então ele inclinou a cabeça um pouco.

– Sim?

– Presumindo que não teremos problema com a papelada e que terminaremos fazendo as… coisas. Nós seremos o quê um do outro nas festas?

– Hum, ah. Vai ser como ontem à noite. Juntos, mas não um casal. Se alguém perguntar, direi que somos amigos. Todos vão presumir que é algo mais, mas isso não é uma coisa ruim. As pessoas gostam de tentar decifrar as coisas, fazer conexões, mesmo sendo falsas. E fofoca paga as contas.

Ela não respondeu, mas desacelerou o passo.

– Demi?

Ela parou. Joe virou-se para encará-la, insatisfeito com o olhar confuso que ela exibia.

– Qual é o problema?

– Nada. Está tudo bem. Quero ter certeza de que nos entendemos. Se fizermos isso, será um acordo profissional.

– Isso. – O jeito que ela o encarava não fazia sentido. Estava lhe entregando um presente ali. Claro, ele ia ganhar dinheiro com aquele acordo, mas ela também ganharia. Ele devia ter perguntado o que ela queria. Pelo seu amor pela moda e seu trabalho na agência de publicidade, não era difícil descobrir sua área de interesse, mas foi negligente da parte dele não ser específico.

– Minha vida profissional e pessoal são separadas – disse ela.

Joe demorou um segundo além do necessário para entender. Não porque ela estava sendo irracional. Pelo contrário, estava sendo inteligente. No entanto, ele não estava acostumado a isso. As mulheres que Joe levava para casa não pensavam no sexo como algo extraprofissional. Nem ele, não desde que começara o blog, pelo amor de Deus. Demi não era desse mundo.

Esse era o ponto.

Na verdade, ele era romântico. Não apenas com o sexo, mas também com estilistas, Nova York, glamour, beleza, tudo isso.

Pena que esse romantismo não iria durar.

Estranhamente, Joe não se apressou em concordar com ela. Já havia presumido que eles voltariam a dormir juntos. Ele queria. Se a série de textos desse resultado positivo demorasse uma semana, talvez duas, seria um bom tempo sem sexo com Demi. Principalmente considerando que ela estaria com ele quase todas as noites. No carro, na casa dele.

– Joe?

– Verdade. Não, você está certa. Estritamente profissional. Bem pensado.

O sorriso de Demi não foi muito vitorioso. Na verdade, Joe ficou tentado a segui-la quando se afastou, só para vê-la melhor.

– Estou muito atrasada – disse ela, quase berrando contra o vento agora. – Envie-me o contrato e eu vou dar uma olhada nele. E os detalhes sobre esta noite. E obrigada – disse ela, mas a palavra foi levada ao vento quando Demi foi engolida por dezenas de pessoas entrando pela mesma portaria.

Ele a perdeu antes mesmo de ela entrar. Sabia que a BBDA ocupava quatro andares do arranha-céu, podia imaginar onde os redatores ficavam. Mas ele não iria atrás dela. Joe a veria hoje. Pegou o celular enquanto seguia para a esquina para chamar um táxi. Precisava atualizar o blog, ligar para seu advogado, fazer acordos com estilistas.

Depois de informar o endereço ao taxista, ele olhou para o prédio de Demi. Sem mais noites como a última. Bem, droga.

ENTRE OS fotógrafos que a cegavam e os envios constantes de mensagens nas redes sociais Demi mal teve tempo de aproveitar a festa. Teria sido irresistível, apesar de tudo. O evento era muito menor. Talvez 500 pessoas?

Organizado por uma dos estilistas mais procuradas pelas celebridades, estava sendo realizado no The Lighthouse no Chelsea Piers. O enorme salão tinha sido decorado com temática asiática esplendorosa, com lanternas flutuantes, jardins zen artisticamente posicionados entre mesas e dragões de papel tão grandes e belamente ornamentados que eram verdadeiras obras de arte. Até mesmo a vista do Rio Hudson dos janelões estava de tirar o fôlego, e isso antes de Demi conhecer uma infinidade alucinante de ídolos da moda e de celebridades de primeiro, segundo e terceiro escalão.

A boa e a má notícia era que Joe tinha sido ainda mais extraordinário, coisa que Demi não tinha pensado possível. Ele não saíra do lado dela, o que foi maravilhoso, mas o que a deixou ainda mais encantada foi o modo como ele a apresentou às pessoas do meio dele. E Deus, elas realmente eram do meio dele. Ele fazia soar como se Demi fosse o a melhor novidade do momento a entrar em cena desde Lady Gaga. Era totalmente exagerado, mas, e isto entrava diretamente na categoria das notícias ruins, era exclusivamente para divulgar a série de textos do blog. Ela não era importante; a imagem era importante, a mística, a coisa de ser hipster por associação juntamente com a “inocência” dela para torná-la uma mini celebridade.

O plano estava funcionando, porque, depois do jantar, que foi de matar de tão gostoso, e Deus, como ela queria poder levar uma marmitinha para casa, Demi fora abordada sem parar.

Não que ela não tivesse percebido antes que as celebridades nunca eram o que pareciam. Podiam até aparentar ser amigas de longa data, tal como em sua série de TV favorita ou em tantos filmes que ela conhecia. Mas quem elas eram de fato não tinha qualquer relação com a pessoa que Demi tinha criado em sua cabeça.

Ela sabia disso, e tudo bem. As pessoas sempre tiveram ícones. Isso as fazia se sentirem conectadas a algo. Redes sociais, sites de fofoca, incluindo o Naked New York, programas de TV e revistas sobre celebridades. Eram como os bebedouros das empresas, o centro das cidades invisíveis onde os vizinhos se reuniam.

Sendo uma das pessoas escolhidas, conhecendo todos que ela já havia conhecido, fossem famosos ou aspirantes à fama, já criava uma história sobre quem ela era, sobre o que Joe via nela, sobre o que iria acontecer, de um jeito tão bizarro que Demi nunca poderia ter previsto. Não houve preparo para aquele tipo de exposição, e a peculiaridade da situação estava mexendo com a noção de tempo dela. Num minuto, Demi estava se recuperando dos muitos olhares centrados em si, e no outro estava de pé ao lado de uma janela, olhando para a água, sem ter ideia de como havia chegado lá.

Joe tinha ajudado bastante. Sua mão no braço dela era uma força estabilizadora, sua presença, suas apresentações deixavam tudo mais fácil. Mas ele estava acostumado, e ela ainda estava sem ar.

Não ajudava o fato de, todas as vezes, o toque dele lhe causar um arrepio de excitação que a deixava sem fôlego novamente. Era ridículo. Demi já deveria ter superado isso. Saber que aquilo era um acordo profissional e nada mais não ajudava em nada. A desconexão entre seu cérebro e seu desejo a preocupava. Era como se ela tivesse recebido choques elétricos durante a noite inteira, com cada um deles sendo sucedido por uma pontada de arrependimento.

– Você está pronta? – perguntou Joe, a boca tão perto da orelha dela que dava para Demi sentir seu calor. Deve ter sido um grito, porque a música estava altíssima ao redor, mas pareceu mais uma carícia.

Ela assentiu e ele passou o braço em volta dos ombros dela enquanto saíam do interior cheio de vapor rumo ao ar livre gelado. Mais uma vez, havia limusines o suficiente para preencher um campo de futebol, mas também havia dezenas de manobristas correndo para encontrar os motoristas no que parecia ser um hospício subterrâneo.

– O que achou? – quis saber Joe. – Melhor? Pior?

– Você me diz – respondeu ela. – Era você quem estava me observando como um falcão.

Joe estudou a expressão dela, e Demi se deu conta novamente do quanto gostava do rosto dele. Foi realmente um absurdo como os olhos dele eram descomunais. Mas não eram grandes como nos mangás, ou mesmo perturbadoramente fora de proporção. No entanto, certamente eram a primeira coisa que as pessoas notavam nele.

Ele ergueu uma sobrancelha dramática.

– Você gostou mais desta festa, apesar de ter que trabalhar. Em parte, acho que foi porque você sabia o que esperar, e também porque você precisa conversar com alguns de seus estilistas favoritos.

Demi sorriu, embora a conclusão dele não tivesse sido muito precisa.

– Você está certíssimo. Isso é um problema?

– O que você quer dizer?

– Estou perdendo a inocência gradativamente. Na sexta-feira à noite, serei uma cínica calculista.

Joe riu, e lá estavam as ruguinhas no rosto dele, que tornaram impossível para Demi não tocar o casaco dele, não tocar nele. Por que as ruguinhas? Não era como se fossem sulcos profundos ou qualquer coisa perto disso. Ele estava na casa dos 30 e poucos anos, e as linhazinhas de expressão não o faziam parecer mais velho. Talvez fosse porque rugas de qualquer espécie, mesmo as linhas de expressão, fossem praticamente proibidas naquela cultura glamorosa obcecada pela juventude. Ela odiaria se Joe matasse suas ruguinhas com botox. Elas o faziam parecer genuíno, o faziam parecer atingível. Parecer era a palavra-chave.

– Acredite – disse ele. – Ao mesmo tempo que você está muito mais experiente e não deve ser subestimada, você não está nem perto de se saturar. Essa coisa de conhecer pessoas famosas não vai ser mais tão incrível dentro de uma ou duas semanas, mas a emoção ainda vai estar lá.

– Ótimo. – Demi queria que a emoção continuasse, pelo menos no que dizia respeito às celebridades. Só queria menos emoções quando se tratava de Joe. – Desculpe por estar fazendo você ir embora tão cedo. Imagino que gosta de ser o último a sair desse tipo de festa.

– De jeito nenhum. Eu só fico até ter material suficiente, então vou para casa. Preciso me levantar cedo para atualizar o blog a tempo.

– Então os fotógrafos enviam suas fotos antes de caírem na noite?

– Isso. Eu junto tudo na parte da manhã. Também pego os textos dos freelancers e as fofoquinhas. Junto o material, envio para minha assistente Naomi e ela edita até estar no ar por volta das 9h. Se você tiver alguma coisa sobre esta noite para eu linkar na barra lateral, vou precisar do material por volta das 9h.

Ela fez que sim com a cabeça, sem desejar que Joe notasse que sua menção a este aspecto do trabalho a apavorava. Seria um texto original dela. Não uma ilusão, não um chamariz. Afundaria ou nadaria com base no talento. Deus, ela precisava sentar-se.

– Você está bem?

– Tem uma coisa que eu queria perguntar. A estilista? O que estamos buscando aqui? – Demi olhou para o próprio vestido, costurado na época da faculdade. Era um verde lindo, um tom mais claro do que os olhos dela, sem mangas e com um bolerinho roxo e verde. Teria sido perfeito para uma noite na cidade com Rebecca e suas amigas, mas aqui ela era superada em quilômetros de distância. Imaginava que o ponto era esse: fazê-la aparentar ser a caipira que era.

– Ah. Você vai gostar desta parte. O máximo de glamour. De sapatos a vestidos. A coisa toda, com maquiagem, cabelo, corpos pintados, tudo.

– Não entendi – disse ela, sem saber se Joe estava brincando com ela ou não.

– As barras laterais? Devem ser sobre a experiência toda. Sobre a sensação de se tornar uma princesa, de ir ao baile. De ser arrancada da obscuridade e mirar nas estrelas.

Demi piscou para ele enquanto as pessoas se empurravam para chegar a seus carros. Viu um sorriso desabrochar no rosto dele. Desejou como nunca poder se jogar nos braços dele e apertá-lo por causa de mais uma surpresa incrível. – E você vai poder ficar com tudo que usar.

Ela o empurrou. Tarefa meio difícil.

– Não brinque comigo, Winslow. Se você está mentindo, vou acabar com você.

– Não estou mentindo. É tudo seu.

Os flashes ficaram pipocando durante a noite inteira, mas de repente eles estavam em cima de Demi, cegando-a. Mas só por uns instantes, porém, pois em seguida eles se foram, como uma nuvem de gafanhotos com câmeras. Eles tinham cumprido sua função, impedindo-a de pular nos braços de Joe.

Era a tortura mais diabólica. Dar a ela todos os seus sonhos com uma das mãos e lhe roubar o desejo com a outra. Enxague. Repita.

– Então estamos conversados que você vai se encontrar com Sveta na quinta-feira, certo? Que você vai estar de folga amanhã…?

– Sim – confirmou ela, se acalmando.

– Você devia dormir. Vai precisar.

– Amanhã é a noite de preparo dos pratos congelados. Rebecca vai estar lá.

– Se eu bem a conheço, ela vai manter você acordada até mais tarde do que eu. A mulher é uma escrava dos detalhes.

Antes de ir dormir, Demi iria rever as fotos que havia tirado. Aquelas nas quais ela precisava se concentrar, não em Joe.

Não no perfume dele, e não na vibração da voz dele, não no desejo de estar perto dele.

Assim que a série de textos estivesse finalizada, Demi já teria superado sua paixão tola. Ah, com certeza, já teria.

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Dei uma atrasadinha, mas aqui estou eu.
Continuem comentando.
xoxo