6.7.15

Lar Da Paixão - Capitulo 10 - Último

Os dias foram passando, e Joseph não tinha mais argumento para ficar perto de Demi. Ela estava bem e ainda tinha Emily e Selena para ajudar e aconselhar.

Ambas eram bem experientes, então ele voltou a trabalhar no hotel.

E já não era sem tempo.

Havia se ausentado demais, ele pensou, quando entrou pela recepção do hotel e viu que o balcão não estava mais lá, deixando um vazio imenso.

Joseph foi encontrar George no antigo anexo, supervisio­nando a obra.

— Onde colocou o balcão da recepção? — ele perguntou, tentando não demonstrar sua irritação.

— Está lá fora — disse George. — Os rapazes o tiraram esta manhã, e, como você disse que queria todos os móveis removidos, esse foi o último. Cheguei a duvidar se queria o mesmo com esse balcão, mas os rapazes terminaram antes que eu visse. Ainda está inteiro. É uma peça muito bonita, na verdade. Ele é pesado, todo em mogno maciço. Pareceu-me uma pena destruí-lo. As prateleiras estão lá também, acha­mos que você poderia ter outros planos para elas.

— E tenho, vamos restaurá-los. Quero que tirem de lá com todo o cuidado.

— Mas foram tirados com todo o cuidado. Vá até lá dar uma olhada, está bem ao lado do escritório.

Ao encontrar o balcão, Joseph foi se posicionar atrás dele, onde várias gerações de empregados -ficaram para receber seus hóspedes, e colocou as mãos sobre ele. A parte de cima estava bem maltratada, arranhada por tantas chaves, e a ma­deira brilhava apesar da poeira, e ele passou a mão sobre o balcão, sentindo sua história nas pontas dos dedos. Ele tinha visto Demi fazer o mesmo com carinho. Por isso queria man­tê-lo. Não porque o hotel precisasse dele. ti Mas Demi amava este móvel, então isso já era motivo sufi­ciente para guardá-lo.

Joseph se abaixou para olhar por dentro do móvel, para o nicho formado entre a prateleira que ficava a vinte centíme­tros do tampo, para ver como era fixada a parte de cima. Talvez devessem preservar esse...

Não conseguia ver. O sol estava tão forte que o nicho fi­cava sombreado, mas havia alguma coisa presa ali. Uma coisa branca, um retângulo colado n'a parte inferior. Ele es­ticou o braço e pôde sentir o papel com os dedos. Seria um envelope?

Joseph puxou o envelope, com cuidado.

"Cópia do testamento de Brian Henry Dawes" estava es­crito do lado de fora, datado do dia 10 de março. Seis meses atrás, pouco antes da morte de Brian.

E o testamento original, dizia, estava guardado no escri­tório de advocacia, Cooper, Farringdon Solicitors, na High Street, número 29, Yoxburgh. Realmente não estava com Barry Edwards. Por isso ele desconhecia a existência do tes­tamento.

Joe estava ali parado com o documento nas mãos quando Nick chegou, estacionou o carro e veio encontrá-lo.

— O que é isso? — ele perguntou, e Joseph estendeu a mão com o envelope para ele.

Nick pegou o documento, leu o que estava no envelope e se espantou.

— Onde o encontrou?

— Colado embaixo do balcão da recepção.

— Por que será que o colocaram lá? E por que contratar um escritório de advocacia diferente?

— Seria por não confiar em Ian? Pois ele sabia que o do­cumento seria encontrado durante a obra. Ou será que não estava certo quanto a isso? — Joe não sabia as respostas, mas sabia de uma coisa: precisava avisar Demi sobre isso, e tinham de abrir o envelope e saber o que continha.

— Acho que devemos chamar nosso advogado — Nick disse, adivinhando o que se passava na mente de Joseph.

— Deixe comigo. Vou levar o documento até lá, vamos pedir uma reunião imediatamente. Você, vá buscar Demi, e diga-lhe para deixar o bebê com Selena, se não quiser levá-la.

Joe foi para casa, nervoso. O que será que o testamento continha? E qual a importância para Demi e Lily?

E para ele?

*****

— Chegou cedo.

Ele parecia preocupado; não, cauteloso. Como se tivesse más notícias para ela. Já tinha visto muitos olhares desse tipo ultimamente, então sentou-se no banco do jardim interno, fitando-o, e seu coração disparou.

— O que foi, Joseph?

— Encontrei o testamento.

Demi levou a mão ao peito para conter a emoção que sen­tia, fechou os olhos e contou até dez.

— Está com ele aí?

— Está com Nick. Ele o levou para nosso advogado. O documento precisa ser aberto oficialmente.

— Claro. Então ele vai nos dizer o que há nele?

— Não sei, essa é apenas uma cópia. Ele terá de falar com o advogado que tem o original.

— Barry Edwards?

— Não. Parece que está com o escritório Cooper, Farringdon.

E foi aí que Demi lembrou:

— Mike Cooper, claro! Ele esteve no hotel algumas ve­zes, uns dois meses antes de Brian morrer, depois nunca mais o vi. Ele se aposentou há pouco tempo. Ele visitava Brian de vez em quando. Era amigo dele, eu creio. Às vezes hospedávamos clientes dele, mas achei que já estava aposen­tado quando Brian morreu. E onde foi que encontrou o docu­mento, afinal?

— Colado embaixo do balcão da recepção.

Ela fechou os olhos perguntando-se como pôde ser tão estúpida.

— Do lado direito?

— Sim, como sabe?

Ela riu, por ser tão óbvio.

— No hospital, pouco antes de morrer, ele me disse uma coisa. Mandou que eu me cuidasse, e disse também para ve­rificar tudo antes de sair. Ele disse isso duas ou três vezes, mas estava tão mal que eu não insisti, falei que não se preo­cupasse. Não compreendi o significado daquilo naquela épo­ca, mas quando os hóspedes estavam deixando o hotel, era lá que colocávamos a papelada, do lado direito do balcão, na prateleira de baixo. Não sei por que não pensei nisso!

Trêmula, Demi ficou de pé.

— Podemos conversar com ele? Com Mike Cooper?

— Nosso advogado está cuidando disso.

— Que bom.

Agora ela saberia que opções teria. Tinha muito medo de que suas opções não incluíssem Joseph.

Desde que o bebê nasceu, apesar de toda a atenção que deu, ele não ficou com ela. Não a tocou, não a segurou e nem a beijou. Tudo bem que seu corpo ainda não tinha voltado ao normal, mas não tinha de ser tudo ou nada; ou tinha? E se ele estava se mantendo assim tão distante, só podia ser porque estava atrás de distração e, como isso ela não poderia lhe dar agora, então não interessava. Bem, ela lhe disse que não es­tava pedindo uma eternidade e, pelo visto, ele levou isso a sério.

E o testamento que até há pouco ela temia agora parecia ser a solução para uma situação impossível e dolorosa.

Demi não esperava muito. Alguns milhares, talvez. O bas­tante para dar de entrada em uma casa; e ela poderia traba­lhar para pagar a hipoteca e dar a Lily uma vida decente. Ela só queria poder levar uma vida tranquila com sua filha.

*****

Eles só conseguiram se encontrar com Mike Cooper no final daquele dia. Tiveram de esperar Ian Dawes vir de Londres. Era estranho ele estar disponível para vir tão depressa. E ao chegar ao escritório do advogado ele se surpreendeu ao ver Demi com um bebê nos braços.

— Nasceu mesmo, não é? — ele disse como se não acre­ditasse que havia uma criança de fato.

Pior para ele, pensou Joseph, torcendo para Demi não acei­tar suas provocações.

— Estamos em setembro, Ian — ela disse. — Eu engravi­dei em novembro, quando Jamie esteve aqui. Não sou uma elefanta. Lily, diga "oi" para seu tio Ian — ela fez questão de provocar.

O sujeito fechou a cara, e Joseph teve vontade de matá-lo. Ele ainda não acreditava que a criança fosse filha do seu ir­mão, mas o teste de DNA já estava sendo feito, ao menos o de Lily. Ian tinha se recusado a cooperar até que um juiz o obrigasse a fazê-lo.

E agora, estavam todos no antigo escritório de Mike Coo­per, que segurava o documento e sorria para Demi.

— Então este é o bebê? Olá, pequenina. Meu Deus, ela é cara do pai dela. — Depois ele retomou seu assento, pe­gou o testamento e deu uma olhada para todos os presen­tes. — Em primeiro lugar, deixem-me pedir desculpas pelo atraso em revelar o conteúdo do testamento para vo­cês. Por estar aposentado, não soube da morte do meu cliente até hoje pela manhã, quando recebi um telefonema do escritório. Então, estão todos prontos? — Ele passou a ler o testamento.

*****

Foram muitas palavras sem nenhum sentido. Bem, para a maioria das pessoas. Mas para Demi, que tinha estudado di­reito, era apenas linguagem jurídica.

De todo modo, o documento era legal e assinado diante de testemunhas. E, como Brian havia prometido, o futuro de Lily estava garantido.

Mike Cooper leu o seguinte:

— "Para o meu filho Ian, deixo a quantia de 10 mil libras esterlinas. Do saldo residual da propriedade, a administrado­ra vai manter metade para a criança ou crianças do meu filho James, nascidas ou en ventre sa mère. Sem prejuízo de..."

Demi não ouviu o resto, porque Ian falava tão alto que aba­fava a voz de Mike. Então Mike tirou os óculos e olhou para Ian.

— Sr. Dawes, eu apreciaria se nos deixasse conduzir isso de forma correta e formal, sem interrupções.

Depois ele seguiu a leitura do testamento, mas ela não deu mais atenção a eles, ficou apenas olhando para o seu bebê, em estado de choque.

Metade? Então ele tinha de fato deixado metade do patrimô­nio para Lily? E para Ian somente 10 mil libras? Não que ela soubesse quanto era metade do patrimônio, mas seria certo isso? Devia ser de mais de 10 mil libras, a não ser que as dívidas de Brian fossem enormes. O que era perfeitamente possível...

Do outro lado da sala, Ian estava furioso, mas Demi se li­mitou a olhar para sua filha e balançar a cabeça sem poder acreditar.

Ele cumpriu a promessa. Meu querido Brian, que estava sempre atrapalhado, tinha arranjado tempo, mesmo doente, para assegurar o futuro de Lily.

— Será que o dinheiro é suficiente para dar de entrada em uma casa para ela?

Mike Cooper teve de rir.

— Creio que sim, minha jovem. O hotel foi vendido por 1.750.000 libras. Logo que as dívidas e os impostos sobre a herança forem pagos, segundo Barry Edwards, ainda vai so­brar um pouco mais de um milhão de libras, e metade disso pertence a Lily; esse valor ficará aplicado num fundo até ela completar 18 anos. A outra metade é sua para fazer o que quiser. Então, claro que pode comprar uma casa. Uma boa casa.

— A outra metade é para mim?! Por que para mim?

— É o que está estipulado no testamento. — E ele leu mais uma vez, e desta vez ela prestou atenção.

— "Metade do meu patrimônio deixo para Demi Lovato, pelo cuidado, pela compaixão e consideração cons­tantes comigo; e no caso de a criança não sobreviver a meu filho James, então o valor total do patrimônio do espólio irá para Demi Lovato." Ele deixou 10 mil libras para o filho, e o resto, metade para Lily aplicado num fundo e metade para você, minha jovem. E se alguma coisa acontecer a Lily, você herda a parte dela.

— Eu? — Ela se virou para fitar Joseph, que parecia tão surpreso quanto ela.

— Só se a criança for filha de James — disse Ian. — E isso ainda terá de ser provado. Se ela não for filha de James, o dinheiro virá para mim! Droga, tudo deveria vir para mim! Que diabos aquele velho estava pensando...

— Sr. Dawes! — Mike Cooper falou, indignado, levantando-se com dificuldade devido à idade, e Demi ficou paralisada de susto. — Não vou admitir que fale neste tom no meu escri­tório! Durante o período de elaboração deste testamento, con­versei demoradamente com seu pai, e todo o tempo ele só fez elogios à Srta. Lovato, e demonstrou preocupação com seu futuro. Ela não pediu nada. Trabalhou o tempo todo sem rece­ber salário e cuidou do seu pai com o maior carinho. Quanto a você, soube que sempre foi egoísta e vingativo, desde criança. E não existe possibilidade de o dinheiro ir para você, o testamento está bem claro. Nenhuma outra criança. Se esta criança não for filha do seu irmão James, não haverá outra criança, e nesse caso tudo vai para a Srta. Lovato. Tudo a que você tem direito são as 10 mil libras estipuladas no testamento.

— Vou contestar a validade desse testamento!

— Claro, você tem todo direito; porém, devo lhe informar que seu pai estava perfeitamente lúcido quando assinou este testamento, que foi elaborado com muita conversa e conside­ração. Suas chances de ganhar essa causa são mínimas, mas, se é assim que quer, é uma prerrogativa sua. No entanto, eu não deixei de lado a minha vida de aposentado para vir aqui ouvir suas besteiras.

O advogado se virou para Demi, que continuava ali sentada em total silêncio.

— Srta. Lovato, aqui está uma cópia do testamento para você analisar. Por ter estudado de direito, tenho certeza de que vai compreender tudo, mas, caso precise de algum esclareci­mento, telefone para mim, e terei prazer em lhe ajudar. E, Sr. Dawes, aqui está sua cópia — ele disse, entregando-lhe o do­cumento sem dizer mais nada.

Ian ficou furioso, mas Demi teve de lembrar que não devia sentir pena dele.

— Meus advogados vão procurá-la! — ele gritou antes de sair da sala e bater a porta com violência.

— Nossa... — disse Demi, baixinho, e Mike Cooper sorriu.

— Foi uma cena lamentável — ele comentou. — Então, tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você ou posso voltar para o meu golfe?

*****

— Não posso ficar com a herança.

Eles estavam sentados nos degraus nos fundos do jardim, admirando o mar banhado pela lua, e Demi relembrava os acon­tecimentos daquela tarde enquanto saboreava um champanhe.

Tomaria apenas uma taça para comemorar, pois estava amamentando. Já Joseph, que não tinha impedimentos, ser­viu-se de mais um pouco da bebida.

— Por que não?

— Porque devo dar para Ian.

— Ian?! — Ele quase engasgou com o champanhe. — Demi, você enlouqueceu? O sujeito é um canalha. O próprio pai reconheceu isso. Por esse motivo a fez sua herdeira.

— Não, eu já entendi o que aconteceu. Brian deu os 10 mil a Ian porque essa foi a mesma quantia que dera a Jamie nos últimos meses antes de morrer, e ele queria ser justo. Mas eu me sinto culpada, como se todo o mundo achasse que eu fi­quei ao lado de Brian só para fazê-lo mudar o testamento.

— Que besteira... Você foi muito melhor para ele do que os dois filhos, que nunca se preocuparam em ajudar o pai. Nick disse que o hotel não estaria funcionando se não fosse por você. Sabe que gostava de você como uma filha?

— Jura?

— Sim, foi assim que ele a descreveu para Mike Cooper. Ele a amava de verdade, Demi.

— Ele foi maravilhoso para mim. Sinto tanta falta dele. — Demi sentiu um nó na garganta.

— Vai poder se lembrar dele todas as vezes que entrar na sua própria casa. Isso é um legado e tanto, não acha?

Nossa, que vida solitária. Mesmo com Lily para me fa­zer companhia. Não quero isso! Não quero minha própria casa! Quero a sua, quero que me peça para ficar aqui com você, que diga que me ama. Não quero que me diga que ter a minha própria casa é um legado e tanto, pelo amor de Deus!

— Seria sim, se ficar com a herança.

— Bem, vai ter de ficar com a parte de Lily, não tem es­colha quanto a isso, e como investimento a longo prazo, os imóveis têm sido o melhor investimento nos últimos trinta anos; então, acho que comprar uma casa para ela seria a coi­sa mais sensata a fazer. E, quanto à sua metade, o que faria com ela? Além de dar para Ian. Posso matá-la para evitar que faça isso. Aquele sujeito não vale nada.

Por dentro, Demi não estava interessada em saber qual o melhor investimento a fazer com o dinheiro, e limitou-se a rir.

— Então, o que mais poderia fazer? Uma doação? Selena disse que Nick faz muita doação, posso perguntar a ele.

— Você pode terminar seus estudos — ele sugeriu. — Termine sua faculdade e organize uma fundação para finan­ciar as pessoas que não têm dinheiro para lutar pelos seus direitos. Você disse que queria ser advogada de direitos hu­manos, essa é a sua chance. Pode até homenagear Brian, chamando-a de Fundação Brian Dawes.

Que ideia brilhante.

— É mesmo, seria um bom uso para o dinheiro. Ele gos­taria disso, obrigada.

Demi estava com dor de cabeça, devia ser por estresse pela reação explosiva de Ian naquela tarde. Ela se levantou e sa­cudiu a saia.

— Joseph, vou me deitar agora. Ainda estou aturdida com os últimos acontecimentos. — E preciso ficar sozinha para poder chorar à vontade, porque você só fala da minha vida longe de você, e eu não aguento mais...

— Claro. — Ele se levantou e a seguiu até o quarto. — Precisa de alguma coisa?

— Não, estou bem. Obrigada por ter ficado do meu lado hoje.

— Por nada.

Ela parou por um instante, dando-lhe uma chance de abra­çá-la e beijá-la, qualquer coisa, droga, mas ele não fez nada, então ela foi para seu quarto, fechou a porta e começou a chorar.

*****

— Que história é essa de Demi se mudar? Pensei que ela fos­se comprar um imóvel apenas como um investimento — per­guntou Emily, sentando-se no sofá e passando a mão sobre a barriga protuberante ao interrogá-lo.

— Não. Claro que não. Ela vai comprar uma casa e se mudar para lá. Qual é o problema? Está fazendo a coisa cer­ta, eu devia imaginar isso.

— É mesmo? E quanto a vocês?

— Nós? Nós dois? De qualquer forma, agora são três...

Emily resmungou, revirando os olhos.

— Nossa, como você é lerdo de raciocínio. Pelo amor de Deus, Joe, achei que vocês se amassem.

— De onde tirou essa ideia?

— De vê-los juntos, será? — ela falou como se ele fosse uma criança.

— Está imaginando coisas.

— Acho que não. Vocês são íntimos demais. Ou eram até o bebê nascer. Dava para notar pelos olhares e pelo compor­tamento, era tão óbvio. Até um cego saberia que vocês se amavam. Apesar de que, desde que Lily nasceu, você ficou mais distante...

— Não seja ridícula, ela não me ama, e agora ela tem um bebê!

— Isso não é nenhuma doença, Joe! E por que ridículo? Só porque teve um filho com outro homem isso não a impe­de de amar você, e não deveria impedir você de ser gentil com ela. Ainda pode fazer um carinho nela. E isso você não tem feito — ela o acusou. — Achei que ela estava meio me­lancólica. Pensei que fosse por causa do testamento, mas quando falei com ela ao telefone mais cedo, ela não parecia muito feliz, então fiquei pensando nisso.

— Não acredito.

— Joe, estou falando sério. Ela o ama muito. E você tam­bém a ama. Você ama Demi — ela repetiu quando Joseph es­tava prestes a protestar. — Você sabe. Quando é que vai as­sumir isso?

Joseph recostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos.

— Ela não me ama, Em — ele disse. — Ela ainda gosta de Jamie.

— Que bobagem! Isso não é verdade! E o sujeito era qua­se tão canalha quanto o irmão. Ela ama você, Joseph, e pre­cisa de um homem de verdade, um homem maduro que saiba amá-la também. Um homem como você, gentil, atencioso e digno de confiança.

— Ah, obrigado pela ironia.

— É o que pensa? Que estou com ironias? Olhe só para a vida que ela teve, Joe! Isso era o que de mais importante você poderia lhe dar. Isso e o seu amor. Quando é que vai dizer a Demi que a ama? Quando é que vai lhe dizer que não quer que ela vá embora, quer que ela fique e se case com você e passe o resto da vida ao seu lado? Para que você par­ticipe da vida de Lily e a veja crescer e lhe dê irmãos...

— Pare com isso, Em, chega! — ele disse, apavorado, suando de nervoso. — Não vou conseguir dizer isso.

— Por que não? Porque Kate o traiu? Demi não é Kate. Kate não prestava. Kate nunca o amou, mas Demi ama você profundamente e nunca vai traí-lo, nem mentir, nem ma­goá-lo, e precisa do seu amor também.

— Acha mesmo que ela me ama? — Ele balançou a cabe­ça negando. — Ela ainda está de luto por Jamie...

— Não, Joe. Não! Ela não pensa mais nele! É você que ela ama. E você precisa lhe dizer isso.

Joseph pensou em Kate e no dia em que descobriu sobre o caso dela com Angie, quando ele disse que a amava e ela apenas riu. Riu dele...

— E se ela rir de mim?

— Ela não fará isso. E se fizer? O que terá perdido? Seu orgulho? O que é isso comparado a uma vida toda amando-a? — Ela se aproximou mais dele e lhe deu um abraço. — Dê a ela uma chance, Joe — pediu. — Dê uma chance a vocês dois. Vá falar com ela agora.

— Ela está dormindo. Disse que queria dormir cedo hoje.

— Então, por que será que ela está no jardim olhando o mar como se quisesse se jogar?

Emily deu um beijo no irmão e o deixou olhando para Demi através da janela.

A mulher que ele amava. A única mulher que amou de verdade, ele se deu conta. Deus não ia permitir que ela risse dele.

Ele se encaminhou lentamente até a porta e saiu para o jardim escuro. O dia tinha sido quente, mas agora a tempera­tura havia caído; ou era o medo que fazia ele sentir frio?

Joseph respirou fundo, tomou coragem e começou a cami­nhar pelo gramado.

*****

Demi não ouviu Joseph chegar, mas sentiu sua presença e se virou quando ele se aproximou.

— Oi — ele disse.

Demi o fitou. Parecia sério, e ela abriu um sorriso tímido. O que seria isso? Uma despedida?

— Oi — ela respondeu.

— Pensei que quisesse dormir cedo.

— Não consegui. Senti necessidade de ouvir o barulho do mar.

— Quer que a deixe sozinha?

— Não. Eu estava pensando em Brian.

Ele se acomodou no primeiro degrau da escada e fez sinal para ela se sentar também. Ela demorou um pouco, mas aca­bou se sentando, e ele lhe segurou a mão.

— Sente muita falta dele, não é mesmo? Teve um ano difícil.

Ela balançou a cabeça, concordando. Difícil? Em certos momentos.

— Foi duro assistir ao sofrimento de Brian com a morte de Jamie e depois vê-lo morrer bem quando ele pretendia se aposentar e aproveitar seu descanso tão merecido... — Ela balançou a cabeça ao lembrar sua decepção com os filhos, a decadência física com a doença e sua morte. — Se ao menos Jamie tivesse ajudado, ou Ian... mas foram egoístas. Nenhum dos dois se importava com ele, e ele era tão bom. Merecia filhos melhores.

— Pensei que você amasse Jamie. — Ele deu de ombros.

— Eu não sei. Talvez o tenha amado um dia, ou só me diverti com ele porque era muito chato viajar sozinha. Para ser sincera, acho que estava solitária e, se não o tivesse conhecido, teria voltado para Maastricht como havia pla­nejado. No entanto, vim para cá e conheci Brian. Ele me recebeu tão bem e, pela primeira vez na vida, eu tive um pouso certo. Um lugar para chamar de casa, mesmo que fosse um hotel decadente com um anexo em ruínas e uma gata abandonada...

Demi riu e olhou para onde a gatinha fora enterrada.

— Ele foi o único pai que tive, e ele me deu um lar. E, pela primeira vez, meu primeiro bichinho de estimação. Coitadinha da Pebbles. Pelo menos ela pôde morrer aqui, sob um arbusto, no sol, sem dor. Não conheço lugar mais bonito do que este para se morrer.

— Ou para se viver? — ele disse timidamente, e ela o fi­tou sem ousar ter esperança. — É um lugar bonito para se viver?

— Aqui? — Ela olhou para a casa, perguntando-se o que ele estaria querendo dizer com aquilo. Não, não podia ser. Devia estar falando sobre investimentos de novo. — É uma linda propriedade para se morar, mas eu jamais poderia sus­tentar esta casa. Não posso gastar todo aquele dinheiro. Não sou assim, Joe. Quando o conheci, disse que precisava sair para arranjar comida. Não estava falando em sentido literal, pois Ian havia me dado 500 libras durante o enterro, e eu te­ria de fazer o dinheiro durar bastante, mas, sem energia, só poderia comer coisas que não precisassem ser cozidas, por­tanto, nada de macarrão. Estava enjoada de comer tanto san­duíche de atum e feijão em lata. Aquela comida chinesa foi a primeira comida quente que comi em seis semanas.

Joseph parecia chocado. E Demi teve vontade de abraçá-lo e consolá-lo, e dizer que agora estava tudo bem, mas ele a fitava de uma forma estranha, como se não soubesse o que dizer; então, ela se virou para olhar o mar, desejando poder lhe dizer o que estava sentindo...

— Case-se comigo — ele falou de repente, e Demi o fitou, espantada.

— O quê?

— Quero que se case comigo — ele repetiu, agora mais calmo, mais seguro. — Case-se comigo e deixe-me amá-la. Porque eu a amo, sabia? Amei você desde o primeiro dia em que a vi puxando aquele colchão da caçamba. Sei que tenho sido meio devagar, mas eu pensei que você amasse Jamie, e foi Emily quem me disse que eu estava enganado.

Emily? Deus seja louvado! Ela era uma boa amiga. Ela pensou na época em que o bebê nasceu, na sua solidão e seu isolamento.

— Sério? Você me ama? Então por que ficou tão distante desde que eu tive o bebê, Joseph? Por que não ficou comigo? Por que não me contou?

— Achei que não haveria espaço para mim junto de vocês por Lily ser filha de Jamie; me sentia um intruso.

Demi começou a sorrir, um sorriso que iluminou seu rosto todo, e ela o fitou nos olhos.

— Ora, Joseph — ela falou baixinho, fazendo um cari­nho no seu rosto. — Ao contrário, você sempre me apoiou nos meus piores momentos. Você me salvou do teto que desabava, enterrou minha gatinha, me lavou quando Lily nasceu, trocou fraldas, cozinhou e lavou para eu não me sentir culpada...

— Você se sentiu culpada? Não queria que se sentisse assim.

— Senti-me, sim, porque achei que era minha obrigação. Se soubesse que estava fazendo por amor, eu teria apreciado cada gesto seu. — Então ela o beijou. — Peça de novo, Joe. Peça-me para casar com você. Peça-me para viver aqui com você.

Joseph respirou fundo, pegou sua mão, desceu alguns de­graus, apoiou-se em um dos joelhos e disse, olhando nos olhos dela:

— Amo você, Demi. E amo Lily. Fique comigo. Case co­migo e viva aqui comigo, e vamos transformar esta casa enorme em um lar. Ajude-me a enchê-la de crianças, de pre­ferência adotadas, pois não quero vê-la passar pelo sofri­mento de um parto novamente, mas me ajude a formar uma família. Para sempre.

— Ah, Joseph...

Demi o beijou, chorando, de alegria e de amor.

— Claro que me caso com você. Adoraria viver aqui com você, nesta casa linda, não imagino um lugar mais bonito para ser o nosso lar. E vamos enchê-la de crianças. Quantas você quiser. Contanto que eu fique com você, nada mais me interessa. Mas eu quero terminar minha faculdade e quero criar a fundação em memória de Brian, e quando Lily cres­cer, vamos lhe falar do seu avô. Talvez ela consiga conhecer a avó, se eu conseguir convencê-la a voltar para a Inglaterra. Falando nisso, ela vai amar você.

— Que pena, sou comprometido — ele disse, abraçando-a. — Talvez devesse comprar uma casa para Lily, como investimento, e deixar sua mãe morar lá, que tal?

— Sem chance, ela jamais fixaria residência em um só lugar, ela é um hippie.

— Até os hippies envelhecem.

— Você quer resolver o problema de todo o mundo, não é mesmo? Amo você, Joseph Jonas. Você é tão bom. Brian ia gostar de você, e a Sra. Jessop adorou você. Ela vai gostar de saber que vamos nos casar. Teremos de convidá-la para o nosso casamento. Não será nenhuma surpresa para ela.

Ele pensou na Sra. Jessop e no seu olhar de sabedoria ao dizer para ele: "Você chega lá".

— Também acho.

Ele a beijou de novo e de novo até que ouviu um choro de bebê ao longe.

Ele levantou a cabeça e sorriu, sem jeito.

— Acho que vamos ter de esperar mais um pouco. E ela sorriu.

— Não temos pressa. Temos o resto das nossas vidas.

E, de braços dados, eles percorreram o jardim de volta para sua casa, sua filha e seu futuro...

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Infelizmente essa bela história terminou, amanhã eu volto com mais um fic pra vcs. Bjinhooos

3 comentários:

  1. lindo, amei a fic ............ ansiosa para a próxima... Posta Logo!!!!

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  2. Que pena que acabou, achei linda a história.,... tbém estou ansiosa para a próxima!!!

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  3. Olá tudo bem? Como é que vai ser a próxima ficha?

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