5.7.15

Lar Da Paixão - Capitulo 9

Aquele fim de semana foi uma amostra das semanas se­guintes.

Durante o dia, Joseph trabalhava em casa ou no hotel, e Demi se ocupava com a casa, fazendo jantar, cuidando da roupa e, quando sobrava tempo, ela tomava um chá sentada no banco que ele colocou em frente à horta para ver os brotos de feijão crescendo nos bambus e pegar sol no rosto.

Com frequência ele a encontrava lá, e o som dos seus pas­sos eram abafados pelo barulho da água da cascata que caía do muro ao lado e corria para debaixo dos pés dela.

Às vezes ele lhe trazia uma bebida, às vezes chegava com o pessoal e faziam churrasco, ou iam até a praia brincar com as crianças, e outras vezes ele a levava até Nick e Selena, e passavam horas brincando na piscina.

— Ela se tornou grande amiga de Emily e de Selena, que lhe davam conselhos sobre bebês, alguns úteis outros nem tanto. E vários utensílios para completar o que Joe já tinha comprado. Demi não sabia se elas tinham percebido a mudan­ça no seu relacionamento com Joseph, mas não, pretendia falar nada, mesmo achando que Emily já desconfiasse.

— Você é boa para ele — Emily disse um dia. — Eu mal posso acreditar que ele tenha mudado tanto em tão pouco tempo. Está tão à vontade...

E nada mais disse. Até aquele momento ela estava bem feliz com a intimidade que compartilhavam e torcia para continuar assim.

Foi um verão maravilhoso, e ela se sentia em paz.

Até o dia em que foi ao médico, e ele lhe disse que sua pressão arterial estava alta.

— Você está preocupada com alguma coisa?

Conscientemente não, ela pensou, mas o seu futuro era incerto, e isso podia estar deixando-a preocupada. Ainda ha­via a questão do teste de DNA, mas ela estava evitando pen­sar nisso.

— Talvez — Demi afirmou. — Mas nada importante.

— Você precisa descansar.

Ela foi avisada, e não podia mais trabalhar na casa.

Joseph passou a ficar mais em casa, e ela ficava a maior parte do dia deitada no banco do jardim, brincando com a água da cascata e sentindo-se culpada por não estar fazendo nada à espera do seu bebê.

Então sua filha chegou, duas semanas depois de Joseph ter montado o berço dela no outro quarto, encerrando seu idílio amoroso.

Eram quatro horas da manhã, e o sol começava a surgir no horizonte quando Demi sentiu a primeira contração.

Ela saiu da cama em silêncio e foi para o andar de baixo. Eles passaram a dormir no quarto dele por causa do telefone e do despertador junto à cama, mas ela ainda usava seu anti­go quarto para descansar durante o dia. Demi foi para lá, sen­tou-se na cama, cercou-se de travesseiros e esperou o dia amanhecer.

Às cinco da manhã ela sentia um desconforto. Às seis, ela andava de um lado para outro. Às sete, estava no carro indo para o hospital, triste por não poder dar à luz em casa.

— Você está bem?

— Estou bem — ela disse.

*****

Bem?

Foi o dia mais aterrorizante da sua vida. Joseph nunca chegou perto de uma mulher em trabalho de parto e não sa­bia o que fazer.

— Basta que você segure a mão dela e a lembre de respi­rar — disse Emily ao telefone quando ele entrou em pânico ao ser obrigado a sair da sala para Demi ser examinada. — Quer que eu fique no seu lugar?

— Pode deixar. Ligarei mais tarde.

— Pode voltar, Joseph — disse a parteira, então ele respi­rou fundo e voltou ao quarto dela.

— Ela está com uma dilatação de sete centímetros — a parteira disse e logo completou: — Quando estiver com 10 centímetros, ela já poderá empurrar.

— Está bem, obrigado. — E ele se perguntou por que não tinha se informado sobre o parto.

Será que inconscientemente estava renegando o bebê, porque era a criança de outro homem? Um homem que Joseph gostaria de matar, seja não estivesse morto.

Joseph controlou sua emoção, depois segurou a mão dela, apertou e aos pouco o corpo de Demi foi relaxando, a ela dei­xou o bebê nascer.

E quando ela nasceu, quando aquela coisinha ruidosa e escorregadia que era sua filha foi colocada sobre seu peito, coração com coração, e ele viu as mãos de Demi a abraçarem, ele sentiu tamanho nó na garganta que quase chorou.

— Menina esperta — ele disse ao se inclinar para lhe bei­jar o rosto, espantado com o sangue e a violência do parto, e saiu cambaleando de pensar que sua irmã tinha passado por isso, e pretendia voltar a fazê-lo, ao que tudo indicava, que Selena tinha passado por isso, sua própria mãe, e todas as mães. — Você está bem?

Ela riu, meio nervosa.

— Estou bem. Diga "oi" para Lily.

— Lily? — Ele sorriu. — Oi, Lily, que prazer conhecê-la — ele disse, depois tocou sua mãozinha e ela imediatamente o agarrou com uma força surpreendente, e ele teve medo de machucá-la de tão pequena.

Logo o mandaram sair da sala de parto, então ele ligou para a irmã.

— Emily, ela já nasceu. Chama-se Lily — ele disse com voz embargada, e Emily começou a gritar, chamando Harry, que veio ao telefone para lhe dar os parabéns. — Parabéns para mim? Mas o mérito é todo de Demi. Lily não tem nada a ver comigo.

Mesmo sendo a pura verdade, isso lhe bateu fundo. De fato Lily não tinha nada a ver com ele, por mais mágica, linda e perfeita que fosse. Ela era de Demi, e ele não podia se esquecer disso.

*****

Ela era extraordinária.

Pequena, perfeita, e tudo parecia um sonho até Joseph le­vá-las para casa naquela noite.

Para o apartamento de Demi.

Ele trocou os lençóis, forrou o berço, colocou o carrinho no quarto com a manta.

A parteira veio junto, verificou se estava tudo certo, depois disse que voltaria pela manhã. E após trazer uma bebida quen­te e acomodá-la na cama, ele se encaminhou para a porta.

— Aonde vai?

— Para o quarto ao lado. Não quero atrapalhar. Estarei bem aqui do lado se precisar de mim.

Demi quis dizer que precisava dele agora! Você não vai me incomodar. Mas algo no rosto dele a impediu de falar.

— Obrigada — ela disse ao vê-lo sair e encostar a porta. Ela ficou olhando para a porta que não estava fechada, só encostada. E ela queria chorar, porque não tinha dormido sem ele desde a primeira noite deles, e como sentia sua falta! Mas isso era sua culpa, ele a avisou que não servia. E fa­lava sério, caso contrário saberia que precisava dele agora.

O que era uma piada, pois Lily decidiu ficar acordada e fazer barulhos.

Demi não sabia o que fazer. Estaria com fome? Ela não estava chorando, mas se ela a pegasse no colo será que a acordaria e teria de amamentá-la? Não tinha certeza se sabe­ria encaixá-la no peito para amamentar, ela bem que tentou no hospital, mas agora estava enfrentando a realidade de uma mãe solteira.

Sozinha com seu bebezinho e sem nenhuma experiência.

Demi sentou-se na cama e se cercou de travesseiros. Ela sentia dor e queria muito tomar um banho. Será que poderia? Sozinha? Pois não tinha coragem de pedir ajuda a Joseph, no meio da noite.

Demi abriu a torneira e tirou a camisola, aquela que Selena lhe emprestara, a mesma que usava na noite em que Pebbles morrera. A camisola que Joseph tirou na primeiro noite deles.

Naquela noite, Joseph disse que ela era linda, mas ao se ver agora, com sua barriga disforme, ela quase chorou. Isto era temporário, ela se disse, logo voltaria ser ao que era antes.

Se ao menos pudesse se lembrar de como ela era antes.

Ela estava com um pé dentro da banheira e outro no chão quando Joseph bateu na porta.

— Demi, está tudo bem por aí?

— Estou bem — ela mentiu, sentindo dor ao levantar a perna. Agora só precisava se sentar. — Estou no banho. — Quase.

— Posso entrar?

Ela ia dizer que não, mas ele já tinha entrado, e veio res­mungando segurá-la pelos braços e colocá-la cuidadosamen­te dentro d'água. A água bem morna.

A sensação foi muito boa.

Maravilhosa. Se ao menos Joseph não estivesse ali, olhan­do para seu corpo balofo, ela poderia se esticar e se deleitar...

— Vou deixá-la em paz. Grite quando quiser sair.

Ele fechou a porta, e ela relaxou, aliviada. Assim estava bem melhor.

Demi fechou os olhos e se imaginou num lugar seguro, calmo e tranquilo.

Ela se imaginou no seu jardim interno, com os pés dentro d'água e o som da cascata afastando o caos do mundo. Brian estava ali olhando para ela, sorrindo, com Jamie atrás dele. Jamie olhou para ela e depois foi embora.

Ela deixou que fosse. Não havia como prendê-lo. Ele pre­cisava ser livre, e ela também. Maravilhosamente livre.

Ao abrir os olhos ela viu Joseph sentado diante dela. Fi­cou surpresa, mas nem tanto. Sabia que alguém a observava. Só que achou que fosse Brian, mas era Joseph. E como foi que apareceu aquela cadeira ali? Ela quis encobrir o corpo com as mãos.

— Há quanto tempo está aí?

— Uns dez minutos, eu acho. Você está na banheira há séculos. Como pegou no sono, eu não quis deixá-la sozinha. A água já deve estar fria; quer ajuda para sair?

— Ainda não me lavei. — Com isso ela esperava que ele saísse, mas não foi o que aconteceu.

Ele abriu a torneira de água quente, pegou uma toalha do armário, passou sabão e começou a esfregá-la com todo o cuidado. Passou a toalha ensaboada nas suas costas, nos bra­ços, no peito, nas pernas e até entre os dedos dos pés. Depois a enxaguou e a ajudou a sair.

Com mãos fortes e seguras, ele a tirou da banheira, em­brulhou numa toalha seca e macia e a acomodou na cadeira para se secar.

— Quando terminar, me chame.

Demi vestiu a camisola e voltou para o quarto para encon­trá-lo com Lily nos braços.

— Ela estava chorando — ele disse baixinho.

Mas agora estava olhando fixamente para ele, com olhos arregalados, e ela sentiu um nó na garganta. Ele parecia tão à vontade; mas era natural, com tantas crianças a sua volta, já estava acostumado.

Que pena que ele não fosse conviver com Lily também. Ela sabia que isso não ia acontecer. Era apenas sua emprega­da, e ele não era homem para ela. Ele era bom, e pode ter se divertido com ela, mas foi só isso. E, logo que fizesse o teste de DNA e que Lily recebesse sua herança, ela iria embora. Ainda havia uma esperança, já que o testamento não tinha aparecido. O hotel já fora totalmente posto abaixo, e o docu­mento não foi encontrado. Sua última esperança, o escritório de Brian, foi destruído, e nada se achou.

Nada. Não havia nada embaixo do piso ou do carpete, nada em lugar nenhum.

E, sem esse documento, talvez ela não recebesse nada de herança.

Que ingenuidade a sua; estava se agarrando a uma esperança que se provou ser infundada, e talvez ficasse sem nada, pois, se tivesse mais tempo, Joseph poderia perceber que a amava tanto quanto ela o amava.

Demi sentiu suas pernas ficarem bambas e teve de se sentar rapidamente na beirada da cama. Ela o amava?

Claro que o amava. E ela sabia disso. Apenas as palavras a tinham surpreendido. Eram tão significativas.

— Acho que ela está com fome — ele disse, trazendo a filha até ela.

Demi se acomodou na cama e pegou o bebê das mãos dele.

— Pode deixar que eu me arranjo, agora — ela mentiu, ainda orgulhosa, e ele acenou e saiu do quarto.

Ela abriu a frente da camisola e encaixou Lily em seu peito.

Com algumas manobras ela conseguiu fazer sua filha ma­mar, e o choro foi substituído por uma sucção ritmada que quase a fez rir em voz alta.

E parou de se preocupar com o testamento, parou de pen­sar em Joseph e ficou apreciando sua linda garotinha.

*****

Os dias que se seguiram foram um período de adaptação, mas para Joseph ela parecia se sair muito bem.

Ele se preocupou em nunca se distanciar muito de casa, e se Demi sentiu sua falta à noite, ela não disse.

Depois da primeira noite em casa com Lily, Demi nunca mais pediu ajuda. Passada uma semana sem precisar da ajuda dele, Joseph voltou para o seu quarto com uma es­tranha sensação de pesar. Se tivesse dormido com ela na noite em que chegaram em casa, a segurado nos braços, ou deitado de mãos dadas, talvez ainda estivessem próxi­mos, mas havia uma distância entre eles agora, uma frieza que o entristecia, pois sabia que o romance deles tinha terminado.

Agora ela era mãe, não havia mais tempo para sonhar. Ela adotara uma rotina com Lily, e Emily e Selena estavam en­cantadas de ver como a criança era calminha.

A menina era tão paparicada que era um espanto ela saber quem era a mãe, ele pensou, e por não querer dar trabalho a Demi, ele tentava manter a casa arrumada e limpa.

— Está precisando de uma empregada — brincou Harry um dia, quando passou por lá com Emily e as crianças, a caminho da praia.

Joseph se limitou a olhar para ele e voltar sua atenção para a bancada da cozinha.

— É por pouco tempo, mas se eu não fizer isso, ou contra­tar alguém, Demi vai achar que é sua obrigação, porque ela é assim.

— E até quando vai continuar se enganando que ela é ape­nas sua empregada?

— E que diabos mais você acha que ela é?

— Sei lá. Sua namorada? Companheira? A mulher que você ama?

— Não a amo, e não costumo ter relacionamentos — ele disse.

— Bem, para mim, você tem um relacionamento. Só não sabe do que chamá-lo.

— Relacionamentos são sempre perigosos, complicados e desnecessários.

— Desnecessários? De jeito nenhum. — Ele abaixou a voz: — Você precisa dela, e ela de você, Joseph. Não se engane.

— Estranho ouvir isso de você.

— Isso foi antes de conhecê-la.

— E o que foi que mudou?

— Você mudou. Deixou para trás suas tristezas, toda aquela coisa de Kate.

— Que coisas de Kate?

Se Demi dera com a língua nos dentes, ele a mataria...

— Sei lá, eu só posso deduzir que ela o traiu. Deus sabe por que, pois jamais encontraria um homem melhor.

Ele se limitou a limpar os armários. Estranho, quando Demi fazia isso os armários ficavam brilhando.

— Está bem, não fale se não quiser. Mas pense nisso. Pen­se em Demi e no que ela representa para você. E não a deixe escapar, Joe. Ela é muito boa. É inteligente, divertida, es­perta, culta, generosa...

— Você é casado. Não se esqueça disso. E se você fizer minha irmã sofrer, eu o mato.

— Não pretendo fazer sua irmã sofrer, eu a adoro. Mas nem por isso me tornei insensível, e se você for esperto, vai abrir os olhos e ver o que está bem diante de seu nariz. Demi foi a melhor coisa que já lhe aconteceu. Não a deixe escapar.

E sem dizer mais nada ele foi embora.

Joseph se voltou para os armários. Nossa, estavam horrí­veis. Ele passou o pano neles mais uma vez.


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Capítulos finais!!! Agora vai ter capítulo todo dia, e se tiver um número bom de comentários, posso postar 2 capítulos por dia. 

4 comentários:

  1. o nascimento da Lily *o* .... tomare que o Joe abra os olhos agora..... posta mais!!!!

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  2. a bebe nasceu <3 e a Demi assumiu pra ela mesma que ama o Joe agora só falta ele assumir que ama ela... posta mais

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  3. Que lindo ele com a Lily *-* Espero que ele escute o Harry

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  4. Ja pode postar o próximo kkk brinks, ta perfeito meu bem

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