21.10.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 4


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– POSSO AJUDAR? – perguntou a ruiva atrás do balcão da recepção na Sphere Management, uma xícara de chá antiquada fumegante ao lado dela.

Quase tão fumegante quanto Joe agora.

Ele não tinha certeza se estava mais frustrado por ter tomado um bolo na noite anterior ou pelo vazamento a respeito de sua pequena empresa, o que tornava seus planos profissionais de conhecimento público. – Demi Masterson. – Pelo menos ele sabia onde encontrá-la.

Natalie Night teria que esperar.

– Certamente. – A recepcionista pegou o telefone. – Qual é o seu nome?

– Joe Fraser. – Não era a primeira vez que ele desejava ter um nome não tão conhecido na cidade.

A foto dele não tinha aparecido nos blogs de fofoca pela manhã, mas ainda era cedo. O rosto de Eric já estava por toda a internet muito antes do amanhecer. Seria um pequeno milagre se nenhum dos fotógrafos tivesse flagrado Joe.

– Obrigado. – A expressão da mulher permaneceu uma máscara educada, mas ele via que os lábios dela estavam contraídos de forma quase imperceptível.

Enquanto ela fazia a ligação, Joe planejava sua abordagem. Ele seria profissional. Direto ao ponto. Mas não ia embora sem respostas.

– Sinto muito, Sr. Fraser. – A recepcionista se levantou de trás do balcão maciço. – A srta. Masterson não está atendendo o telefone. Você marcou com ela para hoje de manhã?

– Deixei claro para Selena Barrows ontem que queria encontrar a pesquisadora de vocês o mais breve possível. Achei que ela fosse transmitir isto à Srta. Masterson. – Ele franziu a testa, irritado. – A Srta. Barrows está no escritório?

– Vou verificar. – A mulher apertou um botão e falou com alguém. Instantes depois, Selena apareceu.

– Que bom ver você, Joe. – Ela usava um terno cinza e tinha uma pasta de arquivos enfiada debaixo de um braço. Ela apertou a mão dele e pareceu menos paqueradora do que no dia anterior. – Ouvi dizer que está procurando por Demi.

Ele assentiu. Aguardou.

– Eu a vi no início da manhã. Ela deve estar longe da mesa. – Gesticulando para que ele fosse até a porta de onde ela veio, Selena deixou sua pasta sobre o balcão da recepção. – Por que você não entra e verei se consigo localizá-la?

Seguindo-a pelos corredores privados da Sphere Asset Management, Joe passou pelos mesmos lugares do dia anterior.

– Li na revista Variety de hoje que seu pai adquiriu os direitos de um novo livro. – Selena espiou o mesmo escritório de onde Demi se ausentara no dia anterior.

Joe olhou para a mesa da pesquisadora através da porta entreaberta. Havia um casaco azul-marinho dobrado sobre a cadeira de couro de espaldar alto. Um bom sinal de que ela estava por perto?

– Não sei por que ele quer transformar aquele livro em filme. – Joe não queria falar sobre o pai. Mas, inevitavelmente, as pessoas perguntavam sobre ele.

– Pois é, não é mesmo? – Selena deu meia-volta e cruzou os braços, como se estivesse pronta para iniciar uma conversa ao bebedouro. – Ele geralmente faz filmes comerciais. Ação. Atores rentáveis. Fiquei realmente surpresa por ele ter escolhido um livro tão introspectivo, pouco badalado.

Joe soube o motivo no momento em que viu o acordo. Thomas tinha uma necessidade insaciável de competição, para provar que era o melhor. Sendo assim, faria um filme para competir pau a pau com o que Joe tinha planejado enquanto ainda estava no comando de sua subdivisão na empresa do pai. Joe tinha jurado fazer o filme um dia. Agora seu pai estava criando um projeto com estilo e público semelhantes, assim ele poderia fazer melhor.

Será que a relação deles tinha como ser mais confusa?

– Vai entender. – Joe deu de ombros e então se aprumou quando viu uma mulher aparecer, saindo de uma sala nas proximidades.

Uma morena com a cabeça baixa, imersa em pensamentos enquanto estudava uma página de um livro grosso. – Srta. Masterson? – Joe captou a atenção dela segundos antes de ela quase colidir contra ele.

Demi levantou a cabeça.

– Oh! – Ela ficou tão assustada que perdeu o controle sobre o livro. Os olhos cinzentos arregalados encontraram o olhar de Joe. – Desculpe!

O livro atingiu o dedão do pé de Joe antes de cair no chão. Em um segundo, Demi estava ajoelhada aos pés dele para recolher a publicação, o corpo tão perto que Joe jurava ter sentido a respiração quente em sua coxa.

Ou foi uma ilusão?

Ele cerrou os dentes e lembrou a si mesmo por que queria encontrar aquela mulher, para começar. Talvez sua oportunidade perdida com Natalie o estivesse fazendo enxergar cenários sexuais para onde quer que olhasse.

– Não tem problema. – Ele estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, segurando seu cotovelo.

Ela parecia diferente em relação ao dia anterior. Sem paletó, parecia menos amarrotada e mais… curvilínea. Uma blusa de seda branca simples realçava os seios, embora o decote alto não revelasse nada. O cabelo castanho estava torcido em um nó confuso, e mechas saltavam da frente e de trás, algumas emoldurando o rosto e outras contornando o pescoço.

Ainda assim, foram os olhos cinzentos que o atraíram. Isso e o fato de ela ter prendido a respiração quando ele a tocou.

Agora Joe a soltava, os dedos abandonando lentamente o calor do braço nu.

– Demi, você se lembra de Joe Fraser? – cutucou Selena quando nenhum dos dois falou por um longo momento.

– Sim. – Ela disse a palavra com uma deliberação lenta enquanto Joe sorvia o aroma da morena. Era algo novo e fresco, tão sutil que ele ficou tentado a se inclinar mais para identificá-lo.

– Eu gostaria de conversar com você em particular – informou Joe, necessitando colocar uma mesa como barreira entre eles, caso quisesse ter uma conversa proveitosa.

E essa deveria ser a prioridade, mesmo que alguma coisa a respeito de Demi deixasse os sentidos dele em alerta total. Talvez porque o corpo dela fizesse lembrar o de Natalie. Proporções básicas iguais. Talvez até a mesma altura, se Natalie não estivesse usando os saltos altíssimos ostentados durante sua dança.

– T-tudo bem. – Mais uma vez, a fala dela pareceu mais lenta, como se estivesse falando com uma criança. Algo naquele esse padrão estranhamente cadenciado também o fazia se lembrar de Natalie. – Venha comigo.

Ela passou por ele sem dizer palavra. Selena desaparecera, provavelmente retornando à sua sala para se debruçar sobre as páginas da Variety. Embora, nesta cidade, talvez isso rendesse bons negócios, mesmo se você não estivesse na indústria cinematográfica.

Joe seguiu Demi pelo corredor, entregando-se à visão da traseira dela sem qualquer pudor. Demi Masterson não mostrava seus dotes com o mesmo abandono de Natalie… aquele tapinha atrevido no bumbum veio tentadoramente à mente… mas a figura dela era tão sedutora quanto.

No escritório, Demi gesticulou em direção às poltronas perto de uma janela aberta antes de fechar a porta atrás deles. Joe ficou grato por ela ter levado a sério seu pedido para uma conversa em particular. Ainda assim, ele não se sentou até ela se juntar a ele, perto das poltronas que combinavam entre si, ao lado de uma mesinha de cerejeira. Quando ela finalmente sentou-se, ele fez o mesmo.

– Como posso ajudá-lo? – Demi vestiu o casaco.

Joe ficou se perguntando por que ela se escondia por trás de roupas disformes e sapatos confortáveis. E como também não usava maquiagem, o esforço para minimizar sua atratividade natural parecia deliberado.

– Você incluiu algumas informações em seu relatório a meu respeito que não devem chegar ao conhecimento do público. – Em um esforço para manter o olhar longe das pernas dela, Joe ficou observando os detalhes do escritório. Diploma da Universidade da Califórnia. Um quadro de cortiça com uma foto dela segurando uma margarita entre um monte de outras mulheres fazendo a mesma coisa. Ela parecia diferente. Relaxada e feliz.

O que o interessou na foto, no entanto, foi o fato de as mulheres estarem ajoelhadas em tapetinhos vermelhos diante de um poste de dança prateado reluzente. Dada sua recente introdução de cair o queixo às sutilezas do pole dancing, ele não conseguia evitar pensar em Natalie.

Droga.

– Não acho que tenha incluído qualquer coisa particular. – Ela franziu a testa, e o movimento fez deslocar um trio de sardas leves perto da boca.

Joe se perguntou distraidamente qual era o gostinho da pele dela ali naquele ponto.

– Você fez referência a uma possível expansão dos negócios, além da agência de talentos – lembrou-lhe ele, tentando se conter.

Demi não deve ter precisado do arquivo para saber a quê ele se referia, porque concordou imediatamente.

– Sim. Eu me lembro.

– Ninguém sabe sobre isso. – A tensão tomou os ombros de Joe. Diabo, talvez seu pai já estivesse ciente de seus planos profissionais. Isso explicaria o súbito interesse em filmes mais artísticos.

– Não? Eu sei. – Um sorriso curvava os lábios dela agora, e indiferente ao fato de Demi ter lhe lançado um olhar ligeiramente triunfante, Joe tinha de admirar o orgulho óbvio que ela ostentava pelo trabalho.

– Preciso saber quem foi sua fonte para essa informação.

– Não tenho permissão para dizer. – Ela empinou o queixo ao mesmo tempo que entrelaçou os dedos em um nó apertado.

Joe notou que Demi não usava aliança. Será que ela estava saindo com alguém?

Não que ele estivesse disponível. Depois de ter uma aliança devolvida pela única mulher com quem tentara ter um relacionamento sério, ele não estava com pressa para percorrer esse caminho novamente. Heather o abandonara durante um de seus muitos desentendimentos com o pai, sendo que a atriz promissora preferira dar razão a Thomas. Isto fez Joe se perguntar se ela havia ficado com ele pela pessoa que ele era, ou se ficara impressionada com o nome de família e com o acesso a um produtor famoso. Mas dois anos depois daquele rompimento, Joe estava curioso a respeito de uma pessoa nova.

– Você está longe de ser uma jornalista. Suas fontes não são protegidas.

– Se você se tornar um cliente da Sphere, vai agradecer nosso compromisso com a discrição.

– Não se isso violar minha privacidade.

– Sr. Fraser…

– Joe – corrigiu ele.

– Joe – amenizou ela. – Qualquer coisa que descobrimos em nossa pesquisa não vai além do analista que assume a conta do seu negócio. Nesse caso, Selena.

Ele se inclinou no assento, determinado a deixar bem claro o quanto vinha cuidando para que seu plano de negócios permanecesse confidencial.

– Com base em uma jogada profissional que meu pai fez ontem, tenho de questionar se a informação já se espalhou. – Ele a encarou e desejou que ela compreendesse. – Se houve um vazamento pelas poucas pessoas que ainda trabalham para mim, preciso saber.

Ela olhou para o chão, os lábios contraídos de indecisão. Ele aproveitou aquele instante de hesitação.

– Demi… Posso chamar você de Demi?

Diante do breve aceno de cabeça, ele continuou:

– Meu pai é o homem de negócios mais cruel que você vai conhecer. Claro, ele assume uma fachada encantadora em público, mas tem uma mentalidade de tubarão quando vê o sangue na água, e neste momento ele está vendo o meu.

– Uau. – Ela deu um sorriso torto, os joelhos de ambos tão perto que estavam quase se tocando. – Acho que não sou a única com um genitor que não acredita em mimos.

– É mais ou menos isso. – Ele retribuiu o sorriso e sentiu-se estranhamente honrado por saber algo pessoal a respeito dela. Ele não a via como o tipo de mulher que era fácil de se conhecer. – Eu teria sido sábio a ponto de escolher uma profissão bem longe do circuito de Hollywood, mas acabei tomando gosto pelo ramo do cinema.

Ela o observava com os olhos cinzentos frios, no entanto Joe notou um latejar sutil começando na veia azulada da têmpora dela. Ele conseguia sentir o coração de Demi batendo em um ritmo acelerado, um ritmo que combinava com a pulsação dele.

– Você me convenceu, Joe. – A voz dela atingiu uma nota gutural que o fez pensar em longas noites rolando na cama.

Na cama dele. Na cama dela. Tanto faz.

Talvez ele só estivesse desperdiçando seu tempo ao tentar descobrir o paradeiro de Natalie Night. Talvez devesse buscar o lado aventureiro de Demi Masterson em vez disso.

– Estou disposto a colocar todas as minhas habilidades persuasivas em ação. – Ele queria puxá-la, tirá-la da poltrona e colocá-la no colo. – Isso é importante assim para mim.

EU PRECISAVA respirar fundo.

Muito, muito fundo.

Porque se não conseguisse um pouco de ar em breve, iria derreter aos pés de Joe Fraser pela segunda vez em 24 horas. Uma coisa era a dançarina Natalie Night flertando descaradamente com aquela figura conhecida em Hollywood; para mim, no entanto, essa possibilidade não existia. De. Jeito. Nenhum.

– Isso não é necessário – informei a Joe. – Não será preciso me persuadir mais.

Embora eu pudesse ficar em vias de exigir respiração boca a boca caso Joe chegasse mais perto com seu terno de seda italiana, suas mãos bronzeadas de aparência tão perspicaz apoiadas nos joelhos. Eu definitivamente sentia um desmaio chegando.

Joe era o equivalente a um prêmio para uma garota com a mais modesta das aspirações românticas. Naquele momento, eu devia dar um jeito de tirá-lo do meu escritório antes que ele descobrisse minha verdadeira identidade. Dali do meu assento ao lado da janela, via alguns fragmentos de provas contundentes que poderiam me trair, caso ele os notasse. Um deles era um passe VIP do Backstage que eu tinha guardado como um maldito troféu para me lembrar do meu triunfo na noite passada. Não estava supervisível, mas preso em minha bolsa perto da minha cadeira.

Também guardei uma plumagem branca, que estava decorando o tampo da minha mesa, bem na frente, bem no centro. Sim, eu era realmente uma idiota.

– Sério? Você vai me contar onde conseguiu a informação? – Ele se endireitou, e me perguntei se ele empregava a sedução como técnica coercitiva com frequência. Só pensar no assunto já era o suficiente para me fazer ceder ao que ele quisesse.

Além disso, quanto mais cedo ele saísse da Sphere, melhor.

– Bem. – Lambi os lábios porque minha boca tinha ficado seca. No entanto, por incrível que pareça, não gaguejei. De algum modo, mantive minha compostura e minhas palavras fluíram com breves pausas entre elas. – Na verdade, faço o mais rudimentar da pesquisa, então não fui eu quem descobriu a notícia de que você pode expandir seus talentos abrindo um estúdio.
Ele cerrou os punhos e a boca se contraiu em uma linha reta.

– Então preciso convencer outra pessoa a falar.

– Não. – Eu não iria contar o nome da minha fonte, ou ela nunca mais iria me ajudar com meus perfis novamente. – Estou familiarizada com os métodos dela e posso lhe garantir que notícias como esta vieram de dados desprotegidos na internet.
Joe deu um pulo da poltrona.

– Você pagou alguém para invadir meu computador?

– Claro que não. – Não pude evitar um suspiro. Infelizmente, a maioria das pessoas não sabia o quão vulneráveis seus dados ficavam quando eram armazenados on-line. – Você provavelmente não entende muito de armazenamento na internet. Acontece que eu sei que ela viu seu plano de negócios em um arquivo que surgiu em uma busca de rotina.

– Rotina? – Ele começou caminhar pelo meu escritório, passando a mão no cabelo. – Você chama invasão de privacidade de rotina?

– Nossas pesquisas são agressivas, mas nunca antiéticas. – Eu acreditava firmemente nisso, ou não teria protegido a empresa de pesquisa. – Você não pode esperar que a gente não procure pistas na internet sobre os negócios de um cliente. É como se você estivesse postando informações em um mural público e, em seguida, pedisse às pessoas para não olhar.

Mais ou menos como colocar uma peninha branca estúpida na minha mesa na esperança de que Joe não fosse notá-la. Mas quem teria pensado que ele iria aparecer na Sphere hoje, pedindo para ver a mim dentre todas as pessoas?

Ele parou ao lado da minha mesa, tão perto da pena, que quase podia tocá-la. Eu tentava manter o contato visual e não entregar a pista sobre a verdadeira identidade de Natalie Night. Mas era impossível não notar o elefante na sala.

Um suor nervoso irrompeu pela minha testa, e embora meu cabelo o cobrisse, perguntava-me se minhas bochechas também estavam num tom vermelho vivo. Só de pensar nisso, eu corava mais.

– Entendo. – Os dedos dele roçaram minha mesa, se apoiando ligeiramente ao lado de uma foto da minha casa depois de eu reformá-la. – Talvez você possa me dizer como proteger melhor as informações no futuro. Gostaria de me livrar de todos os vestígios de quaisquer planos de negócio.

Os belos olhos escuros de Joe encontraram os meus, e me perdi por um minuto. Ele era incrivelmente bonito. Tinha nuances dessa coisa toda de amante latino rolando, mas também possuía um senso de cuidado caloroso que lisonjearia qualquer mulher. Deus do céu, para ele eu era apenas uma analista de pesquisa aleatória que havia entrado em contato com seu mundo, e ele estava fazendo eu me sentir o centro de sua completa atenção. Era uma coisa inebriante.

– Demi? – chamou ele.

– Hum? – Eu tentava parar de pensar no abdome tanquinho que Selena tinha jurado que ele tinha, porém fiquei observando seu tronco secretamente, procurando vestígios daqueles músculos na abertura de seu paletó desabotoado. – Realmente não sou a melhor pessoa para aconselhar alguém sobre segurança digital.

– Tenho certeza de que você sabe o suficiente para não cometer os mesmos erros que eu. – Ele não parecia nada dissuadido. E então aconteceu.

Joe olhou para minha mesa. Seus olhos pousaram na plumagem.

Tenho certeza de que um suspiro audível escapou dos meus lábios porque ele olhou para mim abruptamente.

– N-n-nesse caso – gaguejei no começo, então acelerei meu discurso para botar as palavras para fora antes que pudesse estragá-las mais – Ficaria feliz em lhe dar algumas dicas sobre como proteger suas informações on-line. Vou lhe enviar minhas observações ao final do dia.

Ele ainda olhava para a peninha. Ai, droga.

Fiquei de pé, na esperança de o gesto sinalizar o fim da reunião, para que pudéssemos seguir nossos respectivos caminhos. Em vez disso, ele pegou a plumagem branca elegante e me lançou um olhar demorado.

Meu coração disparou. Estaria morta se ele me reconhecesse. Imagens de mim mesma enroscada ao poste de dança na noite anterior voltaram com força total em detalhes vívidos. Eu tinha dançado para ele. Para ninguém mais. Como poderia esperar que ele não soubesse que era eu?

– Demi. – A atenção de Joe se voltou para a pena. Ele alisou as fibras macias entre o polegar e o indicador, um toque lento, deliberado.

Será que com a intenção de me provocar com uma informação perigosa que ele agora poderia esfregar na minha cara?

Ou será que era aquela atenção masculina cuidadosa projetada para me lembrar do quão sedutoramente persuasivo ele podia ser? Não sabia se ficava com medo ou… excitada. Daí, fui capturada em um ponto frenético da situação. Eu não conseguia recuperar o fôlego. Minha boca ficou tão seca que falar não era mais uma opção.

– Hum? – Enfiei as mãos nos bolsos do casaco antes de me agarrar loucamente a ele.

– Você cogitaria se encontrar comigo em particular?

Olhei em volta do escritório, muito consciente da porta fechada.

– Quer dizer – esclareceu ele –, você seria capaz de se encontrar comigo fora da Sphere?

– Não sou gerente de contas. Na verdade, não costumo me reunir com clientes. – O suspense estava me matando. Se ele sabia meu apelido secreto, por que simplesmente não dizia? Por que simplesmente não corria até meu chefe e acabava comigo?

– Então agradeço se você me encontrar fora do expediente. – Ele abanou a peninha, quase como se fosse uma gangorra, entre dois dedos. Então a largou na mesa. – Obrigado.

Será que ele estava me agradecendo por tê-lo encontrado ontem à noite no clube? Ou estava supondo que eu concordaria com o encontro que ele havia acabado de propor?

Sua expressão não me dizia nada.

Mas não importava se havia uma chance de 50 por cento de ele ter me reconhecido e poder me chantagear para sempre: Joe ainda era o homem mais atraente que já vira. Além disso, ele tinha me notado no dia anterior, mesmo antes de eu colocar os trajes do espetáculo para assumir o lugar de Natalie no Backstage. Não conseguia me esquecer do jeito como ele me convidara para a sala de reunião, os olhos encarando os meus como se eu fosse uma mulher atraente, e não apenas mera funcionária da Sphere.

– Acho que consigo uma brecha no horário de almoço. – Manteria a postura profissional. Despesa da empresa. Não havia nada em meu contrato que dissesse que eu não poderia trazer novos negócios. Se muito, havia incentivos financeiros para fazer exatamente isso.

– Hoje? – incitou ele. – Há várias coisas que gostaria de discutir com você.

Tais como? Eu queria gritar, meus nervos tensos ao ponto de ruptura. Mas se o que ele queria dizer tinha algum tipo de relação com o trabalho clandestino da noite passada, seria melhor encontrá-lo fora do escritório mesmo. Talvez pudesse convencê-lo a guardar meu segredo.

No mínimo, poderia me render à atração tépida que dispensei na noite anterior, quando dei o bolo nele. Parecia justo recuperar a chance, já que ia perder meu emprego por causa de um erro.

– Tenho uma reunião interna no horário de almoço hoje. – Tive de me aproximar dele para espiar o calendário semanal aberto na área de trabalho do meu computador. – Que tal amanhã?

Senti-me incrivelmente ciente da presença dele, de pé ao meu lado, um pouco mais perto do que o estritamente profissional.

Remexi as coxas sob a saia em um esforço para acabar com o calor repentino, entretanto o gesto do intensificou a sensação.

– Que tal hoje à noite? – pressionou, baixando a voz para poder falar bem próximo ao meu ouvido.

Um arrepio varreu meu corpo. Foi só o que pude fazer para não fechar os olhos, inclinar a cabeça para trás e lhe conceder pleno domínio sobre meu pescoço. Ombros. Qualquer outra parte que ele quisesse.

– Uma reunião no almoço provavelmente seria mais apropriada. – Eu soava como uma puritana, mas me agarrei à esperança de que ele não me reconhecera. De que minha consciência culpada estava pregando truques em mim e via perigo onde não havia nenhum.

Ele assentiu, mas não recuou. A plumagem permanecia sobre a mesa, no espaço estreito entre nós.

– Se você insiste. Posso buscá-la ao meio-dia amanhã?

Péssima ideia. Isso só iria levar a problemas. No entanto, assim como na noite anterior, descobri que não era capaz de recusar.

– C-c-claro. – Engoli em seco. – Espero que eu tenha o suficiente a oferecer para fazer valer a pena.

Era a emoção de uma mulher insegura – e uma que eu não devia ter verbalizado. Sabia que não devia me minar.

– Mais do que suficiente. – Joe sorriu, do mesmo jeito que o lobo mau teria feito após degustar a vovó. – Até lá então, Demi.

Joe deu meia-volta com seus sapatos de couro polido, e achei ser capaz de respirar de novo. No entanto, ele fez uma pausa entre minhas estantes para pegar a foto no porta-retrato de prata que – tinha notado – estivera espiando mais cedo.

Era uma foto da despedida de solteira da nossa recepcionista, no ano anterior, a festa que me apresentara ao pole dancing. Perguntava-me por que Joe quereria olhá-la com mais atenção.

Ele largou a foto e partiu antes que pudesse perguntar. Quando dei outra olhadinha no retrato, no entanto, fiz uma boa ideia do motivo.

O poste de dança não estava tão óbvio ao fundo, uma vez que poderia ser confundido com um apoio para o teto ou com a base de uma luminária de pé alto. No entanto, não poderia haver nenhuma dúvida em relação ao logotipo na parede dos fundos do estúdio de dança. Se você olhasse de pertinho, notaria o nome Naughty by Night pintado na parede de tijolos.

Meu coração foi à garganta enquanto me perguntava o que Joe pensara ao ver aquela foto. Será que ele conhecia meu segredo?

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Seis comentários pro próximo
xoxo
PS: É importante que vocês comentem, pois assim sabemos se estão ou não gostando.

6 comentários:

  1. Se eu estou gostando? Eu estou adorando, essa história é demais :)
    Acho que o Joe descobriu o segredo da Demi, cheira-me que o almoço entre eles vai ser muito quente hehe
    Faz maratona por favor :)

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  2. Maaaiiss, ta muito legal a história!

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  3. Meu deus eu To apaixonada por essa fic,posta mais por favor se não vou morrer hahahaha,beijos

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  4. Nossa será que o Joe descobriu ou desconfia do segredo da Demi?!?!?!!?!
    Estou amando essa fic..........

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  5. Certeza que ele sabe que era ela.... ansiosa pra saber o que vai acontecer no almoço... será que ele vai fazer alguma proposta indecente? Kkkkkkkk postaaaaa...

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  6. Ah não aguento mais esta espera, venho o tempo todo aqui para ver se há capítulo novo. Adoro a história, posta mais!

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