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JOE QUERIA estar em qualquer lugar, exceto no Canal Room. O lugar estava lotado com as mesmas pessoas que ele tinha visto no sábado à noite, e na quinta-feira, e na quarta-feira à noite. As mesmas câmeras e repórteres e puxa-sacos feitos dos mesmos ruídos. O jogo repetido indefinidamente, e a única coisa que mudava era o figurino.
Mia estava… em algum lugar. Ela pareceu surpresa quando Joe não a aninhou depois de sair do carro. Não importava o fato de não terem trocado uma palavra durante a viagem, mas quando as câmeras foram ligadas, havia expectativas. Exigências. Ele não poderia ter se importado menos.
A imprensa iria dizer o que queria, aí seria a vez dele, e ele iria fazer uma declaração mais ultrajante, e assim vai. Nem mesmo xadrez, mas damas. Seus pensamentos, enquanto ele estava bebericando um uísque perto da porta dos fundos, além de debater internamente uma fuga dali, estava nas duas mulheres que tinham vindo para o centro do palco de sua vida. Rebecca, que sempre tinha sido uma aliada, até mesmo quando eram crianças. Não havia nenhuma razão para acreditar, racionalmente, que ela havia mudado sua lealdade. Joe nunca fizera nada para machucá-la ou envergonhá-la. Eles não eram apenas parentes, eram amigos.
Considerando isso, talvez fosse hora de pensar no que ela estivera tentando dizer a ele. Ela não tinha nada a ganhar se ele reavaliasse sua relação com os pais, com seu trabalho, com Demi. Se ele fizesse uma reviravolta completa em todas as três áreas, ele e Rebecca iriam continuar como antes.
Do que ele tinha medo? Da ideia de mudança? Mudar sempre fora desconfortável, e ele construíra uma vida muito confortável para si. Digamos que ele estava disposto a sair de seus padrões. Nada era gravado em pedra, então e daí se ele analisasse isto?
Ele não tinha nenhuma obrigação de fazer qualquer coisa que seus pais lhe pedissem. Nunca tivera durante anos. A vida que levava era dele. Em troca, nada que ele fazia ou dizia ia influenciar seus pais, a não ser que eles quisessem ser influenciados.
Ele deu um gole no uísque, sentiu queimar o fundo da garganta. Ocorreu-lhe que a rivalidade tinha acabado anos atrás, mas Rebecca estava certa. Ele nunca parava de competir. E tinha ficado incrivelmente satisfeito com a reação horrorizada deles ao Naked New York, bem como a sua notoriedade. O portal representava tudo que eles evitavam como uma praga: interesses comuns, a exposição pessoal, visão progressista. Basicamente tudo o que não os representava. Joe continuava a aumentar as apostas, eles continuavam reagindo com choque, com ameaças, com subornos. Hum. Ele transformou aquela rodinha de hamster no projeto de sua vida.
Por que, dentre todas as coisas interessantes disponíveis para um homem de seus recursos, ele ainda estava jogando aquele jogo ridículo? Estrelas de cinema? Moda? Escândalos? Não que ele considerasse toda celebridade uma tolice… não era bem assim. Os humanos criaram a cultura das celebridades porque foram projetados dessa maneira. Fofocas existiam desde a invenção do discurso. A tecnologia só tornava tudo mais imediato. Era parte do mundo, mas apenas uma parte pequena e, no fim, não era uma parte que ele valorizasse particularmente, tirando pela receita gerada.
Joe pegou seu copo e saiu. Droga, tinha esquecido o casaco, estava um frio de matar, mas ele não estava disposto a voltar para dentro, agora não.
Caminhou rua abaixo, e até mesmo às 22h40 havia pessoas nas faixas de pedestres, pessoas tagarelando, luzes acesas, restaurantes e bares cheios até o talo. Deus, ele amava aquela cidade. Sua bagunça fantástica. Infinitamente fascinante, e ele era o filho da mãe mais sortudo que morava lá. Será que ele sabia mesmo o que fazer com este mundo ao seu alcance? Se ele se afastasse do Naked New York amanhã, nada de significativo aconteceria. Ele imaginava que ainda administraria o grupo de mídia. Isso era gratificante, e Joe tinha muito orgulho do que construíra. Mas se ele nunca mais fosse a outra festa, nunca comparecesse a outro lançamento de filme ou inauguração de boate, e daí? Manhattan encontraria outro rei . Ele ia ter que descobrir o que desejava fazer de sua vida. Seus pais parariam de ficar constrangidos por causa das mulheres com quem ele saía. Droga. Joe começou a gargalhar, em plena calçada, e um casal, caminhando atrás dele, atravessou a rua fora da faixa.
Ah, Rebecca ia ficar insuportável. Ninguém sabia ser tão presunçoso quanto Rebecca. Mas que inferno. Ele devia isso a ela.
Não que ele tivesse resolvido largar tudo. Ainda não. Era uma decisão muito grandiosa para ser tomada com a cabeça cheia de uísque e depois de uma noite confusa. Além disso, ele precisava pensar em sua equipe. Transições, alterações, repercussões financeiras.
Coisa que, na verdade, soava como uma diversão dos diabos.
Tremendo, Joe retornou para a entrada do clube. Não estava com vontade de entrar, mas devia isso a Mia para avisá-la que estava por conta própria. Então ele enfrentou a porta da frente, ignorou os olhares estranhos por sua reentrada. A única coisa que importava no momento era encontrar Mia. Porque, ao passo que sair dos holofotes do NNY era uma grande decisão, não era a mais importante a se cogitar. Fato que o levava então à segunda mulher.
Se ele ia saltar do precipício sem uma rede de segurança, tinha certeza de que não queria ir sozinho.
DEMI ESTAVA no closet. No closet dela. No divã que fazia às vezes de cama. Seu quarto provavelmente era do tamanho de uma torradeira, mas tinha uma porta, e ninguém de fora podia ouvi-la chorar.
Embora ela não estivesse chorando no momento, estava olhando para o telefone. Já havia resolvido que não pegaria o próximo avião para Ohio, no entanto, ainda não estava de volta ao modo guerreira amazona. Estava triste. Quase tão triste quanto uma pessoa que tinha tanta coisa poderia estar.
Aquele era o retrocesso. Era impossível chafurdar na lama, não quando havia tantas pessoas com problemas de verdade. A única coisa errada com a vida dela era que o garoto não gostava dela. Não era o fim do mundo, não era um caso único, e quem poderia saber se Joe era o grande amor de sua vida? Talvez ele servisse a um propósito completamente diferente. E se a atração de Demi por ele fosse um teste de sua coragem, seu compromisso com seu futuro? Ou um lembrete de que o coração dela estava funcionando, e que precisava ser muito mais cautelosa com suas emoções?
Vai ver não tinha nada a ver com amor. Ele era um príncipe de conto de fadas, e ela era humana. Ela crescera vendo filmes da Disney e recebendo noções românticas. Joe era mágico. Claro que ela ficara atraída.
O problema estava em fingir, fabricar, acreditar que ele também tinha ficado atraído.
Demi pegou o telefone, foi na pasta de contatos e analisou sua lista pessoal. Gostava demais de Rebecca, mas a amiga estava muito perto da dor. Lilly era ótima, mas elas não haviam alcançado o estágio da intimidade ainda.
Demi estava com muita vergonha de ligar para seu pessoal em Ohio. Ela sentira-se tão ridiculamente superior a eles e seus erros trágicos. Falando em cair do alto do próprio ego…
Não, só havia apenas uma pessoa para se telefonar esta noite, e era da família. Beth era dois anos mais velha e passou por um rompimento confuso antes de conhecer Max. Ela também era um ouvinte incrível, e cara, Demi precisava conversar.
Beth respondeu após um toque.
– Ai, graças a Deus. Sei que tem errado. Fale, pirralha insuportável. Demi fungou duas vezes, e começou do início.
JOE OLHOU para a lareira. Era tarde, ou para ser mais preciso, cedo. Estava morto de cansaço e precisava dormir, mas havia acontecido muita coisa desde que ele chegara em casa, e ele ainda estava atordoado com tudo.
No momento em que entrou, ele se dirigiu ao escritório. Atualizar o blog da manhã tinha sido fácil. Ele tinha trabalhado de verdade e falado sobre a festa e as fragrâncias, afinal estavam pagando uma boa grana para anunciar o perfume em todos os blogs dele, e assim ele também mantinha o diálogo de Demi ativo. Foi surpreendentemente satisfatório chamar Mia de velha amiga. Ela odiaria isso. Especialmente a parte “velha”. Mas ela nunca ficava brava por muito tempo. Claro, ele teve que comentar os últimos eventos relevantes, falar sobre os influentes de Manhattan. Em seguida, ele embrulhou todo o pacote em algo mais… pessoal.
Com toda essa conversa de Demi sobre objetivos e sonhos, ele retornara aos seus arquivos para reler seu plano de negócios original. Fora esclarecedor. Ele tinha ido tão longe desde então, no entanto, em alguns aspectos ele praticamente não evoluíra um centímetro. Junto ao arquivo havia textos sobre o escândalo que ele criara depois de ter sido aceito na faculdade de Direito de Harvard, para se certificar de que sua família nunca iria cogitá-lo para qualquer coisa importante.
Joe tinha ido para a cadeia de propósito por porte de drogas. Ele planejou tudo até os mínimos detalhes… ninguém tinha sido pego com drogas, exceto ele, e se certificara para que fosse tão circunstancial, que nunca seria levado a julgamento. O dano foi apenas em fofocas, deduções, e fotos nos tabloides.
Não importava quantos advogados tentassem tirar seu fundo fiduciário, eles não foram capazes de tocar em um centavo.
Sim. Provavelmente ele podia parar agora. Dar uma trégua ao seu pessoal e a toda sua família. Jesus, ele sabia ser um idiota quando queria. Por outro lado, tinha aprendido com os mestres.
Sendo assim, novo plano. Resultado? Ele estava numa posição na qual poderia fazer uma diferença real na vida das pessoas. Ele tinha dinheiro, acesso, algum poder. A política estava fora de questão. Nem mesmo uma cogitação. Solução criativa de problemas? Isso tinha muito apelo, mesmo que Joe não estivesse muito seguro de como seria.
Demi ao seu lado?
Ele parou de respirar quando uma imagem se formou, nada de nobre ou dramático, só os dois, deitados na cama, no escuro. Nus. E sim, tudo bem, depois do sexo. Mas a fantasia era realmente sobre o depois. Sobre conversar. Papo furado no meio da noite, sobre qualquer coisa. Tocá-la porque ele podia, e ela retribuir o toque.
Joe pensou naquela última tentativa por parte de Rebecca. A coisa sobre lutar para ser feliz em vez de estar certo. Faltar à estreia do filme? Fora a decisão mais fácil que ele tomara em anos. Ele ainda sentia o prazer de ter Demi dormindo no ombro dele, mesmo com o formigamento nos braços. Ele sentira-se mais relaxado, mais feliz do que tinha alguma razão de ser, e por quê? Não apenas porque ele tinha priorizado Demi, mas porque ele se colocara em primeiro lugar também.
Santo do…
Joe se afastou da lareira e atravessou a sala de estar, até o átrio, em seguida, foi ao escritório. O computador ainda estava ligado. Ele nunca desligava a maldita coisa, então foi fácil sentar-se em sua cadeira e abrir uma tela em branco.
Enquanto seus dedos voavam pelo teclado, ele se flagrava sorrindo. À medida que o céu de Manhattan clareava, ele ficava cada vez mais perto da borda do precipício, e não havia nenhuma rede à vista.
DEMI TINHA aprendido muito na semana anterior sobre fingir não apenas um sorriso, mas uma postura, e ela estava colocando suas habilidades à prova quando o porteiro a conduziu para dentro do prédio de Joe.
– Prazer em vê-la novamente, Srta. Kingston.
– Obrigada, George. – Ela cumprimentou o restante da equipe no lobby com um meneio de cabeça enquanto corria para o elevador. Ela de fato prendeu a respiração até que as portas se fechassem e estivesse sozinha. Ao pressionar o botão do 18º andar, seu dedo estava trêmulo, o que era inaceitável. Aquilo era trabalho. Joe já sabia o pior sobre ela, então esta noite não seria nada, senão mais uma festa, mais uma oportunidade extraordinária de aprender e de fazer contatos. Foi isso que ela dissera à irmã, e a si mesma, sem parar.
A mão trêmula voltou para os botões e ela apertou o 17 em cima da hora. O elevador parou com um tranco suave e Demi não conseguiu sair rápido o suficiente.
Ela estava em um corredor. Graças a Deus. Ainda não tinha cogitado que outros andares pudessem ser, sei lá, como residências privativas de Joe. Não, aquilo era um corredor, embora só desse para ver duas portas de onde ela estava.
O tapete era extremamente grosso, cor forte de berinjela, as paredes de um amarelo suave, e havia vários suportes de planta de ferro forjado ao longo da parede, com arranjos fantásticos de gladíolos vermelhos. Demi olhou por um momento, sem pensar em nada, apenas no quanto tudo era bonito e elegante e como em todos os anos ela nunca tinha imaginado estar em um corredor como aquele. Silencioso, sofisticado, e muito além de refinado. Não fazia sentido. Nada fazia sentido mais. Principalmente a ideia de que Joe Winslow poderia um dia desejar Demi Ellen Kingston, uma filha de Hicksville, Ohio, ex-membro da organização juvenil do Instituto Nacional de Alimentação e Agricultura do Departamento de Agricultura dos EUA, das escoteiras e do fã-clube de Aaron Carter. Parecia bobo, ridículo, que tivesse acalentado a ideia por um único instante. Ela pegou o celular fora e digitou para ler o único texto que recebera de Joe durante todo o dia.
18h? JW
A resposta dela foi expressiva:
Tudo bem
Demi havia lido o post de Joe sobre a festa do perfume no blog desta manhã. A maior parte era exatamente o esperado: quem tinha estado lá, fofocas, bandas, mais fofocas. Apenas uma palavra sobre Mia Cavendish.
Mas o último parágrafo…
Demi leu o último parágrafo novamente. Certamente dessa vez o coração dela não saltaria, ela não ficaria sem ar.
“A noite poderia ter sido melhor se os fumantes tivessem ficado lá dentro, mas isso não é novidade. As atualizações no Canal Room eram mínimas, porém importantes. O banheiro masculino, o salão no andar superior e o novo bartender valiam uma conferida. Imagino que o banheiro feminino também estivesse melhor, mas não tenho confirmação. Quanto ao motivo para a festa: o perfume Jazz and Cocktails parece tão sexy quanto seu nome e tem um cheiro muito bom. Não é como mel e o mar, mas ainda assim muito bom.”
O mel e o mar. Deus.
Não. Não, sair no 17º andar não funcionou. O corredor não a havia curado, o momento de clareza não tinha sido suficiente para fazê-la enxergar o motivo. Ela ainda estava ferrada. Mas sobreviveria à noite, porque não tinha 13 anos mais. Havia vestido sua armadura, juntamente a sua maquiagem, e se mostraria muito grata, atenciosa e feliz.
Está bem, grata e atenciosa.
Demi teve que esperar pelo elevador, e quando finalmente entrou, estava vazio. O que era bom. Ela enfrentou a si no espelho. Costas retas, olhos bem abertos e expressivos, sorriso… cuidado, não muito. Pronto. Ela estava pronta. Mesmo o golpe no peito quando viu Joe não a fez desabar.
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Reta final meu povo
xoxo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEstou muito curiosa para saber o que vai acontecer a seguir :)
ResponderExcluirJoe lá foi à festa com a outra, mas parece que tem planos (pelo menos pensou bastante) em mudar a sua vida e em ter Demi, por isso está perdoado hehe
quero mais...... posta mais!!!!
ResponderExcluirJá estou surtando pra saber o que vai acontecer!!!! Posta logoooo!!!!
ResponderExcluirTo mega curiosa pra saber o resto posta logo
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