30.10.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 8


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MEU CELULAR tilintou com um torpedo assim que saí. Tirando-o da bolsa, li a mensagem de Joe: A limusine está estacionada atrás do estúdio de dança.

Embora estivesse tentada a correr pela rua, estava plenamente consciente do traje que usava. Sete véus de seda amarrados em uma infinidade de lugares estratégicos requeriam elegância. Graça. Faziam-me sentir bonita.

Enquanto seguia pela noite enevoada, passado por uma loja de rosquinhas e por um mercado de comida asiática, ainda não conseguia acreditar que estava tendo um caso secreto com o agente de talentos mais sexy e controverso de Los Angeles. Ou que ele parecia perfeitamente disposto a guardar meu segredo da minha empresa. Claro, sabia que isso por si só não protegia meu emprego. Precisava me certificar de que ninguém nos veria juntos. E isso podia ser difícil, porque Joe era um favorito dos fotógrafos. Ele aparecia nas revistas e na internet. Seu nome surgia nos blogs de fofoca, não só porque ele passara a ser um dos solteiros mais cobiçados da cidade, mas também por causa de sua família famosa.

Joe supôs que alugar um carro para nós esta noite seria menos óbvio do que pegar o utilitário, que poderia ser reconhecido por alguns paparazzi persistentes. Tinha-lhe dito que não me importava em dirigir até a casa dele, mas descobri que ele era meio antiquado em relação a essa inversão de papéis.

Quando virei a esquina atrás do restaurante asiático, vi um par de faróis acesos do outro lado da rua. Tinha de ser ele. Lutando contra o impulso de andar mais depressa, me movimentei com toda a dignidade que fui capaz de reunir para que meu véu externo, vermelho, comprido até o chão e que me fazia parecer uma indiana elegante, não voasse e revelasse os segredos por baixo.

Isso seria para mais tarde.

No silêncio de uma rua cercada por um armazém fechado, ouvi o barulhinho elétrico suave de uma janela do carro sendo abaixada.

– Desculpe-me, senhorita? – O rosto de Joe ficou subitamente visível na parte de trás da limusine preta. Seu olhar correu vagarosamente sobre minha roupa. – Estou à procura de uma morena quente que acabou de sair de uma aula de dança por aqui. Você a viu?

Meu véu cobria minha cabeça, mas Joe sabia exatamente que era eu. Olhei em volta para me certificar de que ninguém estava por perto enquanto atravessava a rua.

– Não. – Eu rebolava sugestivamente enquanto diminuía a distância até chegar ao carro. – Mas se você está querendo uma dança, posso ajudar.

Um carro virou a esquina em nossa direção, me capturando nos faróis por um instante. Joe saiu do carro rapidamente, me puxando para dentro antes que o veículo nos seguisse, aí fechou a porta atrás de nós.

– Não há muito espaço para dançar aqui – admitiu ele, os olhos errantes no véu vermelho. Dava para notar que estava à procura de um jeito de entrar debaixo dele.

Joe estava fantástico de terno escuro e camisa branca sem gravata. O cabelo estava um pouco arrepiado na frente, como se ele tivesse passado a mão ali vezes demais durante o dia. Eu sentia o cheiro sutil da loção pós-barba, agora que estava sentada perto dele, e pensei em como seria bom beijar seu pescoço e ir descendo até o ponto onde o botão do colarinho estava aberto.

Uma onda de deliciosa de expectativa percorreu meu corpo e eu já estava ficando louca por ele.

– Talvez não seja o tipo de dança que sua namorada faz – provoquei, olhando-o de soslaio. – Mas conheço outras danças eróticas que eles não ensinam em qualquer estúdio.

Talvez fosse efeito de todos os véus que estava usando, mas me sentia como uma espécie de gênio libertada da garrafa. Acho que de modo nenhum voltaria aos confins da minha existência anterior. Eu tinha virado uma sem-vergonha. – É mesmo? – Joe tentou parecer duvidoso, mas notei o brilho do interesse masculino indisfarçável em seus olhos. As pupilas dilatadas. As narinas idem.

Meus batimentos cardíacos aceleraram em reação. Pensei nas coisas que ele tinha feito comigo na última vez que estivemos juntos. A maneira como fez eu me sentir. Meu Deus. Nunca tinha tido orgasmos assim. Nunca. Só de pensar na boca de Joe em mim minha pele formigava.

Não tínhamos nem nos afastado do meio-fio ainda, mas com as janelas escuras e a partição entre nós e o motorista fechadas, isso pouco importava.

– Com certeza. – Escorreguei a mão para debaixo do paletó dele para sentir a força quente de seu peitoral através do algodão fino da camisa. – O segredo é o movimento dos quadris. Gostaria de uma demonstração?

– Senti saudades – disse ele, sério de repente.

Fiquei surpresa e fui pega um pouco desprevenida. Talvez fosse mais fácil, para mim, lidar com um figurão de Hollywood se assumisse um personagem, emprestasse um pouco da minha atitude “Natalie”. Meu lado sombrio secreto. Minha vida dupla.

– Não ligo para o jantar. – A fome que sentia era por coisas que só poderiam ser fornecidas por aquele homem. Em particular. – Podemos ir direto para minha casa e readaptar os planos. – Sussurrei as palavras contra o pescoço dele, beijando a mandíbula e saboreando o restolho áspero da barba por fazer.

Queria sentir aquela abrasividade em todo meu corpo.

– Não. – Ele balançou a cabeça, a determinação intensa quando bateu no teto da limusine e o carro entrou em marcha. – Preciso alimentar você primeiro.

E lá estava ele, todo primitivo novamente. Mas estaria mentindo se dissesse que não gostei. Na última vez que ele havia me alimentado em nosso piquenique, eu nem comi muito, mas me diverti bastante.

– Claro. – Já era tarde, mas eu havia ficado animada demais com aquele encontro para conseguir comer qualquer coisa, então estava com um pouco de fome agora. Tracei um círculo cheio provocação na pele dele, em torno de um mamilo masculino. – Vou querer o que você quiser servir.

– Não se preocupe – resmungou ele ao meu ouvido, acariciando meu pescoço até o véu cair de lado. Estremeci um pouco. – Vamos comer em um local particular. Você vai poder dançar o quanto quiser.

– Sério? – Não conseguia me imaginar dançando em um restaurante, mas sabia que havia salas VIP para clientes especiais.

– Sério. Contratei os serviços de um bufê, mas disse à equipe de garçons que iríamos nos servir sozinhos.

– Ah. – Tentei imaginar aquilo. Será que ele se referia à própria casa?

– Além disso… – Ele fez uma pausa para mordiscar minha orelha e depois lambeu o lugar onde seus dentes tinham roçado. – Você vai precisar estar bem forte para aguentar o que tenho em mente.

O prazer tropeçava em minha pele em uma corrida cálida. Eu debatia internamente se deveria tirar os véus ali mesmo e subir no colo dele, mas não podia deixar que ele me convencesse a tirar minha roupa toda vez que o visse. Joe merecia o espetáculo que eu tinha em mente.

– Ainda bem que tomei minha vitamina esta manhã. – Minha mente deu início a uma pequena jornada só de pensar no que poderia acontecer entre nós esta noite.

Conforme saíamos do centro da cidade para Pacific Palisades, eu amolecia no assento de couro enquanto Joe acariciava por baixo da primeira camada de meus véus. Explorando.

Minha pele formigava com o toque, meu corpo tão pronto para o dele.

Por baixo das camadas, eu usava as roupas íntimas mais diminutas já imaginadas. O pedaço de renda que fazia as vezes de sutiã já estava arranhando minha pele no ponto onde os seios se inflavam com interesse ao toque de Joe.

– Como está sua resistência? – Ele levantou a cabeça, soando todo profissional, embora as pálpebras estivessem pesadas de excitação. A voz rouca de desejo.

– Muito boa, já que comecei a dançar regularmente. – Eu não conseguia resistir a tocá-lo. Passeios de carro em Los Angeles podiam ser longos. – E a sua?

– Vou ser honesto com você. Estou em uma missão. – Joe agarrou meu pulso delicadamente, me impedindo de ir muito além em sua coxa.

– E que missão é esta? – Não me importava em ser contida por aquele homem. Nem um pouquinho. Na verdade, era capaz de imaginar alguns cenários nos quais ficar presa debaixo do corpo poderoso dele seria capaz de me virar do avesso.

Era assustador o quanto confiava em Joe, mas realmente gostava do jeito como ele me tratava.

– Não tenho certeza se eu deveria revelar meu plano final. – Ele arqueou uma sobrancelha, me provocando. – Envolve muito sexo? – perguntei, incapaz de me conter.

– Envolve.

Eu me contorci no banco.

– Conte – incitei, minha coxa roçando a dele. – Por favor.

Ele esfregou o polegar levemente em meu pulso, onde ainda me segurava. Era minha imaginação ou minha pulsação tinha acelerado só porque ele acariciara aquela veia com um toque lento, deliberado?

– Vou transformar você em uma dependente sexual – revelou. – De mim.

Sabia que ele estava brincando, mas mesmo assim aquilo enviou um lampejo de emoção até meus dedos dos pés. Na verdade, foi diretamente para outros lugares primeiro.

– Eu não fazia ideia de que tal coisa fosse possível. – Minha garganta secou com aquela conversa. Minhas coxas… isso era outra história.

Mudei de posição, querendo contato com Joe.

Ele soltou meu pulso para poder me abraçar. Um braço em torno da minha cintura e outro sob os joelhos. Ele me puxou para seu colo, e me deitei transversalmente ali, um seio aninhado contra o peito rijo e plano. Joe era todo rijo, na verdade. Fiquei sem fôlego.

– Asseguro-lhe, é muito possível. – Ele subiu a mão que estava na cintura para poder abarcar um seio. Ali, repetiu no meu pulso a mesma carícia que havia feito com o polegar um minuto atrás. Foi ainda mais potente.

Um gemido me escapou, mas antes que tivesse a chance de pensar nisso, Joe me beijou. Foi lento, metódico, perfeito. No momento em que parou, percebi que o carro havia parado também. Eu mal conseguia enxergar direito e me perguntava como seria capaz de sair do carro para jantar.

– Então, enquanto estiver me tornando sexualmente dependente de você, como é que vai ter certeza de que não… – Qual era a palavra para isso? – Como é que você vai ter certeza de que não vai se tornar sexualmente dependente de mim durante o processo?

Era uma pergunta ridícula, mesmo para a conversa descontroladamente cheia de flertes que estávamos tendo, mas eu precisava perguntar. Só para ver o que ele iria responder.

– Esse é um problema que ainda estou resolvendo – admitiu Joe quando me colocou de volta no banco para que pudesse abrir a porta para nós.

Mesmo em meio àquela névoa sensual, eu sentia um calor feliz no estômago, completamente desconectado do sexo. Era o sentimento de uma adolescente. Essa alegria quente e boba que preenche e faz querer dançar. Ele gostava de mim.

JOE NÃO poderia ter roteirizado uma noite mais perfeita para levar Demi até ali.

Eles sentaram-se no pátio de pedra atrás da casa vazia da mãe dele, um ambiente ultramoderno com vista para a costa íngreme de Palisades. A mãe dele raramente visitava o lugar, mas mantinha a propriedade para usar como base quando ia para os Estados Unidos. Joe e seus irmãos tinham as chaves, mas eles avisavam uns aos outros quando precisavam do lugar. Joe tinha reservado o local hoje para ficar com Demi.

O nevoeiro tinha se levantado o suficiente para que pudessem ver a garganta abaixo, e a vista não decepcionava. A empresa que providenciara o bufê tinha acendido a lareira ao ar livre, e seu calor mantinha o frio da noite na baía. Velas foram acesas em luminárias de vidro na mesa. Havia mais velas penduradas em lampiões no caramanchão acima deles. As carnes e os acompanhamentos tinham sido colocados na estufa quando eles chegaram. Tudo que Joe precisava fazer era levar os pratos para fora e servir as bebidas.

Agora, enquanto terminavam de beber um vinho gelado canadense que Damian, irmão de Joe, tinha recomendado para acompanhar a torta de chocolate com morangos, Joe observava Demi do outro lado da mesa de pedras embutida.

– Isso é incrível. – Ela ergueu a taça em direção à vista e à casa.

– Meu pai deu esta casa para minha mãe como um presente de despedida, quando ela se divorciou dele. – Um dos gestos mais elegantes de Thomas.

– A maioria dos casais não tenta tomar as coisas um do outro no acordo de divórcio?

– Acho que meu pai estava feliz por ela não ter tentado ficar com a custódia das crianças. Ele a havia traído, e ela soube, toda a cidade soube, então acho que ele queria conservar a cordialidade dela. – No entanto, isso não era completamente verídico. – Na verdade, acho que minha mãe foi o amor da vida do meu pai. Só que ele simplesmente não estava pronto para sossegar.

– Seu pai parece ser um homem interessante – observou Demi, pegando o guardanapo no colo para limpar os cantos da boca. Suas maneiras eram elegantes e de bom gosto.

– Interessante? – Ele meneou a cabeça. – Vou conceder esse elogio a ele, acho.

– Ele se dá bem com seus irmãos? – Ela soltou alguns guizos dourados de um dos véus ao redor dos ombros e os colocou nos dedos.

– Não. – Ele empilhou os pratos vazios e os colocou de lado. – Damian e Luke nem sequer falam com o velho. Eles se mudaram para o norte, a fim de seguir interesses comerciais. Damian começou a criação de cavalos, e Luke abriu uma empresa de cerveja artesanal com um fazendeiro local na costa de Sonoma, na Califórnia.

– Parece ótimo. Se precisarem de algum conselho sobre diversificar e manter a lucratividade… – Ela parou no meio da frase.

– Opa. Às vezes é difícil não pensar como consultora financeira.

Joe sorriu.

– Vou indicar seu nome a eles.

Demi deu de ombros, as chamas atrás dela delineando seu corpo com um brilho especial.

– Não trabalho por comissão. Acontece que simplesmente confio no que fazemos.

– Que conselho você tem para mim, a fim de diversificar os lucros? – Joe se perguntava quanta perícia Demi estaria escondendo nos escritórios da Sphere Asset Management. Ele não sabia muito sobre o trabalho dela ainda, mas nos textos e e-mails que haviam trocado durante os dias separados, descobrira que muitas vezes Demi ficava até tarde no escritório. Na noite anterior, ela fizera serão até as 22h.

– Provavelmente não deveríamos misturar negócios com prazer, certo? – Ela brincava com a seda ao redor dos ombros, a franja curta soprando na brisa noturna.

Joe queria ouvi-la dizer “prazer” de novo. E mais uma vez. Quase tanto quanto queria oferecer-lhe aquele item em especial.

– Agora que você mencionou, meus pensamentos estão começando a ficar bem carnais. – Ele havia solicitado que uma suíte fosse limpa para sua chegada. E por acaso sabia que a lareira lá dentro já estava acesa, as portas da varanda abertas para o ar noturno, no segundo andar.

– É a torta de chocolate – brincou ela. – Há algo de muito sexy nisso. Acho que é um afrodisíaco.

– Tenho certeza de que é você. – Ele afastou uma das camadas de tecido que cobriam o braço de Demi.

– Espere! – Ela puxou o lenço de volta ao lugar. – Eu preciso disso.

– Acho que as roupas vão ser um obstáculo para o que tenho em mente.

– Então você deve ter se esquecido de que eu queria lhe oferecer um showzinho particular. – Ela empurrou a cadeira de ferro fundido para trás, as pernas arranhando o chão de pedra do pátio com um barulho metálico. – Você tem algum sistema de som aqui fora?

Ela lhe entregou o MP3 player. A tela acendeu e havia uma música em espera.

– É claro. – Levantando-se, Joe caminhou até um pequeno painel que controlava as luzes ao ar livre, fontes e sistemas de entretenimento. – Eu poderia abaixar uma tela de cinema em tamanho real se você quisesse assistir a um filme aqui fora.

Ele conectou o aparelho nos alto-falantes e ligou.

– Ah, vocês de Hollywood – zombou ela, se posicionando no centro de um pequeno pátio cercado por arbustos floridos. – Tão exagerados.

A música começou, então uma flauta sedutora e lenta fez Joe pensar naqueles desenhos animados em que um encantador de serpentes fazia uma cobra dançar. Ou talvez fossem os movimentos de Demi que trouxessem essa imagem à mente. Ela ondulava suavemente, seu corpo tão sinuoso como o de uma ginasta.

Joe se aproximou. Embora conseguisse enxergar à luz do fogo, especialmente com todas aquelas velas acesas, queria um lugar na primeira fila. Tinha quase se esquecido do quão diferente ela ficava quando dançava. Parecia se transformar em outra pessoa enquanto rodopiava e saltava, tirando um véu e jogando-o no meio dos arbustos.

Alguém totalmente confiante. Extrovertida. Ardente.

Joe sustentava o olhar em Demi enquanto ela girava, tirando mais uma camada. Um véu amarelo caiu ao chão quando a música inflou com trompetas e cordas. Ela acelerou o ritmo, rodopiando enquanto dava um chute alto. Rebolando para se livrar de um pedaço de seda amarela que fazia as vezes de saia. Havia outra saia por baixo desta. Talvez até duas. Joe semicerrou os olhos para enxergar através dos véus restantes, mas não conseguiu.

Demi tocava os pequenos guizos que tinha colocado nos dedos antes, o som se misturando perfeitamente à música que vinha através dos alto-falantes ao redor. Ela se arqueou, dobrando as costas parcialmente, arrancou um véu dourado que estava amarrado em volta do pescoço feito uma capa. Ele nunca teria imaginado que ela usava tantas camadas. A seda fina se agarrava ao corpo, mas não escondia as curvas.

Ela se aproximou de um dos postes do caramanchão e girou em torno dele, como se fosse um poste de dança. Era muito grosso para ela subir, mas o gesto faz Joe se lembrar dos movimentos dela na primeira noite que a vira. Demi encontrou os olhos de Joe por um segundo, e ele supôs que ela estivesse pensando na mesma experiência eletrizante.

O corpo dele ansiava pelo dela.

Mais uma camada de saia caiu em um jorro de tecido cor de esmeralda, que acabou em torno do pescoço de Joe, enquanto ela dançava passando por ele. A saia deve ter roçado em algum arranjo das prímulas perto da borda do pátio, pois o cheiro flutuou em direção a ele. Agora Joe conseguia enxergar através dos véus que permaneciam no corpo de Demi. Havia um tecido cor-de-rosa amarrado acima dos seios, o pedaço derradeiro para revelar a barriga e uma correntinha de ouro em volta da cintura.

Uma faixa de seda de cor de creme abraçava os quadris, uma fenda de cada lado das coxas magras e tonificadas. A luz de velas fazia a pele de Demi brilhar, as chamas nos lampiões balançando levemente na brisa.

A música desacelerou, voltando a uma flauta solitária.

O peito de Demi inflava e desinflava rapidamente enquanto ela olhava para Joe através dos cílios escuros. Foi necessária toda a força de vontade dele para não agarrá-la. Para não pôr as mãos em torno dos quadris dela e puxá-la para mais perto. Os dedos dele coçavam para remover os dois últimos véus. Para libertar os nós soltos e adorar o belo corpo com a boca e as mãos.

Ela empinou o queixo, tirando a franja dos olhos. E, em um movimento rápido, arrancou o véu de cima. Em seguida, a parte inferior. A música foi baixando até o silêncio quando Demi se postou diante dele vestindo os menores sutiã e calcinha já imaginados. Três triângulos de renda cor de creme que estavam escondidos debaixo do traje.

– Nenhum aplauso? – perguntou ela finalmente, sem se mexer enquanto eles se encaravam através de uma névoa de calor e desejo.

Pelo menos, era isso que estava acontecendo para ele. O vapor exalava de Joe em ondas.

Mas Demi merecia mais do que apenas seu desejo primitivo. Joe tentava fazer o cérebro sincronizar com a boca para oferecer o elogio que a dança merecia.

– Estudei cinema por toda minha vida. Cores, movimento, som. – Joe agarrou o véu que ainda repousava no ombro dela, a seda verde como um substituto mixuruca para a pele macia. – Mas nunca testemunhei uma cena que envolvesse todos os meus sentidos do jeito que você acabou de fazer, Demi. Estou completamente… fascinado.

Mesmo quando disse isso, Joe percebeu que provavelmente havia revelado mais do que pretendia. Mas que diabo.

Demi estava ali, seminua, depois de compartilhar algo muito especial com ele. Ela havia revelado algo também.

– U-uau. – Ela inclinou a cabeça, quase como se estivesse tentando se desviar do elogio. – Eu teria ficado feliz com um… – Ela respirou fundo, gesto que Joe reconheceu como um esforço para controlar o discurso. – Com um beijo.

– Não aceite nada menos do que você merece – soltou ele com um ardor que o tomava por completo. – Nunca mais.

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Gente estão gostando mesmo? Os comentários andam tão fraquinhos :(
xoxo

27.10.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 7


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JOE ERA adulto. Isso significava que deveria ser capaz de chegar à casa antes de tocá-la. Ele não iria despi-la na garagem.

Pelo menos esse era o mantra que continuava repetindo para si enquanto eles se encaravam na penumbra do espaço confinado. Mas ao ver a maneira como a blusa de Demi subia e descia a cada respiração, ele se perguntava se seria capaz de cumprir suas boas intenções. Havia algo irresistível na completa falta de noção dela sobre a própria atratividade. Quanto mais ele a conhecia, mais espantado ficava por ela ter se postado diante de uma multidão no Backstage.

– Vamos entrar – sussurrou Demi, as palavras hipnotizando Joe, não importando o quão pouco convencional fosse a forma como ela as pronunciava: depressa, lentamente, suavemente. – Indique o caminho.

Joe abriu a porta do lado do motorista e contornou o carro para ajudar Demi a sair. Ele pegou a mão dela, não confiando em si para tocar qualquer outra parte daquele belo corpo. Ele estava condenado a ficar eternamente excitado pelo cheiro de óleo de motor, uma vez que sempre o faria se lembrar deste momento.

– Não consigo acreditar que me convidei para vir até aqui – murmurou ela atrás dele enquanto Joe desarmava o alarme de segurança da porta da cozinha.

– Você está brincando comigo? – Ele se virou para avaliar a expressão de Demi, necessitando tranquilizá-la. – Tenho mandado mensagens telepáticas para você vir para casa comigo desde que nos encontramos pela primeira vez. – Quando ela sorriu, Joe a conduziu para dentro e fechou a porta atrás deles, confinando-os na cozinha, juntos. – Sério. Você provavelmente sofreu uma lavagem cerebral por causa da força de toda a manipulação mental que fiz.

Ela balançou a cabeça e riu, os olhos cinzentos brilhando com humor em meio à franja longa.

– É mesmo? – Ela colocou a bolsa em uma cadeira, as mãos trêmulas, os olhos percorrendo o ambiente nervosamente.

– Totalmente. – Joe jogou as chaves na bancada de granito preto e, em seguida, se obrigou a manter o controle. A ir com calma. Ele pousou as pontas dos dedos nas têmporas de Demi delicadamente. – Estou enviando uma nova mensagem agora.

– Bem, você não é muito bom nisso – brincou ela. – Não consigo ouvir nada.

– Foi por isso que você demorou tanto para vir comigo. – Ele deu pancadinhas na própria testa. – Não há poder cerebral suficiente por trás da minha coerção.

– Então qual é a nova mensagem? – Ela revezava o peso do corpo entre os pés, provavelmente desconfortável.

Provavelmente sentindo o mesmo calor que ele.

– Você quer que eu simplesmente conte? – Ele tirou os sapatos e os chutou para o lado. O sorriso desapareceu quando Demi inclinou a cabeça para olhar para ele.

– Sim. Apenas… diga o que quiser.

O coração de Joe golpeou uma batida pesada, o corpo inteiro em sintonia ao dela. À respiração dela. Ao calor dela.

– Gostaria daquele beijo agora. Aquele que você sugeriu na garagem.

Joe viu um lampejo de consciência nos olhos de Demi, uma dilatação talvez, pouco antes de as mãos dela pousarem suavemente no peito dele.

– Você não pode ser de verdade – disse ela, balançando a cabeça. Um sulco vincando a testa. – Eu não tenho esse tipo de sorte.

Joe se perguntou vagamente quem havia roubado a confiança daquela mulher inteligente e sexy, e teve vontade de esmurrar o responsável. Mas, por ora, apenas segurou as mãos dela, colocando-a sobre seus ombros antes de entrelaçá-las ao redor do próprio pescoço.

Demi cambaleou para o lado dele, o corpo rente ao dele, e soltou um suspiro suave diante do contato.

– Nós dois estamos com sorte, Demi. Vale tanto para você quanto para mim. – Ele correu as mãos pelos braços dela, pelas laterais do corpo, as palmas passeando pela plenitude dos seios antes de acariciar as costelas através da blusa.

Com os olhos semicerrados, Demi o estudou. Joe estava bem ciente do corpo dela contra o dele, desde os bicos rijos dos seios ao ligeiro movimento dos quadris.

– Nesse caso… – Ela ficou na pontinha dos pés, o perfume suave provocando o nariz de Joe até ele respirar fundo. – Aqui está.

Os lábios dela roçaram os dele, fartos e ligeiramente doces. Uma faísca saltou em algum lugar dentro dele, acendendo uma corrente elétrica que passou pela circulação sanguínea na velocidade da luz. O corpo dele reagiu imediatamente. Completamente.

Ele a abraçou e a puxou para si, prendendo-a com força, criando uma fricção deliciosa que fez sua pulsação latejar. Ele a apoiou contra a bancada da cozinha, a mão lhe protegendo as costas do granito. Aprofundando o beijo, Joe tomou a boca delicada, reivindicando-a para si. A língua de Demi brincava com a dele, e ele queria saborear cada presente sensual que ela estava disposta a lhe oferecer. Mas agora precisava de mais. Muito, muito mais.

Usando de toda sua força de vontade, ele se afastou e encarou aqueles olhos repletos de paixão. Estavam azuis-acinzentados agora. As bochechas dela estavam coradas e os lábios brilhavam, ainda mais inchados do que o normal. Tudo por causa do beijo dele.

– Não quero apressar você. – No entanto, ele realmente necessitava apressá-la.

Demi deu um sorriso perverso, maroto.

– Acredite, você não está me apressando.

Ela se inclinou para finalizar o beijo, interpretando mal as palavras dele. Joe lhe agarrou os ombros, segurando-a firmemente durante três segundos, ao mesmo tempo que lutava para se controlar.

– Ótimo. Mas não sei o quanto de sutileza tenho para oferecer no momento. – Fato que o irritava, porque não havia nada de que gostaria mais do que ir com muita calma com ela. Seduzi-la, mente e corpo, assim Demi voltaria para ele em busca de mais. – Desde aquela dança que você fez… – Ele balançou a cabeça, sabendo que não fazia sentido. – É como se eu estivesse hipnotizado. Só tenho pensado em você.

Ele ergueu a mão para afastar a franja do rosto dela, para vê-la totalmente sem máscara ou sem a barreira da franja morena. – Não sou Natalie – esclareceu ela. Direta. Honesta.

E absolutamente errada.

– Você é a única Natalie que conheço. – Sim, ele entendeu que aquele era o nome da proprietária do Naughty by Night. Mas aquilo não significava nada para ele. – É você quem tem me deixado louco noite e dia.

Uma nova compreensão iluminou o olhar de Demi. Ela assentiu.

– Tenho pensado muito naquela noite também. – Ela pôs a mão nos botões de pressão da saia cáqui. – Acho que sei do que você precisa.

O cérebro de Joe parecia morto enquanto ele a observava se contorcendo para retirar o tercido de sarja. Ela usava calcinhas de algodão claras arrematadas com renda.

– O que… – A boca de Joe ficou seca quando ele tentou coaxar uma palavra. Ele lambeu os lábios e fez mais uma tentativa.

– O que você está fazendo?

– Uma apresentação dirigida para você. Acho que a ressurreição do meu lado Natalie vai nos ajudar muito. – Demi tirou a saia e segurou a mão de Joe. – Venha comigo.

– Você não precisa fazer isso. – O andar dele estava tão duro quanto o restante do corpo, mas a seguiu até a sala de estar, um cômodo visível a partir da cozinha. – Mas, novamente, se você quiser mesmo…

Demi colocou as mãos nos ombros de Joe e gentilmente lhe incitou a sentar-se no sofá de couro escuro.

– Não posso prometer o mesmo nível de desempenho sem um palco – admitiu ela, as mãos torcendo a barra da blusa. – Mas nunca cheguei a testar minhas habilidades em dancinhas particulares, então talvez possa lhe oferecer outro tipo de espetáculo.

Joe não conseguia se conter nem mais um segundo.

– Acho que não tenho resistência para esperar por mais tempo. – Ele estendeu a mão para Demi, segurando seus joelhos para puxá-la e fazê-la sentar-se em suas coxas. Abrindo as pernas dela, Joe lhe abarcou a curva dos quadris, colocando o calor do sexo dela ao encontro da ereção que testava a resistência de sua braguilha. – Talvez você possa dançar para mim em outra ocasião.

– Hum. – O arfar delicado dela ecoou o silvo de ar entre os dentes dele ao senti-la. Como ela pareceu concordar, Joe não perdeu tempo, tirou a blusa dela e a jogou para o lado. Os seios fartos, empinados ficavam ainda mais impressionantes sob o algodão simples do sutiã do que tinham ficado sob as lantejoulas brancas grudadas ao corpo. Ele baixou a alça da peça com os dentes, inalando o cheiro da pele. Quando o tecido delicado do bojo se afastou da plenitude suave de um dos picos, ele envolveu o mamilo com a boca e sugou com intensidade. Suas pernas quase derreteram ao sentir o sabor dela combinado ao delicado gemido de aprovação.

Os dedos de Demi deslizaram sob a camisa de Joe, traçando o abdome e acariciando o peitoral. Ela era tão delicada e feminina, o corpo inteiro se curvando para ele. O calor aumentava na sala de estar, o ar ficando abafado. A pele de Joe ostentava um leve brilho de suor devido ao esforço para se conter.

Quando Demi puxou a camisa de Joe para cima, ele interrompeu o beijo por tempo suficiente para que ela a retirasse. Os olhos cinzentos o devoravam, e os músculos dele se contraíam sob aquele olhar faminto. Algo havia mudado nela desde a primeira vez que se encontraram. Era como se aquela dança no Backstage a tivesse iluminado por dentro.

– Tanquinho. – Ela sorriu e traçou os dedos pelas saliências da barriga dele. – Selena não estava brincando.

Ele não fazia ideia do que ela estava falando, mas ter a mão dela tão perto do cós da calça jeans estava praticamente fazendo-o delirar, então talvez ele não tivesse ouvido direito.

– Preciso ficar nu com você – murmurou ele, já bem além do ponto no qual ainda era capaz de filtrar pensamentos. O calor pulsava através dele com tanta força que Joe não podia fazer nada senão a tocar. Dar prazer a ela.

Demi estava bem ali com ele, no entanto, as mãos já prontas para abrir a braguilha. Joe a poupou do trabalho, erguendo-a e colocando-a no sofá ao lado dele. O cabelo escuro caía em torno dos ombros, um dedo retorcendo uma mecha ociosamente enquanto ela olhava para ele como se fosse sua deusa pessoal do sexo. Ele estava prestes remover as próprias roupas completamente quando lembrou que os únicos preservativos na casa estavam no andar de cima.

Droga.

– Venha. – Joe a incitou a se levantar, tomando o cuidado de não a olhar diretamente. A visão dela, principalmente sem roupa, só iria atrasá-lo, e ele precisava agir rapidamente. – Temos de ir para o meu quarto.

– Tudo bem ficar a… – começou ela.

– Camisinhas – disparou ele de volta, sabendo que aquilo explicava tudo.

– Certo. – Demi estava logo atrás dele quando Joe chegou ao topo da escada, os seios nus roçando as costas dele, até que Joe não teve escolha senão parar e encostar Demi na parede mais próxima. Encher as mãos com aqueles seios lindos e traçar círculos em torno dos mamilos tesos com a língua. Ele brincou com um e depois com o outro, até que ela começou a arfar.

Só então ele a soltou, levando-a para a suíte principal.

Joe cruzou o quarto e soltou a mão de Demi quando se aproximaram da cama. Fuçou uma gaveta do criado-mudo. Finalmente estava com a caixinha na mão e, em seguida, retirou um pacote. Ele pôs o preservativo no travesseiro antes de se voltar para Demi.

Cedeu à tentação de olhar para ela.

Demi estava com os braços cruzados, um esforço hesitante para cobrir os seios. Em vez disso, o gesto emoldurava a exuberância macia, deixando Joe com água na boca.

– Você estava prestes a ficar nu, lembra-se? – provocou ela, os olhos vagando sobre ele. Demorando-se na altura do quadril.

– Certo. – Ele tirou calça e a cueca boxer, libertando-se do estrangulamento do jeans.

Nem um segundo cedo demais. Ele puxou Demi nos braços, dando um beijo nos lábios dela, o que rapidamente se transformou em algo carnal. Ela cravou os dedos nas costas dele, as unhas marcando a pele levemente conforme ela recebia cada impulso da língua de Joe. Os gemidos suaves dela foram a ruína dele, o som cheio de desejo ecoando tudo que ele sentia.

Tudo que ele queria.

Joe desabotoou o fecho frontal do sutiã e deixou a peça cair completamente. Sob os raios de sol de fim de tarde que atravessavam as persianas de madeira, Demi parecia uma heroína de filme noir, o corpo cheio de curvas, pálido e perfeito.

– Por favor – arfou ela com um desespero silencioso que ele não esperava. – Não quero tempo para pensar. Só quero sentir.

Demi selou suas curvas suaves contra ele e o beijou com a mesma entrega que Joe reconhecera naquela dança. Por uma fração de segundo, ele se perguntou se deveria esperar. Explorar aquele comentário. Mas ele estava tão cansado de esperar que o pensamento evaporou sob a brincadeira da boca de Demi na dele.

Ele enganchou um dedo na renda da calcinha e a puxou para baixo, pelas pernas esguias. Demi tirou a calcinha e rapidamente voltou para aos braços dele, a testa dela encostada em seu ombro.

– Você está bem? – Ele ergueu o queixo dela, lhe examinando o rosto em busca de pistas sobre seu humor.

Ela era uma mistura estonteante daquela dançarina ousada que ele tinha visto no palco e da analista financeira hesitante com olhos ardentes. Qual mulher era real?

– Hoje é como um sonho – sussurrou ela. – Não quero que isso acabe.

Joe segurou o rosto dela, o queixo delicado se encaixando em sua mão. De repente, queria abraçá-la e cuidar dela. Ela o afetara tão depressa que o assustou, mas ele não ia desistir agora.

– Então vamos continuar a sonhar – sussurrou ele de volta, roçando o polegar na bochecha e em volta do lábio inferior farto de Demi. – Isso é apenas o começo.

Ela deu um sorriso sem graça.

Pegando-a no colo, Joe a deitou na cama, o cabelo escuro se derramando sobre o travesseiro branco. Ele a beijou da boca até o pescoço elegante e o ombro.

Quando chegou ao vale entre os seios, foi lambendo até embaixo. Parou ao redor do umbigo para desbravar o vão com a língua. Demi tinha um cheiro tão gostoso. Sabonete e limão, talvez.

E então o preservativo passou da mão dela para a dele. Mas Demi tinha um sabor tão bom que Joe não queria parar o que estava fazendo, os quadris dela rebolavam na cama, a cabeça oscilando de um lado a outro conforme ele se aproximava do sexo dela. Deixando o pacote de preservativo de lado, Joe continuou a beijá-la. Os topos das coxas. As dobras úmidas entre elas.

O grito rouco de Demi preencheu os ouvidos dele enquanto a saboreava, a língua pincelando cada vez mais fundo.

Ela chegou ao orgasmo em segundos, um suspiro surpreso foi o único aviso antes de ela se contorcer debaixo dele, todo o corpo ondulando com a força da reação. Joe continuou, absorvendo cada tremor, as coxas de Demi se remexendo, inquietas sobre os ombros dele, até o corpo inteiro de Joe gritar com a necessidade de possuí-la.

Quando ele encontrou a camisinha e a vestiu, seus olhos estavam arregalados e sem foco.

– Uau – murmurou Demi, as mãos percorrendo o peito dele enquanto Joe deitava em cima dela. – Apenas… uau.

– Eu poderia dizer o mesmo sobre você, vendo-a desse jeito. – Ele balançou a cabeça, perdendo as palavras. – Você me enlouquece.

Estendendo-se em cima dela, Joe abriu mais as coxas macias com o joelho, tirou o cabelo da testa úmida e se acomodou dentro dela. Totalmente. Profundamente.

A pressão quente ao redor dele era perfeita, com os tremores pós-orgasmo dela ainda pulsando suavemente à sua volta. Demi abraçou o pescoço dele, o olhar focado nele enquanto seu corpo o informava o quanto Joe lhe dava prazer. Aquele aperto suave provavelmente era o mais incrível afrodisíaco que já existira. Ela estava tão pronta para ele, que Joe quase chegou ao ápice ali mesmo. Ele teve de fechar os olhos e aguardar um segundo.

Quando Joe se preparou para senti-la, ele a abraçou e começou a se movimentar, desejando ter mais para oferecer naquele momento. Mas ele andava concentrado demais no trabalho para sair com qualquer pessoa, quanto mais para fazer um sexo maravilhoso.

E a quem diabos estava enganando? Ele não poderia durar para ela, porque ela se tornara a mulher de suas fantasias.

Inteligente e experiente, sexy e sedutora. Ele rangeu os dentes contra aqueles sentimentos, mas daí mais um clímax a atingiu, e Joe não conseguiu segurar mais. O balanço dos quadris dela contra ele, combinado ao gemido sexy que ela dera, o desarmaram completamente.

Ele deu um grito. Agarrou a cabeceira da cama. Perdeu-se em Demi.

O sexo nunca tinha sido assim. Com ninguém. Demi era sua fantasia mais quente ganhando vida. Totalmente desinibida. E totalmente dele. Joe não tinha certeza do que havia acontecido entre os dois, mas juntos desencadeavam uma espécie de química sexual com a qual a maioria dos homens apenas sonhava.

Quando se recuperou o suficiente para se lembrar do próprio nome e saiu de cima de Demi, se perguntou se conseguia convencê-la a passar a noite ali. Ele a queria, de novo e de novo, mas não tinha a intenção de ser presunçoso. E se ela não estivesse sentindo a mesma conexão? Joe não tinha muito a oferecer, exceto um pouco de diversão. Sua rivalidade com o pai estava uma trapalhada só e se recusava a envolver mais alguém naquilo.

Além disso, o trabalho para recuperar sua posição em Hollywood iria tomar sua concentração ao longo dos próximos anos. Namorar, e todas as conjecturas que vinham com essa coisa de descobrir o que as mulheres queriam, era algo para o qual não tinha tempo.

Joe não queria lhe dar falsas esperanças de um futuro juntos. Quando abriu os olhos para encará-la, porém, Demi exibia um sorriso irônico. Um brilho malicioso nos olhos.

– Acho que você não precisava de uma dancinha particular, não é?

– DEMI?

Eu estava saindo da aula de dança, três dias depois, quando Natalie me seguiu estúdio afora, o toc toc de suas muletas tornando difícil para ela espreitar qualquer pessoa. Parei perto do bar de sucos na entrada principal, feliz por vê-la. Ela não estava dando aulas desde a lesão: o tornozelo estava deslocado, não apenas torcido, mas ela ainda vinha para o estúdio, a fim de verificar o andamento das coisas.

Hoje ela estava usando um sarongue rosa sobre o collant de dança preto, o cabelo loiro escondido em um coque tão bem-feito que ela parecia a bailarina que costumava ser. Bem, isso sem contar a tatuagem de henna de uma videira espinhosa em volta do pescoço.

– Oi! – Tive vontade de abraçá-la porque estava feliz. Absurdamente feliz. Não via Joe desde que passamos a noite na casa dele, mas ele me tinha mandado um torpedo e telefonado, embora ambos estivéssemos ocupados com o trabalho. Planejava vê-lo esta noite.

Finalmente. Seu torpedo mais recente me dissera para levar minha máscara. Mas eu tinha uma surpresa ainda melhor para ele.

– Você está ótima – observou Natalie. Eu ainda estava usando meu traje simples da dança dos sete véus, a qual tínhamos praticado esta noite. – Você tem um minuto para beber um suco energético de romã? – Ela apontou para o bar de sucos. – Por conta da casa.

Resisti ao impulso de olhar para meu relógio. Não tinha muitos amigos, e minha instrutora de dança era uma das minhas melhores amigas. Então arranjei tempo para ela, sabendo que Joe estaria esperando por mim em breve. Ele disse que estava “mandando um carro” para mim.

Como se eu fosse um de seus clientes estelares. Ha!

– Claro. – Coloquei minha bolsa de ginástica no chão e sentei-me em uma das banquetas vermelhas esmaltadas na frente da barra de aço. – Você precisa de ajuda? Deve ser realmente difícil se locomover… – Estou bem – assegurou ela, apoiando as muletas no balcão.

Trocamos algumas palavras sobre a lesão enquanto Natalie preparava as bebidas repletas de vitaminas. Ela vendia chás e outros alimentos saudáveis ali, e havia uma lojinha de presentes no saguão. Fiquei tão intimidada na primeira vez que pus os pés naquele lugar. Difícil acreditar que o estúdio de dança agora era quase uma segunda casa para mim.

– Então… Importa-se de me contar o que está dando novo gás à sua dança? –perguntou ela quando entregou minha bebida em um copo de martíni, completa, com um palito cheio de framboesas. – Todo mundo está comentando. Metade das meninas acha que é porque você conseguiu o trabalho para mim no Backstage. Mas, pessoalmente, acho que deve ser um homem.

Eu sabia que precisava ser discreta sobre minha relação com Joe. Quer dizer, se ele ia guardar meu segredo do meu chefe, então não deveria estar tagarelando sobre isso também. Mas poderia contar algumas coisas a Natalie, certo? A novidade estava praticamente explodindo de dentro de mim.

Desde que tinha dormido com Joe, minha vida parecia… mais plena, melhor, mais feliz. Era como se um interruptor tivesse sido ligado dentro de mim naquela noite e eu simplesmente não sentisse o peso da das minhas velhas inseguranças mais. A dança no Backstage também tinha influenciado, mas a maior parte da mudança era por causa de Joe. Desde que nos conhecemos, me sentia vivendo uma fantasia.

– Talvez seja um pouco de ambos – admiti, contando brevemente como conheci Joe, excluindo a parte sobre ele ser um cliente e omitindo seu nome famoso. Chamei-o de “Tom” só porque seria estranho contar uma história sobre alguém sem dizer um nome. E, tecnicamente, ele era Thomas III em sua família. Eu não sabia muito sobre os dois irmãos mais novos, mas sabia que moravam em Sonoma Valley e que um deles administrava uma fazenda de cavalos puro-sangue.

– Você não fica preocupada com o fato de tê-lo conhecido no Backstage? – perguntou Natalie, vindo para o meu lado no balcão e sentando-se em um dos banquinhos. – Os homens podem ser muito… esquisitos em relação a mulheres com profissões sensuais. Tipo, eles gostam de frequentar os clubes de dança, mas quantos aceitarão uma dançarina exótica como namorada?

– Não é como se tivesse tirando a roupa ou coisa assim – apontei depressa. – Você sabe que o Backstage não é esse tipo de lugar. Além disso, Tom e eu concordamos em não levar isso a sério.

– Tudo bem. Só tome cuidado, certo?

Será que ela não via como eu estava feliz? Senti-me compelida a elaborar:

– Natalie, minha vida deu uma reviravolta depois que você me fez subir no palco em seu lugar. – Alguma parte escondida de mim tinha virado o centro das atenções e realmente gostado disso. – Estou saindo com alguém. Estou mais confiante. Estou gaguejando menos. – Mais ou menos. Joe não parecia notar meus problemas de fala, o que me fazia não os notar também. – Fui até mesmo convidada a assumir uma conta diretamente com um cliente na Sphere, então vou sair dos bastidores pela primeira vez para tomar parte em uma pequena apresentação em uma mesa-redonda.

Também mandei um e-mail a Joe com algumas ideias de investimento; nenhum grande segredo comercial, apenas um conselho geral direcionado para a situação dele. Sabia que Joe ia precisar de capital inicial para a próxima fase de seu plano, para abrir um estúdio de cinema independente, e eu já havia estudado o perfil financeiro dele. Teria feito o mesmo por qualquer amigo. Mas ele pareceu realmente impressionado, e não posso negar… eu gostei.

Natalie tamborilou suas unhas pintadas de preto e prata na barra por um momento.

– É só que é uma mudança tão grande, sabe? – Ela pegou o palito cheio de framboesas e fisgou uma com os dentes. – Pode me chamar de chata, mas sempre me preocupo quando vejo alguém fazer uma reviravolta em sua personalidade quando um homem é o motivo.

– Ele não é o motivo – falei com firmeza, ajeitando o véu azul fino que estava escorregando do meu ombro. – Devo isso a você, por me incentivar. Não apenas aquela noite no Backstage, mas durante todo o ano. – Quando Natalie tentou ignorar o elogio com um aceno, a impedi: – Estou falando sério, Nat. Dançar realmente me ajudou a ver que eu poderia ser boa em alguma coisa além de números. Em algo divertido.

Parte do motivo pelo qual tinha escolhido estudar finanças na faculdade era porque soava como algo que poderia fazer sozinha. Poderia ficar em uma salinha com uma calculadora e não ter de conversar com ninguém. O plano tinha funcionado perfeitamente, mas acho que estava ficando cansada de sempre permanecer nos bastidores. O tempo havia me ensinado que minha mãe decoradora tinha uma visão distorcida da perfeição, e só porque eu falhara em conseguir cumprir os padrões dela não significava que eu não tivesse coisas valiosas a dizer.

Eu estava terminando minha bebida quando a campainha da porta da frente tocou. Já estava tarde para mais aulas de dança, mas quando Natalie começou a dizer isto à recém-chegada alta e surpreendentemente encantadora, percebi que conhecia a mulher.

– Oi, Kendra. – Desci do meu banquinho ao ver a bailarina linda do Backstage, aquela que se cobria com pinturas corporais maravilhosas.

Tarde demais, lembrei-me de que ela não me reconheceria sem minhas peruca e máscara. Além do mais, naquela noite eu estava fingindo ser Natalie.

– Oi. – Ela inclinou a cabeça para me avaliar. – Eu a conheço?

Constrangedor.

– Er. Hum. Vi seu show – falei. – Você faz uma pintura corporal linda.

– Obrigada. – Ela sorriu, o cabelo longo e escuro flutuava ao redor como uma deusa em uma pintura renascentista. – Eu estava procurando por Natalie.

– Sim? – Natalie ficou de pé com a ajuda das muletas e apertou a mão da outra mulher. – Sou Natalie.

– Certo. – Kendra assentiu, franzindo a testa. – Prazer em vê-la novamente. Moro na esquina, e o proprietário do Backstage me pediu para vir aqui e descobrir se você gostaria de se apresentar antes da temporada de outono. Mesmo que seja apenas uma apresentação. Uma espécie de “retorno por demanda”. – Os olhos de Kendra pousaram no tornozelo de Natalie e no gesso em volta dele. – Mas talvez você não esteja em condições de dançar com esse machucado…?

– Receio que não – opôs-se, hesitante, sacudindo a cabeça. – Mas diga a ele que mal posso esperar para começar em setembro.

– Espere – intervim, vendo uma oportunidade de reviver uma das noites mais emocionantes da minha vida. Além disso, havia o elemento da fantasia na coisa toda. O que Joe iria pensar ao me assistir de novo? – Natalie, por que você não espera para decidir depois de ver sua médica amanhã? Ela disse que o gesso era apenas uma precaução.

Felizmente, minha mentora de dança estava um pouco atrás de mim, então quando me virei para olhar para ela, dei uma piscadela para avisar que tinha um plano.

– Hum. – Natalie franziu a testa. – Não sei.

– Ela pode te dar um retorno depois? – perguntei a Kendra. – Você tem um cartão ou ela deve telefonar diretamente para o clube?

O olhar de Kendra ficou se revezando entre nós e fiquei imaginando o que ela havia achado da minha intervenção enérgica. Mas estava tão tensa com a possibilidade de dançar para Joe em público novamente, que não estava pensando em quaisquer consequências.

– Ela pode ligar para o clube. – Kendra seguiu em direção à porta de vidro. – Sou só uma mensageira. Além disso… – Ela hesitou, a mão na maçaneta. – Estava curiosa para saber como foram as coisas com Joe Fraser naquela noite no clube.

– Joe. – Natalie olhou para mim. Com severidade. – Fraser.

– É. Ele quis conhecer você após sua apresentação… – Kendra balançou a cabeça. – Eu entendo. Não é da minha conta. – Ela sorriu, aparentemente sem se ofender. – Vejo você em breve, Natalie.

Ela empurrou a porta e seguiu noite afora. A alusão de ar enfumaçado ondulando do ar-condicionado do estúdio não era nem metade opressora se comparada à olhadela sombria de Natalie.

– O quê? – Coloquei um agasalho leve sobre meus véus para ajudar a desviar a atenção assim que saísse do estúdio. Mas, sinceramente, estava animada em dançar para Joe naquele traje.

– Joe Fraser. Realeza de Hollywood.

Eu não queria saber o que havia de tão errado com aquilo. Ela havia me avisado, afinal. Mas agora eu não me importava em ouvir mais alguns conselhos cheios de advertência.

– Não o encontrei depois do show. – Isso era verdade. – O nome do meu novo ficante é Tom, lembra-se?

– Claro. – Natalie não tinha nascido ontem. Ela cruzou os braços e as pernas. Dava para ver os pontos no gesso onde as alunas tinham assinado com caneta marca-texto cor-de-rosa.

– Mas obrigado por me alertar. – Ofereci um sorriso e me dirigi à porta, já pensando em minha dancinha particular para Joe esta noite. – Adoraria fazer esse show para você, se você quiser. Podemos dividir o cachê. Pense nisso, está bem?

Senti-me culpada por mencionar o cachê, mas era a única ferramenta na qual consegui pensar para induzi-la a aceitar. Por enquanto, Natalie só tinha dado um aceno de cabeça.

– Talvez. Tenha cuidado, Demi.

Suas palavras me atingiram quando eu já estava a meio caminho porta afora, todos os pensamentos dedicados à velocidade com que eu conseguiria tirar os véus esta noite e ainda oferecer a Joe o desempenho mais escaldante de todos os tempos.

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Que capítulo foi esse hein...
Continuem comentando.
xoxo

24.10.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 6


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JOE NÃO sentiu nem um tiquinho de culpa por deixar Demi chocada.

Ela estava pálida e muda quando ele lhe entregou uma taça de champanhe e pegou a outra para si. Ele não tinha planejado revelar aquilo durante o almoço, nem sabia ao certo se ela era a dançarina que havia abordado no início da semana. Mas tinha um palpite forte, e aquilo parecia algo que precisava ser abordado antes de irem além. A reação dela acabou com as dúvidas dele.

– Como v-v-você sabia?

– Não tinha certeza até agora. – Ele chegou um pouco mais perto dela no cobertor. – Mas estava me incomodando para diabo o fato de estar tão atraído por aquela dançarina e por você ao mesmo tempo. Sou do tipo monogâmico.

Ele bateu a taça levemente na dela, o tilintar emitindo um sinal sonoro suave no calor tranquilo do meio-dia.

– O que você pensou quando viu a pluma na minha mesa? – perguntou ela entre golinhos de champanhe.

– Pensei que fosse uma coincidência, uma pegadinha cruel do universo, jogar uma peninha branca no meu caminho logo depois que deixei uma mulher linda coberta de plumagens escapar. – Ele arrumou um prato e o entregou a ela, que parecia tensa e preocupada.

Não era exatamente o estado de espírito que Joe estava querendo.

– Mas então, quando você viu minha foto no estúdio de dança, você soube? – Distraída, ela pegou uma uva e Joe ficou aliviado ao vê-la relaxar só um pouquinho.

Ele apostava que Demi precisava relaxar muito mais na vida. E estava bem certo de que ela havia encontrado tal relaxamento no palco. Ele ficou fascinado pela forma como ela se abria ao mundo quando estava dançando. Com o quão confiante se mostrara.

– Não. Como disse, não tinha certeza de que era você até agora. Mas quando vi a foto em seu escritório, quis saber mais sobre um lugar chamado Naughty by Night.

– Ai, não. – Ela pousou o prato no cobertor. – Você não fez isso.

– Telefonei e pedi para falar com Natalie. – Ele adivinhou que o “Night” no nome do estúdio não era acidental. – Eles disseram que ela havia deslocado o tornozelo há duas noites e que estava se recuperando em casa. Quando fiz as contas, soube que não poderia ser ela no Backstage.

– Minha empresa vai me demitir. – Demi balançou a cabeça, o cabelo longo escuro caindo nos olhos, mas escondendo pouco de sua angústia. – Se eles descobrirem…

Demi fez um gesto impotente e Joe pegou a mão dela.

– Eles não vão descobrir, não por mim.

– Mesmo? – O olhar semicerrado demonstrava que ela não confiava muito naquilo.

– Não vai melhorar em nada minha reputação sair com dançarinas exóticas quando ainda estou representando clientes menores de idade. – Seria esquisito, para dizer o mínimo.

Além disso, Joe não queria dar ao pai a satisfação de superá-lo no quesito credibilidade. Não depois de todos os truques questionáveis que o velho Fraser usara para enganar e manipular no ramo.

– Então você vai guardar o segredo. – Ela parecia estar sopesando a sinceridade dele, os olhos cinzentos buscando os dele.

Havia algo na hesitação de Demi que a tornava irresistível. Talvez fosse porque tantas mulheres que Joe conhecera tivessem sido inflexivelmente confiantes e ousadas em suas decisões. Elas precisavam ser assim para sobreviver no ramo cinematográfico. Demi, por outro lado, parecia pensar em tudo com cautela.

No entanto, ele tinha a sensação de que qualquer um que conseguisse passar pelo escrutínio dela seria um homem de sorte, muita sorte.

– Gostaria de guardar mais segredos para você. – Ele deixou a taça de lado e empurrou os pratos para o outro lado do cobertor.

Ela olhou para o galho de árvore mais próximo através da franja e, em seguida, virou-se para olhar para o campo de polo atrás de si, perto do estacionamento. Joe já sabia que estava vazio.

– Gostaria de um exemplo. – Ela enganchou um dedo na longa corrente dourada ao redor do pescoço e ficou remexendo em um pingente em formato de folha.

– Um exemplo? – Ele ficaria hipnotizado se continuasse a observar o movimento do pingente, já que o gesto chamava a atenção para os seios bem moldados sob a camisa branca lisa.

– Que tipo de segredo você é capaz de guardar? – incitou ela, inconsciente de que o fluxo sanguíneo havia reduzido no cérebro de Joe.

Ele segurou a mão dela, interrompendo a brincadeira tensa com a bijuteria. Os olhos cinzentos arregalaram com o toque. Ele sorveu o momento e a mulher, inalando o cheiro mais sutil do perfume suave.

– Esse tipo. – Ele cobriu os lábios dela antes que Demi pudesse surgir com qualquer manobra para atrasá-lo.

No entanto não a beijou. Ainda não. Nesse momento, simplesmente roçou a boca na dela. Suavemente. A pulsação de Demi ia à loucura sob a mão de Joe, e a noção de que a havia excitado tão facilmente também fez o ritmo cardíaco dele acelerar.

Só então ele aumentou a pressão e provou um bom pedaço. Os lábios dela eram macios, quentes e maleáveis, se entreabrindo levemente para acomodá-lo. Antes de ir além, ele captou a plenitude do lábio inferior dela entre os dentes, sugando delicadamente. Demi tinha gosto de morangos.

Melhor ainda, ela ronronava de prazer diante daquele pequeno contato, o corpo inteiro relaxando sob o toque dele.

Joe foi tomado pelo calor, que não tinha absolutamente nada a ver com a umidade do meio-dia. Demi causava um efeito forte, diferente nele, como um uísque 30 anos que ele nunca havia experimentado. E uma dose tripla não seria suficiente.

Ele disse a si para ir devagar. Sedução, certo? Esse era o foco. No entanto, o suspiro suave e arfante que Demi soltou o afetou profundamente, e Joe se flagrou buscando-a, puxando-a para mais perto, a mão no cóccix dela.

– Espere. – Ela pôs a mão no peito dele, os dedos frios e esguios deslizando sobre a blusa com uma pressão suave. – O que estamos fazendo?

Relaxando o toque, Joe espalmou a mão nas costas dela, porém não foi capaz de soltá-la totalmente.

– O que queria fazer desde que vi você pela primeira vez na frente da sala de reuniões da Sphere. – Ele se lembrou do cabelo caindo sobre os olhos, das longas franjas escondendo muita coisa sob ela. – Pegando uma provinha.

– Você é um Fraser. – Ela franziu o cenho para aquelas palavras, mas, felizmente, não se afastou.

Ele quase podia ver a mente ágil de Demi ponderando as implicações.

– Não posso fazer nada em relação a isso. – Ele começou a respirar mais devagar, mantendo a voz estável. Não era uma tarefa fácil.

Diabos, a lembrança dela usando tecido translúcido e plumagens, rastejando em direção a ele, de quatro, queimava em seu cérebro como um laser. Por mais que ele tivesse revisitado aquele momento em suas fantasias, à noite, não estava em posição de lidar com isso ali. Agora.

– Por que f-f-faria… – Ela parou, e ele ficou tenso. – Vocês. São. Famosos. – As palavras dela vieram entrecortadas.

Impacientes, quase. – Somos de círculos muito diferentes.

Ele estava fascinado com os lábios e o modo como ela formava as palavras. Deliberada. Pensativa. Muito diferente da maneira que a maioria das pessoas na cidade costumava falar. Seu pai, por exemplo, era capaz de vomitar uma mentira atrás da outra, sem pensar duas vezes.

– Isso não importa para mim. – Ele resolveu imitar o estilo dela e revisou aquela declaração depois de pensar um pouco mais nas próprias palavras. – Não. Isso não é verdade. Acho que é um bônus você não ter vínculos na indústria cinematográfica.

Estou tão cansado de fofocas e desse mundinho limitado.

Ela assentiu.

– E você consegue guardar segredos?

– Como ninguém.

Joe se preparou para mais perguntas quando algumas nuvens de tempestade se posicionaram acima deles. Em vez de interrogá-lo, no entanto, Demi torceu os dedos em sua camiseta e o puxou para mais perto, arqueando em direção a ele. – Nesse caso, que tal mais um beijo?

PROVAVELMENTE EU estava canalizando a dançarina dentro de mim. Porque adentrei outro reino quando Joe me beijou. As inibições caíram por terra. A insegurança contra a qual tinha lutado durante toda a minha vida foi banida para o século seguinte.

Sentia-me linda. Poderosa.

E muito sensual.

Eu queimava de dentro para fora enquanto a mão de Joe percorria minhas costas. Minha cabeça girava como se eu tivesse bebido bem mais do que três goles de champanhe. Graças a Deus aquele era um parque público. Embora se assemelhasse à Terra de Ninguém agora, um guarda do parque poderia chegar a qualquer momento. Isso ajudaria a manter minhas roupas no lugar.

Pelo menos, eu achava que ajudaria. Não havia como dizer o que a combustão espontânea era capaz de fazer.

Eu queria poder gravar aquele momento para sempre e reprisá-lo como um filme. Eu o dividiria quadro a quadro e repassaria cada um deles. Em algumas vezes, me concentraria no toque dele e onde as mãos aqueciam meu corpo. Em outras, me concentraria no beijo e na dinâmica dos lábios dele sobre os meus.

Na atual circunstância, só tinha o agora, e meus sentidos estavam tão sobrecarregados que eu estava uma pilha de nervos, formigando. Até mesmo minhas mãos zuniam com uma carga quase elétrica. E, no entanto, ele só se concentrava em minha boca, tratando-a com o cuidado mais requintado.

Joe beijava como um deus. Não era muito bruto. Não muito delicado. Apenas maravilhosamente direto. Caí para trás com o beijo, derretendo no cobertor, molenga por causa daquela degustação erótica.

Gentilmente, ele segurou minha nuca antes de minha cabeça tocar o algodão acolchoado do cobertor. Melhor ainda, o corpo dele acompanhou o meu, de modo que agora eu sentia a pressão sutil de seu peito contra meus seios, o peso quente de uma coxa prendendo a minha. A brisa refrescante flutuava por entre as árvores e sacudia as folhas, o restante do mundo em silêncio, exceto por um estrondo de um trovão lento a distância e por nossas respirações ofegantes. Nunca me esqueceria daquele momento e da magia que Joe causava em mim. Disse que não ficaria nua? Já estava repensando isso quando ele dobrou um joelho, a coxa cada vez mais entre minhas pernas. Siiiim.

Não tinha dito a palavra em voz alta, mas com certeza a expressei com todo meu corpo. Minhas pernas se entreabriram mais. Meus braços envolveram o pescoço de Joe.

O sexo pairava no ambiente, e ainda não tínhamos tirado nenhuma roupa.

– Venha para casa comigo. – Joe sussurrou as palavras ao meu ouvido, a ideia se enxertando em minha consciência tão engenhosamente que era como se eu mesma tivesse pensado nisso. Vá para casa com Joe.

Aquela ideia era louca, e ainda assim cativante. Se ele fosse mesmo capaz de guardar aquele segredo… será que eu iria correr o risco? Novos riscos tinham ficado mais atraentes desde minha dança no Backstage. E se eu estivesse entrando em algum tipo de golpe de sorte, no qual as coisas davam certo para mim? Então, mais uma vez, talvez eu simplesmente fosse perder meu coração para ele e terminar mal. Quanto mais o conhecia, mais gostava dele. E isso tornava o fato de estar com ele muito mais arriscado do que um encontro sexual anônimo, como aquele do qual poderia ter desfrutado com ele no Backstage naquela primeira noite.

Mais um trovão ressoou e a brisa ficou fria de repente, então Joe rolou, saindo de cima de mim.

– É melhor embalarmos as coisas – disse, olhando para o céu, que estava ficando mais escuro a cada segundo.

Peguei a garrafa de champanhe e as taças quando os primeiros pingos de chuva densos nos atingiram. Dando um gritinho por causa do frio que senti, o ajudei com o cobertor e saí correndo para o carro enquanto o céu se abria.

Em segundos, a chuva se transformou em dilúvio. Joe colocou a bolsa com a comida sobre o ombro e estendeu a manta acima de nossas cabeças, mas já era tarde demais. Nossas camisas estavam encharcadas. Meu cabelo estava grudado na cabeça. Eu provavelmente tinha linhas de rímel escorrendo pelo rosto, como uma espécie de palhaço gótico.

Quando um trovão soou alto, levei um susto imenso e agarrei o ombro de Joe. Ele me enfiou debaixo de seu braço e puxou mais o cobertor. Senti o calor de seu peito através da camisa encharcada e desejei poder ficar na chuva para sempre.

Como tive a sorte de aquele homem me notar?

Quando ele apertou o controle remoto para destravar o carro, tomei uma decisão. Poderia nunca mais ter uma chance como aquela e me arrependeria para sempre se não saboreasse o momento. Eu me preocuparia com meu coração mais tarde. E nesse meio tempo, simplesmente iria zelar por ele com cuidado extra.

– Vamos para sua casa – falei enquanto o cobertor ainda nos cobria. Mesmo com a chuva torrencial barulhenta, minhas palavras ditas suavemente ecoaram no espaço fechado.

Minha solicitação foi compreendida.

Ele fez uma pausa perto do veículo, ficando de pé em silêncio ao meu lado na chuva por um instante antes de se virar para olhar para mim. Seus olhos castanhos estavam ainda mais escuros do que o normal, uma intensidade cálida que eu não tinha visto brilhando ali. Nem mesmo quando dancei seminua no poste para entretê-lo.

– Obrigado. – Ele me beijou… um encontro breve e rijo de bocas que pareceu selar o acordo. – Você não vai se arrepender.

Essa última parte foi um sussurro ao meu ouvido antes de ele se afastar. Arrepios percorriam minha espinha e meus mamilos enrijeciam sob a camisa. E não tinha nada a ver com a chuva.

Agora, só queria saber o quão rápido o carro dele poderia ser.

RIMOS MUITO no trajeto até a casa de Joe. Isso foi uma surpresa divertida, já que eu ainda estava um pouco tensa por ir com ele, mas terminamos nosso piquenique no carro, comigo lhe dando comida na boca enquanto ele dirigia. Houve momentos sensuais, quando ele mordiscou meu dedo ou chupou um pouco mais do que o necessário. Mas também me diverti muito em outro sentido, não sexual, e me perguntei como aquilo ao menos era possível.

De alguma forma, Joe me deixou mais confortável do que jamais estivera com um cara.

– Você mora em Brentwood? – De repente percebi nosso paradeiro, mesmo com a visibilidade limitada pela chuva.

– Na região de Mandeville Canyon. – Ele reduziu quando entramos em uma rua residencial. – Não é tão chique quanto a propriedade do meu pai, mas gosto daqui.

Coloquei os restos de comida de volta na bolsa e verifiquei novamente a rolha na garrafa de champanhe. Sim, tecnicamente estávamos errados, pois Joe bebera e estava dirigindo. Mas como poderíamos desperdiçar aquele champanhe caro? Talvez Joe pudesse bancar esse tipo de coisa, mas eu odiava a ideia de desperdício.

– Já vi fotos da casa em que você cresceu. – Havia um exemplar da revista Architectural Digest no escritório com uma reportagem a respeito. Fiquei novamente impressionada pelas enormes diferenças de nossas origens. Até mesmo por nossos estilos de vida atuais. – Na praia de Malibu, certo?

– Sim. – Com a testa franzida, ele tamborilava no volante, os ombros tensos. Seu bom humor pareceu desaparecer à menção do pai.

Então prontamente redirecionei a conversa.

– Eu moro em Mar Vista. – E tinha sorte por viver lá, mesmo com minha casa sendo antiga. – É a casa do meu pai, mas estou comprando-a dele por um preço ridiculamente baixo. Acho que ele quer que a casa compense o fato de ele ter caído fora durante minha infância.

Deixando-me a sós com minha mãe perfeccionista e supercrítica. Muitas vezes me perguntava como ele vislumbrara uma criança como eu lidando com ela, quando meu pai, um homem adulto, morria de medo dela também.

Joe lançou um olhar de soslaio para mim enquanto entrava em uma propriedade particular que ficava longe da estrada. A hera cobria as paredes de pedra cinzenta de uma casa, algo que parecia ter saído de um livro inglês de jardinagem. Os arbustos e o paisagismo escondiam parcialmente uma fachada romântica e encantadora, bem diferente do que eu esperava do homem hipermásculo no banco do motorista.

– Minha mãe fez o mesmo. – Joe apertou um botão no painel e a porta da garagem de madeira polida se abriu. – Acho que ela estava tão cansada de brigar com meu velho sobre o casamento que se cansou quando chegou a hora de resolver a custódia dos filhos. Então ficamos presos com meu pai.

– Ela era jovem, certo? – Lembrei-me de fotos da mãe dele, a atriz que o pai dele supostamente seduzira quando ela ainda era adolescente. – Talvez ela tenha achado que seu pai fosse proporcionar uma vida melhor para vocês.

Entramos na garagem escura e a porta abaixou silenciosamente atrás de nós. De repente fiquei muito consciente de Joe e do que eu tinha acordado ao pedir para ir para casa com ele. Meus batimentos cardíacos aceleraram.

– É difícil perdoar um pai que só põe você para baixo, não é? – Ele desligou a ignição e se virou para mim, me oferecendo total atenção.

Era uma coisa inebriante.

Dei de ombros.

– Tendo lidado com a minha mãe, não posso culpar meu pai completamente.

– Isso é realmente… – Ele olhou para o nada por um minuto, como se estivesse procurando a palavra certa. – Altruísta. Um jeito muito altruísta de enxergar a situação.

A tepidez no olhar escuro de Joe era quase uma carícia, e eu estava tentada a me inclinar para ele. Aninhar-me nele. Sabia que as coisas estavam indo muito depressa, mas não ligava. Ninguém nunca tinha prestado atenção em mim do jeito que Joe fizera. Ninguém nunca tinha olhado para mim com aquele calor predatório que me fazia contrair os dedinhos dos pés.

– N-n-não sei nada sobre isso. – Ai, Deus. Quem diria que eu iria gaguejar por estar excitada? Respirei fundo e tentei manter a calma. – Tentei ser amarga sobre toda a situação no começo. – Sentia como se devesse confessar a verdade. – Mas era muito cansativo e improdutivo.

– Demi. – Joe cobriu minha mão com a dele. – Não quero que você fique tensa. – Ele se referia à minha gagueira. Ele me ouviu tropeçando nas palavras e interpretou como nervosismo. Eu não tinha certeza do que dizer. – Se você tem qualquer dúvida…

– Não tenho. – Fui enfática desse jeito mesmo. Apertei a mão dele. – Não estou tensa.

Ele não fez menção de entrar. Ou de me perguntar sobre meus problemas de fala. Naquele silêncio breve e constrangedor que se seguiu, mordi meu lábio. Então deixei a verdade escapar:

– Tenho problemas de fala. Um distúrbio. – Nunca tinha certeza de como rotular minha condição de uma forma que fizesse as pessoas entenderem. Eu odiava a palavra “gagueira”. – Chama-se disfemia. É uma espécie de defluência na fala – esclareci.

Então, quando percebi que estava balbuciando, acrescentei: – Um problema com meus articuladores do aparelho fonador.

– Ah. – Ele assentiu, tentando absorver a coisa toda. – Eu não tinha a intenção de ser bisbil…

– Não. – Balancei a cabeça. – Você foi muito legal. Normalmente a coisa se intensifica quando estou nervosa ou emocionada, mas agora, sinceramente, não estou tensa.

– Tudo bem. – Ele estendeu a mão para segurar meu queixo. – Isso é bom.

– Na verdade, isso me causa problemas intermináveis, até mesmo agora, muito tempo depois de eu ter feito uma extensa terapia da fala.

Ele deu um sorriso torto.

– Estou feliz porque você não está tensa.

– Ah. – Fiquei um pouco tonta agora que ele de fato estava me tocando. Minha pele zunia com nova sensibilidade. – Eu sou um pouco… inquieta. Ansiosa, acho.

O sorriso malicioso que ele exibiu mostrou uma fileira de dentes brancos e perfeitos. Gostei de fazê-lo sorrir daquele jeito. Fez minha temperatura subir e minha respiração acelerar.

– Eu também. – Ele se inclinou para mais perto, o hálito quente em meus lábios quando seu nariz roçou o meu. – Que tal entrarmos?

Olhei em volta do banco da frente, lembrando como tinha imaginado nós dois juntos ali. Tinha inventado fantasias elaboradas depois que saí do Backstage, imaginando o que poderia ter acontecido caso tivesse encontrado Joe no estacionamento naquela noite. Minhas pernas montadas nas coxas dele. O assento reclinado para nos acomodar.

Será que era bobagem da minha parte ainda estar pensando nisso?

– Que tal um beijo primeiro? – Eu me transformava em uma mulher diferente com Joe. Mais ousada. Mais sexy.

E muito excitada.

Ele balançou a cabeça lentamente, o polegar roçando meu queixo em um golpe suave.

– Assim que começar a beijar você, Demi, não acho que eu vá ser capaz de parar.

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Gente os comentários de vocês são um máximo.
Não me matem por parar justo agora
xoxo

23.10.15

Minha Dupla Vida - Capitulo 5


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NA MANHÃ seguinte, Joe cruzava o terreno da vila em estilo espanhol onde havia passado a infância, pelo menos sempre que um de seus pais não o carregava para Europa ou Nova York quando viajavam a trabalho. Ele tinha uma pergunta para seu pai, então foi à fonte. Não que estivesse ansioso para o encontro.

– O que diabos você está fazendo aqui? – O pai de Joe o cumprimentou diante do cômodo convertido em estúdio artístico nos fundos da vasta propriedade na praia de Malibu.

Um homem grande e robusto na casa dos 70 anos, Thomas Fraser II tinha barba grisalha e cabelo branco desgrenhado e espesso que se arrepiava para todas as direções. Atrás dele, esculturas em argila e mármore em várias fases de criação se amontoavam no piso de ladrilhos. Além de ser um famoso produtor, o sujeito era escultor no tempo livre. Pessoalmente, Joe sempre achara que seu pai tivesse transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, pois nunca conseguia ficar parado por mais de um minuto e sempre precisava de algo novo para prender a atenção. Ele era um gênio criativo em muitos sentidos, mas sua capacidade de acompanhar as coisas era terrível. Quando iniciaram o negócio juntos, Joe tivera esperanças de que seus estilos opostos pudessem equilibrar um ao outro. No entanto, esquecera-se do fato de que Thomas também gostava de fazer as coisas do seu jeito o tempo todo.

– Olá para você, também. – Joe passou pelo pai rumo ao piso térreo ao ar livre do estúdio, onde um longo painel de janelas estava aberto para permitir a entrada da brisa do oceano Pacífico. Quando Joe era criança, o estúdio era a piscina da casa. – E acredite, não estaria aqui se achasse que você poderia me dar uma resposta direta pelo telefone.

Era melhor ver a cara do pai pessoalmente. Assim Joe poderia distinguir a realidade da ficção quando questionasse sobre sua empreitada mais recente. Joe não teria arriscado um confronto caso não necessitasse da verdade. A pesquisa de Demi havia lhe dado muito em que pensar.

– Bah – resmungou Thomas, virando as costas para Joe a fim de lavar as mãos em uma pia encostada na parede. – Como se você tivesse direito a respostas diretas. Que direito você tem de me questionar sobre meus negócios, afinal?

– Quem disse que vim com interesse profissional, pai?

Joe passou a mão ao longo das curvas graciosas de um cavalo de mármore inacabado. A peça era uma das favoritas de Joe, originalmente concebida como uma homenagem a sua mãe, mas tal noção romântica foi anulada quando Thomas a flagrou com outra pessoa. A mãe atriz de Joe não passara muito tempo com os três filhos quando eles eram jovens, porém ela os levava para o interior da Toscana em todos os verões para ficar com os avós maternos, uma pausa bem-vinda de seu pai egocêntrico. Damian e Lucien, seus irmãos mais novos, saíram da região de Los Angeles logo que completaram 18 anos, prontos para colocar algum espaço entre eles e o pai autoritário.

– Desde quando você tem alguma preocupação que não seja trabalho? – Thomas pegou uma toalha de linho em uma estante e lançou um olhar penetrante enquanto secava as mãos.

Joe caminhou até uma escultura do torso de uma mulher, seios empinados e tesos bem na altura dos olhos do espectador graças a um pedestal. A coluna arqueada e os quadris largos o fizeram pensar em Demi.

E em Natalie.

– Desde que aprendi que preciso ficar duas vezes mais alerta quando faço negócios com a família.

– Bobagem. – Thomas fez um gesto de desprezo. – Seu problema é que você ainda não teve vida pessoal desde Heather. É por isso que você é muito intenso. Um homem precisa de uma mulher.

Joe se recusava a discutir seu envolvimento romântico com a única mulher por quem ele se apaixonara de verdade. Uma mulher mais atraída pela ideia de ser casada com um Fraser do que pela realidade de amar Joe.

Thomas podia ser um pé no saco, mas tinha magnetismo pessoal de sobra. O velho possuía uma competência e tanto, e Joe às vezes desejava não estar na mesma arena que seu pai.

– Você certamente não se privou de mulheres – observou Joe sutilmente, ansioso para desviar o assunto.

Ignorando o comentário, Thomas foi até um balcão do outro lado da sala e pegou uma garrafa pesada de cristal.

– Bebida? – perguntou ele, enchendo um copo com um líquido âmbar.

Como era o pai de Joe, não havia como saber se aquele era o melhor uísque escocês ou uma nova receita vinho de dente-de-leão preparada na mesma maldita pia onde ele lavava as ferramentas de talhagem. Seu pai gostava de pensar em si como um homem renascentista, mas suas habilidades como vinicultor eram rudimentares, na melhor das hipóteses.

– Não. – Joe foi até uma cadeira alta perto de uma mesa de bar no meio do cômodo e sentou-se. – Esta não é uma visita social.

Ele precisava ver a expressão do pai quando lhe perguntasse sobre os direitos do filme que tinha adquirido para produzir uma história suspeitosamente semelhante àquela que Joe tinha tentado fazer enquanto trabalhava para a empresa de Thomas. Ele precisava entender as intenções do sujeito. Claro, Thomas sempre fora ridiculamente competitivo, especialmente com Joe. Mas será que ele realmente faria um filme apenas para ofender o filho? Joe sentia como se houvesse algo faltando e tinha esperanças de que aquele momento cara a cara fosse ajudá-lo a descobrir por que o pai mudara para um novo nível de agressão na guerra familiar corrente pela fama de Hollywood.

Será que Thomas não via que era a vez de Joe de obter reconhecimento? Que era a vez de Joe brilhar?

– Notei que você não tem sido muito sociável desde que acabei com a produção do seu último filme. – Thomas caminhou pelo estúdio, bebida na mão, olhos itinerantes sobre suas criações. Ele fez algumas pausas para escovar o pó de pedra de uma escultura, ou para traçar um sulco ao longo de um modelo de argila.

Lutando para não perder a paciência, Joe lembrou a si que estava ali para obter respostas e que não podia deixar seu pai distraí-lo, usando a relação pessoal distorcida que tinham. Foi assim que Joe conseguiu se juntar à empresa cinematográfica do pai, para começar: empregando mal o sentimentalismo e a esperança de que poderiam trabalhar juntos como adultos, mesmo depois de uma relação conflituosa durante a juventude de Joe. Péssima ideia.

– Com um bom motivo. – Joe pegou seu telefone celular e rolou pela tela buscando notícias na área da cultura. – Mas acho que você me deve uma explicação caso vá produzir o filme que não me deixou fazer. – Ele leu em voz alta: – “A Fraser Films comprou os direitos de Quiet Places, um livro sobre a guerra do Vietnã que relata a amizade improvável entre prisioneiros de guerra americanos.”

– E daí? – Thomas bebericou um gole demorado, sem nem mesmo olhar para Joe.

– Tenho um roteiro fantástico e angustiante sobre prisioneiros de guerra durante a guerra da Coreia. Você sabe disso.

– O seu envolve presos de guerra australianos. Meu projeto tem mais da coisa americana.

– Certo. Bem lembrado. – Joe desligou o celular e se levantou. Tinha conseguido o suficiente da resposta de que necessitava. Thomas não estava comprometido com o filme tanto quanto estava comprometido em irritar Joe. Mas isso não significava que ele não faria o filme. Porém, até agora, a história não o empolgara artisticamente falando. – Vou deixar você voltar ao trabalho.

Thomas ficou calado. Joe estava quase na porta quando o ouviu pigarrear. Agitar os cubos de gelo no copo.

– Ouvi dizer que você andou saindo tarde da noite pela cidade – falou Thomas casualmente, como se fosse uma simples observação.

Joe se virou. Precisava dar o fora da casa de seu velho pai, mas ficou aguardando pelo golpe inevitável. Sem dúvida Thomas tinha um motivo para comentar a única noite da qual Joe desfrutara em muito tempo.

– Decepcionado porque não convidei você? – Ele manteve o tom leve, mas a tensão havia tomado seus ombros.

– Estou preocupado, Joe. – Ele colocou o copo vazio na mesa antes de pegar uma pequena picareta e se aproximar de uma figura de barro com a cara de um leão. – Você tem alguns clientes menores de idade nessa sua agência nova. Não tenho certeza se essa coisa transmite uma boa mensagem para os pais de jovens atrizes cujo empresário está apadrinhando clientes em boates.

– Eu ficaria surpreso se alguém pensasse qualquer coisa a respeito disso. – Los Angeles não era nenhuma cidadezinha do interior onde um agente poderia ser visto como um personagem decadente.

– Confie em mim. Basta apenas um artigo bem posicionado para transformar isso em um escândalo. – Ele levou a picareta às linhas de argila ao redor da cara da nobre criatura. – Você odiaria perder seus jovens clientes. Eles são o futuro de qualquer agência boa.

– E corta! – Joe usou as mãos para imitar o movimento de uma claquete. – Bela tomada, pai. Pena que as câmeras não estavam rodando.

– Estou tentando ajudar você, Joe – argumentou o outro. – Só o pressiono para que você possa alcançar mais sucesso. Você não vê? É o papel de um pai.

Joe não conseguia pensar em muitos pais que levassem tal papel tão a sério, mas não ia cair nesse assunto outra vez. Já havia descoberto o que precisava saber.

– Tudo bem, papai. Obrigado. – Balançando a cabeça, saiu do estúdio e cruzou o gramado até seu carro, incomodado por ter dirigido por toda a Pacific Coast Highway só para ser recebido com mais joguinhos.

Pelo menos tinha descoberto o movimento seguinte do pai. Thomas ainda estava tentando manipular Joe como uma peça de xadrez, em um jogo que o filho nunca desejara jogar.

Ainda bem que o próximo item em sua agenda era o almoço com Demi Masterson. A analista aparentemente tímida se mostrara cheia de todos os tipos de surpresas interessantes na última vez que se encontraram.

Nas últimas 24 horas, Joe vinha pensando muito nela. Aquela plumagem branca sobre a mesa tinha estimulado sua imaginação, fazendo-o se perguntar como ela passava o tempo fora do escritório. Era uma ideia maluca achar que Demi tinha algo a ver com Natalie Night. Mas a foto dela no estúdio de dança definitivamente impulsionara tal pensamento.

A probabilidade era a de que Demi só tinha ido ao estúdio para uma festa de despedida de solteira. O Naughty by Night normalmente anunciava eventos como esse nos meios de comunicação locais. No entanto, Demi compartilhava algumas características-chave com Natalie, incluindo a rara capacidade de deixar Joe enlouquecido apenas com um olhar. Assim, muito embora uma conexão entre as mulheres fosse altamente improvável, as fantasias de Joe estavam sendo bem prazerosas diante de tal ideia.

Além disso, retornar ao Backstage seria perigoso para ele, caso houvesse alguma chance de seu pai agir de forma tão baixa, tentando, por exemplo, minar a reputação do filho. Para permanecer seguro, Joe iria manter suas fantasias para si. Ou, melhor ainda, iria mantê-las entre ele e Demi.

PEGUEI O telefone dez vezes para cancelar o encontro. Quer dizer, almoço de negócios. Dez vezes.

Mas quando ouvi a recepcionista, Star, com seus saltinhos estalando no final do corredor, ainda não tinha dado o telefonema que iria dar fim àquela loucura. Agora não havia como recuar.

– Demi? – Star bateu de leve na porta aberta, seu cabelo ruivo preso para cima como o de uma professora de outras eras.

Havia algo de muito apropriado naquele penteado retrô e na xícara de chá de porcelana de Star, a qual ela carregava pelo escritório durante todo o expediente. Mas as aparências enganavam, porque ela era a mesma colega que escolhera fazer sua despedida de solteira na Naughty by Night. Eu queria agradecê-la – ou culpá-la – por ter me transformando em atração principal no clube de cavalheiros locais.

– Sim? – Fiquei de pé, pronta para fugir do meu escritório, a fim de escapar daquele almoço, mesmo tendo eliminado qualquer prova incriminatória da minha aventura no Backstage. Ou mesmo da minha dança.

– Pendleton queria que lhe entregasse isto. – Ela me deu uma pasta gorda que pertencia ao chefe. O arquivo tinha o nome de uma conhecida empresa do Vale do Silício na aba.

– Uma conta nova sobre a qual devo pesquisar? – Peguei a pasta e a coloquei sobre minha mesa, ao mesmo tempo percebendo que estava extremamente decepcionada pela recepcionista não estar ali para anunciar a chegada de Joe.

– Tem mais. – Star sorriu e meneou as sobrancelhas. – Ele me pediu para lhe dizer que realmente gostaria que você cogitasse assumir a liderança dessa conta.

– Eu? – Meus batimentos cardíacos vacilaram um pouco. – Ele sabe que sou uma pessoa de bastidores.

Pendleton estivera na minha entrevista com a empresa. Ele sabia melhor do que a maioria das pessoas o quanto minhas habilidades para falar em público podiam ser terríveis. Ainda assim, ter contato com clientes poderia aumentar meu salário, se um dia me sentisse pronta para enfrentá-los.

– Talvez ele tenha percebido que você não é mais tão tímida quanto costumava ser. – Star endireitou o camafeu do colar vintage que usava. – E, a propósito, Joe Fraser está aguardando por você lá na recepção.

Um grito alarmado nada nobre me escapou.

– Por que você não disse logo? – sibilei para ela, agarrando minha bolsa e verificando meus dentes em um espelho enfiado em uma estante.

– É divertido surpreender você – admitiu ela, me acompanhando enquanto eu acelerava pelo corredor.

– Assim você pode me ver tropeçar e talvez até gaguejar? – Todo mundo no escritório já havia presenciado a falha no meu discurso em algum momento. Mas tinha de admitir: todos eram muito tranquilos em relação a isso. E, exceto por algum estagiário temporário sem noção, todo mundo era muito paciente comigo quando me enrolava com as palavras.

Era humilhante ter gente tentando concluir minhas frases.

– Não. – De trás de mim, Star enfiou a etiqueta da minha camisa para dentro da gola. – Porque você é muito mais animada do que a maioria das pessoas da equipe.

– Eis um jeito novo de enxergar a situação – resmunguei, mesmo percebendo o que ela queria dizer. Havia algumas pessoas na contabilidade que você poderia jurar serem desprovidas de um coração.

– Vá pegá-lo, Demi – sussurrou Star ao meu ouvido assim que abri a porta para a recepção. – E não se preocupe se você não voltar depois do almoço. Sempre posso dar-lhe cobertura.

As palavras soaram em meus ouvidos quando captei a primeira visão de Joe. Uma visão maravilhosa, de tirar o fôlego. Ainda não podia acreditar que havia tido uma chance com ele na outra noite. E realmente não conseguia acreditar que o ignorei e fui para casa.

Precisava parar de deixar as velhas inseguranças arruinarem minha vida.

– Oi – falei, sem jeito, parando no meio do saguão.

Animada? Eu não conseguia pensar em uma única palavra para dizer ao sujeito. Ele usava calça jeans e uma camiseta vermelha desbotada, mas seus sapatos eram de matar. Mocassins velhos de couro, uma mistura de gigolô italiano com caubói americano. Ele estava muito gostoso.

– Você está pronta? – Joe sorriu, e me perguntei o que ele tinha em mente para o almoço.

Provavelmente nada parecido com a diversão que eu estava imaginando agora. Além disso, estava vestida com uma saia cáqui entediante na altura dos joelhos e uma camiseta branca comprada no departamento de roupas masculinas. Eu sempre achava que, com a bijuteria certa, a camisa masculina poderia se afirmar como uma coisa na moda. Embora a afirmação que eu estivesse fazendo agora provavelmente fosse algo como Desisto!, acho que me esforcei demais para não me vestir para a sedução, já que isso era tudo que eu tinha em mente.

E independentemente das fantasias que tivera com Joe, o relacionamento com clientes estava fora dos limites.

– Espero que sim. – Enfiei meu tablet na bolsa e mais algumas anotações que havia preparado para ajudá-lo com segurança on-line. – Isto é, sim.

Tardiamente, lembrei-me de ser mais firme. Direta. Se queria me sair bem falando em público, precisava me articular melhor.

– Ótimo. – Ele olhou para meus pés e me lembrei de que estava usando tênis de lona. – São perfeitos para o que tenho em mente.

Fiquei aliviada, já que tinha toda a intenção de trazer um par de saltos altos para o trabalho hoje, especificamente para este almoço. Mas minha mãe havia telefonado pouco antes de eu sair, me perturbando com sua enxurrada mensal de perguntas sobre o que eu planejava fazer com a minha vida. Ela ainda não me oferecia reconhecimento em público, afinal eu continuava a envergonhá-la em seu mundinho perfeito, mas ela não desistira de sua busca para me moldar, a fim de eu virar um ser humano melhor. Ela ainda me inscrevia em aulas de dicção, às quais eu não comparecia, e em oficinas destinadas a me ajudar a aprender como me vestir com mais discernimento.

Hum. Não, obrigada, mãe.

– É mesmo? – Passei pela porta do escritório rumo ao calor do meio-dia. Havia algumas nuvens ameaçadoras, mas por enquanto o dia estava apenas úmido e quente. – Vamos comer em um desses trailers de rua? Tem um cara grego no próximo quarteirão que vende gyros… – fiquei muito arrebatada pelas minhas lembranças culinárias para descrever o sabor – incríveis.

– Não. – Joe me guiou em meio a um punhado de empresários vestindo terno que andavam lado a lado, todos falando em seus celulares. – Meu carro está desse lado aqui.

A mão de Joe em meu cóccix foi fugaz, porém sexy. Minha pele se arrepiou naquele ponto, mesmo depois que ele se afastou.

– Agora estou curiosa. – A respeito de Joe, percebi. Imediatamente fiquei tensa. – Quer dizer, sobre para onde estamos indo.

– Você gosta de surpresas?

– Na verdade, sim. – Vi um Jaguar preto rebaixado na rua e supus ser o carro dele. – Você pode achar que uma menina tímida e quieta como eu não seja fã de surpresas, mas quando nasci meus pais já eram mais velhos e nunca faziam nada sem grandes planejamentos.

Joe pôs a mão em minhas costas de novo e me guiou por uma esquina, até uma rua lateral. Acabou que o Jaguar não era dele. Captei o menor indício do perfume dele e desejei poder chegar mais pertinho.

– Tímida? – perguntou ele, inclinando a cabeça para olhar meu rosto. – Eu nunca teria considerado você tímida.

Ai, meu Deus. Algo no tom de voz de Joe me fez pensar que ele sabia meu segredo. Ele sabia que eu era a dançarina no Backstage. Meu coração acelerou descontroladamente e meus pés se embaralharam um pouco.

Joe segurou meu braço, exibindo um sorriso divertido.

– Meu carro está aqui. – Ele apontou para um enorme utilitário branco.

– Nunca achei que você fosse do tipo que teria um utilitário. – Fiquei feliz por redirecionar a conversa, já que não tinha ideia do que dizer sobre sua afirmação de que eu não era tímida. Todo mundo me considerava tímida… bem, pelo menos as pessoas que não me conheciam.

– Então acho que já estamos surpreendendo um ao outro – observou ele sutilmente, abrindo a porta do passageiro para mim e me ajudando a subir na cabina.

Ele deu a volta para o lado do motorista e entrou. Afivelamos os cintos e saímos calmamente em meio ao tráfego de horário de almoço, mesmo com tudo estando uma loucura.

– Então você gosta de dirigir um tanque? – Usei o retrovisor lateral para me certificar de que ele não estava esmagando os carros menores na pista ao lado, quando seguiu para a direita. – Eu ficaria uma pilha de nervos nessa coisa.

Eu estava uma pilha de nervos, de qualquer forma, ali a sós com Joe em um espaço fechado. Uma vida inteira de comentários mordazes da minha mãe voltou para me assombrar enquanto me perguntava se minha roupa estava combinando e se conseguiria enfrentar o almoço sem tropeçar nas palavras. Para me distrair dos pensamentos negativos, tentei me concentrar no veículo e me perguntei se ele estava dirigindo a caminhonete na outra noite, no Backstage. Parecia muito espaçosa.

Poderíamos ter realmente… nos divertido.

Precisei me abanar para evitar o superaquecimento enquanto imaginava as mãos dele em cima de mim.

– É um veículo de trabalho – assegurou ele, seguindo para a parte oeste na Sunset Boulevard. – Trabalhar para mim significa pegar no pesado. Às vezes preciso transportar material por aí.

Ou convidar dançarinas exóticas para seu banco de trás? Olhei furtivamente para as coxas dele e me imaginei montando nelas.

– Você é um agente de talentos. – Abaixei o vidro do lado passageiro e deixei um pouco da brisa entrar para ajudar a me refrescar. Era divertido estar num carro tão alto. E nunca me cansava do oceano. Eu morava perto dele, mas não via o suficiente.

– Como você pega no pesado enquanto conversa com agentes de elenco e envia fotos?

Aquilo o fez rir, e gostei do som, enquanto deixávamos o centro de Los Angeles para trás. Ele parecia demasiadamente sério para um sujeito nascido na realeza de Hollywood. Eu sabia que o dinheiro não trazia felicidade, mas, na maioria das vezes, ajudava.

– Você, de todas as pessoas, deve entender que tenho aspirações maiores do que gerir minha lista de clientes. – Passamos por um turista que tietava um casal de estrelas de reality show em uma faixa de pedestres, os braços cheios de sacolas de compras. – Então trabalho muito mais horas no dia além do que meus negócios exigem. Mas este carro se provou útil até mesmo para a agência de talentos. Há um ator famoso que assinou comigo, e ele não vai a lugar nenhum sem seu cachorro são bernardo. Buddy nunca caberia em um carro esportivo.

– Tenho muita curiosidade sobre o desenvolvimento da sua empresa de cinema. – Estudei o perfil dele para ver se tinha me aventurado em um assunto proibido. – Adoraria saber mais sobre isso, se você não se importar.

– Depende. Você está pedindo para si ou como representante da Sphere?

– Definitivamente para mim. Mas eu não queria…

– Tudo bem. – Ele abriu o teto solar e olhei para cima; vi as palmeiras e o céu cheio de nuvens. – Aprendi a ser cauteloso, mas que mal faria comentar com alguém que já conhece o plano?

Os quilômetros voavam conforme ele me contava sobre algumas noções básicas do ramo. Sabia uma coisa ou outra sobre empresas start-up, mas nada sobre o nascimento de um estúdio de cinema, então aprendi muito. Logo se tornou óbvio que Joe sabia o que estava fazendo. Também me ocorreu que seu pai era um tolo por permitir que um sujeito bem informado sobre o ramo como Joe escapasse.

Quando o utilitário tomou uma estrada íngreme e sinuosa em Pacific Palisades, quase tinha me esquecido do nosso almoço. Ops, reunião.

– Onde estamos? – Olhei as redondezas com mais atenção e tive certeza de que nunca havia estado ali. Parecia um lugar improvável para um restaurante.

– No local de nosso piquenique.

– V-v-vamos fazer um piquenique? – Hesitei nas palavras porque um piquenique fazia aquilo se parecer muito mais com um encontro de namorados do que com uma reunião. E de repente senti mais pressão. Cuidado.

– Percebi ontem que fiquei ralando por meses para recuperar alguma credibilidade profissional, mas não importa o quanto eu trabalhe, meu pai ainda vai estar esperando que eu cometa um erro. – Ele parou em um estacionamento perto de um campo gramado com um cartaz que dizia “Will Rogers State Park”. – Achei que era melhor encontrar tempo para desfrutar dessa jornada, porque tenho certeza de que não estou nem perto do ponto da minha vida em que poderei escapar da sombra do velho.

Ele desligou o motor e deu a volta para abrir a minha porta. Eu estava começando a ficar tensa, o ambiente descontraído do passeio dissipando sob a pressão de… ajudar Joe Fraser a aproveitar sua jornada. Mas ele parecia inconsciente da minha mudança de humor quando se dirigiu para a parte traseira do veículo e abriu o porta-malas.

– Pronta? – perguntou ele, me entregando um cobertor azul enquanto pegava uma imensa bolsa térmica. – Espero que não chova.

– Uau. – Eu não conseguia pensar em mais nada a dizer porque meu cérebro estava ocupado calculando o tempo e o esforço que ele deve ter depositado no planejamento daquilo tudo. Arrumar as coisas de um piquenique me pareceu incrivelmente romântico, embora soubesse que essa não era a intenção dele. No entanto… e se fosse?

Voltei a me preocupar se ele sabia que era eu no palco do Backstage. Afinal, eu era capaz de acreditar que Natalie Night o havia encantado. Mas eu? Demi? Diabo, eu era uma contadora, e até mesmo eu não era capaz de fazer aquela conta dar certo.

– O quê? – Ele olhou para mim quando passamos por um campo de polo vazio, em direção a algumas mesas de piquenique desertas. – Você é contra piqueniques? Tem fobia de formigas, talvez?

– Não. – Segui-o até a mesa de piquenique à sombra de uma árvore imensa, onde paramos. – Só estou surpresa por estarmos fazendo um piquenique em uma reunião de negócios.

– Primeiro de tudo, você disse que gostava de surpresas. – Ele pegou o cobertor das minhas mãos e o estendeu à sombra, com cuidado para evitar as raízes das árvores. – Em segundo lugar, só joguei a parte sobre trabalho para me certificar de que você viria.

Seus olhos encontraram os meus, e a voz dele baixou para aquele tom de intimidade tranquila.

– Oh. – Aparentemente, ele tinha planejado tudo. Meu coração batia tão rápido que me senti um pouco tonta. Dizia a mim mesma para falar devagar. Realmente devagar. Porque fiquei tão desnorteada, que estava com o corpo tombando. – Por quê?

Isto é, por que é importante eu estar aqui?

Aquela era a chance de ele denunciar minha dupla identidade. Ele poderia acabar com a tensão agora e me confrontar sobre a duplicidade. Parte de mim achava que seria melhor simplesmente admiti-la. Eu sempre poderia me subjugar a ele e pedir para não contar ao meu chefe.

Na verdade, me subjugar a ele não parecia nada mal.

– Quero saber mais sobre você, Demi Masterson. – A expressão de Joe não revelava nada.

Ainda assim, minha pele formigava em todos os pontos, como se ele tivesse acabado de me tocar.

– De um jeito pessoal? – Passei os braços em volta do corpo, apesar do calor do dia, porque estava arrepiada em todos os lugares.

– Acho que você sabe a resposta para isso. – Ele apontou para o cobertor. – Sente-se.

Escolhi um canto mais perto do tronco da árvore e tentei não hiperventilar. Por alguns minutos, vi-o abrindo a bolsa de piquenique em silêncio. Pegou uma garrafa de um champanhe excelente e duas taças de cristal. Fui encarregada de servir a bebida enquanto ele pegava queijos, frutas e algumas minibaguetes. Ele também havia trazido salmão conservado no gelo e alguns chocolates.

Enquanto me atrapalhava com a embalagem de alumínio e colocava um guardanapo de linho ao redor da cortiça para tirar a rolha, assisti a Joe trabalhar na apresentação da refeição. Gostei de ele ter me deixado processar toda a coisa do “Quero te conhecer no âmbito pessoal” no meu próprio ritmo.

– Você está colocando o Claude Troigros no chinelo. – Eu o observava cortar um morango em fatias para decorar o prato de frutas.

– Resolvi usar todos os recursos existentes para seduzir os sentidos. – Ele estendeu uma fatia de morango para mim. – Gostaria de uma mordida?

Meu coração parou. Perguntei-me vagamente quanto tempo ainda conseguiria respirar sem esse órgão vital funcionando, mas depois ele voltou a engrenar. Agora batia num ritmo que parecia três vezes mais rápido. Aquilo realmente estava acontecendo. Eu poderia perder meu emprego por isso.

Mas estava muito longe do escritório agora.

Envergonhada, abri os lábios e me inclinei para a frente. Os olhos de Joe mergulharam em direção à minha boca enquanto ele me alimentava, os nós dos dedos roçando em meu queixo, e então a mão caindo.

– Delícia. – Ele nem sequer tinha provado o morango. Simplesmente estava concentrado em meus lábios.

Eu estava completamente perturbada. Totalmente excitada, mas desconcertada também.

– Você não precisava t-t-ter tido todo este trabalho – falei a ele, desacostumada àquele tipo de atenção masculina.

– Não? – Ele pegou a garrafa de champanhe das minhas mãos e finalizou o trabalho do qual tinha me esquecido. A cortiça estalou suavemente quando saiu. – Acho que você está errada. Da última vez que a convidei para sair, levei um bolo.

Ele serviu o champanhe tão calmamente, que ninguém que estivesse nos observando teria imaginado que ele havia acabado de jogar uma granada no meu mundo.

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MEU DEUS, O QUE VEM POR AI?
xoxo